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Rio de Janeiro, 15 de outubro de 2014 ISSN: 2446-7014 Número 3 Os textos contidos neste boletim são de responsabilidade única dos membros do Grupo, não retratando a opinião oficial da Escola de Guerra Naval nem da Marinha do Brasil. Regiões Oriente Médio e Norte da África África Subsaariana Leste Asiático Sudeste Asiático e Oceania Sul da Ásia Europa Rússia e ex-URSS América do Sul América do Norte e Central Ártico e Antártica » O QUE É O GRUPO GEOCORRENTE? O grupo Geocorrente surgiu com o objetivo de discutir o sistema internacional através da lente teórica da Geopolítica, procurando identificar os elementos agravantes, motivadores e contribuintes para a escalada de conflitos e crises em andamento, assim como as com potencial iminência de ocorrência em uma moldura temporal de curto prazo. Para isso conta com integrantes de diversas áreas de conhecimento, cuja pluralidade proporciona uma análise mais ampla de contextos e cenários geopolíticos e, portanto, um melhor entendimento dos problemas correntes internacionais. » O QUE É O LABORATÓRIO DE SIMULAÇÕES E CENÁRIOS? O LSC é um órgão vinculado ao Centro de Estudos Políticos e Estratégicos da Escola de Guerra Naval, tendo sido fundado com o objetivo principal de ser o apoio institucional para a pesquisa científica derivada de experiências feitas no Centro de Jogos de Guerra da EGN. O Laboratório conta com diversos grupos, os quais possuem suas próprias agendas de pesquisa, assim como participam dos Jogos de Guerra. Esses grupos de pesquisa são formados por doutorandos, mestrandos e graduandos das áreas de Relações Internacionais, História, Defesa e Gestão Estratégica Internacional, Ciência Política e correlatas, de diversas instituições de ensino. » CONTATO Comentários, críticas e sugestões sobre as análises devem ser enviados para [email protected]. CMG (RM1) Leonardo Faria de Mattos Coordenador-geral do Grupo Geocorrente Jéssica Germano de Lima Coordenadora do Grupo Geocorrente Noele de Freitas Peigo Editora responsável André Figueiredo Nunes Brenda Cardoso Severino Leão Caio Ferreira Almeida Carlos Henrique Ferreira da Silva Júnior Diane de Almeida Cruz Gustavo Felipe Augusto Rodolfo Medeiros Igor Lourenço Oliveira Lais de Mello Rüdiger Luciane Noronha Moreira de Oliveira Matheus Souza Galves Mendes Pedro Allemand Mancebo Silva Thayná Fernandes Alves Ribeiro Vinicius Guimarães Reis Gonçalves Vivian Mattos Marciano Pesquisadores do Grupo Geocorrente A EQUIPE

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Rio de Janeiro, 15 de outubro de 2014 ISSN: 2446-7014 • Número 3

Os textos contidos neste boletim são de responsabilidade única dos membros do Grupo, não retratando a opinião oficial da Escola de Guerra Naval nem da Marinha do Brasil.

Regiões

Oriente Médio e Norte da África

África Subsaariana

Leste Asiático

Sudeste Asiático e Oceania

Sul da Ásia

Europa

Rússia e ex-URSS

América do Sul

América do Norte e Central

Ártico e Antártica

» O QUE É O GRUPO GEOCORRENTE?O grupo Geocorrente surgiu com o objetivo de discutir o sistema internacional através da lente teórica da Geopolítica, procurando identificar os elementos agravantes, motivadores e contribuintes para a escalada de conflitos e crises em andamento, assim como as com potencial iminência de ocorrência em uma moldura temporal de curto prazo. Para isso conta com integrantes de diversas áreas de conhecimento, cuja pluralidade proporciona uma análise mais ampla de contextos e cenários geopolíticos e, portanto, um melhor entendimento dos problemas correntes internacionais.

