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www.professordanielneves.com.br OS TERCEIROS INTERVENIENTES E A ARGÜIÇÃO DE INCOMPETÊNCIA RELATIVA 1 – Introdução O objetivo do presente artigo é analisar a possibilidade de argüição da incompetência relativa do juízo por parte dos terceiros intervenientes em demanda na qual são aceitos a intervir. Para tanto, serão analisadas as cinco formas clássicas de intervenção de terceiros prevista pelo Código de Processo Civil, não obstante a existência de outras espécies que não serão tratadas no presente artigo 1 . A análise levará em conta fundamentalmente a incompetência relativa, considerando-se que a natureza de ordem pública da incompetência absoluta afasta qualquer dúvida a respeito da ampla legitimação e possibilidade jurídica para sua argüição. Dessa forma, todos os sujeitos que participam do processo – sem exceção – tem legitimidade para argüir a incompetência absoluta, e não lhes faltará em nenhuma hipótese possibilidade jurídica para tanto, realidade tranquilamente aceita pela melhor doutrina e por nossos Tribunais 2 . Dessa amplitude de legitimação certamente não escapam os terceiros intervenientes. 1 Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, vol. IV, São Paulo, Malheiros, 2004, pp. 164/165, lembra que na execução por quantia certa existem formas de intervenção de terceiros peculiares, tais como a intervenção do terceiro interessado em obter o bem penhora e do comparecimento de credores pleiteando a preferência. Também no processo cautelar há espécie atípica de intervenção de terceiro, chamado por alguns doutrinadores de assistência provocada: Sidney Sanches, Denunciação da lide no processo civil brasileiro, São Paulo, RT, 1984, pp. 143- 145; Flávio Cheim Jorge, “Sobre a admissibilidade do chamamento ao processo”, in Revista de Processo, São Paulo, RT, 1999, v. 93, p. 113. 2 Por todos, Daniel Amorim Assumpção Neves, Competência no processo civil, São Paulo, Método, 2005, p. 43

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OS TERCEIROS INTERVENIENTES E A ARGÜIÇÃO DE

INCOMPETÊNCIA RELATIVA

1 – Introdução

O objetivo do presente artigo é analisar a possibilidade de argüição da

incompetência relativa do juízo por parte dos terceiros intervenientes em demanda

na qual são aceitos a intervir. Para tanto, serão analisadas as cinco formas

clássicas de intervenção de terceiros prevista pelo Código de Processo Civil, não

obstante a existência de outras espécies que não serão tratadas no presente

artigo1.

A análise levará em conta fundamentalmente a incompetência relativa,

considerando-se que a natureza de ordem pública da incompetência absoluta

afasta qualquer dúvida a respeito da ampla legitimação e possibilidade jurídica

para sua argüição. Dessa forma, todos os sujeitos que participam do processo –

sem exceção – tem legitimidade para argüir a incompetência absoluta, e não lhes

faltará em nenhuma hipótese possibilidade jurídica para tanto, realidade

tranquilamente aceita pela melhor doutrina e por nossos Tribunais2. Dessa

amplitude de legitimação certamente não escapam os terceiros intervenientes.

1 Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, vol. IV, São Paulo, Malheiros, 2004, pp. 164/165, lembra que na execução por quantia certa existem formas de intervenção de terceiros peculiares, tais como a intervenção do terceiro interessado em obter o bem penhora e do comparecimento de credores pleiteando a preferência. Também no processo cautelar há espécie atípica de intervenção de terceiro, chamado por alguns doutrinadores de assistência provocada: Sidney Sanches, Denunciação da lide no processo civil brasileiro, São Paulo, RT, 1984, pp. 143-145; Flávio Cheim Jorge, “Sobre a admissibilidade do chamamento ao processo”, in Revista de Processo, São Paulo, RT, 1999, v. 93, p. 113. 2 Por todos, Daniel Amorim Assumpção Neves, Competência no processo civil, São Paulo, Método, 2005, p. 43

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Com relação à possibilidade de argüição da incompetência relativa pelos terceiros

intervenientes, por outro lado, não há pacificação doutrinária nem jurisprudencial,

sendo tema, na realidade, pouco enfrentado. De qualquer forma, a simples leitura

dos arts. 112 e 114 do Código de Processo Civil transmitem a mensagem de que

o único legitimado para argüição da incompetência relativa é o réu, com a exceção

do art. 112, parágrafo único, que permite a atuação de ofício nas hipóteses de

cláusula abusiva de eleição de foro em contrato de adesão.

A missão do presente artigo é analisar se a legitimidade para a argüição da

incompetência relativa é realmente exclusiva do réu, ou se outros sujeitos

processuais que intervenham na relação jurídica processual dentro do prazo

adequado – prazo de resposta – também tenham essa legitimidade. Afirma-se

dentro do prazo adequado em virtude da preclusão temporal prevista pelo art. 114

do Código de Processo Civil, somente tendo justificativa a análise ora realizada ao

se configurar a atuação do terceiro interveniente dentro do prazo legal para

argüição da incompetência relativa do juízo.

2. Assistência

Apesar do Código de Processo Civil não prever entre as espécies de intervenção

de terceiro a assistência, não resta qualquer dúvida a respeito dessa sua natureza

jurídica. Ao ingressar de modo voluntário em processo alheio3, para auxiliar uma

das partes na busca da vitória judicial, resta suficientemente claro que a

assistência preenche os requisitos mínimos para ser considerada uma intervenção

de terceiro.

3 A possibilidade de assistência provocada não descaracteriza o instituto, conforme bem lembrado por Cássio Scarpinella Bueno, Partes e terceiros no processo civil brasileiro, op. cit., p. 140, dando dois exemplos: art. 59, §2°, da Lei 8.245/91 (Locação) e art. 89 da Lei 8.884/94.

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A permissão para o ingresso de um terceiro como assistente em processo já em

trâmite é fundada na existência de um interesse jurídico na solução do processo,

não se admitindo que um interesse econômico, moral ou de qualquer outra

natureza seja apto a permitir a assistência. Dessa forma, somente poderá ser

assistente o sujeito que poderá sofrer prejuízos jurídicos com a decisão a ser

proferida no processo do qual não participa, sendo irrelevante eventual prejuízo de

ordem econômico ou de qualquer outra natureza. A natureza desse interesse

jurídico varia conforme a natureza da assistência – simples ou litisconsorcial – o

que gerará interessantes conseqüências práticas no tratamento do instituto

processual à luz do tema da argüição da incompetência relativa.

