os signos do gozo ii

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  • 8/13/2019 Os Signos Do Gozo II

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    www.marciopeter.com.brENSINO CONTINUADO 1996/97 OS SIGNOS DO GOZO II

    Os signos do gozo II 1997

    O que vem primeiro? O significante? O objeto?

    Mrcio Peter de Souza LeiteMaro de 1997

    No captulo VII Miller vai pensar ontologicamente: O que vem primeiro? O significante? O objeto?Nada vem primeiro. Mas como pensar a origem? De onde parte a significao da qual o sujeito

    ser um recorte? Como falou pela primeira vez este sujeito, o analisante, que ora me fala? Essa a forma de encontrar as origens, esses S1, e a relao desses S1 com o objeto, relao quecontinua se repetindo na situao analtica.

    Miller comea a pensar na origem da fala num sujeito e remete a Lacan em Subverso dosujeito, onde constri o grafo a partir do animal humano, o proto-sujeito, antes deste aceder linguagem. A cadeia comea, quando o sujeito acede linguagem. No primeiro grafo, o designao proto-sujeito, antes do falante. O grito no um significante, uma pura emisso vocal a que aresposta do A d uma significao e transforma em apelo. isso que engara o proto-sujeito nalinguagem dando origem ao sujeito. A surge a cadeia. preciso ter primeiro a cadeia para depoister um sujeito. Quando Lacan formula isso em Subverso do sujeito ele ainda no tinhaformalizado a cadeia significante em termos de S1S2, s vai fazer isso em 1964.

    As frmulas da sexuao

    Lado Homem

    x x - Todo homem est submetido funo flica - portanto castrado.

    x x - Existe o Um que no est submetido a funo flica - a exceo, no castrado.

    Lado Mulher

    x x - No existe nenhuma mulher que no seja submetida a funo flica, portanto todas socastradas.

    x x - No toda a mulher est submetida a funoflica, portanto a mulher, no toda.

    a mulher que coloca limite ao UM; se existe no lado Mulher o x x, ento no existe a relaosexual, no existe a completude.

    Lacan est afirmando ao mesmo tempo que Existe o Um e que No existe a relao sexual, comopodemos entender isso? No existe a relao sexual, isto a completude, embora exista o UM,porque h um limite para esse Um, que o no todo da mulher. A mulher no-toda. O Um nocastrado, que goza de todas as mulheres, no pode gozar da mulher toda, porque a mulher no-toda.

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    Ento, Existe o Um e tambm existe a falta, o importante so as maneiras pelas quais o sujeitotenta completar a falta, pelo significante e objetalmente. O que est escrito nas frmulas dasexuao so os modos de gozo, as formas do sujeito tentar se completar, tentar ser Um.

    O n borromeano, no articula a questo da sexuao, o n d conta do parltre e da relaoentre os registros. A clnica lacaniana depois dos anos 70 se ocupa do gozo, dos modos de gozo,atua nos modos de gozo que so diferentes no homem e na mulher. Nas frmulas da sexuao oque est do lado Homem se complementa objetalmente e a Mulher tem dois modos de gozo, ogozo flico da complementao da falta e o Outro gozo prprio da Mulher.

    Clinicamente pode-se colocar as questes: a falta igual angstia? Por que o gozo feminino gozo e no angstia?

    O grito e o apelo

    A partir da pg. 109 Miller comea a introduzir a questo do grito e do apelo, que ele chama demutao significante, de elevao de uma realidade ao significante, que o que est em questono prprio surgimento da insgnia. Na transformao do grito em apelo o que Lacan introduz o

    reconhecimento do A.

    S1 O que temos aqui de novo, a colocao do A, em S1ou S2?

    S2

    Quando Lacan formula isso em 1960 ele ainda no tinha a cadeia S 1- S2, e essa idia de cadeia que importante, porque estamos falando na relao S1- a.

    Para formar a cadeia, Lacan separa um significante que o S1 que o que interessa. O queparece aqui que a cadeia se inicia pelo S2, e no pelo S1.

    significa a origem mtica que no se deve substancializar. O o proto-sujeito, emite um grito

    que material, mas na medida que um apelo, um significante. O grito tem o elemento materiale o elemento significante. O interessante aqui que o S2que constitui o S1, mas o S1que estrelacionado com o que no se deve substancializar. Remetendo ao texto de Miller,Consideraes sobre a clnica psicanaltica quase que se poderia colocar no o D.M. e em S1oPai, e a poderamos entender o objeto a, como o resto dessa operao. Essa a relao doobjeto a que nesse caso do grito e do apelo, o objeto, a voz. Toda emisso vocal ter oelemento significante, o que faz apelo ao Outro e um resto material.

