os trabalhadores do campo e desencontros nas lutas por direitos_ leonilde servolo

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  • Os trabalhadores do campo e desencontros nas lutas por direitos

    Leonilde Servolo de Medeiros

    O objetivo deste texto indicar algumas das formas atravs das quais se verificou a

    presena dos trabalhadores do campo no espao pblico, apontar o processo atravs do qual

    se constituram novas categorias e identidades polticas no meio rural, novas demandas e

    direitos. A perspectiva que o informa a de ressaltar os conflitos como elementos centrais

    para entender a emergncia de novas categorias e grupos sociais, ao mesmo tempo em que

    mostrar o prprio processo de reconhecimento dos trabalhadores pelo Estado, atravs da

    sua presena na legislao e nas instituies pblicas, e de emergncia de novas formas de

    insero social.

    O reconhecimento poltico do trabalho no campo

    Em que pese a existncia significativa de trabalhadores livres no Brasil escravista, a

    sua insero econmica, social e poltica foi muito pouco explorada pela historiografia. No

    entanto, pelo menos desde a introduo do trabalho livre na cafeicultura, quando

    prenunciou-se o fim da escravido negra, foram documentadas recorrentes manifestaes

    dos trabalhadores do campo, recusando as condies de trabalho que lhe eram impostas.

    Foi o caso da revolta dos colonos/parceiros do caf da fazenda de Ibicaba, das greves que,

    no final do sculo XIX e incio do sculo XX, impuseram renegociaes nas condies de

    trabalho e nas possibilidades de acesso terra pelos imigrantes (Davatz, 1972; Martins,

    1979; Alier, s/d). Esses conflitos j colocavam a nu alguns dos impasses prprios

    sociedade brasileira, relacionados tendncia resoluo de conflitos na esfera privada e

    no atravs do recurso a espaos pblicos. Se foi introduzido um contrato como mecanismo

    regulador das relaes entre colonos e patres (contrato cujos termos variaram ao

    longo do tempo), no cotidiano das fazendas imperavam as formas tradicionais de

    relacionamento, com razes no escravismo, marcadas pela combinao entre coero e

    Sociloga, doutora em Cincias Sociais pela Unicamp, professora do Curso de Ps-graduao emDesenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Texto publicadono livro organizado por Andr Chevitarese O campesinato na Histria, Rio de Janeiro, Relume Dumar,2002.

  • 2relaes de patronagem. Os imigrantes, ligados a outras redes de relaes prprias ao

    movimento de migrao, recorreram a estes canais para resguardar os termos dos contratos:

    em diversos casos recorreram denncia aos consulados, o que acabou por criar impasses

    diplomticos, inclusive com ameaa, por parte de alguns pases, de proibio da imigrao

    para o Brasil. No entanto, tratava-se de aes localizadas, onde o que estava em questo

    no eram os direitos dos trabalhadores do campo, mas demandas especficas de colonos do

    caf, particularmente dos italianos, que constituam a maioria.

    As mobilizaes operrias que ocorreram, desde o incio do sculo XX,

    principalmente nas cidades de So Paulo e Rio de Janeiro, colocaram a questo do trabalho

    em outros termos, levando a uma srie de presses e debates que culminaram, ao longo dos

    anos 20 e 30, na constituio progressiva de um corpo legal que garantia um conjunto de

    direitos aos operrios fabris, ao mesmo tempo em que trouxeram cena o debate poltico

    sobre a nova "classe" que se formava e os riscos que ela prenunciava. Somente nos anos 30

    o tema da regulamentao do trabalho rural apareceu, ao mesmo tempo em que se discutia a

    codificao dos direitos dos operrios fabris. Neste momento, no se tratava mais da

    considerao de situaes particulares, como o caso dos colonos do caf, mas do incio da

    situao do trabalho no meio rural em geral. No entanto, ele no era trazido tona a partir

    do crescimento da organizao e das presses dos trabalhadores, mas sim a partir da lgica

    da interveno estatal sobre o mundo do trabalho, o que no evitava que se evidenciassem

    tenses entre concepes distintas no interior do governo, bem como a presso dos setores

    patronais para tutelar possibilidades organizativas que se anunciavam.

    Como aponta Lenharo, o Estado Novo foi um perodo marcado pela tentativa de

    construo de "um novo conceito de trabalho e trabalhador, uma contrapartida do que j

    se praticava no setor urbano industrial: o forjamento do trabalhador despolitizado,

    disciplinado e produtivo" (Lenharo, 1986a:15). Procurou-se criar uma ordem corporativa,

    onde ganhava peso a tese sobre a necessidade de estimular a colaborao de classes.

    Segundo esse autor, "o Estado Novo levou a srio a existncia da luta de classes, assim

    como as possibilidades reais da classe operria no jogo do poder. A estratgia jurdica de

    aliciamento e a proposta corporativista de sindicalizao apontam para uma poltica

    especialmente orientada de controle da classe operria e de sua reestruturao a partir da

  • 3orientao imprimida pelo poder" (Lenharo, 1986a:22). O Estado buscava falar em nome

    da nao e em nome do povo e tornar-se a sua nica voz.

    A questo do campo, subordinada a essa tica, apareceu sob diferentes registros.

    Um deles foi o da defesa intermitente, por parte de Getlio Vargas, da extenso dos direitos

    trabalhistas para o meio rural. Ainda em 1937, foi apresentado Cmara um projeto de

    Cdigo Rural, voltado para a regulao de direitos e obrigaes relacionadas s atividade

    rurais. Procurava-se, atravs dele, definir o que era "empregado rural" (aquele que exercia

    a profisso atravs da prestao de servios na qualidade de "dirigente", "parceiro",

    "auxiliar" ou "assalariado" a estabelecimentos rurais, residisse nele permanentemente ou

    no) e regulamentar tanto o sistema de barraces de engenho, como as relaes de trabalho

    nos seringais (Lenharo, 1986a:85/6). A discusso sobre o Cdigo ficou inconclusa, mas o

    tema da definio da categoria manteve-se na pauta poltica atravs do debate em torno da

    regulamentao do direito de associao.

    Desde cedo, a organizao rural foi considerada objeto de lei especial, distinta da

    que regulava a fabril (DL 1402 de 1939). Ao contrrio desta, que previa o direito de

    associao sindical a trabalhadores e empregadores, constituindo estruturas paralelas, para

    o campo pregava-se uma organizao mista. Madureira Pinho, um dos tericos desse

    modelo, argumentava que "enquanto nos centros urbanos as profisses constituem

    unidades distintas, na agricultura a uniformidade do trabalho no permite tal

    diferenciao. As mesmas pessoas se encontram diariamente nas horas de servio,

    confundindo a 'atividade profissional' com a familial e religiosa ... A natural harmonizao

    nas tarefas agrcolas, em que o proprietrio se identifica com o trabalhador e, em muitos

    casos, seu companheiro de trabalho, no poderia assim favorecer nem incentivar a

    formao de grupos profissionais (Pinho, 1939:58). Esse mesmo personagem ainda aduzia

    a seu argumento que "a prpria assistncia ao trabalhador uma responsabilidade que o

    empresrio agrcola assume tacitamente. Em meios assim - como o nosso, por exemplo -

    no h antagonismos que justifiquem a bipartio em sindicatos de categorias. (Pinho,

    1939: 59).

  • 4Em 1941 foi constituda uma comisso interministerial para o estudo do

    enquadramento da agricultura na organizao sindical1. Nela, o Ministrio da Agricultura e

    a SNA defendiam um sindicato misto, retomando os argumentos j expostos acima e

    acrescentando outros, que apontavam para a cidade como "espao de penetrao de

    ideologias estranhas", em contraste com o esprito do projeto, que era o de no levar

    desarmonia s classes agrcolas. Acentuava-se ainda a impossibilidade de um sindicato de

    trabalhadores, atribuda "deficincia intelectual e econmica do trabalhador rural" (sic),

    e prpria dificuldade de definir o que a "profisso rural"2. Tambm se evidenciava uma

    preocupao com o papel social do sindicato. Nas palavras de Arruda Cmara,

    representante do Ministrio da Agricultura, "se no aparelharmos o sindicato agrcola

    para uma funo de amparo e assistncia ao trabalhador, teremos s feito uma obra

    meramente poltica. E, no caso da agricultura, o sindicato ter de ser eminentemente

    social" ("O problema da sindicalizao rural", A Lavoura, op. cit. p. 76).

    A proposta aparentemente saiu do cenrio poltico, em que pese ter sido decidido

    que seria produzido um novo projeto a partir do trabalho da Comisso. A preocupao com

    a organizao no campo voltou a pblico em 1944, quando um anteprojeto do Ministrio do

    Trabalho, Indstria e Comrcio (defensor da existncia de um sindicato para empregados e

    1Essa comisso, nomeada pelo Presidente da Repblica, foi presidida por Artur Torres Filho, presidente daSociedade Nacional da Agricultura, e contava com representantes do Ministrio da Justia, do Ministrio doTrabalho, Indstria e Comrcio, do Ministrio da Agricultura; do Servio de Economia Rural; da pecuria; dalavoura; das indstrias rurais. Frente s cobranas feitas numa das reunies da Comisso, pelo representantedo Ministrio do Trabalho, Indstria e Comrcio, sobre uma representao de trabalhadores da lavoura, foiargumentado que "seria muito difcil reunir os representantes desta ltima (refere-se 'classe trabalhista')que, como se sabe, no est ainda perfeitamente organizada" ("O Problema da Sindicalizao Rural", ALavoura, abr./jun 1943). Na concepo de seu presidente, a Comisso tinha uma representao econmicapor regies e no de classe (idem, ibidem).

