otite externa canina: estudo preliminar sobre … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha...

64
ANA FILIPA DUARTE GREGÓRIO OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE OTALGIA E FACTORES ASSOCIADOS Orientador: Prof. Doutor Pedro Faísca Co-Orientadora: Mestre Ana Oliveira Responsável Externo: Dra. Ângela Martins Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Faculdade de Medicina Veterinária Lisboa 2013

Upload: vanxuyen

Post on 12-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

ANA FILIPA DUARTE GREGÓRIO

OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR

SOBRE OTALGIA E FACTORES ASSOCIADOS

Orientador: Prof. Doutor Pedro Faísca

Co-Orientadora: Mestre Ana Oliveira

Responsável Externo: Dra. Ângela Martins

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

Faculdade de Medicina Veterinária

Lisboa

2013

Page 2: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

1

ANA FILIPA DUARTE GREGÓRIO

OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR

SOBRE OTALGIA E FACTORES ASSOCIADOS

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

Faculdade de Medicina Veterinária

Lisboa

2013

Dissertação apresentada para obtenção do

Mestre em Medicina Veterinária no Curso

Integrado em Medicina Veterinária,

conferido pela Universidade Lusófona de

Humanidades e Tecnologias.

Orientador: Prof. Doutor Pedro Faísca

Co-Orientadora: Mestre Ana Oliveira

Responsável Externo: Dra. Ângela Martins

Page 3: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

2

Chegou ao fim mais uma etapa da minha vida académica com a elaboração da minha tese

subordinada ao tema “Otite externa: estudo preliminar sobre otalgia e factores associados”.

Contudo, não quero deixar de prestar os meus agradecimentos a todos os que participaram

e colaboraram na elaboração da mesma.

Page 4: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

3

Dedicatória

Dedico esta tese à pessoa mais importante para mim, a minha querida mãe Maria Paula

Guerra Vaz Duarte Ferreira Gregório, a principal responsável por quem eu sou hoje e a quem

eu devo tudo. Apesar das adversidades desta jornada foste o meu maior apoio, sempre com

uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor

amiga. Amo-te muito mãe

Tento apenas superar

a imensa saudade que me arrasa o coração,

mas, que vem junto com as doces lembranças do teu ser.

William Shakespeare

Page 5: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

4

Agradecimentos

A elaboração da tese e o decorrer do estágio curricular correspondeu a um período

complicado da minha vida a nível pessoal e familiar, pelo que não quero deixar de prestar um

agradecimento muito especial à Dra Ângela Martins. Esteve sempre presente em todos os

momentos mais ou menos conturbados, foi o ombro amigo, o grande apoio que não se pode

esquecer, muito menos ignorar. Obrigado Dra. Ângela Martins.

Quero agradecer à Dra. Ana Oliveira pelo seu total apoio, pela sua disponibilidade,

compreensão e amabilidade que foram muito importantes neste percurso por vezes

conturbado. Um enorme obrigado.

Quero igualmente agradecer à equipa do Hospital Veterinário da Arrábida pelo apoio e

carinho manifestado ao longo desta jornada.

Ao Dr. Pedro Faísca por toda a disponibilidade, atenção demonstrada e humanidade,

um grande obrigado.

Para o meu pai e irmão um obrigado muito especial por todo carinho, apoio,

compreensão e força nesta longa e grande jornada. Estiveram presentes em todos os

momentos, sempre com uma palavra de encorajamento e boa disposição que apesar das

adversidades foram os meus pilares neste caminho percorrido.

Ao meu tio e à Mónica pelo apoio e força demostrada ao longo desta fase.

A todas as minhas meninas que sempre me apoiaram nesta longa jornada, em

particular à Rita Esperto, Ana Pacheco, Andreia Abreu, Ana Nunes, Joana Assunção, Joana

Duarte, Susana Duarte e Laura Murtinha.

Por último, mas não menos especial, um grande obrigado ao meu namorado Bruno

Santos por todo o amor, força, paciência, compreensão e carinho que me ajudaram neste

difícil percurso. O teu bom humor e pensamento positivo ajudaram a ultrapassar os obstáculos

da jornada e a atingir os objectivos.

Page 6: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

5

Resumo

A otite externa canina é uma doença frequente em clínica de pequenos animais.

O objectivo geral deste estudo foi a caracterização da otite externa numa população de

canídeos de base hospitalar, e os objectivos específicos foram determinar da presença de

otalgia em canídeos com otite externa e correlacionar com os factores intrínsecos da doença.

O desenvolvimento deste tema de dissertação foi realizado na Faculdade de Medicina

Veterinária na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias e no Hospital

Veterinário da Arrábida (HVA) no âmbito do estágio curricular do Mestrado Integrado de

Medicina Veterinária, no período de Setembro de 2012 e Março de 2013.

A amostra incluiu trinta canídeos com sintomatologia de otite externa, a partir dos

quais se obteve uma história clínica, um exame otológico, e se avaliou a otalgia associada

através da pressão do tragus e da elevação do pavilhão auricular.

As raças puras, bem como os animais com orelhas pendentes foram mais afectados

pela otite externa. A otite aguda foi mais observada que a otite crónica. A lesão observada em

todos os canídeos da amostra foi o eritema e a sua presença foi sempre associada a otite

externa.

Concluiu-se que o exsudado purulento esteve sempre associado à presença de agentes

infecciosos, mais especificamente a cocos e/ou bastonetes.

A otalgia esteve presente em 41% de casos, estando a maior parte associados às otites

infecciosas.

O teste de pressão do tragus foi mais sensível na detecção de dor, do que a elevação do

pavilhão auricular.

Palavras chave: Otite externa canina, Otalgia canina, exame otológico

Page 7: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

6

Abstract

The canine external otitis is a disease with high incidence in small animal medicine.

The aim of this study was to characterize external otitis in a canine hospital-based

population, and the specific objectives were to determine the presence of ear pain in dogs with

external otitis and correlate it with the intrinsic factors of the disease.

The development of this dissertation topic was held at Faculdade de Medicina

Veterinária of Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias and at Hospital

Veterinário da Arrábida within the curricular internship of the Master of Veterinary Medicine,

between September 2012 and March 2013.

Our sample included thirty dogs with symptoms of external otitis, from which it was

obtained a medical history, otologic examination, and evaluated the associated ear pain by

pressing the tragus and elevating the outer ear.

The pure breeds, as well as animals with drooping ears were most affected by external

otitis. Acute otitis was more observed than chronic otitis. The damage observed in all sample

was erythema and its presence has always been associated with external otitis.

We concluded that the purulent exudate was always associated with the presence of

infectious agents, specifically coccus and / or bacillus.

Otalgia was present in 41% cases, being mostly associated with infectious otitis.

The tragus pressure test was more sensitive in detecting pain than the elevation of the

outer ear method.

Keywords: External otitis in dogs, canine ear pain, otologic examination

Page 8: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

7

Índice de Abreviaturas e Símbolos

AINES - Anti-inflamatórios não esteróides

CAE - Conduto auditivo externo

Cm – Centímetro

HVA – Hospital Veterinário da Arrábida

Kg - Quilograma

mg – Miligrama

OE Otite externa

% - Percentagem

Page 9: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

8

Índice Geral

1. Introdução ................................................................................................................... 12

1.1. Anatomia e fisiologia do ouvido canino .............................................................. 12

1.2. Otite externa ......................................................................................................... 13

1.3. Etiologia ............................................................................................................... 15

1.3.1.Factores predisponentes ................................................................................. 15

1.3.2. Factores primários ......................................................................................... 16

1.3.3. Factores secundários ..................................................................................... 20

1.3.4. Factores perpetuantes .................................................................................... 21

1.4. Patogenia .............................................................................................................. 22

1.5. Sinais clínicos ...................................................................................................... 23

1.6. Diagnóstico .......................................................................................................... 26

1.6.1. Anamnese/história clínica ............................................................................ 26

1.6.2. Exame otológico ........................................................................................... 27

1.6.3. Exame otoscópico ......................................................................................... 27

1.6.4. Exame directo de parasitas ........................................................................... 29

1.6.5. Otoscopia em vídeo ...................................................................................... 29

1.6.6. Citologia ....................................................................................................... 30

1.6.7. Exame bacteriológico ................................................................................... 31

1.6.8. Diagnóstico de imagem ................................................................................ 31

1.7. Desenvolvimento de um plano médico ................................................................ 31

1.7.1. Limpeza auditiva ............................................................................................ 32

1.7.2. Tratamento médico tópico .............................................................................. 33

1.7.3. Tratamento médico sistémico ......................................................................... 34

1.7.3.1. Otodemodicose ....................................................................................... 35

1.7.3.2. Otite Alérgica ......................................................................................... 35

1.8.Otalgia ................................................................................................................... 36

1.8.1.Avaliação da dor otológica .............................................................................. 37

1.8.2. Tratamento médico da dor ............................................................................. 38

1.8.3. Terapias complementares .............................................................................. 39

1.9. Objectivos ............................................................................................................ 40

2. Material e Métodos ..................................................................................................... 41

2.1. Amostra ................................................................................................................ 41

2.2. Local .................................................................................................................... 41

Page 10: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

9

2.3. Tipo de Estudo ..................................................................................................... 41

2.4.Metodologia .......................................................................................................... 41

2.4.1.Questionário ................................................................................................... 41

2.4.2. Exame Otológico ........................................................................................... 42

2.4.2.1. Determinação da dor ............................................................................... 42

2.4.3. Avaliação visual do pavilhão auricular e entrada do conduto auditivo externo43

2.4.4. Avaliação otoscópica do conduto auditivo .................................................... 43

2.5. Exame Citológico ................................................................................................ 44

3. Resultados ................................................................................................................... 46

3.1. Avaliação dos pacientes ....................................................................................... 46

3.1.1.Idade ............................................................................................................... 46

3.1.2. Género e estado fértil ..................................................................................... 46

3.1.3. Peso ................................................................................................................ 46

3.1.4. Raça e configuração das orelhas .................................................................... 46

3.2. Aspectos com relevância clínica .......................................................................... 47

3.2.1. Motivo da consulta ........................................................................................ 47

3.2.2. História de OE no passado ............................................................................ 47

3.2.3. Limpeza antecedente à consulta .................................................................... 47

3.2.4.Problemas Dermatológicos ............................................................................. 47

3.2.5. Hábitos de limpeza auditiva .......................................................................... 47

3.2.6. Hábitos de banho ........................................................................................... 47

3.2.7. Tracção de pêlo de dentro dos ouvidosPeso .................................................. 48

3.2.8. Comportamentos de manifestação de prurido ou desconforto ...................... 48

3.2.9. Duração da OE............................................................................................... 48

3.3. Avaliação dos parâmetros clínicos e otológicos .................................................. 48

3.4. Avaliação da otalgia ............................................................................................. 50

4. Discussão dos resultados ............................................................................................ 52

5. Conclusão ................................................................................................................... 55

6. Bibliografia ................................................................................................................. 56

Apêndice I.......................................................................................................................... I

Page 11: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

10

Índice de tabelas e gráficos

Tabela 1 – Factores predisponentes (Scott et al., 2002) ................................................. 17

Tabela 2 - Causas primárias de otite externa. (Scott et al., 2002) .................................. 18

Tabela 3 - Causas perpetuantes de otite externa. (Scott et al., 2002) ............................. 21

Gráfico 1 – Resultados de resposta dos canídeos com otite externa aos testes de dor .. 50

Gráfico 2 – Resultado da presença e ausência de dor em otite infecciosa ..................... 51

Gráfico 3 – Resultados da associação do sinal dor ao tipo de material encontrado ....... 51

Page 12: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

11

Índice de Imagens

Diagrama 1- Esquema da patogenia e cronicidade da otite (Bensignor & Germain,

2009)…….. ..................................................................................................................... 23

Diagrama 2- Diagrama de diagnóstico de otite externa (Bensignor & Germain,

2009)………… ............................................................................................................... 28

Imagem 1 – Anatomia do ouvido externo (Cole, 2009) ................................................. 12

Imagem 2 – Exame de determinação da otalgia auditiva elevando dorsalmente o pavilhão

auricular. (Imagem de autor) .......................................................................................... 42

Imagem 3 – Exame de determinação da otalgia auditiva pressionando o tragus. (Imagem de

autor)….. ......................................................................................................................... 42

Imagem 4- Avaliação visual do pavilhão auditivo e entrada do conduto auditivo externo onde

se observa hiperémia em ambos. (Imagem de autor) ..................................................... 43

Imagem 5- Lâmina de citologia auditiva, sendo dividida com nome do animal e data do lado

esquerdo da lâmina, no lado direito da lâmina pertence à colheita realizada no ouvido direito e

a parte centro esquerdo pertence à colheita realizada no ouvido esquerdo. (Imagem de

autor)….. ......................................................................................................................... 45

Imagem 6- Técnica de coloração Diff-Quick, primeiro passo mergulhar a lâmina durante 5

segundos em metanol, solução fixadora. (Imagem de autor) ......................................... 45

Imagem7- Técnica de coloração Diff-Quick, segundo passo mergulhar a lâmina num corante

eosinófilico (iodina de lugol) durante 5 segundos. (Imagem de autor) .......................... 45

Imagem 8- Técnica de coloração Diff-Quick, último passo mergulhar a lâmina num corante

basófilico (azul de metileno) durante 5 segundos. (Imagem de autor) ........................... 45

Imagem 9 - Citologia auditiva onde observa-se Malassezia. (Imagem de autor)........... 49

Page 13: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

12

1. Introdução

Otite é definida como uma inflamação do ouvido (Coatesworth, 2011; Jackson &

Marsella, 2012; Rosser, 2004). Com base na história clínica e nos sinais clínicos é possível

diferenciar o subtipo de otite presente, podendo ser: otite externa (inflamação do conduto

auditivo externo), otite média (inflamação do ouvido médio) e otite interna (inflamação do

ouvido interno) (Jackson & Marsella, 2012; Gotthelf, 2004).