A assistência simples é a espécie tradicional de assistência, tanto assim que a

locução isolada “assistência” significa assistência simples, também chamada de

adesiva. Conforme visto, só se permite a assistência se houver um interesse

jurídico do terceiro na solução da demanda, representado no caso da assistência

simples pela existência de uma relação jurídica não controvertida, distinta daquela

discutida no processo entre o assistente (terceiro) e o assistido (autor ou réu), que

possa vir a ser afetada pela decisão a ser proferida no processo do qual não

participa.

O tradicional exemplo lembrado pela doutrina é a intervenção assistencial do

sublocatário na ação de despejo promovida pelo locador contra o locatário. Nesse

caso o sublocatário mantém com o locatário uma relação jurídica não

controvertida, diversa daquela discutida no processo, que será afetada na

hipótese de sentença de procedência que decrete o despejo, sendo admissível a

intervenção do sublocatário como assistente para auxiliar o locatário a se sagrar

vitorioso no processo, única forma de evitar seu prejuízo jurídico. É evidente que

esse exemplo considera que a sublocação não fez parte do contrato originário,

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porque nesse caso não seria hipótese de assistência, mas de litisconsórcio

passivo necessário.

Nem sempre se mostra fácil a identificação da natureza do interesse do terceiro

diante da decisão a ser proferida no processo, até mesmo porque o interesse

jurídico invariavelmente tem reflexos econômicos, morais ou de outra natureza4. A

única forma de distingui-los será a análise cuidadosa a respeito da existência da

relação jurídica entre terceiro e parte que venha a ser afetada pela decisão

judicial. Somente com sua existência haverá o interesse apto a justificar a

assistência.

Prevista pelo art. 54, CPC, a assistência litisconsorcial é excepcional,

diferenciando-se substancialmente da assistência simples. A principal diferença

entre essas duas espécies de assistência diz respeito à natureza da relação

jurídica controvertida apta a permitir o ingresso do terceiro no processo como

assistente. Na assistência litisconsorcial o terceiro é titular da relação jurídica de

direito material discutida no processo, sendo, portanto, diretamente atingido em

sua esfera jurídica pela decisão a ser proferida. Dessa forma, o assistente

litisconsorcial tem, naturalmente, relação jurídica tanto com o assistido como com

a parte contrária, afinal todos eles participam da relação de direito material,

diferente do que ocorre no litisconsórcio simples, no qual não haverá relação

jurídica do assistente com o adversário do assistido.

Certamente causa estranheza num primeiro momento a verificação de que, para

que exista a assistência litisconsorcial será necessário que o titular do direito não

faça parte do processo que tenha como objeto justamente o seu direito. Em regra,

tal situação não poderia ocorrer, mas excepcionalmente admitir-se-á que terceiro

titular de direito não participe de processo em que seu direito é discutido. Trata-se

4 Arruda Alvim, Manual de processo civil, op. cit., p. 119.

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das hipóteses de legitimação extraordinária, pela qual é possível que seja parte

sujeito que não é titular do direito (substituição processual) ou sujeito que é titular

juntamente com outros sujeitos que não precisam participar do processo para que

esse seja válido e eficaz.

É natural que a assistência litisconsorcial somente exista nos casos em que o

litisconsórcio unitário é também facultativo, porque somente nesse caso o titular

do direito poderá ser excluído da demanda, por vontade das partes. Significa dizer

que, se porventura o autor tivesse formado o litisconsórcio entre todos os titulares

do direito, não haveria terceiros a ingressar como assistentes. Como tal

litisconsórcio, entretanto, é facultativo, uma vez não formado por vontade do autor,

os titulares do direito que ficaram de forma da relação jurídica processual serão os

terceiros que, querendo, poderão ingressar no processo alheio como assistentes

litisconsorciais.

Existe uma divergência – com ao menos uma importante conseqüência prática – a

respeito da real situação processual do terceiro que ingressa como assistente

litisconsorcial: mantêm a situação jurídica de assistente ou passa a ser

litisconsorte da parte, tratando-se nesse caso de espécie de litisconsórcio ulterior?

A corrente doutrinária a defender que o substantivo assistência prepondera sobre

o adjetivo litisconsorcial, afirma que a redação do art. 54 do CPC, ao prever que o

assistente será considerado litisconsorte, simplesmente significa que seu

tratamento procedimental será de litisconsorte, mas sua presença no processo

continua a ser de assistente. Afirma-se que esse terceiro que ingressa no

processo nada pediu e contra ele nada foi pedido, de forma que seu ingresso não

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inclui no processo qualquer nova demanda, o que é o suficiente para não

considera-lo parte5.

Para outra parcela da doutrina não parece correto o entendimento que trata o

terceiro interveniente como assistente, porque o fato do terceiro que ingressa no

processo não fazer pedido ou contra ele nada ser pedido é irrelevante na definição

de sua posição jurídica processual6. Na realidade, fazendo ou não o pedido ou

sendo ou não feito pedido contra ele, por ser o titular do direito material discutido

no processo, o acolhimento ou rejeição o atingirá da mesma forma que o atingiria

se o sujeito tivesse feito pedido ou contra ele tivesse sido feito qualquer pedido. O

que essa corrente deixa claro é que o pedido será sempre o mesmo, esteja o

sujeito presente ou não no início da demanda, tornando-se absolutamente

irrelevante aquele pedido ser feito expressamente por ele ou contra ele.

Intervindo no processo, passará a ser parte no processo, sendo tal constatação

inegável até mesmo porque o mesmo ocorre com o assistente simples. E também

será parte na demanda, considerando-se que é titular do direito discutido no

processo. Na realidade, a única diferença substancial entre a chamada assistência

litisconsorcial e o litisconsórcio ulterior seria, para essa corrente doutrinária, o

momento a partir do qual o sujeito passa a fazer parte da relação jurídica

processual. Tendo o terceiro legitimidade para participar do processo e somente

não o fazendo desde o início por vontade do autor, a partir do momento em que

passa a fazer parte da relação jurídica processual, como titular do direito discutido,

deverá ser considerado parte.

5 Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, op. cit., p. 388; José Roberto dos Santos Bedaque, Código de Processo Civil anotado, op. cit., p. 162; Athos Gusmão Carneiro, Intervenção de terceiros, 13ª ed., São Paulo, Saraiva, 2001, p. 145. 6 Luiz Guilherme Marinoni, “Sobre o assistente litisconsorcial”, in Revista de Processo vol. 58, 1990, p. 255.