    2 As atas das reunies da Comisso deixam aflorar todo um debate em torno da compreenso da natureza dediferentes categorias de trabalhadores ("colonos", "camaradas", "parceiros", "arrendatrios", "operrios",etc), sobre quem poderia ser considerado trabalhador (em que situaes era possvel identificar uma situaode emprego?), e as dificuldades em se conseguir um consenso sobre o que poderia ser o seu enquadramentosindical. Francisco Malta Cardozo argumentava contra a tese de que a sindicalizao no campo deveriasujeitar-se s normas da CLT, afirmando que: "os colonos, empreiteiros e parceiros rurais - cujos contratosde trabalho, aproximados, ora da locao ou arrendamento rural, ora da sociedade, tanto os podem levar misria como riqueza, assegurando-lhes certa 'autonomia' ou independncia de ao, tempo e lugar paracultivo, dentro ou fora das propriedades de seus empregadores. Todos os grandes 'reis' do caf, no Estadode So Paulo, foram colonos e empreiteiros, e este simples fato social demonstra a verdade social dacondio de tais empregados agrcolas, muito mais prxima do capital e da propriedade do que do trabalhoproletrio" (Cardozo, 1953:207).

  • 5outra para empregadores) foi analisado por uma comisso onde a posio da Sociedade

    Nacional da Agricultura, em favor do sindicato misto, foi voto vencido. O decreto de

    sindicalizao rural de novembro de 1944 (DL 7038/44) garantia representao paralela

    para patres e empregados. Eram definidos como empregadores rurais "pessoas fsicas ou

    jurdicas, proprietrios ou arrendatrios, os que exploram atividade rural na lavoura, na

    pecuria ou nas indstrias rurais, por conta prpria, utilizando-se do trabalho alheio ou

    no, sejam em economia individual, coletiva ou de famlia" e, como empregados,

    trabalhadores ou operrios rurais os que trabalhassem por conta de outrem. O

    reconhecimento seria feito pelo Ministrio do Trabalho. No que se refere a procedimentos

    para solicitao da investidura sindical, explicitavam-se alguns limites que tornavam

    extremamente difcil a sindicalizao. Entre eles destacavam-se a necessidade de

    apresentao, para os diretores de "prova de boa conduta, firmada por autoridade policial

    competente", "prova de que no professam ideologias incompatveis com as instituies ou

    os interesses da Nao, mediante documento expedido pela Delegacia Especial de

    Segurana Poltica, no DF, ou autoridades equivalentes nos Estados e Territrios"; "prova

    de exerccio efetivo da atividade ou profisso desde um ano antes". Esta ltima exigncia

    dizia respeito a um atestado que deveria ser passado pelos empregadores ou por duas

    pessoas j portadores dele, pela carteira profissional ou outra expedida por autoridades

    federais ou estaduais. Frente s condies de trabalho vigentes no campo, fcil perceber

    os obstculos para conseguir todos esses documentos, principalmente tendo em vista a

    dependncia em que o demandante ficava do poder patronal e do poder local.

    Sem revogar esse decreto, foi baixado, logo depois, um outro (DL 7449 de

    30/05/1945) que representava a viso da SNA e mostrava sua fora poltica: definia a

    formao de associaes rurais (e no sindicatos) como organizaes mistas, no

    submetidas a critrios de enquadramento profissional, mas sim jurisdio territorial. Sua

    clula bsica seria o municpio, com uma representao a nvel estadual, atravs de

    federaes. A entidade de representao nacional seria exclusiva e teria sua direo

    compartilhada com o governo federal, uma vez que parte de seus membros seriam

    nomeados por ele (Stein, 1991). Essas organizaes seriam tuteladas pelo Ministrio da

    Agricultura e no mais pelo Ministrio do Trabalho. O pressuposto desse decreto era a

    impossibilidade de to cedo se promover a sindicalizao no campo, havendo necessidade

  • 6de um estgio intermedirio que promovesse a "organizao da classe". A esse documento

    legal se seguiu um outro (DL 8127, de 24/10/1945), estabelecendo que poderiam fazer

    parte das associaes rurais municipais todos aqueles que exercessem profissionalmente

    atividades rurais (como proprietrios, arrendatrios ou parceiros). Institucionalizava-se, em

    forma de lei, uma concepo ampla de uma "classe rural", ligada por interesses comuns,

    cujo esprito associativo deveria ser fortalecido para "promover a defesa de seus direitos e

    interesses e realizar suas aspiraes, bem como o progresso e aprimoramento da

    agricultura" (DL 19882, art. 7, c). Se os sindicatos operrios estavam sujeitos tutela do

    Ministrio do Trabalho, Indstria e Comrcio, as organizaes rurais deveriam subordinar-

    se ao Ministrio da Agricultura. Essa prpria separao de tratamento no interior dos

    aparelhos de Estado sinalizava formas distintas de tratamento da questo do trabalho. Ou

    seja, a tematizao que se fazia do rural tinha outros parmetros, marcados por formas

    distintas de seletividade estrutural do Estado (Offe, 1984) e que tinham como carro chefe a

    concepo da necessidade de assistncia ao "homem do campo" (sanitria, educacional), a

    da unidade dos interesses agrrios e no o reconhecimento do trabalhador como portador de

    interesses diferenciados e prprios3.

    Um outro registro em que a questo do trabalho rural apareceu nesse momento foi

    o da Marcha para o Oeste, entendida como um movimento necessrio e complementar ao

    amparo que o governo dera ao operrio industrial: tratava-se de levar orientao tcnica e

    instrumental agrcola para o interior, abertura de estradas, reformulao do ensino agrcola,

    etc, medidas entendidas como fundamentais para a melhoria das condies de vida dos

    trabalhadores rurais, proporcionando incentivo ao comrcio e a fixao terra. Para

    incentivar a permanncia dos trabalhadores no campo, fez-se inclusive a concesso de

    passagens, para que os descontentes com a cidade pudessem voltar ao meio rural. Ao

    mesmo tempo, o Departamento de Imigrao encaminhava anualmente centenas

    trabalhadores rurais para diversos pontos do pas .Fazia ainda parte dessa proposta o

    estmulo sindicalizao rural e a extenso de benefcios sociais dados ao campo.

    3Na tica de Offe (1984), seletividade a restrio no aleatria, ligada ao jogo de poder e interesses, deum espao de possibilidades, determinando o enquadramento (e as possveis formas em que ele poderiaocorrer) de uma questo no mbito do pensvel politicamente. atravs tambm dessa noo que explica aexcluso para certos temas, grupos e interesses nas polticas governamentais.

  • 7A Marcha envolvia tambm uma proposta de distribuio de terras. Assim, Getlio

    Vargas, num de seus discursos de Primeiro de Maio, anunciava: "Os benefcios que

    conquistastes (referindo-se aos trabalhadores urbanos) devem ser ampliados aos operrios

    rurais, aos que, insulados nos sertes, vivem distantes das vantagens da civilizao.

    Mesmo porque, se o no fizermos, corremos o risco de assistir ao xodo dos campos e

    superpovoamento das cidades - desequilbrio de consequncias imprevisveis, capaz de

    enfraquecer ou anular os efeitos da campanha de valorizao integral do homem

    brasileiro, para dot-lo de vigor econmico, sade fsica e energia produtiva. No

    possvel mantermos anomalia to perigosa como a de existirem camponeses sem gleba

    prpria, num pas onde os vales frteis... permanecem incultos ou despovoados..." (cit. por

    Neiva, 1942:237, grifos meus, LSM).

    Tratava-se de ocupar os espaos vazios do pas, de forma a neles disseminar a

    pequena propriedade, a organizao cooperativa e uma nova ordem social. A proposta, no

    entanto, no foi alm da constituio de ncleos de colnias agrcolas em Gois, Paran,

    Mato Grosso, Par. Ao mesmo tempo verificava-se a criao de "granjas modelo" na

    Baixada Fluminense, de forma a aliviar o problema do abastecimento urbano e

    desenvolvia-se a proposta de estmulos a ncleos agroindustriais (Lenharo, 1986b).

    Acompanhando o debate sobre os caminhos da organizao e as falas de Vargas,

    visvel a tenso entre reconhecer a existncia de uma relao de subordinao entre capital

    e trabalho no campo e a constituio de um ideal de desenvolvimento com base na pequena

    propriedade. Ao longo desse perodo, a produo legal, indo na direo oposta, mostra o

    significado econmico e poltico que o "latifndio" conseguiu preservar, apesar das crticas

    que sofreu desde o movimento tenentista. Chama a ateno ainda o fato de, nesse contexto,

    serem atores fundamentais as agncias estatais e uma organizao patronal, que

    circunscrevem os espaos possveis de organizao, tendo como parmetro as

    potencialidades organizativas do operariado urbano, tal como desenhadas no imaginrio

    patronal (o risco da luta de classes no campo, ao mesmo tempo que a incapacidade dos

    trabalhadores do campo, de onde decorre a necessidade de tutela permanente).

