otimismo, suporte social e valores do trabalho como...

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO Lucia Helena Walendy de Freitas OTIMISMO, SUPORTE SOCIAL E VALORES DO TRABALHO COMO ANTECEDENTES DE BEM ESTAR SUBJETIVO DE TRABALHADORES São Bernardo do Campo 2009

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

Lucia Helena Walendy de Freitas

OTIMISMO, SUPORTE SOCIAL E VALORES DO TRABALHO

COMO ANTECEDENTES DE BEM ESTAR SUBJETIVO DE

TRABALHADORES

São Bernardo do Campo

2009

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

Lucia Helena Walendy de Freitas

OTIMISMO, SUPORTE SOCIAL E VALORES DO TRABALHO

COMO ANTECEDENTES DE BEM ESTAR SUBJETIVO DE

TRABALHADORES

São Bernardo do Campo

2009

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-graduação em Psicologia da Saúde da

Universidade Metodista de São Paulo,

como requisito parcial para obtenção do

grau de Mestre em Psicologia da Saúde.

Orientadora:

Profª Drª Mirlene Maria Matias Siqueira

FICHA CATALOGRÁFICA

F884o

Freitas, Lucia Helena Walendy de Otimismo, suporte social e valores do trabalho como antecedentes de bem-estar subjetivo de trabalhadores / Lucia Helena Walendy de Freitas. 2009. 156 f. Dissertação (mestrado em Psicologia da Saúde) –Faculdade de Saúde da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2009. Orientação de: Mirlene Maria Matias Siqueira 1. Otimismo 2. Ajuda (comportamento social) - Trabalho 3. Valores sociais - Trabalho 4. Bem-estar subjetivo 5. Trabalho voluntário 6.Psicologia da saúde I. Título CDD 157.9

LUCIA HELENA WALENDY DE FREITAS

OTIMISMO, SUPORTE SOCIAL E VALORES DO TRABALHO

COMO ANTECEDENTES DE BEM ESTAR SUBJETIVO DE TRABALHADORES

Data da apresentação: 10 de Dezembro de 2009

Resultado ___________________________________

BANCA EXAMINADORA

Mirlene Maria Matias Siqueira Universidade Metodista de São Paulo

Prof. Dra _________________________

Maria do Carmo Fernandes Martins Universidade Metodista de São Paulo

Prof. Dra _________________________

Anita Liberalesso Neri Universidade Estadual de Campinas

Prof. Dra _________________________

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-graduação em Psicologia da Saúde da

Universidade Metodista de São Paulo,

como requisito parcial para obtenção do

grau de Mestre em Psicologia da Saúde.

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha mãe Clayt que me ensinou, desde cedo, o valor do aprendizado contínuo, ao meu pai Joel pela confiança e estímulo ao meu crescimento e ao meu marido Ion que tem sido meu companheiro especial nesta jornada.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus que me deu o dom da vida e aos meus ancestrais que fizeram-na chegar até

a mim.

Ao Dr. Reynaldo Leite, que em Seu nome, tem oferecido apoio e inspiração.

À minha orientadora Prof ª Drª Mirlene Maria Matias Siqueira que tão gentilmente

disponibilizou-me o fruto do seu saber.

Gratidão à Prof ª Drª Maria do Carmo e à Prof ª Drª Anita Liberalesso Néri que muito

enriqueceram este trabalho com suas análises e sugestões.

Gratidão profunda à Juliana Cordeiro, aos companheiros de Arautos e a tantos outros do plano

visível e do invisível que colaboraram para que essa dissertação se completasse.

EPÍGRAFE

A fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se vêem.

Paulo de Tarso

Dê-me um lugar para me firmar e um ponto de apoio para minha alavanca que eu

deslocarei a Terra.

Arquimedes, cientista grego

Trabalho é toda atividade útil ... Livro dos Espíritos

Um coração aberto ao amor torna-se afável e possuidor de tesouros de alegria e de

bem estar. Joana de Ângelis

FREITAS, L. H. W. (2009). Otimismo, Suporte Social e Valores do Trabalho como Antecedentes de Bem Estar Subjetivo de Trabalhadores. Dissertação de Mestrado, Universidade Metodista de São Paulo, UMESP, São Bernardo do Campo – SP.

Resumo

Este estudo teve por objetivo verificar a capacidade de otimismo, de suporte social e de valores do trabalho serem preditores de bem estar subjetivo, bem como analisar as relações de variáveis demográficas com essas variáveis de estudo, descrevê-las e examinar as relações entre elas. A amostra consistiu de 47 homens e de 101 mulheres com idade média de 41,00 anos (DP =10,72) que buscavam apoio em instituição para sua transição profissional. O instrumento de coleta de dados foi um questionário de autopreenchimento composto por cinco medidas que aferiram as variáveis incluídas no estudo: otimismo, percepção de suporte social, valores do trabalho, satisfação geral com a vida e afetos positivos e negativos, bem como variáveis demográficas: sexo, idade, estudo, trabalho, voluntariado, estado civil e permanência na instituição. Foram realizadas análises estatísticas descritivas, testadas diferenças entre médias, correlações, análise de variância e calculados modelos de regressão linear múltipla. As relações das variáveis de estudo com variáveis demográficas revelaram que as pessoas que não estudam percebem ter mais suporte prático e dão mais importância a motivações de autopromoção e de prestígio do que as que estudam. Os mais jovens com até 30 anos relataram que se percebem tendo mais apoio emocional e prático do que os mais velhos. Com o avanço da idade diminuem as percepções de suporte emocional e prático, contudo as pessoas com mais de 50 anos revelaram menos afetos negativos e maior satisfação com a vida do que os mais jovens. Casados revelaram dar menos importância do que separados, divorciados, viúvos, etc. à estabilidade no trabalho e segurança financeira; solteiros revelaram ter mais afetos negativos do que os casados. Homens relataram se sentir mais satisfeitos com a vida, ter mais afetos positivos e menos afetos negativos que mulheres. Quem realiza trabalho voluntário revelou ser mais otimista e ter menos afetos negativos do que aqueles que não realizam. Os dados revelaram que os pesquisados têm um bom nível de otimismo e uma percepção de suporte emocional maior do que a percepção de suporte prático; são motivados, principalmente por metas de realização no trabalho e de estabilidade e segurança financeira; sentem-se indiferentes quanto à satisfação com a vida; apresentam afetos positivos um pouco acima da indiferença; contudo sentem poucos afetos negativos. Disso decorre que um pouco mais de dois terços dos pesquisados apresentaram predominância de estados emocionais positivos sobre os negativos. O otimismo foi a variável que estabeleceu associações mais altas e em maior quantidade; correlacionou positivamente com valores de realização no trabalho, com valores de relações sociais, com valores do trabalho de prestígio, com satisfação com a vida e com afetos positivos; e correlacionou negativamente com afetos negativos. A percepção de suporte emocional correlacionou positivamente com valores de prestígio, afetos positivos e com satisfação com a vida; e correlacionou negativamente com afetos negativos. Percepção de suporte prático não apresentou correlações significativas com nenhuma variável de estudo. Afetos positivos correlacionaram-se positivamente com valores do trabalho de relações sociais e com valores do trabalho de prestígio. A partir da análise de três modelos preditivos encontrou-se que otimismo e suporte emocional repercutem positivamente sobre a satisfação com a vida e sobre afetos positivos. Otimismo repercute negativamente sobre afetos negativos. Valores do trabalho de prestígio repercutem positivamente sobre afetos positivos. Valores de estabilidade repercutem negativamente sobre satisfação com a vida e sobre afetos positivos; e positivamente sobre afetos negativos. Os resultados deste estudo mostraram que o estado otimista é um poderoso fator de impacto positivo sobre o estado de saúde denominado bem estar subjetivo. Palavras chave: otimismo; suporte social; valores do trabalho; bem estar subjetivo; trabalho voluntário; saúde positiva

FREITAS, L. H. W. (2009). Optimism, Social Support and Work Values as Precedents of Subjective Well-Being of Workers. Masters Dissertation, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo – SP.

Abstract

The goal of this study was to verify the capacity of optimism, social support and work values as being predictors of subjective well-being, as well as to analyze the relations of the demographic variables with this study’s variables, describe them and examine the relations between them. The sample consisted of 47 men and 101 women with average age of 41 years (SD = 10,72) who sought for help in an institution for their professional transition. The gathering data instrument was an auto fill questionnaire composed by five measures included in the study: optimism, perception of social support, work values, general satisfaction with life and positive and negative affects, as well as demographic variable: sex, age, studies, volunteering, work, marital status and time at the institution. Descriptive statistic analyses were done, differences between averages, correlations and variable analyses were tested and models of linear regressions were calculated. The relations among study variables and demographic variables revealed that people who do not study notice to have more practical support (tangible and appraisal supports) and give more importance to motivations of auto-promotion and prestige than the ones who study. The youngest aging up to 30 report that they notice having more emotional and practical support (tangible and appraisal supports) than the oldest ones. With the advance of age, the perceptions of emotional and social support decrease, however people older than 50 revealed less negative affect and more satisfaction with life than the youngest. Married individuals revealed to give less importance than separated, divorced and widowers, etc. to the stability at work and financial security; single individuals revealed to have more negative affects than married ones. Men related to feel more satisfied with life, to have more positive affects and less negative affects than women. The ones who do volunteer work revealed to be more optimistic and to have less negative affects than the ones who don’t. Data revealed that the researched have a good level of optimism and a perception of emotional support higher than the perception of practical support (tangible and appraisal supports); they are motivated mainly by goals of achievement at work and by stability and financial security; they feel indifferent towards satisfaction with life; present positive affects a little above indifference, however they feel little negative affects. Deriving from this, a little more than two thirds of the investigated present prevailing of emotional positive state over the negative. The optimism was the variable which established more and higher associations; it positively correlated with values of achievement at work, with values of social relations, with values of prestigious work, with satisfaction with life and positive affects; and it negatively correlated with negative affects. The perception of emotional support positively correlated with values of prestige, positive affects and with satisfaction with life; and correlated negatively with negative affects. The perception of practical support (tangible and appraisal supports) did not present significant correlations with any study variable. Positive affects positively correlated with work values of social relations and with values of prestigious work. From the analyses of three predictive models it was found that optimism and emotional support echoes positively over satisfaction with life and positive affects. Optimism echoes negatively over negative affects. Values of prestigious work echoes positively over positive affects. Stability values echo negatively over satisfaction with life and positive affects; and positively over negative affects. The results of this study have shown that the optimistic state is a powerful positive impact factor over the health state called subjective well-being.

Key Words: optimism; social support; work values; subjective well-being; volunteer work; positive health.

Lista de Quadros

Quadro 1 Fontes de Contribuição para Pesquisa em Bem Estar Subjetivo ............................23

Quadro 2 Categorias de Definições sobre Bem Estar Subjetivo ............................................25

Quadro 3 Teorias de Base para Pesquisa em Bem Estar Subjetivo ........................................28

Quadro 4 Principais Fatores de Influência sobre o Bem Estar Subjetivo ...............................54

Quadro 5 Semelhança entre Valores de Schwartz , Valores Definidos na Dinâmica da Espiral

e Valores Definidos por Maslow e por Frankl .........................................................................81

Quadro 6 Tipos de Valores do Trabalho, Tipos Motivacionais e Respectivas

Correspondências Motivacionais com os Valores Básicos de Schwartz................................. 85

Quadro 7 Síntese dos Conteúdos Apresentados e Métodos Estatísticos Utilizados.............. 94

Quadro 8 Variáveis demográficas, grupos e valores de medidas, níveis de medida e provas

estatísticas ............................................................................................................................. 104

Quadro 9 Interpretação da Correlação ..................................................................................106

Quadro 10 Relação de Variáveis Analisadas nos Modelos de Regressão ............................138

Lista de Tabelas

Tabela 1 Dados dos participantes (n=148)........................................................................... 89

Tabela 2 Média, desvio padrão de otimismo, escala de respostas, ponto médio da escala e

valor do t de Student (n=148) ..................................................................................................95

Tabela 3 Médias, desvios padrão de dimensões de suporte social , escalas de respostas, e

valor do t de Student (n=148) ................................................................................................. 97

Tabela 4 Médias, desvios padrão, dimensões de valores do trabalho, escalas de respostas,

ponto médio da escala e valor do t de Student (n=148) ......................................................... 99

Tabela 5 Comparação entre médias de dimensões de valores do trabalho e os respectivos t de

Student calculados (n=148) ...................................................................................................100

Tabela 6 Médias, desvios padrão de dimensões de bem estar subjetivo, escalas de respostas,

ponto médio da escala, valor do t de Student e balanço emocional (n=148)..........................101

Tabela 7 Médias, desvios padrão, freqüência e porcentagem de pessoas com balanço

emocional negativo, neutro e positivo (n=148) .....................................................................102

Tabela 8 Variáveis demográficas, médias de otimismo, desvios padrão, diferença entre

médias, t de Student ...............................................................................................................107

Tabela 9 Valores da ANOVA (F) para as relações entre otimismo e variáveis demográficas

(testes ANOVA e Duncan) ....................................................................................................108

Tabela 10 Correlações bivariadas (r de Pearson) entre otimismo e idade dos participantes

(n=148) e dos participantes com mais de 50 anos (n=30) .................................................... 109

Tabela 11 Variáveis demográficas, médias de suporte emocional, desvios padrão, diferença

entre médias, t de Student ..................................................................................................... 110

Tabela 12 Variáveis demográficas, médias de suporte prático, desvios padrão, diferença entre

médias, t de Student ...............................................................................................................111

Tabela 13 Valores da ANOVA (F) para as relações entre suporte emocional e variáveis

demográficas (testes ANOVA e Duncan) ............................................................................. 113

Tabela 14 Valores da ANOVA (F) para as relações entre suporte prático e variáveis

demográficas (testes ANOVA e Duncan) .............................................................................113

Tabela 15 Correlação bivariada (r de Pearson) para suporte emocional e para suporte prático

e idade (n=148)...................................................................................................................... 114

Tabela 16 Variáveis demográficas, valores de realização no trabalho, desvios padrão,

diferença entre médias, t de Student ......................................................................................116

Tabela 17 Variáveis demográficas, médias de valores do trabalho de relações sociais, desvios

padrão, diferença entre médias, t de Student .........................................................................116

Tabela 18 Variáveis demográficas, médias de valores de prestígio, desvios padrão, diferença

entre médias, t de Student ....................................... ..............................................................117

Tabela 19 Variáveis demográficas, médias de valores de estabilidade, desvios padrão,

diferença entre médias, t de Student .......................................................................................118

Tabela 20 Valores da ANOVA (F) para as relações entre valores de realização no trabalho e

variáveis demográficas (testes ANOVA e Duncan) ...............................................................119

Tabela 21 Valores da ANOVA (F) para as relações entre valores de relações sociais e

variáveis demográficas (testes ANOVA e Duncan) ...............................................................120

Tabela 22 Valores da ANOVA (F) para as relações entre valores de prestígio e variáveis

demográficas (testes ANOVA e Duncan) ..............................................................................120

Tabela 23 Valores da ANOVA (F) para as relações entre valores de estabilidade e variáveis

demográficas (testes ANOVA e Duncan ...............................................................................121

Tabela 24 Correlação bivariada (r de Pearson) entre idade dos pesquisados e dimensões de

valores do trabalho (n=148) ...................................................................................................122

Tabela 25 Variáveis demográficas, satisfação com a vida, desvios padrão, diferença entre

médias, t de Student ...............................................................................................................123

Tabela 26 Variáveis demográficas, afetos positivos, desvios padrão, diferença entre médias, t

de Student ...............................................................................................................................124

Tabela 27 Variáveis demográficas, afetos negativos, desvios padrão, diferença entre médias,

t de Student .............................................................................................................................124

Tabela 28 Valores da ANOVA (F) para as relações entre satisfação com a vida e variáveis

demográficas (testes ANOVA e Duncan) ..............................................................................126

Tabela 29 Valores da ANOVA (F) para as relações entre afetos positivos e variáveis

demográficas (testes ANOVA e Duncan) ..............................................................................127

Tabela 30 Valores da ANOVA (F) para as relações entre afetos negativos e variáveis

demográficas (testes ANOVA e Duncan) ..............................................................................127

Tabela 31 Correlação bivariada (r de Pearson) entre satisfação com a vida e idade e entre

afetos negativos e idade (n=148) ...........................................................................................128

Tabela 32 Matriz de correlação bivariada (r de Pearson) entre otimismo, dimensões de

suporte social, dimensões de valores do trabalho e dimensões de bem estar subjetivo

(n=148)....................................................................................................................................130

Tabela 33 Três modelos de regressão linear múltipla (stepwise) para as dimensões de bem

estar subjetivo (n=148)...........................................................................................................139

Lista de Figuras

Figura 1 Estrutura de Relações entre Tipos de Valores Individuais Básicos .........................80

Figura 2 Estrutura de Relações Entre Valores Individuais Básicos e Valores do Trabalho ...86

Figura 3 Esquema Conceitual Hipotético de Antecedentes de Bem Estar subjetivo..............88

Figura 4 Predição de Satisfação com a Vida ........................................................................139

Figura 5 Predição de Afetos Positivos .................................................................................140

Figura 6 Predição de Afetos Negativos ................................................................................140

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 17 1 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................ 21

1.1 BEM ESTAR SUBJETIVO ................................................................................... 21

1.2 COMPONENTES DO BEM ESTAR SUBJETIVO ............................................... 29

1.3 FATORES DE INFLUÊNCIA SOBRE O BEM ESTAR SUBJETIVO ................ 30

1.3.1 Influência dos Fatores Demográficos Sobre o Bem Estar Subjetivo ...................... 30 1.3.2 Indo Além da Concepção de Influência da Renda Sobre o Bem Estar Subjetivo .. 31

1.3.3 Influência do Atendimento às Necessidades Básicas Sobre o Bem estar Subjetivo 33

1.3.4 Influência da Saúde Sobre o Bem Estar Subjetivo .................................................. 33

1.3.5 Influência da Genética e dos Traços de Personalidade Sobre o Bem Estar Subjetivo ........ 34

1.3.6 Influência dos Padrões de Comparação Social e do Suporte Social Sobre o Bem Estar Subjetivo 39 1.3.7 Influência da Adaptação a Eventos da Vida Sobre o Bem Estar Subjetivo ............ 42

1.3.8 Influência das Metas Sobre o Bem Estar Subjetivo ................................................ 43

1.3.9 Influência do Trabalho Sobre o Bem Estar Subjetivo ............................................. 44

1..3.10 Influência do Trabalho Voluntário Sobre o Bem Estar Subjetivo .......................... 46

1..3.11 Influência da Religiosidade Sobre o Bem Estar Subjetivo ..................................... 48 1..3.12 Influência da Cultura e dos Valores Sobre o Bem Estar Subjetivo ......................... 49

1.3..13 Síntese dos Fatores de Influência Sobre o Bem Estar Subjetivo ............................. 53

1.4 OTIMISMO ............................................................................................................ 55

1.5 SUPORTE SOCIAL ................................................................................................ 61

1.6 VALORES DO TRABALHO ................................................................................. 68

1.6.1 Valores e Cultura ..................................................................................................... 68

1.6.2 Valores e Motivação Humana ................................................................................. 71

1.6.3 Os Valores Humanos Básicos Segundo Schwartz .................................................. 75

1.6.4 Valores do Trabalho e Valores Culturais ................................................................ 81

1.6.5 Valores Básicos Individuais do Trabalho ................................................................ 82 1.7 OBJETIVOS DA PESQUISA ................................................................................ 87

2 MÉTODO ............................................................................................................... 89

2.1 DADOS DOS PARTICIPANTES .......................................................................... 89

2.2 LOCAL .................................................................................................................... 90

2.3 INSTRUMENTOS .................................................................................................. 91

2.4 PROCEDIMENTOS ............................................................................................... 92

2.5 APROVAÇÃO NO CONSELHO DE ÉTICA ...................................................... 93

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 94

3.1 ANÁLISES DESCRITIVAS DE OTIMISMO, SUPORTE SOCIAL, VALORES DO TRABALHO E BEM ESTAR SUBJETIVO .................................................

95 3.1.1 Análise Descritiva de Otimismo ............................................................................. 95

3.1.2 Análise Descritiva das Dimensões de Suporte Social ............................................. 97

3.1.3 Análise Descritiva das Dimensões de Valores do Trabalho.................................... 98

3.1.4 Análise Descritiva das Dimensões de Bem Estar Subjetivo.................................... 101

3.1.5 Síntese da Descrição da Variáveis de Estudo......................................................... 103

3.2 RELAÇÕES ENTRE VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS E OTIMISMO, SUPORTE SOCIAL, VALORES DO TRABALHO E BEM ESTAR SUBJETIVO ............................................................................................................ 104

3.2.1 Relações entre Variáveis Demográficas e Otimismo .............................................. 106

3.2.2 Relações entre Variáveis Demográficas e Suporte Social ...................................... 110

3.2.3 Relações entre Variáveis Demográficas e Valores do Trabalho ............................. 115 3.2.4 Relações entre Variáveis Demográficas e Bem Estar subjetivo ............................. 122

3.2.5 Síntese dos Resultados das Relações entre Variáveis de Estudo e Demográficas... 129

3.3 ANÁLISES DAS RELAÇÕES ENTRE OTIMISMO, SUPORTE SOCIAL, VALORES DO TRABALHO E BEM ESTAR SUBJETIVO................................ 130

3.3.1 Análise das Correlações entre Dimensões de Suporte Social ................................. 131

3.3.2 Análise das Correlações entre Dimensões de Valores do Trabalho ........................ 131

3.3.3 Análise das Correlações entre Dimensões de Bem estar Subjetivo ........................ 133

3.3.4 Análise das Correlações entre Otimismo, Dimensões de Suporte Social, de Valores do Trabalho e de Bem Estar Subjetivo ...................................................... 134

3.3.5 Síntese das Correlações Entre as Variáveis de Estudo ........................................... 136

3.4 INVESTIGAÇÃO DOS ÍNDICES DE VARIÂNCIA DE BEM ESTAR SUBJETIVO EXPLICADOS POR OTIMISMO, SUPORTE SOCIAL E VALORES DO TRABALHO ................................................................................ 137

3.4.1 Síntese das Análises Preditivas de Bem Estar subjetivo ......................................... 142

4 CONCLUSÕES ..................................................................................................... 143

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 145

ANEXO A – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA ........................................................... 151

ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............ 155

ANEXO C – PARECER DO CEP-UMESP .................................................................... 156

17

INTRODUÇÃO

A declaração pública da Organização Mundial de Saúde – OMS – de 1948 sobre a

saúde dos povos, a partir de uma perspectiva positiva e multifatorial relacionada a aspectos do

bem estar biopsicossocial, consiste de um importante marco, não somente no que diz respeito

aos cuidados de saúde, mas também e, sobretudo, no tocante aos paradigmas orientadores da

vida humana (WHO, 1948).

Essa declaração positiva e abrangente que incide profundamente sobre os paradigmas

e condutas da saúde e da vida humana, segundo Marks (2002) não emergiu ao acaso, ela teve

como base o fruto das experiências da história humana. As experiências acumuladas pela

humanidade ao longo do tempo levaram homens e mulheres a partir de meados do século 20 a

clamarem e a colocarem em prática as idéias que possibilitassem ao ser humano viver com

bem estar, em paz e fazer progredir seus melhores potenciais (WHO, 1948; CARTA DE

OTTAWA, 1986).

Com base nesse clamor social pela conquista de bem estar, paz e progresso para todos

os povos, muitas pesquisas em saúde vem sendo realizadas desde então. Ribeiro (2006)

destaca que as idéias atuais inovadoras que tem como foco a saúde positiva partem de uma

ampla reflexão para superação do cenário social dilacerado logo após a 2ª guerra mundial.

Em face dessa visão de saúde positiva poder-se-ia fazer duas perguntas. Será que as

práticas cient íficas positivas não consistem em si mesmas a indicação de que o ser humano,

para busca de seu bem estar, possui habilidades intrínsecas para dar respostas positivas diante

de vicissitudes e para aprender condutas de superação do sofrimento e de si mesmo? Não

seriam essas atitudes de superação positiva e de aprendizado as expressões de uma habilidade

psicológica que dotou a coletividade humana para inventar e reinventar mecanismos para o

seu bem estar indispensável à sobrevivência e à subsistência da espécie em desenvolvimento

contínuo?

As reflexões sobre habilidades humanas positivas não é um fato novo. Há cerca de

2500 anos algumas vozes se levantaram na Grécia antiga. Como se estivessem a prever as

dilacerações sociais que viriam em seguida no mundo Greco-Romano, emergiram as vozes da

reflexão Socrática e Platônica clamando à razão humana para que voltasse os olhos ao fato de

que a tragédia e o sofrimento não eram o destino inexorável da humanidade, porque a vida

humana, desde que os homens assim escolhessem, poderia ser traçada em termos de metas

mais sublimes e mais grandiosas que jaziam na psique humana – a bondade e a beleza. Depois

deles outras vozes se levantaram - Aristóteles, Zenão e Epicuro deixaram o legado em favor

da eudaimonia prática do dia a dia (KESEBIR e DIENER, 2008; MCMAHON,2007)

18

Quanto às habilidades coletivas positivas, Levi (1998) afirma que o saber humano se

desenvolve continuamente por meio de uma inteligência coletiva que está a serviço da

humanidade. Assim, a espécie humana sobreviveu às vicissitudes de seu tempo inicial e

chegou até hoje porque inventou e reinventou positivamente o seu saber. Ele destaca que

ninguém sabe tudo, todos sabem algo e todo saber está na humanidade; que é necessário que

as inteligências sejam mobilizadas a cooperar com as soluções de problemas imediatos; e que

é preciso identificar e conhecer as inteligências em sua diversidade a fim de atingir uma

mobilização efetiva das competências. Ressalta que precisamos agora transformar o

“conhece-te a ti mesmo” em “aprendamos a nos conhecer para pensarmos juntos” e

generalizar o “penso logo existo” em “formamos uma inteligência coletiva, logo existimos

eminentemente como comunidade”.

Quanto aos aspectos de saúde, a inteligência coletiva dos gregos antigos já concebia os

processos diferenciados de saúde/bem estar e de doença/mal estar. Essas duas vertentes de

pensamento repercutiam sobre os costumes e a vida do povo. O deus Ausclépios da medicina,

como bom grego da época, delegava às mulheres, suas duas filhas, os afazeres das práticas de

curar e de manter o povo saudável. À panacéia cabia a cura de todos os males e à Higyeia

cabia a promoção do bem estar e a manutenção da saúde. Atualmente essa idéia de que saúde

e doença consistem de dois processos distintos e complementares que devem ser tratados

diferentemente tem trazido maior luz ao campo da pesquisa em saúde positiva (RIBEIRO,

2006).

Pitanga (2002) entende que a saúde pode ser encarada a partir de dois pólos – um pólo

negativo e outro positivo. A saúde negativa, portanto, estaria associada com a morbidade e a

mortalidade e a saúde positiva com a capacidade de apreciar a vida e de resistir aos desafios

do cotidiano. Isso quer dizer que essas duas vertentes da saúde estão associadas, a primeira

com os processos de cura e prevenção de doenças e a segunda com os processos de promoção

e de proteção da saúde e bem estar.

Na reunião de Ottawa destacou-se que a promoção de saúde significa fornecer às

populações e comunidades as condições para que elas mesmas sejam capazes de exe rcer

controle sobre sua saúde e, nesse sentido, a saúde é concebida como sendo a possibilidade de

que as pessoas usufruam suas vidas utilizando seus recursos pessoais e sociais disponíveis

(CARTA DE OTTAWA, 1986).

Quanto à psicologia, cerca de 60 anos depois da declaração positiva da Organização

Mundial de Saúde e cerca de 2500 anos depois dos pensadores gregos, as descobertas

cientificas refutaram a idéia pessimista de que o bem estar é uma ambição impossível de ser

alcançada. (KESEBIR e DIENER, 2008).

19

Além disso, as pesquisas em saúde positiva, mais especificamente aquelas que se

realizaram sob a égide da psicologia positiva tem apresentado resultados que abrem espaço a

um novo ramo de pesquisa cientifica sobre a prática das qualidades humanas (SNYDER e

LOPEZ, 2009).

É importante destacar que não se trata de desprezar os fatores de cura e de prevenção

de doenças, mas, no dizer de Snyder e Lopez (2009), trata-se de complementar estes valiosos

estudos com o estudo dos fatores que fazem com que a vida valha a pena.

Seligman (2008) pioneiro da psicologia positiva afirmou que é preciso propor um

novo campo de estudo – o campo da saúde positiva que descreve os estados que vão além da

mera ausência de doença. Além disso, ele destacou que o campo da saúde positiva pode ser

operacionalizado pela combinação de excelência dos estados bio lógicos e psicológicos

positivos e de medidas funcionais desses estados. Com base nessa proposição da promoção da

saúde positiva que se fundamenta em medidas func ionais dos estados positivos psicológicos

surgiu o interesse por pesquisar as dimensões, que compõem o escopo deste trabalho,

constantes do título: otimismo, suporte social, valores do trabalho e bem estar subjetivo.

Assim, o interesse específico pelo tema dos antecedentes de bem estar subjetivo surgiu

após observar os relatos sobre a evolução profissional de pessoas da comunidade que

participam de programa de apoio e orientação profissional em instituição beneficente na

cidade de São Paulo. Esse programa de apoio social tem por principal finalidade oferecer

gratuitamente instrumentos para que as pessoas encontrem suas vocações e realizem seu

propósito de vida profissional por meio de palestras, técnicas terapêuticas e aconselhamento

grupal e individual. As palestras e técnicas oferecidas, em grupo e individualmente, versam

sobre temas tais como valores, propósito do trabalho e sentido de vida, relacionamentos e

emoções, realização e planejamento profissional e financeiro, orientação sobre currículos,

sistemas de equipes de trabalho, etc. Freqüentam esses trabalhos pessoas desempregadas; com

negócio próprio em dificuldades; com problemas relacionais no trabalho; descontentes com as

condições profissionais ou com a profissão; falta de sentido e de perspectivas futuras

profissionais para lançarem-se no mercado de trabalho de maneira mais promissora;

apresentando crenças negativas quanto ao valor do trabalho.

O trabalho por ser um meio pelo qual as pessoas podem atender a necessidades e

metas, bem como construir uma identidade social e ocupar um lugar na sociedade tem

importância fundamental no cômputo dos fatores associados ao bem estar e à saúde positiva.

O DIEESE (2007) aponta que, naquele ano, nas principais regiões metropolitanas e no

Distrito Federal, 16,3 milhões de pessoas estiveram empregadas, das quais 8,7 milhões

estavam empregados na região metropolitana de São Paulo; 3 milhões ficaram

desempregadas, sendo a metade na região Metropolitana de São Paulo. Em média os

20

desempregados levaram 12,6 meses para recolocação no mercado e na Região metropolitana

de São Paulo as recolocações levaram em média 11 meses. Esses dados demonstram a

importância do estudo de alguns fatores antecedentes preditivos de bem estar de

trabalhadores.

Segundo Diener, Suh e Oish (1997) o bem estar subjetivo é afetado por uma ampla

gama de variáveis antecedentes que dizem respeito a muitas áreas da vida, tais como dados

pessoais de personalidade, relacionamentos sociais, metas, crenças, valores, etc.

Deste modo, a proposição de uma pesquisa com trabalhadores em fase de mudança

profissional que busque compreender os níveis de esperança que eles trazem consigo sobre o

seu futuro, os níveis de apoio social recebido e os valores e crenças que os motivam ao

trabalho, bem como, as relações desses fatores com o bem estar subjetivo são importantes

para agregar conhecimento ao campo de estudos existentes de variáveis que o antecedem.

Estudos têm demonstrado que a visão otimista da vida é um importante fator que

incide positivamente sobre a saúde e bem estar. Segundo Kivimaky et al, (2005) o otimismo

pode reduzir o risco de problemas de saúde e estar relacionado à recuperação mais rápida após

a ocorrência de eventos estressores significativos.

O apoio recebido pela rede social de uma pessoa também pode repercutir sobre sua

saúde e bem estar. Segundo Cohen e Syme (1985), a partir da década de 70 do século

passado, houve um grande aumento no interesse de como o apoio social afeta a saúde e o bem

estar. Constataram que muitos dos fatores psicossociais que afetam negativamente a saúde e o

bem estar ocorrem primariamente por meio de impactos e rompimentos na rede social tais

como as experiências de mudanças estressantes e os prejuízos no trabalho. O apoio social

nesses casos pode proteger a saúde.

As crenças e motivações que as pessoas têm quanto ao trabalho também influenciam o

bem estar de trabalhadores. Segundo Porto (2008) as pessoas expressam um conjunto de

valores que as orientam internamente em suas avaliações a respeito de metas ou recompensas

que obtêm no trabalho. Assim, quando as pessoas buscam o trabalho, internamente, elas estão

movidas por quatro tipos de metas recompensadoras. Elas buscam trabalho porque querem,

em graus variados, sentir realização; sentir que são prestigiadas; que têm estabilidade e

querem estabelecer contatos e contribuir com a sociedade.

Em face disso, a partir dos relatos das pessoas que buscam a instituição referida e dos

temas mencionados, optou-se por estudar otimismo, percepção de suporte social e valores do

trabalho como preditivos do bem estar subjetivo de trabalhadores.

Esta dissertação está apresentada em quatro capítulos: no capítulo 1 o referencial

teórico pesquisado e objetivos da pesquisa; capítulo 2 o método de pesquisa; capítulo 3 os

resultados e discussão e no capítulo 4 as conclusões.

21

1. REFERENCIAL TEÓRICO

Nesta sessão, apresentam-se as conceituações e pesquisas relativas às variáveis

estudadas, bem como os objetivos de pesquisa. A conceituação teórica inicia-se com bem

estar subjetivo; segue com otimismo e com suporte social e finaliza com valores do trabalho.

Nos itens de 1.1 e 1.2 destacam-se as definições das dimensões, as áreas de ciência de

contribuição e os modelos teóricos de bem estar subjetivo.

Em face de que esta pesquisa procura analisar alguns antecedentes de bem estar

subjetivo, nos itens de 1.3.1 a 1.3.11 apresenta-se a pesquisa sobre as variáveis que

influenciam o bem estar subjetivo e no item 1.3.12 a síntese destas variáveis. No item 1.4

apresenta-se a definição de otimismo, bem como, resultados de estudos que relacionam

otimismo com saúde, suporte social, autoregulação, metas, bem estar subjetivo e idade. No

item 1.5 apresenta-se a definição de suporte social, suas aplicações e resultados de estudos

sobre intervenção de suporte com desempregados; os efeitos do suporte social sobre a saúde e

estudos de suporte social por meio da religiosidade. Nos itens 1.6.1 a 1.6.4 apresentam-se os

conceitos sobre valores, cultura, motivação humana e os valores humanos básicos de

Schwartz, temas estes necessários para contextualizar e fundamentar a definição de valores do

trabalho apresentada no item 1.6.5.

Como fechamento deste referencial teórico no item 1.7 estão apresentados os objetivos

deste estudo.

1.1 BEM ESTAR SUBJETIVO

Estudos sobre bem estar subjetivo dizem respeito a um campo de pesquisa científico

relacionado à compreensão dos processos externos e internos que estão envolvidos na

avaliação que as pessoas fazem sobre suas vidas, especialmente quanto ao grau de felicidade.

Bradburn (1969) considerou que o interesse sobre os processos que levam as pessoas a se

considerarem felizes acompanha a humanidade ao longo de sua história por meio de vastas

quantidades de idéias e pesquisas através dos séculos. Em seu trabalho sobre a estrutura

psicológica do bem estar esse autor destacou que a felicidade deveria ser encarada como um

conceito lógico, construído para ser empregado nos estudos de fenômenos relacionados à

saúde mental.

De acordo com Diener, Suh e Oishi (1997) bem estar subjetivo é um campo de estudo

da psicologia que abrange a praticamente quase todas áreas da vida humana. Esse campo de

22

estudo tem por finalidade compreender os processos subjetivos de avaliação que as pessoas

fazem sobre suas vidas em termos cognitivos e em termos de experiências afetivas, mais

especificamente no que diz respeito aos níveis emocionais e aos sentimentos de satisfação

com a vida.

Por consistir de uma avaliação de caráter duplo: um emocional e outro cognitivo o

bem estar subjetivo pode ser pesquisado de várias maneiras. O componente emocional pode

ser pesquisado, por exemplo, a partir da auto-avaliação que as pessoas fazem de suas emoções

e humores positivos tais como alegria, e contentamento e a partir de emoções e humores

negativos tais como irritabilidade e tristeza. O componente cognitivo pode ser pesquisado, por

exemplo, a partir da auto-avaliação sobre a satisfação quanto às realizações e desempenhos

vivenciados nos domínios dos relacionamentos, do lazer e do trabalho (DIENER, OISH e

LUCAS 2003).

As flutuações relativas às emoções e ao humor, bem como, aos julgamentos de

satisfação com a vida, ao longo de um período específico, determinam possibilidades quanto

aos diferentes níveis de pesquisa sobre bem estar subjetivo. É possível pesquisar essas

flutuações em um período menor, mas também é possível examinar a longo termo as

diferenças de níveis médios de componentes de bem estar que surgem em grupos específicos

de indivíduos, em sociedades e em nações (DIENER E SCOLLON, 2003)

Além das pesquisas dos níveis de bem estar subjetivo em grupos específicos e em

coletividades ao longo do tempo, surgiram as pesquisas sobre as causas e influências que

vários fatores poderiam exercer sobre o bem estar. Diener, Oish e Lucas (2003) afirmaram

que, no início, o campo de pesquisas em bem estar subjetivo tinha um maior interesse sobre as

influências e causas do bem-estar que se originavam a partir dos fatores demográficos tais

como casamento e renda. Depois gradativamente foram sendo acrescentadas outras

contribuições.

Um dos estudiosos pioneiros, Bradburn (1969), buscou revelar, entre outros, as

influências que a posição social, a renda financeira e os ajustes ao casamento e ao trabalho

exerciam sobre o bem estar. Além disso, Bradburn (1969) também fez uma análise do

impacto de situações e traumas sociais sobre o bem estar psicológico das pessoas ressaltando

eventos tais como as viagens espaciais e a morte do Presidente Kennedy, apontando com isso

para as influências sociais sobre o bem estar.

Segundo Diener, Oish e Lucas (2003) estudiosos em saúde mental que queriam

ampliar seus enfoques para ir além dos sintomas de depressão e de estresse começaram a

incluir temas como felicidade e satisfação com a vida. A esse rol de pesquisadores

23

acrescentaram-se as pesquisas dos psicólogos sociais e dos cognitivistas cujas visões

contribuíram com estudos sobre adaptação e variações de padrões que influenciam os

sentimentos de bem estar. Além dessas contribuições, os psicólogos humanistas

acrescentaram o interesse ao caráter positivo do bem estar. Disso tudo resultou em um campo

de pesquisa composto por contribuições complementares de uma variedade de métodos e de

tradições teóricas em torno do tema do bem estar subjetivo.

O quadro 1 apresenta uma síntese das visões das várias áreas que contribuíram para

uma melhor compreensão do bem estar subjetivo e para formar um campo amplo de pesquisa.