    Fica uma pergunta: Tudo o que vem do A marca? Toda materialidade que produz uma resposta noA marca? O que marca a resposta que satisfaz uma pulso. a satisfao da pulso que vaiconstituir a marca no sujeito. o modelo freudiano, s que mais sofisticado. Na clnica o querealmente opera a voz enquanto objeto a e no o significado.

    S2 - a preexistncia da linguagem. O grito torna-se apelo porque a linguagem existe, s que isso

    vai produzir o S1o trao unrio. A resposta produz um efeito de satisfao, a o S 1produz o sujeito. um esquema circular:

    - o grito S2resposta S1trao unrio $ sujeito

    Depois, de novo o $ vai se referir a S2e quando vamos escrever a cadeia, temos S1S2. Primeirotem-se a resposta do A, o S2, resposta que produz uma insgnia, uma marca, um signo, o S1. Maspara que isso acontea preciso que exista a linguagem, o S2,para dar significao ao grito. Ainsgnia a marca das respostas do A sobre o sujeito.

    A partir do Seminrio da Identificao (Seminrio 9,1961-62), h um questionamento: se alinguagem causa do inconsciente, qual a causa da linguagem? a escrita, a Letra, isso j estem Instncia da Letra (1957), texto no qual Lacan estabelece um dilogo com J. Derrida. A otermo instncia usado no sentido jurdico, a instncia da Letra seria a primeira. Derrida diz que a

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    linguagem mais do que Logos, mais do que fonemas, mais do que o sentido. Oestruturalismo tambm sai do sentido e vai para a estrutura. A palavra, a linguagem, o verbo noso os primeiros, porque h algo que os antecede, a escritura, a Letra. Existe a linguagem, a

    fala, porque h a escrita como conseqncia de uma causa.Conclumos:

    A causa do sujeito a verdade , S1.

    A causa da verdade o significante.

    A causa do significante a Letra (escrita).

    A causa da Letra o objeto a?

    A condio da escrita, a existncia da resposta do A.

    Se se tem o grito e o apelo, se um S1e outro S2, se um o eu-ideal e o outro o Ideal do eu, seum Imaginrio e o outro Simblico, o que de Real h no grito? Onde est o Real entre o S 1e oS2?

    O grito se inscreve quando se transforma em apelo, a vira marca. o S2, I (A), que vai condicionaro S1(i (a)), que vai se dirigir novamente ao S2.

    A como Eu-puro-prazer = Eu ideal, sem falta, com a completude do A, Eu imaginrio, fora do planoda linguagem. No segundo momento, intervm a linguagem, at a s h o registro do primeiromodelo, a aparece o ideal do eu como modelo de completude, j simblico.

    O I (A), o registro dessa completude no A, o todo completo o A, o que sabe o que falta aooutro, por isso Simblico.

    O Eu-ideal, o eu-puro-prazer, o eu-sem-falta no sentido da completude com o A, que Lacancoloca como sinnimo do Imaginrio. a situao narcsica da criana com a me, o que Lacanfala no Estdio do Espelho, modelo do dipo. Num segundo momento intervm a linguagem, oSimblico, a j no temos uma situao concreta mas apenas um registro dessa primeira situaonarcsica; esse registro o Ideal do eu.

    O eu-ideal pertence ao Imaginrio, e o Ideal do eu ao Simblico.

    O eu-ideal pertence a um tempo mtico, ao primeiro Narcisismo. O Ideal do eu j pertence aocampo da linguagem, no elimina o eu-ideal, mas o supera. O eu-ideal, o eu-puro-prazer foi paraFreud um construto terico necessrio para pensar o narcisismo.

    S2como Identificao um dado clnico apontado por Freud, no entanto num nvel mais biolgico,o nvel da incorporao do objeto associada fase oral.

    Lacan comea dizendo que identificao no imitao, no mimetismo, no incorporao,mas que se trata de um fato de linguagem. A identificao no a um objeto, mas a umsignificante, a um trao significante do outro visto como completo, isto como A. Por exemplo: atosse de Dora. Lacan usa como modelo de identificao a identificao histrica, enquanto Freudtem trs modelos, a incorporao oral, a identificao ao Pai (Totem e Tabu) e a identificaohistrica.