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A conclusão desta corrente doutrinária, portanto, é de inexistência da figura

jurídica criada pelo art. 54 do CPC, considerando-se que o assistente

litisconsorcial na verdade é considerado parte a partir do momento em que

ingressa no processo, em verdadeira hipótese de litisconsórcio facultativo ulterior.

A par da divergência doutrinária a respeito do tema – se o assistente litisconsorcial

é assistente ou litisconsorte –, todos parecem concordar que a atuação de tal

sujeito se dá como a atuação de um litisconsorte, e esse entendimento é o que

basta para a análise da possibilidade do assistente litisconsorcial excepcionar o

juízo7. Sendo tratado processualmente como litisconsorte, o assistente

litisconsorcial poderá praticar dentro do processo todos os atos para os quais

estejam legitimadas as partes, o que permite a conclusão de que se a assistência

se der no pólo passivo da demanda, o assistente litisconsorcial poderá

excepcionar o juízo por meio do ingresso de exceção de incompetência.

O assistente simples não defende interesse próprio na demanda, apenas

auxiliando o assistido na defesa de seu interesse, de forma que sua atuação no

processo está condicionada à vontade do assistido, não se admitindo que sua

atuação contrarie interesses desse. Essa subordinação da atuação do assistente

simples é decorrência natural das razões que fundamentam a participação do

assistente no processo, não sendo crível que um sujeito que ingressa no processo

com a função de auxiliar a parte atue contrariamente a seus interesses.

Essa necessária subordinação na atuação do assistente simples não significa que

ele só possa praticar atos que o assistido já tenha praticado, porque nesse caso

será muito limitada a atuação auxiliar do assistente. A única postura vedada ao

assistente simples é contrariar vontade expressa do assistido, praticando ato

processual contrário a essa demonstração expressa. Não há, entretanto, qualquer 7 Thereza Alvim, Da assistência litisconsorcial no Código Brasileiro, in Revista de Processo 11/12, 1978, p. 47.

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obstáculo para praticar atos diante da mera omissão do assistido, entendimento,

inclusive, que aperfeiçoa a atuação do assistente simples, considerando-se que

somente repetir o que já foi realizado pelo assistido seria delimitar

demasiadamente a importância do auxílio prestado pelo assistente8.

Há algumas interessantes situações em que restam claro quais os reais limites de

atuação do assistente simples. No tocante à produção probatória, admite-se o

pedido de produção de prova por parte do assistente, ainda que o assistido tenha

quedado em silêncio a esse respeito. O mesmo não se pode dizer na hipótese do

assistido ter expressamente se manifestado nos autos requerendo o julgamento

antecipado da lei (art. 330, CPC), porque nesse caso a produção de prova

contraria a vontade expressamente manifestada da parte. O mesmo se pode dizer

do recurso, sendo admissível a interposição de recurso pelo assistido ainda que o

assistente não tenha recorrido, o que lhe será vedado, entretanto, se houver no

processo a renúncia ao direito de recorrer ou um ato de aquiescência do assistido.

Registre-se que, praticado o ato pelo assistente na omissão do assistido, sua

eficácia ficará condicionada a ausência de uma manifestação contrária expressa

por parte desse9. Como exemplo, interposto um recurso pelo assistente, é

possível que o assistido se manifeste expressamente que não pretende que a

decisão seja recorrida, hipótese na qual o recurso interposto perderá seu objeto.

Diante dessa atuação condicionada especial do assistente simples, parece que a

priori esse sujeito tem legitimidade e interesse para excepcionar o juízo, mesmo

diante da omissão do assistido em fazê-lo. O que poderá ocorrer no caso concreto

é a possibilidade de o assistido se manifestar, após o ingresso da exceção pelo

assistente, contrariamente a ela, caso em que deverá ser extinta imediatamente,

8 Athos Gusmão Carneiro, Intervenção de terceiros, op. cit., p. 146; José Roberto dos Santos Bedaque, Código de Processo Civil anotado, op. cit., p. 161; Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, vol. 1, 9ª ed., São Paulo, RT, 2005, p. 128. 9 Ubiratan de Couto Maurício, Assistência simples no direito processual civil, São Paulo, RT, 1983, p. 124, fala em “ato inválido”.

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por estar o seu objeto prejudicado. Não havendo manifestação, a exceção de

incompetência proposta pelo assistente deverá ter trâmite procedimental normal.

Por fim, há a assistência ao réu na hipótese em que o réu-assistido é revel, já que

nesse caso o assistente será considerado gestor de negócios do assistido (art. 52,

parágrafo único, CPC), qualidade jurídica diversa da que assume quando o

assistido não é revel. Cumpre registrar que, apesar do texto legal, a qualidade que

o assistente assume no processo não é propriamente a de gestor de negócios,

instituto de direito material, posto que o mesmo não pode praticar ato de

disposição de direito, como reconhecer juridicamente o pedido ou transacionar,

até porque, apesar de se tornar – segundo a lei – gestor de negócios, o direito

material debatido na demanda continua sendo do assistido, e não seu. A crítica

não passou despercebida pela doutrina, que entende corretamente que o caso é

de substituição processual, e não de gestão de negócios.

O direito português, em sua recente reforma processual, se adiantou ao direito

brasileiro modificando a redação do art. 338 de seu CPC, conforme nos informa

Helena Tomás Chaves, operando-se alteração no respeitante “à posição do

assistente em casos de revelia do assistido: aquele passa a ser considerado seu

substituto processual e não, como anteriormente, gestor de negócios”.

Entendida corretamente a qualidade que assume o assistente no caso de revelia

do assistido, fica ainda mais claro compreender a permissão para excepcionar o

juízo, o que somente não poderia fazer se o assistido se colocasse

expressamente contra essa impugnação, o que evidentemente não ocorrerá em

virtude de sua revelia. Tendo todos os poderes processuais do substituído (no

caso o assistido revel), o assistente tem legitimidade para opor exceção de

incompetência.