» O QUE É O LABORATÓRIO DE SIMULAÇÕES E CENÁRIOS?O LSC é um órgão vinculado ao Centro de Estudos Políticos e Estratégicos da Escola de Guerra Naval, tendo sido fundado com o objetivo principal de ser o apoio institucional para a pesquisa científica derivada de experiências feitas no Centro de Jogos de Guerra da EGN. O Laboratório conta com diversos grupos, os quais possuem suas próprias agendas de pesquisa, assim como participam dos Jogos de Guerra. Esses grupos de pesquisa são formados por doutorandos, mestrandos e graduandos das áreas de Relações Internacionais, História, Defesa e Gestão Estratégica Internacional, Ciência Política e correlatas, de diversas instituições de ensino.

» CONTATOComentários, críticas e sugestões sobre as análises devem ser enviados para [email protected].

CMG (RM1) Leonardo Faria de MattosCoordenador-geral do Grupo Geocorrente

Jéssica Germano de LimaCoordenadora do Grupo Geocorrente

Noele de Freitas PeigoEditora responsável

André Figueiredo NunesBrenda Cardoso Severino Leão

Caio Ferreira AlmeidaCarlos Henrique Ferreira da Silva Júnior

Diane de Almeida Cruz GustavoFelipe Augusto Rodolfo Medeiros

Igor Lourenço OliveiraLais de Mello Rüdiger

Luciane Noronha Moreira de OliveiraMatheus Souza Galves MendesPedro Allemand Mancebo SilvaThayná Fernandes Alves Ribeiro

Vinicius Guimarães Reis GonçalvesVivian Mattos Marciano

Pesquisadores do Grupo Geocorrente

A EQUIPE

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Oriente Médio e Norte da ÁfricaQuem são os combatentes estrangeiros no Estado islâmico?

Desde os primeiros meses desse ano, a mídia internacional tem veiculado informações sobre o Estado Islâmico (IS), que, atualmente, controla um território tão extenso que praticamente apagou a fronteira entre a Síria e o Iraque. Durante este período foram noticiados casos de violência brutal, como decapitações e execuções, que levaram muitos governos de diversas partes do mundo a condenar as atitudes do grupo islâmico. Contudo, muitos estrangeiros têm se unido à causa do novo califado

islâmico – mas por que isto acontece?De acordo com um levantamento feito no final do mês de agosto pelo Soufan Group (uma agência de

inteligência americana baseada em Nova York) e publicado pela revista britânica The Economist, atualmente mais de 12 mil estrangeiros de cerca de 80 países passaram a vestir o negro do grupo fundamentalista, entre eles, destacam-se: pessoas provenientes de diversos países do continente europeu, dos Estados Unidos, Austrália, Rússia e até mesmo o filho de uma brasileira que vivia na Bélgica (que ganhou atenção da mídia nacional recentemente). Em sua maioria são jovens, homens e mulheres, que, após se converterem ao Islã, são atraídos e recrutados pela promessa de uma nova vida no califado e possibilidade de reconhecimento pessoal como combatentes do antiamericanismo e contra a influência ocidental. Alguns desses jovens possuem raízes familiares muçulmanas e estão dispostos a se colocar a serviço de uma nova guerra santa em qualquer lugar do mundo.

Alguns analistas avaliam que determinados fatores como o desemprego e o esvaziamento dos valores tradicionais do Ocidente no que se refere à constituição familiar, o modo de vida baseado no consumismo e a desvalorização tanto dos preceitos cristãos quanto da própria Igreja, podem influenciar a identificação com os valores conservadores do Islã e a integração de indivíduos ao Estado Islâmico.

Porém, além de combatentes, o grupo islâmico tem recrutado voluntários para executar funções profissionais nos territórios conquistados, como médicos, engenheiros, técnicos em petróleo e profissionais de administração em geral, com o intuito de estabelecer uma estrutura que auxilie o grupo a gerir e sustentar seu autoproclamado califado e consolidá-lo militar e socialmente.

Líbia: petróleo e dependência econômicaA Líbia possui as reservas mais abundantes de petróleo do continente africano e é considerada por muitos

um Estado rentista, ou seja, o país se mantém economicamente a partir dos rendimentos da extração petrolífera, sendo muito dependente desta pela baixa diversificação de suas exportações. Além disso, também enfrenta escalada de conflitos, pois as reservas de petróleo concentram-se no leste do país, fazendo com que grupos armados disputem entre si o acesso e controle da região.

