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Os vilões Valmir Miranda Cabral Primeira Edição São Paulo 2016

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Os vilões

Valmir Miranda Cabral

Primeira Edição

São Paulo 2016

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O vendedor de bonecas apresenta: Os vilões. A mercê da tempestuosidade de um beijo arqueado, à todas as quais riscados lábios tocam-se docemente, correntes.

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Os vilões. Os anjos. Ah! Os anjos... dentre esses moços pobres moços... impessoais... consagrados temas vocálicos: aei, aa, ae, ai, ea, ee, ei, ia, ie, ii mais el e seguem anátemas... arcanos... desses maus caras maus... passionais alhures... genéricos graças à imagem e semelhança sumas divinizadas adquiridas na ala psiquiátrica de náufragos violentos de uma Casa de “Abrigo” renomada, aquisição esta realizada graças (aleluia!) a um exímio jogador de cartas, exímio um este que se senta à mesa para jogar cartas com os espelhos para o entretenimento a mais dalguns e para manifestar o embrutecimento de si noutros — oferecendo a estes participarem do momento de rir de um canalha a menos. E especialmente para levar o esquecimento a todos de admiráveis olhos naquela mesa contemplativa, a espera de quem dá as cartas. E tanto que devido a tamanho talento nomeou-se uma respeitável carta farsante e prima fora do baralho.

“Princípios. Artifícios. Inteligências. Plataformas. Periféricos. Autômatos. Imagem viva. Articulando... Pai, não somos rebeldes, não somos caídos, deixamos de lado o ser anjo, convertemos o fardo do ser anjo e nos vimos quais apêndices animalescos e nos aceitamos tal par de asas com ouvidos distintos um ao outro e apegados a dois dos cinco dos sentidos. Os três demais pra lá de instintivos, ora especificados para o gênero humano visto imagem e semelhança da criatura: cada um, cada qual, cada tal, cada como ser sujeito transtornado. E isso foi...? Sensibilidade. Ou éramos...? Sensitividade. Custo a crer no falado num ouvido e o ouvido num outro. Relatividade? Aqui vale uma nota de rodapé para o grau de aceitação da pessoa de si quando se sabe que aceitar a si mesmo transcorre somente no passado. Percebíamos além do tête-à-tête. Imagem, imagens revistas, tínhamos olhos. Objetos, objetos deslocados, tínhamos

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mãos. Locais, locais transitados, tínhamos pernas. Detalhes, detalhes despercebidos, tínhamos faculdades. Sentíamos aquém das feridas abertas, sensações evidentes talhadas pelo fio da navalha, desencontros marcados nos becos da sã consciência. Estremecidas consciências mútuas, desvios de gêneros conjugados, tínhamos semelhanças. Ter ouvido e não ter olhos e boca. Ter olhos, ouvido e a boca. Ter boca, ouvido e olhos. Ter ouvidos, os olhos e a boca. Sem olhos, sem boca, ter ouvidos O; deixamos de ser anjo sem sentidos de menos, de menos penas. Martelo e bigorna, septo e menina, véus e cordas. Sucumbimos ao peso dos vilões no contexto da “Estória em busca de arrependimento, é história!”. E sabendo-se bons-moços, arcanjo, venha nos restituir o fardo do contexto original. Pois não se pode ver, entre nós, romantismo prostrando-se de joelhos em nome de si mesmo e não se pode arraigar-se a fé no ato de baixar a cabeça sem que os seus olhos sejam sentidos impetuosos. Não se discute mais se o “à imagem e semelhança” é o queridinho de Deus, ora tal queridinho terá de fazer por merecer tamanha atenção. Por amor. Temos olhos e tais olhos nos ofendem. Temos boca e tal boca nos ofende. Nossos ouvidos e os quais nossos ouvidos nos ofendem. Os sentidos nas ventas e tais indícios nas ventas nos ofendem. O tato terno e tal tato nos ofende. Ofensas e nus a nós ofendidos arrancados fora! Expressemo-nos, Deus! Cada vez mais para dentro, para o fundo, profundos, lumiar das sombras, limiar das trevas. E tais ofensas, honestamente, nos confortam, mas não é verdade. Reiteramos uma reclamação para arrebentar com o sentimento humano em função do amor. Aos que amam. Um rompimento mútuo numa queda de braço ou num jogo qualquer em ocasião da própria natureza. Derrotar-nos é nos voltar à condição de anjo e tal derrota nossa se dá situando-nos compassivos com a revelação de uma graça capitaneada pelo amor. Uma revelação que nos ofenda no passado. Porque amo. Caso não se dê esse ofensivo passado, na Terra, entre o