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    Miller aqui fala em identificao constituinte e constituda. O sujeito comea a existir no S1ou noS2? O proto-sujeito torna-se sujeito a partir do A, que transforma o grito em apelo, a partir do realcondicionando o Simblico.

    No Estdio do Espelho Lacan pensa a constituio do sujeito em relao ao Eu, nos Seminrio I eII pensa em narcisismo primrio e primeira identificao (completude da captao gestltica pelaimagem do A).

    Mito de criao da psicanlise

    O primeiro S2 tem Letra? a Letra? A causa material do sujeito o significante na sua vertenteliteral, tem a ver com a verdade. Mais tarde Lacan chama S1 como verdade enquanto causamaterial. A causa do sujeito, o objeto a. Qual sua relao com a Letra?

    A causa do sujeito o significante, a causa do significante a Letra, a causa da Letra o objetoa. H duas formas do sujeito se completar: pelo significante e pelo objeto. Qual a relao entreambas? A identificao tem a ver com o significante (trao unrio, Letra) e no com o objeto.

    Registro do Imaginrio Registro do Simblico Registro do Real(D.M. ou 1 narcisismo) I (a) ou S2 Objeto a

    Eu puro prazeri (a) ou S1 Significantes

    As relaes do I, do S, do R, a part ir do Existe o UM

    Para falar do mito das origens Miller se refere s duas identificaes, constituinte e constituda.A partir do grito que vira apelo por interveno do A, esse apelo constitui uma marca. Ele vaiarticular essa idia com o eu ideal, i(a) e com o Ideal do eu, I(A) e no fim fica a idia daidentificao constituinte como sendo um modelo da completude, onde se veria a fico da me, afuno materna, o S2, e a idia da identificao constituda, o S1, seria a marca, o trao unrio.Ento o constituinte seria a me, seria o eu-ideal (i (a)), o eu-puro-prazer e o constitudo seria oideal do eu (I (A)), da funo paterna, da palavra, da linguagem, S1, aonde vai se situar o traounrio.

    Nesse captulo resumo, o captulo 8 do Seminrio, Miller est articulando questes janteriormente colocadas. Na verdade trata-se da articulao do Simblico com o Imaginrio, isto ,como o ideal do eu se articula com o eu-ideal, ou seja, como o Simblico se articula com oImaginrio, e Miller est buscando responder questo: Onde entra o Real?

    O que o real? O grito? Ou o apelo?

    Na constituio de um sujeito o real vem antes ou vem depois? Onde localizar o real?

    Miller est situando o lugar do Real frente ao Imaginrio e ao Simblico. O Real lacaniano, que no a realidade, sempre pensado como o que condiciona o simblico, o trao unrio quedetermina a Letra, a Letra que determina o significante, ento a questo : nessa fico dasorigens qual o lugar do Real? A resposta no uma ordenao aritmtica 1, 2, 3. Isso seriauma psicognese, um desenvolvimento do sujeito, idias abandonadas por Lacan.

    Essa questo na verdade, s pode ser respondida pela topologia que no supe uma ordenao,at mesmo subverte isso. Precisamos de uma outra referncia. Aqui temos o I e o S, mas claroque tambm temos o Real, porque no h um sem o outro. Ler Lacan de trs para a frente, ler

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    Lacan pelo avesso, ler para trs a partir do R.S.I, implica isso, porque antes do Seminrio R.S.I sebuscava a ordem dos registros que foi algo que preocupou Lacan por muito tempo. O R.S.I umasubverso disso, no h uma ordenao dos registros, a ordenao qualquer uma.

    A resposta topolgica, o n borromeano. Os registros se amarram segundo as propriedades don borromeano, no existe um sem os outros. a relao do Simblico com o Imaginrio que d olugar do Real, do Simblico com o Real que d o Imaginrio, do Real com o Imaginrio que d oSimblico.

    Por isso no Seminrio R.S.I Lacan passa para o n com quatro elos, no lugar do n com trs elos. o quarto n que vai dizer a relao dos registros, o quarto n o da nominao, tambm o dafuno paterna. De acordo com a amarrao que se estabelece o que cada elo, um elo no originariamente I, S, ou Real. Ele passa a ser de acordo com a nominao. O grito no originariamente nem I, nem S, nem R. Ele passa a ser em funo da nominao, passa a ser I ouS ou Real. A nominao o quarto n que tambm recebe o nome de sinthome.