A proximidade geográfica da Líbia com a Europa facilita suas relações comerciais e faz com a que importância do fornecimento dos recursos líbios cresça. Além disso, durante o governo

Oriente Médio e Norte da África

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Fonte: The Economist

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África SubsaarianaPresença estrangeira no continente africano: caso do vírus Ebola Após o alastramento do vírus Ebola, no oeste africano, foram constatados os dois primeiros casos do vírus fora do continente, um nos EUA e outro na Espanha. Esses casos geraram preocupação na comunidade internacional, principalmente na Europa, por conta da enfermeira espanhola ter realizado uma viagem no período em que já havia contraído o vírus. Nos EUA, além da morte da primeira pessoa diagnosticada com Ebola, foi constatado que uma enfermeira que prestou cuidados à vitima, também contraiu o vírus.

Como é possível observar no gráfico, países como Estados Unidos, Alemanha, China, entre outros, tem prestado auxilio aos países com casos da doença, porém o Brasil tem se mostrado lento nesse quesito, mesmo considerando o fato

dos países mais afetados pelo surto, Libéria, Serra Leoa e Guiné serem parte do Entorno Estratégico Brasileiro. Os esforços realizados pelos demais países demonstram um certo despreparo brasileiro quando a resposta à doença, pois enquanto os outros membros da comunidade internacional responderam rapidamente à crise no continente africano, com ajuda de cunho financeiro, militar, médico, laboratorial etc., o Brasil pouco tem feito em relação aos países da África ocidental, não tendo uma presença ativa na resolução do problema.

Recentemente ocorreu a primeira suspeita de um indivíduo infectado pelo vírus no Brasil, apesar de ter sido confirmado que o paciente não era portador do vírus, o país irá aumentar a ajuda aos países afetados, através do envio de kits médicos e de alimentos. Mesmo com o aumento da ajuda oriunda do Brasil, outros países demonstram uma posição mais ativa no caso, ao exemplo do governo norte-americano que além da

de Muammar Kadhafi, houve um estímulo ao investimento externo para o setor de óleo e gás. Assim, companhias estrangeiras instalaram-se no país e outras já estabelecidas puderam se expandir, como a British Petroleum e a multinacional petrolífera italiana ENI, que se encontra no território desde 1959, dominando o mercado na extração de hidrocarbonetos. A China também se insere como ator importante nesta dinâmica, importando grande parte da produção de petróleo e possuindo 75 companhias e 36 mil trabalhadores na Líbia.

A instabilidade atual do país tem prejudicado muito seu setor petrolífero. Situações como bloqueios de produção, prejuízo à infraestrutura do setor, risco aos trabalhadores, insurgências de milícias dentro das regiões de produção, entre outros, além de terem pressionado para cima o preço mundial do petróleo, em alguns momentos, também têm indicado que o conflito ainda vai se prolongar. Para tais companhias multinacionais mencionadas, o governo líbio já demonstrou que não consegue controlar por si mesmo os grupos armados e a situação instável do país, de modo que começam a pensar em alternativas, retirando-se da região, ou mesmo refreando seus investimentos. Torna-se necessário à Líbia se estabilizar internamente para impedir o declínio da economia ou começar a diversificar o investimento em suas exportações.

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Fonte: EIA

Fonte: Folha de S. Paulo

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Sudeste Asiático e OceaniaEnergia: o desafio da Austrália com o carvão

O carvão foi descoberto desde os primórdios da colonização da Austrália, sendo a produção bastante diversificada entre as regiões do país. Atualmente, o país vem passando por um período econômico conturbado em seu setor de mineração, fato gerado, principalmente, por decisão das autoridades de Pequim de aumentar

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Leste AsiáticoDemocracia e identidade em Hong Kong

Ex-território britânico, Hong Kong vem passando por uma grande agitação social nas últimas semanas. Desde o início do ano, movimentos pró-democracia têm protestado contra o governo chinês. O foco dessas manifestações é a divergência entre os ativistas e Pequim sobre o sistema que escolherá o líder da Região Administrativa Especial nas próximas eleições.