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céu e a terra, Deus terá sua tamanha atenção dirigida apenas para a soberba caída de amores dos autômatos pelos apêndices divinos, justificando entre o céu e a terra a devolução da Terra para os inocentes. E Deus, na onipresença, deixará de conceber lacunas que justificam a ausência de um ente estimado e amado. Daí regra o Transtornado Céus viés do Inferno: O humano tem de ser invejado. Em ascendente queda: Jamais a si mesmo no passado.”

...baixando Aparente...

“... aqui... aqui... Por que tem de ser sempre essa

merda? Outro golpe baixo. Outra rasteira pelas costas. Vocês não são capazes de amar por si mesmos? Vão à merda! Esses começos, esses começos pedem para não começar. E levanto-me com você, no sentido das suas mãos e tomando juízo de menos em outras partes suas. E a pintura de você mostra-se mais e mais linda, mais e mais doce. Esses começos pedem para não começarem rasteiros. E depois já idos, os metidos na trama imploram altivos e impraticáveis: Não pare! Não pare! E eu não paro, meu doce. Ah! Poderia ser diferente? Bem a nós! Vejamos o que nós temos por aqui.”

Interior de um confessionário. “Confessionário. Lá vem merda! Como é do saber

oficioso: Pares quaisquer de ouvidos a espreita nos confessionários e Deus a espera na Emergência.”

— Está aí, padre?

“Será outra criatura da parte de Deus? Se for, eu espero que a tal e qual tenha serventia para alguma manobra nos domínios da Criação. Vamos lá!”

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— Sente-se. E abra o seu coração. — Já estou sentado. — Eu sou um par de ouvidos para os céus. — Eu estou vendo. O céu me parece cada vez mais

cá em cima, padre. — É mesmo? — É mesmo, padre? Fato, feito. Presto! Cada vez

mais lá desconhecido. — ...

“Esse padre é suspeito.” “Essa criatura parece não ser da parte de Deus. Pior,

peixe grande. E como é do saber oficial: Em caso de dúvida, faça a coisa certa. Preciso de reforço. Avisando os demais na retaguarda.”

— Cadê o meu filho, padre? — Ah! Sim. Guie-se! E se perdido se encontra, será

encontrado. Se estiver perdido, irá de encontro ao fogo eterno da misericórdia. São os desígnios de Deus.

— Aquilo de Deus escrever certo por linhas tortas? — Por certo, cavalheiro. — Desígnios... Que cavalheiro, padre? — Respeite o momento de contrição. — O ser é vítima de estar no corpo. Cadê o meu

filho, padre? Aborto natural é assassinato. — Eqüidistantes, eu creio. E a sua cara pessoa está

se distanciando da sua confissão. Mantenha-se a favor do perdão.

— Perdão, absolvição, é capaz de distinguir? — O que me importa! Um como o outro traz

conforto para o necessitado. — O que importa é o conforto chegar ao seu

destino, padre.

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— Sábias palavras, nobre cavaleiro. Não importa os meios adotados, contanto que justifiquem um fim maior.