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3 – Oposição

Na oposição um terceiro ingressa em processo alheio afirmando ser o titular do

direito ou da coisa discutida. A doutrina é uníssona em apontar a oposição como

sendo uma ação do terceiro contra o autor e réu da ação originária, que nessa

nova demanda formarão um litisconsórcio passivo necessário. Existem até mesmo

questionamentos a respeito da natureza de intervenção de terceiros da oposição,

entendendo parcela da doutrina que a interposição de oposição depois de iniciada

a audiência não teria a natureza de uma intervenção de terceiro10, até mesmo

porque nesse caso a oposição seguirá em autos próprios, que nem ao menos

tramitam em apenso aos autos principais.

Parece evidente que o opoente não terá legitimidade para alegar a incompetência

relativa do juízo, considerando-se que na ampliação objetiva do processo

resultante da oposição, o opoente figura como autor, sendo essa razão o

suficiente para lhe afastar a legitimidade para argüir a incompetência relativa.

Perceba-se que o opoente não passa a fazer parte da relação jurídica do processo

originário, que se mantém entre autor e réu, de forma que toda a atuação

processual do opoente será de autor de uma ação incidental contrária ao autor e

réu da ação originária11. Essa posição processual do opoente já é o suficiente para

afastar a possibilidade de que ingresse no processo, mesmo que durante o prazo

de resposta do réu, e alegue a incompetência relativa do juízo.

10 Nesse sentido as lições de Cândido Rangel Dinamarco, Intervenção de terceiros, 3ª ed., São Paulo, Malheiros, 2002, pp. 37-41. Há doutrinadores que retiram da oposição, independente do momento de sua propositura, a natureza de intervenção de terceiros, como Vicente Greco Filho, Da intervenção de terceiros, 3ª ed., São Paulo, Saraiva, 1991, pp. 50-51 e Ovídio A. Baptista da Silva, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. 1, São Paulo, RT, 2000, pp. 306-307. 11 Ressaltando a posição de autor do opoente, Athos Gusmão Carneiro, Intervenção de terceiros, 13ª ed., São Paulo, Saraiva, 2001, p. 68 e Daniel Ustárroz, A intervenção de terceiros no processo civil brasileiro, Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2004, pp. 62-63.

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A questão é interessante porque, apesar da oposição ser espécie de intervenção

de terceiro de natureza facultativa, o opoente estará condicionado à vontade das

partes da ação originária no tocante à competência do juízo, porque o juízo da

ação originária será absolutamente competente para a oposição. Trata-se de

competência funcional, conforme expressamente previsto no art. 109 do CPC12.

Dessa forma, o opoente estará vinculado ao Juízo em que tramita a ação

originária, até mesmo em situações em que esse juízo não seja aquele indicado

pela lei, devendo suportar qualquer espécie de prorrogação de competência

verificada fora do processo por convenção das partes (cláusula de eleição de foro)

ou durante o trâmite procedimental (conexão ou ausência de exceção).

E de nada ajudará o opoente a tentativa de se furtar dessa vinculação ingressando

com ação judicial autônoma, mascarando na realidade sua oposição. Nesse caso,

ambas as ações deverão ser reunidas perante o mesmo juízo para julgamento

conjunto, mas pela especialidade da situação não se aplicará as regras do art. 106

do CPC – juízo prevento é o que determinou a citação primeiro em ações de

mesma competência territorial – ou do art. 219, caput, CPC – juízo prevento é o

que realizou a citação em primeiro lugar em ações de competência territorial

diversa. Havendo conexão entre a ação originária e a oposição – ainda que o

opoente não indique tratar-se de oposição, distribuindo livremente a demanda – o

juízo prevento será sempre o da ação originária, em razão do disposto no art. 109,

CPC, que determinar ser absoluta a competência do juízo dessa ação para

conhecer e julgar a oposição

Resta enfrentar a questão da possibilidade dos réus da ação de oposição alegar a

incompetência relativa do juízo após sua citação para responder a pretensão do

opoente. Mais uma vez parece que o art. 109 do CPC afasta qualquer 12 Para Celso Agrícola Barbi, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. I, 11ª ed., Rio de Janeiro, Forense, 2002, p. 355, a regra se justifica no caso da oposição em virtude da conexão existente entre ela e a ação originária. No mesmo sentido Antônio Dall’Agnol, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. 2, São Paulo, RT, 2000, p. 50.

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possibilidade de argüição de incompetência relativa por tais sujeitos, ainda que

figurem no pólo passivo da oposição e, portanto, ao menos nessa ação, sejam

considerados réus. A competência absoluta que vincula a oposição à ação

originária torna absolutamente equivocada qualquer argüição de incompetência

relativa por parte dos réus da oposição. Parece claro que, eventual incompetência

da ação originária não poderá ser alegada em hipótese nenhuma pelos réus da

oposição por que; (i) o autor da ação originária foi o responsável pela escolha do

juízo que recebeu a demanda; e, (ii) o réu deveria ter alegado a incompetência no

momento de responder a ação principal, e não a oposição.

Em síntese conclusiva, é absolutamente inviável a argüição de incompetência

relativa pelo opoente, bem como pelos réus da oposição, de forma que,

excepcionalmente, embora autor e réu da ação originária estejam no pólo passivo

da oposição, lhes faltará, como uma das espécies de resposta, a exceção de

incompetência relativa. Conforme já mencionado na parte introdutória, é natural

que a incompetência absoluta possa ser argüida tanto pelo opoente como pelos

opostos, sendo que esses últimos poderão alegar tal espécie de incompetência

tanto na oposição como na ação originária.

4. Nomeação à autoria

A intervenção intitulada pelos arts. 62 a 69 do CPC como nomeação à autoria tem

uma especialidade que a diferencia de todas as demais. Ocorrendo a extromissão

de parte - objetivo final dessa espécie de intervenção, consubstanciada na

alteração do pólo passivo com o ingresso na relação jurídica processual do

terceiro nomeado à autoria - o processo seguirá entre o autor originário e o novo

réu, sem qualquer ampliação subjetiva da demanda. A especialidade é justamente

essa, porque ao passo que todas as outras espécies de intervenção ampliam

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subjetivamente a relação jurídica processual, a nomeação à autoria simplesmente

corrige o pólo passivo da demanda e segue em sua estrutura simples13.

Em virtude da própria estrutura da nomeação à autoria, tornando-se réu o terceiro

nomeado, é indubitável que terá legitimidade par argüir a incompetência relativa

ao assumir o pólo passivo da demanda. Essa conclusão é reforçada pelo art. 64

do CPC, que prevê a suspensão do processo diante do pedido de nomeação à

autoria, devolvendo-se na integra o prazo de resposta ao réu, quer seja o que

pediu a nomeação, quer seja o terceiro que interveio por meio da extromissão de

parte. Com a devolução do prazo de resposta, é natural que o novo – ou o mesmo

- réu possa lançar mão da exceção de incompetência.