O governo chinês havia acordado com autoridades de Hong Kong - na qual o chefe do Executivo é escolhido por um colégio eleitoral composto por cerca de 1,2 mil pessoas - que seus cidadãos poderiam eleger o líder do território em 2017. Entretanto, em agosto deste ano, Pequim decidiu que os candidatos ao cargo vão precisar do apoio de mais de 50% de um comitê de nomeação para concorrer à eleição e que apenas dois ou três candidatos serão selecionados. Isto é, a população de Hong Kong exercerá o seu direito de voto, mas somente após o que os manifestantes chamam de “triagem”.

O objetivo principal de Pequim é evitar que os protestos de Hong Kong se espalhem pelo país, havendo dois caminhos prováveis para a resolução da crise: No primeiro, o Governo Central manteria sua política padrão de resolução de conflitos internos, usando de medidas mais agressivas para conter os protestos. Xi Jinping é conhecido por sua postura firme. Além de uma forte campanha anticorrupção, sua administração tem se mostrado irredutível em relação aos pleitos de países vizinhos, por exemplo, no que concerne às disputas territoriais no Mar da China Meridional.

O outro caminho envolveria a abertura de um canal de diálogo, tentando se evitar uma reprodução do Massacre da Paz Celestial (Tiananmen) de 1989. No cenário de uma possível “flexibilização” do governo em relação aos manifestantes, cria-se o risco de outros movimentos, como o tibetano, se sentirem encorajados a enfrentar o Governo Central. Em contra partida, isso poderia reforçar os esforços do governo de Xi Jinping em se aproximar de Taiwan.

As raízes históricas na relação entre China e Hong Kong refletem-se diretamente na maneira como seus habitantes se enxergam. Numa pesquisa feita na cidade, apenas 31% da população se definiu como “chinesa”, os outros 69% se consideravam primeiramente “Hong Kongers”, essa identidade, que se distancia da China, é mais forte na população mais jovem (entre 18 e 29 anos), que, não coincidentemente, são os principais responsáveis pelas manifestações. A forma com que Pequim lidará com os manifestantes terá impacto direto na relação entre a cidade e o Governo Central, ampliando a distância entre “Hong Kongers” e “chineses” ou aproximando essas duas identidades.

Fonte: PBS

ajuda financeira, autorizou a construção de centros médicos na região, assim como o envio de cerca de 4.000 soldados para a África ocidental, sendo que 300 destes militares já estavam a serviço na Libéria, prestando suporte nas áreas de engenharia, ajuda humanitária e logística.

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Sul da Ásia

Os interesses da Índia no Oceano ÍndicoA preocupação da Índia com sua capacidade de

projetar poder no oceano Índico é crescente. A ascensão de um primeiro-ministro nacionalista, Narendra Modi, trouxe consigo discursos de aumento de gastos militares e de como o governo indiano deve proceder de forma mais atuante para garantir a defesa do seu entorno marítimo. Tal preocupação é compreensível: pelo Índico passam 80% do comércio mundial de petróleo, 50% do comércio total em contêineres, além de ser a região responsável por 65% da produção mundial de petróleo e possuir 35% das reservas de gás do globo. No caso indiano, 90% de seu comércio é realizado por esse oceano.

Neste contexto, os principais desafios do governo indiano estão em garantir suas rotas de comércio marítimo e soberania, tentando contrabalancear a presença cada vez mais forte – e militarizada – da China. Ambos estão investindo em novos portos com saída para o Índico, buscando alianças com outros países e assinando acordos bilionários em cooperação militar naval. No caso da Índia, os EUA surgem como principal opção de aliado fora do continente asiático, na medida em que as relações políticas entre os mesmos se tornam cada vez mais amigáveis e que a contenção da China é de interesse de ambos. No caso desta última, sua política do String of Pearls - o “cordão de pérolas”- , que traça uma linha de portos e estações logísticas avançadas que visam a fortalecer a presença chinesa em pontos estratégicos do Índico e do Mar do Sul da China e a parceria histórica com o Paquistão, outro grande rival indiano, agravam a insegurança e inflamam a competição por poder sobre o Índico.