Nesta dissertação abordámos apenas otite externa (OE), sendo esta uma inflamação do

pavilhão auricular e conduto auditivo externo (CAE) que pode derivar de inúmeras etiologias.

Na maioria dos casos crónicos estão presentes mais que uma etiologia (Scott et al., 2002).

1.1. Anatomia e fisiologia do ouvido canino

Anatomicamente o ouvido é formado por três partes: o ouvido externo (pavilhão e

conduto auditivo), o ouvido médio e o ouvido interno (Koning & Liebich, 2004). A orelha

externa é constituída pelo pavilhão auditivo, meato acústico externo e membrana timpânica

(Koning & Liebich, 2004).

Imagem 1 – Anatomia do ouvido externo (Cole, 2009)

Page 14: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

13

O pavilhão auricular em todos os animais é móvel e os seus movimentos contribuem

para a mímica facial, captação e transmissão das vibrações através do conduto auditivo (Cole,

2009). A base de inserção muscular auricular situa-se na cartilagem escutiforme, estando os

músculos dispostos radialmente ao redor da cartilagem, tendo função de depressão, elevação e

rotação do pavilhão (Cole, 2009; Koning & Liebich, 2004; Tobias, 2013).

A base estrutural do pavilhão auricular é de natureza elástica, sendo a cartilagem

auricular revestida por pele (Cole, 2009; Koning & Liebich, 2004). O pavilhão auricular pode

ter a forma de cartucho pontiagudo e, na superfície interna côncava (cavidade do cartucho), a

escafa é distendida de forma plana. Essa superfície interna mostra uma ténue e pouco móvel

cobertura de pêlos de protecção (Tragus), posicionados próximo do conduto auditivo (Cole,

2009; Koning & Liebich, 2004; Tobias, 2013).

Na margem caudal do pavilhão auditivo a pele forma uma bolsa cutânea marginal,

cuja parede interna apresenta um espessamento arredondado, ou seja, a concha auditiva

(Koning & Liebich, 2004).

O meato acústico externo cartilagíneo é relativamente longo, entre 5 a 10 centimetros

(cm), o seu trajecto é vertical e descendente e curva-se num ângulo medial e horizontal. Na

entrada do pavilhão a cartilagem apresenta uma forma semi-lunar, no qual se adere por meio

de tecido conjuntivo à cartilagem anular situada sobre o meato acústico ósseo (Griffin, 2011a;

Koning & Liebich, 2004; Tobias, 2013).

O meato acústico externo ósseo é curto e tubular, situando-se lateralmente ao osso

temporal, terminando no anel timpânico onde se encontra a membrana timpânica (Koning &

Liebich, 2004). No meato acústico externo posicionam-se as glândulas ceruminosas, as

glândulas tubulares pigmentares e as glândulas apócrinas. A secreção das glândulas tubulares

é fluída e actua bloqueando a secreção das glândulas ceruminosas, ou seja, o cerúmen

(Koning & Liebich, 2004).

A membrana timpânica como anteriormente referida, situa-se no anel timpânico, na

base do conduto auditivo externo e promove a separação da orelha externa da orelha média

(Griffin, 2011a).

No cão a membrana timpânica mostra-se disposta transversalmente de forma elíptica.

É constituída por três camadas: a camada cutânea, sendo um epitélio plano sem pêlos,

glândulas ou pigmentos; a camada média, que serve de suporte à camada anterior e é

constituída por fibras de tecido conjuntivo estando unida ao anel timpânico ósseo; e a camada

Page 15: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

14

epitelial interna, que é constituída por um epitélio plano mucoso que continua sobre a

superfície do martelo (Griffin, 2011a; Tobias, 2013).

As vibrações mecânicas timpânicas são transmitidas pelo cabo do martelo aos

ossículos, bigorna e estribo (Griffin, 2011a).

1.2. Otite externa

Otite externa define-se como inflamação do conduto auditivo externo desde o pavilhão

auditivo até à membrana timpânica, representando cerca de 5 a 12% (percentagem) das

consultas de otites em canídeos (Jackson & Marsella, 2012; Rosser, 2004). São menos

frequentes em gatos e nestes casos representam 2 a 6% das consultas de medicina felina

(Bensignor & Germain, 2009).

A maioria das vezes é diagnosticada a otite, apesar de não ser o motivo inicial da

consulta. Diversos estudos referem que a idade predisposta para esta doença nos canídeos é de

5 a 8 anos (Bensignor & Germain, 2009).

Existe uma predisposição dos canídeos com as orelhas pendentes, com hipertricose

auricular e com tendência para seborreia na OE (Bensignor & Germain, 2009; Petrov et al.,

2013).

Em vários estudos é referida a importância da temperatura do CAE para o

aparecimento da otite, sabendo que a temperatura média é afectada pelo peso, pela idade, pela

quantidade de pêlos dentro do CAE e ainda pela temperatura ambiente (Bensignor &

Germain, 2009).

Uma constatação interessante é o facto das orelhas que apresentam grande quantidade

de pêlos dentro do CAE terem uma temperatura média mais baixa que as orelhas sem pêlos e

também o facto de não existir relação directa entre o tipo de orelhas (erectas ou pendentes) e a

raça (Bensignor & Germain, 2009).

A OE é uma causa frequente em dermatologia veterinária e podendo ser classificada

como aguda ou crónica. Sendo, a definição de otite crónica, uma otite que dura mais que um

mês (Griffin, 2011a). Nunca se deve abordar a OE como um dado clínico local mas sim

interpretá-la num conceito dermatológico mais vasto (Bensignor & Germain, 2009).

Page 16: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

15

Pode ser subdividida em diferentes condições, pois tem de se ter em conta o tempo

passado desde o início dos sinais clínicos, a taxa de recaída e/ou apresentação clínica (Jackson

& Marsella, 2012).

1.3. Etiologia

A OE tem uma etiologia multifactorial (Oliveira, 2012). A sua patologia faz com que

intervenham factores predisponentes, factores primários directamente responsáveis com o

aparecimento da otite, factores secundários que contribuem para os sinais clínicos e factores

perpetuantes impedem o sucesso dos tratamentos (Bensignor & Germain, 2009; Scott et al.,

2002; Bugden, 2013; Müller, 2007).

A OE não deve ser considerada como uma patologia local, mas sim recolocada num

contexto dermatológico mais vasto, porque frequentemente é uma manifestação de uma

dermatose subjacente (Bensignor & Germain, 2009).

1.3.1. Factores predisponentes

Os factores predisponentes caracterizam-se por incrementar o risco de aparecimento

de OE, embora não causando directamente otite, mas sim promovendo alterações no

microclima do conduto auditivo, levando consequentemente à interacção das causas primárias

ou das causas perpetuantes ocorrendo assim a doença (Bensignor & Germain, 2009;

Fernández et al., 2006; Goth, 2011; Medlau & Hnilica, 2006; Müller, 2007).

Existe uma variedade de factores que contribuem para a génese e manutenção da OE.

Destes factores incluiu-se detalhes de conformação/anatómicos, factores ambientais como,

temperatura e humidade, agentes etiológicos específicos, otopatias obstrutivas e doenças

sistémicas (Tabela 1) (Jacobson, 2002; Mueller, 2007b; Rosser, 2004; Paterson, 2013a; Petrov

et al., 2013).

A conformação em L do CAE leva a uma drenagem natural difícil e à diminuição do

arejamento das estruturas profundas (Bensignor & Germain, 2009; Goth, 2011; Müller, 2007).

A conformação da orelha pendente, hipertricose auricular e a estenose do CAE

desempenha um papel importante na predisposição para a doença, enquanto a temperatura

auricular não parece ter um papel predisponente (Bensignor & Germain, 2009; Goth, 2011;

Page 17: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

16

Müller, 2007). As alterações anatómicas e conformações no CAE, têm uma predisposição

racial, por exemplo a estenose do CAE dos Shar-pei e raças com orelhas pendentes como o

Cocker são predispostas a otite externa (Bloom, 2009; Harvey & Mckeever, 2001).

Apesar de haver maior predisposição de OE em orelhas pendentes, também raças de

orelhas erectas como o pastor alemão estão predispostas a otites, principalmente a otites

eritematosas ceruminosas (Bensignor & Germain, 2009; Goth, 2011; Müller, 2007).

As raças predispostas a otite são o Cocker Spaniel, Labrador Retriever, Caniche e Fox

Terrier, Pastor Alemão e Pastor Belga (Bensignor & Germain, 2009; Bugden, 2013; Goth,

2011; Griffin, 2011b; Lund, 2009; Saridomichelakis et al., 2007, Zur et al., 2011). As

diferenças fisiológicas raciais como estenose precoce do CAE e hiperplasia glandular

provavelmente são a causa desta predisposição racial (Bensignor & Germain, 2009; Bugden,

2013; Goth, 2011; Griffin, 2011b; Saridomichelakis et al., 2007).

Problemas de conformação resultam essencialmente na diminuição do ar em

circulação no ouvido, levando a um aumento da temperatura e retenção da humidade no

conduto auditivo, criando um ambiente favorável para a proliferação bacteriana (Goth, 2011;

Jackson & Marsella, 2012; Müller, 2007).

Cães que tomem banho ou nadem frequentemente estão sujeitos a uma perda da

função da barreira do estrato corneal, ficando expostos a agentes patogénicos e agressões

ambientais (Goth, 2011; Jackson & Marsella, 2012).

Os tratamentos e limpezas inapropriadas ou excessivas são causa frequente de irritação

e de inflamação do CAE (Bensignor & Germain, 2009; Goth, 2011).

Nas otopatias obstrutivas, (Tabela 1) as neoplasias mais comuns do conduto auditivo

dos cães são essencialmente benignas, têm maior incidência nas glândulas ceruminosas e são

geralmente unilaterais. São detectadas por sinais clínicos como prurido, comportamento

compulsivo de abanar a cabeça, otorreia, odor fétido, podendo estar também associada a

sinais clínicos de otite externa bacteriana secundária (Bensignor & Germain, 2009; Goth,

2011; Müller, 2007; (Mueller, 2007d; Perrins, 2011a; Scott et al., 2002).

As neoplasias podem apresentar-se como massas exsudativas, ulcerativas, ou em

protusão, normalmente debaixo do ouvido na região parotídea (Goth, 2011; Scott et al.,

2002).

Page 18: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

17

Tabela 1 – Factores predisponentes (Scott et al., 2002)

Factores Predisponentes

Conformação Estenose do Conduto Auditivo

Pêlos nos canais

Orelhas pendentes

Orelhas peludas e concavas

Humidade Excessiva Orelha de nadador

Clima muito húmido

Hiperprodução de cerúmen Primária (idiopática)

Secundária a processos subjacentes

(hipersensibilização e defeitos de

queratinização)

Efeitos terapêuticos Trauma por tópicos irritantes

Sobreinfecção por alteração da microflora

normal

Otopatia Obstrutiva Neoplasia

Pólipos

Granulomas (infecciosos, corpos

estranhos, etc)

Doença Sistémica Imunossupressão ou virose

Endocrinopatias

Debilidade

1.3.2. Factores Primários

Os factores primários induzem de forma directa a OE, ou seja, induzem directamente a

inflamação (Jackson & Marsella, 2012; Rosser, 2004). As causas mais comuns são: dermatite

atópica, reacções adversas ao alimento, alterações da queratinização, infestação por Otodectes

cynotis (Tabela 2) sendo fundamental um diagnóstico rigoroso e exaustivo baseado em

diagnósticos diferencias de forma a descobrir a causa primária, tendo como objectivo o

tratamento da mesma (Goth, 2011; Müller, 2007; Mueller, 2007b; Mueller, 2007d; Rosser,

2004; Scott et al., 2002; Paterson, 2013a; Petrov et al., 2013).