    Processo organizativo e constituio dos lavradores/camponeses como

    categoria poltica

  • 8O perodo de democratizao do Brasil, no ps-guerra, teve como uma de suas

    caractersticas a progressiva universalizao de categorias como lavradores, trabalhadores

    agrcolas, camponeses como identidades polticas, distinguindo-se das denominaes

    regionalizadas/localizadas4 e contrapondo-se defesa da tese de interesses comuns unindo

    grandes proprietrios aos trabalhadores do campo. Essa universalizao produziu o

    reconhecimento social e poltico desses trabalhadores, bem como um consenso em torno de

    seus direitos enquanto profissionais e foi produto de um conjunto de lutas sociais, baseadas

    em algumas concepes de direitos, constituindo a possibilidade desse segmento se

    constituir como classe, no sentido thompsoniano do termo. Ganharam ento espao duas

    ordens de questes que no eram novas, mas que se atualizaram e adquiriram visibilidade a

    partir de diferentes ordens de conflitos que permeavam o campo: lutas por direitos

    trabalhistas, entendidos como extenso aos trabalhadores rurais dos direitos j legalmente

    obtidos pelos operrios urbanos (limitao da jornada de trabalho, salrio mnimo, frias,

    previdncia social, organizao sindical, etc) e lutas pela permanncia na terra. Neste

    ltimo caso, conflitos particulares, espacialmente localizados, lutas de resistncia

    expulso por proprietrios ou pretensos proprietrios, passaram a ser traduzidas em

    concepes mais genricos, envolvendo noes de direito de livre acesso terra onde se

    trabalhava, o que culminou na transformao dessas lutas particulares em uma demanda

    mais geral por reforma agrria. A adeso a essa bandeira traduz tambm uma condenao

    social concentrao da propriedade da terra e sua improdutividade, dando densidade

    social palavra latifndio, que mais do que uma grande extenso de terra, passou a

    significar relaes de opresso e explorao, improdutividade, etc. (Novaes, 1997).

    Atravs da presena e mediao nessas lutas inicialmente do Partido Comunista, e,

    j a partir de meados dos anos 50, das Ligas Camponesas em Pernambuco e Paraba, o

    termo campons constituiu-se em uma identidade poltica, ao mesmo tempo em que se

    produziu uma nova linguagem, que expressava os conflitos localizados nos termos de

    transformaes mais amplas pelas quais o pas necessitava passar. A partir da, um conjunto

    de demandas esparsas, pontuais, localizadas, ganharam articulao. Quando analisamos as

    demandas contidas nos vrios congressos de trabalhadores realizados nos anos 50/60,

    4 Martins (1981) aponta para isso. Medeiros (1995) aborda com detalhes o processo de constituio dessascategorias para designar o conjunto dos que viviam do trabalho no campo.

  • 9convocados pela Unio dos Lavradores e Trabalhadores Agrcolas do Brasil (Ultab), ligada

    ao PCB, e as reivindicaes expressas pelas Ligas Camponesas, vemos o prprio processo

    de conformao do que Sader (1988) chamou de "nova matriz discursiva".

    Enquadrados pelo PCB nesse processo de mobilizao e organizao como

    assalariados, a demanda de uma parte significativa dos trabalhadores, principalmente os

    dos moradores de engenhos de acar e colonos das fazendas de caf, foi a extenso da

    legislao trabalhista aos trabalhadores do campo, com a introduo do registro em carteira

    de trabalho, jornada de oito horas, repouso remunerado, frias, fim do desconto habitao.

    Em que pese a vinculao com a terra existente no caso dos segmentos de trabalhadores

    acima referidos e da incorporao do acesso ao lote como um direito, em nenhum momento

    eles foram pensados pelo PCB por outro vis que no o da relao capital/trabalho,

    tornando-se a greve sua principal forma de luta5. Usando o respaldo da legislao

    trabalhista, interpunham a mediao da lei s demandas, de alguma forma adaptando-as ao

    quadro j existente e conformando-as a padres familiares linguagem da esquerda.

    Como no caso dos assalariados, as demandas de outras categorias tambm

    tendiam a ser traduzidas na linguagem legal. Num primeiro momento, a questo que

    produziu importantes mobilizaes foi a fixao das taxas de arrendamento em vinte por

    cento da produo. Esse limite fora inclusive garantido, em 1945/46, pela presso dos

    comunistas, em algumas constituies estaduais (como o caso de Gois), dando suporte

    legal reivindicao (Loureiro, 1982). Tambm lutava-se contra a prtica de plantio de

    capim no terceiro ano de arrendamento da terra para formao de pastos pelos

    arrendatrios, prtica comum em vrias regies do pas e que tornava estes trabalhadores

    itinerantes no interior das fazendas e inter fazendas, impedindo-os de plantio de culturas

    permanentes e de uma vinculao mais permanente com a terra.

    Do ponto de vista dos que tinham acesso terra de forma precria, atravs de

    parceria e arrendamento, as principais demandas giravam em torno da regularizao dessas

    relaes, sugerindo os pontos que deveriam constar da lei (contrato escrito obrigatrio, com

    prazo nunca inferior a quatro anos, taxa nunca superior a vinte por cento da colheita,

    discriminao completa das partes contratantes, etc). Ou seja, sugeria-se o seu

    5 Foram muitas as greves, principalmente nas fazendas de caf paulistas. Muitas delas tinham o nmero departicipantes contabilizados em termos de "famlias", indicando os laos que prendiam os trabalhadores sfazendas (sobre essas greves, ver Medeiros, 1995).

  • 10

    disciplinamento nos aspectos mais recorrentemente tensos da relao parceiro/proprietrio

    fundirio, com relevo aos prazos contratuais que eram um dos elementos constantes nas

    disputas, principalmente quando o que estava em jogo era a prtica comum de deixar a terra

    com capim plantado.

    No caso dos posseiros, a produo de reivindicaes passava pela leitura do acesso

    terra como um direito, forjado atravs do trabalho contumaz, do investimento no

    desbravamento do solo, em oposio ao oportunismo e ausncia de interesse produtivo dos

    grileiros e latifundirios. Nessa medida, grupos sociais que se identificavam, num

    determinado momento, como posseiros e, portanto, demandavam a posse da terra contra as

    tentativas de grileiros se apropriarem delas, em outras situaes, apareciam pagando taxas

    pelo uso da terra, atitude que caracterizaria o reconhecimento da propriedade por outrem.

    Parceiros, arrendatrios, foreiros, posseiros tinham suas demandas de livre acesso terra,

    traduzidas na bandeira mais geral de reforma agrria, questionando a concentrao

    fundiria e seus efeitos sobre o desenvolvimento do pas.

    Para alm das demandas que envolviam mais diretamente as condies de

    trabalho, em diversos momentos, era possvel constatar outras, que diziam respeito s

    condies de vida das populaes rurais. Criao de ambulatrios mdicos para dar

    consultas e distribuir remdios sob a forma de amostra grtis, dentistas, escolas de

    alfabetizao, construo de fossas sanitrias, fiscalizao pela Secretaria da Sade, de

    incio pelo menos nos centros rurais mais populosos, para verificao das condies de

    habitao, eram demandas que perpassavam a maior parte dos encontros e congressos de

    "lavradores" e "trabalhadores agrcolas". Desde logo tambm apareceram demandas em

    torno dos direitos sociais, envolvendo aposentadoria, seguro e previdncia social, garantias

    j obtidas pelos trabalhadores urbanos e no existentes para os do campo.

    Tais questes estiveram presentes tambm no Congresso de Belo Horizonte, de

    1961, do qual participaram as diferentes formas de organizao ento existentes6. Na sua

    pauta constavam as chamadas "reivindicaes sociais", como um item especfico,

    6 O Congresso de Belo Horizonte foi convocado pela ULTAB. A ela se vinculavam, de forma mais ou menosestreita, a maior parte das associaes de lavradores existentes no pas. Para o encontro tambm foramconvidadas as Ligas Camponesas, lideradas por Francisco Julio e que atuavam em especial em Pernambucoe Paraba e o Master, Movimento dos Agricultores sem Terra, com base no Rio Grande do Sul e apoiado peloento governador do estado, Leonel Brizola. Para uma leitura dos debates nesse congresso, ver Medeiros,1995.

  • 11

    envolvendo previdncia social, ao do Servio Social Rural, direitos da mulher, do jovem

    e da criana, educao e sade pblica, endemias, assistncia mdica e hospitalar,

    alfabetizao e instruo, proteo contra as calamidades7.

    O tema do acesso terra e reforma agrria, central no congresso, tambm foi

    progressivamente sendo traduzido na linguagem institucional, das leis, do Congresso. Ao

    mesmo tempo, num contexto de luta poltica em torno de quem tinha maior

    representatividade para falar em nome dos camponeses, numa situao em que a

    radicalidade aparecia como um valor positivo, PCB e Ligas disputavam essa qualificao

    no s em termos de contedo da reforma agrria, como tambm das aes que a

    impulsionariam, como o caso das ocupaes de terra8. Paralelamente, o tema apropriado

    tambm pela Igreja Catlica que, no incio dos anos 60, passa a intervir no campo

    estimulando a sindicalizao, disputando as bases da Ligas e do PCB, reconhecendo a

    legitimidade das demandas em pauta, mas procurando-lhe dar-lhe uma soluo que no

    passasse pelo "confronto de classes".