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Fonte: elaboração própria a partir de The Military Balance 2014

a qualidade do ar de seu país. A China, cujo carvão, em 2011, correspondeu a 69% das fontes totais de energia do país, importa boa parte do carvão australiano. Contudo, por conta de suas novas políticas, os chineses pretendem diminuir a importação de carvão “sujo”, isto é, carvão rico em impurezas que aumenta os riscos de doenças respiratórias e possui alta emissão de fumaça, principal tipo de carvão exportado pela Austrália.

O investimento chinês em energias renováveis e de melhor qualidade vai gerar, a partir do dia 15 de outubro desse ano, taxas de importação de 3% para os carvões dos tipos antracito e coque (utilizados para fazer aço); e de 6% para os betuminosos (responsáveis por gerar energia). Grande parte dos produtores australianos de minérios já está sendo prejudicada. Em dois anos

o retorno das exportações australianas no setor passou de US$125 para US$65 por tonelada. Na Austrália, os especialistas postulam que o aumento da taxação não afetará tanto, no longo prazo, a economia do país no setor, pois mesmo que a China seja um grande parceiro, não é o único. O Japão é o segundo maior importador de carvão do mundo, que representa 23% de sua matriz energética, e também compra carvão dos australianos. Além disso, toda a produção não exportada para a China poderia ser realocada para outros mercados, principalmente os dos países em desenvolvimento do Sudeste Asiático, como é o caso da Indonésia.

O Primeiro Ministro australiano, Tony Abbot, pretende utilizar a Reunião do G20, prevista para os dias 15 e 16 de novembro em seu país, para conversar com o Presidente chinês e tentar chegar a um consenso. Há alguns anos, os dois países vem negociando um acordo de livre comércio, até agora sem sucesso. Resta ao governo australiano o desafio de tentar melhorar a situação de seus mineradores.

Fonte: BIMCO

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Rússia e ex-URSS

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EuropaE por falar em OTAN...

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), criada em 1949, vem recebendo certa atenção da mídia devido aos últimos acontecimentos que movimentaram os bastidores institucionais: no início de setembro deste ano, houve a Conferência do País de Gales (Wales 2014) e, mais recentemente, já em outubro, a troca do líder da Aliança.

A Conferência supracitada destacou-se pela reafirmação dos compromissos estabelecidos pelos 28 membros que fazem parte da OTAN, os quais englobam o entendimento conjunto dos Artigos 4º e 5º do Tratado, que versam sobre cooperação em questões

de segurança. Foi ressaltado, também, que as principais preocupações dos membros devem ser os conflitos que circundam o continente europeu, leia-se: a questão entre Ucrânia e Rússia; e as ações do Estado Islâmico no Oriente Médio.

A nomeação de Jens Stoltenberg para ocupar o cargo de Secretário Geral da OTAN traz novos horizontes para a Aliança. Com um perfil mais mediador, o norueguês terá pela frente o desafio de contornar os problemas que mais preocupam a Organização e de tentar resolvê-los na esfera política. Vale ressaltar que o novo líder já tem experiência em resolver impasses com a Rússia, em específico: enquanto primeiro-ministro da Noruega, definiu fronteiras marítimas com os russos, em 2010, no Mar de Barents, após discussões que perduraram por décadas e foram resolvidas por meios diplomáticos.

Com relação à atuação no Atlântico Sul, não há uma prospectiva da Aliança. Porém é importante frisar a presença de países como França, Reino Unido e EUA, que possuem bases tanto no continente (como é o caso das na Guiana Francesa), como no próprio oceano (cinturão de ilhas britânicas, com destaque para as bases em Ascenção e Malvinas). Além disso, também ocorrem manobras e exercícios conjuntos, por exemplo, o último Obangame Express, realizado em abril deste ano coordenado pela Marinha norte-americana em conjunto com Marinhas africanas. O exercício contou com a presença de outros países da OTAN, como foi o caso da Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Portugal e Turquia. Foi a primeira vez que o Brasil enviou um de seus navios, o NPOc “APA”, para participar deste exercício.