Page 19: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

18

Tabela 2 - Causas primárias de otite externa. (Scott et al., 2002)

Causas Primárias

Parasitas/Microrganismos Otodectes cynotis

Demodexis canis, Sarcoptes scabiei

Moscas (Stomoxys calcitrans)

Carraças (Otobius megnini)

Pulgas (Echidnophaga galinácea e

Spilopsylla cuniculi)

Dermatófitos

Hipersensibilidade Dermatite atópica

Reacções Adversas ao Alimento

Reacções medicamentosas

Alterações da queratinização Seborreia idiopática primária

Hipotiroidismo

Alterações das hormonas sexuais

Corpos Estranhos Praganas

Pêlos

Areia

Sujidade

Medicação e secreções endurecidas

Afecções glandulares Hiperplasia glandular

Hiperplasia/Hipoplasia glandular sebácea

Alteração na secreção

Doenças Auto-imunes Lupus eritematoso

Pénfigo Foliáceo

Pénfigo eritematoso

Outras Dermatite solar

Vasculite, Vasculopatia

Celulite juvenil

Dermatite ou Granuloma eosinófilico

Foliculite eosinófilica estéril

O parasita mais comum associado às otites externas é o Otodectes cynotis,

representando cerca de 5% - 10% dos casos de OE em canídeos (Goth, 2011; Rosser, 2004;

Mueller, 2007d).

Page 20: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

19

Os ácaros provocam uma reacção inflamatória irritativa dentro do CAE e também uma

reacção de hipersensibilidade dado que a sua saliva é imunogénica. O aspecto da secreção na

otite pelo Otodectes cynotis é variável mas geralmente é negro, seco e com aspecto granular

(Angus, 2004) (Bensignor & Germain, 2009; Goth, 2011; Mueller, 2007d). O prurido é muito

importante podendo levar a lesões secundárias de escoriações (Bensignor & Germain, 2009;

Goth, 2011; Rigaut et al., 2011; Saridomichelakis et al.,2007).

Na demodicose generalizada poder-se-á ter apresentação de OE (Navarro, 2011;

Neuber, 2012b; Goth, 2011).

Os dermatófitos raramente se localizam no CAE. Quando isso acontece está,

normalmente, relacionada com casos de dermatofitose localizada especialmente no gato

(Bensignor & Germain, 2009; Goth, 2011).

A mordedura de moscas é uma das causas de dermatite auricular sazonal, podendo ser

observadas úlceras punctiformes que depressa são cobertas por crostas (Scott et al., 2002;

Griffin, 2011b; Goth, 2011).

Na prática do dia-a-dia os corpos estranhos são factores predisponentes e primários do

elevado número de casos de otite crónica (Griffin, 2011b; Goth, 2011; Rosser, 2004).

A hipersensibilidade é uma causa frequente de OE crónica em particular no canídeo e

apresenta-se bilateralmente (Rosser, 2004; Harvey & Mckeever, 2001). O eritema auricular

do conduto vertical é uma característica habitual da OE alérgica, podendo fomentar infecções

secundárias bacterianas ou fúngicas (Neuber, 2012a; Goth, 2011; Müller, 2007; Rigaut et al.,

2011).

A otopatia apresenta-se em 80% dos canídeos com hipersensibilidade alimentar, sendo

a segunda reacção alérgica auditiva mais comum, após a dermatite atópica (Coatesworth,

2011; Olivry et al.,2011; Scott et al., 2002). Na raça pastor alemão, Shar-pei e Labrador

Retriever existe uma correlação directa entre alergias ambientais ou alimentares e a OE

(Bettenay, 2012a; Bloom, 2009; Goth, 2011).

As alterações de queratinização apresentam-se como uma OE ceruminosa e com

presença de seborreia, sendo o hipotiroidismo a que mais afecta o ouvido e geralmente

apresenta-se bilateralmente (Campbell et al., 2010; Scott, et al., 2002; Rosser, 2004; Zur et

al., 2011).

Algumas raças como o Cocker Spaniel, têm predisposição para apresentar OE e

problemas idiopáticos de queratinização, possivelmente devido a problemas de conformação

auricular (Coatesworth, 2011; Harvey & Mckeever, 2001).

Page 21: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

20

1.3.3. Factores Secundários

Os factores secundários podem contribuir para o aparecimento de uma otite apenas em

ouvidos que apresentem alterações anatómicas ou quando actuam em simultâneo com os

factores predisponentes (Griffin, 2011b; Paterson, 2013a). As bactérias (Enterobacter spp.,

Staphylococcus spp.) como as leveduras (Malassezia spp.) estão presentes em estado normal

dentro do CAE do canídeo, onde constituem a microflora cutânea, sendo agentes oportunistas

vão causar danos em caso de ocorrerem alterações como as referidas no parágrafo anterior

(Tabela 3) (Campbell et al., 2010; Griffin, 2011b; Jacobson, 2002; Paterson, 2013a).

As bactérias mais frequentes encontradas durante um episódio de OE são os

Staphylococcus pseudointermedius, os Streptococcus spp., Pseudomonas spp., e Proteus spp.

(Tabela 3) (Bloom, 2009; Griffin, 2011b; Jacobson, 2002; Oliveira et al., 2012; Zur et al.,

2011).

Recentemente ocorreu a descoberta de uma nova espécie de estafilococo, o S.

schleiferi subespécie coagulans, tendo sido reportado como um agente patogénico de casos de

otite canina (Bensignor & Germain, 2011; Griffin, 2011b).

1.3.4. Factores Perpetuantes

Os factores perpetuantes são os responsáveis pela cronicidade da doença e podem ser a

causa principal do insucesso de tratamento de algumas otites (Griffin, 2011b; Bensignor &

Germain, 2011; Paterson, 2013a; Scott et al.,2002).

Tabela 3 - Causas perpetuantes de otite externa. (Scott et al., 2002)

Factores Perpetuantes

Bactérias S. intermedius

Proteus sp

Pseudomonas sp

Escherichia coli

Klebsiella sp

Page 22: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

21

Leveduras M. pachydermatis

Candida albicans

Alterações secundárias à inflamação

crónica

Hiperqueratose

Hiperplasia

Edema

Ulceração

Calcificação do CAE

Fibrose

Durante o processo de OE o CAE está alterado, tornando-se mais favorável à

multiplicação de agentes patogénicos. Ocorre estenose do CAE associada à inflamação,

favorecendo a formação de um edema que está na origem do exsudado. Finalmente, as

glândulas apócrinas aumentam a sua actividade o que desencadeia uma diminuição da fracção

lipídica do cerúmen. Todos estes factores são responsáveis pelo aumento da quantidade de

cérumen associado a alteração da sua composição o que promove a proliferação de agentes

patógenicos (Bensignor & Germain, 2009).

Raramente as bactérias são causas primárias, sendo S. intermedius, Proteus sp,

Pseudomonas sp, Escherichia coli, Klebsiella sp os patogénicos secundários mais comuns,

que por sua vez, são encontrados com regularidade nos ouvidos sãos (Bugden, 2013;

Fernández et al., 2006; Griffin, 2011b; Oliveira et al., 2012; Rigaut et al., 2011).

Na instalação da infecção secundária a estes agentes podem aparecer sinais de

inflamação, sinais de ulceração e ainda outros sinais clínicos. Relativamente a leveduras, a

Malassezia é a mais comum que também pode estar presente em ouvidos sem apresentação

sintomatológica (Angus, 2004; Campbell et al., 2010; Noli, 2011; Oliveira et al., 2012). A

Malassezia pode ocorrer em otites secundárias ao S. intermedius uma vez que este estimula a

proliferação da mesma (Noli, 2011; Scott et al., 2002).

Page 23: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

22

1.4. Patogenia

A inflamação e/ou aumento da quantidade de cerúmen provocada pelos factores

primários são responsáveis pela hiperplasia epidérmica e ceruminosa, associada a uma

queratinização exagerada dos folículos pilosos (Bensignor & Germain, 2009; Mueller,

2007d). Foi demonstrado que nos primeiros estádios da doença ocorre a presença de um

infiltrado inflamatório com predominância de linfócitos, plasmócitos e histiócitos. Essas

alterações provocadas pelo infiltrado favorecem a multiplicação de bactéria e de leveduras,

após a multiplicação dos patogénicos aparecem os neutrófilos. Contudo pode ocorrer o

sobrecrescimento bacteriano e de leveduras e não provocar uma infecção activa, daí não se

visualizarem neutrófilos (Bensignor & Germain, 2009).

No processo de cronicidade encontra-se uma hiperplasia pronunciada em que a

epiderme pode alcançar um tamanho exuberante, podendo chegar a seis vezes mais o tamanho

de uma epiderme normal (Diagrama 1) (Bensignor & Germain, 2009).

No caso de a infecção ser por bactérias Gram- pode ocorrer ulceração epitelial. As

bactérias e as leveduras multiplicam-se mais facilmente com o aumento da temperatura e da

humidade. Em situações crónicas, a fibroplasia pode originar estenose do CAE podendo

mesmo levar a uma calcificação do mesmo (Bensignor & Germain, 2009).

Diagrama 1- Esquema da patogenia e cronicidade da otite (Bensignor & Germain, 2009)

Fibroplasia Hiperqueratose Hiperplasia Apócrina

Aumento do volume dos

tecidos

Diminuição da luz do

conduto auditivo externo

Maceração

Page 24: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

23

1.5. Sinais clínicos

Os sinais clínicos da otite são bastante característicos:

1. Comportamento compulsivo de abanar a cabeça (Oliveira et al., 2012);

2. Prurido auricular (Oliveira et al., 2012);

3. Dor (Oliveira et al., 2012);

4. Descarga auricular; (Oliveira et al., 2012)

5. Odor (Oliveira et al., 2012);

6. Agressividade (Goth, 2011; Perrins, 2011a);

7. Otohematoma resultante do prurido (Jacobson, 2002).

A classificação das otites na prática do dia-a-dia reagrupa as otites em otites agudas e

crónicas, sendo as agudas as que apresentam sinais clínicos durante 7 dias; as subagudas as

que apresentam sinais clínicos dos 7 aos 30 dias e as crónicas, como já foi referido, as que

apresentam sinais clínicos durante mais que 30 dias (Griffin, 2011b; Medleau & Hnilica,

2006; Oliveira et al., 2012).

Actualmente utiliza-se uma classificação baseada em critérios clínicos como:

Otite com carácter eritematoso

Otite com carácter eritemato-ceruminoso

Otite com carácter ceruminoso

Otite com carácter supurativo

Otite com carácter estenótico

Proliferação

microbiana

Inflamação

Otite Crónica

Maceração

Page 25: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

24

Na otite com carácter eritematoso, aparece uma inflamação do CAE (normalmente em

casos agudos), sendo este o único sinal clínico presente (Rougier et al., 2005). Tipicamente

está associado ao prurido e ao comportamento compulsivo de abanar a cabeça. A evolução é

mais ou menos rápida, passando para o estado de otite eritematosa-ceruminosa ou para

supurativa (Bensignor & Germain 2009; Griffin, 2011b; Jacobson, 2002; Medlau & Hnilica,

2006; Rigaut et al., 2011).

Na otite com carácter eritematoso-ceruminoso aparece uma inflamação associada com

a presença de cerúmen excessivo, normalmente de cor castanho-escuro e seco ou castanho

claro e espesso, que pode estenosar o CAE (Bensignor & Germain, 2009; Griffin, 2011b;

Medlau & Hnilica, 2006; Rougier et al., 2005).

Na otite com carácter supurativo em 50% dos casos é unilateral, a secreção pode ser

variável, embora a descarga seja purulenta e com um mau odor (Bensignor & Germain, 2009;

Griffin, 2011b; Jackson & Marsella, 2012; Rougier, 2005). O prurido pode ser observado,

mas a dor é mais típica e frequentemente está associado ao comportamento compulsivo de

sacudir a cabeça (Medleau, 2006) (Bensignor & Germain, 2009; Griffin, 2011b; Rougier et

al., 2005).

Na otite com carácter estenótico aparecem alterações hiperplásicas que podem resultar

na estenose do CAE e normalmente estão associadas as otites crónicas (Bensignor &

Germain, 2009; Griffin, 2011b; Jackson & Marsella, 2012).

Para classificar o carácter da otite, deve-se realizar um exame clínico específico,

composto por (Bensignor & Germain, 2009):

1. Inspecção e palpação do pavilhão auricular:

Verificar alterações anatómicas na cartilagem do pavilhão auricular;

Cicatrizes;

Erosões/Ulceração;

Alopécia.