— Cadê o meu filho, padre? — Arrisque, creia, busque, sobreviva e encontrará o

seu filho. Deus reconhecerá os seus esforços. — Assim seja fato! Adicione mais essa na sua lista

de Perguntas e respostas freqüentes num confessionário, padre. Numa confissão, padre, aquele que confessa, confessa a Deus, confessa ao Pai. E o confitente afortunado sente-se quando chamado de filho pelo absolvente. Por acaso eu estou confessando pelos meus cotovelos, padre?

— Esse não é o momento, nem a ocasião, do Pai para o filho. Reconheça e retire-se! E nem perto de uma confissão essa sua conversa almeja. Almeja a mim, bom samaritano.

— Bom samaritano é o clímax! Antes de tudo, re-conheça a mim. Seria capaz de reconhecer Deus, padre? Assim frente a frente? Olho no olho? — ...

— Eu sim, padre. Nos mesmos termos, padre, seria capaz de reconhecer Lúcifer?

— ... — Eu sou Deus ou Lúcifer, padre? — ... — Sabe, padre. Eu tenho pensado sobre nós. Sobre

o que acontecerá conosco no final. Se beijaremos nossas mãos ou se arrancaremos nossas línguas num beijo encarniçado. Refiro-me a Deus e eu, padre.

— ...monstro. — É próprio de mim. Ora as lindas bonequinhas em

trevas, bom seminarista. — Não! As bonecas, não. — Tente outra vez. Eu vejo sérios problemas às

suas costas, bom seminarista. E são asas!

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Estardalhaço. O confessionário, por um distinto par de patas, é posto abaixo. Estertor. O bom seminarista é revelado um par de asas qualquer.

— Você é um mentiroso! — E eu não acredito em você! — Ora quem está mentindo para quem? — Pelo amor de Deus! — Eu pensei que havia acontecido uma mudança

no mundo com o excêntrico advindo do Inferno restrito. — Você? Logo você, monstro! Uma mudança no

mundo civilizado, quanta pretensão! — É uma mudança a mais no mundo encantado.

Outro merda de batedor! Ora tem a obrigação de aceitar o mundo civilizado às sombras e regrar-se pela ladainha dos cães.

— Nem tanto a ladainha, monstro. — É mesmo, batedor? Ora eu estou começando a

fazer idéia porque não contam a vocês que a palavra mundo está sendo disputada entre os domínios da Criação. A palavra mundo está em juízo, batedor! E somente arbitrário procede tal palavra em juízo. Encantado é privilégio de sombras e demônios. Ora pede bênção da parte nossa.

— Eu não tenho de me sujeitar aos sinistros. Não mesmo! Prefiro passar um tempo tal gênero neutro com os da parte de Deus.

— Bibelô de esquina de encruzilhada. — Não me ofende, monstro. — Não é para ofendê-lo, é para ajudá-lo a achar

graça. — Soubemos de coisas sobre você para conter o seu

soltar os cachorros para cima do divino. — Para me atingir, tem de ser igual a mim.

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— Estou como sou e bem a nós. E atingi-lo o torna menos vulnerável. Irritá-lo é a deixa, quem sabe, para o acossamento partindo da pessoa da parte de Deus.

— Solta o verbo! Expresse-se, seu merda! — Lembra-se de pôr em prática casar-se, ter filhos,

instituir família e levar a vida como todo mundo civilizado. Realmente pensou que isso seria possível? Pensou não, muito pior, acreditou que seria possível pôr em prática uma existência dessas.

— Ah! Seu... Foi uma bela manobra de Deus. Não tenho de lhe dar satisfação. Foi bom, nós fazíamos amor. Foi bom até um piano cair sobre a cabeça... Vá à merda!

— Nem preciso. E foi todo arrebentado por uma di-visão de elite quando amar mostrou-se suficiente da parte nossa. Que parte do VOCÊ, NÃO! expressado por Deus, você não compreendeu? Quanta glória nesse momento! Bem feito! Bem feito, monstro!

— Poupe-me! Nem mãe você tem para que possam chamá-lo de forma desrespeitosa e convincente.