Quadro 1

Fontes de Contribuição para Pesquisa em Bem Estar Subjetivo

Visões que Contribuíram para a Construção do Campo de Pesquisa em Bem Estar Subjetivo

Áreas de Contribuição Tipos de Pesquisa

Psicólogos com interesse inicial sobre influências e causas do bem estar

Estudos sobre as influências das características demográficas

Pesquisadores em Saúde Mental Estudos, cujo interesse era ir além dos sintomas da depressão e do estresse, que incluíram temas como felicidade e satisfação com a vida

Psicologia Social e Cognitivista Estudos sobre os processos de adaptação e de variações de padrões que influenciam o bem estar

Psicologia Humanista Estudos que acrescentaram o interesse sobre o caráter positivo dos fatores de bem estar

A análise das contribuições dos vários ramos do conhecimento levou Diener, Suh,

Lucas e Smith (1999) e Diener e Scollon (2003) a afirmar que o estudo do bem estar subjetivo

é um campo complexo que abrange muitos pontos da vida humana e que é influenciado por

vários fatores tais como variáveis demográficas, variáveis relativas à saúde, aos recursos

subjetivos e materiais, ao temperamento e personalidade, à qualidade das relações sociais e

dos padrões de comparação social, ao otimismo, ao atendimento de necessidades básicas, ao

ajuste e adaptação a eventos da vida, ao alcance de metas, ao trabalho e à influência dos

valores e da cultura. Esses autores ressaltaram que, ao longo do tempo, vários estudos tem

sido realizados a fim de estabelecer as influências específicas de cada um desses fatores no

cômputo do bem estar subjetivo de grupos e de coletividades.

24

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) em sua análise da evolução do conceito de bem

estar subjetivo, até aquela época, afirmaram que o crescimento desse campo foi o reflexo de

certas tendências e fatos que convergiram para a composição da pesquisa científica de bem

estar. O primeiro fato a ser destacado foi o interesse social e científico sobre a importância da

visão subjetiva do próprio indivíduo na avaliação de sua vida. O segundo foi o

reconhecimento de que bem estar necessariamente inclui elementos positivos que

transcendem a prosperidade econômica. O terceiro fato é que os estudos científicos de bem

estar desenvolveram-se também em parte como uma reação à exagerada ênfase da psicologia,

no passado, em estados negativos. Nesse sentido, pesquisadores de bem estar subjetivo

reconheceram que a abordagem positiva incentivaria às pessoas não apenas evitarem a miséria

psíquica, mas também incentivaria aos próprios pesquisadores a estudar a extensão da

totalidade do bem estar que vai da miséria à elevação dos estados positivos. Além disso,

destacaram que indicadores sociais sozinhos não definem qualidade de vida. Pessoas

diferentes reagem diferentemente às mesmas circunstâncias da vida e elas avaliam suas

condições baseadas em suas expectativas únicas, em valores da atualidade e em valores de

experiências prévias. Os autores consideraram que tudo isso convergiu para o enfoque de que

o elemento subjetivo é essencial nas análises e ainda eles consideraram que poucas pessoas,

portanto, argumentariam que o bem estar que produz uma boa vida seria o resultado da

influência de um ou de poucos fatores.

Diener (1984) afirmou que muitos filósofos e cientistas sociais propuseram-se, ao

longo da história da humanidade, a definir felicidade ou bem estar. Essas definições, segundo

esse autor, podem ser agrupadas em três categorias. Na primeira categoria encontram-se as

definições normativas que definem o que é desejável e que levam em conta os critérios

externos ao indivíduo tais como padrões externos estabelecidos de virtude ou de santidade.

Um exemplo dessa primeira categoria é o trabalho de Aristóteles sobre eudaemonia, em que a

felicidade seria essencialmente obtida por meio do cultivo de uma vida virtuosa, mas não

necessariamente significaria uma experiência de alegria. Assim sendo, o significado de

eudaemonia não corresponde ao moderno senso de felicidade, mas sim a um estado desejável

que seria julgado a partir de uma estrutura específica de valores externa ao indivíduo. Os

critérios de felicidade desse tipo não levam em conta a avaliação subjetiva das pessoas, mas a

estrutura de valores do observador. Na segunda categoria, encontram-se as definições de

cientistas sociais que enfocam as situações que induzem as pessoas a considerar suas vidas em

termos positivos. Essas definições de bem estar subjetivo vêm com o rótulo de satisfação com

a vida. Partem da confiança no fato de que o respondente é quem determina os padrões do que

25

é uma boa vida, isto é, essas teorias consideram que o respondente é a melhor pessoa para

definir o que é bom para ele. A terceira categoria está mais próxima do significado daquilo

que as pessoas dão à fe licidade no dia a dia; denota uma análise da preponderância de afetos

positivos sobre os negativos. Nesta linha, o autor destacou o trabalho de Bradburn (1969). O

quadro 2 apresentado a seguir mostra a síntese das três categorias de enfoques de definições

sobre bem estar subjetivo.

Quadro 2

Categorias de Definições sobre Bem Estar Subjetivo

Tipos de definição Representantes

Definições normativas externas ao indivíduo a respeito do que é desejável para a felicidade.

Aristóteles e seu conceito de eudaemonia

Definições que enfocam as situações que induzem as pessoas a considerarem suas vidas em termos positivos

Cientistas sociais e estudos em que prepondera o conceito de satisfação com a vida

Definições mais próximas do que as próprias pessoas consideram como felicidade no dia a dia.

Bradburn (1969) e estudos em que preponderam os conceitos de afetos positivos e negativos

Além disso, Diener (1984) ressaltou que as medidas de bem estar possuem três

aspectos. O primeiro aspecto é o seu caráter subjetivo. O segundo é o seu caráter de medida

positiva, que não significa necessariamente a ausência de fatores negativos. E o terceiro

aspecto é que as medidas de bem estar subjetivo incluem uma avaliação global de todos os

aspectos da vida de uma pessoa. Apesar de que os afetos ou a satisfação podem ser avaliados

dentro de um determinado contexto mais específico, geralmente a ênfase é dada a um

julgamento global da vida.

Quanto aos tipos de teorias que embasam as análises de bem estar subjetivo Diener

(1984) destacou as Teorias Télicas, as Teorias de Atividades como produtoras de bem estar,

as Teorias de Top-down e de Bottom-up, as Teorias Associacionistas, as Teorias do

Julgamento e as Teorias da Adaptação (Hedonic Treadmill Theory) e outras teorias de

adaptação mais modernas.

As Teorias Télicas ou teorias de ponto final (télic theories or endpoint) sustentam que

o estado de bem estar subjetivo é obtido quando alguém alcança, por exemplo, uma meta ou a

satisfação de necessidades humanas. A palavra Télica deriva do grego telos que significa

26

propósito ou meta de vida. Segundo Kesebir e Diener, (2008); Mcmahon, (2007) o primeiro

filósofo a definir o telos em termos de felicidade foi Sócrates. Depois dele praticamente todos

os filósofos e pensadores se preocuparam com as questões relacionadas ao telos da felicidade;

uns questionaram, por exemplo, se a felicidade seria alcançada por meio da satisfação ou da

supressão de desejos. Os hedonistas recomendavam o atendimento dos desejos; os acetas

recomendavam a aniquilação dos desejos.

As teorias telicas da atualidade derivam de diferentes esforços. Há aquelas que

enfocam as metas relacionadas às necessidades humanas básicas de sobrevivência e aquelas

que consideram a realização de outros tipos de metas e desejos que vão além das necessidades

básicas. As primeiras consideram que o atend imento de certas necessidades sejam elas inatas

ou aprendidas, conscientes ou inconscientes, resultaria em felicidade. Outras teorias

consideram que a felicidade ocorreria quando as pessoas atingissem as metas e os desejos que

escolheram conscientemente. Há aquelas teorias que consideram que as necessidades e metas

escolhidas são relacionadas entre si; isto é, necessidades básicas e desejos que resultam de

valores e crenças de uma pessoa podem conduzir juntos ao desejo de realização de metas

especificas. Há autores que postulam que há necessidades básicas universais, tais como a

teoria de Maslow (1943) e outras em que as necessidades não são universais e que por isso

podem diferir acentuadamente de um indivíduo para outro. Apesar dessas diferentes posições

teóricas, é possível afirmar que há uma concordância muito difundida entre os pesquisadores

a respeito de que o atendimento de necessidades básicas e de metas desejadas de algum modo

está relacionado a bem estar subjetivo (DIENER, 1984).

As teorias de Atividades sustentam que a felicidade é produto das atividades humanas

tais como praticar esportes, música ou a escalada de uma montanha. Aristóteles foi quem

propôs uma das mais precoces e mais importantes bases das teorias de atividades. Ele

sustentava que a felicidade cresce através de atividades específicas que desenvolvem certas

habilidades e virtudes. Contudo, as teorias modernas de Atividades, sobretudo no campo da

gerontologia, não se referem a atividades que desenvolvem virtudes, mas estão relacionadas

ao desenvolvimento de atividades em geral que venham a aumentar o bem estar de quem as

pratica tais como passatempos (hobbies), interação social e exercícios físicos (DIENER,

1984).

As Teorias de Bottom-Up foram sustentadas por alguns filósofos que afirmaram que a

felicidade consiste da somatória de muitos prazeres pequenos. Nessas teorias as pessoas são

felizes porque desfrutam de muitos prazeres. Em contraste, a Teoria de Top-Down assume que

há pessoas que têm uma propensão global para experimentar as coisas de um modo positivo e

27

isso influencia as interações momentâneas que têm com o mundo. Ao contrário das Teorias de

Bottom-Up, a Teoria de Top-Down entende que as pessoas aproveitam os prazeres porque são

propensas à felicidade (DIENER, 1984).

Há também um número de modelos que procuram explicar porque algumas pessoas

têm um temperamento que as predispõe à felicidade. Muitas dessas teorias são baseadas em

estudos sobre memória, sobre condicionamento ou sobre princípios cognitivos. Todas esses

tipos de estudos podem ser classificados sob o rótulo de modelos ou Teorias Associacionistas.

As Teorias do Julgamento postulam que a felicidade resulta da comparação entre

padrões internos desejados e as condições atuais do indivíduo. Nessas teorias a felicidade

ocorrerá quando as condições internas excederem ao padrão externo de comparação do

indivíduo. Nessas teorias considera-se que o julgamento da satisfação com a vida poderá

ocorrer mais por meio de uma comparação consciente e o julgamento dos afetos poderá

ocorrer de maneira mais inconsciente. Apesar das teorias de julgamento geralmente não terem

por objetivo a realização de predições sobre quais eventos seriam positivos ou negativos, elas,

contudo, ajudam a predizer a magnitude de afetos que os eventos produziriam. A comparação

social é uma dessas teorias em que a pessoa faz julgamentos de sua vida com base nos

padrões internos com relação a situações da vida de outras pessoas (DIENER, 1984).

Além dessas teorias é importante destacar a Teoria da Adaptação (hedonic treadmill

theory). Diener, Lucas e Scollon (2006) afirmaram que, de acordo com essa teoria, as pessoas

ao reagir a eventos que temporariamente afetem sua felicidade, rapidamente se adaptariam e

retornariam a uma neutralidade afetiva. Essa teoria foi construída com base no modelo de

hábitos automáticos de Helson (1948; 1964) apud Diener, Lucas e Scollon (2006) que

considerava que o sistema psicológico reagiria rapidamente a desvios do nível corrente de

adaptação de uma pessoa, semelhantemente ao processo de adaptação biológica.

Diener, Lucas e Scollon (2006) destacaram a necessidade de revisar o modelo

treadmill em cinco aspectos. O primeiro é que os indivíduos não permanecem num limiar

afetivo que tende à neutralidade, ou seja, não são neutros afetivamente. O segundo é que o

estado de propensão imediato à mudança afetiva é diferente para cada pessoa e essa diferença

depende do seu temperamento. O terceiro aspecto é que uma única pessoa pode ter múltiplos

limiares de felicidade que causem outros estados afetivos e de satisfação. Isto quer dizer que

diferentes estados emocionais e de satisfação com a vida não são estáveis, porque esses

estados podem levar as pessoas para outros graus e direções de bem estar subjetivo. O quarto

aspecto, considerado por eles o mais importante, é que a propensão básica interna ao bem

estar pode mudar sob determinadas condições. E o quinto aspecto é que indivíduos diferem

28

em suas maneiras de se adaptarem a eventos, alguns se adaptam mais facilmente outros têm

maior dificuldades em se adaptarem.

O quadro 3 apresentado a seguir mostra as teorias de base em pesquisa de bem estar

subjetivo e respectivos enfoques considerados em cada modelo para alcançar a felicidade.

Quadro 3

Teorias de Base para Pesquisa em Bem Estar Subjetivo

Teorias Enfoque para alcançar felicidade

Télicas ou de ponto final

(télic theories or endpoint)

Modelos que consideram que a satisfação de necessidades ou o alcance de metas desejadas leva à felicidade

De Atividades Modelos que consideram que a realização de atividades como passatempos, interação social, exercícios físicos, etc. promovem felicidade.

Bottom-up Modelos que consideram que a felicidade consiste da soma de inúmeros pequenos prazeres no dia a dia.

Top-down Modelos que consideram que existem pessoas que têm uma propensão global para experimentar a vida de forma positiva

Associacionista Modelos baseados em estudos de memória, condicionamento e princípios cognitivos que buscam explicar porque as pessoas têm predisposição à felicidade.

Do Julgamento Modelos que consideram que as pessoas ao avaliarem sua felicidade partem de padrões internos de comparação de suas vidas com as experiências das vidas de outras pessoas

Modelos que consideram que as pessoas se adaptam rapidamente a eventos que influenciam a felicidade, retornando à neutralidade afetiva

Da adaptação:

Hedonic Treadmill

Adaptação

(revisões da anterior)

Modelos que consideram que a neutralidade afetiva não existe; que as pessoas têm uma forma peculiar de adaptação segundo seu temperamento e que a propensão para experimentar felicidade pode variar sob determinadas condições.

29

1.2 COMPONENTES DO BEM ESTAR SUBJETIVO

O bem estar subjetivo compõe-se de duas dimensões: a dimensão das respostas

emocionais ou dimensão dos afetos e a dimensão das satisfações ou dimensão das avaliações

ou julgamentos globais de satisfação com a vida. Cada uma das duas dimensões necessita ser

entendida em seu próprio sentido, já que elas freqüentemente se correlacionam

substancialmente (DIENER, SUH, LUCAS e SMITH 1999).

Diener, Lucas, Suh e Smith (1999) afirmaram que a dimensão afetiva de bem estar

subjetivo corresponde à avaliação que as pessoas fazem de seus humores e estados

emocionais. Por sua vez Pavot e Diener (1993) afirmaram que o componente cognitivo –

satisfação com a vida - é um recurso importante que melhora a avaliação de bem estar

subjetivo. Ao avaliar somente seus afetos as pessoas podem momentaneamente ignorar ou

negar suas emoções e, além disso, os fatos do momento podem afetar sua avaliação

emocional. A avaliação cognitiva da satisfação global com a vida remete a uma reflexão a

longo termo que não se deixa influenciar tanto por reações ou situações momentâneas.

Bradburn (1969) sugeriu que afetos prazerosos e desprazerosos formam dois fatores

independentes e que por isso deveriam ser medidos independentemente.

Lucas, Diener e Suh (1996) com base em três estudos que analisaram a discriminação

entre os três componentes de bem estar subjetivo e a discriminação entre bem estar subjetivo e

otimismo e auto-estima mostraram que o bem estar subjetivo difere dos conceitos de

otimismo e de auto-estima e que afetos positivos, afetos negativos e satisfação com a vida são

três construtos separados fortemente correlacionados entre si.

Diener e Emmons (1985) a partir de cinco estudos encontraram que as relações entre

afeto positivo e negativo dependem do período que está sendo considerado. Estados positivos

e negativos variam numa relação inversamente proporcional, e geralmente não ocorrem ao

mesmo tempo na mesma pessoa, mas essa não simultaneidade ocorre somente em curtos

períodos; a pesquisa mostrou que quanto maior o período de análise a correlação entre afetos

negativos e positivos diminui sensivelmente.

Pavot e Diener (1993) destacaram que os componentes afetivos e os cognitivos

apresentam uma correlação moderada entre si.

30

1.3 FATORES DE INFLUÊNCIA SOBRE O BEM ESTAR SUBJETIVO

Tendo em vista que os fatores de influência são variados e complexos, Diener, Suh,

Lucas e Smith (1999) sugeriram que o bem estar subjetivo deveria ser considerado como uma

área geral de interesse cient ífico composto por avaliação de afetos e por avaliação cognitiva

da vida e não somente como um simples construto. Esse campo de pesquisa está apresentado

a seguir. Nos subitens de 1.3.1 a 1.3.11 a seguir apresentam-se os estudos e considerações

sobre os fatores que influenciam bem estar subjetivo. No subitem 1.3.12 apresenta-se a síntese

dos fatores de influências do bem estar subjetivo.

1.3.1 Influência dos Fatores Demográficos Sobre o Bem Estar Subjetivo

Conforme com o que já foi mencionado neste estudo, no início das pesquisas sobre

bem estar subjetivo o maior foco da formulação teórica era identificar as características

demográficas que influenciam a felicidade.

Os autores Diener e Scollon (2003) chamaram a atenção para o fato de que os

pesquisadores da tradição sociológica freqüentemente tendem a focar suas pesquisas na

relação entre bem estar subjetivo e fatores demográficos tais como idade, sexo, etnia,

educação e renda. Todavia Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) e Diener e Scollon (2003)

afirmaram que essas pesquisas têm demonstrado que os efeitos dos fatores tais como idade,

sexo, renda, grupo étnico, educação e estado civil totalizam impactos relativamente pequenos

de 8% a 20%.

Diener e Scollon (2003) ressaltaram que apesar de alguns estudos terem apresentado

alguma relação entre bem estar subjetivo e faixa etária, esses efeitos ainda não poderiam ser

considerados porque as pesquisas não tinham sido replicadas e porque os dados sobre esses

efeitos se mostraram relativamente pequenos. Similarmente aos estudos relativos à faixa

etária, as diferenças de gênero foram computadas e parece que homens e mulheres apresentam

diferenças pequenas. Mulheres relataram uma felicidade global e satisfação semelhante aos

homens, mas elas relataram muito mais emoções negativas e mais comumente relataram ter

mais desordens de humor do que homens. Isso apresenta um paradoxo – mulheres são

globalmente felizes como os homens, mas relatam ter muito mais afetos negativos. Os autores

propõem que as diferenças emocionais entre homens e mulheres ocorrem quanto à intensidade

e flutuação emocional, e que isso poderia explicar o paradoxo. O fato de que mulheres

também relatam ter altos níveis de emoções positivas dá suporte a essa explicação. Afirmaram

31

que outras explicações têm sido dadas para esse fato tais como a alegação de que mulheres

têm níveis de ansiedade e de depressão mais elevados e que são mais interdependentes.

Conseqüentemente elas seriam mais comumente influenciadas por eventos sociais tanto para

melhor quanto para pior. Outra explicação seria que mulheres tendem a ruminar mais a

respeito das más experiências passadas do que os homens.

Queirós e Néri (2005) não encontraram diferenças significativas entre homens e

mulheres na meia idade e na velhice quanto ao bem estar psicológico e quanto à inteligência

emocional.

Néri (2001) em menção ao estudo com homens e mulheres entre 59 e 85 anos

ressaltou que quanto maior a idade há uma tendência para ser maior a satisfação e a

predominância de estados afetivos positivos.

1.3.2. Indo Além da Concepção de Influência da Renda Sobre o Bem Estar Subjetivo

Embora faça parte dos fatores demográficos, considerou-se importante dar um

destaque para esse tema porque segundo Diener e Seligman (2004) muitas políticas

empresariais e públicas com relação ao trabalho ainda priorizam somente a melhoria de renda

e de resultados econômicos.

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) destacaram que os pesquisadores examinaram a

relação entre renda e bem estar subjetivo em quatro linhas. A primeira consistiu das

correlações em determinado país entre renda e bem estar subjetivo. A segunda consistiu do

estudo das mudanças do bem estar subjetivo entre indivíduos que experimentaram acréscimo

ou decréscimo de renda. A terceira linha de pesquisa consistiu em verificar a tendência do

bem estar subjetivo durante períodos de crescimento econômico nacional. E a quarta consistiu

da comparação entre os dados de vários países de correlações entre médias de bem estar

subjetivo e prosperidade econômica nacional. Os dados de todos esses tipos de pesquisas não

deram suporte a uma relação forte causal de renda com bem estar subjetivo e modelos mais

complexos são requeridos para explicar todos resultados. O que os estudos apontaram é que

pessoas prósperas são levemente mais felizes do que pessoas pobres somente em nações ricas.

Além disso, constatou-se que mudanças na renda nem sempre tem efeito preditor de bem-

estar e os dados sugeriram que o exame de expectativas e metas é requerido para explicar esse

complexo padrão porque a renda seria um meio de atender as metas. Nesse sentido, a

prosperidade econômica poderia contribuir para bem estar subjetivo por prover os meios para

o atendimento necessidades tais como comida, água limpa e cuidado de saúde, etc, e por

32

proporcionar os meios para atingir metas pessoais. Deste modo, a pobreza afetará o bem estar

subjetivo se prejudicar o atendimento das necessidades básicas e das metas das pessoas. Os

autores destacaram que uma vez que as necessidades básicas sejam atendidas, o processo se

torna mais complexo porque outras variáveis passam a influenciar mais fortemente o bem

estar subjetivo.

Uma outra questão no estudo de renda é saber se as metas cujos valores motivadores

são materialistas ou extrínsecos têm uma influência sobre bem estar subjetivo. Os autores

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) destacaram que pessoas que atribuem alto valor ao

dinheiro, muito mais do que às outras metas são menos satisfeitas com seus padrões de vida.

A busca materialista pode ser contraproducente porque pode interferir com o alcance de

outras metas sociais de auto-atualização.

Em apoio a essa idéia o estudo de Vansteenkiste, Duriez, Simons e Soenens (2006)

mostrou que estudantes universitários em negócios que se orientavam por metas relativas ao

sucesso financeiro, à auto- imagem, à fama e à aparência física apresentaram menor satisfação

com a vida, maior uso de substâncias químicas e maiores níveis de estresse do que os

estudantes universitários de educação que se orientavam mais por metas de crescimento, de

afiliação social e de contribuição à comunidade.

Diener e Seligman (2004) afirmaram que muitas decisões políticas nas organizações,

nas corporações e nos níveis governamentais deveriam ser fortemente orientadas por questões

relacionadas ao bem estar, isto é, pelos sentimentos e avaliações que as pessoas fazem sobre

suas vidas. Destacaram que as políticas correntes focam demasiadamente resultados

econômicos, omitindo ou apresentando enganos a respeito do que a sociedade realmente

valoriza. Destacaram que os indicadores econômicos apresentam muitos pequenos defeitos e

que as medidas de bem estar apontam para conclusões importantes que não são aparentes

através da utilização de indicadores econômicos sozinhos. Como exemplo destacaram que

apesar da economia ter crescido nas décadas anteriores verificou-se que naquele período a

satisfação com a vida não cresceu, bem como, houve um substancial crescimento da

incidência de depressão e de falta de confiança. Os autores argumentaram que os indicadores

econômicos foram extremamente importantes nos estágios anteriores do desenvolvimento

social quando o atendimento de necessidades básicas era a questão central a ser resolvida. Nas

sociedades mais prósperas as diferenças de bem estar não ocorrem devido à renda, mas sim,

mais freqüentemente devido a fatores tais como relacionamentos sociais e prazer com o

trabalho. Preditores não econômicos importantes dos níveis médios de bem estar de

sociedades incluem capital social, governo democrático e direitos humanos. Em conseqüência

33

disso os autores sugeriram que seria importante que as organizações e as nações

monitorassem e dessem os enfoques e os passos necessários para melhorar o bem estar dos

trabalhadores. Dentre esses enfoques destacaram as relações sociais positivas e suportivas.

Afirmaram que há dados que sugerem que o bem-estar, não somente é uma conseqüência das

boas relações, mas também induz as pessoas a melhorarem as relações sociais. Em suporte a

essa idéia pesquisas experimentais indicam que as pessoas, nos grupos, sofrem quando estão

condenadas ao ostracismo ou têm relações pobres. O fato que relações sociais fortes são

críticas para o bem estar tem muitas implicações políticas, porque os resultados econômicos

são freqüentemente causados mais por bem estar do que por outras condições.

1.3.3 Influência do Atendimento às Necessidades Básicas Sobre o Bem Estar Subjetivo

Diener e Scollon (2003) afirmaram que há teorias, como a de Ruut Veenhoven, que

sugerem que o preenchimento ou atendimento das necessidades básicas tais como comida,

abrigo e posição social formam a base do bem estar subjetivo. Veenhoven (1991) afirmou que

a avaliação da vida depende de como as pessoas se sentem afetivamente, isto é, como sentem

o nível hedônico de afeto que obtêm a partir das gratificações das necessidades bio-

psicológicas. Diener e Scollon (2003) consideraram que essas teorias de influência das

necessidades básicas sobre o bem estar subjetivo são sugeridas a partir da evidência de que

pessoas em nações muito pobres são menos felizes em média do que aquelas pessoas que

vivem em nações prósperas. Nesse sentido, os autores argumentaram que as necessidades

básicas são importantes para o bem estar subjetivo à medida que elas influenciam as metas

que as pessoas querem atingir. Mas, argumentaram que uma dificuldade evidente com a

abordagem das necessidades básicas é a definição do que é básico ou inerente à condição

humana porque esse conceito pode variar amplamente de uma cultura para outra.

1.3.4 Influência da Saúde Sobre o Bem Estar Subjetivo

Os estudos têm demonstrado que o impacto da saúde sobre o bem estar subjetivo

depende da percepção que o indivíduo tem de sua saúde. Quando os distúrbios são severos,

quando há múltiplos distúrbios ou quando os problemas são crônicos a tal ponto de impedir o

ajuste adequado às situações da vida e o alcance de metas, então as doenças podem

influenciar negativamente o bem estar subjetivo. Quando os distúrbios e doenças são menos

severos é possível que ocorra uma adaptação substancial. Assim, os fatores físicos e

34

psicológicos que determinam o sucesso da adaptação a doenças e distúrbios precisariam ser

melhor investigados (DIENER, SUH, LUCAS E SMITH 1999)

Rabelo e Néri (2006) afirmaram com base em seu levantamento de estudos brasileiros

e estrangeiros que as pessoas afetadas por acidente vascular cerebral – AVC – apresentaram

menor bem estar subjetivo com relação à população em geral, mas ressaltaram os autores que

os dados apontam para o fato de que a boa capacidade cognitiva, o suporte social efetivo, a

continuidade de uma ocupação produtiva, manutenção da competência em atividades da vida

diária e humor positivo são fatores que melhoram o bem estar subjetivo dessa população.

Diener e Scollon (2003) afirmaram que os pesquisadores distinguiram saúde subjetiva

da saúde objetiva, porque, não somente a saúde objetiva é uma variável importante, mas

também a percepção subjetiva do estado de saúde próprio é importante para influenciar o bem

estar subjetivo. Destacaram que a saúde subjetiva correlaciona-se com bem estar subjetivo em

níveis moderados e que a saúde objetiva correlaciona-se em níveis muito mais baixos. Isso

sugere que muitas pessoas são hábeis para se adaptarem à má saúde. Apesar de que muitas

pessoas alegam que a saúde é a maior causa do bem estar, parece que as pessoas se adaptam

ao grau de saúde que têm. Contudo, a satisfação com a vida é menor entre as pessoas com

problemas severos de saúde, especialmente se esses problemas interferirem ou impedirem

suas atividades e metas.

1.3.5 Influência da Genética e dos Traços de Personalidade Sobre o Bem Estar Subjetivo

A personalidade é um dos fatores mais fortes e consistentes preditores de bem estar

subjetivo. Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) e Diener e Scollon (2003) afirmaram que

evidências de personalidade vinculam bem estar subjetivo a uma ampla variedade de tradições

de pesquisas e metodologias. Porque a personalidade é um preditor confiável, um número

considerável de teorias tem sido desenvolvido para explicar a relação com bem estar

subjetivo. A predisposição temperamental é um modelo conceitual que vincula personalidade

e bem estar subjetivo levando em conta que uma pessoa tem predisposição genética para ser

feliz ou infeliz. Essa teoria considera que as diferenças na predisposição genética para graus

variados de felicidade ou infelicidade são causadas por diferenças individuais inatas do

sistema nervoso. Evidências mais fortes para a predisposição temperamental a certos níveis de

experiências de bem estar subjetivo resultaram de estudos de hereditariedade e de

comportamento e genética.

35

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) destacaram o estudo de Tellegen et al (1988) que

administraram o Questionário de Personalidade Multidimensional (Multidimensional

Personality Questionaire) em 217 gêmeos monozigotos e em 114 dizigotos educados juntos e

em 44 monozigotos e 27 dizigotos educados em separado. A partir dessa amostra eles

calcularam que 40% e 55% da variância da emocionalidade positiva e negativa

respectivamente podem ser explicados por genes, ao passo que o ambiente familiar

computaria 22% e 2% da variância na emocionalidade positiva e negativa respectivamente.

Lykken e Tellegen (1996) concluíram em outra pesquisa com gêmeos que prestígio

sócio econômico, grau de educação, renda familiar, estado civil e comprometimento religioso

computam com cerca de 3% da variância de bem estar subjetivo e que de 44% a 52% da

variância estaria associado à variação genética. Nesse mesmo estudo eles concluíram que a

hereditariedade seria responsável por 80% dos componentes estáveis de longo termo de bem

estar subjetivo.

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) refletiram que, com base nessas estimativas de

hereditariedade, poder-se- ia dizer que é muito difícil mudar a felicidade de alguém como

mudar sua altura. Atentaram esses autores que, entretanto, as taxas estimadas de 80% seriam

para a porção de afeto que se mostrou estável sobre um período de 10 anos. Estes autores

consideraram que é natural que a porção de felicidade que é constante em um período de 10

anos seja influenciada por fatores estáveis tais como a genética e que seja menos influenciada

por um conjunto de eventos que poderiam influenciar o fluxo de bem estar em curto prazo.

Mas, ressaltaram que nesses estudos com gêmeos as estimativas hereditárias são influenciadas

por uma quantidade de variáveis do ambiente da amostra que está sendo examinada. Se o

ambiente de suporte fosse constante, então os resultados poderiam ser explicados somente por

genes. Assim, os autores argumentaram que os estudos de hereditariedade apontaram para

uma influência da hereditariedade sobre o bem estar subjetivo de longo termo de uma amostra

específica de pessoas da sociedade moderna do ocidente, mas eles não significam em absoluto

que sejam estimativas imutáveis e generalizáveis de efeitos genéticos. Outra razão para

prudência com esses resultados que eles apontaram é que estimativas de hereditariedade são

freqüentemente estudos transversais que podem ser inconsistentes e que os valores de outros

estudos de hereditariedade freqüentemente apresentaram valores menores do que os

encontrados pelos estudos mencionados. Para os autores referidos, um exame mais direto da

influência genética sobre bem estar subjetivo seria um estudo que buscasse compreender

como genes específicos podem influenciar os hormônios cerebrais e regiões receptoras que

influenciam o bem estar. Assim, a abordagem da predisposição genética poderia ser conectada

36

a variáveis que indicam humor. Em face disso, Diener, Suh, Lucas e Smith (1999)

argumentaram que os dados dos estudos com gêmeos apontam para alguma influência

genética sobre o bem estar subjetivo que deveria ser melhor estudada.

Quanto aos aspectos disposicionais pessoais para experimentar estados de bem estar,

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) argumentaram que se há predisposição estável para

experimentar felicidade ou infelicidade dever-se- ia esperar que os níveis de bem estar

subjetivo fossem, ao menos em parte, consistentes através do tempo e através das situações.

Consideraram que fatores situacionais moveriam o bem estar subjetivo para cima ou para

baixo a partir de níveis estáveis de base e que fatores estáveis de personalidade exerceriam

uma influência visível a longo termo.

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) afirmaram que se a estabilidade dos escores de bem

estar subjetivo é influenciada por variáveis estáveis de personalidade, então, poder-se-ia

esperar, não somente estabilidade através do tempo, mas também haveria consistência através

de diferentes tipos de situações. Pessoas que seriam felizes no trabalho poderiam também ser

felizes no lazer.

Diener e Larsen (1984) examinaram a hipótese da estabilidade temporal e consistência

das respostas cognitivas, comportamentais e afetivas através de 3512 situações da vida de 42

pessoas por um período de quatro anos. Eles encontraram que a estabilidade e a consistência

das respostas dependem das situações, dos indivíduos e dos tipos de respostas envolvidas. As

variáveis covariadas sugeriram uma conexão entre estabilidade e a consistência de respostas.

Pessoas que eram consistentes através de um par de situações tendiam a ser consistentes em

outro tipo de par de resposta situacional. Os resultados indicaram que a questão da existência

da consistência da personalidade não tem uma resposta simples e isso requer conhecimento a

respeito das pessoas, das situações, das respostas e dos níveis de análise envolvidos. Apesar

de que os eventos e situações certamente influenciem e causem variações nas emoções e

sentimentos de bem estar, as pesquisas mostraram que há a tendência para experimentar

níveis mais estáveis de significados emocionais similares positivos e similares negativos em

larga variedade de situações. Naturalmente, no dia a dia as pessoas reagem a eventos de forma

variada e a estabilidade de significados ocorre somente em níveis agregados de emoções a

longo termo.

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) afirmaram que a contribuição dos modelos no

campo da hereditariedade seria o fato de que eles ressaltaram que os traços de personalidade

predispõem as pessoas a certas reações afetivas, mas que é preciso considerar que os eventos

37

correntes também influenciam os níveis de bem estar subjetivo e que as circunstâncias da vida

de longo termo podem ter também alguma influência contínua sobre níveis de bem estar.

Os traços de personalidade e disposição cognitiva que têm recebido maior atenção

teórica e empírica em relação a bem estar subjetivo são extroversão, a introversão, o

neuroticismo e o otimismo.

A extroversão influencia o afeto positivo ao passo que neuroticismo influencia o afeto

negativo. Lucas et al (2000) a partir de quatro estudos testaram a hipótese com participantes

de 39 nações de que a extroversão está vinculada à sensibilidade a recompensas. As análises

foram realizadas por meio de equação estrutural e de correlações. Os resultados de todos os

estudos indicaram que os extrovertidos são mais sensíveis à recompensa e que essa

sensibilidade se manifesta na forma de maior afeto prazeroso quando a pessoa é exposta a

estímulos recompensadores. O maior afeto positivo então motiva indivíduos a se

aproximarem de estímulos recompensadores. Além disso, encontraram que, pelo motivo das

situações sociais tenderem a ser mais divertidas e recompensadoras que as situações não

sociais, o afeto positivo mais elevado e a maior sensibilidade para recompensas dos

extrovertidos induzem ao incremento de comportamento social.

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) afirmaram que outros pesquisadores sugerem que a

extroversão está relacionada ao afeto positivo através de mecanismos indiretos. Por exemplo,

ambos extrovertidos e introvertidos experimentam mais afetos positivos em situações sociais

que em situações não sociais, mas se extrovertidos gastam mais tempo em situações sociais

sua maior felicidade poderia ser explicada pela quantidade maior de tempo dispendido em

positivo e feliz engajamento com pessoas.

Magnus, Diener, Fugita e Pavot (1993) realizaram uma pesquisa longitudinal por

quatro anos, com medidas em dois tempos no início e no fim do período em que participaram

da pesquisa 130 estudantes universitários, que teve por objetivo examinar a hipótese de que

fatores de personalidade especificamente a extroversão e o neuroticismo estariam associados a

eventos objetivos da vida. A partir das análises de correlações entre extroversão, neuroticismo

e eventos positivos e negativos nos dois tempos eles encontraram que a extroversão predispôs

os participantes a experimentarem mais eventos objetivos da vida positivos, ao passo que o

neuroticismo predispôs as pessoas a experimentarem mais eventos objetivos negativos.

Personalidades que eram um tanto quanto estáveis não apresentaram influência dos eventos

objetivos da vida sobre o bem estar. Eventos objetivos da vida positivos e negativos

covariados sugeriram que as pessoas que experimentam mais de um tipo de evento

experimentam também mais eventos da mesma valência.

38

Outra característica de personalidade que foi destacada por Diener, Suh, Lucas e Smith

(1999) como correlato de felicidade é o otimismo. Afirmaram os autores que a teoria

desenvolvida em 1985 e posteriormente revista por Scheier, Carver e Bridges (1994) sobre o

otimismo disposicional está embasada nos pensamentos característicos que uma pessoa tem a

respeito dos afetos das circunstâncias futuras. De acordo com Diener, Suh, Lucas e Smith

(1999) a forma de pensar a respeito do futuro tem conseqüências sobre o bem-estar subjetivo.

Levando-se em conta que o otimismo representa uma tendência generalizada que as pessoas

têm para esperar que resultados favoráveis aconteçam em suas vidas, então, se uma pessoa

tender a esperar que resultados positivos aconteçam, naturalmente ela trabalhará pelas metas

desejadas, ao passo que se a tendência for esperar por falhas futuras a pessoa se desengajará

dessas metas. Assim, concluem Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) que o padrão de

comportamento otimista induz a mais sucesso na realização de metas do que o padrão

pessimista que espera falhas na concretização de seu futuro, e que esse aspecto

conseqüentemente produz impactos sobre o bem estar subjetivo.

Em face disso, Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) afirmaram que indivíduos mais

felizes são extrovertidos, otimistas e livres de preocupações. Traços de personalidade exibem

algumas das relações mais fortes com bem estar subjetivo e parece que genes podem ser

particularmente responsáveis por essas relações, mas alertaram para o fato de que não havia

ainda clareza na maneira como muitos traços de personalidade adicionais seriam necessários

para prover um completo quadro da felicidade dos indivíduos. Afirmaram também que a

direção de causalidade e os mecanismos responsáveis por essas relações têm emergido como

metas importantes das pesquisas de personalidade e bem estar subjetivo e que vários modelos

conceituais existem para explicar a relação de personalidade com bem estar subjetivo tais

como estudos da relação bem estar subjetivo e predisposição afetiva, estudos de

comportamentos compensadores e ajuste da pessoa ao ambiente e que há evidências que dão

suporte a cada uma dessas abordagens. Em suma, ressaltaram que há um número de modelos

para os quais extrovertidos podem experimentar mais afetos de prazer do que os introvertidos,

mas uma intrigante possibilidade é a idéia de que as características dos extrovertidos seriam

na verdade um resultado da experiência de maiores níveis de afeto positivo.

39

1.3.6 Influência dos Padrões de Comparação Social e do Suporte Social Sobre o Bem Estar

Subjetivo

Diener e Scollon (2003) afirmaram que devido ao fato de que as circunstâncias da

vida variam extensamente as pessoas algumas vezes ficam satisfeitas outras insatisfeitas. Esse

fato deu lugar à suposição de que os padrões de comparação social tenham influência para

explicar o campo da satisfação e insatisfação com a vida. A idéia é que as pessoas podem

comparar as circunstâncias de suas vidas com altos ou baixos padrões e dessa comparação

resultaria em diferenças no bem estar subjetivo. Nessa teoria, por exemplo, até mesmo

pessoas pobres poderiam ser felizes se comparassem suas vidas com a vida de pessoas

desabrigadas. A idéia é que as metas das pessoas derivam de suas histórias de aprendizado por

intermédio dos padrões culturais do meio em que vivem. Isto quer dize r que uma determinada

cultura enseja que as pessoas desejem atender aos padrões apreendidos, bem como, as

influencia quanto às maneiras de reagir aos eventos. Os autores sugeriram com base nisso que

qualquer padrão comparativo pode influenciar o bem estar subjetivo se esse padrão destacar-

se, em um determinado tempo, sobre o julgamento da satisfação, mas, salientaram que alguns

padrões de comparação social que influenciam o bem estar subjetivo podem se expressar de

forma crônica na vida de uma pessoa e, deste modo, influencia r o bem estar por muito tempo.