Fonte: Dossier Geopolítico

Como consequência, a Índia está tentando estabelecer o máximo de alianças possíveis na Ásia e pretende modernizar o Comando Militar nas ilhas de Andamão e Nicobar, ponto-chave para o acesso ao Estreito de Malaca - principal ponto de passagem para o Pacífico. Estas ilhas, que passaram décadas praticamente esquecidas, voltaram à agenda devido ao estreitamento de laços entre China e Myanmar e os investimentos em um porto chinês nesta última. Ainda não há dados oficiais sobre o quanto a Índia irá injetar nas Forças Armadas em 2015, mas, diante de sua inferioridade considerável frente às suas contrapartes chinesas, é muito provável que o governo indiano esteja pronto para investir cada vez mais em sua capacidade militar, a fim de garantir os interesses já mencionados e proteger sua soberania. E, apesar do pouco tempo de Modi em sua função, já é possível adiantar, pelo tom de seus discursos, que as disputas estarão cada vez mais acirradas.

A importância do porto de SevastopolEmbora desde a época imperial (1721-1917) a Rússia seja uma região de poder proeminente no continente

euroasiático, suas desvantagens geográficas contribuíram para uma menor projeção no mar em relação a outras potências, com poucas saídas costeiras para o continente europeu (land-locked) e portos que congelam

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Rússia e ex-URSS

durante os meses de inverno (ice-locked). A busca consequente por “portos quentes” e maior projeção marítima acabou levando a Rússia imperial a muitas guerras, principalmente no Mar Báltico, por exemplo. Dessa forma, em 1783, a imperatriz russa conhecida por Catarina, a Grande, anexou a Crimeia do império Otomano e estabeleceu a Esquadra do Mar Negro (EMN), assegurando uma saída ao mar em melhores condições para seu império.

Nesse sentido, devido a seu peso estratégico e histórico, a EMN, com sede em Sevastopol, na Crimeia, tem um papel vital na política russa. Com o colapso da União Soviética, em 1991, Moscou passa a alugar a referida base e firma um acordo com Kiev em 1997. Segundo este, a EMN da Marinha ucraniana foi separada, ficando a Rússia com 81,7% dos navios e armazéns, além do direito de alugar o porto até 2017.

Com a eleição do presidente ucraniano pró-Rússia Viktor Yanucovich em 2010, a Ucrânia renovou o aluguel do porto de Sevastopol por mais 25 anos (2017-2042), com a possibilidade de extensão, pelo que a Rússia garantiria aos ucranianos um desconto de 30% para importação de gás por 9 anos (2010-2019).

Muitos analistas apontam que a crise ucraniana que levou a anexação da Crimeia, está fortemente associada à importância política e econômica do porto de Sevastopol para a Rússia, o que pode ser comprovado pelo anúncio do presidente Putin de aumento de 30 navios de guerra na EMN. A EMN é uma das 5 Esquadras da Rússia, ao lado da Esquadra do Norte, a do Pacífico, a do Báltico e a do Mar Cáspio.

Com a aproximação do inverno e a consequente maior demanda de gás, a Ucrânia encontra-se novamente cercada. Sem condições efetivas de manter um confronto militar com a Rússia, e sem ajuda da União Europeia, que evita um confronto direto com os russos, já que também depende das importações de gás, resta à Ucrânia fazer concessões.