    Os anos 63 e 64 foram marcados pela institucionalizao dos direitos, com o Estado

    reconhecendo e enquadrando as demandas que emergiam no meio rural no campo legal. Foi

    regulamentado o sindicalismo rural, reconhecendo sindicatos de trabalhadores de um lado e

    de patres de outro, nos moldes do sindicalismo corporativista; foi aprovado, aps mais de

    dez anos de debate, o Estatuto do Trabalhador Rural, estendendo ao campo uma srie de

    7 O Servio Social Rural foi criado em 1955, como entidade autrquica, subordinada ao Ministrio daAgricultura, visando a prestao de servios sociais no meio rural (sade, educao, assistncia sanitria,alimentao, vesturio, habitao, incentivo atividade produtiva); promoo da aprendizagem eaperfeioamento de tcnicas de trabalho; fomento economia de pequenas propriedades e atividadesdomsticas; incentivo criao de comunidades, cooperativas ou associaes; realizao de estudos paraconhecimento e divulgao das necessidades do "homem do campo". Era controlado pela Confederao RuralBrasileira (entidade que agregava as associaes rurais existentes no pas): seu Conselho Nacional tinha umpresidente, nomeado pela Presidncia da Repblica, a partir de uma lista trplice elaborada por aquelaentidade de representao. Dos outros oito membros do Conselho, quatro eram representantes ministeriais(Agricultura; Trabalho, Indstria e Comrcio; Educao e Cultura; Sade) e quatro eram eleitos emassemblia geral da Confederao Rural Brasileira.

    8 Embora a principal marca dos conflitos fundirios nos anos 50/60 fosse a resistncia expulso, no inciodos anos 60 verificaram-se algumas ocupaes (entendidas como retomadas de terras das quais trabalhadoreshaviam si expulsos). medida que o debate por reforma agrria crescia de dimenses e tambm seintensificava a disputa pela representao dos trabalhadores, envolvendo Ligas, Ultab e Igreja Catlica, e aradicalidade aparecia como um valor positivo, ocorreram algumas ocupaes de terra que no podem serconsideradas como aes de resistncia, mas ofensivas que compunham essa disputa poltica. o caso daocupao da rea do Imb, no Rio de Janeiro, pertencente a uma usina de acar, feita pelas associaesligadas ao PCB.

  • 12

    direitos trabalhistas vigentes para o meio urbano e, logo aps o golpe militar, foi aprovado

    o Estatuto da Terra, regulamentando as condies de acesso terra e os contratos de

    parceria e arrendamento. Esse documento passou a desenhar o perfil e os limites das

    demandas por reforma agrria at os dias de hoje.

    Durante esses anos, os trabalhadores do campo emergiram na cena poltica com

    demandas prprias, influram, decisivamente, com sua presena e com a fora dos conflitos

    em que participavam, num debate sobre destinos da nao, provocaram mudanas

    institucionais significativas, expressas na produo de novos corpos legais e na criao de

    instituies estatais que assinalavam a fora poltica das demandas que se colocavam.

    No entanto, o golpe militar, em cujo desencadeamento as reivindicaes por

    reforma agrria tiveram um papel importante, trouxe luz o paradoxo que vem marcando a

    vida dos trabalhadores do campo: embora com a presena reconhecida enquanto profisso,

    tendo deixado as marcas dos conflitos nas instituies recm criadas, numa conjuntura

    adversa, no tiveram como fazer valer seus direitos. Referindo-se ao sculo XIX,

    Hobsbawn chama a ateno para o carter instrumental dos direitos: "o direito greve ou a

    formar um sindicato no geralmente significativo em si, mas sim essencialmente pelo que

    as greves e os sindicatos possam a vir obter para os trabalhadores. Sob esse aspecto, eles

    no so fins em si mesmos, e sim meios" (Hobsbawn, 1987:420). Sob essa tica, num

    contexto altamente repressivo, nem os direitos formalizados em lei, nem as concepes de

    justia que permitiram seu reconhecimento, tiveram eficcia.

    Modernizao, represso e as mltiplas dimenses das lutas por direitos

    Com suas principais lideranas presas, assassinadas ou foradas a uma vida de

    clandestinidade, sindicatos sob interveno e controlados, muitas vezes, por grupos

    estranhos aos conflitos que se desenvolveram no pr-64, acossados por um processo intenso

    e rpido de modernizao tecnolgica que rompeu os laos que os mantinham ligados s

    propriedades, vastos segmentos de trabalhadores no tiveram alternativa seno abandonar o

    campo em busca de outras alternativas de trabalho ou passar a viver na periferia das

    pequenas e mdias cidades do interior, dedicando-se ainda s atividades agrcolas, mas sem

    nenhum lao mais permanente com a propriedade: trabalhando ora como cortadores de

  • 13

    cana, ora na construo civil ou fazendo "biscates", ora na colheita da laranja, de algodo,

    de caf, os direitos trabalhistas tornaram-se, quando muito, apenas uma referncia remota9.

    Estimulados pelos projetos incentivados e pelo crdito farto e barato no s se

    promoveu a modernizao tecnolgica nas reas de cultivos tradicionais, como tambm

    foram ocupadas as fronteiras disponveis, expulsando posseiros e ndios. Tambm nessa

    esfera, os direitos conquistados viraram letra morta. Nem o tradicional direito de usocapio

    conseguiu se impor, nem os trabalhadores conseguiram, a partir das recorrentes mas

    atomizadas aes de resistncia e denncias da Contag, fazer valer o Estatuto da Terra, quer

    atravs das suas clusulas que previam desapropriao das reas de conflito, desde que

    estas se caracterizassem como latifndio10, quer atravs das disposies que

    regulamentavam o arrendamento e a parceria11.

    Em sntese, o reconhecimento de direitos no plano institucional contrastava com a

    dificuldade de organizao dos trabalhadores frente s novas condies que lhes estavam

    sendo impostas no bojo da acelerao da modernizao tecnolgica e com a atualizao das

    velhas prticas dos proprietrios de terra, fundadas na coero. Ou seja, o plano legal no

    foi suficiente para, como aponta Telles (1994:91), estabelecer uma forma de "sociabilidade

    regida pelo reconhecimento do outro como sujeito de interesses vlidos, valores

    pertinentes a demandas legtimas".

    Esse processo no se deu sem conflitos e contradies. Como apontam Palmeira e

    Leite (1998), a modernizao impediu a continuidade dos contratos tradicionais,

    contribuindo para "criar desequilbrios nas estruturas sociais que servem de suporte, entre

    outros, s atividades econmicas" e tambm promoveu uma alterao nessas mesmas

    estruturas, alterando a posio dos agentes. Dentre outras coisas, a maior presena do

    Estado no campo, seja atravs do novo aparato legal, seja dos investimentos incentivados,

    em alguma medida esvaziou as funes dos chefes locais, diminuindo-lhes o poder e criou

    9 Segundo a Confederao Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), no incio dos anos 80, cercade 80% dos assalariados rurais no tinham carteira assinada. Grande parte deles eram bias-frias. Muitosoutros, trabalhadores em carter permanente.10 De acordo com o Estatuto da Terra, as propriedades consideradas como latifndios por dimenso (acima de600 mdulos rurais) ou por explorao (menor que 600 mdulos, mas no aproveitada de acordo com osparmetros da localidade onde se inseria) poderiam ser objeto de desapropriao por interesse social (ou sejacom pagamento do valor da terra nua em ttulos da dvida agrria ) para fins de reforma agrria.11 O Estatuto da Terra regulamentou no s os prazos mnimos de contrato, como as obrigaes de cada umadas partes contratantes. Com isso, esperava-se por fim aos conflitos que sempre foram recorrentes nessasrelaes.

  • 14

    novos mediadores. Segundo os autores citados, o controle das clientelas passou a "ser

    mediatizado pelo controle que tero que exercer sobre determinados postos na mquina do

    Estado - um Estado mais do que nunca centralizado - tornando-se mais complexo o seu

    trabalho de dominao. A patronagem exercida pelos grandes proprietrios, j abalada

    pela sada em massa dos trabalhadores de dentro das fazendas, deixa de ser um

    mecanismo exclusivo de articulao dos camponeses com o estado e com a sociedade.

    Abre-se a possibilidade de patres alternativos e de padres alternativos, ao mesmo tempo

    que se amplia o espao para organizaes estranhas ao sistema tradicional de dominao"

    (Palmeira e Leite, 1998:128, grifos dos autores).

    Do ponto de vista dos direitos dos trabalhadores, em que pese a fragilidade da rede

    sindical constituda, ela fez da luta pelos direitos garantidos em lei um mote organizativo e

    de alguma forma teve um papel importante no sentido de socializar noes de direito, num

    contexto em que se organizar para invoc-los implicava em enfrentamento (Medeiros,

    1989).