Questão interessante e não enfrentada pela doutrina especializada se verifica na

hipótese do réu originário excepcionar o juízo e, acolhido o pedido, nos casos em

que ainda exista prazo sobressalente, nomear à autoria terceiro, já diante do novo

juízo. Proposta a demanda perante a Comarca de São Paulo, o réu excepciona o

juízo afirmando que a regra determinadora de competência territorial foi

descumprida pelo autor no caso concreto. Sendo acolhida a exceção, o processo

é enviado para a Comarca de Santos, transcorrendo o saldo do prazo, momento

no qual o réu nomeia à autoria um terceiro, seguindo o processo com réu que não

foi responsável pela argüição da incompetência.

Sendo o prazo da exceção de incompetência o de resposta do réu, parece

inevitável o reconhecimento da legitimidade do réu em opor essa forma de

resposta, o mesmo ocorrendo com o novo réu, que ao assumir o pólo passivo

13 Fredie Didier Jr., Direito processual civil, 5ª ed., Salvador, Jus Podivm, 2005, pp. 296-297: “Rigorosamente, a nomeação à autoria mais se assemelha a uma sucessão voluntária do que a uma intervenção de terceiro: o nomeado sucede o nomeante, que sai do processo. Não há ampliação subjetiva do processo, apenas a modificação de um dos seus pólos”. No mesmo sentido Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart, Manual do processo de conhecimento, 5ª ed., São Paulo, RT, 2006, p. 188.

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também poderá alegar em sua resposta a incompetência relativa do juízo por meio

de exceção. Nesse caso, entretanto, surge uma intrigante questão: pretendendo o

novo réu que a demanda retorne ao juízo de origem, ainda que não seja esse o

juízo indicado pelas regras determinadoras de competência, poderá elaborar tal

pedido em sede de exceção de incompetência?

Tomemos o exemplo dado acima. A exceção de incompetência foi acolhida

porque o réu era domiciliado em Santos, mas esse mesmo réu que excepcionou o

juízo não faz mais parte do processo, sendo que o novo réu é domiciliado em

Campinas. É natural que possa excepcionar o juízo pretendendo ver aplicado o

art. 94 do CPC, com a imediata remessa do processo ao foro de seu domicílio. E o

que ocorre se pretender que a demanda retorne para São Paulo, comarca

originária da demanda? Note-se que nesse caso não haverá qualquer regra

determinadora de competência que indique como competente a comarca de São

Paulo, mas será que a vontade do novo réu – nomeado à autoria – seria o

suficiente para fazer o processo retornar ao juízo de origem?

Apesar da absoluta ausência de regra determinadora de competência parece que

o mais adequado é permitir que a demanda seja devolvida ao juízo de origem se o

novo réu expressar essa vontade por meio de exceção de incompetência. Na

ausência de regra específica para resolver a questão, devem ser aplicados os

princípios que norteiam a competência relativa. As regras de competência relativa

têm natureza dispositiva, considerando-se que seu objetivo precípuo é proteger o

interesse das partes. Essa natureza jurídica das normas permite que as partes -

com exceção dos casos de conexão e continência -, estabeleçam um novo juízo

para conhecer e decidir a demanda, independente do que prevejam as normas

determinadoras de competência.

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Na hipótese enfrentada, por vontade do réu originário, o processo foi remetido

para o foro competente em virtude da aplicação da regra ao caso concreto, o que

seria totalmente compreensível se o réu que excepcionou o juízo continuasse a

figurar no pólo passivo da demanda, o que, entretanto, não se verificou em virtude

da extromissão de parte. Não parece correto que o novo réu, que suportará os

efeitos jurídicos da demanda, seja obrigado e litigar em foro “escolhido” pelo réu

excluído da demanda, porque é natural se compreender que, sendo a regra feita

para proteger o interesse das partes, deva efetivamente proteger os sujeitos que

participam do processo e que sofrerão os efeitos jurídicos da decisão a vir a ser

proferida. Seria ilógico que a disponibilidade de aplicação da regra de

competência relativa favorecesse o réu que não mais participa do processo, mas

não acobertasse o réu que assume o pólo passivo e nele continuará até o final da

demanda, sofrendo, inclusive, seus efeitos jurídicos diretos.

5. Denunciação da lide

A denunciação da lide poderá ser feita tanto pelo autor como pelo réu, mas

qualquer que seja o denunciante com essa espécie de intervenção de terceiro

surgirá uma nova ação dentro do processo já existente, envolvendo a parte

responsável pela denunciação e o terceiro denunciado, ação na qual, de forma

evidente e independente do previsto nos arts. 74 e 75 do CPC, esses sujeitos

serão adversários a discutir a existência ou não do direito de regresso no caso

concreto. É até mesmo possível se afirmar que nessa ação secundária surgida

pela denunciação da lide o denunciante é autor – independente do pólo que ocupe

na ação originária – e o denunciado é réu.

Feitas tais considerações, e considerando-se o denunciado o réu da ação

regressiva proposta contra ele por uma das partes que já compõe a relação

jurídica de direito processual originária, questiona-se; poderá argüir a

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incompetência relativa do juízo? É certo que o raciocínio desenvolvido até esse

momento poderia levar a crer que a conclusão seria por uma resposta afirmativa,

porque se o denunciado é réu e o réu tem legitimidade, logo o denunciado teria

legitimidade para excepcionar o juízo. Ocorre, entretanto, que a lógica

representada pela conclusão ora transcrita não se mostra correta e tão pouco

aplicável, desconsiderando um importante elemento na solução da pergunta

proposta.

Segundo o art. 109 do CPC, “o juiz da causa principal é também competente para

a reconvenção, ação declaratória incidental, as ações de garantia e outras que

respeitem ao terceiro interveniente”. Dentre as “ações de garantia” previstas pelo

dispositivo legal transcrito certamente se encontra a denunciação da lide, de forma

que, mesmo que a ação regressiva representada pela denunciação à lide possa

ter sido proposta em foro relativamente incompetente, o denunciado não poderá

excepcionar o juízo, em virtude da competência funcional – absoluta, portanto – do

juízo em que já tramita a ação principal. A conclusão é simples e indiscutível

porque nesse caso existe uma norma determinadora de competência absoluta do

juízo da ação principal, prevalecendo sobre todas as outras normas que

determinam a competência relativa no caso concreto.