Destacaram os autores que as metas produzem padrões de comparação social altamente

expressivos. Esses padrões de comparação social são utilizados para guiar o comportamento e

a avaliação do progresso das metas em uma variedade de situações. Em face disso, os autores

supuseram que o progresso em direção a metas é um dos mais importantes preditores de bem

estar subjetivo.

Festinger (1954) definiu o processo de comparação social como sendo um impulso ou

tendência que o organismo humano apresenta que desperta nas pessoas o desejo de comparar

suas opiniões e habilidades com referências objetivas ou com opiniões e habilidades de outras

pessoas. Para esse autor o processo de comparação social é uma necessidade humana que

serve para orientar comportamentos de pessoas e grupos. Como meio de sustentação de

opiniões e de habilidades favorece a avaliação de situações e comportamentos que poderiam

levar à punição ou até mesmo à morte por serem incorretos ou inapropriados. As principais

idéias de sua teoria estão a seguir assinaladas:

40

• No organismo humano reside um impulso para avaliar suas opiniões e habilidades

de forma comparativa com referenciais externos.

• Os referenciais externos de comparação podem ser concretos ou objetivos ou com

base em opiniões e habilidades de outras pessoas.

• Se estiverem disponíveis padrões de comparação objetivos as pessoas não usarão

os recursos de comparação com outras pessoas.

• Se possibilidades de comparação com recursos objetivos não forem disponíveis,

ocorrerá então a utilização das possibilidades de comparação com outras pessoas.

• A ausência de padrões de comparação tanto objetivos (físicos) quanto de outras

pessoas (social) causa instabilidade nas avaliações subjetivas quanto às opiniões e

habilidades pessoais

• As pessoas não tendem a avaliar suas opiniões e habilidades por meio de

comparação com outros que têm opiniões e habilidades divergentes delas.

• Dentro de um conjunto de pessoas comparáveis há a tendência de escolher realizar

a comparação com alguém que possua opiniões e habilidades semelhantes.

• Se as possibilidades de comparação social forem muito divergentes uma pessoa

não será capaz de realizar as avaliações com precisão sobre suas opiniões e

habilidades.

• Quando há muitas opiniões e não há internamente um senso de que alguma delas é

correta e válida, então surge um impulso unidirecional de comparação ascendente

(upward).

Rodrigues (1971) a respeito das definições de comparação objetiva e com pessoas

referidas por Festinger (1954) apresentou o seguinte exemplo. Uma pessoa pode avaliar a

habilidade de levantar peso a partir das várias gradações de halteres e isso representaria uma

comparação objetiva. Contudo se ela quiser atribuir qualidade a uma habilidade terá de

comparar-se com outra pessoa. Por exemplo, uma pessoa que quer saber se sua habilidade de

correr 100 metros em 15 segundos é boa ou ruim, terá que, necessariamente, comparar seu

desempenho com a marca de outras pessoas que também correm.

Além dos processos de comparação com similares (lateral) e a comparação ascendente

(upward) há o processo de comparação descendente (downward). Esse processo consiste de

comparação com pessoas e situações que são avaliadas como estando em condições piores ou

inferiores. (BLANTON, CROCKEN, MILLER, 2000)

41

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) citaram o trabalho de Wood (1989) sobre

comparação social. Em seu estudo sobre a teoria e pesquisa a respeito da comparação social

de atributos pessoais concluiu que o indivíduo analisa sua auto-avaliação com base em metas

através de comparação social; que o ambiente social pode impor às pessoas comparações não

desejadas. Destacou que o processo de comparação social envolve algo a mais do que uma

seleção de objetivos de comparação, e que é um processo bidirecional que pode adotar uma

variedade de formas para que a pessoa encontre suas metas.

Nesse sentido Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) destacaram a idéia de que a

comparação social pode ser usada como uma estratégia de enfrentamento e pode ser

influenciada pela performance da personalidade. A escolha do alvo de comparação, o uso de

comparação com padrões superiores ou inferiores e a direcionalidade dos efeitos sobre bem-

estar subjetivo são flexíveis e em algum grau dependem da personalidade. Além disso,

sugeriram que a questão de interesse para pesquisas diria respeito a indagações sobre quando,

onde e quais os tipos de efeitos a comparação social produz. Destacaram finalmente que a

influência do ambiente social imediato de alguém aparentaria não produzir efeitos a longo

termo sobre bem estar subjetivo através da comparação social. Ao invés, os autores

propuseram que a informação social tem uma influência sobre o bem estar subjetivo quando

ela produz influência sobre as metas das pessoas.

A informação e a comparação social são fatores que estão relacionados ao conceito de

suporte social que também está associado ao bem estar subjetivo. Cohen e Syme (1985)

destacaram que o suporte social que compreende os recursos que são providos por outras

pessoas influencia a saúde e o bem estar. Segundo esses autores o suporte social corresponde

à dimensão social do bem estar. Essa dimensão está relacionada ao quanto o convívio social e

o apoio recebido de outras pessoas e instituições interfere no bem estar individual.

Ressaltaram os autores que se constatou que muitos dos fatores psicossociais que afetam a

saúde e o bem estar ocorrem primariamente por meio de impactos de rompimentos na rede

social tais como as experiências de mudanças estressantes e prejuízos no trabalho, entre

outros, e o suporte social pode funcionar como fa tor que protege a saúde e o bem estar.

Em apoio ao papel positivo do suporte social, Diener e Seligman (2004) ressaltaram

que as relações sociais positivas que dão suporte aos trabalhadores são essenciais para

aumentar seu bem estar.

42

1.3.7 Influência da Adaptação a Eventos da Vida Sobre o Bem Estar Subjetivo

A idéia de adaptação para a continuidade das condições de vida é um componente

central da moderna teoria de bem estar subjetivo. A evolução preparou as pessoas para

realizarem ajustes às condições externas. Por exemplo, o corpo realiza adaptações para

ajustar-se ao frio, calor, necessidade de água e a altas atitudes. De maneira similar, as pessoas

podem se ajustar, pelo menos até certo grau, a ambos bons e maus eventos, de modo que não

haja permanência somente num estado de elevação ou de desânimo. O sistema de emoções

reage mais fortemente para novos eventos e essas reações amortecem ao longo do tempo.

Quando o bem estar é considerado, eventos recentes geralmente têm um maior impacto do

que eventos que aconteceram no passado. Suh, Diener e Fugita (1996) em pesquisa sobre a

relação de eventos da vida com bem estar subjetivo encontraram que o efeito dos eventos

positivos e negativos deixaram de afetar significativamente a satisfação com a vida e os afetos

positivos em um período entre três e seis meses após o evento. Os afetos negativos

apresentaram o mesmo padrão, porém quatro anos depois do evento negativo, a pesquisa

apresentou um inesperado aumento de impacto sobre o afeto negativo (r = 0,21, p<0,05 ).

Segundo Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) é possível concluir que as pessoas adaptam-se a

muitos eventos em um período relativamente curto em cerca de três meses. É importante

notar, contudo, que evidências consideráveis existem que contradizem a teoria hedônica de

treadmill que considera que as pessoas completamente e rapidamente se adaptam a todas

circunstâncias. A adaptação para alguns eventos pode ocorrer lentamente. Salientaram os

autores que alguns estudos mostram que pessoas se adaptam rapidamente a algumas

condições, outras pessoas se adaptam mais lentamente e outras não se adaptam a certas

condições.

Beck e Cowan (1996) a respeito dos processos de mudança e adaptação afirmaram que

as pessoas reagem a eventos segundo seu potencial de mudança que pode ser aberto,

aprisionado ou fechado. O estado de abertura à mudança consiste de uma forma saudável de

adaptação em que a pessoa antecipa-se à mudança e lida de forma pró-ativa e criativa com as

barreiras internas e externas ao processo de adaptação juntamente com uma disposição para

aceitar novas formas de ser. No estado de aprisionamento à mudança, as pessoas não

conhecem suficientemente e nem lidam eficazmente com as barreiras internas e externas;

lidam com barreiras tentando ajustar-se passivamente a elas, concentrando-se em fórmulas já

testadas e reconhecidas; apresentam comportamentos agressivo-passivos de rejeição à

mudança, estresse excessivo e desordens gastro- intestinais. O estado fechado demonstra total

43

falta de adaptabilidade ao meio, qualquer idéia é tratada da mesma forma; apresentam

insaciabilidade e exigências incessantes; exclusividade de visão e de posição; qualquer coisa

diferente é rejeitada imediatamente. As pessoas neste estado apresentam respostas indevidas à

frustração e evitam se exporem a outras posições ou visões.

Segundo Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) a adaptação pode ocorrer, contudo

quando indivíduos aprendem como enfrentar as perdas e ajustar suas metas. Nesse processo

os indivíduos reestruturam seus pensamentos a respeito dos estímulos de mudança de seus

efeitos sobre suas vidas. Uma completa teoria do bem estar subjetivo deve rá explicar os

efeitos do contexto temporal de eventos, bem como explicar quando adaptações ocorrem, que

processos são responsáveis pela adaptação e quais são os limites para habilidades individuais

de adaptação.

Salientaram ainda Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) que o conceito de adaptação em

algumas abordagens seria diferenciado do conceito de enfrentamento que dá ênfase ao papel

ativo do participante no processo de mudança. Certas estratégias de enfrentamento são

consistentemente relacionadas a maior bem estar subjetivo. Consideraram que a despeito das

descrições desses modelos que enfocam o processo subjacente ao enfrentamento e o modo

como eles mitigam o distresse não estavam ainda disponíveis. Concluíram ressaltando que

talvez uma das muitas agendas para a psicologia do bem estar subjetivo seria o entendimento

do porquê as pessoas usam certos métodos de enfrentamento e porque alguns métodos são

mais efetivos do que outros. Em face disso, a adaptação incluiria diversos processos, tais

como os hábitos emocionais e atencionais, mudança no conteúdo ou na estrutura de metas e

outras estratégias cognitivas de enfrentamento.

1.3.8 Influência das Metas Sobre o Bem Estar Subjetivo

Diener (1984) afirmou que teorias télicas ou teorias de endpoint de bem estar subjetivo

são aquelas que sustentam que a felicidade é conquistada quando ocorre um estado interior

após a obtenção de algo como a realização de uma necessidade ou de uma meta. De acordo

com essa definição de teorias télicas, (teorias que versam sobre a tendência de realização em

direção a um propósito ou finalidade), os comportamentos dos indivíduos poderiam ser

melhor compreendidos pelo exame de metas. Essa idéia faria com que pesquisadores

inquirissem sobre o que as pessoas estariam tipicamente tentando fazer na vida e como

estariam progredindo a isso. Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) salientaram que os tipos de

metas, a sua estrutura, o sucesso que as pessoas são capazes de alcançar e a taxa de progresso

44

em direção ao alvo podem potencialmente afetar as emoções e a satisfação com a vida. O

modelo conceitual geral é que pessoas reagem de modos positivos quando fazem progresso

em direção à meta e reagem negativamente quando eles falham em realizar metas. A idéia

central é que metas servem como um importante padrão para o sistema de afeto e que os

recursos diários necessários à sua realização podem facilitar o bem estar subjetivo

indiretamente por permitir ao individuo realizar motivações importantes. Assim, eventos,

circunstâncias e fatores demográficos podem afetar primariamente o bem-estar subjetivo

quando facilitam ou interferem com o progresso em direção a metas. Mas, como as pessoas

têm diversas metas e motivos e diferentes recursos para obtê- los os preditores de bem estar

são também diferentes.

Em estudo sobre auto-regulação a metas Wrosch et al (2003) mostraram, entre outros,

que o fato de se engajar em metas não é o suficiente para o bem estar. A habilidade de

adaptar-se e até mesmo desengajar-se de metas inalcançáveis e engajar-se em outras mais

viáveis é que podem produzir efeitos positivos interativos sobre o bem estar subjetivo.

Em face dessas considerações, Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) sugeriram que a

influência de metas sobre bem estar subjetivo é um processo mais complexo que envolve

outros fatores do que a simples realização de metas. As metas devem ser apropriadas aos

motivos, às necessidades e ao contexto da vida individual. Simplesmente ter metas e ter os

recursos para obtê-las não é o bastante para garantir felicidade. Contudo, as metas podem

atuar como padrões ou aspirações e de acordo com esse ponto de vista, o bem estar subjetivo

é visto como uma medida de julgamento que afere a proximidade do indivíduo com aquelas

coisas que ele se empenha. Assim, o estudo de metas e motivações e suas relações com bem

estar subjetivo consistem de importante contribuição para a conceituação teórica de

felicidade.

1.3.9 Influência do Trabalho Sobre o Bem Estar Subjetivo

Porto e Tamayo (2008) afirmaram que o trabalho é um meio pelo qual as pessoas

alcançam suas metas individuais, além de ser uma base formativa da identidade social dos

indivíduos. Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) ressaltaram que o trabalho pode ser

relacionado com bem estar porque pode produzir níveis ótimos de estimulação a partir do

prazer, das relações sociais positivas e do senso de identidade e de significado que ele pode

prover. Csikszentmihaliy (1999) afirmou que o trabalho é visto pelas pessoas a partir de dois

pontos de vista paradoxais: um positivo e outro negativo. O ponto de vista positivo do

45

trabalho está relacionado com a sensação positiva de orgulho e de identidade e o ponto de

vista negativo está relacionado ao fato de que a maioria das pessoas fica feliz em evitá- lo. O

autor destacou que essa ambigüidade precisa ser encarada a fim de que as pessoas possam

melhorar sua qualidade de vida e que essas motivações negativas sobre o trabalho têm raízes

culturais históricas.

Isso quer dizer que a falta de sintonia ou a perda do trabalho interfere diretamente

sobre a realização de metas e sobre a identidade de uma pessoa. Kessler, Turner & House

(1987) em pesquisa sobre as relações entre saúde e desemprego com desempregados do

estado de Michigan encontraram que o efeito da perda do trabalho sobre a saúde envolve um

processo com dois mecanismos. O primeiro resulta do aumento de pressão financeira que

resulta em efe itos negativos sobre a saúde. Em segundo lugar o desemprego deixa os

indivíduos mais vulneráveis a eventos estressores da vida não relacionados diretamente com o

trabalho. Eles concluíram também que com a ausência de eventos estressores anteriores e

após a perda do trabalho juntamente com o controle adequado da pressão financeira os

pesquisados não apresentaram condições de saúde pior do que aqueles que estavam com

emprego estável.

Lucas, Clark, Georgellis e Diener (2004) testaram a hipótese de que as pessoas reagem

a eventos da vida, mas após um tempo retornam ao seu nível básico de felicidade e de

satisfação. Eles examinaram a reação de adaptação ao desemprego em um estudo longitudinal

de pessoas que viviam na Alemanha. De acordo com a teoria de adaptação referida os

indivíduos deveriam reagir fortemente ao desemprego e então retornar ao movimento em

direção aos seus níveis básicos de satisfação com a vida. Os resultados mostraram que em

média os indivíduos não retornaram completamente aos níveis anteriores de satisfação até

mesmo depois de reempregados. Além disso, contrariamente às expectativas das teorias de

adaptação, as pessoas que tinham experimentado desemprego no passado reagiram tão

negativamente ao novo desemprego quanto as pessoas que não tinham vivenciado,

anteriormente, o desemprego. Esses resultados sugeriram que, apesar da satisfação com a vida

ser moderadamente estável, ao longo do tempo, os eventos da vida impactantes, tal qual o

desemprego, podem ter forte influência a longo termo sobre os níveis de bem estar subjetivo.

Além disso, é importante destacar que as relações de influência entre a satisfação dos

trabalhadores e as condições de trabalho têm sido pesquisadas extensivamente e a partir disso

certas conclusões puderam ser inferidas tais como o ajuste entre organização e pessoas, as

recompensas intrínsecas e benefícios sociais, a relação entre o número de horas trabalhadas e

bem estar subjetivo, o conflito entre trabalho e lar, bem como, a moral no trabalho. Mas,

46

com base na importância verificada para o bem estar subjetivo quanto à realização de metas,

afirmaram os autores Suh, Lucas e Smith (1999) que, talvez, mais importante do que estudar a

satisfação com o trabalho é saber se as pessoas têm um trabalho que permita a realização de

suas motivações e metas.

1.3.10 Influência do Trabalho Voluntário Sobre o Bem Estar Subjetivo

Considerou-se importante para este estudo mencionar o trabalho voluntário. Thoits e

Hewitt (2001) afirmaram que amostras nacionais dos Estados Unidos em 1984 e 1999

mostraram que 44% e 58% da população respectivamente realizavam algum tipo de trabalho

voluntário e que em face dessas tendências os cientistas sociais se interessaram em pesquisar

os determinantes e as conseqüências da participação em voluntariado. Em face disso,

surgiram estudos sobre os determinantes demográficos dos trabalhadores voluntários e outros

determinantes a partir de cinco modelos de análise. De acordo com os modelos sócio

demográficos as pessoas que mais comumente trabalham nos Estados Unidos em voluntariado

estão na meia idade, são da classe média, consistem na maioria de mulheres casadas com alta

escolaridade e com filhos dependentes em idade escolar. Os modelos que buscam

compreender as metas e motivações para o trabalho voluntário indicam que as pessoas

buscam o trabalho voluntário por razões variadas, tais como, aprender novas habilidades,

alcançar auto-desenvolvimento, aumentar a auto-estima, preparar-se para carreira, expressar

valores pessoais e comprometimento social e até mesmo reduzir conflitos egó icos ou reduzir

ameaças à identidade. Outro modelo que enfoca os valores e atitudes mostra que as crenças

individuais a respeito da importância da participação cívica ou da responsabilidade caritativa

influenciam o voluntariado. O modelo que pode ser denominado de identidade do papel

mostra que a elaboração de um serviço voluntário desenvolve um papel com identidade de

voluntariado que motivará a pessoa a realizar mais atividades voluntárias no futuro. O modelo

que pode ser chamado de personalidade voluntária sugere que a personalidade ou variáveis

disposicionais motivam ao trabalho voluntário. Estudos orientados por esse modelo

demonstraram que personalidades com orientação pró-social incluem traços tais como

empatia e desejo de servir e de ser útil (helpfullness) e que o desejo de servir e de ser útil está

associado a outras características positivas tais como auto-eficácia, confiança, maior

estabilidade emocional, sentimentos de competencia, maiores recursos para enfrentar

situações e melhor saúde mental. O modelo do bem estar pessoal parte do princípio que

características da personalidade e a saúde física e mental são os recursos necessários para

47

busca do trabalho voluntário em contraposição à idéia de que o bem estar e a boa saúde são

adquiridos no trabalho voluntário.

Thoits e Hewitt (2001) elaboraram um estudo com base no modelo do bem estar como

o recurso básico para o trabalho voluntário. Eles analisaram as relações do trabalho voluntário

e do bem estar em uma amostra de 2681 pessoas que teve por objetivo examinar as relações

entre trabalho voluntário e seis aspectos que eles consideraram como pertencentes ao bem-

estar pessoal: felicidade, satisfação com a vida, auto-estima, senso de controle sobre a vida,

saúde física e depressão. Partiram da hipótese que pessoas com maiores recursos de

personalidade e melhores cond ições de saúde física e mental com maior freqüência trabalham

ou já teriam trabalhado no passado em serviços comunitários. Os resultados mostraram que as

pessoas que se dedicavam ao trabalho voluntário tinham bons recursos socioeconômicos, boas

características de personalidade tais como felicidade e auto-estima maior, apresentavam

menos depressão e eram socialmente integradas em grupos religiosos ou em grupos

comunitários organizados. Em geral, as pessoas com maior bem estar investiam mais horas no

trabalho voluntário e o trabalho voluntário mostrou-se associado ao seu maior bem estar. Os

autores identificaram evidências de um ciclo positivo no processo de seleção de voluntários.

Isto é, a pergunta que se poderia fazer é se as pessoas mais saudáveis ativamente procuram as

oportunidades de trabalho voluntário ou se as organizações ativamente recrutam indivíduos

desse tipo, ou se os dois fatos acontecem simultaneamente. Apesar dos aspectos do bem estar

pessoal terem sido vinculados ao trabalho voluntário primariamente através de participação

dos indivíduos em organizações religiosas e seculares o fato de que a integração social

mediou as relações entre bem estar e o trabalho voluntário, fortaleceu as idéias dos autores de

que as atividades voluntárias podem ser o produto de bem estar pessoal e não o contrário.

Lopes (2006) em seu estudo realizado com 54 idosos brasileiros e 49 idosos norte

americanos que atuavam com trabalho voluntário encontrou, entre outros, que as duas

amostras quanto à satisfação global com a vida relataram estar satisfeitas e extremamente

satisfeitas nos domínios da saúde física, mental e emocional; do envolvimento social; da vida

financeira; e da família. Os afetos positivos predominaram nas duas amostras. Quanto ao

significado do trabalho voluntário os dados revelaram ações voltadas à contribuição social,

ao exercício de talentos e habilidades e ações voltadas à relação entre o voluntário e quem

recebe seu trabalho tais como troca de energia e enriquecimento da vida enquanto ajuda o

outro. Quanto às motivações os pesquisados relataram valores tais como amor ao próximo,

cidadania, colaboração social, ser útil, aprendizado e ensino, exercício de habilidades,

48

experiências significativas, satisfação, estabelecer amizades, realização, fortalecimento de

relações sociais, preenchimento de tempo disponível com algo útil.

1.3.11 Influência da Religiosidade Sobre o Bem Estar Subjetivo

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) destacaram que vários estudos têm dedicado

atenção ao aspecto da religiosidade e de seu impacto na vida das pessoas. Dentre os autores

citados destacam-se os estudos de Ellison (1991) e Ellison e Levin (1998).

Ellison e Levin (1998) afirmaram que a quantidade e a qualidade de pesquisas sobre a

conexão entre saúde e religião aumentaram substancialmente. Esse maior interesse foi o

reflexo dos programas de pesquisas inovadores em vários campos científicos incluindo a

sociologia, a psicologia, a psiquiatria, a gerontologia e os campos de estudo da educação e do

comportamento para saúde. No campo da saúde mental e do bem estar os autores destacaram

as controvérsias do passado sobre o tema. Enquanto alguns psiquiatras tais como Carl G.

Jung, Viktor E. Frankl, Abraham Maslow e Eric Fromm tinham um olhar positivo a respeito

dessa associação, outras teorias destacavam os efeitos patológicos sobre a saúde psíquica e

freqüentemente partiam de avaliações críticas sobre a relação da religião e saúde mental.

Nesse sentido, os autores consideraram que é preciso levar em conta também os possíveis

resultados e circunstâncias negativas de conseqüências indesejáveis das relações do bem estar

com a religiosidade, além dos seus aspectos positivos.

Ressaltaram Ellison e Levin (1998) que nos períodos mais recentes, àquela época,

surgiram inovações em pesquisas em que se destacaram os estudos sobre os vínculos entre

envolvimento religioso e satisfação com a vida e felicidade.

Nessa linha de pesquisa Ellison (1991) examinou as relações multifacetadas entre

envolvimento religioso e bem estar subjetivo. Ressaltou que em estudos anteriores ao seu, os

efeitos benéficos da assistência religiosa e da devoção religiosa sobre o bem estar se

mostravam primariamente indiretos. Em seu estudo ele encontrou que esses efeitos da

religiosidade sobre o bem estar subjetivo, embora pequenos, são diretos e substanciais: a

variância da religiosidade com relação à satisfação com a vida e com relação aos afetos foi da

ordem de 7% e de 3% respectivamente. Os indivíduos com forte fé religiosa relataram

maiores níveis de satisfação com a vida, maior felicidade pessoal e poucas conseqüências

psicológicas negativas ante os eventos traumáticos da vida.

49

1.3.12 Influência da Cultura e dos Valores Sobre o Bem Estar Subjetivo

Um importante componente que deve ser levado em conta na avaliação do bem estar

subjetivo é o contexto cultural em que o individuo está imerso. A cultura influencia a

motivação bem como a escolha de metas pessoais e, deste modo, influencia a fonte de bem

estar subjetivo. Uma dimensão da cultura que tem sido particularmente usual na identificação

de diferentes sistemáticas nos processos que subjazem ao bem estar subjetivo é o construto de

individualismo- coletivismo. Hofstede (2002) afirmou que a dimensão cultural da identidade

das pessoas apresenta num extremo o coletivismo e no outro o individualismo.

Hofstede (2008) apresentou algumas distinções entre os padrões das sociedades

coletivistas e individualistas. Nas coletivistas as pessoas priorizam as relações grupais,

procuram manter a harmonia e evitar o confronto; a comunicação ocorre predominantemente

por meio de regras implícitas; usam mais a palavra nós; fazem favores para clientes

específicos do grupo; não têm interesses de negócios em seus relacionamentos pessoais; para

eles uma relação traz consigo direitos e deveres; as relações são uma concessão de ambas as

partes; sentem-se responsáveis pelo grupo. As sociedades individualistas priorizam suas

mentes e idéias individuais; a comunicação acontece por meio de regras explicitas; usam mais

a palavra eu; tratam todos os clientes igualmente; a tarefa é mais importante do que uma boa

relação; constroem e mantêm ativamente relações; guardam o auto-respeito; sentem-se

responsáveis por interesses pessoais. A distinção típica entre os individualistas e os

coletivistas é que para os coletivistas as relações são mais importantes do que os negócios e os

negócios tendem a ocorrer entre amigos e família. Numa sociedade individualista as pessoas

tendem a fazer uma separação estrita entre as várias esferas da vida tais como família,

negócios e lazer. As sociedades coletivistas tendem a realizar todas coisas com o mesmo

grupo de pessoas, família e amigos.

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) afirmaram que em culturas individualistas tais

como América do Norte e Europa Ocidental os indivíduos procuram distinguir a si mesmos

dos outros. Disso resulta que o fator emocional individual tem um peso considerável para

predizer a satisfação com a vida.

Suh, Diener, Oish, Triandis (1998) em pesquisa com 61 nações em que participaram

62.446 pessoas sobre as bases da mudança da avaliação da satisfação da vida através das

culturas levando em conta o fator emocional e as regras sociais encontraram que emoções e

satisfação com a vida correlacionam-se mais fortemente em nações individualistas (r de

Pearson de 0,48 a 0,52). Em culturas individualistas as emoções contribuem com cerca de

50

75% na predição de satisfação com a vida enquanto as normas correspondem a um fator

preditor de cerca de 15%. Em culturas coletivistas as emoções e as normas são fatores

preditores de satisfação com a vida em cerca de 40% cada uma. Os autores sugeriram, a partir

desse estudo com base em diferentes nações e características demográficas variadas, que a

cultura pode exercer uma influência significativa sobre o construto de satisfação com a vida.

Concluíram a partir dos dados obtidos que é possível sugerir que as experiências emocionais

têm uma influência muito mais acentuada sobre a satisfação com a vida em culturas

individualistas do que em culturas coletivistas e que por outro lado, nas culturas coletivistas as

normas desejáveis para a satisfação da vida são tão importantes quanto as emoções para

definir o grau de satisfação. Nas culturas individualistas as normas grupais desejáveis

influenciam muito pouco a satisfação com a vida. Destaca-se que para o Brasil, nesses dois

estudos, as correlações entre satisfação com a vida e afetos positivos foram significativas,

positivas e baixas (r=0,21; p<0,001; r=0,33; p<0,001) e satisfação com a vida e afetos

negativos correlações significativas, negativas e baixas (r=-0,28; p<0,001; r=-0,30; p<0,001).

Nas culturas coletivistas, a meta central do individuo não é se distinguir dos outros,

mas manter a harmonia com eles; os desejos pessoais freqüentemente são subordinados aos do

grupo, porque a autonomia pessoal, os sentimentos, as emoções e outros pensamentos

experimentados pelo individuo são vistos como menos importantes para determinar o

comportamento. Conseqüentemente sentimentos a respeito de si e emoções têm menor peso

nos julgamentos de satisfação dos membros das culturas coletivistas. Um padrão similar de

resultados foi também encontrado entre americanos asiáticos e brancos universitários da

América do Norte.

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) destacaram que pelo fato de que geralmente metas

pessoais diferem subjacentemente através das culturas o que é importante para felicidade em

uma cultura pode ser menos importante em outra. Em dois estudos sobre cultura, consistência

da identidade e bem estar subjetivo Suh (2002) encontrou, no primeiro estudo com estudantes

norte americanos, que pessoas que tinham uma visão de si mesmas com maior consistência

tinham um auto-conhecimento mais claro, eram mais assertivas e tinham experiências que

eram menos afetadas pelas perspectivas dos outros. No segundo estudo com estudantes

universitários norte americanos e com coreanos pós-graduados que visou examinar as relações

entre a consistência de identidade e o bem estar subjetivo de pessoas pertencentes cultura

ocidental e asiática encontraram que os coreanos viam a si mesmos como mais flexíveis

através das situações. Os coreanos mostraram que a avaliação social dos outros era mais

importante do que para os norte americanos. Na amostra coreana a avaliação social

51

estabeleceu uma correlação mais significativa e mais alta com satisfação com a vida e com

afetos positivos do que na amostra pesquisada de norte americanos. Além disso, os coreanos

mostraram que seu bem estar subjetivo era menos previsível a partir de níveis de consistência

de identidade do que o dos norte americanos.

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) afirmaram que não significa que o contexto de

felicidade não exista nas culturas mais coletivistas, simplesmente significa que certos aspectos

da vida pesam diferentemente porque as pessoas têm metas diferentes segundo a cultura.

Afirmaram também que certas metas especialmente aquelas relacionadas às necessidades de

base biológicas tais como alimento, provavelmente, devem abranger a todas culturas e,

portanto, seriam determinantes de felicidade em qualquer lugar. Atividades de lazer que

produzem bem estar subjetivo geralmente também variam através de indivíduos e culturas.

Em pesquisa com amostras da Índia, Japão e Estados Unidos sobre a consistência das

experiências afetivas através das culturas, Oish, Diener, Scollon e Biswas-Diener (2004)

encontraram, semelhantemente a pesquisas anteriores com norte americanos, que os

participantes que experimentavam mais afeto positivo ou negativo numa determinada situação

tendiam a experimentar o predomínio do mesmo tipo de afeto em outra situação relacionada,

isso sugere que diferenças individuais na ordem classificatória das experiências afetivas

médias são generalizáveis através de situações diferentes em várias culturas, mas os graus de

influência exercidos pelas situações sobre o valor absoluto de experiências de afeto variam

através das culturas.

Sagiv e Schwartz (2000) realizaram dois estudos para investigar as relações entre

valores prioritários e bem estar subjetivo. As amostras consistiram de 1261 participantes

divididos em adultos e estudantes em humanidades de Israel, adultos e estudantes de

universidade livre e de tecnologia da Alemanha oriental e ocidental. Além dos instrumentos

de pesquisa que mediram afetos positivos e negativos e satisfação geral com a vida, e uma

escala para medir saúde mental, utilizou-se o inventário de medidas de valores de Schwartz

que tem como base as definições dos tipos motivacionais de valores em termos de suas me tas

na vida a seguir relacionados:

• Poder: posição social e prestígio, controle ou domínio sobre pessoas e recursos

– poder social; autoridade; prosperidade e preservação da imagem pública.

• Realização: sucesso pessoal através da demonstração de competência de

acordo com os padrões sociais – sucesso; capacidades; ambições; influência.

• Hedonismo: prazer e gratificação sensorial para si mesmo – prazer; desfrutar,

aproveitar da vida; auto-indulgência.

52

• Estimulação: excitação, novidade e desafios na vida – atrevimento; vida

variada; vida excitante.

• Autodeterminação: independência e autonomia na escolhas de ações, criativo,

explora possibilidades – criatividade; liberdade; independência; curiosidade;

escolha das próprias metas.

• Universalismo: compreensão; apreciação; tolerância e proteção ao bem estar de

todas pessoas e natureza – tolerante, sabedoria; justiça social; igualdade; um

mundo de paz; um mundo de beleza; unidade com a natureza; proteção do

meio ambiente.

• Benevolência : preservação e realização do bem estar de pessoas com quem

alguém está em freqüente contato pessoal – útil; honesto; leal; responsável;

perdão.

• Tradição: respeito, compromisso e aceitação de costumes e idéias provenientes

da cultura ou religião – humildade; aceitação da própria porção na vida;

devoto; respeito à tradição; moderação.

• Conformidade: moderação de ações, inclinações e impulsos que possam

prejudicar outros e violar normas ou expectativas sociais.

• Segurança: harmonia e estabilidade da sociedade, das relações e de si –

segurança familiar; segurança nacional; ordem social; clareza e reciprocidade

de favores.

Os afetos positivos apresentaram uma correlação significativa, porém baixa e positiva

com valores de autodeterminação, estimulação e de realização; os afetos posit ivos

apresentaram uma correlação significativa, baixa e negativa com valores relativos à

segurança, conformidade e tradição. A satisfação com a vida e valores apresentaram

correlações não significantes, tendendo a zero. Isso permitiu aos pesquisadores conc luírem

que os valores referidos correlacionam-se com o caráter afetivo do bem estar, mas não se

correlacionam com o aspecto cognitivo do bem estar. Além disso, os dados mostraram que

para a amostra de estudantes de administração de negócios os afetos foram moderadamente e

positivamente correlacionados com valores de realização (r=0,41) e os de valores de poder

apresentaram uma correlação baixa e positiva com satisfação com a vida (r=0,27). Para a

amostra de estudantes de psicologia os valores de realização não apresentaram resultados

significativos quando correlacionados com bem estar subjetivo e os de poder apresentaram

53

correlação negativa e baixa com relação aos afetos positivos e com os níveis de satisfação

com a vida, (r= - 0,34 e r= - 0,26 respectivamente). Esses resultados, segundo os autores

permitem concluir que o bem estar depende da congruência entre valores pessoais e os valores

que prevalecem no ambiente.

1.3.13 Síntese dos Fatores de Influência Sobre o Bem Estar Subjetivo

Vários fatores que repercutem sobre os níveis de bem estar subjetivo têm sido

pesquisados tais como temperamento, metas, estilos cognitivos, atividades, circunstâncias

externas, prosperidade e pobreza nacional, cultura, valores, etc.

As pesquisas têm mostrado que as maiores repercussões sobre o bem estar subjetivo

provêm dos fatores de personalidade e dos fatores relativos à busca e realização de metas

pessoais. As menores repercussões provêm dos fatores demográficos tais como gênero, faixa etária,

educação, estado civil e renda.

A genética proporciona uma base que predispõe as pessoas a certas experiências

cognitivas e afetivas que podem ou não ocorrer dependendo da história de vida individual. O

grau de influência da genética sobre o bem estar subjetivo ainda precisa ser melhor estudado.

A partir da base de predisposição genética, da história de vida pessoal, bem como das

características do ambiente formam-se os estilos cognitivos e os respectivos traços da

personalidade. Os traços de personalidade que mais interferem no bem estar subjetivo são a

extroversão, a introversão, o neuroticismo e o otimismo.

Os indivíduos, mergulhados em um ambiente cultural específico, assumem valores

pessoais orientadores que repercutem, sobretudo, nas motivações e realizações de metas

pessoais.

As possibilidades de atendimento das necessidades básicas biopsicológicas e o grau de

saúde somente têm repercussões no bem estar subjetivo se interferirem desfavoravelmente na

realização de metas e atividades importantes para o indivíduo.

As características demográficas tais como gênero, faixa etária, educação, estado civil e

renda associados ao ambiente cultural criam contornos para que certas atividades e metas

sejam realizadas e outras não.

A partir dos valores culturais e dos valores assumidos o indivíduo constitui os padrões

próprios de comparação social. A comparação social é um processo que ajuda as pessoas a

buscarem e a realizarem suas metas; pode ser usada como uma estratégia de adaptação e enfrentamento, além de ser influenciada pela performance da personalidade.

54

A auto-avaliação que as pessoas fazem a respeito do progresso da realização de suas

metas tem como base os padrões internos de comparação social. Os padrões de comparação

social internos e o suporte da rede social associados aos estilos cognitivos e de personalidade,

em especial o otimismo de quem recebe o suporte social, influenciam a adaptação e as

respostas aos eventos da vida, sobretudo aos eventos estressores.

A adaptação é um importante recurso para realização de metas e ocorre quando as

pessoas reestruturam seus pensamentos e aprendem a enfrentar perdas e a ajustar ou a mudar

suas metas. Cada pessoa tem uma forma pessoal e um tempo específico de adaptação –

algumas se adaptam rapidamente, outras em um tempo maior e outras não se adaptam. O

suporte social adequado é um facilitador para enfrentamento e adaptação em situações

estressoras de mudança, tais como transições, dificuldades e perda de trabalho.

O trabalho é um importante meio de criação da identidade social e de realização de

metas. As situações que interferem negativamente com o trabalho repercutem também

negativamente no bem estar subjetivo.

Além disso, os valores pessoais e culturais interferem sobre o bem estar subjetivo.

Pesquisas indicam que a congruência ou incongruência entre os valores pessoais e os valores

que prevalecem no ambiente repercutem sobre o bem estar subjetivo.

O quadro 4 a seguir apresenta a síntese das influências sobre o bem estar subjetivo.

Quadro 4

Principais Fatores de Influência sobre o Bem Estar Subjetivo

Fatores de Influência

Demográficos: gênero, escolaridade, renda, estado civil, faixa etária

Necessidades básicas atendidas

Saúde

Genética

Traços de personalidade e estilos cognitivos: extroversão, introversão, neuroticismo e otimismo

Padrões de comparação social e Suporte Social

Adaptação a eventos da vida

Realização de metas: trabalho, trabalho voluntário

Valores: cultura, valores pessoais, religiosidade

55

1.4 OTIMISMO

É um conceito que pertence à psicologia positiva. Atualmente é considerado como

uma característica cognitiva, uma meta, uma perspectiva ou como uma maneira de atribuir

causas às coisas com base em crenças que uma pessoa tem quanto às possibilidades de

ocorrências concretas futuras. (PETERSON, 2000).

No que diz respeito ao otimismo, Peterson (2000) considerou a influência do

pensamento psicanalítico nas idéias populares. Ressaltou que a abordagem psicanalítica

acredita que o otimismo, mais especificamente o otimismo religioso, seria uma ilusão criada

para garantir a ordem social e que ele compensaria psicologicamente as pessoas pelos

sacrifícios que fazem de seus desejos individuais em favor do êxito da vida social. Isso

limitaria o conceito de saúde mental dentro dos contornos do conflito humano subjetivo

aceitável.

Em contrapartida destacou a aproximação da psicologia positiva no que diz respeito ao

otimismo com a visão da psicologia humanista dos anos de 1960, citando entre outros Carl

Rogers e Erick Fromm.

Quanto à visão de saúde Rogers (1983) afirmou:

“Os indivíduos possuem dentro de si vastos recursos para auto-compreensão, para

modificação de seus auto-conceitos, de suas atitudes e de seu comportamento autônomo. Esses

recursos podem ser ativados se houver um clima, passível de definição, de atitudes

psicológicas facilitadoras . ... Pouco importa que o estimulo venha de dentro ou de fora, pouco

importa se o ambiente seja favorável ou desfavorável. Em qualquer condição, os

comportamentos de um organismo estarão voltados para sua reprodução, manutenção e

crescimento. ”

Fromm (1987) destacou que a condição natural dos seres humanos é o emprego

criativo dos poderes humanos tais como renovação e dar de si ao outro. Destacou que a vida

consiste em desenvolver o processo auto-renovador e autocrescente. Esse processo que ele

denominou de amor consiste de atividade criativa que implica em cuidado, conhecimento,

ajuste, afirmação e prazer. Ressaltou que a condição de ser humano implica no anseio do

desenvolvimento de suas faculdades humanas de forma produtiva e alegre numa identificação

com o mundo. Nesse sentido, o foco não estaria nas coisas a serem realizadas, mas no

56

desenvolvimento das faculdades que ocorrem quando as coisas são realizadas. Os principais

requisitos para isso seriam a independência, a liberdade e a presença da razão crítica.