2. Inspecção com otoscópio das porções verticais e horizontais do CAE:

Verificar o aspecto das paredes;

Presença de erosão/ulceração;

Presença de nódulos;

Presença de exsudados

Page 26: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

25

3. Inspecção do tímpano com o otoscópio:

Alteração anatómica

Fissuras

Opacidades

Num estado normal a membrana timpânica é translúcida e fina e está situada num

extremo da porção horizontal do CAE. A membrana timpânica é côncava e relativamente fina

no centro (Bensignor & Germain, 2009).

O tímpano está inclinado aproximadamente entre 45 a 60 graus em relação ao CAE.

Na maior parte dos casos, se a membrana timpânica se encontra rupturada ou ausente podem

aparecer sinais de cabeça inclinada, vómito, febre e dor na palpação e manipulação da

mandibula e do pavilhão auricular (Bensignor & Germain, 2009).

Os sinais neurológicos também podem aparecer como paralisia do nervo facial,

síndrome de Horner (ptose palpebral, miose, enoftalmia e prolapso da membrana nictitante) e

mais raramente nistagmus rotatório horizontal, ou seja posicional e ataxia (Bensignor &

Germain, 2009; Bloom, 2009; Gotthelf, 2004).

Recentemente pode-se associar a paralisia do nervo facial, a queratoconjutivite seca

neurogénica e o síndrome de Horner com a presença de otite externa/otite média e ainda otite

interna. Considera-se ainda que a otite média e a otite interna pode-se desenvolver devido a

uma extensão da OE associada normalmente a bactérias isoladas como Staphylococus

intermedius e Pseudomonas spp. (Gotthelf, 2004; Bloom, 2009; Platt & Olby, 2013).

Sempre que aparecerem os sinais descritos nos últimos dois parágrafos, poder-se-á

concluir a partir do exame clínico, que provavelmente, para além de uma otite externa, há a

presença de uma otite média (Bensignor & Germain, 2009; Griffin, 2011b).

Page 27: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

26

1.6. Diagnóstico

No diagnóstico de otite deve-se realizar uma anamnese, um exame clínico rigoroso e

exames complementares simples que por vezes necessitam de uma ligeira tranquilização ou

de uma anestesia geral de curta acção (Bensignor & Germain, 2009; Bugden, 2013).

1.6.1. Anamnese/História Clínica

Durante a consulta dermatológica de otite externa, a obtenção da história clínica e da

história dermatológica, são fundamentais. Existem pontos importantes que podem enriquecer

a história clínica, tais como (Bensignor & Germain, 2009; Bloom, 2009; Rosser, 2004):

Se canídeo é nadador regular.

Se durante a história clínica geral revelaram-se problemas metabólicos ou endócrinos

como, hipotiroidismo, hiperadrenocorticismo ou anormalidades hormonais

reprodutivas.

Se recentemente o canídeo apresentou doenças do foro infeccioso como sarnas ou

dermatofitose.

Se durante a história dermatológica foi indicada a presença de prurido compatível com

o prurido das doenças cutâneas, como dermatite atópica, DAPP, hipersensibilidade

alimentar.

Se o canídeo está a efectuar alguma medicação local no CAE que criou irritação ou

inflamação sugestiva de irritação, alergia ou dermatite imunológica por contacto.

Se a raça do paciente apresenta predisposição a OE, tais como, raças com presença

congénita de estenose

do CAE, (Shar-pei), presença excessiva de pelo (Caniche, Schnauzers) ou produção

excessiva de cerúmen (Cocker Spaniel);

Se na história geral/dermatológica surgem piodermites ou infecções cutâneas.

Page 28: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

27

1.6.2. Exame otológico

O exame otológico deve iniciar-se no ouvido saudável ou no ouvido menos doloroso

na manipulação auditiva, contudo em algumas situações poderá ser necessário sedar o animal

com uma ligeira sedação uma para melhor visualização (Bensignor & Germain, 2009).

O exame inicia-se pela avaliação visual do pavilhão auditivo e entrada do conduto

auditivo externo, para detecção de lesões (pápulas, pústulas, eritema, ulceras, crostas, etc.).

Nesta fase também se determina se existe reflexo otopodal, que pode orientar para uma sarna

sarcóptica ou para parasitas como otocariose (menos especifico) (Bensignor & Germain,

2009; Bloom, 2009).

Os problemas dermatológicos mais frequentes associados com as otites externas são a

dermatite atópica, a hipersensibilidade alimentar e a sarna (Medleau & Hnilica, 2006).

1.6.3. Exame Otoscópico

Para o diagnóstico de OE, deve-se realizar o exame otoscópico. O objectivo do exame

otoscópico é verificar a presença de corpos estranhos, de Otodectes cynotis, de descarga de

cerúmen, da presença de estenose do CAE, a integridade da membrana timpânica e ainda a

presença de neoplasias ou pólipos (Diagrama 2) (Medleau & Hnilica, 2006; Mueller, 2007b).

O exame otoscópico é um dos primeiros exames a realizar na prática clínica, sempre

que não exista uma dor auricular que provoque relutância e resistência da parte do canídeo

(Goth, 2011; Jacobson, 2002; Mueller, 2007a).

Page 29: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

28

Diagrama 2 -Diagrama de diagnóstico de otite externa (Bensignor & Germain, 2009)

Exame dermatológico

(Sinais de dermatite alérgica)

Exame Auricular

(ver pavilhão auricular e CAE)

Exame Otológico

(Pavilhão auricular interno e externo – pápulas, pústulas, eritema,

nódulos, alopécia, etc,.

(Palpação metódica do CAE – verificar dor, lesões proliferativas e

reflexo otopodal)

Otite EritematosaCeruminosa

Exame directo do cerúmen

Otite Supurativa

Otodectes cynotis

Demodex Canis

Citologia

Bactérias

Malassezia pachymatis

Bacteriologia

Antibiograma

Exame Otoscópico

(CAE e tímpano)

Prurido e cerúmen com cor Dor, Pús

Page 30: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

29

1.6.4. Exame directo de parasitas

O exame directo do cerúmen deve ser realizado quando se suspeita de uma otite

parasitária. Este exame deve ser realizado principalmente em canídeos jovens (Medleau &

Hnilica, 2006).

1.6.5. Otoscopia em vídeo

A otoscopia em vídeo é um método que tem vantagens em relação à otoscopia

convencional, pois permite um aumento da imagem perante uma luz mais potente, permite

que o proprietário observe, e permite a captura de imagens para um melhor acompanhamento

clínico (Griffin, 2011a; Bond, 2011). Esta técnica permite uma boa visualização dos constituintes

do ouvido e auxilia também na biopsia de massas, remoção de corpos estranhos e desempenho de uma

miringotomia (Cole, 2004).

Lavado, otoscopia

(ulceras, corpos

estranhos, tumores)

Evolução da

membrana

timpânica

Ruptura, Otite

Média Otite Crónica

Bactérias

Malassezia pachymatis

Page 31: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

30

visualização destas estruturas, bem como auxiliando na recuperação de corpos estranhos, a biópsia

de massas, e desempenho de uma miringotomia

1.6.6. Citologia

A citologia é uma das técnicas mais utilizadas em dermatologia, pois permite uma

informação adicional, de forma pouco dispendiosa e rapidamente. (Griffin, 2011a; Jackson &

Marsella, 2012; Perrins, 2011b).

A citologia é uma técnica complementar de diagnóstico e para monotorização do

tratamento, e deve ser realizada antes de se iniciar qualquer terapia (Griffin, 2011a; Goth,

2011; Medleau, 2006; Mueller, 2007d; Perrins, 2011b).Este exame permite identificar e

quantificar bactérias, fungos, parasitas, leucócitos e células neoplásicas (Jacobson, 2002).

A citologia auricular é realizada com o auxílio de uma zaragatoa estéril de modo a

obter uma amostra do conteúdo do CAE, de seguida é colocada numa lâmina e corada com o

método Diff Quik (Griffin, 2011a; Medleau & Hnilica, 2006; Mueller, 2007b; Jacobson,

2002; Perrins, 2011b).

A citologia auricular é realizada na ampliação microscópica de 400x, pois permite a

observação de células inflamatórias que raramente estão presentes no ouvido saudável e

portanto indicam processos de inflamação. Na ampliação microscópica 1000x, óleo de

imersão, identificando-se os agentes bacterianos cocos e bastonetes. Baseado num estudo

veterinário, considera-se mais do que cinco cocos e um bacilo anormal (Goth, 2011; Griffin,

2011a)

Estudos recentes afirmam que o número de Malassezia superior a 5 e de bactérias

superior a 25 na ampliação de 1000x, estão associadas de forma significativa a uma OE e

portanto deve-se considerar anormal e prescrever um tratamento (Besingnor & Germain,

2011; Bloom, 2009).

Page 32: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

31

1.6.7. Exame Bacteriológico

O exame bacteriológico com antibiograma está indicado em todos os casos de otite

supurativa crónica, recidivante, otite média e ainda em todos aqueles em que o exame

citológico permitiu a identificação de bacilos (Bensignor & Germain, 2011), (Mueller,

2007b).

1.6.8. Diagnósticos de Imagem

Os meios de diagnóstico de imagem utilizados frequentemente na prática do dia-a-dia

são os radiológicos, que estão indicados em situações clínicas de otite média. O exame

radiológico é um meio de diagnóstico sensível quando o CAE se apresenta mineralizado

(otites crónicas) ou na detecção de tumores invasivos (Saridomichelakis et al., 2007). O meio

radiológico é limitativo, uma vez que não descarta eventuais doenças no ouvido médio

(Jacobson, 2002).

A canalografia é um método alternativo para identificar anomalias no CAE, como por

exemplo estenoses que impedem a visualização da membrana timpânica e a sua integridade.

Consiste em instalar um produto de contraste radiográfico (contraste radiográfico

hidrossolúvel) dentro do CAE antes de realizar uma placa radiográfica. No caso de fissura da

membrana timpânica, observa-se o produto de contraste concentrado na bolha timpânica. A

ausência de líquido de contraste dentro da bolha timpânica não permite no entanto excluir

definitivamente a ruptura da membrana timpânica (Besingnor & Germain, 2011).

A tomografia computorizada (TAC) e a ressonância magnética são meios de

diagnóstico de imagem mais sensíveis do que os meios radiológicos para detecção de OE

(Griffin, 2011a; Medleau & Hnilica, 2006).

1.7. Desenvolvimento de um plano médico

O tratamento da OE depende da identificação e, se possível, correcção dos factores

predisponentes, primários e perpetuantes. Um tratamento adequado pode ser baseado

unicamente pelo exame otoscópico seguido do exame citológico (Griffin, 2011c).

Page 33: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

32

1.7.1. Limpeza auditiva

A limpeza do pavilhão auricular e do CAE é extremamente importante pois permite a

remoção de detritos e de agentes patogénicos levando a uma diminuição do seu crescimento e

não permitindo um ambiente favorável para o seu desenvolvimento (Jacobson, 2002),

(Oliveira et al., 2012). Permite ainda uma diminuição dos alérgenos que se encontram na

epiderme e no cerúmen auricular (Goth, 2011; Griffin, 2011c; Mueller, 2007c).

Nas otites agudas severas a dor aguda pode impedir o procedimento de limpeza.

Nestes casos deve-se resolver primariamente a inflamação e a dor e só depois realizar a

limpeza (Griffin, 2011c).

O proprietário deve ser ensinado a realizar a limpeza auditiva do canídeo em casa.

Existem dois métodos para a limpeza auditiva em casa (Bensignor & Germain, 2009; Griffin,

2011c; Perrins, 2011b) (Bettenay, 2011b):

1. Lavagem auricular manual - utilização do produto comercial segundo o modo de

emprego habitual. Esta técnica deve ser evitada quando o acesso é limitado por causa

do cerúmen (Bensignor & Germain, 2009; Griffin, 2011c; Perrins, 2011b);

2. Lavagem através da pêra/seringa – utilizada com uma solução de soro fisiológico,

associada à solução ceruminolítica comercial. É uma técnica mais difícil de realizar

em casa e deve sempre verificar-se em primeiro lugar a integridade da membrana

timpânica (Bensignor & Germain, 2009; Griffin, 2011c; Perrins, 2011b);

A educação do proprietário e a informação de noções de limpeza e manutenção auricular

são imprescindíveis, na profilaxia e controlo das otites em canídeos (Oliveira et al., 2012).

A limpeza auditiva também deve ser realizada na prática clínica utilizando os dois

métodos já descritos ou os seguintes (Bensignor & Germain, 2009; Perrins, 2011b):

Irrigação – limpeza efectuada utilizando uma seringa de 10 a 20 ml, acoplada a

um catéter e a uma torneira de três vias. Instalação da solução de limpeza

exercendo força no CAE, seguido de aspiração (Bensignor & Germain, 2009;

Perrins, 2011b; Platt & Olby, 2013; Platt, 2010);

Auriflush – aplicação de um aparelho que permite uma corrente de água sobre

pressão para dentro do CAE seguida de aspiração (Muller, 2007c);

Page 34: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

33

Exploração vídeo otoscópica que se inicia com o canal de irrigação permitindo

uma irrigação continua no CAE. Este método é o que oferece melhores

resultados e está especialmente indicado na obstrução do CAE (Bensignor &

Germain, 2009; Perrins, 2011b).