    O grito portanto pode estar na posio de I, de S, ou de Real. J. Allouch afirma que esse oparadigma do segundo Lacan, que s pode ser compreendido a partir dessa formalizao, senofica-se na psicologia. H contestaes e essa idia no aceita unanimemente. Segundo osleitores mais radicais de Lacan, a idia de uma origem e a partir dessa origem destacar certoselementos no psicanlise, psicologia. Essa idia revolucionria, s pode ser entendida a partirdo R.S.I e da topologia. Miller aceita a idia mas no usa a topologia, ele formaliza de formadiferente pela lgica. Ele toma o Real e o Simblico como mutuamente determinados, o que supea leitura do R.S.I. (Ler Jean Allouch: Freud, puis Lacan).

    O esquema L (Escritos pg. 53)

    $ a

    a A

    Miller est tentando formalizar a mesma idia do Esquema L pela lgica, sem usar a topologia. Eleresponde questo: como se imbricam o I e o S? Imbricam-se porque h uma relao entre eles,porque eles so representados por essas linhas e essa relao entre eles que seria o Real. Millerpercebeu que a representao s pela topologia, tornaria difcil a aceitao da psicanlise paramuita gente, ento adota uma outra formalizao mais simples e mais aceita sem passar pelatopologia. Ento qual afinal a relao do Simblico com o Imaginrio e com o Real? Aonde se

    constitui o Real lacaniano? o ponto fundamental desse captulo. O Real se constitui pelaforacluso. O Real lacaniano o forcludo no Simblico.

    A produo psictica por exemplo, Real no sentido de que no est no Simblico, no que notenha realidade. Na produo psictica no h relao entre os elementos, ela no simbolizvel.O Real o que est fora do Simblico. Miller parte dessa noo para dizer qual a relao entreImaginrio e Simblico, colocando a idia de foracluso condicionando um elemento fora doSimblico, que determina o que o Imaginrio. a isso que apontam esses esquemas de Miller.Na pg. 131 o grafo aponta a foracluso, porque se a significao flica o que produz a inscriodo sujeito no Simblico, ento se h algo que est fora da significao flica, tem-se o Real eportanto a foracluso. Mais tarde Miller vai retomar essa questo, e vai falar em foraclusogeneralizada.

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    -

    A teoria da foracluso generalizada, a pea fundamental da constituio do Real. Existe o Realporque necessariamente para que haja o Simblico h uma foracluso. No Seminrio XXIII, LeSinthome, Lacan fala da foracluso generalizada, da orientao do real.

    Qual afinal a constituio do n borromeano? O furo, a ex-sistncia e a consistncia.A ex-sistncia como real, o furo como simblico e a consistncia do Imaginrio. Essa ex-sistnciaseria a foracluso generalizada.

    Antes do R.S.I, o imaginrio era definido como completude. A partir desse pensamento dosregistros como inter-relacionados deixa de haver a completude. No R.S.I h a reformulao do

    Imaginrio.A partir do grito que transformado em apelo, Miller est articulando Imaginrio e Simblico, como

    vemos nestas figuras. Essa articulao Imaginrio e Simblico abrange a teoria de Lacan duranteo perodo 1953 - 1960. No h ento a noo de Real, que foi introduzida com a noo de objetoa.

    Essas linhas (p.126) que aqui esto como Imaginrio e Simblico, tomados como o Ideal do eu e oeu ideal so o grito e o apelo, esse o desenvolvimento lgico desse captulo.

    Se h o S1 e o S2, se h o Imaginrio e o Simblico, se h o S2produzindo o S1, isso se d por uma imbricao dos dois elementos,essa imbricao tem uma sustentao material, isso o Real, umReal necessrio.

    A pergunta : Onde est o Real? Miller aqui situa o Real como point de capiton.

    A relao do Real com o Simblico a consistncia que do Imaginrio. Qualquer coisa podeestar no lugar do Real, do Simblico e do Imaginrio, isso vai ser determinado pelo quarto n, osinthome. Para cada sujeito, h formas diferentes e fixas de produzir o R, o S, e o I. O particular decada sujeito como ele produz esse parltre, que uma conseqncia do n borromeano.

    Ainda no captulo 8 continuando sobre a questo das identificaes, Miller nos remete ao EsquemaR que devemos ver juntamente com a Nota de Rodap (ambos na pg.553 dos Escritos), porque o momento em que Lacan, voltando atrs na sua obra, vai falar do lugar do Real em relao ao

    Imaginrio e ao Simblico, que o eixo do que estamos vendo aqui. Se h o grito e o apelo, se um o eu ideal, e o outro o Ideal do eu, se um o S1 e o outro S2, o que de Real h no grito? Eu idealcomo o Todo completo esse do grito, que o Outro (A) l e v o que falta ao outro (a). O grito oImaginrio, porque o registro da completude no A. Aqui no est o Real. O Real como fora doSimblico, tem uma relao de exterioridade.