Peterson (2000) também destacou a teoria cognitiva de Aaron Beck que considera a

depressão como o resultado de crenças disfuncionais ou ilógicas o que permitiria, para ele,

concluir por comparação à teoria de Beck, que os otimistas têm um pensamento mais lógico e

mais funcional.

Beck et al (1977) afirmaram que os depressivos apresentam um modelo cognitivo

disfuncional. Esse modelo tem três conceitos específicos que explicam o substrato psicológico

da depressão – (1) a tríade cognitiva; 2) a organização estrutural do pensamento depressivo e

3) os erros cognitivos.

1. A tríade cognitiva é composta por:

• Visão negativa que o paciente tem de si mesmo.

• Visão de que o mundo apresenta obstáculos insuperáveis.

• Visão negativa de futuro. Perspectivas de dificuldades e previsões negativas

incessantes.

2. Organização estrutural do pensamento depressivo:

• As experiências são categorizadas e avaliadas através de uma matriz de esquemas

adquiridos no passado que são generalizados para muitas áreas da vida no presente e

no futuro.

3. Erros cognitivos: processamento falho da informação.

Snyder e Lopez (2009) afirmaram que há duas teorias de grande importância a respeito

do construto de otimismo. O primeiro seria o conceito de otimismo aprendido que tem como

seus mais destacados representantes Martin Seligman e colaboradores. O segundo construto

refere-se à visão de otimismo disposicional de Michael Scheier e Charles Carver.

Seligman (2005) e Colligan, Offord, Malinchoc, Schulman, Seligman (1994)

afirmaram que na raiz do comportamento pessimista existiria um sentimento de desamparo

que foi aprendido na infância. Explicando o otimismo em contraponto ao pessimismo, o

otimista seria, portanto, uma pessoa que aprendeu a não se sentir desamparada. Destacou que

a pessoa otimista atribui fracassos a pessoas e fatos externos a ela, acredita que a situação

negativa tem pouca chance de se repetir e que não generaliza os resultados negativos de uma

situação para outros setores da vida. Enquanto que o pessimista atribui o fracasso a condições

57

internas, tende a associar o fracasso atual à falhas passadas e generaliza o negativo para outras

áreas da vida.

A teoria do otimismo aprendido está baseada na experiência de Martin Seligman e

colegas que identificaram o fenômeno do desamparo aprendido a partir de condicionamento

de cachorros submetidos a choque elétrico que não poderiam escapar. Isso gerava um déficit

motivacional para a fuga do sofrimento. Posteriormente, a essa conclusão foram incluídas

nesse modelo considerações sobre os efeitos das experiências de condicionamento

desmotivador sobre a cognição, relacionadas à maneira como as pessoas explicam as causas

de suas condições adversas (COLLIGAN, OFFORD, MALINCHOC, SCHULMAN,

SELIGMAN, 1994).

O otimismo disposicional tem sido definido como sendo uma característica

relativamente estável, uma expectativa generalizada de que resultados bons vão ocorrer no

futuro em importantes domínios da vida (SCHEIER, CARVER E BRIDGES; 1994 e

WROSH E SCHEIER, 2003).

Snyder e Lopez (2009) destacaram que a teoria do otimismo aprendido dá ênfase aos

resultados negativos, pois considera o otimista como aquele que sabe se distanciar dos

eventos ruins do passado ao invés de ser uma noção que envolveria predominantemente uma

conexão com resultados positivos desejados no futuro e que a teoria do otimismo

disposicional tem foco nas condições futuras positivas.

O modelo disposicional tem o mérito de mostrar que o otimismo, por ser uma

tendência abrangente, influencia muitas áreas da vida, inclusive o bem estar subjetivo. O

modelo do distanciamento do sentimento do desamparo tem o mérito de mostrar que é

possível aprender ou reaprender a ser otimista.

Afirmaram os autores Scheier, Carver e Bridges (1994) que evidências acumuladas de

uma variedade de pesquisas sugerem que o otimismo disposicional seria benéfico para o bem-

estar físico e psicológico e que diferenças nesses resultados de bem-estar estão associadas ao

otimismo e ao pessimismo. Essas diferenças decorreriam do fato de que otimistas e

pessimistas enfrentam diferentemente as mudanças em suas vidas. Os otimistas têm

tendências estáveis quanto ao enfrentamento e tipos de respostas que geram espontaneamente;

também diferem dos pessimistas na maneira como enfrentam doenças sérias e respectivos

tratamentos. Afirmaram que a característica geral dos otimistas é que eles tendem a usar mais

estratégias de enfrentamento focadas na solução de problemas do que os pessimistas e quando

não é possível uma solução eles usam estratégias de adaptação emocional tais como aceitação,

humor e uma reestruturação positiva da situação. Pessimistas, por outro lado, tendem a

58

enfrentar problemas insolúveis com atividades e atitudes que refletem negação e com uma

mentalidade e comportamento de não assumir as metas as quais o estressor está interferindo.

Os otimistas são pessoas que tendem a manter perspectivas de futuro positivas enquanto que

pessimistas são pessoas que tendem a manter expectativas negativas sobre o futuro.

Otimismo e pessimismo são variáveis independentes. Um estudo recente elaborado

por Herzerberg , Glaesmer e Hoyer (2006) pretendeu verificar se as medidas do questionário

de otimismo disposicional revisado de Scheier, Carver e Bridges (1994) consistia de uma

dimensão bipolar continua que variaria do otimismo ao pessimismo ou se otimismo e

pessimismo consistiam de duas dimensões independentes. Os resultados mostraram que o

referido questionário mede dois construtos independentes – otimismo e pessimismo – válidos

por sexo, por grupo de idade e por grupos representantes de várias doenças e diagnósticos.

Concluíram que pessoas podem sustentar diferentes crenças a respeito de otimismo e

pessimismo e elas podem muito bem ser hábeis para diferenciar entre os dois construtos em

termos de graus de estratégias de enfrentamento adaptativo que cada construto reflete. Mas

para as idades mais avançadas a correlação entre otimismo e pessimismo diminui em função

do acréscimo de idade. Refletem os autores que a explicação dos resultados menos

consistentes na idade mais avançada pode estar associada ao fato de que os idosos, mesmo

sendo otimistas, não têm tantas expectativas de futuro e também porque têm capacidades

reduzidas.

Scheier, Carver e Bridges (1994) afirmam também que as pesquisas com foco em

otimismo são consistentes com o modelo de comportamento de auto-regulação. Wrosch e

Scheier (2002) ressaltaram que o otimismo disposicional e a auto-regulação para o ajuste a

metas promovem qualidade de vida, facilitam o bem estar subjetivo e a boa saúde quando são

mediados pelo comportamento de enfrentamento.

Wrosch et al (2003) realizaram três pesquisas sobre auto-regulação e comportamento

adaptativo com foco em desengajamento de metas inalcançáveis e reengajamento a outras

metas e o quanto isso refletiria sobre o bem estar. Alegaram os autores que os

comportamentos adaptativos são suportados por processos auxiliares tais como persistência,

auto-eficácia e otimismo. Ressaltaram que ser otimista, acreditar em suas próprias

competências e permanecer persistente em metas está relacionado com bem estar e com boa

saúde. Mas isso é somente parte do processo, porque nem sempre as metas são alcançáveis e,

nesses casos, a auto-regulação depende da disponibilidade de metas alternativas que podem

reduzir o estresse causado pela impossibilidade de alcançar as metas anteriores. Encontrar

outros valores alternativos para perseguir deriva um senso de propósito de vida – uma

59

perspectiva de futuro. Fatores sócio-culturais e biológicos, bem como, mudanças nas

condições da estrutura social, tais como morte em família, divórcio e desemprego podem

reduzir ou impedir a realização de metas. Além disso, pessoas por vezes têm de se desligar de

metas de lazer para assegurar metas de família ou de carreira. O confronto de metas

inalcançáveis com experiências de falha e estagnação pode resultar em aumento de estresse.

Para regular esses efeitos negativos Wrosch et al (2003) argumentaram que a capacidade de

retrair esforços e desempenho de uma meta inalcançável é uma faceta do processo de auto-

regulação e que outra seria o reengajamento a outras metas alternativas. A pesquisa que

realizaram com 115 pós-graduados, com 120 idosos e com 45 pais de crianças com câncer e

crianças saudáveis confirmou as hipóteses de que a capacidade de desengajar-se de metas está

associada a altos níveis de bem estar subjetivo; o reengajamento em outras metas também

causa impactos sobre o bem estar, além do que o reengajamento mostrou-se importante para a

auto-regulação efetiva e desenvolvimento bem sucedido.

Estudos também têm investigado as associações do otimismo com a saúde.

Sergestrom, Taylor, Kemeny e Fahey (1998) exploraram prospectivamente os efeitos do

otimismo sobre o humor em 90 pessoas e efeitos do otimismo e humor sobre mudanças

imunológicas em 50 pessoas todos estudantes universitários do primeiro semestre do curso. O

objetivo era examinar o grau que o otimismo estava associado com mudanças nos distúrbios

de humor e nos parâmetros de imunidade durante a ocorrência de situação estressora. Os

resultados mostraram, entre outros, que o otimismo foi associado com melhor humor e com

maiores números de células imunes (T) essenciais para mediar as reações imunes a infecções.

Kivimaky et al, (2005) pesquisaram a relação do otimismo com problemas de saúde e

tempo de recuperação após a ocorrência de eventos estressores significativos. Os autores

examinaram prospectivamente mudanças na saúde de trabalhadores depois do maior evento

de suas vidas – morte ou doença severa em família de 5007 empregados com idade média de

44,8 anos. Os níveis de otimismo e pessimismo foram avaliados em 1997 e em 2000 no

evento estressor. A saúde foi indicada pela ausência de doença durante 36 meses antes do

evento estressor e 18 meses após. O acréscimo de dias de doença depois do evento foi menor

para os que apresentaram altos níveis de otimismo do que para os que tinham baixos níveis de

otimismo. Esses resultados sugerem que o otimismo pode reduzir o risco de problemas de

saúde e estar relacionado à recuperação mais rápida após a ocorrência de eventos estressores

significativos.

60

Brissette; Scheier e Carver (2002) pesquisaram o papel do otimismo no

desenvolvimento da rede social, no enfrentamento e no ajuste psicológico durante eventos de

transição da vida. Investigaram o grau de suporte social e de avaliação de enfrentamento em

associação ao maior otimismo e melhor ajuste ao evento estressor. 89 estudantes

universitários de ambos os sexos responderam a medidas de estresse percebido, de percepção

de depressão, de otimismo, de auto-estima, de enfrentamento, de suporte social e quanto ao

tamanho da rede social de suporte por amigos no começo do primeiro semestre da faculdade.

Destacaram-se deste estudo as correlações significativas entre otimismo e dimensões da

situação de enfrentamento tais como: otimismo e desengajamento de metas apresentaram uma

correlação positiva e moderada; otimismo e negação apresentaram uma correlação negativa e

baixa; otimismo e reinterpretação positiva e crescimento apresentou uma correlação positiva e

baixa; otimismo e procura por suporte social instrumental e otimismo e procura por suporte

emocional apresentaram uma correlação quase nula porque no início do primeiro semestre o

suporte praticamente não existe. Para os autores, essas pesquisas sugeriram a possibilidade de

que o aumento do suporte social juntamente com o maior uso de reinterpretação positiva dos

fatos contribuiria para um melhor ajuste dos otimistas às situações e essa possibilidade

apontaria para uma associação do suporte social com otimismo.

Xanthopoulou et al (2007) examinaram o papel de três recursos pessoais – auto-

eficácia, auto-estima organizacional e otimismo sobre o modelo de recursos e demandas de

trabalho. Os autores hipotetizaram que os recursos pessoais mencionados moderam as

relações entre demandas de trabalho e exaustão; fazem a mediação entre a relação dos

recursos de trabalho e o engajamento no trabalho; e se relacionam com a maneira como o

empregado percebe seu ambiente de trabalho e seu bem-estar. As pesquisas foram realizadas

com 714 empregados holandeses. Foram utilizadas as medidas relativas a auto-estima

organizacional; auto-eficácia; otimismo; exaustão; engajamento no trabalho; demandas e

recursos de trabalho e suporte social. Destacaram-se dos resultados a correlação significativa

e moderada entre otimismo e auto-eficácia e as correlações significativas, baixas e positivas

entre otimismo e autonomia; otimismo e vigor; otimismo e dedicação e otimismo e suporte

social (0,30).

Estudos também têm sido dedicados à compreensão das relações entre o otimismo e a

idade. Em estudo realizado por Chang (2002) sobre avaliação das relações entre estresse,

otimismo, pessimismo, satisfação com a vida e fatores de ajuste psicológico com uma amostra

de 340 adultos jovens com idade média de 20,4 anos (DP = 3,2) e com adultos mais velhos

com média de idade de 46,6 anos (DP = 5,8) revelou que o maior otimismo estava

61

significantemente associado a menos sintomas psicológicos, à maior satisfação com a vida e

a menor percepção de estresse em ambas as amostras de adultos mais novos e mais velhos.

Em ambas as amostras otimismo e percepção de estresse foram altamente e negativamente

correlacionadas; otimismo e sintomas psicológicos foram moderadamente e negativamente

correlacionados; otimismo e satisfação com a vida foram moderamente e positivamente

correlacionados (r= 0,52 e r= 0,49 para adultos mais jovens e mais velhos respectivamente).

Isto quer dizer que não houve, nessa pesquisa, relação entre otimismo e idade. Além disso, ele

examinou, entre outros, o fator preditivo do otimismo sobre a satisfação da vida, concluindo

que a amostra de adultos mais jovens e a de mais velhos se mostraram também semelhantes

sob esse ponto de vista, uma vez que o otimismo pode ser responsável por 27% e por 24% da

satisfação respectivamente.

Lennings (2000) afirmou que em contraste com grupos mais jovens, as pesquisas com

pessoas em idade avançada sugerem que o otimismo está mais focado numa perspectiva

temporal. Considerando que o otimismo e a satisfação com a vida são variáveis relacionadas

às perspectivas de futuro e do tempo, respectivamente, o autor estudou as relações entre

otimismo, satisfação com a vida e a idade. Nesse estudo com 86 pessoas idosas ele encontrou

que o modo dominante do ver o tempo está relacionado a uma combinação de elementos em

torno da variedade de perspectivas no tempo presente. Para pessoas mais velhas, ao contrário

das mais jovens cujo otimismo e satisfação com a vida correlacionam-se positivamente, estes

se correlacionam negativamente com a idade – o otimismo e a satis fação com a vida

diminuem com o avanço da idade. Ressaltou que o decréscimo da satisfação está muito

provavelmente relacionado ao maior senso de realismo a respeito das tarefas e possibilidades

de ações do que a um senso de ansiedade de morte ou evitação do futuro. Com a idade, as

variáveis relacionadas ao tempo tornam-se menos importantes na predição do otimismo e da

satisfação com a vida, além disso, o otimismo torna-se menos importante na predição da

satisfação com a vida.

1.5 SUPORTE SOCIAL

A constatação da mudança de padrão na etiologia das doenças – uma drástica redução

das doenças infecciosas e um aumento significativo das doenças com outras etiologias que

requerem mudanças de comportamento em termos de aderência a tratamentos ou de

prevenção, tais como câncer, doenças cardiovasculares, distúrbios e doenças decorrentes de

hábitos e comportamentos como o alcoolismo e dietas inapropriadas, comportamentos de

risco de acidentes de carro e moto, resultou na necessidade de um novo enfoque sobre os

62

fatores de saúde. Esse novo enfoque consistiu da maior atenção ao modelo biopsicossocial de

saúde (MATARAZZO, 2002).

O modelo biopsicossocial, segundo Marks (2002), que teve maior desenvolvimento e

aplicação no último quartel do século XX, considera que a saúde e a doença são o resultado

da contribuição de fatores biológicos, psicológicos, sociais e ambientais inter-relacionados,

compostos por predisposição genética; fatores comportamentais relativos ao estilo de vida e

ao nível de estresse, fatores relativos às crenças sobre saúde e relativos às condições sociais

que envolvem influências culturais, relações familiares e o suporte social.

No mesmo período em que se deu maior atenção e maior aplicação ao modelo

biopsicossocial de saúde, Cohen e Syme (1985) destacaram que ocorreu um grande aumento

de interesse sobre o conceito de suporte social e sobre como ele afeta a saúde e o bem estar.

Disso, segundo esses autores, resultou uma grande expansão do número de pesquisas e de

programas de tratamento e de intervenção que utilizaram o suporte social como uma

assistência terapêutica.

Na linha de pesquisa de fatores relativos às condições sociais que influenciam a saúde,

Cohen e Mckay (1984) citaram os estudos, entre outros, de Cobb (1976) que considerou o

papel das relações interpessoais na proteção da saúde das pessoas contra os efeitos

patogênicos que resultam de situações estressoras. O suporte social, nesse sentido, faz parte

da gama de variáveis que compõem o modelo biopsicossocial de saúde.

Quanto à importância de se estudar o conceito de suporte social, Cohen e Syme (1985)

relacionaram três razões principais. A primeira delas refere-se ao fato de que o suporte social

estaria associado à possibilidade de melhor compreensão das causas das doenças não

infecciosas tais como câncer, doenças cardiovasculares, doenças mentais e artrite. Uma

segunda razão para o estudo do suporte social seria a melhor compreensão dos seus efeitos

benéficos nos programas de reabilitação de saúde que requerem mudanças de hábitos, de

comportamentos e de características emocionais. A terceira razão para o aumento de interesse

nos conceitos de suporte social seria a possibilidade de maior compreensão dos fatores que

podem afetar primariamente a saúde e o bem estar causados por impactos de ruptura na rede

social de uma pessoa, tais como experiências de morte de pessoa querida, de migração, de

mudança de residência e de mudança e perda de trabalho.

Cobb (1976) destacou o caráter de abrandamento do suporte social sobre os efeitos das

situações de estresse que ocorrem durante a vida. Definiu que o suporte social corresponde ao

conjunto de informações que uma pessoa recebe que a fazem acreditar que ela é objeto de

cuidados, que é amada, estimada e valorizada e que pertence uma rede social de interações

63

que envolvem compromissos e favores mútuos. Cohen e Syme (1985) acrescentaram que o

suporte social corresponde aos recursos informacionais ou concretos potencialmente úteis

providos por outras pessoas.

O suporte social, considerado deste modo, pode proteger as pessoas que passam por

crises em uma ampla variedade de estados psicológicos e de comportamentos, entre eles, a

depressão, o alcoolismo e síndromes resultantes de separações sociais com conseqüências

sobre a redução da medicação exigida para cada caso. Além disso, o suporte social pode

acelerar a recuperação da saúde e aumentar a facilidade para aceitar regimes médicos

prescritos. As ações de suporte social podem também prevenir as conseqüências desastrosas

resultantes de crises e mudanças (COBB, 1976).

Nesse sentido, Cohen e Mckay (1984) formularam hipótese de um modelo de suporte

social em que o estresse psicossocial seria responsável pela produção de efeitos deletérios

sobre a saúde e o bem estar naquelas pessoas que têm um grau de suporte social pequeno ou

que não tem nenhum apoio, enquanto que os efeitos deletérios seriam diminuídos ou

eliminados naquelas que têm um suporte social mais forte. Em contrapartida, ele supôs que as

patologias não sujeitas ao controle de estresse não seriam afetadas por níveis de suporte.

Este modelo está baseado em mecanismos por meio dos quais as relações interpessoais

poderiam proteger alguém de uma patologia induzida por estresse. É baseado numa visão

multidimensional do suporte social que foca a relação funcional entre o enfrentamento

requerido por uma situação e os recursos providos por alguém do sistema de suporte para

ajudá-lo no enfrentamento. Considera que o estresse surge quando alguém é chamado a

responder a uma situação para a qual não está habituado a dar respostas e que as

conseqüências de falha na resposta à situação são efetivamente importantes. Além disso, este

modelo considera o evento estressor como sendo um potencial de deflagração de respostas de

estresse, e considera a experiência de estresse como sendo os afetos negativos que resultam de

comportamentos de adaptação que não se configuram como respostas adequadas (COHEN E

MCKAY 1984).

Cobb (1976) distinguiu duas formas de suporte social uma de ordem psicológica e

outra de ordem material. O suporte psicológico foi definido como sendo composto pelos

suportes cognitivo e emocional.

Cohen e Mckay (1984) consideraram que os mecanismos responsáveis por um efeito

moderador de suporte sobre as reações a um estressor seriam divididos em três tipos: tangível,

de avaliação cognitiva e de avaliação emocional, a seguir especificados:

64

1. O suporte tangível ou material é um protetor de estresse que consiste de ajuda

financeira, cuidados e outras formas de assistência material. Destaca-se que esse

tipo de ajuda somente é efetivo quando não cause constrangimento ou perda de

liberdade que acentue o estresse.

2. O suporte de avaliação cognitiva é um mecanismo que enfatiza a avaliação dos

aspectos externos da situação. Consiste das informações que podem ajudar uma

pessoa a avaliar o evento estressor de forma menos ameaçadora e mais benigna.

Quando um evento é avaliado como ameaçador e uma resposta de enfrentamento

apropriada não é disponível ocorre uma reação de estresse.

3. O suporte emocional é um mecanismo que enfatiza a avaliação que as pessoas

fazem de seus sentimentos a respeito de si próprios e consiste de informações

relativas à melhoria da auto-estima e do sentimento de pertencer a um grupo.

Para os autores Cohen e Mckay (1984) o suporte cognitivo para o evento estressor

pode ser efetuado em grupo. Em grupo a redução dos efeitos do estresse é o resultado também

da comparação e de trocas de informações de problemas e de soluções entre os seus

integrantes. A informação em grupo pode ajudar uma pessoa a acreditar que ela também tem

uma resposta adequada para sua situação ou que a falha em responder adequadamente não é

tão importante. O suporte de avaliação cognitiva em grupo somente tem efeito redutor do

estresse quando:

• O estressor é socialmente aceitável e não resulta em sent imentos de culpa ou

vergonha;

• A discussão do estressor não resulte em comparação de uma pessoa em detrimento

de outra;

• O suporte é provido por pessoas que têm informações acuradas num grupo com

interesses em comum;

• O grupo de suporte expressa uma reação relativamente calma ao estressor.

Segundo o modelo proposto por Cohen e Mckay (1984), o suporte material serviria

para situações em que há necessidade de enfrentamento que incluem doenças e falta de

habilidades que acompanham a perda de renda; corresponderia a recursos de qualquer

natureza material apropriados para suprir a perda de renda. O suporte de avaliação cognitiva

65

serviria àqueles estressores socialmente aceitos que não envolvam sentimentos de vergonha

ou culpa e corresponderiam a recursos que vêm de pessoas que têm conhecimentos e

experiências semelhantes. O suporte emocional diria respeito a estressores relacionados a

auto-estima e à necessidade de pertencimento.

O suporte emocional quanto à auto-estima estaria relacionado à auto-avaliação sobre

falhas em dar respostas à situação estressora. Quanto à necessidade de pertencimento o

suporte emocional estaria relacionado àqueles estressores que surgem com a separação de

relacionamentos próximos e associado a recursos que vêm de pessoas que podem promover

oportunidades de aproximação por meio de relações relativamente intimas e efetivas (COHEN

E MCKAY 1984).

Quanto aos meios práticos Cobb (1976) considerou que o suporte social inicia-se no

útero materno com o apoio à maternidade, ao nascimento, à vida que se inicia, e continua

durante todo o desenvolvimento das transições dos ciclos de vida. Entre as situações que

necessitam de suporte social, destacou a necessidade de apoio nas hospitalizações, nas fases

de recuperação de doenças e de vícios, nas situações de estresse, particularmente nas situações

de perdas de trabalho e privações. Cobb (1976) ressaltou também que a maior crise da vida

para a maioria dos homens, sobretudo os que têm dependentes, é o término de emprego

estável.

Kessler, Turner e House (1987) apresentaram um estudo sobre os processos de

intervenção nas relações entre desemprego e saúde com foco na condição financeira. O

objetivo do trabalho era melhor compreender as variações de saúde e doença que ocorrem

entre desempregados. Participaram do estudo 146 desempregados, 162 com previsão de

demissão e 184 com emprego estável. Utilizaram medidas indicadoras da condição financeira,

da condição conjugal, das relações sociais e afiliações a grupos e de eventos gerais da vida

que poderiam ter mudado com o desemprego. Os resultados mostraram que a condição

financeira tem grande importância nos impactos do desemprego sobre o estado de saúde.

Esses impactos acontecem por meio de dois mecanismos: 1) o desemprego resulta em

decréscimo da condição financeira que por sua vez resulta em efeitos negativos sobre a saúde;

2) o desemprego deixa o individuo mais vulnerável ao impacto de outros eventos da vida não

relacionados diretamente com o desemprego. Além disso, verificaram que com intervenções

sobre o controle financeiro as pessoas desempregadas pesquisadas não tiveram o estado de

saúde mais alterado do que as que estavam em empregos estáveis.

Caplan, Vinokur, Price e Van Ryn (1989) desenvolveram um estudo experimental com

928 desempregados da cidade de Michigan, com representatividade de uma ampla gama de

66

características demográficas. Ressaltaram os autores que com a perda de trabalho há um

acréscimo de risco de empobrecimento da saúde mental, tais como aumento de risco de

depressão, de ocorrência de problemas psiquiátricos de ordem menor e outras conseqüências

negativas, além da ocorrência de diminuição da auto-estima e da satisfação com a vida. Essas

constatações levou-os a adotar um experimento que investigou os efeitos de um modelo de

intervenção social que influenciasse a motivação e a perícia para determinar um

comportamento de procura mais eficaz por trabalho. Esse experimento aliou técnicas para o

restabelecimento de confiança e auto-estima e o desenvolvimento de habilidades e motivação

para busca de uma melhor recolocação no trabalho. Todos os processos do experimento foram

conduzidos por treinadores experimentados nos assuntos que abordariam. Foram

acompanhados, longitudinalmente, dois grupos: um grupo experimental e um grupo de

controle com medidas específicas para avaliação do processo de intervenção do suporte

social, da motivação para procurar emprego, de comportamentos de procura de emprego e de

saúde mental. O alvo era prevenir a precariedade de saúde mental e perda de motivação além

de promover alta qualidade do novo emprego. Um pré-teste foi administrado seguido de pós-

testes de um a quatro meses depois do experimento. Os resultados mostraram que a condição

experimental rendeu recolocação de alta qualidade em termos de salário e de satisfação com o

trabalho e motivação mais alta entre aqueles que continuaram desempregados.

As habilidades sociais e o papel protetor do suporte social com relação ao estresse

foram pesquisados por Cohen, Clarck e Sherrod (1985) com uma amostra de 609 estudantes

universitários, dos quais foram selecionados 188 estudantes para pesquisa longitudinal sobre

os mesmos dados em 11 e 22 semanas após a primeira pesquisa. O estudo teve a finalidade de

responder a três questões. A primeira era se a percepção de disponibilidade de suporte social

protege as pessoas do estresse induzido pelo afeto depressivo. A segunda era saber se as

habilidades sociais medidas pela competência social, anseio social e auto-abertura seriam

responsáveis pelo efeito protetor da percepção de suporte social. A terceira questão era saber

se essas medidas de habilidades sociais seriam capazes de discriminar para quem o suporte

social poderia ajudar, para quem ele impediria a ajuda ou não produziria efeito em face do

estresse. As evidências de pesquisa apontaram para um papel protetor da percepção de

disponibilidade de suporte social com relação ao estresse. O efeito protetor com relação ao

estresse não se mostrou afetado por controles de influências das habilidades sociais. E

finalmente, as habilidades sociais não discriminaram para quem o suporte social poderia

ajudar, impedir a ajuda ou torná- lo sem efeito.

67

Por se tratar de um recurso de apoio que provem de outras pessoas a participação em

grupos religiosos pode estar associada ao suporte social. Ellison e Levin (1998) quanto a isso

afirmaram que vários pesquisadores propuseram que, independentemente de religião, certos

tipos ou modos de expressão religiosa particulares poderiam ser associados com determinados

construtos psicológicos e comportamentos. Esses modos de expressão religiosa estariam

relacionados à saúde de forma negativa e positiva. Assim sendo, os mecanismos de saúde

associados à religiosidade incluem a regulação dos estilos de vida individual e dos

comportamentos de saúde; a promoção de auto-percepção positiva; a provisão de recursos de

enfrentamento específicos; a geração de emoções positivas – amor e perdão; mecanismos

adicionais hipotéticos tais como a existência de uma bioenergia curadora; e a provisão de

recursos sociais – vínculos sociais e de suporte social formal e informal.

Destacaram Ellison e Levin (1998) que as comunidades religiosas por meio de

programas congregacionais freqüentemente oferecem vários tipos de suporte social, o tangível

ou instrumental (bens materiais e serviços) e a assistência sócio-emocional. Essa integração

social tem implicações sobre os resultados de saúde, sobre as percepções subjetivas de suporte

– satisfação com as relações suportivas e o fato de poder contar antecipadamente com o grupo

quando precisar podem ser preditores importantes dos riscos de mortalidade e da saúde mental

e física.

Nesse sentido, Salsmans, Brown, Brechting e Carlson (2005) elaboraram um estudo a

respeito dos vínculos entre religião e espiritualidade e ajuste psicológico e os respectivos

papeis mediadores do otimismo e do suporte social sobre esses vínculos. Afirmaram os

autores que apesar de que o otimismo, o suporte social, a religiosidade e a espiritualidade

serem importantes preditores do ajustamento considerando o estresse (distress) e satisfação

com a vida, são raros os estudos que levam em conta essas variáveis simultaneamente. Deste

modo, eles elaboraram um estudo que investigou se o otimismo e o suporte social mediavam

as relações entre religiosidade e ajustamento e entre espiritua lidade e ajustamento. Eles

encontraram dados que indicaram que as relações entre religiosidade intrínseca

(espiritualidade) e satisfação com a vida e entre o suprimento advindo da prece e a satisfação

com a vida eram mediadas pelo suporte social e pelo otimismo. Além disso, eles verificaram

que as relações entre religiosidade e ajustamento variaram dependendo de como a

religiosidade era operacionalizada e se os indicadores de ajuste positivo às situações em

contraste aos negativos eram usados. Os pesquisadores destacaram que a religiosidade

intrínseca (espiritualidade) e o suprimento pela prece associaram-se a um maior grau de

satisfação com a vida, mas a religiosidade extrínseca não se associou com a satisfação com a

68

vida. Ressaltaram que esses resultados foram significantes até mesmo depois de computar as

covariâncias em função de idade, gênero, grupo étnico e atratividade social. Afirmaram que

os dados sugerem que religiosidade e espiritualidade estão relacionadas, mas que

correspondem a construtos distintos e estão associados ao ajustamento através de fatores tais

como suporte social e otimismo.

1.6 VALORES DO TRABALHO

Os valores do trabalho são o produto de valores mais gerais aplicados ao mundo do

trabalho. Eles refletem a importância que as pessoas dão ao seu trabalho, e as respectivas

motivações. Como os valores do trabalho utilizados nesta pesquisa têm como base a teoria de

Shalom H. Schwartz, optou-se por apresentar uma explanação de seu modelo. Pelo fato de

que subjacentes aos valores que cada pessoa atribui ao trabalho estão os valores mais gerais e

que estes são o produto do contexto cultural discorre-se também sobre valores e cultura.

Além disso, para melhor compreensão do tema considerou-se importante também apresentar

três teorias psicológicas que levam em conta os valores e a motivação humana.

1.6.1 Valores e Cultura

O significado do termo valor está associado à importância estabelecida de antemão à

qualidade, ao mérito ou merecimento intrínseco de algo. A valores, entre outros, também está

associado o significado de normas, de princípios ou de padrões sociais aceitos por um

indivíduo, classe, sociedade, etc. (FERREIRA, 1975).

Quanto à significação de valores como normas ou padrões sociais, Heemann (2001)

afirmou que há duas correntes de pensamento que definem a natureza dos valores: uma

denominada de corrente da Objetividade que considera que existem valores em si mesmos,

representada por Platão, Kant, entre outros, e a corrente da Relatividade que considera que

existem seres que valoram, representada Nietch e outros. Na visão da Objetividade existem

valores essenciais básicos pré-existentes. A visão da Relatividade considera que na natureza

não há valores essenciais e que é necessário um referencial axiológico (referencial relativo ao

estudo ou teoria dos valores morais para defini- los). Salienta o autor que a corrente da

Objetividade, tem por objetivo, entre outros, tornar os valores pré-existentes ou básicos claros

e a corrente da Relatividade criar e assimilar valores segundo a cultura. Nesse sentido a

valoração tem duas esferas:

69

1. Corrente universalista – que corresponde a valores imutáveis essenciais ou

básicos, gerais e comuns a todos seres humanos, que dirigem as grandes linhas da

vida; está principalmente associada à idéia de busca do bem supremo ligado ao amor e

à felicidade.

2. Corrente relativista – que corresponde a valores mutáveis construídos para

regular as relações humanas e sociais e definir os comportamentos do dia a dia. Nessa

visão o bem e o mal, o certo e o errado são relativos e as motivações são construídas

associadas aos sentimentos e emoções do dia a dia, avaliadas por um tribunal interior.

A moral é um termo que indica o conjunto de regras e leis determinadas e colocadas

em prática por um grupo. A moral define os valores e a importância relativa entre os valores

culturais. A ética corresponde ao comportamento que envolve a escolha pessoal diante de um

tema moral. Na prática, segundo Heemann (2001) moral e ética se confundem. Assim, a

ciência ética se divide em duas partes:

1. A dimensão biológica que compreende algumas conjecturas filogenéticas

(evolução) sobre o senso moral e um esboço sobre os mecanismos neurais que estão

associados às percepções subjetivas que comumente são designadas como veredictos

da consciência. É um nível de estudo mais identificado com a psicobiologia.

2. Outra dimensão da moralidade que é ocupada pelas disciplinas

humanísticas, diz respeito ao conjunto de idéias, juízos de valor, normas e códigos que

resultam da vida social, mais ligada às ideologias.

Tamayo (2005) afirmou que há duas dimensões de classificação de valores: os básicos

ou gerais e os específicos. Os valores básicos ou gerais são conceitos abstratos subjacentes às

ações humanas que podem ser generalizados para várias áreas da vida e aplicados em

contextos específicos como, por exemplo, o mundo do trabalho. E valores específicos são

aqueles que são pertinentes a apenas contextos específicos tais como religião, família,

trabalho, educação; são valores que indicam o nível de análise e de expressão de uma pessoa

em determinada área. Segundo esse autor, a maioria dos autores concorda com a definição de

que os valores orientam e guiam a vida das pessoas. Considerou a influência dos valores sobre

o comportamento a partir de dois aspectos básicos determinantes do comportamento: 1) o

aspecto biológico; 2) e o aspecto cultural.

70

Quanto ao aspecto cultural Tamayo (2005) ressaltou que os valores culturais tem sido

objeto de numerosos estudos e nesse sentido, diversos modelos de análise têm sido propostos.

O modelo mais freqüentemente utilizado é o que considera o individualismo e o coletivismo

como prioridades a metas axiológicas, ou seja, que considera o individualismo e o coletivismo

como bases para o estudo da natureza, dos tipos e dos critérios de valores e de julgamentos de

valores de grupos e etnias específicas. Destacou que nas sociedades individualistas o senso de

si mesmo costuma ser autônomo, independente em busca da singularidade; o ponto de

referencia é o eu, por ex: o outro é diferente ou semelhante a mim; as pessoas determinam seu

comportamento segundo as necessidades pessoais; enfatizam análise e custo-beneficio dos

relacionamentos; tendem a atribuir a causa dos eventos a fatores internos e consideram o

lócus de controle a partir do seu interior. Nas sociedades coletivistas o senso de si mesmo é

relacional e interdependente; o ponto de referência é o grupo; as metas individuais devem ser

compatíveis com as metas do grupo; determinam seu comportamento segundo as normas, os

deveres e obrigações do grupo; enfatizam os relacionamentos e as necessidades dos outros;

tendem a atribuir as causas dos eventos a fatores externos e o lócus de controle é externo.

Hofstede (2002) afirmou que as pessoas são semelhantes em suas maneiras porque,

biologicamente, são da mesma espécie, mas, por outro lado, todas as pessoas são também

individualidades únicas e singulares no mundo. Considerou que todas as pessoas são seres

sociais e, nesse sentido, desde a infância precoce, elas se dedicam em como sobreviver num

mundo social. Isso requer habilidades de enfrentamento que dizem respeito a cinco questões

ou dimensões valorativas: 1) identidade; 2) hierarquia; 3) gênero; 4) verdade; e 5) virtude. A

maneira em que um grupo de pessoas resolve essas cinco questões é denominada de cultura.

Afirmou que o mundo da criança em cada cultura é sentido por meio de símbolos e heróis que

são fruto das manifestações culturais. Subjacentes a essas manifestações culturais, que

ocorrem desde cedo na infância, estão os valores da cultura que são transmitidos através das

gerações. Esses valores culturais de berço permitem que as pessoas se expressem de maneiras

similares nos contextos sociais tais como família, escola, trabalho e outros contextos. Deste

modo os valores culturais asseguram e definem os papeis para todas as idades, gêneros e

profissões nas diferentes instituições sociais. As cinco dimensões culturais valorativas,

segundo o autor, se apresentam em um continuum de pólos opostos. A dimensão identidade

tem num extremo o coletivismo e no outro o individualismo; a dimensão hierarquia tem num

extremo uma grande distância entre os papeis de poder e no outro uma pequena distância; a

dimensão gênero tem num extremo a feminilidade e no outro a masculinidade; a dimensão

verdade tem num extremo uma forte evitação à incerteza no outro extremo uma frágil

71

evitação à incerteza; a dimensão virtude num extremo tem uma orientação em longo prazo e

no outro extremo uma orientação de curto prazo.

Hofstede (2001) afirmou que entende os valores e a cultura como sendo o resultado de

programações mentais. Toda cultura pressupõe a existência de uma coletividade, mas os

valores podem estar associados a coletividades e a indivíduos. Ele define valores como uma

ampla tendência que as pessoas e coletividades têm de preferir uns estados afetivos sobre

outros. Pelo fato de que os valores são transmitidos na infância precocemente eles não têm um

caráter racional, mas eles determinam a definição subjetiva de racionalidade. Os valores tanto

individuais quanto culturais podem ser mutuamente relacionados de modo a formar sistemas

ou hierarquias, mas esses sistemas não precisam necessariamente estar harmonizados entre si.

Muitas pessoas mantêm vários valores conflitantes tais como liberdade e igualdade. Destacou

que o termo valores é usado em todas ciências sociais, antropologia, sociologia, economia,

política e psicologia com diferentes compreensões e ressaltou que o estudo de valores requer

uma certa quantidade de relativismo ou ao menos tolerância com os valores desviantes.

1.6.2 Valores e Motivação Humana

Diener, Suh, Lucas e Smith (1999) destacaram que as pessoas avaliam suas condições

de vida e dão significados a ela com base em valores estruturados a partir de suas experiências

atuais e do passado.

Frankl (2003) definiu que o ser humano é fundamentalmente estruturado para a

realização do sentido de sua vida. Esclareceu o autor que se o sentido da vida é a motivação

humana fundamental, então indagar sobre o sentido significa perguntar como o homem pode

numa situação concreta estabelecer uma tarefa também concreta que lhe faça sentido e que

esteja em consonância com seus valores pessoais. Para ele os valores individuais são

enquadrados em três categorias básicas:

• Valores criativos que se referem às motivações para realizar algo, como, por

exemplo, o trabalho que pode dar sentido à vida de alguém. Nessa categoria de valores não se

considera importante o que se faz, mas como se faz o que é feito.