Os produtos de limpeza auditiva anti-sépticos mais utilizados têm a vantagem de não

induzir resistência à antibioterapia e de serem mais económicos que os antibióticos.

No caso de OE a limpeza deve ser realizada de maneira periódica por exemplo duas a

três vezes por semana sempre antes do tratamento tópico para eliminação dos detritos, do

cerúmen e secreções excessivas que provocam uma maceração, retêm a inflamação e

impedem a acção dos princípios activos específicos (Bensignor & Germain, 2009).

A eleição da solução de limpeza deve depender do exsudado observado e da

integridade do tímpano (Bensignor & Germain, 2009).

Durante a limpeza do CAE deve-se manter certas precauções. No caso de ruptura

timpânica devem ser evitados a limpeza com agentes anti-sépticos e utilizar uma solução

isotónica ou um produto de limpeza muito diluído, também evitar o excesso de pressão. As

limpezas devem realizar-se de maneira moderada e delicada (Bensignor & Germain, 2009).

1.7.2. Tratamento médico tópico

Na maior parte dos casos da OE o tratamento tópico é o tratamento de eleição e deve

ser específico. Existem quatro classes de princípios activos que estão presentes na maior parte

das preparações para os tratamentos tópicos: acaricidas, antimicóticos, antibacterianos e anti-

inflamatórios (Bensignor & Germain, 2009; Lloyd, 2011a).

Alguns preparados de uso tópico também apresentam anestésicos locais com a

finalidade de aliviar a dor (Bensignor & Germain, 2009; Perris, 2011).

A explicação ao proprietário de como aplicar o preparado tópico deve ser demonstrada

detalhadamente. A aplicação do preparado tópico deve ser sempre depois de realizar a

primeira limpeza (Bensignor & Germain, 2009).

A escolha do tópico deve ser baseada na citologia e no resultado do antibiograma com

o objectivo de seleccionar o antibiótico mais eficaz (Bensignor & Germain, 2009; Harvey &

Mckeever, 2001).

Page 35: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

34

1.7.3. Tratamento médico sistémico

Normalmente não se recorre a esta modalidade de tratamento, uma vez que as

substâncias administradas por via local são, na maior parte das vezes eficazes. Sabe-se ainda

que a concentração dos antibióticos aplicados topicamente no CAE, são normalmente

superiores aos encontrados através da administração sistémica. No entanto, existem situações

clínicas, em que se tem que considerar um tratamento por via sistémica (Bensignor &

Germain, 2009):

Caso de OE crónica com otite média concominante – a administração de antibiótico

por via sistémica deve ser feita e baseada consoante a citologia e o antibiograma

(Bensignor & Germain, 2009; Paterson, 2013b);

Otites crónicas com estenose do CAE (Bensignor & Germain, 2009; Paterson, 2013b);

Situações dolorosas em que animal não permite o tratamento local (Bensignor &

Germain, 2009).

O tratamento sistémico pode consistir em antibióticos, anti-inflamatórios esteróides,

antimicóticos e antiparasitários (Tabela 4) (Bensignor & Germain, 2009).

A terapêutica empírica para os casos clínicos de OE é baseada nos resultados

citológicos e na apresentação clínica, excepto na otite crónica e na otite recorrente (Budgen,

2013), (Jacobson, 2002).

Tabela 4 – Susceptibilidade antimicrobiana em relação às quatro bactérias mais comuns isoladas nas OE

caninas. (Budgen, 2013)

Microrganismos Antibióticos Susceptível Resistente

Pseudomonas

aeruginosa

Enrofloxacina/Ciprofloxacina

/Moxifloxacina

Gentamicina

Polimixina B

Fraco

Forte

Forte

Média

Fraco

Fraco

S. pseudointermedius Enrofloxacina/Ciprofloxacina

/Moxifloxacina

Gentamicina

Polimixina B

Forte

Forte

Fraco

Fraco

Fraco

Forte

Page 36: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

35

Neomicina Forte Fraco

Proteus sp. Enrofloxacina/Ciprofloxacina

/Moxifloxacina

Gentamicina

Polimixina B

Neomicina

Forte

Forte

Fraco

Forte

Fraco

Fraco

Forte

Fraco

Escherichia coli Enrofloxacina/Ciprofloxacina

/Moxifloxacina

Gentamicina

Polimixina B

Neomicina

Forte

Forte

Fraco

Fraco

Fraco

Fraco

Forte

Forte

1.7.3.1. Otodemodicose

A otite por Demodex spp. observa-se geralmente em casos de demodicose clássica. O

tratamento desta otite segue os mesmos passos terapêuticos da demodicose.

1.7.3.2. Otite Alérgica

Na otite alérgica o objectivo é a eliminação do alérgeno, como por exemplo, no caso

de uma alergia alimentar deve-se introduzir uma dieta hipoalérgica. Quando a eliminação dos

alérgenos é impossível, pode-se utilizar o tratamento com corticoesteróides locais de forma

periódica. Se os sintomas são importantes e existem outros sinais de alergia deve-se

considerar o tratamento sistémico à base de corticoterapia e à base de ciclosporina (DeBoer,

2004).

O tratamento com o uso glucocorticóides como a prednisolona (na dose de 1miligrama

(mg) por dia em dias alternados) é o tratamento mais útil e efectivo (Rodríguez, 2007), visto

permitir a redução do edema, da inflamação, da secreção glandular, do prurido, a produção de

fibrose e as alterações proliferativas (Bensignor & Germain, 2009; Bloom, 2009; Jacobson,

2002; Medleau & Hnilica, 2006). Sendo usados por via sistémica obtêm-se uma rápida acção

nos sintomas de otite e pode permitir o tratamento de muitas afecções clínicas como a

dermatite alérgica ou estenose do CAE (Bensignor & Germain, 2009; Bloom, 2009; Jacobson,

2002; Medleau & Hnilica, 2006).

Page 37: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

36

A ciclosporina deve ser administrada na dose de 5miligrama/quilograma (mg/kg) por dia

pois consegue ter um controlo razoável em 70% dos canídeos atópicos (DeBoer, 2004). A

ciclosporina como imunomodelador tem diversas aplicações em dermatologia canina. O

tratamento sistémico com ciclosporina é uma opção terapêutica interessante especialmente

nos casos de dermatite atópica e de estenose do CAE, sobretudo no Cocker Spaniel

(Bensignor & Germain, 2009).

1.8. Otalgia

A associação internacional para o estudo da dor (AIED) propôs a definição de dor

como “uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a dano tecidual real ou

potencial”. A dor é uma experiência multidimensional completa com componente sensorial e

afectiva (Flaherty, 2012; Robertson, 2007a; Senior, 2011).

A dor divide-se em dor aguda e dor crónica, mediante a sua duração (Hellyer et al.,

2007; Robertson, 2007b). Frequentemente a dor crónica associa-se a processos de osteoartrite

(OA) ou neoplasias, embora também possa aparecer em afecções como cistite intersticial (via

parenteral), doença dentária e dermatites persistentes onde pode-se encaixar a OE (Robertson,

2007b).

As respostas visíveis à dor variam muito entre espécies, devido a este facto a

valorização específica da dor varia de espécie para espécie e, tem de se ter em conta que

dentro da mesma espécie cada animal é único, no que respeita ao número, morfologia e

distribuição de receptores opiáceos (Robertson, 2007a).

Otalgia é definida como dor otológica, sendo gerada pela inflamação dos nervos que

irrigam o ouvido causando a percepção de dor (Vedasalam et al., 2010).

Existem dois tipos de otalgia, a primária em que a causa da dor é devida a uma lesão

no ouvido e a otalgia secundária em que o exame auricular é tipicamente normal e a causa da

dor é externa ao ouvido (Ely et al., 2008; Shaikh et al., 2010).

As causas de otalgia primária são normalmente otite média e OE, enquanto na otalgia

secundária, são difíceis de determinar devido à complexa inervação auricular, contudo 50%

da otalgia secundária resulta de causas dentárias (Ely et al., 2008).

Page 38: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

37

1.8.1. Avaliação da dor otológica

As medidas objectivas para avaliar a dor são o ritmo cardíaco, o ritmo respiratório, a

pressão arterial e o diâmetro pupilar (Robertson, 2007b; Hellyer et al., 2007).

Em medicina veterinária não existem testes específicos para detecção da dor otológica

comparativamente à medicina humana. A detecção de dor na pediatria é realizada com auxílio

de duas técnicas, a técnica de pressão do tragus e a elevação do pavilhão auditivo (Long &

Bloomberg, 2013; Ely et al., 2008; Shaikh et al., 2010).

Em medicina veterinária não existem testes específicos como na pediatria da medicina

humana. Na pediatria através da tração do pavilhão auricular e pressão no tragus pode-se tirar

conclusões quanto ao sinal clínico de dor (McWilliams et al., 2012; Leung, A.K.C et al.,

2000).

A inervação do pavilhão auricular canino é composta por quatro nervos: o trigémio, o

facial, o vago e ainda o cervical secundário. A região do tragus é inervada principalmente pelo

nervo facial e trigémio (Cole, 2009; Tobias, 2013; Leung, A.K.C et al., 2000). Quando

executamos a técnica da pressão do tragus é a partir principalmente do nervo facial que vai

ocorrer a manifestação da dor. Esta técnica é baseada na detecção de dor otológica executada

na pediatria (Ely et al., 2008; Shaikh et al., 2010; Leung, A.K.C et al., 2000; Long &

Bloomberg, 2013).

A inervação sensorial da superfície côncava do pavilhão auricular e do conduto

auditivo externo é realizada pelos ramos do nervo facial, enquanto o pavilhão auricular a nível

rostral, o conduto horizontal e a membrana timpânica é efectuada pelos ramos do nervo

trigémio (Tobias, 2013; Leung, A.K.C et al., 2000). São estes ramos do trigémio que quando

executada a técnica da elevação do pavilhão auricular que vão originar a manifestação da dor.

Esta técnica de detecção de dor otológica também é baseada na pediatria (Ely et al., 2008;

Shaikh et al., 2010; Long & Bloomberg, 2013).

Page 39: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

38

1.8.2. Tratamento médico da dor

Neste momento está estabelecido que as vias neurais para o desenvolvimento, a

condução e a modelação da dor entre os animais e o homem são as mesmas. O maneio da dor

e a prevenção da mesma é parte fundamental para a qualidade da vida dos canídeos (Hellyer

et al., 2007).

O tratamento farmacológico anti-inflamatórios não esteróides (AINES) em canídeos

são a principal terapia para processos inflamatórios crónicos (Robertson, 2007a; Laredo,

2007).

Os AINES selectivos COX-2 mais utilizados são o carprofeno e o meloxicam. Quando

a terapia AINES é inadequada para controlar a dor, pode-se administrar opióides orais como

tramadol. Também se pode utilizar o fentanilo transdérmico, embora para tratamentos

prolongados se torne extremamente dispendioso e para o maneio da dor na OE é raro a sua

aplicação (Clutton, 2011; Hellyer et al., 2007; Laredo, 2007; Senior, 2011; Robertson,

2007a).

A morfina agonista puro dos receptores é de eleição no peri-operatório severo sendo a

sua analgesia efectiva ao fim de 20 a 30minutos, com uma duração variável de três a quatro

horas. Os seus efeitos secundários são vómito e defecação (Clutton, 2011; Laredo, 2007).

A bupremorfina, agonista parcial dos receptores, utiliza-se extensamente na pré-

anestesia em canídeos e felídeos, tendo uma duração de ação de oito a doze horas e é eficaz na

dor leve a moderada (Laredo, 2007).

Como analgésicos menos convencionais podem ser utilizados como os antidepressivos

tricíclicos, gabapentina e suplementos dietéticos como os nutracêuticos (Laredo, 2007; Senior,

2011). Os antidepressivos tricíclicos como amitriptilina pode ser utilizada para a cistite

intersticial e para o tratamento de neoplasias embora na OE raramente se utilize (Laredo,

2007).

Na otite média ou interna com a apresentação de dor crónica neuropática o

anticonvulsionante da medicina humana gabapentina pode ser escolhido. Os suplementos

nutricionais ou nutracêuticos podem ser benéficos mas faltam estudos científicos que

suportem a sua escolha (Laredo, 2007).

Page 40: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

39

1.8.3. Terapias Complementares para o maneio da dor

Na medicina veterinária pode-se complementar o tratamento sistémico da dor com a

aplicação de práticas como acupunctura, homeopatia, laser classe quatro, etc.