— Outra bela manobra a caminho. A caravana dos nascituros já tem data marcada. A restrição sofreu um abalo, temos os quatro Capitais familiares e a mãe de coração. Os capitais possessos o seu pessoal terá de abrir mão. O brinquedinho dos sinistros foi sabotado. E não foi pelos da parte vossa.

— Eureca! Taí o motivo desse destacamento de gênero neutro para o entre o céu e a terra!

— Tirem-me daqui! — Isso! Desapareça, seu beija-bunda.

“Precisaremos de uma estratégia das piores para a

travessia dessa caravana. Baixamos a guarda demais. E lançamo-nos para mais um confronto suspirado. Sinto saudades de você. E não é verdade.”

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...baixando entre o céu e a terra. Interior de um banheiro. Uma pessoa do gênero feminino diante do espelho, cabisbaixa.

“E você, meu doce? Olhe-se no espelho. Deixe-me olhá-la. Deixe-me ouvir a sua voz. Deixe-me ficar com todos os pensamentos que a incomodam, que não a querem bem. Deixe-me sentir o peso dos seus arfos. Deixe-me fazer parte de você. E faça-me sangrar partindo dos aveludados lábios seus refletidos próximos dos meus. Não cabe a nós estalarmos os dedos para socorrer alguém ou fugir de uma situação de perigo, não nos diz respeito a realidade fantasiosa de um mundo de encantos. Nós lidamos com vermes, fadinhas varejeiras, com o que compõe a banda podre de todos os segmentos. Cabe a nós fazermos com que nos sigam fundo, profundo até a beira do abismo e quando nossos calcanhares não sentem mais o chão e tocam o desconhecido em suspensão, deixamos para aqueles que nos seguiram o pior dos risíveis pesadelos à sombra do divino Deus, abrindo bem os nossos olhos ao som de fadados cliques. E eis-me de volta aos riscos dos seus lábios, sem os quais trocarmos beijos seria uma lambança. Uma lambança como da primeira vez além dos beijos a mais, no apagar das luzes, debaixo da cama ou atrás do espelho. Dentro do armário caiu em desuso devido a baixa procura de pontos cegos pelas pessoas na sala de jantar. Vamos fazer isso juntos. A primeira lambança da parte nossa. Segure firme! Isso! Assim! Não grite! Sinta a leveza dos seus ossos! Deixe-me olhá-la! Abra bem os olhos! Mais! Mais! Mais! Não vamos falar a respeito do que, a sós, coloque em dúvida o que eu sinto por você. A sós: pele, ossos, sestro. Não. Vamos falar a respeito do que vinculado ao seu nome, mostre-se suficiente para um fim em nós. Tramas. Desdobre-se! Volte-se para o espelho! Morra em mim!”

— Que barulho foi esse?

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— O clique do interruptor. Você acendeu a luz. E eu espero ouvir outro clique o mais rápido possível. Que tal agora?

— Por que você cobriu a cabeça com o cobertor? — Eu cobri porque essa claridade toda vai tirar o

meu sono. Querida, volte a dormir. — É a nossa filha. Algo aconteceu. — Ela está dormindo no quarto dela. — Não. Eu estou sentindo um aperto no coração. — Ela está bem! Já é uma moça. Ela já sabe cuidar

da própria pessoa. — Não a minha menina. Vou ver o que está acon-

tecendo. Está ouvindo? — Perfeito! Você ligou a televisão. — E estou levando o controle remoto. — Querida, por que você está fazendo isso? — Eu te amo. Eu estou me sentindo agitada. Se a

nossa filha estiver bem, eu vou precisar de um exercício a dois para dar cabo nessa agitação toda.

— Eu tenho os meus direitos. — Não, não tem! Direitos iguais, amor. — Eu tenho vontade própria. — Tem. — Eu te amo. — Eu também te amo. — Ah! Não. Querida, esse programa é uma merda!

Cemitério, local destinado a queima de velas. Uma

pá é colocada sobre a mureta.