• Valores vivenciais que se referem às motivações relativas àquelas experiências que

tornam a vida cheia de sentido tais como a arte, o contato com a natureza, a contemplação do

belo que produzem enriquecimento psicológico.

• Valores de atitude que são as motivações capazes de tornar plena de sentido a vida,

mesmo em situações em que há pobreza psíquica ou não há possibilidades de criatividade ou

72

de vivências de enriquecimento psicológico. Ocorrem em situações de sofrimento inevitável

em que se requer o contato com aqueles valores internos que fazem com que o homem não se

identifique com o sofrimento, mas distancie-se dele a fim de assumir uma atitude plena de

sentido.

Maslow (1943) definiu, com enfoque desenvolvimentista, uma hierarquia de

necessidades ou de impulsos básicos motivacionais universais, subjacentes à conduta humana,

voltados à manutenção e evolução da vida física, psicológica, social e de realização pessoal.

Essas necessidades motivadoras definem classes de valores e respectivos comportamentos

específicos. Deste modo, considerou que a humanidade possui motivações essenciais

hierarquizadas em termos de necessidades básicas. O autor destacou que a totalidade

integrada do organismo seria a pedra fundamental da teoria da motivação humana e que

existem vários meios, delineados pelas diversas culturas, para se atingir um mesmo alvo.

Portanto, consciência, especificidade, desejos locais e culturais não são tão fundamentais na

sua teoria de motivação quanto o são as necessidades mais básicas que são alvos

inconscientes e universais. Para ele qualquer comportamento motivado deve ser entendido

como um canal pelo qual muitas das necessidades básicas podem ser simultaneamente

expressas ou satisfeitas. Tipicamente uma ação tem mais do que uma motivação. Todos

estados do organismo são entendidos como motivados e ao mesmo tempo como motivadores.

Seus pontos de vista podem ser resumidos da seguinte maneira:

• As necessidades humanas se arranjam hierarquicamente em termos de potenciais

que habilitam o organismo a vários comportamentos.

• As necessidades não podem ser consideradas como se fossem isoladas ou discretas

e apresentam vários graus de satisfação e insatisfação que permitem ou não a execução de

comportamentos da classe motivadora hierarquicamente superior.

• A sua teoria de motivação está centrada no ser humano. Deste modo, as

necessidades motivadoras são apenas classes determinantes do comportamento, enquanto que

a forma do comportamento está relacionada ao contexto cultural e situacional.

• Considera que o comportamento humano é motivado por classes distintas de

necessidades básicas hierarquicamente organizadas, de maneira que quando uma classe é

relativamente satisfeita criam-se condições de satisfação das próximas classes subseqüentes

de necessidades.

73

• As classes motivadoras do comportamento em ordem hierárquica são: necessidades

fisiológicas relativas à manutenção da vida corporal; necessidades relativas à segurança e

pertencimento grupal; necessidades relativas ao amor e aos relacionamentos sociais;

necessidades relativas à estima e ao compartilhar; e necessidades relativas à auto-realização.

A partir de uma abordagem também desenvolvimentista, Beck e Cowan (1996)

apresentaram uma teoria motivacional em que as visões de mundo individuais e coletivas

corresponderiam a um sistema de valores, a um nível de existência psicológica, a uma

estrutura de crenças, a um princípio organizador, a uma forma de pensar ou um modo de

adaptação e de ajustamento.

Beck e Cowan (1996) destacaram que Clare W. Graves, logo no período após 2ª

guerra mundial, era Professor Emérito de Psicologia do Union College de Nova Yorque.

Nesse tempo, sob a influência de um período de produção de pensamento arrojado e

visionário para novas conquistas no conhecimento humano, ele escolheu procurar as razões

que estão subjacentes às perspectivas de mudanças da natureza do pensamento e das ações

humanas. Explorou porque as pessoas são diferentes, porque algumas mudam outras não,

além disso, sua pesquisa visou buscar as melhores formas de “navegar através das

emergentes (e freqüentemente caóticas) versões da existência humana”. Graves, segundo os

autores, propunha que a psicologia do ser humano maduro é um processo cíclico, emergente,

oscilante, representado em forma de espiral progressiva de sistemas de valores orientadores,

de comportamentos que evoluem em processo hierárquico de inclusão e transcendência uns

sobre os outros. Isto quer dizer que o pensamento humano desenvolve-se em “pacotes” que

podem ser distinguidos à medida que as pessoas tentam se colocar em um mundo que se torna

mais complexo. Essa complexidade do ambiente faz com que o ser humano viva, tome

decisões e sofra mudanças por meio de sistemas subjetivos de valores básicos e de sistemas

objetivos ambientais complexos. Destacaram os autores que a partir dos anos 60, Graves e

seus seguidores Beck e Cowan se dedicaram ao estudo deste tema e de suas aplicações

práticas. Seus pontos de vista podem ser assim resumidos:

• A natureza humana não tem caráter estático e nem finito. Ela se modifica à medida

que as condições de existência se transformam criando assim novos sistemas pessoais e

coletivos nas maneiras de dar significado e de agir no mundo.

• Essas maneiras de dar significado e de agir no mundo são baseadas em sistemas de

valores que estão em potencial nas mentes humanas, aguardando que as condições de vida

74

concretas os ative. Quando um novo sistema ou novo nível é ativado as pessoas modificam

sua psicologia e suas regras para se adaptarem às novas situações.

• Todos estão inseridos num sistema de valores potencialmente aberto com

possibilidades infinitas de modos de vida. Não existe uma possibilidade final que se possa

almejar.

• O indivíduo, as empresas, ou a sociedade inteira somente podem responder de

forma singular e adaptada aos apelos de cada nível de existência (condições de vida) que está

em vigor.

• Os níveis de existência são seqüenciais e evolutivos em um modelo representado

em forma de vórtice espiral ascendente, tanto no que diz respeito à evolução ontogenética

quanto à filogenética.

• Em cada nível de existência que estiver atuante haverá possibilidades de escolhas

individuais e coletivas.

• Tempos diferentes produzem mentes (valores) e ações diferentes.

Os níveis psicológicos de valores estão apresentados resumidamente a seguir. Eles são

numerados para indicar a seqüência hierárquica do desenvolvimento. No primeiro nível de

existência impera o instinto de sobrevivência e a motivação básica é permanecer vivo por

meio do equipamento sensório motor. No segundo nível impera a influência do grupo

(família, tribo) e a motivação básica é a necessidade de pertencimento por meio de

comportamentos e ritos que envolvem relações consanguíneas, as relações com os espíritos e

o misticismo num mundo mágico e assustador. No terceiro nível imperam os impulsos por

poder e por prazer imediatos, seus motivos básicos são a imposição do poder pessoal sobre os

outros e sobre a natureza por meio de exploração. No quarto nível impera o desejo de

conhecer a verdade e os motivos básicos são orientados pela crença absoluta num único

caminho correto de obediência à autoridade. No quinto nível impera o esforço focado e a

motivação básica é o enfoque na possibilidade de tornar as coisas melhores para o eu por

meio da melhoria de recursos materia is e científicos. No sexto nível imperam os vínculos

humanos e a motivação básica é a busca de bem estar das pessoas e a construção de consenso

social. No sétimo nível impera um pensamento sistêmico de fluxo flexível e a motivação

básica é a adaptação flexível à mudança por meio de visão sistêmica. No oitavo nível impera

o pensamento voltado para o mundo (visão global) e a motivação básica é a atenção à

75

dinâmica de toda terra e ações num nível macro. Destaca-se que os níveis 1º, 3º, 5º e 7º são

individualistas; os níveis 2º, 4º, 6º e 8º são coletivistas.

1.6.3 Os Valores Humanos Básicos Segundo Schwartz

Os valores individuais básicos correspondem aos significados e motivos que as

pessoas assumem para guiar suas vidas. Schwartz (2005) destacou que os valores humanos

básicos são critérios orientadores que os indivíduos distinguem e que são utilizados por eles

para avaliar ações, outras pessoas, a si mesmos e situações. Afirmou que sua teoria é uma

proposta unificadora para o campo da motivação humana, uma maneira de organizar as

diferentes necessidades, os diferentes motivos e objetivos propostos em outras teorias. Alegou

que sua teoria de valores descreve aspectos da estrutura abstrata psicológica dos indivíduos

que são fundamentais e comuns a toda humanidade, isto é, que todos indivíduos distinguem

independente da cultura a que pertençam.

Ros; Schwartz e Surkis (1999) afirmaram que a teoria de valores humanos trata das

motivações que todos indivíduos de todas as culturas têm subjacentes aos seus

comportamentos. Essa teoria, que se destaca como teoria dos valores individuais básicos,

especifica dez tipos motivacionais e a dinâmica de relacionamento entre esses tipos. Os tipos

motivacionais percorrem toda uma gama de valores que guiam as pessoas em várias situações

de modo a abranger uma ampla representatividade a partir de várias sociedades pesquisadas.

Essa teoria especifica quais valores são compatíveis entre si e que dão suporte uns aos outros

e quais são opostos e conflitantes. Destacam que o aspecto crucial que distingue os valores do

modelo de Schwartz entre si é o tipo de meta motivacional que eles expressam. Os diferentes

conteúdos dos valores foram descritos em função da ordem de enfrentamento às mudanças

inerentes à existência humana. Indivíduos e grupos traduzem suas necessidades e demandas

expressas em forma de valores. Quanto à natureza dos valores básicos e de seus conteúdos

Schwartz (2005) esclareceu:

• São crenças intrinsecamente ligadas à emoção. Quando são ativados, consciente ou

inconscientemente, fazem emergir sentimentos positivos ou negativos.

• Consistem de um construto motivacional, isto é, referem-se a objetivos desejáveis

que as pessoas se esforçam para obter. Ex. desejo de justiça, saúde, sucesso, etc.

76

• São objetivos abstratos que transcendem as situações; abrangem várias áreas e

permeiam ações específicas dessas áreas. Ex. obediência e honestidade são valores relativos

ao trabalho, escola, etc.

• São importantes para orientar as ações das pessoas porque guiam a seleção e

avaliação de ações e de políticas de pessoas e de grupos, isto é, servem de padrões ou critérios

éticos de avaliação.

• São ordenados hierarquicamente porque formam um sistema ordenado de

prioridades axiológicas que caracterizam as pessoas como indivíduos distinguindo-os quanto

às normas e atitudes que tomam.

Ros; Schwartz e Surkis (1999) e Schwartz (2005) destacaram que os valores

representam, em forma de metas conscientes, respostas a três exigências universais que todos

os indivíduos e sociedades devem enfrentar: 1) necessidades como organismos biológicos; 2)

requisitos de interação social coordenada; e 3) requisitos para a sobrevivência e bem estar dos

grupos sociais.

Ressaltou Schwartz (2005) que os indivíduos não podem lidar com esses três

requisitos da existência humana de forma bem sucedida sozinhos. Em vez disso, em todos os

grupos, as pessoas tem de articular objetivos apropriados e para lidarem com eles precisam se

comunicar e ganhar cooperação para sua realização. Assim, os valores são conceitos

socialmente desejados usados para representar esses objetivos mentalmente e por meio do

vocabulário e linguagem na interação social. A sua teoria de valores especifica dez tipos

motivacionais que os indivíduos distinguem:

1. Autodeterminação

i. Objetivo que o define: ação e pensamento independente e curioso –

escolher os próprios objetivos, pesquisar, exercer criatividade e liberdade.

ii. É derivado de necessidades orgânicas por controle e dominância e de

requisitos interacionais de autonomia e independência.

iii. Objetivo motivacional deste e de outros tipos: auto-respeito; inteligente;

privacidade.

2. Estimulação

i. Objetivo que o define: excitação, novidade, desafio na vida, ousadia. Uma

vida variada e excitante.

77

ii. É derivado de necessidades orgânicas relativas a variedade e estimulação

para manter um nível de ativação ótimo e positivo em vez de ameaçador.

3. Hedonismo

i. Objetivo que o define: prazer ou gratificação sensual, auto- indulgência.

ii. É derivado de necessidades orgânicas e do prazer associado à sua

satisfação.

4. Realização

i. Objetivo que o define: sucesso pessoal por meio de demonstração de

competência de acordo com os padrões sociais - ambicioso e bem-

sucedido, auto-estima social, capaz, influente.

ii. É derivado de necessidades de sobrevivência individual e para que grupos

atinjam seus objetivos.

iii. Objetivo motivacional deste e de outros tipos: inteligente, auto-respeito,

reconhecimento social.

5. Poder

i. Objetivo que o define: status social e prestígio, controle ou domínio sobre

pessoas e recursos - autoridade e saúde, auto-estima social, poder social.

ii. É derivado de necessidades de funcionamento das instituições e das

necessidades individuais de dominação/submissão.

iii. Objetivo motivacional de outros tipos: preservar a imagem pública pessoal

e reconhecimento social.

6. Segurança

i. Objetivo que o define: segurança, harmonia e estabilidade da sociedade,

dos relacionamentos e de si mesmo - higiene, saúde, ordem, família,

segurança nacional, reciprocidade de favores.

ii. É derivado de necessidades de sobrevivência individual e grupal

iii. Objetivo motivacional deste e de outros tipos: senso de pertencer

7. Conformidade

i. Objetivo que o define: restrição de ações, de inclinações e de impulsos que

tendam a incomodar ou prejudicar os outros e que violem expectativas ou

normas sociais. Enfatizam a auto-restrição na interação cotidiana

geralmente com outros próximos - obediente, auto-disciplinado, polidez,

respeito para com os pais e idosos.

78

ii. É derivado de requisitos de manutenção da interação e do funcionamento

dos grupos sociais.

iii. Objetivo motivacional deste e de outros tipos: promover relações sociais

cooperativas e suportivas (a fim de evitar resultados negativos), leal e

responsável.

8. Tradição

i. Objetivo que o define: respeito, compromisso e aceitação dos costumes e

idéias que a cultura ou a religião fornece. Desenvolvem práticas, símbolos,

idéias e crenças que representam experiências e rumos compartilhados.

ii. É derivado de necessidades de simbolizar a solidariedade do grupo e de

expressá- la a fim de contribuir para sua sobrevivência.

iii. Objetivo motivacional deste e de outros tipos: vida espiritual.

9. Benevolência

i. Objetivo que o define: preservar e fortalecer o bem estar daqueles cujo

contato é mais próximo.

ii. É derivado dos requisitos básicos para o funcionamento do grupo e de

necessidades orgânicas de afiliação - prestativo, honesto, piedoso,

responsável, leal, amizade verdadeira, amor maduro.

iii. Objetivo motivacional deste e de outros tipos: promover relações sociais

cooperativas e suportivas (a partir de uma atitude interiorizada). Senso de

pertencer, sentido da vida, vida espiritual.

10. Universalismo

i. Objetivo que o define: compreensão, agradecimento, tolerância e proteção

do bem estar de todas pessoas e da natureza. Combina dois subtipos de

preocupações: 1) com o bem estar da sociedade como um todo e do mundo

e 2) com a natureza. Mente aberta, justiça social, igualdade, um mundo de

paz, mundo de beleza, unidade com a natureza, sabedoria, proteção ao

meio ambiente.

ii. É derivado de necessidades de sobrevivência dos grupos e de indivíduos.

Têm a percepção de que a não aceitação e o tratamento injusto do diferente

levam a conflitos que ameaçam a vida. Percepção da escassez dos recursos

naturais.

iii. Objetivo motivacional deste e de outros tipos: harmonia interior e uma vida

espiritual.

79

A espiritualidade segundo Schwartz (2005) é um valor que permeia todos os tipos de

valores, porque a maioria das pessoas pode satisfazer a necessidade de significado e de

coerência de diversas maneiras, por exemplo, por meio dos valores de universalismo, de

tradição e de segurança.

Afirmou Schwartz (2005) que há uma estrutura de relações entre os valores

mencionados. Essa estrutura deriva do fato de que as ações para a busca de qualquer valor têm

conseqüências que podem conflitar ou ser congruente com a busca de outros valores. Ações

que expressam valores têm conseqüências práticas, fisiológicas e sociais. Por exemplo, no

domínio prático, o uso drogas em um culto ritualístico pode contrariar os valores do tipo

motivacional tradição e, em decorrência disso, resultar em sansões sociais. Destaca-se

também que as pessoas podem buscar valores antagônicos, mas não na mesma ação.

Ros; Schwartz e Surkis (1999) afirmaram que a identificação das relações entre os

valores básicos individuais tem como fundamento a suposição de que ações tomadas em

busca de um tipo de valor traz conseqüências psicológicas, práticas e sociais que podem ser

compatíveis ou podem conflitar com a busca de outros tipos de valores. Como exemplo,

destacaram os autores que a busca por valores de realização freqüentemente conflitam com a

busca por valores de benevolência, isto é, a procura pessoal por sucesso provavelmente

obstrui algumas ações almejadas para crescimento e bem estar de pessoas próximas que

necessitam do suporte para viver. A busca por valores de tradição conflita com a busca por

valores de estimulação; por exemplo: necessidades de aceitação social, costumes religiosos e

ancestrais inibem a procura por novidades, desafios e excitação. Por outro lado, a busca por

valores de benevolência é compatível com valores de conformidade porque ambos requerem

maneiras de agir que são aprovadas pelo grupo. A busca por segurança e poder também

podem ser compatíveis porque ambas evitam as tensões causadas pela incerteza que resulta da

falta de controle sobre recursos e relacionamentos. Assim Schwartz (2005) ressaltou que os

dez tipos motivacionais formam um continuum de motivações relacionadas em 12

combinações:

1. Poder e realização – superioridade social e auto-estima. 2. Realização e hedonismo – satisfação centrada no indivíduo. 3. Hedonismo e estimulação – desejo por excitação efetivamente agradável. 4. Estimulação e autodeterminação – interesse intrínseco em novidade e domínio. 5. Autodeterminação e universalismo – confiança no próprio julgamento e conforto com a diversidade da existência.

80

6. Universalismo e benevolência – promoção de outros e transcendência de interesses egoístas. 7. Benevolência e conformidade – comportamento normativo que promove relacionamentos íntimos. 8. Benevolência e tradição – devoção ao grupo primário. 9. Conformidade e tradição – subordinação do indivíduo em favor de expectativas socialmente impostas. 10. Tradição e segurança – preservação de arranjos sociais existentes que dão segurança à vida. 11. Conformidade e segurança – proteção da ordem e da harmonia nas relações. 12. Segurança e poder – evitação e superação de ameaças, controle de relacionamentos e recursos. A figura 1 apresentada por Ros; Schwartz e Surkis (1999) mostra o esquema estrutural

do modelo de valores de Schwartz para a situação teorizada, de modo que os valores mais

próximos são compatíveis entre si e os mais distantes conflitantes. Também apresenta uma

agregação dos dez tipos motivacionais em quatro tipos maiores: abertura à mudança;

autotranscendência; autopromoção; e conservação.

Figura 1- Estrutura de Relações Entre Tipos de Valores Individuais Básicos Fonte: Ros; Schwartz e Surkis (1999)

Poder Segurança

Conformidade

Tradição

Benevolência

Universalismo Autodeterminação

Estimulação

Hedonismo

Realização

Valores de Autopromoção

Valores de Conservação

Valores de Autotranscendência

Valores de Abertura à Mudança

81

O quadro 5 apresenta uma comparação dos conteúdos dos valores de Schwartz com os

conteúdos de valores propostos pela Dinâmica da Espiral, por Maslow e por Frank l.

Quadro 5 Semelhança Entre Valores de Schwartz, Valores Definidos na Dinâmica da Espiral e Valores

Definidos por Maslow e por Frank l Schwartz Dinâmica da Espiral Maslow Frankl

Autodeterminação 7º Auto-realização Criativos

Estimulação 5º Auto-realização Criativos e vivenciais

Hedonismo 1º e 3º Necessidades físicas Vivenciais

Realização 5º Auto-realização Criativos

Poder 3º e 5º Social Atitudes e criativos

Segurança 2º Segurança Atitudes

Conformidade 4º Social Atitudes

Tradição 2º e 4º Social Atitudes

Benevolência 6º Estima Atitudes e criativos

Universalismo 8º Auto-realização Atitudes e criativos

1.6.4 Valores do Trabalho e Valores Culturais

Além da teoria dos valores humanos individuais básicos que as pessoas se utilizam

para orientar suas vidas, Schwartz (1999) estudou os tipos de valores pelos quais as várias

culturas podem ser comparadas umas com as outras e como esses valores repercutem sobre o

trabalho. Essa teoria de valores culturais foi validada com dados de 49 nações. A partir dessa

pesquisa foram encontrados sete tipos de valores estruturados em três dimensões polares: 1)

Conservação X Autonomia Intelectual e Autonomia Afetiva; 2) Hierarquia X Igualitarismo; e

3) Maestria X Harmonia. Baseados em suas prioridades de valores culturais as nações

revelam diferentes grupos de significados nacionais que repercutem diferentemente, entre

outros, sobre os significados do trabalho. Ressaltou o autor que a fim de estimular pesquisas

sobre as relações entre valores culturais e trabalho desenvolveram-se hipóteses a respeito da

ênfase dos valores culturais que são especialmente compatíveis ou que conflitam com a

centralidade do trabalho, com as diferentes normas sociais a respeito do trabalho e com a

busca por tipos de valores do trabalho específicos. O autor definiu que os valores culturais são

concepções daquilo que é desejável e que guiam as maneiras como os atores sociais (líderes,

82

planejadores, grupos) selecionam e explicam suas ações e avaliações sobre pessoas e eventos

sociais.

Os valores culturais representam implicitamente ou explicitamente uma divisão

abstrata de idéias a respeito do que é bom, certo e desejável numa sociedade. Esses valores

tais como liberdade, prosperidade, segurança, etc., são as bases para especificar normas

sociais que revelam às pessoas o que é apropriado em várias situações, bem como especificam

os modos como as instituições sociais (familiar, educacional, econômica, etc) funcionam; as

metas e os modos de operação das instituições expressam as prioridades de valores culturais.

Por exemplo, em sociedades em que os valores individuais são importantes, as instituições são

organizadas para serem competitivas; nas sociedades com ênfase grupal as instituições são

organizadas em torno de uma economia cooperativa e de sistemas legais mediadores.

Constatou-se que o trabalho é vivenciado como um fato central para a vida das pessoas, mais

nas sociedades em que maestria e a hierarquia são tidas como importantes, e consideradas

menos importantes nas sociedades que valorizam mais a autonomia afetiva, o igualitarismo, a

harmonia e o conservadorismo como valores mais prioritários. Assim, em algumas sociedades

o mundo do trabalho é guiado por valores relativos à maestria tais como assertividade,

controle e atividades exploratórias. Nessas culturas os valores de hierarquia dividem com os

de maestria a legitimação de alocação de papeis e de recursos e isso justifica ações para

aumentar o poder e a prosperidade de algumas pessoas dentro do sistema institucional. A

cultura que enfatiza os valores de hierarquia encoraja as pessoas a devotarem-se ao mundo do

trabalho para que alcancem metas relativas ao poder e prosperidade. Nessas sociedades os

valores conflitantes com a centralidade do trabalho são derivados, por exemplo, da busca pela

autonomia afetiva e pelo bem da comunidade que são seguidos por valores de igualitarismo,

devoção à família e religião, todos mais voltados para as culturas coletivistas. Valores de

harmonia opõem-se conceitualmente e empiricamente aos valores de maestria (SCHWARTZ,

1999).

1.6.5 Valores Básicos Individuais do Trabalho

Valores básicos individuais correspondem aos significados e motivos que as pessoas,

inseridas numa determinada cultura, individualmente assumem para guiar suas vidas. Valores

do trabalho, nesse sentido, são expressões específicas dos valores individuais gerais no

contexto do trabalho. Ros; Schwartz e Surkis (1999) apresentaram um estudo sobre valores

individuais básicos e valores e significado do trabalho. Utilizaram a teoria de valores

83

individuais básicos para gerar e testar hipóteses a respeito dos diferentes tipos de valores do

trabalho. Os autores realizaram dois estudos, um com 999 pessoas em Israel a fim de analisar

as relações entre valores básicos e valores do trabalho e outro com 193 professores e 173

estudantes de educação a fim de estudar o significado e importância do trabalho. Esses

estudos levaram em conta que os valores do trabalho são crenças relativas aos estados ou

comportamentos desejados no contexto do trabalho e que as diferentes metas de trabalho são

ordenadas segundo sua importância como princípios orientadores da avaliação de resultados e

de escolhas alternativas de trabalho. Apesar de serem mais específicos do que os valores

individuais básicos, os valores do trabalho ainda assim consistem de conteúdos amplos,

porque se referem aos resultados que as pessoas desejam e às interações com indivíduos e

grupos, bem como influenciam as escolhas ocupacionais.

O enfoque de que valores do trabalho são expressões específicas de valores individuais

básicos implica em que há quatro tipos gerais de valores do trabalho paralelos aos qua tro tipos

motivacionais associados em dois pólos: abertura à mudança X conservação e

autotranscendência X autopromoção. Ros; Schwartz e Surkis (1999), em seu estudo, levaram

em conta quatro tipos motivacionais do trabalho: 1) valores intrínsecos ou de autoatualização;

2) valores extrínsecos ou de segurança e materiais; 3) valores sociais ou relacionais; 4)

valores de prestígio e de poder.

Os valores do trabalho intrínsecos expressam motivações relativas à abertura à

mudança tais como autonomia, interesse, crescimento e criatividade. Os valores extrínsecos

expressam valores de conservação tais como segurança geral e manutenção da ordem da vida

pelo trabalho. Valores sociais expressam motivações interpessoais relacionados a

autotranscendência porque o trabalho é visto como um meio para estabelecer relacionamentos

e para contribuição à sociedade. Os valores de prestigio e poder estão associados aos valores

básicos de autopromoção.

Os resultados do primeiro estudo mencionado confirmaram que as motivações

pessoais sobre o trabalho são estruturadas de forma semelhante aos valores individuais

básicos e se apresentam em quatro tipos de valores: intrínseco; extrínseco, social e de

prestigio. O segundo estudo demonstrou que para os professores o trabalho tem o significado

de servir ao alcance de estabilidade social e estabelecimento de relações sociais; para os

estudantes de educação o trabalho está associado com esses dois significados e com metas

relativas a interesses de promoção social, independência e estímulo (ROS; SCHWARTZ;

SURKIS,1999). Além disso, os autores destacaram que os estudos elaborados por eles

sugerem um modo para distinguir valores específicos do trabalho que podem ser encontrados

84

em muitas culturas e que há uma estrutura dinâmica de relações de compatibilidade e de

oposição entre diferentes tipos de valores do trabalho.

No Brasil, na mesma linha de Ros; Schwartz e Surkis (1999) o estudo e a validação de

valores do trabalho foi desenvolvido por Porto e Tamayo (2003).

Segundo Porto (2005) as medidas de valores ocorrem por meio de perguntas que se

fazem às pessoas sobre os motivos subjacentes à sua conduta ou por meio de questionários

que apresentam uma lista de valores para serem avaliados ou classificados. A preferência por

questionários estruturados na psicologia baseia-se na premissa de que as pessoas são a melhor

fonte de informações sobre elas mesmas e que dados obtidos desta maneira permitem a

comparação entre indivíduos ou grupos o que possibilita a realização de estudos comparativos

entre vários grupos de várias culturas. Quanto ao sistema de valores afirmou que consiste de

uma estrutura cognitiva, carregada de afeto que contem um número finito de tipos

motivacionais e que os tipos motivacionais são compostos por agrupamentos de valores.

Afirmou que os valores podem variar segundo o lugar e cultura, todavia destaca que eles se

agregam, em qualquer lugar, em tipos motivacionais que compõem uma estrutura de valores

universal. Desta forma, as pesquisas buscam mensurar a prioridade axiológica de indivíduos

ou grupos e não os seus valores em si. A autora destacou que a prioridade axiológica é uma

hierarquia que diz respeito ao fato das pessoas ou grupos se diferenciarem pela importância

relativa dada a cada tipo motivacional. Essa hierarquização consiste da prioridade axiológica

individual ou grupal.

Porto (2005) afirmou que as pessoas apresentam uma estrutura ampla e inclusiva de

valores que exerce uma função motivacional importante que está relacionada com aspectos

fundamentais de suas vidas. Para cada aspecto da vida, tais como religião, esportes, política,

trabalho, as pessoas apresentam uma estrutura de valores específica que está relacionada com

a estrutura mais abrangente. Destacou entre outros os trabalhos de Schwartz (1999) e de Ros;

Schwartz e Surkis, (1999) retro-mencionados que mostram uma abordagem do conceito de

valores de maneira ampla e abstrata e que podem contudo, serem expressos em contextos

específicos.

Porto e Tamayo (2008) afirmaram que o trabalho tem uma importância de destaque na

identidade social das pessoas e, além disso, consiste de importante recurso para realização de

metas individuais. Ressaltaram que a busca por trabalho reflete a busca por metas pessoais.

Nesse sentido, Porto (2005) afirmou que valores do trabalho consistem de crenças que

as pessoas têm sobre metas ou recompensas desejáveis, organizadas hierarquicamente, que

guiam as suas avaliações sobre o seu comportamento e resultados no trabalho.

85

Porto e Tamayo (2008) destacaram que os valores do trabalho apresentam

características cognitivas, motivacional e hierárquica. O caráter cognitivo diz respeito ao

conjunto de crenças que as pessoas têm a respeito do trabalho. O caráter motivacional diz

respeito aos desejos que elas têm quanto ao trabalho. E o caráter hierárquico diz respeito a que

as pessoas organizam suas metas e desejos quanto ao trabalho segundo o grau de importância

pessoal. São considerados como valores intrínsecos àqueles referentes às metas e conteúdo do

trabalho; valores extrínsecos aqueles referentes às metas obtidas por meio dos resultados do

trabalho; valores de caráter social são aqueles referentes à procura de metas relacionais; e os

valores de prestigio são aqueles referentes à procura por poder por meio do trabalho.

Com base nessa estrutura Porto e Tamayo (2003) desenvolveram uma escala de

valores do trabalho. Para a construção dessa escala eles realizaram entrevistas e aplicaram

questionários com perguntas abertas com trabalhadores e utilizaram levantamentos que

encontraram na literatura. Após a análise de juizes e validação semântica, a análise fatorial

apontou para quatro dimensões. Em face disso resultou o questionário que possibilita

pesquisar quatro dimensões de valores do trabalho: 1) realização no trabalho: procura por

prazer, estimulação e independência de pensamento e ação no trabalho; 2) relações sociais:

referente à busca por relacionamentos positivos e à contribuição para a sociedade pelo

trabalho; 3) prestígio: referente a exercer influência sobre outros e ao sucesso no trabalho; 4)

estabilidade: referente à segurança e estabilidade financeira pelo trabalho. O quadro 6

apresenta os tipos de valores, tipos motivacionais e as respectivas motivações e valores

básicos correspondentes.

Quadro 6 Tipos de Valores do Trabalho, Tipos Motivacionais e Respectivas Correspondências

Motivacionais com os Valores Básicos de Schwartz Valores do

trabalho Tipos motivacionais Motivações Valore Básicos de Schwartz

Realização Intrínsecos (auto-atualização) Abertura à mudança Hedonismo, estímulo, autodeterminação.

Relações sociais Relacionais Autotranscendência Universalismo, benevolência

Prestígio Exercício do poder Autopromoção Hedonismo, realização e poder

Estabilidade Extrínsecos ou de segurança Conservação Conformidade, tradição e poder

86

A figura 2 apresenta o esquema de correspondências de valores descritas no quadro 6.

Figura 2 - Estrutura de Relações Entre Valores Individuais Básicos e Valores do Trabalho

Do quadro 6 e da Figura 2 ressaltam as relações previstas de afinidade e de conflito

entre os valores do trabalho a seguir descrito:

• Valores do trabalho de prestígio e de relações sociais igualmente colaboram

para a busca de metas de valores de realização no trabalho e de estabilidade,

mas conflitam entre si quanto à maneira de cooperar. Enquanto valores do

trabalho de prestígio cooperam por meio de valores de poder e hedonismo,

valores do trabalho de relações sociais cooperam por meio de valores de

universalismo e de benevolênc ia.

Poder Segurança

Conformidade

Tradição

Benevolência

Universalismo Autodeterminação Criatividade e crescimento

Estimulação

Hedonismo

Realização de sucesso pessoal

Valores de Autopromoção Valores do Trabalho de Prestígio

Valores de Conservação Valores do Trabalho de Estabilidade

Valores de Autotranscendência Valores do Trabalho de Relações Sociais

Valores de Abertura à Mudança Valores de Realização no Trabalho

87

• Valores de realização no trabalho e de estabilidade ambos cooperam com as

metas de trabalho associadas a prestígio e metas de trabalho associadas a

relações sociais, mas conflitam entre si quanto à maneira de cooperar.

Enquanto valores do trabalho de realização cooperam por meio do hedonismo

e da autodeterminação, valores do trabalho de estabilidade cooperam por meio

da segurança, conformidade e tradição.

1.7 OBJETIVOS DA PESQUISA

Este estudo tem como objetivo geral verificar a capacidade preditiva de otimismo,

suporte social e valores do trabalho sobre bem estar subjetivo.

E como objetivos específicos:

• Descrever os níveis de otimismo, das dimensões de suporte social (emocional e

prático), de valores do trabalho (realização no trabalho, relações sociais, prestígio e

estabilidade) e de bem estar subjetivo (satisfação geral com a vida, afetos positivos,

afetos negativos).

• Analisar as relações entre variáveis demográficas e otimismo, suporte social, valores

do trabalho e bem estar subjetivo.

• Analisar as relações entre otimismo, suporte social, valores do trabalho e bem estar

subjetivo.

• Investigar os índices de variância de bem estar subjetivo explicados por otimismo,

suporte social e valores do trabalho.

A figura 3 apresenta o esquema conceitual assumido de predição dos níveis de bem

estar subjetivo. Ressalta-se que as setas unidirecionais partindo de otimismo, de suporte social

e de valores do trabalho em direção ao bem estar subjetivo representam esquemas de predição

por meio de cálculo de variância explicada.

88

Figura 3 - Esquema Conceitual Hipotético de Antecedentes de Bem Estar Subjetivo

OTIMISMO

SUPORTE SOCIAL

• Emocional • Prático:

informacional e instrumental

VALORES DO TRABALHO

• Realização • Relações Sociais • Prestígio • Estabilidade

BEM ESTAR SUBJETIVO

• Satisfação com a Vida • Afetos Positivos • Afetos Negativos

89

2. MÉTODO

2.1 DADOS DOS PARTICIPANTES

A maioria dos participantes é do sexo feminino (68,20%), trabalha em atividades

profissiona is (60,20%) e não estuda (56,80%). A idade média dos participantes é de 41,00

anos (DP=10,72), distribuída da seguinte forma: 16,30% com idade entre 16 a 30 anos;

36,10% entre 31 a 40 anos; 27,20% de 41 a 50 anos; e 20,40% mais que 50 anos. Quanto ao

estado civil dos participantes, 41,20% são solteiros, 34,50% casados e 21,60% apresentam

outros tipos de vínculo. 48% dos participantes realizam trabalho voluntário, 48% não

realizam. Quanto à escolaridade, a instituição informou que 2% dos participantes têm grau de

instrução nível fundamental, 42% nível médio, 44% nível superior e 12% pós-graduação. A

tabela 1 a seguir apresenta esses dados.

Tabela 1

Dados dos participantes (n=148) Variáveis Nível Freqüência Porcentagem Média Desvio padrão

Feminino 101 68,20 Gênero Masculino 47 31,80

Idade - - - 41,00 10,72 16 a 30 23 16,30 31 – 40 53 36,10 41 – 50 41 27,20

Faixa etária (anos)

> 51 30 20,40 Solteiro 61 41,20 Casado 51 34,50

Estado civil

Outros 32 21,60 S/informação 4 2,70

Fundamental 3 2,00 Médio 62 42,00 Superior 65 44,00

Escolaridade

Pós-graduação 18 12,00

Sim 89 60,20 Não 56 37,80

Trabalha

S/informação 3 2,00

Sim 60 40,50 Estuda Não 84 56,80

S/informação 4 2,70

Sim 71 48,00 Não 71 48,00

Trabalho voluntário

S/informação 6 4,00

90

Quanto às profissões, os participantes declararam que trabalham em atividades

referentes às áreas administrativa, financeira e de recursos humanos; à área de educação; à

área de vendas; à área de saúde; à área de advocacia e a outras áreas de atividades diversas.

As profissões relacionadas a áreas administrativa, financeira e de recursos humanos

foram: administrador de empresa, empresário, secretária, assistente administrativo, auxiliar

administrativo, recepcionista, supervisor de serviços, supervisor de importação e exportação,

contador, encarregado financeiro, consultor executivo de negócios, economista, gestor de

recursos humanos e assistente de recursos humanos (20,27%). As profissões referentes à

educação foram: educador, pedagogo, professor (8,11%). As profissões referentes a vendas

foram: comerciante, vendedor, promoção de vendas, consultoria de vendas, gerente de loja,

teleoperador, corretor de seguros (16,11%). As profissões referentes a área da saúde foram:

enfermeira, instrumentadora cirúrgica, atendente hospitalar, nutricionista, psicólogo,

assistente social, fisioterapeuta, farmacêutica, fonoaudióloga, podóloga e massoterapeuta

(14,19%); as profissões referentes a advocacia foram: oficial de justiça, bacharel em direito e

advogada (4,05%). As outras atividades relatadas foram: aposentado, do lar, segurança,

arquiteto, atriz, bancário, cabeleireira, músico, eletricista, designer gráfico, engenheiro e

engenheiro mecânico, publicitário, químico, funcionário público, jornalista, modelista de

roupas, manicure, motorista, mecânico, e técnico em eletrônica, técnico em informática,

turismo e hotelaria e veterinária (22,97%). 14,30% não declararam alguma profissão.

Quanto aos cursos que as pessoas estavam realizando no momento da pesquisa

observou-se que há estudantes do ensino médio, do ensino superior em tecnologia de

telecomunicações, bem como cursos relativos à tecnologia, cursos de inglês, italiano, japonês,

psicologia, psicodrama, publicidade e propaganda, pedagogia, complementação pedagógica,

direito, pós graduação, pós graduação em homeopatia, musicoterapia, faculdade de 3ª idade,

mestrado, pós graduação em dificuldades de aprendizagem, níveis de consciência,

constelações familiares, curso preparatório para concurso público, curso de música, para se

formar cabeleireira, curso de aperfeiçoamento em massagem, teatro e cursos diversos

relacionados religião.

2.2 LOCAL

A pesquisa ocorreu em instituição beneficente – Arautos do Espiritismo – situada à

rua Fernandes Pinheiro, 298, no Bairro do Tatuapé, São Paulo. Arautos do Espiritismo é uma

Sociedade Civil sem fins lucrativos, que realiza, entre outros, trabalhos de apoio emocional e

91

informacional à comunidade. Às terças feiras, das 20 às 22 horas, oferecem-se apoio

informacional e emocional a trabalhadores desempregados ou em transição profissional. Esse

programa de apoio social tem por principal finalidade oferecer gratuitamente instrumentos

para que as pessoas encontrem suas vocações e realizem seu propósito de vida profissional

por meio de palestras, técnicas terapêuticas e aconselhamento grupal e individual. As

palestras e técnicas oferecidas, em grupo e individualmente, versam sobre temas tais como

valores, propósito do trabalho e sentido de vida, relacionamentos e emoções, realização e

planejamento profissional e financeiro, orientação sobre currículos, sistemas de equipes de

trabalho, etc. Freqüentam esses trabalhos pessoas desempregadas; com negócio próprio em

dificuldades; com problemas relacionais no trabalho; descontentes com as condições

profissionais ou com a profissão; falta de sentido e de perspectivas futuras profissionais para

lançarem-se no mercado de trabalho de maneira mais promissora; apresentando crenças

negativas quanto ao valor do trabalho. As reuniões acontecem de duas maneiras simultâneas:

orientação individual e orientação em grupo. Todas as pessoas que proporcionam essas

orientações trabalham na instituição como voluntários não remunerados. São profissionais

especializados em psicoterapia, consultoria, aconselhamento e treinamento em recursos

humanos e organizacionais.