Superada a questão a respeito da ilegitimidade do denunciado excepcionar o juízo

alegando a incompetência relativa para a ação regressiva proposta contra ele por

uma das partes da ação principal, passa-se a análise da legitimidade ou não do

denunciado em ingressar com exceção de incompetência em virtude de ofensa à

regra de competência para a própria ação principal. Exemplifica-se. Numa ação

proposta por A contra B, na qual a regra determinadora de competência territorial

indica a comarca de Natal, a demanda é proposta na Comarca de Mossoró,

verificando-se a denunciação da lide a terceiro domiciliado na Comarca de Currais

Novos. Já se determinou que não é possível ao denunciado excepcionar o juízo

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demandando o envio do processo para a Comarca de Currais Novos, mas será

possível fazê-lo para pedir o envio do processo para a comarca de Natal? A

resposta a tal indagação passa, primeiramente, pela difícil e polêmica análise da

qualidade processual que o denunciado assume na ação principal.

Segundo os arts. 74 e 75, I, do CPC, o denunciado à lide tornar-se um litisconsorte

da parte que o denunciou, sendo o dispositivo legal o mais claro possível em criar,

ainda que para parcela da doutrina tão somente no aspecto da vontade legislativa,

um litisconsórcio entre o denunciante o e denunciado14. Existe séria polêmica a

respeito do conteúdo desses dispositivos legais.

Substanciosa parcela da doutrina aponta impropriedade técnica nos dispositivos

legais ora comentados afirmando que o denunciado não mantém qualquer relação

de direito material com a parte da ação originária que não o denunciou à lide, e

certamente não é titular do direito material discutido em tal processo. Como se

poderia afirmar a natureza jurídica de litisconsórcio entre denunciante e

denunciado se, na ação principal, o denunciado não defende qualquer interesse

próprio? Sendo indiscutível o interesse jurídico do denunciado em que o

denunciante sagre-se vencedor na demanda judicial – sem derrota não há

prejuízo, e sem prejuízo não há direito regressivo – por não estar litigando em

favor de direito próprio, entende essa parcela doutrinária que o denunciante é um

assistente do denunciante, e não litisconsorte, como pretende a lei15.

14 Concorda com a literalidade dos dispositivos legais Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, op. cit., pp. 173-174; 15 Ovídio A. Baptista da Silva, Comentários ao Código de Processo Civil, op. cit., pp. 352-353; Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart, Manual de processo de conhecimento, op. cit., p. 193; Alexandre Freitas Câmara, Lições de direito processual civil, vol. I, 9ª ed., Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2003, pp. 208-209. Para Cândido Rangel Dinamarco, Intervenção de terceiros, op. cit., pp. 145-147, o denunciado é assistente litisconsorcial. É interessante o entendimento de Fredie Didier. Jr., Direito processual civil, op. cit., p. 306, para quem é caso de “legitimação extraordinária autônoma: o denunciado passará a defender interesses do denunciante em face do adversário deste, sem qualquer vínculo de subordinação (lembre-se que a assistência simples é caso de legitimação extraordinária subordinada)”.

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Apesar do inegável interesse na solução do impasse descrito, sendo essencial

para outras conseqüências processuais a determinação da efetiva qualidade

jurídica da relação formada pela denunciação da lide, para a solução da questão

da possibilidade de argüição da incompetência relativa ela é absolutamente

irrelevante, porque seja assistente, seja litisconsorte, sempre faltará ao

denunciado a legitimidade para argüir a incompetência relativa.

Registre-se desde já que a conclusão antecipada de que não se admitirá o

ingresso de exceção de incompetência não está fundada na aplicação do art. 109

do CPC.16 Essa regra de competência absoluta tão somente vincula a

competência para a denunciação da lide à competência para a ação principal, em

nada interferindo nas conclusões a respeito de uma eventual modificação da foro

em que tramita a ação principal em virtude do acolhimento de uma exceção de

incompetência. Nesse caso, segundo a regra de competência funcional do art.

109, CPC, necessariamente a denunciação da lide seguirá para o mesmo foro da

ação principal, mas em nenhum momento se poderá concluir desse dispositivo

legal a impossibilidade do denunciado excepcionar o juízo e causar a remessa do

processo a outro foro, sem qualquer ofensa ao art. 109 do CPC.

Ainda que seja incorreta a aplicação do art. 109 do CPC como fundamento para

se afastar a legitimidade do denunciado para excepcionar o juízo, existem outros

obstáculos que permitirão tal conclusão.

Segundo o art. 74 do CPC, realizada a denunciação da lide pelo autor – hipótese

mais rara – o denunciado se tornará litisconsorte desse sujeito processual,

podendo, inclusive, aditar a petição inicial. Nesse caso, é evidente que,

considerando-se o denunciado um litisconsorte do autor, não terá qualquer

16 Nesse sentido Nelson Nery. Jr. e Rosa Maria Andrade Nery, Código de Processo Civil comentado, p. 509, fundamentando sua posição em parecer elaborado por Antonio Carlos Marcato.

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legitimidade em argüir a exceção de incompetência, considerando-se o

entendimento pacífico de que falta ao autor legitimidade para argüir a

incompetência relativa do juízo17. Nesse caso, apesar do denunciado não ter sido

o responsável pela propositura da demanda judicial, ficará vinculado, ao menos

até a resposta do réu, a escolha feita pelo autor, porque não havendo reação

contrária do réu dentro do prazo legal, estará determinado o juízo competente

conforme a previsão do art. 114 do CPC.

A mesma conclusão se chegará considerando-se o réu um assistente do

denunciante. Conforme já foi devidamente analisado, a conduta processual do

assistente não pode contrariar a vontade expressa do assistido, somente

admitindo-se a prática de atos concomitantes com atos praticados pelo assistido

ou diante de sua omissão. Na hipótese ora analisada, o autor expressamente

demonstrou sua vontade em descumprir a norma determinadora de competência

relativa ao propor a demanda judicial em foro não indicado por tal norma, sendo,

dessa maneira, inviável se aceitar que o denunciado, como assistente, se coloque

contra a manifestação de vontade já expressada pelo autor da ação principal.