    Esses fatos no implicavam no entanto em que os governos militares voltassem as

    costas para os trabalhadores rurais. Revivendo as concepes j expressas nos debates

    iniciais sobre a sindicalizao rural e arraigada entre os setores dominantes, segundo as

    quais a tutela desse segmento era uma necessidade, no s foram realizadas, pelo prprio

    exrcito, aes de cunho social no campo, em especial nas reas onde os conflitos pela terra

    eram mais intensos, em especial a regio norte do pas (Martins, 1984), como tambm,

    atualizando as dimenses da cidadania regulada de que fala Santos (1979), estenderam

    parcialmente aos trabalhadores rurais os direitos previdencirios, atravs da criao do

    Funrural. No entanto, na medida em que o sindicato foi institudo como principal agente

    dessa extenso (mediante convnios que implicavam a contratao de mdicos e dentistas

    pelo sindicato, montagem de consultrios e encaminhamento de aposentadorias), esse

    espao passou a ser reconhecido centralmente como instncia de recebimento de benefcios

    e no de organizao e luta, contrapondo-se, na prtica, prpria orientao geral do

    sindicalismo, atravs da Contag, de fazer do sindicato um espao de socializao dos

    direitos. Em diversos locais, essas entidades de representao acabaram por se tornar mais

    um dos espaos de prticas clientelsticas, com os representantes do poder local disputando

  • 15

    a representao dos trabalhadores como forma de ampliar suas bases de sustentao

    poltica.

    Alm dos sindicatos, outra possibilidade de socializao e/ou atualizao de direitos

    veio a se constituir: segmentos da Igreja Catlica, que aderiram Teologia da Libertao,

    fizeram do trabalho pastoral, das comunidades eclesiais de base e das reunies

    comunitrias, ocasies privilegiadas para isso. Alm de trabalhar com noes de direitos do

    ponto de vista legal, a Igreja atualizou a leitura bblica nas lutas por terra, criando uma

    teologia da terra que no s transformava a terra num direito, como remetia essas lutas

    caminhada do povo hebreu em busca da terra prometida. Foi tambm nesse espao que

    passou a ser feita a crtica postura assistencialista do sindicalismo, chamando a ateno

    para a necessidade de renovar suas prticas e estimulando a criao das chamadas

    oposies sindicais, portadoras de concepes distintas sobre a prtica sindical, baseadas na

    valorizao da participao e organizao dos trabalhadores e das mobilizaes.

    Esse tipo de ao, somado ao fato de que as tomadas de posio em favor das

    demandas dos trabalhadores por, pelo menos, parte da hierarquia da Igreja, lhes dava uma

    legitimidade maior (Novaes, 1997), no s transformou a Igreja numa importante mediao

    nos conflitos, em especial fundirios, como tambm permitiu o aparecimento das primeiras

    oposies sindicais, ainda nos anos 70. No bojo dessas transformaes, a defesa dos

    direitos e a referncia legal ao universo dos direitos foi uma constante.

    Os conflitos sociais revigorados

    Nos anos 80 iniciou-se um novo ciclo de lutas que, em alguma medida, refletia as

    profundas alteraes pelas quais passava a agricultura brasileira e a presena de novas

    mediaes nos conflitos. Surgiram novos temas (os efeitos sociais da construo de usinas

    hidreltricas, a importncia da preservao de reas de matas, os efeitos da modernizao

    sobre os pequenos agricultores, etc) e novas categorias (sem terra, atingidos, seringueiros,

    etc.) que se somaram s anteriores. Enquanto as categorias mais usuais nos anos 70

    (posseiros, arrendatrios, parceiros, assalariados) refletiam a referncia lei, aquelas

    refletiam a nova dinmica de lutas e expressavam identidades constitudas no prprio

    processo de crtica e enfrentamento das condies vigentes no meio rural. Essa nova

    dinmica inovou no que se refere s formas de luta, priorizando os espaos pblicos, a

  • 16

    busca de visibilidade, mas tambm atualizou as referncias legais, por vezes apoiando-se

    fortemente nelas, reivindicando a aplicao do Estatuto da Terra, por vezes constituindo

    novas interpretaes da lei, outras criando fatos polticos cujo reconhecimento provocou

    inovaes nas leis vigentes e novos direitos. Um dos casos mais notrios foi o dos

    seringueiros do Acre que, ameaados de expulso da terra em funo dos desmatamentos

    estimulados pelo incentivos do Estado, ainda durante o regime militar, resistiram, em

    princpio demandando o direito de ficar na terra com base no Estatuto da Terra, depois

    obtendo essa mesma permanncia a partir da constituio de novos instrumentos legais,

    como os que deram origem s reservas e assentamentos extrativistas, que no s garantiam

    o direito terra, mas tambm disciplinavam o uso da floresta, impedindo sua derrubada.

    Alm de lutas de resistncia, nas quais o acesso terra foi demandado a partir de

    noes costumeiras sobre direito de uso, constitudas a partir de longo tempo de trabalho

    investido na terra, o incio das ocupaes fundaram novas concepes de direito. Tratava-

    se de um outro movimento no qual no era questionada a legalidade da propriedade da terra

    mas sim, principalmente, a sua legitimidade, uma vez que a apropriao no se justificava

    atravs de uma destinao produtiva. Atualizou-se, atravs dessas prticas, a prpria noo

    de funo social da terra, incorporada Constituio Brasileira desde 1946 e atualizada em

    198812. Como aponta Joo Pedro Stedile, "se no ocupamos, no provamos que a lei est

    do nosso lado... a lei s aplicada quando existe iniciativa social... a lei vem depois do

    fato social, nunca antes. O fato social na reforma agrria a ocupao, as pessoas

    quererem terra, para depois se aplicar a lei" (Stedile e Fernandes, 199: 115).

    As ocupaes de terra cresceram ao longo da primeira metade dos anos 80,

    consolidaram-se com a organizao do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, e

    foram, pelos fatos polticos que criaram, pelo apoio que receberam de diversas entidades e

    pelas presses que conseguiram realizar, um importante motor das desapropriaes a partir

    da realizadas, em especial aps o fim do regime militar, em 1985. No final dos anos 80,

    essa forma de luta, que at ento se concentrava no centro sul do pas, expandiu-se por

    12 A noo de funo social da terra foi introduzida no Brasil pela Constituio de 1946, mas ela no eradefinida. A Constituio de 1988 incorporou alguns parmetros do que pode ser considerado funo social: "afuno social cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critrios e graus deexigncia estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II -utilizao adequada dos recursos naturais disponveis e preservao do meio ambiente; III - observancia

  • 17

    novos espaos, correspondendo nacionalizao do MST, que ganhou expresso nacional e

    tornou-se o prprio smbolo da luta por terra. Desse processo fez parte a sua insero em

    So Paulo, em especial na regio do Pontal do Panapanema, que comeou a ser objeto das

    aes mais sistemticas do MST no incio dos anos 90 e a intensificao das suas aes nas

    regies Norte e Nordeste do pas. As ocupaes tornaram-se no s mais constantes em

    termos de nmero de eventos, mas tambm em termos de quantidade de pessoas

    envolvidas. Voltavam-se quer para terras de titulao duvidosa (como o caso do Pontal,

    onde grande parte das terras eram pblicas e haviam sido griladas), quer para imveis em

    processo de falncia, motivada pela crise de tradicionais atividades agrcolas (em especial,

    regio canavieira pernambucana e fluminense). Com os altos ndices de misria e

    desemprego dela decorrentes, a possibilidade de acesso terra no s facilitava a

    arregimentao de pessoas dispostas a ir para os acampamentos, como tambm legitimava

    as aes dos sem terra junto opinio pblica, alm de dar-lhes uma cobertura legal. Num

    quadro de reduo das alternativas de emprego, at mesmo trabalhadores com longo

    perodo de experincia urbana passaram a engrossar as ocupaes, em especial em estados

    bastante urbanizados, como o caso de Rio de Janeiro e So Paulo. Verifica-se, assim, uma

    mudana no prprio pblico que demandava terra, o que ocasionou inmeros debates sobre

    quem poderia receber lote num assentamento, mais uma vez contrapondo a legislao

    (critrios de seleo institudos pelo Incra) s demandas efetivas13.

    A constituio e expanso do MST representaram no s inovaes nas formas de

    luta, como tambm no plano organizativo, ampliando a concepo de luta por terra e de seu

    papel. Com efeito, um dos mais significativos traos desse movimento a concepo de

    que a demanda por terra no se esgota na obteno de um lote, mas implica na necessidade

    de organizar a produo, de obter crditos para isso, de formar lderes como caminho para

    dar continuidade s ocupaes para alm dos seus locais de origem. Em decorrncia,

    verifica-se uma forte nfase na organizao dos assentamentos, tanto no plano local, quanto

    no plano regional, estadual e nacional, de forma a fazer da luta por terra uma bandeira

    ampla, capaz de recobrir no s diferentes setores sociais, mas tambm um conjunto amplo

    das disposies que regulam as relaes de trabalho; IV - explorao que favorea o bem estar dosproprietrios e dos trabalhadores" (artigo 186).

  • 18

    de demandas que vo alm da terra. A estratgia de consolidao do MST implicava, pois,

    no s em garantir a sobrevivncia econmica dos assentados como tambm em buscar

    legitim-los socialmente, atravs da produo. Dentro dessa estratgia, passaram a

    estimular formas de produo cooperada e de beneficiamento14, estabeleceram rgidas

    regras de conduta no interior dos assentamentos (desde proibio de bebida at

    regulamentao sobre transferncia e diviso de lotes), nfase na educao no s poltica,

    mas tambm formal (escolarizao bsica, visando a erradicao do analfabetismo entre os

    adultos e a preparao de crianas e jovens) e tecnolgica15.

    Conjugaram-se, assim, como estratgia poltica, mobilizaes e ocupaes

    envolvendo grande nmero de pessoas, dando maior visibilidade s lutas por terra, com um

    trabalho cotidiano e molecular de recrutamento de novos ocupantes, organizao de

    acampamentos, fortalecimento dos assentamentos e formao de lderes.