A instituição dispõe de uma sala de palestras e trabalhos em grupo com capacidade

para 150 pessoas sentadas e mais duas salas para orientação individual, bem como biblioteca,

copa e instalações sanitárias. A pesquisa foi realizada na sala de palestras.

2.3 INSTRUMENTOS

Foi utilizado na coleta de dados um questionário de autopreenchimento composto por

medidas que aferirão as variáveis do estudo mencionadas, além de levantamento de alguns

dados demográficos dos participantes, ver anexo A. As medidas foram:

1. Escala de bem estar subjetivo em que a pessoa procede a uma auto-avaliação

quanto a intensidade dos afetos negativos e positivos e da satisfação geral com a vida.

i. Escala de Afetos Positivos e Negativos (EAPN) – Escala construída e validada

por Siqueira, Martins e Moura (1999) composta por 14 itens distribuídos em

dois fatores: seis itens para afetos positivos (a =0,87) e oito itens para afetos

negativos (a = 0,88). A intensidade dos afetos negativos e positivos é medida

em escala de cinco intensidades de avaliação: 1=nada,2= pouco,3=mais ou

menos, 4=muito e 5=extremamente.

92

ii. Escala de Satisfação Geral com a Vida (ESGV) - Medida construída e validada

por Siqueira, Gomide Jr e Freire (1996) é composta por 15 itens (a = 0,84). A

intensidade da satisfação geral com a vida é medida em escala de cinco

intensidades de avaliação: 1= muito insatisfeito, 2= insatisfeito, 3=nem

insatisfeito nem satisfeito, 4= satisfeito e 5= muito satisfeito.

2. Escala de percepção de suporte social - Medida construída e validada por Siqueira

(2008) para formar a dimensão de suporte prático (19 itens e α=0,91) e a dimensão de

suporte emocional (10 itens e α=0,92). É uma escala com quatro intensidades de

avaliação variando de 1=nunca, 2=poucas vezes, 3=muitas vezes e 4=sempre.

3. Escala de otimismo - Medida construída e validada por Siqueira, Gomide Jr. e

Freire (1996), composta por oito itens (α=0,70). É uma escala com oito questões de

avaliação que varia em cinco intensidades: 1= discordo totalmente, 2 = discordo, 3=

nem concordo nem discordo, 4= concordo, e 5 = concordo totalmente.

4. Escala de valores do trabalho - Com 45 questões em que a pessoa procederá a uma

auto-avaliação quanto aos motivos que a levam a trabalhar. Construída e validada por

Porto e Tamayo (2003) com quatro dimensões: 15 itens para realização no trabalho

(α=0,88); 12 itens para relações sociais (α=0,88); 11 itens para prestígio (α=0,87) e

sete itens para estabilidade (α=0,81). A escala tem cinco intensidades de avaliação:

1=nada importante, 2=pouco importante, 3=importante, 4=muito importante e

5=extremamente importante.

Dados demográficos dos participantes: idade; sexo; estado civil; profissão; se trabalha

atualmente; ocupação atual; se estuda atualmente; que curso faz; se realiza trabalho

voluntário; período de permanência no programa de apoio de orientação profissional e que

tipos de orientação recebeu do programa até a data da pesquisa.

2.4. PROCEDIMENTOS

A pesquisadora forneceu canetas e os questionários, bem como pranche tas para apoio.

Os questionários de pesquisa foram entregues pela pesquisadora no início das reuniões

da instituição e preenchidos pelos próprios participantes. Aos participantes também foi

fornecida uma carta explicando os objetivos estritamente acadêmicos do estudo e a solicitação

93

de sua participação, por meio do preenchimento e assinatura do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (TCLE – ANEXO B).

Foram necessários cerca de 30 minutos para o preenchimento dos quatro instrumentos

de pesquisa mencionados, bem como o preenchimento de dados demográficos e do TCLE.

A devolução dos questionários e dos TCLE foi realizada em duas urnas separadas para

assegurar o consentimento das informações pesquisadas e garantir o sigilo da identidade do

pesquisado evitando deste modo a identificação do autor das informações.

O TCLE apresentou todas as informações acerca da ausência de riscos para a

integridade física, emocional, social e financeira dos sujeitos, assegurando- lhes total sigilo às

respostas e esclareceu que a ausência de riscos possibilitou ao pesquisador estimar que

nenhum ressarcimento fosse previsto para os participantes.

Os dados do estudo, todos apresentados por indicadores numéricos, compuseram um

banco de dados eletrônico que foi tratado por diversos sub-programas do Statistical Package

for the Social Science, (SPSS) versão 17.0. Foram realizadas análises estatísticas descritivas

(freqüências, percentuais, médias e desvios-padrão), de comparação entre médias (teste t de

sudent e ANOVA- Duncan), correlacionais (correlação bivariada – r de Pearson) e análise de

regressão múltipla, a fim de obter os resultados necessários às discussões dos objetivos da

pesquisa e conclusões.

2.5 APROVAÇÃO NO CONSELHO DE ÉTICA

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa no dia 25/05/09

conforme mostra o anexo C.

94

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O presente capítulo está dividido em quatro itens de 3.1 a 3.4. No item 3.1 estão

apresentadas as análises descritivas dos níveis de otimismo, de suporte social, de valores do

trabalho e de bem estar subjetivo. No item 3.2, as análises das relações entre variáveis

demográficas e otimismo, suporte social, valores do trabalho e bem estar subjetivo. No item

3.3, encontram-se as análises das relações entre otimismo, suporte social, valores do trabalho

e bem estar subjetivo. E, finalmente, no item 3.4, encontra-se a investigação dos índices de

variância de bem estar subjetivo explicados por otimismo, suporte social e valores do

trabalho. O quadro 7 apresenta uma síntese do conteúdo de cada item.

Quadro 7

Síntese dos Conteúdos Apresentados e Métodos Estatísticos Utilizados

Conteúdo Item

Descrição dos níveis de otimismo, de dimensões de suporte social (emocional e prático),

de dimensões de valores do trabalho (realização no trabalho, relações sociais, prestígio e

estabilidade) e de dimensões bem estar subjetivo (satisfação geral com a vida, afetos

positivos, afetos negativos). Análises estatísticas descritivas (freqüências, percentuais,

médias e desvios-padrão) e de comparação entre médias (teste t de sudent).

3.1

Análise das relações entre as variáveis de estudo: otimismo, dimensões de suporte social

(emocional e prático), de dimensões de valores do trabalho (realização no trabalho,

relações sociais, prestígio e estabilidade) e de dimensões bem estar subjetivo (satisfação

geral com a vida, afetos positivos, afetos negativos) e as variáveis demográficas. Análises

estatísticas relativas a comparação entre médias (teste t de sudent e ANOVA- Duncan) e

correlacionais (correlação bivariada – r de Pearson)

3.2

Análise das relações entre as variáveis de estudo: otimismo, dimensões de suporte social

(emocional e prático), de dimensões de valores do trabalho (realização no trabalho,

relações sociais, prestígio e estabilidade) e de dimensões bem estar subjetivo (satisfação

geral com a vida, afetos positivos, afetos negativos) análises estatísticas correlacionais

(correlação bivariada – r de Pearson)

3.3

Verificação da capacidade preditiva de otimismo, de dimensões de suporte social

(emocional e prático) e de dimensões de valores do trabalho (realização no trabalho,

relações sociais, prestígio e estabilidade) sobre as dimensões de bem estar subjetivo

(satisfação geral com a vida, afetos positivos, afetos negativos) por meio da investigação

dos índices de variância . Análises estatísticas de regressão múltipla.

3.4

95

3.1 ANÁLISES DESCRITIVAS DE OTIMISMO, SUPORTE SOCIAL, VALORES DO

TRABALHO E BEM ESTAR SUBJETIVO

A seguir apresentam-se nos subitens 3.1.1 a 3.1.4, as análises descritivas de otimismo,

de dimensões de suporte social, de dimensões de valores do trabalho e de dimensões de bem

estar subjetivo. E no item 3.1.5 a síntese desses resultados.

O teste t de Student que calcula se há diferenças significativas entre duas médias foi

aplicado neste item de duas maneiras. A primeira consiste da comparação de duas médias

observadas com dados relacionados. Esse processo foi utilizado para verificar se havia

diferença entre as médias das duas dimensões de suporte social e entre as médias das quatro

dimensões de valores do trabalho, apresentados nos subitens 3.1.2 e 3.1.3, respectivamente. A

segunda consiste de processo de comparação de uma média observada com uma média

teórica. Esse processo foi utilizado para calcular a diferença entre as médias calculadas de

otimismo, de dimensões de valores do trabalho e de dimensões de bem estar subjetivo com

relação às médias das respectivas escalas, apresentados nos subitens de 3.1.1 a 3.14.

3.1.1 Análise Descritiva de Otimismo

A tabela 2 apresenta a média, o desvio padrão, a variação da escala de respostas de

otimismo, o respectivo ponto médio e o de t de Student calculado.

Tabela 2

Média, desvio padrão de otimismo, escala de respostas, ponto médio da escala e valor do t de Student (n=148)

Variável pesquisada Média Desvio

padrão

Escala de

respostas

Ponto médio

da escala

t de Student

Otimismo 4,01 0,46 1 a 5 3 26,561**

**p<0,01

Com base no teste t de Student é possível afirmar que a média de otimismo pesquisada

4,01 (DP=0,46) é significativamente maior que a média da escala de pesquisa. O resultado

indica que as pessoas pesquisadas em média concordam que a vida pode ser encarada a partir

96

de um ponto de vista positivo e de esperança em que dias melhores estão por vir, que sempre

acontece o melhor e que as coisas ocorrerão conforme o planejado. Em comparação com a

escala de respostas (de 1 a 5) esse resultado representa o segundo nível mais alto de otimismo.

Peterson (2000) afirma que o traço fundamental dos otimistas é a crença positiva sobre

seu futuro. Afirma também que a base da teoria sobre otimismo tem pontos de encontro com

as abordagens humanistas.

Rogers (1983) destaca que o organismo humano é dotado do processo de auto-

atualização que é ativado por um ambiente facilitador. Quando ativado, o organismo humano

tende a utilizar seus vastos recursos de auto-compreensão e de modificação de atitudes a fim

de reproduzir, manter e fazer crescer a vida.

Fromm (1987) afirma que a condição natural da vida humana consiste de um processo

auto-renovador e auto-crescente que ele denominou de amor. O processo auto-renovador e

auto-crescente do amor consiste da expressão de criatividade, cuidados, afirmação, prazer e

ajuste.

As pesquisas sobre otimismo têm mostrado que a maior saúde do organismo físico e

psicológico humano e melhor qualidade de vida implicam na expressão de recursos positivos

intrínsecos para modificação de atitudes e de ajuste. Scheier, Carver e Bridges (1994)

afirmaram que os otimistas apresentam maior bem estar físico e psicológico e melhor

qualidade de vida baseados no processo que adotam de auto-regulação de atitudes e de ajuste

a metas.

Wrosh et al (2003) mostraram que os otimistas adotam um processo de auto-regulação

que envolve saber engajar-se em metas, saber desengajar-se delas quando não são factíveis e

saber reengajar-se em novas metas mais prováveis de serem alcançadas e, na base desse

processo, está o otimismo.

O bom nível de otimismo encontrado neste estudo sugere, portanto, que as pessoas

pesquisadas têm habilidades desenvolvidas para utilizar os vastos recursos de seu organismo

no processo de auto-regulação de modo a ajustar criativamente suas metas, em especial suas

metas profissionais, resultando disso em auto-renovação e crescimento.

Com base nos estudos de Sergestrom, Taylor, Kemey e Fahey (1998) e de Kivimaky

et al (2005) pode-se afirmar que o resultado deste estudo sugere que as pessoas pesquisadas

97

têm em média um bom nível imunológico e que se recuperam mais rapidamente de doenças e

de efeitos negativos do estresse.

Além disso, com base em Rogers (1983) é possível supor que essas pessoas estejam

envolvidas em ambientes facilitadores que ativam o processo de auto-atualização que

promove o desenvolvimento físico e psicológico saudável.

3.1.2 Análises Descritivas das Dimensões de Suporte Social

A tabela 3 apresenta as médias, desvios padrão de dimensões de suporte social, as

escalas de respostas, e o valor do t de Student calculado para as diferenças entre as duas

médias de suporte emocional e prático.

Tabela 3

Médias, desvios padrão de dimensões de suporte social , escalas de respostas, e valor do t de

Student (n=148)

Variáveis

pesquisadas

Média Desvio

padrão

Escalas de

respostas

Diferença

entre médias

Valor de t de

Student

Suporte emocional 2,82 0,71 1 a 4

Suporte prático 2,56 0,59 1 a 4

0,26

6,810**

**p<0,01

O resultado do teste t de Student mostra que a média de suporte emocional (2,82;

DP=0,71) é significativamente maior do que a média de suporte prático (2,56; DP=0,59,

indicando que as pessoas pesquisadas percebem que podem contar mais freqüentemente com

alguém que lhes apóiem comemorando suas alegrias e realizações, compreendendo-as,

demonstrando carinho, consolando-as e fazendo-as se sentirem valorizadas, do que com o

apoio que diz respeito a receber informações, sugestões, esclarecimento de dúvidas, bem

como ajuda para resolução de problemas concretos.

98

A partir do teste t de Student pode-se afirmar que as duas médias de suporte referidas

estão mais próximas do valor da escala (3) que significa perceber que recebe apoio muitas

vezes (suporte emocional t = -3,142; p<0,01; suporte prático t = -9,071; p<0,001). Disso

resulta que é possível afirmar que as pessoas percebem receber suporte social muitas vezes.

Cohen e Mckay (1984) afirmaram que parte do suporte social consiste de ajuda de

bens materiais quando ocorre privação financeira, outra parte ocorre por meio de informações

que ajudam na avaliação dos aspectos externos da situação estressora tornando-a menos

ameaçadora e outra parte consiste de informações que favorecem a melhoria da auto-estima

tais como o reconhecimento das próprias habilidades para enfrentar a situação estressora.

Cobb (1976) afirmou que a maior crise da vida de uma pessoa é o término de emprego

estável, sobretudo quando tem dependentes. Kessler, Turner e House, por sua vez, verificaram

que intervenções de suporte para controle da vida financeira de desempregados permitiram

que a saúde não se deteriorasse.

Caplan, Vinokur, Price e Van Rin (1989) realizaram um experimento interventivo de

suporte social com desempregados e trabalhadores com perspectivas de desemprego. Os

resultados dessa intervenção de suporte social revelaram uma melhor recolocação no mercado

de trabalho em termos de salário e de satisfação, bem como resultou em maior motivação

entre os que continuaram desempregados.

Com base nesses estudos pode-se sugerir que os níveis médios de suporte emocional e

prático pesquisados com trabalhadores que freqüentam programa de apoio profissional

indicam que eles têm uma boa auto-estima, uma sensação positiva de pertencimento, um bom

grau de avaliação das situações profissionais estressoras e das próprias habilidades o que

resulta em maior proteção contra o estresse e melhor saúde.

Pode-se sugerir também que os níveis de percepções de suporte emocional e prático

relatados estejam indicando possibilidades de boa recolocação no mercado de trabalho e bom

ajuste profissional nas posições que se encontrem.

3.1.3 Análises Descritivas das Dimensões de Valores do Trabalho

A tabela 4 apresenta os dados relativos a médias, desvios padrão de dimensões de

valores do trabalho, escalas de respostas, ponto médio da escala e valor do t de Student.

99

Tabela 4

Médias, desvios padrão, dimensões de valores do trabalho, escalas de respostas, ponto médio

da escala e valor do t de Student (n=148)

Variáveis pesquisadas Médias Desvios

padrão

Escalas

de

respostas

Ponto

Médio da

Escala

Valores de

t de Student

calculados

Valores de realização no trabalho 4,12 0,52 1-5 3 26,22**

Valores de relações sociais 3,78 0,52 1-5 3 18,08**

Valores de prestígio 2,53 0,56 1-5 3 -10,14**

Valores de estabilidade 4,06 0,56 1-5 3 23,01**

**p<0,01

Os dados do teste t de Student da Tabela 4 mostram que as médias de valores de

realização, de relações sociais e de estabilidade são significativamente maiores que as médias

das respectivas escalas e que a média de valores de prestígio é significativamente menor que a

média escalar.

O valor médio de valores de realização (4,12; DP=0,52) revela que as pessoas

pesquisadas consideram muito importante realizar um trabalho que seja significativo,

estimulante, variado, interessante, original e criativo, que produza para elas prazer,

crescimento e aprimoramento de conhecimentos. O escore médio dos valores de relações

sociais (3,78; DP=0,52) revela que as pessoas tendem a dar muita importância a ser útil, ter

compromisso com a sociedade, combater injustiças sociais, mudar o mundo, conhecer

pessoas, ter amizade e colaborar com colegas de trabalho para atingir as metas do grupo. O

escore médio dos valores de estabilidade (4,06;DP=0,56) revelou que é muito importante ter

estabilidade e ser independente financeiramente, poder se sustentar, ganhar dinheiro, suprir as

necessidades materiais e ter melhores condições de vida. O escore médio de valores de

prestígio (2,53;DP=0,56) revelou que para as pessoas da amostra pesquisada é pouco

importante a competitividade, a superioridade baseada no êxito profissional, enfrentar

desafios, ter fama, notoriedade, status, e obter posição de destaque.

Para verificar a hierarquização dos valores recorreu-se ao teste t de Student. A Tabela

5 mostra os resultados de comparação entre as médias de valores do trabalho.

100

Tabela 5

Comparação entre médias de dimensões de valores do trabalho e os respectivos t de Student

calculados (n=148)

Pares de valores Médias t de Student Realização no trabalho 4,12 Relações sociais 3,78

8,948**

Realização no trabalho 4,12 Prestigio 2,53

31,553**

Realização no trabalho 4,12 Estabilidade 4,06

1,252

Relações sociais 3,78 Prestígio 2,53

26,730**

Relações sociais 3,78 Estabilidade 4,06

-5,263**

Prestigio 2,53 Estabilidade 4,06

-28,957**

**p<0,01

A Tabela 5 mostra que as médias de valores de realização e de estabilidade não

apresentaram diferença significativa entre si. As demais variáveis apresentaram diferenças

significativas quanto às respectivas médias. Deste modo, a hierarquização interna de valores

do trabalho das pessoas pesquisadas pode ser assim resumida:

1ª) Muita importância aos valores de realização no trabalho relativos ao crescimento

pessoal e ao desenvolvimento da criatividade; e muita importância aos valores de

estabilidade relativos à segurança e à independência financeira.

2ª) Muita importância aos valores de relações sociais relativos aos vínculos e à

contribuição social

3ª) Pouca importância aos valores de prestígio relativos à fama e ao destaque pelo

exercício do poder e influência sobre outros.

Esses dados mostram que a primeira prioridade de metas dos pesquisados consiste de

duas motivações cujos valores são conflitantes (PORTO E TAMAYO, 2008; PORTO, 2005;

ROS, SCHWARTZ, SURKIS 2005).

O conflito se deve ao fato de os itens de valores de realização dizem respeito a

motivações intrínsecas de auto-atualização que requerem abertura à mudança, a incertezas e à

expressão de valores relativos ao hedonismo, ao estímulo e à autodeterminação. Essas

motivações são opostas às metas de estabilidade que dizem respeito à busca extrínseca de

101

segurança, de conservação de posições, de reafirmação de regras existentes e de

comportamentos em conformidade com a tradição. (PORTO E TAMAYO, 2008; PORTO,

2005; SCHWARTZ, 2005).

A hierarquia de valores observada indica que quando as pessoas pesquisadas têm a

necessidade de escolher entre metas de valores de relações sociais e metas de valores de

prestígio resulta em que, possivelmente, os pesquisados fazem suas decisões em favor das

metas que levam em conta os relacionamentos e as contribuições sociais e deixam em

segundo plano as metas mais individualistas relativas ao prestígio.

Isso leva a sugerir que, talvez, a motivação subjacente a todas as questões da grande

maioria das pessoas, que buscam apoio social no programa da instituição, seja a resolução do

conflito entre as metas de realização (crescimento pessoal) e as metas de segurança

(estabilidade financeira).

3.1.4 Análises Descritivas das Dimensões de Bem Estar Subjetivo

A tabela 6 apresenta as médias, os desvios padrão de dimensões de bem estar

subjetivo, as escalas de respostas, o ponto médio da escala e os respectivos valores do t de

Student .

Tabela 6 Médias, desvios padrão de dimensões de bem estar subjetivo, escalas de respostas, ponto

médio da escala, valor do t de Student e balanço emocional (n=148)

Variáveis pesquisadas Médias Desvios

padrão

Escalas de

respostas

Ponto Médio

da Escala

t de Student

calculado

Satisfação c/a vida 3,09 0,60 1 - 5 3 1,760

Afetos positivos 3,14 0,66 1 - 5 3 2,516*

Afetos negativos 2,38 0,77 1 - 5 3 -9,761**

*p<0,05; **p<0,01

Satisfação com a vida (3,09;DP=0,60), segundo o teste t de Student, não é

significativamente diferente da média escalar. Isto quer dizer que as pessoas pesquisadas

102

revelaram se sentir indiferentes (nem satisfeitas nem insatisfeitas) quanto à disposição física,

aos relacionamentos familiares, à vida afetiva, ao padrão financeiro, às oportunidades para

realizar o que querem, às atividades diárias e de descanso e quanto às suas realizações

pessoais.

A média de afetos positivos (3,14;DP=0,66), segundo o teste t de Student, se mostrou

significativamente maior do que a média escalar. Isso quer dizer que as pessoas pesquisadas

revelaram se sentir um pouco mais que indiferentes quanto ao ânimo, felicidade, alegria e

contentamento.

Quanto aos afetos negativos (2,38; DP=0,77), segundo o teste t de Student,a média se

mostrou significativamente menor que a média escalar. Isso quer dizer que as pessoas

relataram em média sentir poucas emoções tais como irritação, desmotivação, angústia,

tristeza, nervosismo e desânimo.

A tabela 7 apresenta o balanço emocional predominantemente negativo, balanço nulo

e balanço emocional predominantemente positivo, o balanço emocional total, as respectivas

médias, desvios padrão, freqüências e porcentagens.

Tabela 7

Médias, desvios padrão, frequência e porcentagem de pessoas com balanço emocional negativo, neutro e positivo (n=148)

Balanço Emocional Média Desvio Padrão

Freqüência %

Negativo -0,87 0,62 44 24,73 Neutro 0,00 - 2 1,35 Positivo 1,47 0,86 102 69,92

Total 0,76 1,33 148 100,00

O balanço emocional total (0,76;DP=1,33) revelou que em média as pessoas

pesquisadas sentem predominância de afetos positivos sobre os negativos. Desse total de

pessoas 24,73% sentem o predomínio de estados emocionais negativos sobre os positivos

(-0,87;DP=0,62) , 1,35% das pessoas apresentaram balanço emocional neutro e 69,92%

balanço emocional com predominância de estados positivos sobre os negativos

(1,47;DP=0,86).

No referencial teórico encontra-se uma relação de estudos que mostram que os níveis

de bem estar subjetivo resultam de vários fatores de influência combinados entre si, dos quais

103

destacam-se os traços de personalidade ou estilos cognitivos e a busca por realização de

metas.

Quanto aos traços de personalidade e estilos cognitivos as pesquisas mostraram que a

extroversão e o otimismo na avaliação da vida estão associados à maior expressão de afetos

positivos porque ambos levam as pessoas a se sentirem mais recompensadas nas experiências

da vida. A extroversão favorece mais os estados positivos do que a introversão à medida que

os extrovertidos obtêm um ganho extra de recompensas emocionais sociais positivas porque

estabelecem mais vínculos do que os introvertidos. O neuroticismo por sua vez predispõe as

pessoas a experimentarem mais eventos objetivos negativos (LUCAS ET AL, 2000; DIENER,

SUH, LUCAS E SMITH, 1999).

Deste modo, a predominância de balanço emocional positivo relatada por cerca de um

pouco mais que dois terços dos pesquisados sugere que essas pessoas apresentem traços e

estilos cognitivos relacionados à extroversão e ao otimismo. Os altos níveis de otimismo

mostrados no item 3.1.1 deste trabalho reforçam esta hipótese.

Com base na teoria, esses dados também sugerem que cerca de um terço dos

pesquisados que apresentaram balanço emocional negativo necessitam obter recursos para

lidar com suas características e situações conflitantes.

Além disso, pode-se supor que as pessoas com balanço emocional predominantemente

positivo estejam sabendo melhor do que as outras se engajar e desengajar-se de metas,

sobretudo no que diz respeito a motivações profissionais (WROSCH ET AL, 2003).

3.1.5 Síntese da Descrição das Variáveis de Estudo

As pessoas pesquisadas concordam que podem esperar que coisas boas vão acontecer

em seu futuro, revelando com isso um bom grau de otimismo. Percebem-se recebendo mais

apoio emocional do que em questões relacionadas a informações e ajuda concreta. Têm como

principais prioridades metas relacionadas à abertura à mudança, que tragam realização no

trabalho e crescimento, juntamente com metas relacionadas à conformidade, tradição e

conservação de posições, que tragam estabilidade no trabalho e segurança financeira. Essas

pessoas dão muita importância a metas que envolvam relações e contribuição social e pouca

importância a metas que envolvam prestígio e o exercício de poder e influência sobre outros.

Sentem-se indiferentes com relação à satisfação com suas vidas; vivenciam estados

emocionais positivos em intensidade um pouco maior que a indiferença, contudo relatam

sentir poucas emoções negativas. Um pouco mais de dois terços das pessoas vivenciam

104

estados emocionais predominantemente positivos; em um pouco menos de um terço das

pessoas predominam emoções negativas.

3.2 RELAÇÕES ENTRE VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS E OTIMISMO, SUPORTE

SOCIAL, VALORES DO TRABALHO E BEM ESTAR SUBJETIVO.

Nos subitens de 3.2.1 a 3.2.4 apresentam-se, respectivamente, as relações entre as

variáveis demográficas e as variáveis de estudo: otimismo, dimensões de suporte social,

dimensões de valores do trabalho e de dimensões de bem estar subjetivo. No subitem 3.2.5

apresenta-se a síntese desses resultados.

As variáveis demográficas foram classificadas em três níveis de medida: nominal,

ordinal e interva lar (SIEGEL; CASTELLAN, JR , 2006). O quadro 8 a seguir apresenta para

cada variável o nível de medida, os grupos e valores assumidos e as provas estatísticas para

análise das relações com as variáveis de estudo.

Quadro 8 Variáveis Demográficas, Grupos e Valores de Medidas, Níveis de Medida e Provas

Estatísticas

Variáveis Grupos e Valores de Medidas Níveis de Medida Provas Estatísticas

Masculino Sexo Feminino Sim Se Trabalha Não Sim Se Estuda Não Sim Realização de

Trabalho Voluntário Não

t de Student

Solteiro Casado Estado Civil Outros

Nominal

1ª vez 1 mês 2 meses 3 meses

Permanência na Instituição

Mais de 3 meses 17 a 30 anos 31 a 40 anos 41 a 50 anos

Faixa Etária

Mais de 50 anos

Ordinal

ANOVA (F) e Duncan

Idade - Intervalar Correlação

105

Em função da classificação das variáveis demográficas definiram-se três tipos de

análise de relações com as variáveis de estudo escalares.

1. Para o estudo das relações com as variáveis demográficas nominais de dois grupos

foram elaboradas análises com base no teste t de Student que calcula se há diferenças

significativas entre duas médias comparadas.

2. Para as análises com variáveis demográficas ordinais e nominais com três grupos

utilizou-se o teste de análise de variâncias ANOVA e de Duncan.

3. Para a análise com a variável demográfica idade calculou-se o índice de correlação bi-

variada r de Pearson.

Bisqueira, Sarriera e Martínez (2004) mostraram que a prova estatística de

comparação de médias com o teste t de Student consiste de um processo que parte de duas

hipóteses: a hipótese nula e a hipótese que rejeita a nula. A hipótese nula corresponde à

suposição de que não há diferenças significativas entre duas médias e a rejeição da hipótese

nula significa que existem diferenças significativas entre as médias comparadas. A hipótese

nula ocorre quando o t calculado corresponde a uma significância calculada maior que 0,05

(p> 0,05). A hipótese de rejeição da nulidade resulta do t calculado correspondente a uma

significância menor que 0,05 (p<0,05).

Os resultados apresentados nos subitens de 3.2.1 a 3.2.4 relativos à comparação de

médias de otimismo, de dimensões de suporte social, de dimensões de valores do trabalho e

de dimensões de bem estar subjetivo com as variáveis demográficas nominais de dois grupos

(sexo, se trabalha, se estuda e trabalho voluntário) foram obtidos a partir do processo de

cálculo do teste t de Student para duas médias de amostras com dados independentes.

O processo ANOVA de comparação de médias por meio de análise de variâncias

consiste de uma prova estatistica para comprovar ou rejeitar a homogene idade de variâncias

entre três grupos ou mais de dados não relacionados entre si. São consideradas homogêneas as

variâncias com significâncias calculadas maiores que 0,05 e consideradas significativamente

diferentes as variâncias com significâncias calculadas menores ou iguais a 0,05. Ao teste

ANOVA segue-se uma prova estatística que indica quais subconjuntos de médias diferem e

quais não diferem significativamente entre si. Neste estudo o teste escolhido para identificar

os subconjuntos de médias foi o de teste de Duncan (BISQUEIRA, SARRIERA E

MARTINEZ, 2004).

106

As correlações (bivariadas, r de Pearson) indicam a variação proporcional entre duas

variáveis; dizem respeito às tendências de aumento ou de diminuição proporcional entre duas

variáveis. Nesse sentido elas podem ser positivas ou negativas. Quando positivas indicam que

uma variável tem uma tendência a crescer proporcionalmente à medida que a outra também

cresce. Quando negativas indicam que uma variável tem uma tendência a diminuir

proporcionalmente à medida que a outra cresce (BISQUEIRA, SARRIERA E MARTINEZ,

2004).

As correlações podem ser significativas ou não dependendo do intervalo de confiança

considerado que pode ser de 95% (p<0,05), de 99% (p<0,01) e de 99,9% (p<0,001). Quanto

menor a significância maior será a confiança sobre os resultados. Não se consideram

confiáveis os resultados de significância maiores que 0,05 (p> 0,05), que conseqüentemente

resultam em intervalos de confiança menores que 95%. Além disso, segundo Bisqueira,

Sarriera e Martínez (2004) as correlações podem ser interpretadas conforme mostra o Quadro

2 a seguir apresentado.

Quadro 9 Interpretação da Correlação

Coeficiente Interpretação r = 1 Correlação perfeita

0,80 < r < 1,00 Muito alta 0,60 < r < 0,80 Alta 0,40 < r < 0,60 Moderada 0,20 < r < 0,40 Baixa 0,00 < r < 0,20 Muito baixa

r = 0 Nula Fonte: BISQUEIRA, SARRIERA E MARTÍNEZ (2004)

3.2.1 Relações Entre Variáveis Demográficas e Otimismo

Neste subitem apresentam-se as análises das médias de otimismo em função das

variáveis demográficas. Os resultados mostraram que há diferenças significativas entre as

médias de otimismo em função do trabalho voluntário. Não mostraram diferenças

significativas em função do sexo, trabalho, estudo, estado civil, tempo na instituição

recebendo orientação e faixa etária. Otimismo não se correlacionou com idade.

107

A Tabela 8 apresenta as médias de otimismo desvios padrão, diferença entre médias, t

de Student em função das variáveis : sexo, trabalho, estudo e trabalho voluntário.

Tabela 8 Variáveis demográficas, médias de otimismo, desvios padrão, diferença entre médias, t de

Student Variáveis

Demográficas Grupos

Média

Otimismo

Desvio

Padrão

Diferença

entre Médias

t de

Student

Masc 4,06 0,47 Sexo

Fem 3,99 0,46 0,07 0,835

Sim 4,01 0,46 Se Trabalha

Não 4,02 0,48 -0,01 -0,118

Sim 4,06 0,39 Se Estuda

Não 3,97 0,52 0,09 1,154

Sim 4,12 0,40 Realiza Trabalho

Voluntário Não 3,93 0,52 0,19 2,430*

* p<0,05

Essa tabela mostra que sexo, trabalho e estudo não produzem diferenças significativas

nos escores de otimismo. O destaque da Tabela 8 refere-se à diferença significativa entre as

médias de otimismo das pessoas que realizam trabalho voluntário (4,12; DP=0,40) e das que

não realizam (3,93; DP=0,52). Essa diferença significativa indica que as pessoas que realizam

trabalho voluntário são mais otimistas do que aquelas que não realizam. As pessoas que

realizam trabalho voluntário têm mais esperança em dias melhores, têm mais certeza de que

tudo dará certo com elas, especialmente em situações difíceis, e maior confiança que

realizarão seus planos futuros.

Não foram encontradas referências teóricas e empíricas que levassem em conta o

otimismo e o trabalho voluntário. Contudo Thoits e Hewitt (2001) destacaram que

personalidades com orientação pró-social apresentam traços positivos, dentre eles a maior

confiança, maiores recursos para enfrentar situações e melhor saúde mental, características

108

essas que segundo Brissette; Scheier e Carver 2002; Wrosch e Scheier (2002) estão associadas

ao otimismo.

A Tabela 9 apresenta os valores da significância calculada (F) do teste ANOVA entre

otimismo e as variáveis demográficas: permanência na instituição, estado civil e faixa etária.

Além disso, essa tabela apresenta a freqüência e respectivos subconjuntos de médias com

diferenças não significativas entre si, identificadas pelo teste de Duncan. Note-se que, as

médias obtidas pelo teste de Duncan são analisadas de forma agrupada, portanto, o valor de

α=0,05 diz respeito às diferenças significativas entre os dois subconjuntos de médias.

Tabela 9

Valores da ANOVA (F) para as relações entre otimismo e variáveis demográficas (testes ANOVA e Duncan)

Médias de Otimismo (α=0,05) Variável

Grupos e Valores de Medida

F

Freqüência Subconjunto

1 Subconjunto

2 1ª vez 44 3,97 - 1 mês 22 3,98 - 2 meses 7 4,17 - 3 meses 9 3,96 -

Permanência na instituição

> 3 meses

0,606

45 4,08 - Solteiro 61 3,95 - Casado 51 4,10 -

Estado civil

Outros 0,243

32 3,98 - 16 a 30 23 4,05 - 31 a 40 53 3,96 - 41 a 50 41 4,00 -

Faixa etária

> 50

0,834

30 4,12 -

Observa-se nessa tabela que as variáveis demográficas (permanência na instituição,

estado civil e faixa etária) não revelaram qualquer diferença nos escores de otimismo.

Os resultados das Tabelas 8 e 9 que se caracterizaram por não apresentar diferenças

significativas entre os escores de otimismo, possivelmente, estão associados à tendência

estável e generalizada dos otimistas para enfrentar a vida com crenças positivas sobre o futuro

em vários domínios da vida (SCHEIER, CARVER E BRIDGES ,1994). Portanto, é possível

sugerir que, por ser uma tendência estável e generalizada, o otimismo deverá produzir

109

influência e não ser influenciado pelas variáveis demográficas mencionadas. Em face disso,

pode-se supor que o voluntariado não causa o maior otimismo, mas o maior otimismo é uma

característica intrínseca de personalidades pró-sociais que praticam voluntariado.

A Tabela 10 apresenta as correlações entre otimismo e idade dos pesquisados e entre

idade e otimismo para as pessoas pesquisadas da faixa etária com 51 anos ou mais.

Tabela 10

Correlações bivariadas (r de Pearson) entre otimismo e idade dos participantes (n=148) e dos

participantes com mais de 50 anos (n=30)

Variável Otimismo

Idade (16 a 65 anos) 0,12

Idade (51 a 65 anos) -0,06

Destaca-se da Tabela 10 mostra que idade e otimismo não apresentaram correlação

significativa (r=0,12; NS). Isso significa que as pessoas pesquisadas não apresentaram

nenhuma tendência a mudar suas perspectivas de futuro com o avanço da idade.

Chang (2002) em pesquisa com dois grupos, um de adultos jovens e outro de adultos

mais velhos (não idosos) não encontrou entre os grupos diferenças significativas com relação

às análises de otimismo. Portanto, os dados de Chang (2002) parecem apoiar os resultados

desta pesquisa quanto à idade não correlacionar com otimismo.

A Tabela 10 também mostra que não há uma tendência a um grau de otimismo

diferenciado em idade mais avançada. A correlação entre otimismo e idade das pessoas mais

velhas da faixa etária de 51 anos ou mais diz respeito a 25 pessoas com 51 a 60 anos e a

cinco pessoas com até 65 anos. Essas idades também não correlacionaram significativamente

com otimismo (r=-0,06; NS). Isso indica que para essas pessoas não há uma tendência a

mudar suas perspectivas de futuro com o aumento de idade.

Lennings (2000) afirmou que o otimismo, entre idosos, se correlaciona negativamente

com idade, não por serem pessimistas ou por apresentarem mais estados emocionais

negativos, mas porque eles de fato não têm uma expectativa de vida suficiente para acalentar

muitas perspectivas de futuro, assim suas expectativas estão mais focadas no momento

presente. Esta pesquisa apresentou resultados diferentes de Lennings (2000), talvez, porque a

faixa etária analisada não apresente pessoas com mais de 65 anos.

110

3.2.2 Relações Entre Variáveis Demográficas e Dimensões de Suporte Social

O suporte social é composto por duas dimensões: o suporte emocional que diz respeito

aos recursos associados à auto estima e a necessidades de pertencimento e o suporte prático

que diz respeito aos recursos informacionais ou concretos potencialmente úteis providos por

outras pessoas (COHEN E MACKAY, 19854, COHEN E SYME, 1985, SIQUEIRA, 2008).

Em face disso, os dados referentes ao suporte emocional são apresentados nas Tabelas 11, 13

e 15 e os dados de suporte prático nas Tabelas 12, 14 e 15.

Das análises das relações entre dimensões de suporte social e variáveis demográficas

obteve-se que as médias de percepções de suporte emocional e prático não apresentaram

diferenças significativas em função do sexo, estado civil, trabalho, permanência na instituição

recebendo orientação e trabalho voluntário. Contudo, as dimensões de suporte emocional e

prático apresentaram diferenças significativas em função de ser ou não ser estudante; e a

dimensão de suporte prático apresentou diferenças significativas em função da faixa etária.

Além disso, as duas dimensões de suporte social apresentaram correlações significativas com

a variável idade.

A Tabela 11 apresenta as médias de otimismo desvios padrão, diferença entre médias,

t de Student em função das variáveis: sexo, trabalho, estudo e trabalho voluntário para

suporte emocional.