No tocante à denunciação do réu - hipótese mais freqüente dessa espécie de

intervenção provocada de terceiros - a solução parece ser ainda mais simples.

Tratando-se a incompetência relativa de vício de natureza relativa, não feita a

argüição pela parte interessada no primeiro momento em que falar nos autos, o

vício se convalidará. Significa dizer que, ao denunciar a lide o terceiro, o réu terá

se manifestado no processo sem argüir a incompetência relativa, de forma que o

terceiro, ao ingressar no processo, já encontrará estabilizada a competência do

juízo da ação principal, não sendo nem mesmo uma questão de legitimidade em

argüir a incompetência relativa, mas sim de impossibilidade jurídica, porque, se

alguma incompetência houve no caso concreto, não mais haverá após a 17 José Frederico Marques, Instituições de direito processual civil, vol. I, São Paulo, Millennium, 2000, p. 455; Daniel Amorim Assumpção Neves, Competência no processo civil, op. cit., p. 23.

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manifestação do réu pleiteando a denunciação da lide. Essa conclusão, como se

percebe com extrema facilidade, serve tanto para a corrente doutrinária que

entende ser o denunciado assistente do denunciante, como para aquela corrente

que o entende como litisconsorte.

A conclusão é pela impossibilidade do denunciado à lide argüir a incompetência

relativa do juízo, seja a denunciação feita pelo autor, seja feita pelo réu, considere-

se o denunciado assistente ou litisconsorte do denunciante.

5- Chamamento ao processo

O chamamento ao processo é espécie de intervenção de terceiro referente à

dívida solidária na hipótese do credor preferir litigar contra somente um ou alguns

dos devedores e aqueles devedores que fora escolhidos pelo credor, desejarem

incluir na demanda judicial os demais co-devedores.

Há intenso debate doutrinário a respeito da qualidade jurídica com que o chamado

ao processo participa na demanda judicial. Embora não reste dúvida de que o

chamado ao processo mantenha com a parte contrária uma relação jurídica de

direito material, aliás, exatamente aquela relação jurídica que esta sendo objeto de

discussão em juízo, existe parcela da doutrina que não aceita tê-lo como

litisconsorte ulterior do réu, em virtude de regra de direito material que estabelece

que na dívida solidária quem escolhe contra quem litigar é o credor, e não o

devedor demandado. Marcelo Abelha Rodrigues é partidária dessa opinião18:

18 Cf. Elementos de direito processual civil, vol. 2, 2ª ed., São Paulo, RT, 2003, pp. 303/304. Em sentido contrário, entendendo haver a formação do litisconsórcio, Ovídio A. Baptista da Silva, Comentários ao Código de Processo Civil, op. cit., pp. 366-367; Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart, Manual do processo de conhecimento, op. cit., p. 194; Alexandre Freitas Câmara, Lições de direito processual civil, op. cit., pp. 211-212.

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“Ao se admitir que o chamamento ao processo é espécie de intervenção de

terceiro provocada por inserção do terceiro na relação jurídica processual já

existente, tese com a qual não concordamos, estar-se-á, diretamente, ‘revogando’

o sentido de existência do regime da solidariedade previsto nos arts. 264 e 275 do

CC, que assegura ser possível a cobrança da totalidade da dívida contra apenas

um dos co-devedores. Então, seria ilógico que, uma vez concebendo o direito ao

credor de cobrar a dívida, total ou parcialmente, de apenas um dos co-devedores,

porque assim lhe assegura a lei, fosse ele obrigado a aceitar que o réu

convocasse os demais co-devedores, para que estes integrassem o mesmo pólo

da relação jurídica processual. Admitir-se isso é tornar inoperante o regime de

solidariedade posto em benefício do credor, que, por múltiplas razões, pode optar

por ajuizar ação de cobrança contra apenas um devedor (que esteja em regime de

solidariedade com outros)”.

Seja como for, mais uma vez – conforme já ocorreu com a denunciação da lide – a

qualidade jurídica do terceiro interveniente será irrelevante para os fins

perseguidos pelo presente artigo, porque, seja litisconsorte ou assistente do réu,

não se admitirá a propositura de exceção de incompetência pelo chamado ao

processo. Pode até se alegar que o problema não será propriamente de

legitimidade, mas sim de possibilidade jurídica do pedido, mas a impossibilidade

da exceção nesse caso segue a exata e mesma justificativa já utilizada para

explicar a impossibilidade do denunciado à lide pelo réu excepcionar o juízo.

Segundo o art. 78 do CPC, o réu terá o prazo de resposta para chamar o terceiro

ao processo, de forma que, caso manifeste-se nesse sentido sem indicar a

incompetência relativa do juízo, ocorrerá a prorrogação legal de competência, não

sendo mais possível se apontar no caso concreto qualquer incompetência relativa

do juízo do processo. Dessa forma, tratando-se de vicio de natureza relativa, o

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réu, ao chamar ao processo o terceiro falar nos autos e não o aponto, o que,

segundo o art. 245, caput, CPC, permite a convalidação do vício.

6 – O novo art. 112, parágrafo único, CPC

A Lei 11.280/06, ao somar ao art. 112, CPC, um parágrafo único, trouxe

significativa novidade no trato judicial da incompetência relativa, permitindo ao juiz,

na hipótese de haver no caso concreto uma nulidade em cláusula de eleição de

foro em contrato de adesão, declarar de ofício tal nulidade, declinando de sua

competência para o “juízo de domicílio do réu”. O dispositivo legal, apesar de

trazer uma novidade ao Código de Processo Civil, simplesmente amplia

entendimento jurisprudencial pacífico em nossos Tribunais, que já vinha adotando

o entendimento expresso em lei para as demandas consumeristas.

Percebe-se pela literalidade da norma invocada que o objetivo do legislador foi

criar uma exceção à regra geral de que não cabe ao juiz reconhecer de ofício a

sua própria incompetência, sendo essa missão exclusiva do réu e, em

determinadas hipóteses do assistente19. A regra, portanto, continua sendo que,

não havendo ingresso de exceção de incompetência, prorroga-se a competência

do juízo, ou seja, torna-se competente o juízo que originariamente não o era.