Quanto ao laser classe 4, a explicação para a redução da dor deve-se (Riegel, 2008):

Ao aumento da circulação sistémica de betaendorfinas, sendo estas substâncias

consideradas opióides endógenos (Riegel, 2008);

Ao aumento da produção de óxido nítrico, sendo este um neurotransmissor que

tem um efeito vasodilatador que provoca alteração na perfusão e oxigenação da

célula nervosa (Riegel, 2008);

À diminuição dos níveis de bradiquininas que são peptídeos derivados da

proteína plasmática que formam-se nos locais tecidulares lacerados. Ad

bradiquininas produzem inflamação, vasodilatação, contracção no músculo liso

e estimulam a dor por activação das vias nociceptivas aferentes localizadas na

pele (Riegel, 2008);

A laserterapia é um excelente tratamento complementar aos protocolos médicos de

tratamento da OE. A dor, o edema e a inflamação são reduzidas permitindo uma maior

eficácia do tratamento tópico. Uma vez que o laser classe quatro é uma aplicação de laser

quente vai ocorrer uma vasodilatação tecidular que permite uma melhor penetração das

medicações sistémicas aos tecidos afectados (Godbold, 2011).

No caso da OE a aplicação do laser classe quatro permite um alívio imediato da dor

que se verifica pela redução do comportamento compulsivo de abanar a cabeça. Existe ainda a

redução da inflamação e do edema tecidular (Riegel, 2008).

Page 41: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

40

1.9.Objectivos

O objectivo geral deste estudo foi a caracterização da otite externa numa população de

canídeos de base hospitalar.

Os objectivos específicos foram determinar da presença de otalgia em canídeos com otite

externa e correlacionar com os factores intrínsecos da doença.

Page 42: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

41

2. Material e Métodos

2.1. Amostra

A amostra é não aleatória e seleccionada por conveniência. Os canídeos que

integraram a amostra foram considerados elegíveis desde que obtivessem um diagnóstico

médico de otite durante a consulta realizada no período de estágio.

2.2. Local

O estudo foi realizado durante o período de seis meses (Setembro de 2012 até Março

de 2013) no Hospital Escolar da FMV-ULHT localizado na cidade de Lisboa e no Hospital

Veterinário da Arrábida localizado em Vila Nogueira de Azeitão – Portugal.

2.3. Tipo de estudo

O tipo de estudo realizado na população canina é observacional descritivo.

2.4. Metodologia

2.4.1. Questionário

Durante a consulta, os proprietários dos animais foram sujeitos a um questionário

(apêndice I) onde foram obtidos dados da anamnese e história clinica, tais como, a raça, idade,

sexo, estado fértil, peso e conformação das orelhas pendentes e erectas (orelha pendente

sempre que o pavilhão auricular cobria a abertura do conduto auditivo externo). O

proprietário também foi questionado sobre ao motivo da consulta; quando foi detectada a

otite, se já tinha ocorrido episódio(s) de otite no passado, se foi realizado tratamento ou

limpeza antes da consulta, se o animal apresenta problemas de pele, se há hábitos de limpeza

dos ouvidos e de quanto em quanto tempo, hábitos de banho e de quanto em quanto tempo, se

costumam ser arrancados pêlos do ouvido, se o animal coça, abana ou esfrega as orelhas.

Page 43: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

42

2.4.2. Exame otológico

O exame otológico foi dividido em três fases:

2.4.2.1 Determinação da dor

Na determinação da dor otológica realizámos dois testes: elevação dorsal do pavilhão

auricular e pressão na cartilagem do tragus.

Para realização da técnica de pressão no tragus, deve-se exercer uma pressão leve na

cartilagem do tragus com o dedo indicador.

Para realização da técnica da elevação do pavilhão auricular, coloca-se a mão na

pavilhão auricular e exerce-se uma ligeira tracção deste em sentido ascendente.

A presença de dor foi considerada positiva se houve vocalização, ou se o animal se

afastou ou tentou morder quando efectuada a pressão no tragus ou na elevação do pavilhão

auricular.

Imagem 2 – Exame de determinação da otalgia auditiva elevando dorsalmente o pavilhão auricular. (Imagem de

autor)

Imagem 3 – Exame de determinação da otalgia auditiva pressionando o tragus. (Imagem de autor)

1 2

Page 44: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

43

2.4.3. Avaliação visual do pavilhão auricular e entrada do conduto

auditivo externo

O exame consiste segurar na orelha do canídeo e visual o pavilhão auricular e a

entrada do CAE para detectar lesões auditivas e o seu grau de evolução.

Imagem 4 - Avaliação visual do pavilhão auditivo e entrada do conduto auditivo externo onde se observa

hiperémia em ambos. (Imagem de autor)

2.4.4. Avaliação otoscópica do conduto auditivo

Realizou-se um exame otoscópico com auxílio de um otoscópio. A escolha do cone

relativamente ao comprimento, diâmetro e formato dependeu da forma e tamanho das orelhas

do cão.

Para a visualizar do pavilhão auditivo pegou-se no pavilhão auditivo perto da base da

orelha, puxou-se para cima e lateralmente de modo a que o conduto auditivo fique recto,

insere-se então o cone devagar enquanto se observa toda a extensão dos canais horizontal e

vertical para verificar se há lesões e a intensidade destas e se a membrana timpânica está

intacta.

No exame otoscópico devemos começar por examinar em primeiro lugar o ouvido

saudável (no caso de doença unilateral) e terminar o exame no ouvido com otite assim,

Page 45: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

44

conseguimos reduzir a possibilidade de ocorrer disseminação do agente do ouvido com o

patogénico para o saudável.

No conduto auditivo foi avaliado em ambos os ouvidos o tipo de material (pús,

cerúmen). Também é avaliado se há a presença de estenose, verificar se afecta o conduto

horizontal, vertical ou ambos.

2.5. Exame Citológico

As amostras foram colhidas com auxílio de uma zaragatoa estéril e foi realizada em

ambos os ouvidos (direito e esquerdo). Após a colheita realizou-se um esfregaço para uma

lâmina e corou-se de seguida com o método Diff-Quick. A coloração Diff-Quick foi

efectuada consoante o protocolo, que consiste em mergulhar a lâmina durante cinco segundos

na solução de fixação (metanol), de seguida no corante eosinófilico (xanteno) e por último o

corante basofílico (tiazina). Efectuada a coloração coloca-se a lâmina sobre água corrente e

efectua-se a secagem da mesma para posteriormente ser possível a sua visualização ao

microscópio.

As amostras foram rigorosamente identificadas com o nome do animal e data no lado

esquerdo da lâmina, no lado direito da lâmina pertenceu à colheita realizada no ouvido direito

e a parte central pertenceu à colheita realizada no ouvido esquerdo. De seguida procedeu-se à

visualização das lâminas ao microscópio ótico iniciando a visualização com ampliação baixa

x4 e depois passou-se à ampliação x100. Utilizou-se a ampliação de imersão (100x) para a

visualização dos agentes microbianos.

Page 46: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

45

Imagem 5- Lâmina de citologia auditiva, sendo dividida com nome do animal e data do lado esquerdo da

lâmina, no lado direito da lâmina pertence à colheita realizada no ouvido direito e a parte centro esquerdo

pertence à colheita realizada no ouvido esquerdo. (Imagem de autor)

Imagem 6- Técnica de coloração Diff-Quick, primeiro passo mergulhar a lâmina durante 5 segundos em

metanol, solução fixadora. (Imagem de autor)

Imagem 7- Técnica de coloração Diff-Quick, segundo passo mergulhar a lâmina num corante eosinófilico

(iodina de lugol) durante 5 segundos. (Imagem de autor)

Imagem 8- Ténica de coloração Diff-Quick, último passo mergulhar a lâmina num corante basófilico (azul de

metileno) durante 5 segundos. (Imagem de autor)

5 6

7 8

Page 47: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

46

3. Resultados

A amostra é constituída por trinta cães (n=30), que se apresentaram à consulta de

dermatologia, medicina interna e preventiva. No número total de animais, 67% (20/30)

apresentavam OE bilateral e 23% (7/30) apresentavam OE unilateral.

3.1. Avaliação dos canídeos

3.1.1. Idade

As idades estavam compreendidas entre 8 meses e 15 anos, tendo sido a idade média

de 7,6 anos e com o desvio padrão de 4 anos

3.1.2. Género e estado fértil

Relativamente ao género, 30% eram fêmeas (9/30) e 70% eram machos (21/30). Os

animais férteis incluíam 67% (6/9) fêmeas e 71% (15/21) machos.

3.1.3. Peso

Os canídeos apresentaram um peso médio de 32,2kg, com um peso mínimo 10kg e um

peso máximo de 61kg, e um desvio padrão de 18kg

3.1.4. Raça e configuração das orelhas

Os canídeos deste estudo eram 76,7% (23/30) de raça pura e 23,3% (7/30) de raça

indefinida. As raças puras afectadas foram o Labrador Retriever (7/30), o Dogue Alemão

(3/30), o Setter Irlândes (2/30), o Pastor Belga (2/30), o Pastor Alemão (2/30), o Basset

Hound (2/30), o Golden Retriever, o Teckel (1/30), o Pastor de Berna (1/30) e o Perdigueiro

(1/30).

Os canídeos classificados com conformação de orelhas pendentes tiveram uma

prevalência de 87% (26/30), em contraste com os canídeos com a conformação de orelhas

erectas que foram agrupados em 13% (4/30).

Page 48: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

47

3.2. Aspectos com relevância clínica

3.2.1. Motivo da consulta

Neste estudo, 53% (16/30) dos canídeos apresentaram-se à consulta com queixa de

otite, enquanto as restantes 47% (14/30) das otites observadas foram achados clínicos. Neste

grupo, o motivo da consulta foram na maioria dos casos de neurologia, ortopedia e medicina

interna

3.2.2. História de OE no passado

Neste estudo, 77% (23/30) dos canídeos já tinham registado na sua história pregressa

casos de OE, enquanto 23% (7/30) nunca referenciaram este tipo de doença.

3.2.3. Limpeza antecedente à consulta

Os canídeos em que os proprietários realizaram limpeza auricular ou algum tratamento

antes da consulta foram apenas de 20% (6/30).

3.2.4. Problemas Dermatológicos

Neste estudo 80% (24/30) dos canídeos não apresentavam problemas dermatológicos

associados à OE mas em 20% (6/30) dos canídeos havia concomitante doença dermatológica.

3.2.5. Hábitos de limpeza auditiva

Relativamente aos hábitos de limpeza auditiva realizados pelos proprietários aos

canídeos, comprovamos que na amostra: 46% (14/30) dos proprietários não limpavam os

ouvidos aos seus cães; 37% (11/30) limpavam os ouvidos uma vez ou menos que uma vez por

mês; e apenas 17% (5/30) realizavam mais do que uma limpeza semanal.

3.2.6. Hábitos de banho

Quanto aos hábitos de banho realizados pelos proprietários aos canídeos, registamos

que 30% (9/30) dos canídeos nunca tomaram banho, em contraste com 33% (10/30) que

tomam banho uma vez ou menos por mês e 37% (11/30) que tomam mais do que dois banhos

por mês.

Page 49: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

48

3.2.7. Tracção de pelo de dentro dos ouvidos

Somente um proprietário afirmou que costumava traccionar os pêlos do conduto

auditivo do seu cão (3%, 1/30).

3.2.8. Comportamentos de manifestação de prurido ou desconforto

Neste estudo, 20% (6/30) não apresentavam comportamentos sugestivos de

desconforto ou prurido, enquanto que 80% (24/30) manifestaram estes comportamentos

através de autotraumatismo e abanar excessivo da cabeça.

3.2.9. Duração da OE

Os proprietários destes canídeos informaram-nos dos seguintes dados: 63% (19/30)

não tinham conhecimento acerca da duração da OE, 14% (4/30) informaram-nos que

evidenciavam a OE à menos de uma semana ou no período de uma semana, enquanto que

23% (7/30) afirmaram que a duração da OE era superior a uma semana.

3.3. Avaliação dos parâmetros clínicos e otológicos

Como já referido anteriormente neste estudo, 67% (20/30) dos canídeos apresentaram

OE bilateral, em contraste com 20% (6/30) que evidenciaram OE unilateral. Verificou-se OE

unilateral esquerda em 4 animais (13%, 4/30) e OE unilateral direita em 2 (6,5%, 2/30).

Na amostra total (n=30) obtiveram-se 46 ouvidos com otite clinicamente visível. Um

número reduzido de canídeos, não apresentaram OE clinicamente visível mas somente

alterações comportamentais de desconforto ou prurido 13% (4/30).

1. Apresentação de lesões na entrada do conduto auditivo

Nesta amostragem, 91% (42/46) apresentaram lesões na entrada do conduto auditivo,

tendo 100% (42/42) eritema, 26% (11/42) hiperqueratose, e 4,8% (2/42) presença

excessiva de pêlos. Em nenhum caso foi observado hiperpigmentação. Ainda devemos

referir que 10% (3/30) apresentavam alterações no pavilhão auricular como

otohematomas, secundários ao prurido auricular, sem apresentação clínica evidente de

OE.