Tabela 11 Variáveis demográficas, médias de suporte emocional, desvios padrão, diferença entre

médias, t de Student

Variáveis Demográficas

Grupos Média suporte

emocional

Desvio Padrão

Diferença entre Médias

t de Student

Masc 2,85 0,69 Sexo Fem 2,80 0,72

0,05 0,380

Sim 2,79 0,69 Se Trabalha Não 2,86 0,76

0,07 -0,570

Sim 2,66 0,70 Se Estuda Não 2,93 0,72

-0,27 -2,251*

Sim 2,84 0,67 Realiza Trabalho Voluntário Não 2,77 0,75

0,07 0,623

* p<0,05

111

Observa-se que os escores de suporte emocional não variaram em função do sexo,

trabalho e voluntariado. Contudo, a percepção de suporte emocional de quem estuda

(2,66;DP=0,70) é significativamente menor do que a percepção de quem não estuda

(2,93;DP=0,72). Essa diferença significa que as pessoas que não estudam sentem que podem

contar mais freqüentemente que as pessoas que estudam com alguém que lhes apóiem

comemorando alegrias e realizações, compreendendo-as, consolando-as, demonstrando

carinho e fazendo-as se sentirem valorizadas.

As Tabela 12 apresenta as médias de otimismo desvios padrão, diferença entre médias,

t de Student em função das variáveis: sexo, trabalho, estudo e trabalho voluntário para

suporte prático.

Tabela 12 Variáveis demográficas, médias de suporte prático, desvios padrão, diferença entre médias, t

de Student

Variáveis Demográficas

Grupos Média suporte prático

Desvio Padrão

Diferença entre Médias

t de Student

Masc 2,51 0,59 Sexo Fem 2,58 0,59

-0,07 -0,673

Sim 2,51 0,57 Se Trabalha Não 2,65 0,63

-0,14 -1,352

Sim 2,39 0,56 Se Estuda Não 2,69 0,59

-0,30 -3,066**

Sim 2,53 0,54 Realiza Trabalho Voluntário Não 2,57 0,62

-0,04 -0,379

** p<0,01

Observa-se na tabela 12 que os escores de suporte prático não variaram em função do

sexo, trabalho e voluntariado. Entretanto, a percepção de suporte prático de quem estuda

(2,39;DP=0,56) é significativamente menor do que a percepção de quem não estuda

(2,69;DP=0,59). Essa diferença entre as médias de suporte prático significa que as pessoas

que não estudam sentem que podem contar mais freqüentemente que as pessoas que estudam

com alguém que lhes dêem informações, sugestões, esclarecimento de dúvidas, bem como

ajuda para resolução de problemas concretos.

112

Não foram encontradas referências empíricas sobre as relações entre as dimensões de

suporte social e variáveis demográficas que permitam uma comparação com os dados obtidos

nas Tabelas 11 e 12. Entretanto, o modelo proposto por Cohen e Mckay (1984) pode apoiar

uma discussão sobre os resultados referentes às diferenças significativas entre as médias das

dimensões de suporte em função de estar estudando ou não.

O modelo de Cohen e Mckay (1984) sustenta que o suporte emocional atua sobre

estressores relacionados à auto-estima e a necessidades de pertencimento. Os estressores

relacionados à auto-estima se evidenciam quando uma pessoa avalia não ser capaz de

enfrentar uma situação específica; e os relacionados ao pertencimento estão associados às

separações e às tensões que surgem quando uma pessoa tenta estabelecer relacionamentos. Os

estressores ligados ao suporte prático, segundo esse modelo, dizem respeito ao apoio em

situações que uma pessoa avalia que suas habilidades não são suficientes para enfrentar

situações que envolvem a perda de renda e a necessidade de obter mais conhecimentos.

Em face disso, pode-se supor que as pessoas que estudam, por perceberem que são

menos apoiadas do que se percebem aquelas que não estudam, vão buscar, no ambiente de

relações sociais da escola, o preenchimento de suas necessidades emocionais de auto-estima e

de pertencimento. Além disso, por se perceberem menos apoiadas em situações concretas e

quanto à obtenção de informações úteis do que as pessoas que não estudam, as pessoas que

estudam também sentem necessidade de buscar na escola os meios para obtenção de recursos

que venham aumentar seus conhecimentos e sua renda. Outros estudos poderiam analisar essa

hipótese explicativa.

As Tabelas 13 e 14 apresentam os valores da significância calculada (F) do teste

ANOVA entre suporte emocional e suporte prático e as variáveis demográficas: permanência

na instituição, estado civil e faixa etária. Além disso, essas tabelas apresentam a freqüência e

respectivos subconjuntos de médias com diferenças não significativas entre si, identificadas

pelo teste de Duncan. Note-se que, as médias obtidas pelo teste de Duncan são analisadas de

forma agrupada, portanto, o valor de α=0,05 diz respeito às diferenças significativas entre os

dois subconjuntos de médias.

113

Tabela 13 Valores da ANOVA (F) para as relações entre suporte emocional e variáveis demográficas

(testes ANOVA e Duncan) Médias Suporte Emocional

(α=0,05) Variável Grupos e Valores de Medida

F

Freqüência

Subconjunto 1 Subconjunto 2 1ª vez 44 2,72 - 1 mês 22 2,80 2,80 2 meses 7 3,17 3,17 3 meses 9 3,31

Permanência na instituição

> 3 meses

1,685

45 2,80 2,80 Solteiro 61 2,79 - Casado 51 2,81 -

Estado civil

Outros 0,131

32 2,86 - 16 a 30 23 3,13 31 a 40 53 2,80 2,80 41 a 50 41 2,83 2,83

Faixa etária

> 50

2,408

30 2,61 -

A partir da Tabela 13 é possível observar que a percepção de suporte emocional não

variou significativamente em função do período de permanência na instituição, do estado

civil e da faixa etária.

Tabela 14 Valores da ANOVA (F) para as relações entre suporte prático e variáveis demográficas

(testes ANOVA e Duncan) Médias suporte prático

para α=0,05 Variável Grupos e Valores de Medida

F

Freqüência Subconjunto

1 Subconjunto

2 1ª vez 44 2,46 - 1 mês 22 2,67 - 2 meses 7 2,67 - 3 meses 9 2,84 -

Permanência na instituição

> 3 meses

0,38

45 2,62 - Solteiro 61 2,59 - Casado 51 2,59 -

Estado civil

Outros 0,488

32 2,47 - 16 a 30 23 2,99 31 a 40 53 2,51 - 41 a 50 41 2,56 -

Faixa etária

> 50

6,312**

30 2,33 - **p<0,01

114

A Tabela 14 mostra que a percepção de suporte prático não variou em função do

período de permanência na instituição e do estado civil. Contudo, a percepção de suporte

prático (2,99) para a faixa etária de 16 a 30 anos revelou ser significativamente maior que as

médias de percepção de suporte prático das faixas etárias de 31 a 40 anos (2,51), de 41 a 50

anos (2,56) e de 51 anos ou mais (2,33). Isso significa que as pessoas mais jovens com 30

anos ou menos percebem com maior freqüência do que os mais velhos que podem contar com

alguém que lhes dêem informações, esclarecimentos e ajuda na solução de problemas

práticos.

Não foram encontradas referências empíricas ou teóricas que permitam uma

comparação com os dados obtidos nas tabelas 13 e 14. No entanto, o modelo proposto por

Cohen e Mckay (1984) pode apoiar uma discussão sobre a diferença entre médias de suporte

prático segundo a faixa etária.

O suporte prático segundo esse modelo diz respeito ao enfrentamento de situações que

incluem a falta de habilidades para enfrentar situações estressoras decorrentes da perda ou

falta de renda e da necessidade de obter mais conhecimentos. Em face de que das 23 pessoas

mais jovens com 30 anos ou menos, 21 são solteiras, é possível supor que os mais jovens

percebam que têm mais suporte familiar do que os mais velhos quanto aos recursos

informacionais, financeiros e concretos. Também sugere que os mais velhos tendo assumido

maiores responsabilidades pessoais, sociais e familiares, agora tenham se tornado provedores

de suporte a outros e, simultaneamente, não sentem que recebem de sua rede social de suporte

os recursos práticos que necessitam tais como renda e informações úteis quanto os mais

novos. Essa suposição poderá ser analisada em outros estudos.

A Tabela 15 apresenta as correlações entre suporte emocional e idade e suporte prático

e idade, respectivamente.

Tabela 15

Correlação bivariada (r de Pearson) para suporte emocional e para suporte prático e idade

(n=148)

Variável Idade

Suporte Emocional - 0,18*

Suporte Prático - 0,26**

* p<0,05; ** p<0,01

115

A Tabela 15 revela que as dimensões de percepção de suporte social e idade

apresentaram correlações significativas. A percepção de suporte emocional e idade

apresentaram correlação significativa, negativa e muito baixa com relação a idade (r=-0,18;

p<0,05). A percepção de suporte prático apresentou correlação significativa, negativa e baixa

com relação a idade (r=-0,26; p<0,01). Essas correlações negativas significam que com o

avanço da idade diminui a percepção de que é possível contar com compreensão, carinho,

consolo vindo de outras pessoas, bem como receber delas informações, esclarecimentos e

ajuda para resolver problemas concretos.

Não foram encontradas análises que levassem em conta correlações entre as

dimensões de suporte e idade.

3.2.3 Relações Entre Variáveis Demográficas e Valores do Trabalho

Os valores do trabalho são compostos por quatro dimensões: valores de realização no

trabalho; valores de relações sociais; valores de prestígio; e valores de estabilidade. Os

valores de realização no trabalho refletem a busca por prazer, estimulação e independência de

pensamento e ação; os valores de relações sociais refletem a busca por relacionamentos

positivos e contribuição à sociedade pelo trabalho; os valores de prestígio refletem a busca

pelo exercício de influência sobre outros e por sucesso no trabalho; e os valores de

estabilidade refletem a busca por segurança e por estabilidade financeira pelo trabalho

(PORTO E TAMAYO, 2008).

E face das quatro dimensões de valores, as Tabelas 16 e 20 dizem respeito aos valores

de realização; as Tabelas 17 e 21 aos de relações sociais; as Tabelas 18 e 22 aos de prestígio;

e as Tabelas 19 e 23 aos de estabilidade. A partir dessas tabelas observa-se que com exceção

de valores de prestígio que variou segundo o estudo e de valores de estabilidade que sofreu

variação em função do estado civil, nenhuma outra dimensão de valores do trabalho

apresentou diferenças significativas em função das variáveis demográficas. Além disso,

nenhuma dimensão de valores do trabalho se correlacionou significativamente com idade.

A Tabela 16 apresenta para a dimensão de valores de realização no trabalho as médias,

os desvios padrão, as diferenças entre médias, o t de Student.

116

Tabela 16

Variáveis demográficas, valores de realização no trabalho, desvios padrão, diferença entre

médias, t de Student

Variáveis Demográficas

Grupos

Média valores de realização no trabalho

Desvio Padrão

Diferença entre Médias

t de Student

Masc 4,11 0,50 Sexo Fem 4,12 0,53

0,01 -0,043

Sim 4,13 0,56 Se Trabalha Não 4,11 0,45

0,02 0,173

Sim 4,14 0,49 Se Estuda Não 4,10 0,55

-0,04 0,514

Sim 4,21 0,45 Realiza Trabalho Voluntário Não 4,07 0,57

-0,14 1,666

A Tabela 16 mostra que valores de realização não apresentaram diferenças

significativas em função do sexo, trabalho, estudo e trabalho voluntário.

A tabela 17 apresenta para a dimensão de valores do trabalho de relações sociais as

médias, os desvios padrão, as diferenças entre médias, o t de Student.

Tabela 17

Variáveis demográficas, médias de valores do trabalho de relações sociais, desvios padrão, diferença entre médias, t de Student

Variáveis Demográficas

Grupos

Média valores de relações sociais

Desvio Padrão

Diferença entre Médias

t de Student

Masc 3,78 0,57 Sexo Fem 3,78 0,50

0,00 -0,060

Sim 3,71 0,51 Se Trabalha Não 3,88 0,54

-0,17 -1,895

Sim 3,71 0,49 Se Estuda Não 3,81 0,55

-0,10 -1,128

Sim 3,86 0,53 Realiza Trabalho Voluntário Não 3,71 0,52

0,15 1,682

117

A Tabela 17 mostra que valores de relações sociais não apresentaram diferenças

significativas em função do sexo, trabalho, estudo e trabalho voluntário.

A Tabela 18 apresenta para a dimensão de valores do trabalho de prestígio as médias,

os desvios padrão, as diferenças entre médias, o t de Student

Tabela 18

Variáveis demográficas, médias de valores de prestígio, desvios padrão, diferença entre

médias, t de Student

Variáveis Demográficas

Grupos Média

valores de prestígio

Desvio Padrão

Diferença entre Médias

t de Student

Masc 2,66 0,62 Sexo Fem 2,47 0,52

-0,19 1,926

Sim 2,56 0,53 Se Trabalha Não 2,48 0,61

0,08 0,777

Sim 2,40 0,52 Se Estuda Não 2,61 0,58

-0,21 -2,283*

Sim 2,51 0,52 Realiza Trabalho Voluntário Não 2,55 0,60

-0,04 -0,424

* p<0,05

A Tabela 18 mostra que valores de prestígio não apresentaram diferenças

significativas em função do sexo, trabalho e trabalho voluntário. Destaca-se, contudo, que a

dimensão de valores de prestígio variou segundo o estudo. A média de valores de prestígio

(2,61; DP=0,58) das pessoas que não estudam é significativamente maior do que a média das

pessoas que estudam (2,40;DP=0,52). Isso significa que as pessoas que não estudam dão mais

importância à competitividade, à superioridade baseada no êxito profissional, ao

enfrentamento de desafios, às possibilidades de ter fama, status, e obter posição de destaque

do que as que estudam.

Não foram encontradas na literatura pesquisas que revelassem as relações entre

variáveis demográficas e valores do trabalho. Mas é possível apoiar esse resultado recorrendo

à teoria de Maslow (1943).

A teoria de Maslow (1943) considera que o ser humano prioriza o atendimento de suas

necessidades fisiológicas, psicológicas e sociais em termos de motivações internas

118

organizadas hierarquicamente, de maneira que quando uma classe de necessidades é

relativamente atendida, formam-se as condições em que o ser humano é motivado para a

satisfação de outras classes de necessidades hierarquicamente subseqüentes. Beck e Cowan

(1996) acrescentam à visão de Maslow (1943) que a natureza humana têm um caráter

dinâmico não finito que se modifica à medida que as condições de vida se transformam. Essa

transformação das condições de vida enseja às pessoas a buscarem novas maneiras de dar

significado e importância às coisas e de agir no mundo.

Com base nessas teorias, é possível sugerir que as pessoas que não estudam, em face

de suas condições de vida internas e externas, estão mais motivadas ao desenvolvimento de

habilidades próprias associadas às necessidades e motivações relativas ao poder, à fama e ao

exercício de influência sobre outras pessoas do que quem estuda; as pessoas que estudam,

todavia, se importam menos com motivações de prestígio porque estão mais motivadas a

atender o desenvolvimento de metas que o ambiente escolar pode oferecer tais como vínculos

sociais e aprimoramento de conhecimentos . Esta suposição poderá ser estudada em outras

pesquisas que venham esclarecer as causas dessas relações.

A tabela 19 apresenta para a dimensão de valores do trabalho de estabilidade as

médias, os desvios padrão, as diferenças entre médias, o t de Student.

Tabela 19

Variáveis demográficas, médias de valores de estabilidade, desvios padrão, diferença entre médias, t de Student

Variáveis

Demográficas Grupos

Média valores

estabilidade

Desvio

Padrão

Diferença

entre Médias

t de

Student

Masc 4,02 0,59 Sexo

Fem 4,07 0,55 -0,05 -0,591

Sim 4,11 0,61 Se Trabalha

Não 3,98 0,46 0,13 1,271

Sim 4,05 0,56 Se Estuda

Não 4,07 0,56 -0,02 -0,240

Sim 4,02 0,57 Realiza Trabalho

Voluntário Não 4,01 0,54 0,01 0,843

119

A Tabela 19 mostra que valores de estabilidade não apresentaram diferenças

significativas em função do sexo, trabalho, estudo e trabalho voluntário.

A tabela 20 a seguir apresentada mostra os escores do teste ANOVA (F) para as

relações entre valores de realização no trabalho e variáveis demográficas permanência na

instituição, estado civil e faixa etária, bem como, os respectivos resultados complementares a

partir do teste de Duncan.

Tabela 20 Valores da ANOVA (F) para as relações entre valores de realização no trabalho e variáveis

demográficas (testes ANOVA e Duncan) Médias Valores de

Realização no Trabalho para (α=0,05)

Variável Grupos e Valores de Medida

F

Freqüência

Subconjunto 1 Subconjunto 2 1ª vez 44 4,14 - 1 mês 22 4,24 - 2 meses 7 4,24 - 3 meses 9 3,94 -

Permanência na instituição

> 3 meses

0,703

45 4,08 - Solteiro 61 4,13 - Casado 51 4,10 -

Estado civil

Outros 0,070

32 4,15 - 16 a 30 23 4,22 - 31 a 40 53 4,16 - 41 a 50 41 4,08 -

Faixa etária

> 50

1,016

30 4,00 -

A Tabela 20 mostra que valores de realização no trabalho não apresentaram

diferenças significativas em função das variáveis demográficas: permanência na instituição,

estado civil e faixa etária.

A Tabela 21 a seguir apresentada mostra os escores do teste ANOVA (F) para as

relações entre valores do trabalho de relações sociais e variáveis demográficas permanência

na instituição, estado civil e faixa etária, bem como, os respectivos resultados complementares

a partir do teste de Duncan.

120

Tabela 21 Valores da ANOVA (F) para as relações entre valores de relações sociais e variáveis

demográficas (testes ANOVA e Duncan) Médias Valores de Relações

Sociais para α=0,05 Variável Grupos e Valores de Medida

F

Freqüência

Subconjunto 1 Subconjunto 2 1ª vez 44 3,76 - 1 mês 22 3,95 - 2 meses 7 3,90 - 3 meses 9 3,67 -

Permanência na instituição

> 3 meses

0,712

45 3,78 - Solteiro 61 3,81 - Casado 51 3,80 - Estado civil Outros

0,444 32 3,70 -

16 a 30 23 3,84 31 a 40 53 3,86 - 41 a 50 41 3,72 -

Faixa etária

> 50

1,266

30 3,66 -

A Tabela 21 mostra que valores do trabalho de relações sociais não apresentaram

diferenças significativas em função das variáveis demográficas: permanência na instituição,

estado civil e faixa etária.

A Tabela 22 a seguir apresentada mostra os escores do teste ANOVA (F) para as

relações entre valores do trabalho de prestígio e variáveis demográficas, bem como, os

respectivos resultados complementares a partir do teste de Duncan .

Tabela 22

Valores da ANOVA (F) para as relações entre valores de prestígio e variáveis demográficas (testes ANOVA e Duncan)

Médias Valores de Prestígio para (α=0,05) Variável Grupos e Valores

de Medida

F Freqüência

Subconjunto 1 Subconjunto 2

1ª vez 44 2,54 - 1 mês 22 2,54 - 2 meses 7 2,61 - 3 meses 9 2,53 -

Permanência na instituição

> 3 meses

0,130

45 2,61 - Solteiro 61 2,49 - Casado 51 2,56 -

Estado civil Outros 0,253

32 2,54 - 16 a 30 23 2,68 - 31 a 40 53 2,25 - 41 a 50 41 2,53 -

Faixa etária

> 50

0,738

30 2,47 -

121

A tabela 22 mostra que valores de prestígio não apresentaram diferenças

significativas em função das variáveis demográficas permanência na instituição, estado civil

e faixa etária.

A tabela 23 a seguir apresentada mostra os escores do teste ANOVA (F) para as

relações entre valores do trabalho de estabilidade e variáveis demográficas, bem como, os

respectivos resultados complementares a partir do teste de Duncan .

Tabela 23 Valores da ANOVA (F) para as relações entre valores de estabilidade e variáveis

demográficas (testes ANOVA e Duncan) Médias Valores de

Estabilidade para α=0,05 Variável Grupos e Valores de Medida

F

Freqüência Subconjunto

1 Subconjunto

2 1ª vez 44 4,16 - 1 mês 22 4,02 - 2 meses 7 4,18 - 3 meses 9 3,81 -

Permanência na instituição

> 3 meses

0,943

45 4,02 - Solteiro 61 4,11 4,11 Casado 51 3,90 -

Estado civil Outros

3,183* 32 - 4,19

16 a 30 23 4,12 - 31 a 40 53 4,17 - 41 a 50 41 3,91 -

Faixa etária

> 50

1,946

30 4,00 - *p<0,05

A Tabela 23 mostra que valores de estabilidade não apresentaram diferenças

significativas em função das variáveis demográficas: permanência na instituição e faixa

etária. Contudo, há diferença significativa entre médias de valores de estabilidade em função

do estado civil. A média de valores de estabilidade dos casados (3,90) é significativamente

menor do que a média de pessoas com outros tipos de vínculos (4,19).

Isso significa que as pessoas que têm outros tipos de vínculo afetivo dão mais

importância à estabilidade e independência financeira, à possibilidade de poder se sustentar,

ganhar dinheiro, ter estabilidade no trabalho, suprir as necessidades materiais e ter melhores

condições de vida do que as pessoas que são casadas.

122

Com base nas teorias de Maslow (1943) e de Beck e Cowan (1996) é possível sugerir

que, em média, as condições internas e externas de vida dos casados que foram pesquisados

proporcionam a eles sentimentos de que suas necessidades de segurança e estabilidade

financeira estão mais atendidas e, por essa razão, podem dar menos importância a valores de

estabilidade do que as pessoas que têm outros tipos de vínculos tais como separados,

divorciados e outros tipos de relações em que a pessoa não se sinta estável e segura

financeiramente. Outros estudos são necessários para melhor configurar essas relações.

A Tabela 24 apresenta as correlações entre idade e dimensões de valores do trabalho.

Tabela 24 Correlação bivariada (r de Pearson) entre idade dos pesquisados e dimensões de valores do

trabalho (n=148) Variável Idade

Valores de realização no trabalho -0,11

Valores de relações sociais -0,11

Valores de prestígio -0,06

Valores de estabilidade -0,09

Essa tabela mostra que as correlações entre idade e dimensões de valores do trabalho

não resultaram significativas. A correlação entre idade e valores de realização no trabalho

(r=-0,11, NS), idade e valores de relações sociais (r=-0,11, NS), idade e valores de prestígio

(r=-0,06, NS), idade e valores de estabilidade (r=-0,09, NS) não apresentaram nenhuma

relação de proporcionalidade que possa ser considerada significativa. Isso aponta para a

possibilidade de que os valores pessoais relativos ao trabalho estejam associados a crenças

mais estáveis e não mudem significativamente com o avanço da idade.

3.2.4 Relações Entre Variáveis Demográficas e Bem Estar Subjetivo

Bem estar subjetivo é composto por três dimensões; em face disso, as Tabelas 25, 28 e

31 a seguir apresentadas dizem respeito à dimensão de satisfação com a vida; as Tabelas 26 e

29 dizem respeito aos afetos positivos; e as Tabelas 27, 30 e 31 aos afetos negativos. Com

base nos resultados que constam nessas tabelas, pode-se afirmar que nenhuma dimensão de

123

bem estar subjetivo apresentou diferenças significativas entre as médias em função do

trabalho, do estudo e da permanência na instituição. Entretanto, todas as dimensões de bem

estar subjetivo apresentaram diferenças significativas entre as médias em função do sexo.

Afetos negativos variaram em função do estado civil, do trabalho voluntário e da faixa etária.

Afetos negativos e satisfação com a vida variaram em função da idade.

A Tabela 25 apresenta os resultados do teste t de Student relativos à comparação de

médias de satisfação com a vida em função das variáveis demográficas: sexo, trabalho, estudo

e trabalho voluntário.

Tabela 25

Variáveis demográficas, satisfação com a vida, desvios padrão, diferença entre

médias, t de Student

Variáveis Demográficas

Grupos Média

satisfação com a vida

Desvio Padrão

Diferença entre Médias

t de Student

Masc 3,24 0,58 Sexo

Fem 3,02 0,60 0,22 2,112*

Sim 3,11 0,58 Se Trabalha

Não 3,03 0,62 0,09 0,849

Sim 3,13 0,59 Se Estuda

Não 3,05 0,60 0,08 0,787

Sim 3,08 0,57 Realiza Trabalho Voluntário Não 3,09 0,63

-0,01 -0,065

* p<0,05

Da Tabela 25 destaca-se que a média de satisfação com a vida de homens

(3,24;DP=0,58) é significativamente maior que a média de mulheres (3,02;DP=0,60). Esses

dados mostraram que os homens são em média mais satisfeitos que as mulheres quanto à

disposição física, aos relacionamentos familiares, à vida afetiva, ao padrão financeiro, às

oportunidades para realizar o que querem e às atividades diárias e de descanso.

A Tabela 26 apresenta os resultados do teste t de Student relativos à comparação de

médias de afetos positivos em função das variáveis demográficas: sexo, trabalho, estudo e

trabalho voluntário.

124

Tabela 26

Variáveis demográficas, afetos positivos, desvios padrão, diferença entre médias, t de Student

Variáveis Demográficas

Grupos Média afetos

positivos

Desvio Padrão

Diferença entre Médias

t de Student

Masc 3,32 0,60 Sexo Fem 3,05 0,67

0,27 2,291*

Sim 3,17 0,68 Se Trabalha Não 3,06 0,63

0,11 0,992

Sim 3,16 0,62 Se Estuda Não 3,11 0,69

0,05 0,403

Sim 3,18 0,61 Realiza Trabalho Voluntário Não 3,09 0,72

0,09 0,818

* p<0,05

Da Tabela 26 destaca-se que a média de afetos positivos de homens (3,32;DP=0,60) é

significativamente maior que a média de mulheres (3,05;DP=0,67). Portanto, os homens

relataram sentir mais afetos positivos tais como felicidade, alegria, ânimo, satisfação e

contentamento do as mulheres relataram sentir.

A Tabela 27 apresenta os resultados do teste t de Student relativos à comparação de

médias de afe tos negativos em função das variáveis demográficas: sexo, trabalho, estudo e

trabalho voluntário.

Tabela 27

Variáveis demográficas, afetos negativos, desvios padrão, diferença entre médias, t de Student

Variáveis Demográficas

Grupos Média afetos

negativos

Desvio Padrão

Diferença entre Médias

t de Student

Masc 2,14 0,71 Sexo Fem 2,49 0,78

-0,35 -2,615*

Sim 2,29 0,72 Se Trabalha Não 2,52 0,83

-0,23 -1,759

Sim 2,32 0,73 Se Estuda Não 2,43 0,80

-0,09 -0,827

Sim 2,24 0,67 Realiza Trabalho Voluntário Não 2,51 0,83

-0,26 -2,085*

* p<0,05

125

Da Tabela 27, primeiramente, destaca-se que a média de afetos negativos de homens

(2,14;DP=0,71) é significativamente menor que a média de mulheres (2,49;DP=0,78).

Portanto, as mulheres relataram sentir mais afetos negativos do que os homens tais como

irritabilidade, angústia, depressão, tristeza, nervosismo e desânimo. Esse resultado associado

aos resultados significativos das Tabelas 25 e 26 apontam para a existência de um maior

predomínio de satisfação e de afetos positivos sobre os negativos entre homens do que entre

mulheres.

Diener e Scollon (2003) afirmaram que homens e mulheres apresentam pequenas

diferenças quanto à avaliação de bem estar subjetivo, mas que, de forma global e no que diz

respeito à satisfação, as avaliações não diferem segundo o gênero.

Argumentaram esses autores que as diferenças de gênero ocorrem em função das

maiores flutuações emocionais e das desordens de humor que as mulheres experimentam.

Afirmaram que mulheres costumam relatar mais afetos negativos, mas no cômputo geral esses

afetos negativos são compensados pelos altos níveis de afetos positivos. Isso faria com que

homens e mulheres apresentassem semelhanças no cômputo geral de bem estar.

A presente pesquisa mostrou que as mulheres relataram mais afetos negativos que os

homens, conforme o referencial teórico afirma, porém não confirmou que mulheres

apresentassem níveis de afetos positivos capazes de compensar os negativos. Mostrou

também que há predominância de afetos positivos tanto para mulheres quanto para homens,

mas essa predominância no caso das mulheres é inferior aos homens (mulheres: afetos

positivos menos afetos negativos é igual a 0,56; homens: afetos positivos menos afetos

negativos é igual a 1,18). Considerando que a satisfação com a vida também se mostrou

significativamente menor entre mulheres do que entre homens, pode-se afirmar que os

resultados desta pesquisa não se assemelham ao referencial retro mencionado de que o bem

estar subjetivo não difere segundo o gênero.

Em segundo lugar, destaca-se da Tabela 27 o resultado significativo dos afetos

negativos em função do trabalho voluntário. Os resultados mostraram que a média de afetos

negativos dos que realizam trabalho voluntário (2,24; DP=0,67) é menor do que a média dos

que não realizam (2,51; DP=0,83). Esse resultado indica que as pessoas que realizam trabalho

voluntário sentem menos irritabilidade, angústia, depressão, tristeza, nervosismo e desânimo

do que as que não realizam.

Lopes (2006) em sua pesquisa encontrou que idosos que realizavam trabalho

voluntário apresentaram predomínio de afetos positivos. Embora, neste estudo, os afetos

126

positivos não tenham se alterado em função do trabalho voluntário, a diminuição de afetos

negativos faz aumentar o predomínio de estados emocionais positivos, confirmando deste

modo os achados de Lopes (2006)

A Tabela 28 apresenta os valores da ANOVA (F) para as relações entre satisfação com

a vida e variáveis demográficas.

Tabela 28 Valores da ANOVA (F) para as relações entre satisfação com a vida e variáveis demográficas

(testes ANOVA e Duncan)

Médias Satisfação com a Vida para (α=0,05) Variável

Grupos e Valores de Medida

F

Freqüência

Subconjunto 1 Subconjunto 2 1ª vez 44 3,00 - 1 mês 22 2,99 2 meses 7 3,53 3 meses 9 3,39 3,39

Permanência na instituição

> 3 meses

1,935

45 3,10 3,10 Solteiro 61 2,97 - Casado 51 3,23

Estado civil

Outros 2,798

32 3,05 3,05 16 a 30 23 3,05 31 a 40 53 2,95 41 a 50 41 3,03

Faixa etária

> 50

4,103**

30 3,40 **p<0,01

Destaca-se da Tabela 28 que a média de satisfação com a vida não apresentou

diferença significativa em função da permanência na instituição e do estado civil. Todavia, foi

encontrado o resultado significativo entre satisfação com a vida e faixa etária. A média de

satisfação com a vida após 50 anos (3,40) mostrou-se significativamente maior do que as

médias de satisfação de pessoas com menos de 50 anos (3,03; 2,95; 3;05). Esses dados

mostraram que pessoas mais velhas são em média mais satisfeitas que as mais novas quanto à

disposição física, aos relacionamentos familiares, à vida afetiva, ao padrão financeiro, às

oportunidades para realizar o que querem e às atividades diárias e de descanso.

A Tabela 29 apresenta os valores da ANOVA (F) para a relação entre afetos positivos

e variáveis demográficas.

127

Tabela 29 Valores da ANOVA (F) para as relações entre afetos positivos e variáveis demográficas

(testes ANOVA e Duncan) Médias Afetos Positivos

para α=0,05 Variável Grupos e Valores de Medida

F

Freqüência Subconjunto

1 Subconjunto

2 1ª vez 44 3,02 - 1 mês 22 3,18 - 2 meses 7 3,45 - 3 meses 9 3,30 -

Permanência na instituição

> 3 meses

0,885

45 3,17 - Solteiro 61 3,08 - Casado 51 3,20 -

Estado civil

Outros 0,456

32 3,15 - 17 a 30 23 3,32 - 31 a 40 53 2,99 - 41 a 50 41 3,12 -

Faixa etária

> 50

1,195

30 3,27 -

Destaca-se da Tabela 29 que nenhum escore de afetos positivos sofreu variação

significativa em função da permanência na instituição, estado civil e faixa etária.

A Tabela 30 apresenta os valores da ANOVA (F) para a relação entre afetos negativos

e variáveis demográficas.

Tabela 30 Valores da ANOVA (F) para as relações entre afetos negativos e variáveis

demográficas (testes ANOVA e Duncan) Médias Afetos Negativos

para (α=0,05) Variável Grupos e Valores de Medida

F

Freqüência

Subconjunto 1 Subconjunto 2 1ª vez 44 2,60 1 mês 22 2,53 2 meses 7 2,25 2,25 3 meses 9 1,90 -

Permanência na instituição

> 3 meses

1,989

45 2,32 2,32 Solteiro 61 2,53 Casado 51 2,17 -

Estado civil

Outros 3,281*

32 2,45 2,45 16 a 30 23 2,43 31 a 40 53 2,63 41 a 50 41 2,34 2,34

Faixa etária

> 50

4,675**

30 2,00 - *p<0,05; **p<0,01

128

A dimensão de afetos negativos não variou significativamente em função da

permanência na instituição. Contudo, destacam-se dessa tabela os resultados significativos

entre afetos negativos e estado civil e afetos negativos e faixa etária. A média de afetos

negativos dos casados (2,17) é significativamente menor do que a dos solteiros (2,53). Não há

diferenças significativas entre solteiros e outros tipos de vínculos e entre casados e outros

tipos de vínculos. Isso quer dizer que os casados apresentam menos estados afetivos tais como

irritabilidade, angústia, depressão, tristeza, nervosismo e desânimo do que os solteiros. Não

foram encontrados na literatura dados que viessem a fundamentar uma discussão sobre esses

resultados. A média de afetos negativos de pessoas com mais de 50 anos (2,00) é

significativamente menor do que os afetos negativos das pessoas das faixas etárias de 31 a 40

anos (2,63) e do que os afetos negativos das pessoas da faixa etária de 16 a 30 anos (2,43). As

pessoas da faixa etária de 41 a 50 anos não apresentaram médias de afetos negativos

significativamente diferente de nenhuma faixa etária. Isso mostrou que as pessoas mais velhas

com 50 anos ou mais sentem menos irritabilidade, desmotivação, angústia, depressão, tristeza,

nervosismo e desânimo do que os mais jovens.

A tabela 31 apresenta as correlações entre satisfação com a vida e idade e afetos

negativos e idade, respectivamente.

Tabela 31

Correlação bivariada (r de Pearson) entre satisfação com a vida e idade e entre afetos

negativos e idade (n=148)

Variável Idade

Satisfação c/a Vida 0,21*

Afetos Negativos - 0,24**

*p<0,05; ** p<0,01

A correlação entre idade e satisfação com a vida (r=0,21; p<0,05) é significativa,

positiva e baixa; entre idade e afetos negativos (r=-0,24; p<0,01) mostrou-se significativa,

negativa e baixa. Esses resultados significam que com o passar dos anos as pessoas sentem

menos irritabilidade, angústia, depressão, tristeza, nervosismo e desânimo e ao mesmo tempo,

129

à medida que a idade avança, elas se sentem mais satisfeitas quanto à disposição física, aos

relacionamentos familiares, à vida afetiva, ao padrão financeiro, às oportunidades para

realizar o que querem e às atividades diárias e de descanso.

Uma vez que afetos positivos não se correlacionaram com a idade, pode-se inferir que

eles não se alteram com o avanço da idade. Essa combinação de afetos positivos inalterados e

afetos negativos diminuídos resulta em que, com o aumento da idade, há uma maior

predominância de estados afetivos positivos do que na juventude.

Assim, a constatação de que há uma maior predominância de estados emocionais

positivos a partir de 50 anos e que a satisfação com a vida aumenta com a idade se assemelha

aos dados encontrados por Néri (2001) que ressaltou que quanto maior a idade há uma

tendência a serem maiores a satisfação e a predominância de estados afetivos positivos.

3.2.5 Síntese dos Resultados das Relações entre Variáveis de Estudo e Demográficas

Pessoas que não estudam acreditam ter maior apoio emocional e no que diz respeito a

receber informações úteis e ajuda em resolução de problemas concretos, bem como dão maior

importância às motivações de autopromoção e de prestígio pessoal do que as que estudam.

As pessoas mais jovens com 30 anos ou menos percebem que recebem mais apoio no

que diz respeito a informações úteis e ajuda concreta do que os mais velhos. Com o avanço da

idade há uma tendência das pessoas terem uma percepção de que diminui o apoio emocional,

o apoio em tarefas concretas e apoio por meio de informações úteis. Além disso, com o

aumento da idade há uma tendência a diminuir a presença de estados emocionais negativos e

de, simultaneamente, aumentar a satisfação com a vida. A partir dos 50 anos as pessoas

revelaram menos estados emocionais negativos do que os mais jovens.

Casados dão menos importância a metas que envolvam estabilidade no trabalho e

segurança financeira do que as pessoas que têm outros tipos de vínculo tais como, separados,

divorciados, viúvos, etc. Os solteiros revelaram mais estados emocionais negativos do que os

casados.

Com relação às mulheres, homens são mais satisfeitos com a vida, vivenciam mais

estados emocionais positivos e, ao mesmo tempo, relatam ter menos estados emocionais

negativos.

Quem realiza trabalho voluntário é mais otimista e vivencia menos estados emocionais

negativos do que aqueles que não realizam trabalho voluntário.

130

3.3 ANÁLISE DAS RELAÇÕES ENTRE OTIMISMO, SUPORTE SOCIAL, VALORES

DO TRABALHO E BEM ESTAR SUBJETIVO

A Tabela 32 apresenta a matriz de correlação bivariada (r de Pearson) entre otimismo,

dimensões de suporte social, dimensões de valores do trabalho e dimensões de bem estar

subjetivo.

Tabela 32

Matriz de correlação bivariada (r de Pearson) entre otimismo, dimensões de suporte social,

dimensões de valores do trabalho e dimensões de bem estar subjetivo (n=148)

Variáveis

pesquisadas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

1 Otimismo -

2 Suporte emocional 0,11 -

3 Suporte prático 0,02 0,77** -

4 Valores realização 0,30** 0,11 0,06 -

5 Valores rel.social 0,25* 0,14 0,09 0,61** -

6 Valores prestígio 0,21** 0,17* 0,12 0,36** 0,45** -

7 Valores estabilidade 0,20* 0,02 -0,06 0,36** 0,31** 0,35** -

8 Satisfação c/a vida 0,28** 0,24** 0,13 -0,03 -0,03 0,07 -0,20* -

9 Afetos positivos 0,41** 0,23** 0,12 0,12 0,16* 0,19* -0,11 0,66** -

10 Afetos negativos -0,38** -0,18* -0,07 -0,04 -0,02 -0,06 0,14 -0,67** -0,73** -

*p<0,05; **p<0,01

Optou-se por apresentar a interpretação e discussão dos resultados da Tabela 32 em

quatro subitens. Deste modo, a análise a seguir apresentada inicia-se com as correlações entre

as duas dimensões de suporte social, entre as quatro dimensões de valores do trabalho e entre

as três dimensões de bem estar subjetivo. Em seguida são apresentadas as análises das

relações entre as demais variáveis.

Em face disso, o subitem 3.3.1 apresenta a análise das correlações entre dimensões de

suporte social; o subitem 3.3.2 apresenta a análise das correlações entre dimensões de valores

131

do trabalho; o subitem 3.3.3 apresenta a análise das correlações entre dimensões de bem estar

subjetivo; e o subitem 3.3.4 apresenta a análise das correlações entre otimismo, dimensões de

suporte social, dimensões de valores do trabalho e as dimensões de bem estar subjetivo. No

subitem 3.3.5 apresenta-se uma síntese dos resultados dos subitens 3.3. 1 a 3.3.4.