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Fonte: Blog Reuters

América do Sul O outro lado da Ponte da Amizade

O Exército do Povo Paraguaio (EPP) é um grupo insurgente de ideologia marxista-leninista, com um pequeno contingente, entre 30 e 100 membros, originado pelos ex-seminaristas Juan Arrom e Alcides Oviedo. O grupo conta com o apoio dos camponeses das regiões em que atuam, Concepcíon, San Pedro e Amambay. O EPP foi responsável pelo ataque à fazenda do brasileiro Nabor Both, em Horqueta, departamento de Concepción, em 2008. O caso de 2008 recebeu maior repercussão, principalmente no Brasil, porém suas atividades ocorrem desde os anos 2000. Dos casos podemos destacar: em 2001, o sequestro de María Edith de Debernardi; em 2004, o sequestro e morte de Cecília Cubas, filha do ex-presidente paraguaio Raúl Cubas; entre 2005 e 2006 o assassinato de 3 policiais e incêndio de uma delegacia; em 2008, além do ataque à fazenda,

sequestro do pecuarista e ex-prefeito da cidade de Tacuatí, Luis Lindstrom.Em abril deste ano sequestraram Arlan Fick, paraguaio filho de um fazendeiro brasileiro, que é mantido como

refém, aguardando a troca por membros do grupo que estão presos. Tal prática reforça o suposto treinamento do EPP com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que adotam a mesma prática.

Em julho, o ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, foi indagado sobre a questão do EPP

Fonte: Plano Brasil

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América do Norte e CentralConstrução do Canal da Nicaraguá

Até o final deste ano, terá início a construção de uma nova hidrovia artificial, entendendo-se por 286 km (contra os atuais 81,5 km do Canal do Panamá), conforme estipulado por um acordo tripartite entre autoridades da Nicarágua, Rússia e China. A entrega da obra concluída está prevista para 2019 e orçada em 40 bilhões de dólares.

A China é o principal investidor da construção do Canal Interoceânico da Nicarágua, em concessão ganha pela empresa de Hong Kong, a HKND. No entanto, as autoridades da Nicarágua pediram uma pausa de seis meses para prepararem a argumentação de viabilidade técnico-econômica do projeto. Dessa forma, foi divulgada

América do Sul Colômbia e as FARC

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) são uma organização de inspiração comunista, autointitulada como um movimento de guerrilha que luta pela implementação do socialismo na Colômbia, atuante no país a exato meio século. A organização criminosa controla a maior parte do refino e distribuição de cocaína dentro do território colombiano e é classificada como terrorista pelos governos da Colômbia, do Canadá, Estados Unidos e pela União Europeia. Os EUA e a Colômbia criaram no ano 2000 o “Plano Colômbia”, destinado a desestruturar as guerrilhas de esquerda como as FARC, e de combater a produção e o tráfico de cocaína no país sul-americano. Estima-se que os norte-americanos já tenham gasto mais de US$ 8 bilhões desde o início do Plano.

Os conflitos internos na Colômbia já fizeram mais de 200 mil mortos e mais de 5 milhões de refugiados internos (um dos maiores do mundo), porém os camponeses seguem com a produção agrícola de coca e de maconha, por serem muito mais lucrativos do que os demais. Após um estudo recente, economistas afirmam que o PIB colombiano, atualmente o terceiro da América do Sul, poderia dobrar em apenas 8 anos não fossem

tais conflitos internos. O presidente Juan Manuel Santos, reeleito em meados deste ano, vem atuando em negociações de paz com

as FARC desde o final de 2012, tendo nesse período ambas as partes selado acordos com este objetivo. Integrantes das FARC também atuam próximos à fronteira com o Brasil, na região amazônica. Para a defesa

do território, o país possui bases e milhares de militares das 3 Forças patrulhando e protegendo a região, em consonância com a Estratégia Nacional de Defesa (END) e com a Estratégia Nacional de Segurança Pública nas Fronteiras (Enafron).