Há ainda uma outra novidade concernente à matéria, trazida pela nova redação do

art. 114, CPC, que passa a ser: “Prorrogar-se-á a competência se dela o juiz não

declinar na forma do parágrafo único do art. 112, ou o réu não opuser exceção

declinatória nos casos e prazos legais”. Antes da reforma legislativa, a norma era

clara ao dispor que, na hipótese do réu não excepcionar o juízo, ocorreria a

prorrogação de competência, tornando-se competente o juízo da demanda, ainda

que não o fosse originariamente. Com a modificação legislativa, o prazo da

19 Daniel Amorim Assumpção Neves, Competência no processo civil, op. cit., pp. 24/26.

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exceção de incompetência – prazo de resposta do réu, a par da redação do art.

305, CPC, prever que o prazo é de 15 dias – além de criar uma preclusão ao réu,

também atingirá ao juiz nas hipóteses de aplicação do art. 112, parágrafo único,

CPC.

O legislador se preocupou com o problema que poderia ser gerado com o não

reconhecimento de ofício da incompetência relativa em hipóteses em que o réu

não excepcionou o juízo. Procurou deixar bem claro que, apesar de ser matéria

que poderá conhecer de ofício, não transforma o caso concreto numa espécie de

incompetência absoluta, porque nesse caso o vício não se convalidaria, podendo

ser alegado a qualquer momento e até mesmo após o transito em julgado, por

meio de ação rescisória. O objetivo do legislador foi apontar para a convalidação

do vício após o transcurso do prazo de resposta do réu, ainda que seja possível

ao juiz reconhecer sua incompetência relativa de ofício.

Não deixa de ser curiosa a opção do legislador, embora totalmente justificável à

luz da prática forense. É criada uma matéria de ordem pública com menor força do

que uma verdadeira matéria de ordem pública, considerando-se que o juiz

somente reconhecerá a matéria de ofício até o transcurso do prazo de resposta.

Depois disso, não poderá mais se manifestar sobre a matéria, contrariando regra

básica das matérias de ordem pública: elas podem ser conhecidas de ofício a

qualquer momento do processo. Quem sabe o legislador entenda que a proteção

ao réu não tenha o condão de transformar a matéria em questão de ordem

pública, o que não deixa de ser discutível em virtude da possibilidade do

reconhecimento da matéria de ofício, atuação do juiz concernente às matérias de

ordem pública.

Não é a primeira vez que o legislador confunde a natureza da matéria e a

possibilidade de seu reconhecimento de ofício para resolver problemas práticos.

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No art. 526, parágrafo único, CPC, criou-se uma interessante hipótese de requisito

de admissibilidade recursal que somente poderá ser conhecido pelo juiz se

alegado pela parte interessada. É de fato curioso, já que os requisitos de

admissibilidade são matérias de ordem pública, devendo o juiz conhecê-las de

ofício, o que não ocorre na hipótese prevista pelo dispositivo comentado20. Não

deixa de ser, no mínimo, uma confusão entre natureza de matéria e condições

para seu reconhecimento em juízo.

A nova norma criou uma hipótese de preclusão temporal para o juiz, fenômeno

que parecia não existir no ordenamento processual brasileiro, considerando-se

que os prazos para o juiz são prazos impróprios, pois, uma vez descumpridos,

nenhum efeito processual se verificará. Os efeitos gerados por descumprimento

de prazo impróprio pelo juiz, serão, quando muito, de natureza disciplinar21. Não

havendo conseqüência processual dessa omissão, não se pode falar em

preclusão temporal para o juiz, pois mesmo depois de transcorrido o prazo para a

realização ao ato, será totalmente lícita a sua realização22. Após o regramento do

20 A curiosidade já havia sido percebida por Leonardo José Carneiro da Cunha, Inovações no processo civil, São Paulo, Dialética, 2002, p. 101 e Daniel Amorim Assumpção Neves, “O princípio da comunhão das parovas”, in Revista Dialética de direito deprocessual n° 31, out/05, p. 30. A estranheza com a novidade levou alguns doutrinadores, inclusive, a rumarem contra a literalidade do texto legal, afirmando que por se tratar de matéria de ordem pública o juiz poderia conhecer a matéria de ofício. Nesse sentido Fabiano Carvalho, “Os agravos e a reforma do Código de Processo Civil”, in A nova etapa da reforma do Código de Processo Civil, São Paulo, Saraiva, 2002, p. 285. Para Flávio Cheim Jorge, A nova reforma processual, 2° ed.São Paulo, Saraiva, 2003, p. 171, por se tratar de matéria de ordem pública, se o juiz de primerio grau informar o descumprimento o Tribunal não deve conhecer o agravo, ainda que não haja manifestação do agravado. 21 José Frederico Marques, Instituições de Direito Processual Civil, vol. II, op. cit., p. 322: “Diz-se que um prazo é próprio, quando destinado à prática de atos processuais da parte, e que, quando inobservado, produz consequências e efeitos de caráter processual. Impróprio é o prazo imposto ao juiz e seus auxiliares (o escrivão e o oficial de justiça), e que, se descumprido, trará consequências não processuais, e sim de ordem disciplinar.”; Antonio Dall’ Agnol, Comentários ao Código de Processo Civil, vol. 2, São Paulo, RT, 2000, p. 389: “Prazos impróprios, assim denominados porque o não atendimento a eles não traz, em princípio, conseqüência de ordem processual, os previstos pelo art. 189, quando não respeitados pelo juiz, dão ensejo a providências de caráter administrativo”, e Arruda Alvim, Curso de direito processual civil, vol. I, op. cit., p. 454. 22 José Soares Sampaio, Os prazos no Código de Processo Civil, 5.ª ed., São Paulo, RT, 1999, p. 28: “Por fim, vale acentuar que os atos processuais praticados pelo juiz, com excesso injustificado de prazo, mantêm validade.”

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art. 114, CPC, não mais será possível se afirmar que a preclusão temporal não

atinge o juiz.

O que interessa precipuamente ao presente estudo é que, durante o prazo de

resposta do réu, a incompetência territorial do juízo será tratada como matéria de

ordem pública, ao menos no tocante à possibilidade do juiz conhecê-la de ofício

em Juízo. Dessa forma, será tratada durante esse momento processual da mesma

maneira que um vício de incompetência absoluta, o qual pode ser alegado por

qualquer sujeito processual, o que incluirá a possibilidade de alegação por parte

dos terceiros intervenientes. Sendo possível ao juiz reconhecer a matéria de

ofício, certamente será permitido a qualquer espécie de terceiro interveniente sua

alegação, da mesma forma que ocorre com a incompetência absoluta.