3.3.1 Análise das Correlações entre Dimensões de Suporte Social

Suporte emocional apresentou correlação significativa, positiva e muito alta com

suporte prático (r=0,77;p<0,01). Isso aponta para uma tendência de crescimento proporcional

entre essas variáveis, ou seja, quando cresce a percepção das pessoas de que podem contar

com alguém para lhes dar apoio em suas dificuldades, atenção, carinho, etc. cresce

proporcionalmente a percepção de que elas podem contar com alguém que lhes apóiem no

que se refere às informações que necessitam e à ajuda em tarefas práticas do dia a dia.

Não foram encontradas referências sobre correlações entre as dimensões de suporte

social. Contudo a partir desses dados é possível supor que o apoio emocional vá repercutir

positivamente sobre a avaliação e ação ante o estressor e que um apoio prático também venha

a repercutir favoravelmente sobre a avaliação emocional do estressor. Dessa suposição

resultaria em que, quando um tipo de suporte fosse percebido, naturalmente, associado a ele

haveria uma maior predisposição proporcional para perceber a outra dimensão. Essa

suposição está baseada na proposta biopsicossocial que entende que a saúde consiste de um

sistema composto por variáveis inter-relacionadas (MATARAZZO, 2000; MARKS, 2000).

3.3.2 Análise das Correlações entre Dimensões de Valores do Trabalho

As quatro dimensões de valores do trabalho apresentaram correlações significativas e

positivas entre si. Valores de realização no trabalho e de realização social apresentaram

correlação alta (r=0,61;p<0,01). Valores de realização no trabalho e valores de prestígio;

valores de realização no trabalho e valores de estabilidade apresentaram correlações

significativas, baixas e positivas (r=0,36;p<0,01) e (r=0,36;p<0,01) respectivamente. Valores

de prestígio e de relações sociais correlação moderada (r=0,45;p<0,01). Valores de

estabilidade e de relações sociais correlação baixa (r=0,31;p<0,01). Valores de prestígio e de

estabilidade correlação baixa (r=0,35;p<0,01).

Essas correlações indicam que há uma tendência de crescimento proporcional entre

todas as dimensões de valores do trabalho.

132

A correlação entre valores de realização no trabalho e de realização social mostra que

quanto maior a busca por um trabalho significativo, de aprimoramento intelectual e que traga

felicidade, cresce numa proporção significativamente alta o desejo de conhecer pessoas,

estabelecer amizades, ser útil, ajudar os outros, ter compromisso e contribuir para a sociedade.

A correlação entre valores de realização e de prestígio mostra que quanto maior o

desejo de ter um trabalho variado que requer originalidade e criatividade, que aprimore

conhecimentos, dê prazer, satisfação, realização pessoal e autonomia de planejamento e

execução de atividades aumentam numa proporção significativamente baixa a

competitividade, o enfrentamento de desafios, a necessidade de notoriedade e de obtenção de

posição de destaque e de obter superioridade baseada no êxito do trabalho.

A correlação entre valores de realização e valores de estabilidade indica que quanto

maior a motivação para aprimorar conhecimentos, ter autonomia para definir a forma de

realizar o trabalho, exercer criatividade, identificar-se com o que faz e obter realização

pessoal aumentam numa proporção significativamente baixa as motivações para ter

estabilidade no trabalho e financeira e para poder se sustentar.

A correlação entre valores de relações sociais e de prestígio indica que quando

aumenta o desejo de combater injustiças sociais, de mudar o mundo e de ser útil à sociedade

aumentam numa proporção significativamente moderada o desejo de obter notoriedade, fama,

prestígio e competitividade.

A correlação entre valores de relações sociais e valores de estabilidade indica que

quando aumenta o desejo ajudar os outros, estabelecer amizades com colegas de trabalho,

colaborar com os colegas para alavancar metas do grupo e colaborar para o desenvolvimento

da sociedade aumenta numa proporção baixa o desejo por ter estabilidade no trabalho e

estabilidade financeira, bem como, obter melhores condições de vida.

A correlação entre valores de estabilidade e de prestígio indica que quando aumenta o

desejo de ganhar dinheiro para poder se sustentar e suprir as próprias necessidades materiais

aumenta numa proporção significativamente baixa o desejo de competir com colegas de

trabalho para alcançar metas profissionais pessoais, de ter superioridade baseada no êxito do

trabalho e de seguir carreira de família.

Entre os valores existe uma estrutura de relações de conflito e de cooperação. Nesse

sentido era de se esperar que os valores conflitantes tais como estabilidade e realização,

relações sociais e prestígio apresentassem correlações negativas entre si.

133

Contudo algumas demandas de valores de realização dependem da ocorrência de uma

certa estabilidade financeira e no trabalho, isto é, para ter autonomia na realização do trabalho

e exercer criatividade, é necessário ter uma relativa estabilidade no trabalho; para poder

identificar-se com o que faz e obter realização pessoal é preciso não estar muito preocupado

com questões relativas à estabilidade financeira.

O mesmo ocorre com valores de relações sociais referentes às demandas de combate

às injustiças e ao desejo de mudar o mundo que necessitam de uma certa dose de notoriedade,

fama, prestígio e de competitividade para serem realizadas.

Essa vinculação positiva entre alguns aspectos dos valores conflitantes ocorre porque,

na base de todos os valores, há três exigências universais que os indivíduos e sociedades não

conseguem lidar de forma bem sucedida se não obtiverem a cooperação de outras pessoas.

Essas exigências dizem respeito ao atendimento das necessidades do organismo biológico; de

interação social; e de sobrevivência e bem estar de grupos sociais. Para atender essas

necessidades as pessoas precisam se comunicar e ganhar a cooperação de outros e, nesse

sentido, os valores são conceitos que têm o papel de representar na interação social os desejos

pessoais por meio da transmissão pela linguagem de critérios socialmente aceitos

(SCHWARTZ, 2005, ROS, SCHWARTZ E SURKIS, 1999 ).

3.3.3 Análise das Correlações entre Dimensões de Bem Estar Subjetivo

As dimensões de bem estar subjetivo apresentaram correlações significativas entre si.

Satisfação com a vida e afetos positivos apresentaram correlação alta e positiva

(r=0,66;p<0,01). Essa correlação indica que quando a satisfação cresce, os afetos positivos

aumentam proporcionalmente. Satisfação com a vida e afetos negativos apresentaram

correlação alta e negativa (r=-0,67;p<0,01). Afetos positivos e afetos negativos apresentaram

correlação alta e negativa (r=-0,73;p<0,01). Essas duas correlações indicam que há uma

tendência de que quando uma das variáveis cresce a outra tende a diminuir

proporcionalmente. Satisfação com a vida e afetos positivos apresentaram correlação alta e

positiva (r=0,66;p<0,01), indicando com isso que há uma tendência a que afetos positivos

cresçam proporcionalmente à medida que satisfação com a vida aumente.

Esses dados de pesquisa são plenamente respaldados pelas proposições do referencial

teórico sobre a existência de tendências de variação proporcional de afetos positivos com

134

relação à satisfação com a vida; de variação inversamente proporcional de afetos negativos

com relação à satisfação com a vida e de afetos negativos com relação a afetos positivos.

Entretanto as correlações deste estudo superaram as correlações pesquisadas no referencial

teórico que se apresentaram moderadas e baixas (DIENER E EMMONS, 1985; PAVOT E

DIENER, 1993; SUH, DIENER, OISH E TRIANDIS, 1998).

3.3.4 Análise das Correlações entre Otimismo, Dimensões de Suporte Social, de Valores do

Trabalho e de Bem Estar Subjetivo.

Otimismo não apresentou correlações significativas com as dimensões de suporte

social. Suporte emocional (r=0,11; NS); suporte prático (r=0,02; NS). Isso indica que as

dimensões de suporte social e otimismo não tenham relação entre si. Esses dados são

diferentes dos resultados do estudo de Xantopoulou et al (2007) que encontraram uma

correlação significativa, positiva e baixa entre otimismo e suporte social.

Otimismo apresentou correlações significativas, baixas e positivas com todas as

dimensões de valores do trabalho ; otimismo e valores de realização (r=0,30;p<0,01);

otimismo e valores de ralações sociais (r=0,25;p<0,05); otimismo e valores de prestígio

(r=0,21;p<0,01); otimismo e valores de estabilidade (r=0,20;p<0,05).

Não foram encontrados estudos sobre as relações entre otimismo e valores do trabalho.

O estudo de Xantopoulou et al (2007), contudo, apresentou uma correlação significativa baixa

e positiva com a variável autonomia (que está associada a valores de realização no trabalho).

Essa correlação, indiretamente, aponta para a existência de correlação entre otimismo e

valores do trabalho de realização, uma vez que a autonomia é uma das principais

características dessa classe de valores.

A estabilidade financeira, um dos principais motivos de valores do trabalho de

estabilidade, favorece a saúde (KESSLER, TURNER E HOUSE, 1987). Além disso, a saúde

é uma motivação associada aos valores de relações sociais e aos valores básicos de segurança,

todos com associação de cooperação entre si (PORTO E TAMAYO, 2008; SCHWARTZ,

2005).

Esses constatações associadas ao estudo de Xantopoulou et al (2007) que encontrou

correlação significativa, baixa e positiva com a variável vigor faz com que o resultado deste

135

estudo de correlação entre otimismo e valores de estabilidade valores de relações sociais

sejam respaldadas pelo referencial teórico.

Otimismo apresentou correlação significativa, positiva e baixa com satisfação com a

vida (r=0,28;p<0,01); correlação significativa, positiva e moderada com afetos positivos

(r=0,41;p<0,01); e correlação significativa, negativa e baixa com afetos negativos

(r=-0,38;p<0,01).

A tendência de variação proporcional entre otimismo e satisfação com a vida

encontrada nesta pesquisa é semelhante aos dados encontrados no estudo de Chang (2002),

porém a correlação resultou em menor valor do que a correlação encontrada por ele.

Suporte emocional não apresentou correlação significativa com valores de realização

(r=0,11;NS); com valores de relações sociais (r=0,14;NS); com valores de estabilidade

(r=0,02;NS); apresentou correlação significativa, positiva e baixa com valores de prestígio

(r=0,17;p<0,05).

Suporte emocional apresentou correlação significativa, positiva e baixa com satisfação

com a vida e com afetos positivos (r=0,24;p<0,01) e (r=0,23;p<0,01), respectivamente; e

correlação significativa, negativa e muito baixa com afetos negativos (r=-0,18;p<0,05). Isso

mostra que há uma variação proporcional entre satisfação com a vida e suporte emocional e

entre afetos positivos e suporte emocional, bem como uma variação inversamente

proporcional entre afetos negativos e suporte emocional.

As correlações significativas entre suporte emocional e as dimensões de bem estar

subjetivo estão de acordo com Cohen e Syme (1985) que destacaram que o suporte social

influencia positivamente a saúde e o bem estar e de acordo com Diener e Seligman que

também afirmaram que as relações sociais que dão suporte a trabalhadores são essenciais para

aumentar o bem estar.

Suporte prático não apresentou correlações significativas com nenhuma variável de

estudo: com valores de realização no trabalho (r=0,06; NS), de relações sociais(r=0,09; NS),

de prestígio (r=0,12; NS) e de estabilidade (r=-0,06; NS); com satisfação com a vida (r=0,13;

NS); com afetos positivos (r=0,12; NS); com afetos negativos (r=-0,07; NS).

Valores de realização no trabalho não apresentaram correlação significativa com

satisfação com a vida (r=-0,03; NS), com afetos positivos (r=0,12; NS) e com afetos

negativos (r=-0,07; NS). Valores de relações sociais não apresentaram correlação

significativa com satisfação com a vida (r=-0,03; NS) e com afetos negativos (r=-0,02; NS).

136

Valores de prestígio não apresentaram correlação significativa com satisfação com a vida

(r=0,07; NS) e com afetos negativos (r=-0,06; NS). Valores de estabilidade não apresentaram

correlação significativa com afetos positivos (r=-0,11; NS) e com afetos negativos (r=0,14;

NS).

Valores de relações sociais apresentaram correlação significativa, positiva e muito

baixa com afetos positivos (r=0,16; p<0,05). Valores de prestígio apresentaram correlação

significativa, positiva e muito baixa com afetos positivos (r=0,19; p<0,05). Valores de

estabilidade apresentaram correlação significativa, negativa e baixa com satisfação com a vida

(r=-0,20; p<0,05).

A correlação entre afetos positivos e valores de prestígio se assemelha à tendência de

variação proporcional encontrada por Sagiv e Schwartz (2000) em pesquisa com estudantes

de administração de negócios. Eles encontraram uma correlação significativa, positiva e

moderada entre afetos positivos e valores de realização de sucesso pessoal (que estão

associados a valores do trabalho de prestígio). Não se assemelha à conclusão da pesquisa de

Sagiv e Schwartz (2000) que indicou que valores não se correlacionaram com a dimensão

cognitiva de bem estar.

3.3.5 Síntese das Correlações entre as Variáveis de Estudo

Otimismo foi a variável que estabeleceu associações mais altas e em maior quantidade

com as outras variáveis. Essas associações revelaram que quanto mais as pessoas avaliam seu

futuro de forma esperançosa e positiva, maiores são as motivações para realizarem-se e

estabelecerem relações sociais no trabalho; maiores os desejos de obterem prestígio e de

contribuição social pelo trabalho, bem como, avaliam-se mais satisfeitas com a vida e com

mais expressões emocionais positivas. Além disso, as pessoas revelaram que quanto maior a

esperança de ter um bom futuro, menos emoções negativas experimentam.

As pessoas pesquisadas revelaram que há uma tendência de que as percepções de

suporte emocional e prático aumentem proporcionalmente uma com relação à outra. O suporte

prático que diz respeito a receber informações e ajuda concreta não se associou a nenhuma

variável de estudo. A percepção de suporte emocional revelou um crescimento proporcional

ao aumento da satisfação com a vida, ao aumento dos estados emocionais positivos e ao

aumento das motivações que visam a promoção pessoal e prestígio, bem como revelou uma

137

diminuição de percepção de apoio à medida que também aumentam os estados emocionais

negativos.

As pessoas também revelaram que existem associações positivas entre as dimensões

de valores do trabalho, resumidas a seguir:

• Quando aumentam as motivações do trabalho para crescimento e criatividade

aumentam proporcionalmente as motivações para estabelecer contatos sociais

positivos, contribuir com a sociedade, obter sucesso com base no êxito do trabalho e

a aumenta a necessidade de ter estabilidade financeira e segurança.

• Quando aumentam as motivações para estabelecer contatos sociais positivos e para

contribuir com a sociedade aumentam proporcionalmente as motivações para obter

prestígio e influência sobre outros e para obter estabilidade financeira e segurança.

• Quando aumentam as motivações para obter prestígio, sucesso e influência sobre

outros aumentam as motivações para obter estabilidade financeira e segurança.

A satisfação com a vida aumenta proporcionalmente ao aumento de emoções positivas

e diminui quando aumentam os estados emocionais negativos. As emoções negativas são

inversamente proporcionais aos estados emocionais positivos. Os estados emocionais

positivos crescem numa relação proporcional com o otimismo, com a percepção de suporte

emocional, com as motivações do trabalho que dizem respeito aos contatos e colaboração

social e à promoção pessoal e prestígio.

3.4 INVESTIGAÇÃO DOS ÍNDICES DE VARIÂNCIA DE BEM ESTAR SUBJETIVO

EXPLICADOS POR OTIMISMO, SUPORTE SOCIAL E VALORES DO TRABALHO

Este item tem por finalidade investigar a variabilidade de bem estar subjetivo que pode

ser explicada por otimismo, suporte social e por valores do trabalho pelo modelo de regressão

linear múltipla.

O modelo de regressão linear múltipla é um processo estatístico que tem a finalidade

de descrever relações entre variáveis, bem como estimar ou prever valores de uma variável

em função de valores de outras variáveis. Este modelo considera, portanto, que há uma

138

variável dependente que pode assumir diversos valores em função da variabilidade de duas ou

mais variáveis independentes. As inserções ou as exclusões no modelo de variáveis

independentes cujas capacidades preditivas foram investigadas ocorreu pelo método stepwise

que inclui sucessivamente variáveis cujos coeficientes de regressão são mais significativos em

termos de precisão e exclui aqueles que não são significativos (FERREIRA, 1999).

No caso deste estudo as variáveis independentes foram o otimismo, as dimensões de

suporte social e as dimensões de valores do trabalho e as variáveis dependentes as três

dimensões de bem estar subjetivo: satisfação com a vida, afetos positivos e afetos negativos.

Disso resultou na investigação de três modelos de regressão linear múltipla. O Quadro 10

apresenta para os três modelos as variáveis dependentes e as variáveis independentes cujas

capacidades preditivas foram investigadas.

Quadro 10 Relação de Variáveis Analisadas nos Modelos de Regressão

Modelo Variáveis Dependentes Variáveis Independentes Preditoras

1 Satisfação com a Vida

2 Afetos Positivos

3 Afetos Negativos

Otimismo

Suporte emocional

Suporte Prático

Valores de Realização no Trabalho

Valores do Trabalho de Relações Sociais

Valores do Trabalho de Prestígio

Valores do Trabalho de Estabilidade

Da análise das relações entre variáveis dependentes e independentes relacionadas no

quadro 10, resultou em três modelos. O primeiro com três variáveis capazes de explicar

satisfação com a vida; o segundo com quatro variáveis capazes de explicar afetos positivos; e

o terceiro com duas capazes de explicar afetos negativos. A Tabela 33 apresenta as variáveis

dependentes, as variáveis independentes, os passos do modelo, os valores de β que indicam se

a influência é positiva ou negativa e as variâncias parciais e do modelo.

139

Tabela 33 Três modelos de regressão linear múltipla (stepwise) para as dimensões de bem estar

subjetivo (n=148)

Variância

Variáveis dependentes critério

Variáveis independentes

preditoras

Passos

Valores de β

R2 parcial R2 modelo

Otimismo 1 0,31 0,079**

Valores de estabilidade 2 -0,26 0,065** Satisfação c/a vida

Suporte emocional 3 0,21 0,044**

0,188**

Otimismo 1 0,40 0,165**

Valores de estabilidade 2 -0,24 0,036**

Suporte emocional 3 0,17 0,035** Afetos positivos

Valores de prestígio 4 0,16 0,021**

0,257**

Otimismo 1 -0,43 0,146** Afetos negativos

Valores de estabilidade 2 0,22 0,047** 0,193**

**p<0,01

As figuras 4, 5 e 6 mostram os modelos de predição de satisfação com a vida, de predição de afetos negativos e de predição de afetos negativos, respectivamente. Para cada modelo apresentam-se as variâncias parciais e do modelo em termos de porcentagem de

influência e valores de β que indicam se a influência é positiva ou negativa.

Figura 4 - Predição de Satisfação com a Vida

Otimismo

Suporte emocional

Valores de estabilidade Satisfação c/a vida

7,9% (β=0,31)

4,4% (β=0,21)

18,8%

6,5% (β=−0,26)

140

Figura 5 - Predição de Afetos Positivos

Figura 6 - Predição de Afetos Negativos

Otimismo

Valores de estabilidade

Suporte emocional

Valores de prestígio

Afetos positivos

16,5% (β=0,40)

25,7%

Otimismo

Valores de estabilidade

Afetos negativos

3,6% (β=−0,24)

3,5% (β=0,17)

2,1% (β=0,16)

14,6% (β=−0,43)

4,7% (β=0,22)

19,3%

141

O primeiro modelo apresentado na Tabela 33 e na Figura 4 explica 18,8% (R2m =

0,188; p<0,01) da variância de satisfação com a vida. Deste total, 7,9% (R2p = 0,079; p<0,01)

são explicados por otimismo, 6,5% (R2p = 0,065; p<0,01) por valores de estabilidade, 4,4%

(R2p = 0,044; p<0,01) por suporte emocional. O modelo deixou de explicar 81,2% da

variância de afetos positivos. Os valores de β igual a 0,31 e 0,21 indicam que otimismo e

suporte emocional repercutem positivamente sobre a satisfação com a vida e o valor β igual a

-0,26 indica que os valores de estabilidade repercutem negativamente.

Isso significa que as avaliações de que a vida pode ser encarada a partir de um ponto

de vista positivo e de esperança em dias melhores e a percepção de que é possível contar com

alguém que ofereça compreensão, consolo, carinho fazem aumentar a satisfação com a

disposição física, com os relacionamentos familiares e vida afetiva, com as atividades diárias

e com realizações pessoais. As motivações de estabilidade e de independência financeira que

visam suprir as necessidades materiais e obter melhores condições de vida fazem diminuir a

satisfação com a disposição física, com os relacionamentos familiares e vida afetiva, com as

atividades diárias e com realizações pessoais.

O segundo modelo apresentado na Tabela 33 e na Figura 5 explica 25,7% (R2m =

0,257; p<0,01) da variância dos afetos positivos. Deste total, 16,5% (R2p = 0,165; p<0,01)

são explicados por otimismo, 3,6% (R2p = 0,036; p<0,01) por valores de estabilidade, 3,5%

(R2p = 0,035; p<0,01) por suporte emocional e 2,1% (R2p = 0,021; p<0,01) por valores de

prestígio. O modelo deixou de explicar 74,3% da variância de afetos positivos. Os valores de

β igual a 0,40, 0,17 e 0,16 indicam que otimismo, suporte emocional e valores do trabalho

de prestígio repercutem positivamente sobre afetos positivos; e o valor β igual a -0,24 indica

que os valores de estabilidade repercutem negativamente. Isso significa que as avaliações de que a vida pode ser encarada a partir de um ponto

de vista positivo e de esperança em dias melhores, a percepção de que é possível contar com

alguém que ofereça compreensão, consolo, carinho e as motivações relacionadas à

competitividade, ao enfrentamento de desafios, a necessidade de notoriedade e de obtenção de

posição de destaque e de obter superioridade baseada no êxito do trabalho fazem aumentar os

afetos tais como ânimo, felicidade, alegria e contentamento. A necessidade de se sentir estável

e independente financeiramente para poder se sustentar e ter melhores condições de vida faz

diminuir os afetos de alegria, contentamento, satisfação, motivação e felicidade.

A Tabela 33 e a Figura 6 mostram o terceiro modelo que explica 19,3% (R2 m = 0,193;

p<0,01) da variância dos afetos negativos. Deste total, 14,6% (R2p = 0,146; p<0,01) são

explicados por otimismo, 4,7% (R2p = 0,047; p<0,01) por valores de estabilidade. O modelo

deixou de explicar 80,7% da variância de afetos positivos. O valor de β igual a 0,22 indica os

142

que valores de estabilidade repercutem positivamente sobre afetos negativos e o valor β igual

a -0,43 indica que o otimismo repercute negativamente.

Isso quer dizer que encarar a vida sob um ponto de vista positivo e esperançoso em

dias melhores faz diminuir afetos tais como angústia, tristeza, nervosismo e desânimo. Por

outro lado, dedicar-se a metas relacionadas à estabilidade financeira, ao auto-sustento, ao

suprimento de necessidades materiais e de melhores condições de vida faz aumentar os afetos

tais como angústia, tristeza, nervosismo e desânimo.

Não foram encontradas na literatura referências a fatores preditivos de afetos positivos

e de afetos negativos. Chang (2000), contudo, encontrou que o otimismo é responsável por

influenciar em 24% e em 27% a satisfação com a vida de adultos mais jovens e adultos mais

velhos (não idosos) respectivamente. O presente estudo também mostrou que o otimismo

repercute positivamente sobre a satisfação com a vida, mas em porcentagem menor do que os

dados obtidos por Chang (2000).

Além disso, pode-se supor que as porcentagens não explicadas das variâncias de

satisfação com a vida, de afetos positivos e de afetos negativos (81,2%; 74,3% e 80,7%,

respectivamente) estejam relacionadas a outros fatores de influência do bem estar subjetivo

que não foram considerados neste modelo, tais como: saúde, genética, padrões de comparação

social, estilos adaptativos a eventos da vida e de realização de metas (DIENER, SUH,

LUCAS E SMITH, 1999; DIENER E SCOLLON, 2003)

3.4.1 Síntese das Análises Preditivas de Bem Estar Subjetivo

Otimismo é a principal variável que repercute positivamente sobre bem estar

subjetivo. É responsável por aumentar a satisfação com a vida em 7,9% e os afetos positivos

em 16,5%; e por diminuir os afetos negativos em 14,6%.

Valores do trabalho de estabilidade mostraram ser a segunda mais importante variável

que repercute sobre bem estar subjetivo. As motivações de valores de estabilidade fazem

diminuir a satisfação com a vida em 6,5% e os afetos positivos em 3,6% e fazem aumentar os

afetos negativos em 4,7%.

Suporte emocional foi a terceira variável mais importante que repercute sobre o bem

estar subjetivo; é responsável por aumentar a satisfação com a vida em 4,4% e os afetos

positivos em 3,5%.

Finalmente, as motivações de valores de prestígio fazem aumentar os afetos positivos

em 2,1%.

143

4. CONCLUSÕES

O objetivo geral deste trabalho foi verificar a capacidade de otimismo, de suporte

social e de valores do trabalho em predizer bem estar subjetivo. Além disso, a pesquisa

também teve por objetivo verificar as relações entre variáveis demográficas com as variáveis

de estudo; descrever as variáveis de estudo e analisar as relações entre elas. A partir do

procedimento metodológico descrito e utilizado neste estudo é possível afirmar que esses

objetivos foram cumpridos.

Foi encontrado apenas um estudo sobre predição de bem estar subjetivo no que diz

respeito aos preditores considerados neste estudo. Deste modo, este trabalho vem contribuir

para uma área ainda pouco explorada do campo de conhecimentos existentes relativos à saúde

positiva.

O modelo de predição de bem estar subjetivo analisado neste estudo trouxe limites e

possib ilidades para o avanço da compreensão do tema. O principal limite diz respeito ao fato

de que as variáveis que foram posicionadas no modelo como preditoras poderiam estabelecer

entre si outras relações que não foram previstas; por revelarem-se associadas entre si podem

complicar o atendimento dos pressupostos de análise de regressão. As possibilidades de

avanço que este estudo promoveu dizem respeito, principalmente, à compreensão de quais

variáveis de estudo pode afetar positivamente e negativamente o bem estar subjetivo.

Esta pesquisa, em face de seus resultados, oferece para gestores organizacionais,

gestores de programas de apoio a trabalhadores em transição profissional e a pesquisadores

algumas contribuições: a) trabalhadores dão muita importância a duas metas que são

conflitantes: motivações de realização pessoal por meio do trabalho e motivações relacionadas

à estabilidade e segurança financeira; b) homens e mulheres têm diferenças quanto aos seus

estados afetivos e de satisfação com a vida; c) com o avanço da idade aumentam a

preponderância de afetos positivos e a satisfação com a vida; d) quem oferece trabalho

voluntário tem uma visão mais otimista sobre seu futuro; e) o apoio social, bem como a

possibilidade de exercer influência sobre outros e de obter prestígio aumentam o bem estar; f)

o otimismo mostrou ser um dos mais importantes fatores para um bom nível do estado de

saúde biopsicossocial positivo.

144

Com base nessas contribuições, esta pesquisa sugere que a contratação de pessoas

mais velhas pode acrescentar ao clima e à produção nas organizações os efeitos benéficos da

predominância de estados emocionais positivos e de maior satisfação com a vida e com

realizações. Homens e mulheres necessitam de um tratamento diferenciado no ambiente de

trabalho, a fim de que possa, cada um à sua maneira, contribuir criativamente com suas

atividades profissionais. Pessoas que realizam trabalho voluntário por serem mais otimistas

têm mais energia para contribuir com atividades profissionais que necessitem de bom ânimo

quanto ao futuro e de maior significado social.

Além disso, as organizações, os programas de apoio a trabalhadores e pesquisadores

poderiam dedicar maiores esforços na compreensão de meios criativos para lidar com as

tensões entre demandas aspiraciona is de realização por meio do trabalho e demandas relativas

às necessidades de estabilidade e de segurança financeira. Também poderiam criar

instrumentos favoráveis à satisfação de suas aspirações de poder e de prestígio e considerar a

possibilidade de serem promovidos mais programas de apoio emocional a trabalhadores a fim

de facilitar a obtenção de recursos para a maior saúde e bem estar.

Finalmente, para o aumento do estado positivo de saúde denominado bem estar

subjetivo, sugere-se que gestores organizacionais, gestores sociais e pesquisadores busquem

meios para o desenvolvimento e expressão do estado otimista de ver e de se relacionar com o

mundo.

145

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151

ANEXO A – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA

Este questionário pretende coletar dados para um estudo sobre o que as pessoas pensam e sentem em relação à sua vida. Gostaríamos de contar com a sua colaboração respondendo a este questionário.

VOCÊ NÃO PRECISA SE IDENTIFICAR. PORTANTO, NÃO ESCREVA SEU NOME. Dê suas respostas conforme as instruções, não deixando NENHUMA questão em branco.

Gratos por sua colaboração. Universidade Metodista de São Paulo

Gostaríamos de saber como você se sente no seu dia -a-dia. Foi feita uma lista de 14 palavras que representam sentimentos e emoções. Dê suas respostas anotando, nos parênteses que antecedem cada palavra, aquele número (de 1 a 5) que melhor representa a intensidade de seus sentimentos, de acordo com a escala abaixo:

1=Nada 2=Pouco 3=Mais ou menos 4=Muito 5=Extremamente NO MEU DIA-A-DIA EU ME SINTO...

1. ( ) Irritado 2. ( ) Feliz 3. ( )Alegre 4. ( )Animado 5. ( )Desmotivado 6. ( )Angustiado 7. ( )Bem 8. ( )Deprimido 9. ( )Chateado 10. ( )Satisfeito 11. ( )Nervoso 12. ( )Triste 13. ( )Contente 14. ( )Desanimado

Abaixo estão listados alguns aspectos relativos a sua vida. Indique o quanto você está satisfeito ou insatisfeito com cada um deles utilizando a escala abaixo. Dê suas respostas anotando, nos parênteses que antecedem cada frase, um numero de 1 a 5, que melhor representa sua resposta.

1 = muito insatisfeito 2 = insatisfeito 3 = nem satisfeito nem insatisfeito

4 = satisfeito 5 = muito satisfeito

EU ME SINTO... 1. ( ) Com a minha disposição física 2. ( ) Com o relacionamento atual que tenho com minha família 3. ( ) Com a forma como as pessoas me tratam atualmente 4. ( ) Com o meu atual padrão de vida: as coisas que posso comprar e fazer 5. ( ) Com a minha capacidade de fazer as coisas que quero 6. ( ) Com as coisas que faço agora para me distrair 7. ( ) Com o que o futuro parece reservar para mim. 8. ( ) Com a minha aparência física atual 9. ( ) Com o meu trabalho atual 10. ( ) Com a minha vida afetiva no presente momento 11. ( ) Com a roupa que tenho condições de comprar atualmente 12. ( ) Com as minhas atuais obrigações diárias 13. ( ) Com o tempo que tenho atualmente para descansar 14. ( ) Com o dinheiro que disponho atualmente para suprir minhas necessidades 15. ( ) Com o que eu já consegui realizar em toda minha vida

152

Gostaríamos de saber com que FREQÜÊNCIA você recebe apoio de outra pessoa quando precisa. Dê suas respostas anotando, nos parênteses que antecedem cada frase, o número (de 1 a 4), que melhor representa sua resposta, de acordo com a escala abaixo:

1= NUNCA 2= POUCAS VEZES 3= MUITAS VEZES 4= SEMPRE

QUANDO PRECISO, POSSO CONTAR COM ALGUÉM QUE...

1. ( ) Ajuda-me com minha medicação se estou doente 2. ( ) Dá sugestões de lugares para eu me divertir 3. ( ) Ajuda-me a resolver um problema prático 4. ( ) Comemora comigo minhas alegrias e realizações 5. ( ) Dá sugestões sobre cuidados com minha saúde 6. ( ) Compreende minhas dificuldades 7. ( ) Consola-me se estou triste 8. ( ) Sugere fontes para eu me atualizar 9. ( ) Conversa comigo sobre meus relacionamentos afetivos 10. ( ) Dá atenção às minhas crises emociona is 11. ( ) Dá sugestões sobre algo que quero comprar 12. ( ) Empresta-me algo de que preciso 13. ( ) Dá sugestões sobre viagens que quero fazer 14. ( ) Demonstra carinho por mim 15. ( ) Empresta-me dinheiro 16. ( ) Esclarece minhas dúvidas 17. ( ) Está ao meu lado em qualquer situação 18. ( ) Dá sugestões sobre meu futuro 19. ( ) Ajuda-me na execução de tarefas 20. ( ) Faz-me sentir valorizado como pessoa 21. ( ) Fornece-me alimentação quando preciso 22. ( ) Leva-me a algum lugar que eu preciso ir 23. ( ) Orienta minhas decisões 24. ( ) Ouve com atenção meus problemas pessoais 25. ( ) Dá sugestões sobre oportunidades de emprego para mim 26. ( ) Preocupa-se comigo 27. ( ) Substitui-me em tarefas que não posso realizar no momento 28. ( ) Dá sugestões sobre profissionais para ajudar-me 29. ( ) Toma conta de minha casa em minha ausência

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A seguir há uma lista de valores do trabalho representados pelos motivos que levam você a trabalhar. Pedimos sua colaboração para avaliar o quanto cada valor é importante para você como um princípio orientador em sua vida. Dê suas respostas anotando, nos parênteses que antecedem cada frase, o número (de 1 a 5), que melhor representa sua resposta, de acordo com a escala abaixo.

1= NADA IMPORTANTE 2= POUCO IMPORTANTE 3= IMPORTANTE 4= MUITO IMPORTANTE 5= EXTREMAMENTE IMPORTANTE

ESTE MOTIVO PARA MIM É: 1. ( ) Estabilidade financeira 2. ( ) Ser independente financeiramente 3. ( ) Combater injustiças sociais 4. ( ) Realização profissional 5. ( ) Realizar um trabalho significativo para mim 6. ( ) Competitividade 7. ( ) Trabalho intelectualmente estimulante 8. ( ) Autonomia para estabelecer a forma de realização do trabalho 9. ( ) Poder me sustentar 10. ( ) Ter prazer no que faço 11. ( ) Conhecer pessoas 12. ( ) Satisfação pessoal 13. ( ) Trabalho interessante 14. ( ) Crescimento intelectual 15. ( ) Seguir a profissão da família 16. ( ) Gostar do que faço 17. ( ) Status no trabalho 18. ( ) Ganhar dinheiro 19. ( ) Ser útil para a sociedade 20. ( ) Auxiliar os colegas de trabalho 21. ( ) Preservar minha saúde 22. ( ) Ter prestígio 23. ( ) Bom relacionamento com colegas de trabalho 24. ( ) Identificar-me com o trabalho 25. ( ) Supervisionar outras pessoas 26. ( ) Amizade com colegas de trabalho 27. ( ) Competir com colegas de trabalho para alcançar minhas metas profissionais 28. ( ) Ter compromisso social 29. ( ) Colaborar para o desenvolvimento da sociedade 30. ( ) Realização pessoal 31. ( ) Ter superioridade baseada no êxito do meu trabalho 32. ( ) Mudar o mundo 33. ( ) Ter fama 34. ( ) Ter notoriedade 35. ( ) Estabilidade no trabalho 36. ( ) Ajudar os outros 37. ( ) Suprir necessidades materiais 38. ( ) Enfrentar desafios 39. ( ) Ser feliz com o trabalho que realizo 40. ( ) Trabalho variado 41. ( ) Aprimorar conhecimentos da minha profissão 42. ( ) Obter posição de destaque 43. ( ) Ter melhores condições de vida 44. ( ) Trabalho que requer originalidade e criatividade 45. ( ) Colaborar com colegas de trabalho para alcançar as metas de trabalho do grupo

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INDIQUE PARA AS FRASES ABAIXO O QUANTO VOCÊ CONCORDA OU DISCORDA DELAS. Dê suas respostas anotando, nos parênteses que antecedem cada frase, aquele número (de 1 a 5), que melhor representa sua resposta. 1=Discordo totalmente 4=Concordo 2=Discordo 5=Concordo totalmente 3=Nem concordo nem discordo

1. ( )Nos momentos difíceis eu espero que aconteça o melhor. 2. ( )Se alguma coisa tiver de dar errado comigo, com certeza dará. 3. ( )Penso que o amanhã será melhor. 4. ( )Espero que as coisas aconteçam como eu planejei. 5. ( )Tudo dará certo comigo. 6. ( )Eu acredito na idéia de que “dias melhores virão”. 7. ( )Conto com coisas boas acontecendo comigo. 8. ( )Procuro ver o lado bom das coisas.

DADOS COMPLEMENTARES

1. Sexo: ( ) masculino ( ) feminino

2. Idade _______ anos

3. Há quanto tempo você está aqui recebendo orientação profissional?

( ) 1ª vez

( ) 1 mês ( ) 2 meses ( ) 3 meses

( ) se mais de 3 meses, quanto tempo? ____________

4. Marque com um x os tipos de orientação que participou até agora:

a. ( ) recebeu orientação individual (currículo, planejamento vocacional, financeiro, metas e objetivos)

b. ( ) fez a sua constelação organizacional

c. ( ) recebeu apoio em grupo (help)

d. ( ) assistiu palestras e constelação de outros

e. ( ) outros, quais? _______________________________

5. Estado civil: ( ) solteiro ( ) casado ( ) outros

6. Qual sua profissão? _____________________

7. Você atualmente trabalha ( ) sim ( ) não

8. Qual sua ocupação atual? _______________________

9. Estuda atualmente? ( ) sim ( ) não

10. se estuda, que curso faz? ____________________

11. Faz trabalho voluntário? ( ) sim ( ) não

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ANEXO B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, ________________________________________________________________________

consinto, de minha livre e espontânea vontade, em participar do estudo OTIMISMO, SUPORTE SOCIAL E VALORES DO TRABALHO COMO ANTECEDENTES DE BEM ESTAR SUBJETIVO DE TRABALHADORES a ser elaborada por Lucia Helena Walendy de Freitas no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista.

A pesquisa se justifica pela necessidade de se avaliar a influência dos níveis de otimismo, de suporte social e de valores do trabalho sobre o bem estar subjetivo que poderá facilitar a identificação de ações mais eficazes na promoção da saúde de trabalhadores.

O procedimento adotado é a aplicação de um questionário sobre valores do trabalho, sobre níveis de percepção de suporte social, sobre otimismo e sobre bem estar subjetivo. Além disso, serão coletados alguns dados demográficos dos participantes da pesquisa.

A sua participação na pesquisa, respondendo ao questionário, não acarretará nenhum desconforto ou riscos para a sua saúde. Portanto, não estão previstos retornos para você em forma de benefícios. Asseguro-lhe total sigilo sobre suas respostas contidas no questionário, visto que os dados da pesquisa serão analisados coletivamente de forma a reunir todos os participantes que responderem ao questionário.

Como sua participação na pesquisa não implica em custos, despesas, danos ou represálias para você, não estão previstas formas de ressarcimento nem de indenização. Como o estudo não inclui em seus procedimentos nenhum tipo de tratamento, não estão previstos acompanhamentos e assistência.

A pesquisadora se coloca à disposição para maiores esclarecimentos sobre sua participação. Você tem total liberdade para se recusar a participar da pesquisa, bastando que não responda ao questionário.

Eu, LUCIA HELENA WALENDY DE FREITAS, fone 2293-63 87, pesquisadora responsável pelo estudo, me comprometo a zelar pelo cumprimento de todos os esclarecimentos prestados nesse documento.

_______________________________________, _______, ___________________, 200 ___.

Local Data

__________________________________________________

Assinatura do participante da pesquisa ou responsável

Documento de Identificação: __________________________

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ANEXO C – PARECER CEP-UMESP