Page 50: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

49

2. Tipo de material encontrado no exame otoscópico

Na amostra, 70% (32/46) das OE apresentam cerúmen, enquanto as restantes 30%

(14/46) apresentaram material purulento.

3. Lesões do conduto auditivo

No nosso estudo, 26% dos ouvidos da população canina, ou seja, 12/46 registou

estenose do CAE, embora 96% da nossa amostra auditiva, ou seja, 44/46 registou sinais

clínicos de inflamação.

4. Visualização da membrana timpânica

No nosso exame otoscópico efectuou-se sempre o estudo da membrana timpânica. Em

43% (20/46) dos ouvidos não foi possível visualizá-la.

5. Otite infecciosa versus Otite não infecciosa

A presença de agentes infecciosos foi registada através da citologia auricular. Neste

estudo 91% (42/46) das OE eram de origem infecciosa, enquanto que 9% (4/46) eram não

infecciosas.

6. Tipo de microrganismos

Em 91% (42/46) das OE infecciosas o registo superior, com 60% (25/42) de casuística

é a Malassezia, seguida de otites mistas de cocos e bastonetes com 21% (9/42). Em menor

número aparecem as otites exclusivas de bastonetes, ou seja, em 14% (6/42) e por fim as

otites mistas de Malassezia, cocos e bastonetes representadas por 2% (1/42).

Imagem 9 - Citologia auditiva onde observa-se Malassezia. (Imagem de autor)

Page 51: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

50

7. Células Inflamatórias/agentes infecciosos

Em 38% (16/42) das citologias auriculares identificaram-se neutrófilos, sendo que em

25% (4/16) se observou uma associação neutrófilos/Malassezia; em 37,5% (6/16)

neutrófilos/ infecção mista cocos e bastonetes e nos restantes 37.5% (6/16)

neutrófilos/bastonetes.

8. Relação entre tipo de material e agente infeccioso associado

Os agentes infecciosos foram encontrados, com o resultado de 100% (14/14) em todas

as OE purulentas, enquanto as OE ceruminosas apenas apresentam 88% (28/32) de agentes

infecciosos.

3.4. Avaliação da otalgia

Foram efectuados testes de dor em todos os ouvidos dos canídeos, mais correctamente

o teste de elevação dorsal do pavilhão auricular e o teste de pressão no tragus.

1. Dor como sinal clinico

Nos ouvidos com OE com reacção positiva a pelo menos a um dos testes foi de 41%

(19/46). Neste estudo verificou-se que 41% das OE manifestaram a dor como sinal clinico,

todos os ouvidos com dor 41% (19/46) tinham como reacção positiva o teste de pressão no

tragus, enquanto só 22% (10/42) dos ouvidos com OE apresentaram dor como sinal clínico no

teste da elevação do pavilhão auricular.

Gráfico 1 – Resultados de resposta dos canídeos com otite externa aos testes de dor.

Page 52: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

51

2. Relação da dor e OE infecciosa

Das 42 OE de origem infecciosas, 19 apresentaram a dor como sinal clínico (45%).

Gráfico 2 – Resultado da presença e ausência de dor em otite infecciosa.

3. Relação da dor e o tipo de material existente no CAE

Neste estudo, todas as otites purulentas apresentavam dor, em contraste com as otites

ceruminosas em que a dor foi observada em apenas 16% (5/32) dos casos.

Gráfico 3 – Resultados da associação do sinal dor ao tipo de material encontrado.

Page 53: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

52

4. Discussão dos Resultados

No presente estudo com a amostra de 30 canídeos obtivemos diversas informações que

são coerentes com as informações de estudos retrospectivos.

Em relação à média da idade da amostra de canídeos que foi 7,6 anos, este resultado

vai de encontro à média referida por Bensignor e Germain (2009) onde definem que a idade

com maior casuística de otites é entre os 5 e os 8 anos.

Não encontramos correspondência entre a presença de otite externa e o género do

canídeo, ou seja, não existe predisposição sexual, indo ao encontro das referências efectuadas

por Scott, et al. (2002).

Na amostra de canídeos observamos maior número de otites em animais não

esterilizados, provavelmente porque os animais não esterilizados são menos sedentários

expondo-se mais a factores ambientais (factores predisponentes) que podem predispor a otite.

Neste estudo as raças puras apresentaram maior prevalência de otites com um valor de

77,7%, sendo o Labrador Retriever (7/30) a raça com maior frequência de otites, indo ao

encontro das raças mais predispostas referidas por Bugden (2013), Goth (2011) e Griffin

(2011b).

Estabelecemos uma correlação directa entre a presença de otite e as raças de orelhas

pendentes, indo ao encontro dos estudos de Bensignor & Germain (2009). No nosso estudo

87% das OE eram de canídeos com orelhas pendentes. Esta predisposição pode dever-se ao

facto de a orelha pendente cobrir o CAE levando a um aumento da temperatura como citado

por Bensignor & Germain (2009), Goth (2011) e Müller (2007).

Durante o estudo houve 20% de casos que identificaram uma interacção entre os

problemas dermatológicos e a otite. Os canídeos em questão apresentavam demodecose ou

dermatofitose, sugestivos de um quadro imunossupressivo subjacente.

Este estudo encontra-se em concordância com estudos realizados anteriormente por,

Bensignor & Germain (2009), Goth (2011), Jackson & Marsella (2012) onde 37% dos

canídeos com otite tomavam mais do que um banho por mês. Estes autores afirmam que a

limpeza constante e os banhos frequentes são factores predisponentes para a OE pois

estimulam a inflamação e a diminuição da barreira do estracto córneo estando mais sujeito a

agentes patogénicos e ambientais.

Neste estudo o sintoma clinico mais comum de presença de OE é a presença de

comportamento compulsivo de abanar a cabeça como também já referido na literatura de

Page 54: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

53

Oliveira et al., 2012. No entanto, 20% dos canídeos não tinham este comportamento

compulsivo pois apresentavam uma OE na forma inicial.

No estudo efectuado a OE bilateral representa 67% das otites da amostra de canídeos,

em contraste com 20% dos canídeos que apresentavam OE unilateral. As OE bilaterais estão

associadas a quadros de hipersensibilidade, alterações de queratinização e endocrinopatias,

como mencionadas por Rosser (2004); Harvey & Mckeever (2001), (Campbell et al., 2010) e

Zur et al. (2011).

Por vezes, durante o estudo foi difícil discernir entre OE aguda ou crónica, uma vez

que 47% dos canídeos apresentaram-se à consulta hospitalar por um motivo não de OE mas

sim ortopédico, neurológico e de medicina interna, sendo um achado de consulta. Nas

questões colocadas ao proprietário, 63% não tinham conhecimento acerca da duração da OE.

Conseguimos determinar a cronicidade da OE a partir da presença de lesões crónicas como a

estenose (Griffin, 2011b; Jackson & Marsella, 2012).

Na visualização do pavilhão auricular e da entrada do conduto auditivo foi possível

determinar a presença lesões e a que mais se evidenciou foi a inflamação da entrada do

conduto auditivo externo onde verificamos a presença de eritema. No estudo a prevalência é

de 100% de inflamação nos ouvidos com otite, tanto em casos de otites agudas como otites

crónicas. A otite crónica geralmente encontrava-se associada a outras lesões como

hiperqueratose, evidenciada em 26% dos ouvidos com otite.

O tipo de material da secreção auricular elucida-nos para o tipo de OE presente no

canídeo. Neste estudo identificou-se num maior número de canídeos com presença de material

ceruminoso, em 76% dos ouvidos com otite, comparativamente ao material purulento que

manifestou-se em 30%.

Através do exame otoscópico, foi visualizado eritema do CAE em 96% dos ouvidos

com otite e a estenose do CAE em apenas 26%. A presença de estenose está normalmente

associada a otites crónicas (Jackson & Marsella, 2012).

No estudo não foi possível visualizar a membrana timpânica em 43% da amostra. A

visualização do tímpano tem algumas limitações, uma delas é as otites com excesso de

secreção purulenta, ou de outro tipo de secreções uma vez que fazem uma barreira limitativa

na observação da membrana timpânica,. A visualização da membrana timpânica torna-se

também dificultada sempre que existe ruptura da mesma, como cita Bensignor & Germain

(2009).

Page 55: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

54

Neste estudo 91% das otites eram de origem infecciosa, sendo o microrganismo mais

comum a Malassezia, com 60% de prevalência, seguida das otites mistas de cocos e

bastonetes com 21%. Sendo a Malassezia um dos constituintes da microflora cutânea e agente

oportunista, qualquer alteração ambiental ou anatómica pode contribuir para o seu

sobrecrescimento e causar otite como cita Paterson (2013a) e Griffin (2011b).

Relativamente ao sinal de dor, é um dado importante para a obtenção do diagnóstico

contudo a sua presença pode dificultar a colheita de amostras do conteúdo auditivo para

posterior citologia. No estudo, a recolha citológica demonstrou-se menos dolorosa nas otites

que tinham como origem a Malassezia.

Neste estudo interpretamos uma correlação directa entre a presença de células

inflamatórias, como neutrófilos, a presença de agentes infecciosos como cocos e bastonetes e

a presença do sinal dor. Medleau & Hnilica(2006) e Rougier et al. (2005) referem que na

presença de material purulento, o tipo de material presente em otites com cocos e bastonetes,

o sintoma dor é mais comum e está frequentemente associado ao comportamento compulsivo

de sacudir a cabeça

No presente estudo a manifestação de dor foi identificada em 19 pavilhões auriculares.

Dos 19 pavilhões auriculares todos apresentaram o sinal dor na pressão do tragus e só 10

pavilhões auriculares apresentaram o sinal dor durante a elevação do pavilhão auricular.

Pode-se interpretar daqui, que a técnica de pressão do tragus é mais sensível na prática

clinica para identificação do sinal de dor. Possivelmente porque essa região é a região de

passagem do nervo facial e trigémio como refere Cole (2009), Tobias (2013) e Leung (2000).

Este estudo permite introduzir um conceito onde a presença de otite externa

infecciosa purulenta estará sempre acompanhada por um componente doloroso que poderá

reduzir a eficácia do exame otoscópio.

Page 56: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

55

5. Conclusão

Nesta dissertação concluiu-se que a otite externa é uma doença frequente em canídeos

que necessita de um exame clínico rigoroso.

A dor está presente num número considerável de casos e está frequentemente

associada a exsudados purulentos de origem infecciosa, não devendo ser desprezada durante o

exame físico.

O conceito de dor otológica em medicina veterinária é relativamente recente quando

comparado com a medicina humana. Seria importante a realização de mais estudos que se

debrucem sobre otalgia e que permitam criar escalas de dor específicas para a dor otológica,

sendo estas escalas utilizadas quer para o diagnóstico da OE quer para a monotorização

evolutiva do tratamento da OE.

Page 57: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

56

6. Bibliografia

Angus, J. (2004). Otic cytology in health and disease. The Veterinary Clinics (pp. 411-424).

Bensignor, E. & Germain, P.A. (2009). Enfermedades del oído en perro y gato. Zaragoza,

Espanha: Esteve Veterinaria.

Bettenay, S. (2012a). Diseases of the German Shepherd Dog. Southern European Veterinary

Congress. Barcelona: SEVC.

Bettenay, S. (2012b). How I treat: Dry Seborrhoea. Southern European Veterinary

Conference. Barcelona: SEVC.

Bloom, PB. (2009). Practical approach to diagnosis and managing ear disease in the dog.

CVC in Baltimore Proceedings. Baltimore.

Bond, R. (2011). Update on alopecia in dogs and the use of biopsies. Bsava Congress 2011

Scientific Proceedings Veterinary Programme (pp. 164-165). Birmingham, UK: BSAVA.

Budgen, D.L. (2013). Identification and antibiotic susceptibility of bacterial isolates from

dogs with otitis externa in Australia. Australian Veterinary Journal (pp. 43-46).

Campbell, J.J.; Coyner, K.S.; Rankin, S.C.; Lewis, T.P.; Schick, A.E.; Shumaker, A.K.

(2010). Evaluation of fungal flora in normal and diseased canine ears. Veterinary

Dermatology (pp. 619- 625).

Clutton, E. (2011). How to control Acute Pain. Southern Europena Veterinary Conference.

Barcelona: SEVC.

Coatesworth, J. (2011). Causes of otitis externa in the dog. Small Animal Dermatology,

Companion Animal (Vol 16, pp. 35-38). Blackwell Publishing Ltd

Cole, L. K. (2009). Anatomy and physiology of the canine ear. Veterinary Dermatology (pp.

221-231).