    Evidentemente o processo organizativo que tem revigorado a luta por terra no Brasil

    no tem se mostrado isento de tenses, tanto internamente aos assentamentos, onde foi

    grande a resistncia dos assentados s formas coletivas de produo, levando

    flexibilizao do modelo, como nas dificuldades inerentes forma como a expanso

    nacional do MST se deu, atravs da ao de lderes, no mais das vezes formados no sul do

    pas, com tradio de uma agricultura familiar, com fortes laos de solidariedade. Essa

    trajetria muitas vezes era transposta para reas onde havia uma tradio secular de

    subordinao figura de um patro. O choque de percepes sobre formas de organizao e

    significado do acesso terra foi concomitante a esse processo e o tensionou em diferentes

    momentos.

    No contexto de expanso das aes e visibilidade do MST, iniciativas de outros

    atores tambm surgiram, reiterando as ocupaes como principal forma de luta pela terra.

    13 O alvo preferencial do Incra so trabalhadores com tradio agrcola. Assim, no so prioridadetrabalhadores com tradio urbana, aposentados, etc. So estes segmentos que tm engrossado osacampamentos e as ocupaes.14 Segundo Joo Pedro Stedile e Gilberto Portes de Oliveira, lderes do MST, entre 1986 e 1998 essemovimento organizou mais de 70 cooperativas de produo e comercializao, nove cooperativas centrais,duas de crdito e dezenas de pequenas e mdias unidades industriais (FSP, 22/03/98, p. 1-3)15 O MST criou uma escola tcnica, no sul do pas, destinada a preparar os assentados para gerir ascooperativas que estavam se constituindo nos assentamentos (Curso Tcnico em Administrao deCooperativas). Alm dele h ainda um curso de formao de Agentes de Desenvolvimento Rural e um outrode Magistrio Rural, todos no Rio Grande do Sul (Concrab, 1996). Alm disso, at 1996, o MST atuava comum universo de cerca de 600 escolas de primeiro ciclo, 20 escolas de 5 8 srie, totalizando 35 mil crianase adolescentes e cerca de 1400 professores (Concrab, 1996).

  • 19

    De um lado, o sindicalismo, que tradicionalmente tendeu a valorizar o encaminhamento de

    demandas de desapropriao ao poder pblico, comeou a atuar mais significativamente em

    ocupaes de terra, principalmente a partir do momento em que o MST passou a disputar as

    suas bases tradicionais, em especial no que diz respeito aos estados do Nordeste. Embora a

    implementao dessas ocupaes tenha sido localizada e em escala bem inferior, foi

    politicamente significativo, uma vez que representou uma legitimao dessa forma de

    agir16. De outro, o MST comeou a sofrer cises internas e surgiram novas organizaes de

    luta por terra, em diversos pontos do pas17. Para alm das disputas polticas que essas

    diferentes siglas conotam, esses movimentos, de carter mais localizado, indicavam a

    extenso que a luta pela terra assumia e a legitimao das ocupaes como forma eficaz de

    acesso terra, criando fatos polticos que levavam s desapropriaes.

    O aumento na quantidade de ocupaes e de volume de ocupantes foi concomitante

    ao crescimento da violncia no campo, culminando, j no incio do governo Fernando

    Henrique Cardoso, com a morte de um grande nmero de trabalhadores em Corumbiara,

    estado de Rondnia (agosto de 1995), durante uma ao de despejo, em Eldorado de

    Carajs, no Par (abril de 96), por ocasio de uma mobilizao, e prises de importantes

    lideranas do MST em Pontal do Paranapanema, em So Paulo. Nos dois primeiros casos,

    identificados como situaes de "massacre" de trabalhadores, chama a ateno o fato de

    que no se tratava da ao de milcias privadas, mas sim de foras policiais chamadas a

    intervir, confirmando os argumentos de Barp (1998) de que uma das tendncias da

    violncia no campo o crescimento das suas formas legais (ou seja atravs da ao policial

    ou judicial) e a reduo da violncia ilegal (atravs da ao de pistoleiros e jagunos).

    As lutas por terra nos anos 80/90 resultaram na constituio de novas categorias e

    novas identidades: de um lado o sem terra, de outro o assentado, objeto por excelncia de

    polticas pblicas, no sentido de que sua prpria origem mediatizada por uma poltica

    16 Os estados onde essas ocupaes principalmente se deram foram Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, MinasGerais, Gois, Tocantins, Par, Maranho, Piau, Alagoas, Pernambuco, Paraba, Rio Grande do Norte, Bahia(grande parte das aes em conjunto com o Movimento de Luta pela Terra), So Paulo, a partir da Federaode Assalariados Rurais de So Paulo, entidade sindical no reconhecida pela Contag e que agregavasindicatos da regio canavieira de Ribeiro Preto. Note-se que nos estados onde o MST estava maisconsolidado (estados do Sul e Sudeste) no ocorreram aes a partir do sindicalismo (Projeto Cut/Contag,1998).17 Entre elas, MLT, MCC, MT, MLST, etc. .A ao dessas organizaes muitas vezes identificadas pelaimprensa como parte do movimento dos sem terra, sem muita preocupao em distinguir formasorganizativas distintas.

  • 20

    estatal: a desapropriao de uma rea e o assentamento. O assentamento, sob essa tica,

    representa o reconhecimento pelo Estado da demanda por terra, de alguma forma

    alimentando a concepo de que o acesso terra um direito. A sua proliferao, por outro

    lado, tem provocado a constituio de uma srie de demandas (estradas, sade, educao,

    etc), que colocam os assentados em novas redes de relaes, pressionando o poder pblico

    municipal, cobrando do Estado o cumprimento de prazos, fazendo-os atores polticos

    significativos em municpios onde a participao poltica dos trabalhadores do campo

    sempre foi marcada pelo controle clientelstico.

    Uma nova categoria em pauta: o agricultor familiar

    Paralelamente ao crescente peso das ocupaes e acampamentos e,

    consequentemente, da presena poltica do MST e do revigoramento do debate sobre

    reforma agrria, j na dcada de 80, evidenciou-se um reordenamento do lugar poltico dos

    pequenos agricultores na sociedade, indicado no s pelo seu aparecimento na cena pblica

    atravs de uma srie mobilizaes, como pelo crescente peso que passaram a ganhar

    lideranas desse segmento no interior do sindicalismo rural. Vrios foram os fatores que

    contriburam para isso, entre eles a crescente descrena no potencial da modernizao da

    agricultura como forma de melhoria de suas condies de vida; o efeito acumulado de

    experincias localizadas de incentivo s formas associativas, atravs da ao de

    organizaes no governamentais ou do Estado, para buscar sadas para o que se passou a

    chamar questo da produo e que refletiam as dificuldades em competir comercialmente

    com as grandes empresas agroindustriais e cooperativas; o germinar de um conjunto de

    novas lideranas, com forte influncia da Igreja ligada teologia da libertao (mesma

    matriz de diversas lideranas do MST), questionadoras da ao da Contag tambm em

    relao s aes junto aos pequenos produtores. Nesse contexto, surgiram diversas

    experincias de oposies sindicais em diferentes regies do pas. Elas passaram a conduzir

    mobilizaes marcadas pela prtica de trancamentos de estradas, portas de bancos e de

    rgos pblicos, como forma de dar visibilidade s suas demandas e pressionar o Estado a

    atend-las. Amadureceram ainda propostas de tomada de cooperativas (na maior parte

    das vezes, frustadas), alimentadas pela percepo de que os pequenos produtores, se eram

    maioria dentro delas, no detinham nenhum controle poltico sobre suas decises. Tambm

  • 21

    foram realizadas experincias de sindicatos por categorias especficas (fumicultores,

    suinocultores, avicultores), voltados para as complexas negociaes que envolviam os

    contratos de produo com a agroindstria.

    Nas disputas polticas que recortavam o sindicalismo, os pequenos produtores

    progressivamente passaram a ocupar lugares de mais destaque, com as demandas de h

    muito existentes ganhando novo perfil atravs do seu reenquadramento dentro de um

    diagnstico da situao agrria e agrcola do pas, o que os levou a falar cada vez mais na

    necessidade de um "novo modelo de desenvolvimento" ( eno apenas na inverso de sinais

    das polticas pblicas. Nesse processo, foram importantes as atividades de formao e de

    intercmbios internacionais, promovidas principalmente por iniciativas da Igreja e de

    organizaes no governamentais, onde diversas lideranas sindicais foram levados a

    conhecer experincias europias e vice-versa. Esses elementos somados ao crescimento do

    debate intelectual sobre a importncia econmica e social da agricultura familiar, debate

    esse que, por meio da ao de assessorias, rapidamente passou a circular no meio sindical,

    num exemplo caracterstico da reflexividade a que se refere Giddens (1991), colocou, no

    centro da discusso sobre polticas pblicas para o campo, o agricultor familiar. Essa

    categoria rapidamente substituiu, no debate poltico e na linguagem sindical, o termo

    dominante at os anos 80 (pequeno produtor). Sob essa perspectiva, temas antes

    considerados de menor importncia tais como a discusso de alternativas de

    comercializao, a experimentao de formas de produo associadas, o estmulo

    constituio de agroindstrias, as implicaes das escolhas tecnolgicas, as dimenses

    ambientais da produo agrcola passaram a ser valorizados e a ganhar novos significados

    como sinalizadores de novos caminhos possveis.