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Fonte: Publico

– em especial sobre o jovem Fick – pelo jornal paraguaio La Nacion. O político considerou que dentro dessa guerrilha há o desejo de expulsar do território paraguaio os brasiguaios, que são tanto fazendeiros brasileiros com terras no Paraguai quanto paraguaios filhos de brasileiros. Estima-se que sejam 350 mil brasiguaios, numa população total de 7 milhões de habitantes. Por conta da grande presença dos brasiguaios na região leste do país, muitos paraguaios temem que essa região seja anexada ao Brasil, uma vez que a cultura brasileira é forte na região, inclusive com representações em prefeituras. As ações do EPP podem despertar na população paraguaia sentimentos xenofóbicos em relação aos brasileiros, ligado estes a interesses de segurança nacional. Ademais, deve-se atentar também à possibilidade do despertar de um sentimento nacionalista em relação aos litígios da Usina de Itaipu, responsável por cerca de 20% do abastecimento hidrelétrico brasileiro.

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América do Norte e Central

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recentemente a versão final da rota do novo canal interoceânico. A hidrovia terá seu início na foz do rio Brito na costa do Pacífico nicaraguense e passará até o rio Punta Gorda na costa do Atlântico, rota destacada na imagem ao lado pelo número 4.

Cerca de 200 mil trabalhadores serão envolvidos na construção do projeto e se espera que o novo Canal assuma cerca de 5% do tráfego internacional de transporte marítimo. Vale ressaltar que o canal é de grande importância para os planos estratégicos do Brasil no que tange à expansão de sua produção petrolífera. O canal tem potencial para ser usado pela China para importar petróleo do pré-sal brasileiro, podendo consolidar uma gigantesca operação bilateral.

Fonte: Quartz

Ártico e AntárticaEUA no Ártico: caminhando em gelo fino

Recentemente, no dia 19 de setembro, foram detectados oito aviões russos na região do Ártico, o que acionou o Comando da Defesa Aeroespacial Norte-Americano (NORAD). Quando do ocorrido, determinadas fontes chegaram a cogitar que alguns dos aviões carregavam armamento nucelar, o que não foi confirmado por representantes do United States Northern Command, criado em 2002, e responsável pela defesa do território norte-americano, que afirmaram não ser a Rússia vista no momento como uma ameaça. A área de responsabilidade do NORTHCOM abrange não apenas os EUA continental, mas também, o Canada, o México, o Alaska e os espaço marítimo de 500 milhas náuticas ao redor dessa mesma

área.Nascido em 1958, da lógica de contenção soviética, o NORAD que é gerido em parceria por Canadá e EUA

para a defesa aérea dos dois países também é um dos principais mecanismos para ação norte-americana na região do Ártico. Em maio de 2013, o Departamento de Defesa lançou a estratégia nacional para a região do Ártico, que reconhece as mudanças na região e sua importância geoestratégica.

Para tal, a estratégia enumera três vetores que orientam a ação norte-americana na região. O primeiro, e mais importante deles, é a garantia dos interesses de segurança no Ártico, o que será feito a partir de investimento em infraestrutura de defesa para garantir a capacidade de resposta adaptada à crescente atividade humana e comercial da área. Haverá também o estímulo à pesquisa e estudos que aprofundem a compreensão sobre as condições da região, além da preservação da liberdade de trânsito dos mares polares e, principalmente, a garantia da segurança energética norte-americana, a partir da exploração dos recursos abundantes, principalmente, no Alaska.

Os outros dois vetores de ação se voltam para a governança do Ártico e para a cooperação internacional, conjugando a exploração econômica com a preservação do meio ambiente. Além dessas ações, o governo norte-americano também tem o comprometimento de mapear as novas rotas de navegação que se abrem, aprofundando o conhecimento sobre a região e permitindo seu uso tático e estratégico de maneira eficaz.

Fonte: IEEE Spectrum

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Dicas de artigos selecionadosTHE DIPLOMAT - 13/10/2014

India’s Impressive Space Program - by Sudha Ramachandran

THE ATLANTIC - 13/10/2014China’s Dangerous Game - by Howard W. French

EL PAÍS - 13/10/2014Una tercera vía andina - por Alicia González

THE HUFFINGTON POST - 13/10/2014A Marshall Plan for Ukraine - by Bernard-Henri Lévy

THE WASHINGTON POST - 09/10/2014The problem with America’s limited wars - by David Ignatius

[Ao clicar sobre os títulos das reportagens, abrem-se os respectivos links]

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