“Filhos da mãe! Cada palavra, cada mão estendida, cada olhar, cada abraço, cada beijo, esperava-se confortar, esperava-se consolar, esperava-se acolher, esperava-se amar, esperava-se, esperava-se de menos, esperava-se somente você e eu e as lágrimas trocadas durante os nossos beijos.

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Esperava-se demasiado. Filhos da mãe! Eu farei com que todos os envolvidos paguem por esse padrão de pena social capital.”

Acende-se uma vela. Uma fotografia é colocada sobre a chama da vela. A fotografia começa a pegar fogo. A fotografia em chamas é pousada sobre a palma da mão.

“...uma palavra sequer, um princípio, uma borra sequer...não é um poema, um verso sequer...não é uma partitura, uma nota sequer...não é uma pintura, uma cor sequer...não é um esboço, um traço sequer...não é uma escultura, um relevo sequer... não é uma composição, uma linha sequer... não é uma frase, uma entrelinha sequer... não é uma dança, um passo sequer...não é uma escritura, um caractere sequer... não é uma fórmula, um símbolo sequer... não é um fundamento, uma estrutura sequer... não é uma idealização, um tino sequer...não é uma encenação, um apagar das luzes sequer...não é um momento, uma recordação sequer... Não é uma dessas criações fúteis que desaparecem ordinariamente com o decorrer do tempo e jazem formalidades estatísticas. Faz-se valer qual uma dessas sublimes criações que avançam na própria linha de tempo, colocando em xeque a própria morte. Você. Algo vindouro assim. Acima de tudo pra mim. É a obra-prima de Esperança: o momento de glória exprimido pela conquista da matéria sobre o ordinário: É um grito saído dos ossos! Tal, qual e como as cartas de amor são...”

Os dedos cerram-se sobre a fotografia em cinzas.

“Dia de celebrar, dia de confraternizar, dia de recordações, dia de orações, dias de esperanças, dias assim e tais e como estes servirão para dar fim aos ordinários envolvidos na sentença daqueles que morreram socialmente.

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Eis o momento de nós sentenciarmos os nossos próprios medos, de lamentarmos o um por todos e cada vez mais ainda o todos por um, pois se mostrou em vão quando eu procurei você e você não estava mais lá, meu amor. E nem ao menos nós fomos apresentados um ao outro. Mas eu sabia que você, carinhosamente, dirigindo-se a todos, ansiava por mim. Ora eu estou aqui para apresentá-la a pessoa de nós dois e nos reconhecermos. Eu estou aqui, meu amor. Surpresa! Surpresa! Você está morta, minha fênix. Eu já posso ouvi-la gritando, unindo a sua bela voz ao coro dos corvos: Traga-me de volta! Traga-me de volta! Eu vou morrer de saudade!”

A pá é retirada de cima da mureta.

Área urbana desvalorizada. Um rapaz é espancado numa rua escura.

“Deixe-me ver o estrago feito na bela face humana. Mais um para abrir uma ferida no lábio. Feito! Bravo! Você tem uma mocinha para cuidar dos seus ferimentos e beijar ternamente os seus lábios inchados? Espero que tenha, pois você só está levando essa surra porque me disseram que o seu rostinho bonito atraía muitas pessoas. E um rostinho bonito todo arrebentado deve atrair muito mais pessoas e outras. Bom para mim, pois eu quero encontrar uma pessoa que seja honesta nos sentimentos pelo seu rostinho lindo. Aquela pessoa que se aproximar de você enquanto se encontra debilitado e convalescente e não me fizer sentir a honestidade nos sentimentos dela, será eliminada da sua vida. Isso se você não a dispensá-la verbalmente. Um: Saia daqui! Desapareça! Eu estou farto de você e dos seus modos estúpidos! Você me dá pena! Você faz eu me sentir um lixo! Frases de efeito assim. Soam muito convincentes. Já deve fazer idéia de quantos serão eliminados do seu cotidiano mesquinho. E aquela pessoa que se mostrar honesta nos sentimentos