    Por outro lado, a descentralizao de atribuies governamentais, prevista na

    Constituio de 1988, fez crescer o debate em torno do municpio como espao de

    produo e gesto de polticas pblicas, provocando uma valorizao da ao sindical

    voltada ao espao local, o que implicou num maior interesse na interveno na esfera

    municipal, atravs da atuao em conselhos municipais que passaram a ser criados,

    projeo de lideranas de associaes e sindicatos para a esfera poltico-partidria, atravs

    da entrada na disputa por vereanas e mesmo prefeituras e assemblias legislativas

    estaduais. Para tanto contribuiu tambm a ampliao dos temas sindicais que passaram a

  • 22

    incorporar questes no estritamente relacionadas esfera do trabalho, mas tambm

    relacionadas gnero, gerao, sade, educao, tornando o espao local uma esfera

    importante de interveno.

    Para tornar visveis essas demandas e as novas questes colocadas no interior do

    sindicalismo, tiveram importncia as grandes mobilizaes nacionais, como o caso dos

    Gritos da Terra, promovidos pela Contag, e que apresentavam uma vasta pauta de

    demandas ao Estado. Atravs deles, buscou-se uma forma espetacular de apresentao/

    negociao de demandas mas tambm apoio da sociedade para as propostas18. fora

    dessas mobilizaes tem sido atribuda, pelos sindicalistas, uma srie de medidas

    entendidas como de interesse dos agricultores, como o caso do Programa Nacional de

    Apoio Agricultura Familiar (Pronaf), aumento de recursos para o Procera (Programa

    Especial de Crdito para Reforma Agrria, hoje incorporado ao Pronaf), medidas de

    agilizao das aposentadorias rurais, etc.

    No plano da organizao sindical, essas mudanas corresponderam crise de um

    modelo de conduo de conflitos e de um modelo de representao sindical. A crescente

    repercusso das demandas em torno da agricultura familiar veio ligada a um processo de

    substituio de lideranas e de modos de fazer polticas, correspondendo ascenso e

    reconhecimento poltico de lideranas que expressavam os interesses desse setor,

    paralelamente perda de importncia daquelas ligadas aos assalariados. Essa ascenso

    implicou na projeo de lideranas geradas nesse mbito para outras esferas sindicais

    (Central nica dos Trabalhadores) levando o tema da agricultura familiar para o interior de

    debates mais amplos, tanto os que envolvem diferentes dimenses da vida nacional quanto

    para segmentos que estavam acostumados a ler o campo apenas sob a tica dos conflitos de

    terra e da reforma agrria.

    Um outro efeito importante desse reordenamento de posies foi o fato de que

    questes relacionadas aos pequenos produtores deixaram de se evidenciar como tpicas do

    sul do pas. No s emergiram experimentos de organizao da produo em diferentes

    regies, impondo uma nacionalizao das questes referentes agricultura familiar, como,

    em algumas delas, as organizaes de trabalhadores se mobilizaram no sentido de disputar

    18 Foi recorrente nas entrevistas que fizemos com sindicalistas a nfase na importncia de conseguir falarpara a sociedade e a preocupao com a veiculao de uma imagem positiva dos rurais.

  • 23

    recursos dos fundos especiais voltados para o desenvolvimento regional, criados pela

    Constituio de 1988, de forma a canaliz-los para o apoio agricultura familiar. o caso

    dos fundos constitucionais para o estimular o desenvolvimento regional (FNO, FNE e

    FCO).

    Por esses caminhos, possvel constatar uma certa convergncia entre as demandas

    dos sem terra, muitos dos quais agricultores familiares pauperizados, e os da nova

    categoria que emerge politicamente de uma mesma matriz, criticando a prpria natureza do

    desenvolvimento brasileiro baseado nas grandes unidades produtivas e apontando formas

    de lev-lo em outra direo. Essa aproximao, passvel de ser constatada pelo contedo

    das demandas, no entanto, no se traduzem mecanicamente em convergncia poltica das

    organizaes que as alimentam, nem das experincias acumuladas por esses segmentos,

    enquanto grupos organizados.

    Impasses nas lutas por direitos: trabalho assalariado e trabalho escravo

    Paralelamente ocupao dos espaos pblicos, nos anos 90, por demandas

    relacionadas terra e ao fortalecimento da agricultura familiar, possvel afirmar que os

    assalariados saram de cena. No incio dos anos 80, as greves, principalmente dos

    canavieiros, comandadas em grande parte pela Contag, apontaram para um novo ciclo de

    atualizao das demandas por direitos. No entanto, a crise progressiva da agroindstria

    canavieira, em razo do fim dos subsdios estatais, provocou a falncia de vrias unidades

    produtivas e desemprego. Nas reas onde ela se manteve vigorosa, as tarefas de corte

    passaram, em grande medida, a ser feitas por mquinas, dispensando mo-de-obra. Com

    esse quadro, o poder de negociao dos canavieiros estreitou-se muito, contribuindo para

    manter condies de trabalho hostis e inviabilizar lutas pelo cumprimento de direitos

    trabalhistas. Como j apontado anteriormente, esse processo caminhou lado a lado com a

    fragilizao poltica das lideranas provenientes de assalariados, levando a que a Contag

    cada vez mais aparecesse como porta-voz dos agricultores familiares.

    No entanto, em algumas das regies canavieiras tradicionais, tanto a ao do MST,

    quanto a sindical, sobre os trabalhadores das usinas falidas, levaram a que eles

    alimentassem um novo ciclo de ocupaes de terra. Esse fato particularmente notrio na

    Zona da Mata nordestina, onde a chegada do MST, no seu processo de "nacionalizao",

  • 24

    implicou em um renascimento da luta por terra. Mas tambm se verificou em algumas

    regies canavieiras de So Paulo, atravs da ao da Federao dos Empregados Rurais e

    Assalariados de So Paulo (Feraesp)19. Dessa forma, ocorreu uma reverso de sua posio

    de assalariados para assentados, passando a engrossar as demandas prprias desses

    segmentos. Deve-se ressaltar o fato de que essa reverso se deu justamente nas reas onde

    havia uma organizao prvia, uma trajetria de confrontos, que criaram um terreno frtil

    para a organizao dos trabalhadores na demanda por terra, em situaes de falncia de

    usinas. O mesmo no parece ter ocorrido em outras reas onde o trabalho assalariado

    importante, como o caso das fazendas de caf, florestais, das carvoarias, etc.

    Se o caso dos assalariados ilustrativo da fragilidade dos direitos no meio rural,

    mais ainda o a situao extrema, que vem sendo denunciada, em especial pelo Comisso

    Pastoral da Terra como trabalho escravo. Trata-se de uma relao de trabalho em que os

    trabalhadores so aliciados por empreiteiros, em regies distintas daquelas onde vo

    trabalhar (o que os faz distanciar-se dos laos familiares e de amizade). Desde esse

    momento assumem uma dvida, referente quer ao pagamento de dbitos anteriores do

    trabalhador com penses, onde estavam hospedados, quer referente a adiantamentos para

    deixar para a famlia, antes da partida. Essas dvidas aumentam com os gastos de viagem,

    alimentao, compras de instrumentos de trabalho, etc., acumulam-se ao longo do tempo e

    dificilmente conseguem ser saldadas, de forma que se repe a necessidade do trabalho

    atravs da coero. Como afirma Vilela, quando conduzido para a propriedade rural de

    destino, "corta o ltimo de elo de ligao com a civilizao, ou com qualquer possibilidade

    de manter contato com a famlia, ou com quer que seja. O trabalhador no sabe para onde

    foi conduzido ... ele acaba submetendo-se totalmente porque no sabe onde est, tampouco

    como sair dali" (Barelli e Vilela, 2000:18). Caminho para obter mo-de-obra, num

    contexto de escassez e de trabalho penoso e arriscado, como as derrubadas, essa relao de

    trabalho ocorre principalmente nas reas de fronteira, mais isoladas (Rezende, 2000).

    Chama a ateno o fato de que as empresas que vem sendo denunciadas como utilizadoras

    dessa forma de coero do trabalho so grandes grupos econmicos, com sede no centro-sul

    19 Essa federao sindical surgiu como dissidncia da Fetaesp, ligada Conteg, e agregava vrios sindicatosda regio canavieira paulista. As principais greves de assalariados em So Paulo, nos anos 80, ocorreram sobsua direo.

  • 25

    e que representam a face mais moderna do capitalismo brasileiro. Entre eles a Encol, Banco

    Mercantil, Atlntica Boa Vista, Manah, Volkswagen do Brasil, entre outras.

    A situao de trabalho escravo constitui-se em uma situao extrema de negao

    at mesmo de direitos civis, produzindo a atomizao dos trabalhadores e impedindo

    qualquer forma de contestao e resistncia coletivas, a no ser atravs da denncia de

    mediadores externos, como o caso da CPT.