Cole, L.K. (2004). Otoscopic evaluation of the ear canal. In: Matousek JL(ed), Veterinary

Clinics of North America. Small Animal Practice. Ear disease. Philadelphia: WB Saunders;

397-410.

Page 58: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

57

DeBoer, D.J. (2004). Canine Atopic Dermatitis: New Targets, New Therapies (pp. 2056s-

206s). The Journal of Nutrition.

Ely, J.W.; Hansen; M.R.; Clark, E.C. (2008). Diagnosis of Ear Pain. University of Iowa

Carver College of Medicine, Iowa City, Iowa.

Engelen, M.; De Bock, M.; Hare, J. & Goossens, L. (2010) Effectiveness of an Otic Product

Containing Miconazole, Polymyxin B and Prednisolone in the Treatment of Canine Otitis

Externa: MultiCsite Field Trial in the US and Canada. (Vol. 8 , No 1, pp. 21-30)

Fernández, G.; Barboza, G.; Villalobos, A.; Parra, O.; Finol, G.; Ramírez, R.A. (2006).

Aislamiento e identificación de microorganismos presentes en 53 perros enfermos de otitis

externa. Revista Cienífica , 23-30.

Flaherty, D. (2011). Pain Assessement in dogs and cats. Southern European Veterinary

Conference. Barcelona, Espanha: SEVC.

Goth, G. M. (2011). External ear disease in dogs and cats (Vol 21 No3). Veterinary Focus..

Gotthelf, L.N. (2004). Diagnosis and treatment of otitis media in dogs and cats (pp. 469-487).

The Veterinary Clinics.

Griffin, C. (2011a). Ears the basics. Southern European Veterinary Conference. Barcelona,

Espanha: SEVC.

Griffin, C. (2011b). What´s causing this disastrous ear problem? Southern European

Veterinary Conference. Barcelona, Espanha: SEVC.

Griffin, C. (2011c). The BEST treatment for ear disease. Southern European Veterinary

Conference. Barcelona: SEVC.

Harvey, R.G; Mckeever, P. J. (2001). Otitis Externa. Enfermedades de la piel en perro y gato

(pp. 193-200). Espanha: GRASS.

Hellyer, P.; Rodan, L.; Brunt, J.; Downing, R.; Hagedorn, J.E. & Robertson, S.A. (2007).

AAHA/AAFP pain management guidelines for dogs and cats (pp. 466-480). Journal of Feline

Medicine and Surgery .

Page 59: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

58

Jackson, H. & Marsella, R. (2012). BSAVA manual of canine and feline dermatology. (3ª Ed.,

pp.110-120), England

Jacobson, L. S. (2002). Diagnosis and medical treatment of otitis externa in the dog and cat

(pp. 162-170). Journal of the South African Veterinary Association.

Konig, H.E. & Liebich, H.G. (2004). Órgão do equilíbrio e órgão da audição – órgão

vestibulococlear. In: Anatomia dos animais Domésticos. Texto e atlas colorido. (pp. 309-312

Volume 2, órgãos e sistemas). Artmed, Alemanha.

Laredo, F. (2007). Analgesia perioperatoria. Southern European Veterinary Conference

(pp.139). Barcelona: SEVC.

Leung, A. K. C.; Fong J. H. S.; Leong, A. G.(2010). Otalgia in children. Journal of the

National Medical Association (pp.254–260). Alberta, Canada.

Lloyd, D. (2011a). Optimising Topical Antimicrobial Therapy. Southern European Veterinary

Conference. Barcelona, Espanha: SEVC.

Long, M.; Bloomberg, C. R. (2013). Otitis Externa. Pediatrics in Review (pp. 143-144)

Lund, E. (2009). El riesgo de otitis externa. Banfield Journal Veterinario. Banfield, USA.

McWilliams, C.J.; Smith, C.H.; Goldman, R.D. (2012). Acute otitis externa in children. (Vol.

58) Child Health Update is produced by the Pediatric Research in Emergency Therapeutics

program Children’s Hospital. Vancouver

Medleau, L.; Hnilica, K. A. (2006). Otitis Externa. Small Animal Dermatology (2ª ed., pp.

376-388). Missouri, USA: Saunders Elsevier.

Mueller, R. S. (2007b). Opciones terapéuticas en las otitis externas. Southern European

Veterinary Conference (pp. 183-185). Barcelona: SEVC.

Mueller, R.S. (2007a). Limpieza auricular en la clínica veterinaria. Southern European

Veterinary Conference (pp. 187-188). Barcelona: SEVC.

Mueller, R.S. (2007c). Enfoque prático de la otitis externa. Southern European Veterinary

Conference (pp. 181-182). Barcelona: SEVC.

Page 60: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

59

Mueller, R.S. (2007d). The pacient with otitis externa. Dermatology for small animal

practitioner. Ithaca: IVIS.

Müller, R.S. (2007). Pathophysiology of Otitis Externa. Southern European Veterinary

Conference. Germany: SEVC.

Navarro, L. (2011). How I treat Canine Demodicosis. Southern European Veterinary

Conference. Barcelona, Spain: SEVC.

Neuber, A. (2011a). Getting the best out of your practice laboratory for dermatology cases.

Scientific Proceedings Bsava Congress. Birmingham, UK: BSAVA.

Neuber, A. (2012b). What´s new: Demodex and its management. Scientific Proceedings

Bsava Congress. Birmingham, UK: BSAVA.

Noli, C. (2011). Malassezia Dermatitis. Southern European Veterinary Conference.

Barcelona, Espanha: SEVC.

Oliveira, V.; Ribeiro, M.; Almeida, A.C.S.; Paes, A.C.; Condas, L.A.Z.; Lara, G.H.B.; et al.

(2012). Etiologia, perfil de sensibilidade aos antimicrobianos e aspectos epidemiológicos na

otite canina: estudo retrospectivo de 616 casos. Seminário de Ciências Agrárias, Londrina (pp.

2367-2374). Londrina.;

Olivry, T.; DeBoer , D.J.; Favrot , C.; Jackson, H.A.; Nuttall, T. & Prélaud, P. (2011).

Treatment of canine atopic dermatitis: 2010 clinical practice guidelines from the International

Task Force on Canine Atopic Dermatitis. Veterinary Dermatology(Vol. 21, pp. 233–248)

Paterson, S. (2013a). Otitis scares me: where do instant. Bsava Congress Scientific

Proceedings Veterinary Programme (pp. 235-236). Birmingham, UK: BSAVA.

Paterson, S. (2013b). Dealing with chronic ears: tricks of the treat. Bsava Congress Scientific

Proceedings Veterinary Programme (pp. 235-236). Birmingham, UK: BSAVA.

Perrins, N. (2011a). Studies of the Shaking heads and scratching ears. Scientific Proceedings

Bsava Congress. Birmingham, UK: BSAVA.

Perrins, N. (2011b). Skin creepy crawlies: how to find and eliminate them. Scientific

Proceedings Bsava Congress. Birmingham, Uk: BSAVA.

Page 61: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

60

Petrov, V.; Mihaylov, G.; Tsachev, I.; Zhelev, G.; Marutsov, P.; Koev, K. (2013). Otitis

externa in dogs: microbiology and antimicrobial susceptibility (pp.18-22). Department of

Veterinary Microbiology, Infectious and Parasitic Diseases, Faculty of Veterinary Medicine,

Trakia University. Bulgária

Platt, S. (2010). Small Animal Neurology. (Cap.6, pp. 129). Editora Schlutersche. Germany

Platt, S.; Olby, N. (2013). BSAVA Manual of Canine and Feline Neurology.(4ªed. Cap. 11,

pp. 200-201) England

Rigaut, D; Sanquer, A.; Maynard & L.;.Réme, C.A. (2011). Efficacy of Topical Ear

Formulation with a Pump Belivery System fot the Treatment of Infectious Otitis Externa in

Dogs: a Randomized Controlled Trial (Vol.9, No.1, pp.15-28). França.

Robertson, S. A. (2007a). Dolor Crónico en Perros y Gatos. Southern European Veterinary

Conference (pp. 127-129). Barcelona: SEVC.

Robertson, S. A. (2007b). Cómo saber si tienen dolor? - Valoración del dolor agudo en

animales. Southern European Veterinary Conference (pp. 131-134). Barcelona: SEVC.

Rodríguez, P. S. (2007). Cómo trato: Demodicosis Canina. Southern European Veterinary

Conference (pp. 163-165). Barcelona: SEVC.

Rosser, E. J.(2004). Causes of otitis externa. The Veterinary Clinics (pp. 459-468),

Department of Small Animal Clinical Sciences, College of Veterinary Medicine, Michigan

State University, USA: Elsevier Saunders.

Rougier, S.; Borell, D.; Pheulpin, S.; Woehrlé, F. & Boisramé, B. (2005). A comparative

study o two antimicrobial/anti-inflammatory formulations in the tratment of canine otitis

externa. Veterinary Dermatology (pp. 299-307).

Saridomichelakis, M.; Farmaki, R.; Leontides, L.S.; Koutinas, A.F. (2007). Aetiology of

canine otitis externa: a retrospective study of 100 cases (pp. 341-347). Journal Compilation.

Scott, D.W.; Miller, W.H.; Griffin, C.E. (2002). Dermatologia en pequeños animales. (6ª Ed.

pp. 1250-1281) Buenos Aires, Argentina; Intermédica editorial.

Page 62: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

61

Shaikh, N; Kearney, D.H.; Colborn, D.K.; Balentine, T.; Feng, W.; Hoberman, A. (2011).

How do parents of preverbal children with acute otitis media determine how much ear pain

their child is having?; National Institute of Health.

Tobias, K. (2013). Ear anatomy: why it is important. Bsava Congress Scientific Proceedings

Veterinary Programme (pp. 235-236). Birmingham, UK: BSAVA.

Page 63: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

I

Apêndice I

Questionário dermatológico

Nome Proprietário: ______ Animal:_________________

Sexo (M -1) ou ( F-2 ) (Inteiro-0) ou (Esteril-1) Raça:__________

Orelhas erectas (0) □ pendentes (1) □ Peso:___________ Idade:_______

História otológica:

1.A otite é o motivo da consulta? Sim (1) Não (0) Qual foi o motivo? _______________

2.Quando foi que se apercebeu que havia otite? Uma semana ou menos (1) ______ Mais de

uma semana (2)_____ Desconheço (0) _______

3.Já houve algum episódio (s) de otite no passado? Sim (1) Não (0)

4.Já foi feito algum tratamento ou limpeza antes da consulta? Sim (1)_____ Não (0)

_________

5.O paciente tem problemas de pele? Sim (1) Não (0) Se sim, quais?

6. Usa líquidos de limpeza para limpar os ouvidos do seu cão? Nunca (0) ___ Menos que 1x

mês (1) ____ Mais do que uma vez ao mês (2) ______

Nota: inclui limpezas rotineiras feitas por tosquiadores e MV.

7.Hábitos de banhos: Nunca (0) ___ Menos que 1x mês (1) ____ Mais do que uma vez ao mês

(2) ______

8.Os pêlos costumam ser arrancados do ouvido? Sim (1) ____ Não (0)

Esta pergunta diz respeito ao arrancamento de pêlos na rotina do tosquiador ou MV.

9.Actualmente, o paciente coça, abana ou esfrega as orelhas? Sim (1) Não (0)

Exame otológico:

1) Determinação da dor:

- Elevação dorsal do pavilhão auricular: OD: Sim (1) Não (0) OE: Sim (1) Não (0)

- Pressão no Tragus: OD: Sim (1) Não (0) OE: Sim (1) Não (0)

2) Lesões da abertura do canal auditivo:

-Hiperpigmentação: OD: Sim (1) Não (0) OE: Sim (1) Não (0)

-Hiperqueratose: OD: Sim (1) Não (0) OE: Sim (1) Não (0)

-Inflamação/eritema: OD: Sim (1) Não (0) OE: Sim (1) Não (0)

-Excesso de pêlos: OD: Sim (1) Não (0) OE: Sim (1) Não (0)

Page 64: OTITE EXTERNA CANINA: ESTUDO PRELIMINAR SOBRE … · 2017-01-04 · uma palavra amiga. És a minha inspiração, a minha força, a minha coragem e a minha melhor amiga. Amo-te muito

II

3) Exame otoscópico:

a) Tipo de material: OD: pus__ cerúmen__ OE: pús__cerúmen___

b) Inflamação: OD: Sim (1) Não (0) OE: Sim (1) Não (0)

c) Diminuição do lúmen (estenose): OD: Sim (1) não (0) OE: Sim (1) não (0)

d) Visualização do tímpano: OD: Sim (1) Não (0) não foi possível visualizar __ OE: Sim (1)

Não (0) não foi possível visualizar ___

Conclusão:

OD: Sem otite (0) ____ Otite: unilateral (1) _____ Bilateral (2) ______

OE: Sem otite (0) ____ Otite: unilateral (1) _____ Bilateral (2) ______