    Os efeitos polticos do novo ciclo de demandas

    A presena no cenrio poltico de sem terras e agricultores familiares foi, num

    primeiro momento, objeto apenas de aes repressivas do Estado e de condenaes

    pblicas s manifestaes. O crescimento de suas aes e, consequentemente, de

    visibilidade e fora poltica, arregimentando um nmero cada vez maior de adeptos, teve,

    como resultado mais imediato, iniciativas governamentais que, ao mesmo tempo em que

    incorporaram algumas das reivindicaes em pauta, procuraram dar algum tipo de

    previsibilidade a um conjunto de demandas que se somavam e que, mais do que colocar o

    tema da terra e da agricultura familiar no centro dos debates, traziam tona importantes

    impasses gerados pelas opes em torno da direo das polticas pblicas e da preservao

    de interesses ligados ao grande capital.

    Sob essa tica, dois programas voltados para o campo ganharam importncia nas

    ltimas duas dcadas: as desapropriaes de terra para realizao de assentamentos, que se

    intensificaram a partir da Nova Repblica e ganharam novo flego nos ltimos anos e um

    programa especial de crdito voltado agricultura familiar.

    O Programa de Crdito para a Agricultura Familiar (Pronaf) representou uma

    inovao na poltica agrcola brasileira e corresponde a uma tentativa de viabilizar

    agricultores em fase de empobrecimento. Fruto das lutas sindicais, est longe, no entanto,

    pelo volume de recursos de que dispe, de se constituir em instrumento capaz de viabilizar

    um "novo modelo de desenvolvimento", tal como demandado pela Contag.

    No que se refere s desapropriaes, verifica-se a continuidade da tendncia,

    herdada do regime militar, de centralizao das decises referentes demanda por reforma

    agrria na esfera federal, predominando a lgica de desapropriar reas de tenso social,

    onde os conflitos se tornaram mais intensos. Essa lgica explica em grande medida o perfil

  • 26

    do mapa dos assentamentos rurais no Brasil: dispersos e localizados a partir de uma

    geografia de conflitos, contrariando a idia de "reas reformadas", presente na legislao

    agrria e condio da potencializao da eficcia das aes de apoio aos assentamentos.

    Em que pesem esses fatos, ao longo das duas ltimas dcadas cresceu

    significativamente o nmero de assentamentos rurais e ocorreram uma srie de mudanas

    no aparato institucional estatal, mostrando no s a crescente importncia dos temas

    relacionados questo agrria, como a dificuldade do Estado brasileiro de lidar com eles.

    Para alm da instabilidade do aparato institucional voltado para o tema fundirio, expressa

    em sucessivos rearranjos administrativos20, verifica-se, nos ltimos anos, a constituio de

    um novo modo de olhar sobre o tema, cuja sntese um documento, datado de 1999,

    intitulado "Agricultura familiar, reforma agrria e desenvolvimento local para um novo

    mundo rural". Ele exprime um esforo do Estado brasileiro no sentido de retomar as

    iniciativas polticas em relao questo fundiria, frente a um diagnstico de que a

    interveno estatal estava indo a reboque dos movimentos.

    Uma das principais nfases da poltica que ento se anunciou a insero dos

    assentamentos no mundo dos negcios, de forma competitiva, face a um diagnstico

    pouca insero das famlias no mercado. A idia fora da proposta que a atividade

    agropecuria cada vez mais dinmica, tanto do ponto de vista tecnolgico quanto em

    relao ao comportamento de mercado, exigindo agricultores com comportamento cada vez

    mais empresarial. Desse ponto de vista, deve ser estimulada a verticalizao da produo, a

    ser estimulada atravs de uma linha de crdito especial, obtida atravs da fuso entre o

    sistema de crdito criado nos anos 80 para os assentamentos (Procera) e o programa para a

    agricultura familiar (Pronaf). No que diz respeito aos assentamentos, a proposta do governo

    emancip-los rapidamente (em dois ou trs anos) de forma a transformar os assentados

    20 Ainda no ltimo governo militar foi criado um Ministrio Extraordinrio dos Assuntos Fundirios. Com ofim do regime militar, a questo da terra passou para um Ministrio da Reforma e Desenvolvimento Agrrio,extinto no governo seguinte, voltando o tema fundirio para a alada do Ministrio da Agricultura, tradicionallocus de ao poltica dos interesses ligados propriedade da terra e grande produo agropecuria. Esseenquadramento permanece no incio do governo Fernando Henrique Cardoso, momento em que aintensificao das tenses sociais no campo, da violncia e das ocupaes de terra teve como produto novosarranjos polticos. Logo aps o massacre de Eldorado de Carajs, o governo criou o cargo de MinistroExtraordinrio de Assuntos Fundirios, trazendo novamente a questo da terra para o controle direto daPresidncia da Repblica. A continuidade dos conflitos e a necessidade de aes mais intensas fez com queesse ministrio perdesse sua transitoriedade e fosse substitudo por um Ministrio de DesenvolvimentoAgrrio que agregou, sob sua gide, o tratamento das questes relacionadas aos assentamentos rurais e agricultura familiar.

  • 27

    em agricultores familiares. Dessa forma, o crdito para os assentados passa a ter as mesmas

    restries do Pronaf, programa cujo objetivo atingir uma parcela dos produtores ( os que

    possam competir satisfatoriamente) e no sua totalidade. Sob esse ngulo, a proposta

    aponta na direo de produzir novas excluses. Enfatizando a produtividade e o

    produtivismo, homogeneiza-se o tratamento dos agricultores familiares, negando seu

    potencial de criadores/preservadores de estilos de vida outros que no os gerados pelo

    "negcio".

    Tambm so anunciadas uma srie de regras que formalizam a dimenso contratual

    dos assentamentos e procuram romper com o que documento governamental caracteriza

    como "dependncia das famlias ante o poder pblico", derivada, segundo o Ministro de

    Desenvolvimento Agrrio, "da concepo de colonizao que se expressa no compromisso

    de estradas, energia, sade, educao, crdito, assistncia tcnica, moradia, etc, tpico de

    uma interveno fundiria em zona de fronteira, mas que h dcadas no se realiza mais

    na fronteira. O remdio no caso a definio de regras contratuais rgidas e claras entre

    as partes (poder pblico e assentados), especificando direitos e obrigaes mnimas e o

    tempo de sua realizao" (O Globo, 3/10/98, p. 7). Um dos aspectos dessa proposta a

    exigncia de contratos, onde fiquem claras as dvidas a serem contradas pelos assentados.

    Desse ponto de vista, a assinatura do contrato abre portas para cobrana judicial das dvidas

    assumidas no momento da entrada.

    Diversas tarefas que eram atributo do governo federal (demarcao dos lotes,

    estradas, habitao) passam a ser terciarizadas, tornando-as responsabilidade dos

    assentados.

    Uma outra medida significativa a introduo de mecanismos de mercado para

    obteno de terras, tendendo a atrair trabalhadores desejosos de acesso terra mas

    reticentes aos enfrentamentos inerentes s ocupaes. Nessa perspectiva, coloca-se um

    impasse para os movimentos sociais envolvidos na luta por terra. Embora condenem

    veementemente a medida, muito comum dirigentes sindicais reconhecerem que "h filas"

    de trabalhadores buscando informaes nas sedes dos sindicatos e nas prefeituras sobre

    como obter o crdito. Para alm dessa cunha, a lgica de mercado sepulta definitivamente

    qualquer possibilidade de uma reforma agrria planejada, visto que ela fica submetida aos

    interesses dos proprietrios em vender ou no suas terras.

  • 28

    Um dos supostos das novas medidas que o poder do latifndio foi quebrado, em

    funo dos mecanismos de estabilizao monetria e queda dos preos da terra. Sem entrar

    na definio do que se est entendendo por latifndio, importante ressaltar que algumas

    das propostas apresentadas foram resultado da presso ou sugestes das entidades

    representativas dos proprietrios de terra. o caso da medida provisria que impede a

    vistoria de reas ocupadas e o Banco da Terra. Sob essa tica, o poder da propriedade est

    totalmente resguardado, uma vez que a possibilidade de acesso a ela passa

    fundamentalmente a depender do interesse do proprietrio na venda. muito provvel que

    o Estado passe a funcionar como um ativador do mercado de terras, na medida em que se

    apresente como um comprador privilegiado.

    Pautando-se por impor uma lgica estritamente contratual a populaes que nunca

    pautaram por ela seus comportamentos, antes de mais nada regidos por regras de

    reciprocidade, a proposta tende a produzir frustraes, cujo resultado a mdio prazo

    apontam para uma intensificao da excluso.

    No seu conjunto, essas propostas vo provocando mudanas profundas nos espaos

    e condies de dilogo entre o governo federal e os movimentos de luta por terra,

    transferindo-os lentamente para espaos locais, onde a capacidade de presso dos

    movimentos mais frgil porque atomizada e sujeita s presses do poder local. Se sua

    fora dada pela capacidade de mobilizar grandes nmeros, ela pode ser estilhaada na

    negociao local. Por outro lado, como esse caminhos no so lineares, o processo de

    descentralizao em curso, que est no corao da proposta governamental, abre

    interessantes possibilidades de disputa poltica, na medida em que passam pela criao de

    Conselhos Estaduais de Desenvolvimento Rural, Conselhos Regionais e Conselhos

    Municipais de Desenvolvimento Sustentvel, com participao de representantes das

    organizaes de trabalhadores. Por eles passam decises sobre aplicaes de recursos. Se,

    em diversos locais esses conselhos tm se mostrado como mais um espao de manipulao

    clientelstica, em outros eles tm colocado em discusso e articulado as foras locais em

    torno de usos de recursos, dando mais transparncia aos processos e potencializando

    transformaes.

  • 29

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