    Miller est fazendo uma releitura de Lacan para dizer como ele teria falado do Real, mesmo semt-lo dito explicitamente. O apelo est no lugar do Simblico, vira marca, vira S1, e o S 2 fica nolugar do Imaginrio; Imaginrio e Simblico como ideal do eu e eu ideal.

    Nota: Lambda - a 11 letra do alfabeto grego - correspondente ao L.

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    R de Lacan

    Esquema R - do Real - um desenvolvimento do esquemaLambda (Escritos, pg.548). um esquema plano, onde doiseixos se cruzam, um esquema que d conta das posies dosujeito do inconsciente, ou da estrutura do sujeito doinconsciente que quadripartida porque contm quatroelementos: o S do ser, o Outro, A, o ego, a, e seus objetos, a .A estrutura do sujeito quadripartida. Essa noo de estruturaquadripartida, Lacan tira de Lvi-Strauss que a usa paraexplicar os mitos, construdos em pares de dois que so igual

    a quatro. Lvi-Strauss usa a estrutura de quatro elementospara demonstrar que os mitos tm uma estrutura de linguagem (Estrutura o que estabelece umarelao de elementos).

    O esquema Lambda um Z, tem eixo Simblico S Ae o eixo imaginrio a a . disso queLacan d conta no primeiro momento do seu ensino, momento do Estdio do Espelho. Lacan dconta da constituio da imagem em relao imagem do outro, a a (Depois dos anos 60, essea vira o prprio objeto a).

    Como o sujeito estruturado, constitudo?

    O sujeito conformado a partir da cadeia significante e seconstitui a partir do significante do A. Do A vai para o moi (a), do

    moi vai para o i(a), (a), do i (a) vai para o sujeito (S). Trata-sede um percurso, isso que est escrito nesse esquema: o eixoimaginrio vai do moi para o i (a) e o eixo do simblico vai do Sao A. Esse eixo, tambm se chama o eixo da linguagem, o eixodo inconsciente estruturado como linguagem. A prtica analticatem a ver com esse eixo, a prtica que fica no eixo imaginriono anlise, psicoterapia.

    Na psicoterapia o analista fica na posio de completar o outro, na anlise o analista, ao sair dessaposio, produz uma bscula para o eixo simblico, privilegiando os efeitos do A na constituio dosujeito. Lacan introduz o esquema L, no Seminrio II, um texto que depois retomado nos Escritos(Seminrio sobre A carta roubada), que d conta do seu ensino, que diz que a psicanlise tem aver com o eixo Simblico e no com o Imaginrio.

    No Seminrio II, pg.284 e nos Escritos, pg.53, o esquema L igual. No Seminrio III, pg.22tambm Lacan repete o mesmo esquema. O esquema L passa a ser chamado esquema Lambda,a partir do Seminrio III das Psicoses e a partir do Escrito De uma questo preliminar a todotratamento possvel da psicose, resenha do Seminrio III, de Dezembro de 195 (Escritos,pg.548), no qual Lacan inverte os lugares a - a, moi e i(a).

    Quando Lacan prope esse esquema nele no estava includo o objeto a, no estava includa anoo de Real. O esquema L s traz as noes de Imaginrio e Simblico. A noo de Real seimpe a Lacan pela clnica da psicose, a ele tem que incluir no esquema a noo de Real einventa o esquema R (esquema L + Real).

    Primeiro ele inverte os lugares do a(moi) e do a{i(a)}, porque na psicose no se tem esta estrutura,a estrutura do sujeito no est constituda por causa da foracluso do N.P. A relao do sujeito

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    com o outro, no se d segundo a estrutura do esquema L. Na psicose o moi toma o lugar do S, osemelhante (a) toma o lugar do A, no h a estrutura quadripartida do sujeito, ficam s doiselementos, S junto com o moi (a) e A junto com o i(a).

    Lacan demonstra via Schreber, pelo Esquema I, Escritos pg.571, que na psicose no funciona aestrutura do sujeito e que o delrio a forma pela qual o paciente tenta reconstruir sua estrutura desujeito.

    Pela inverso do a a Lacan est demonstrando que, na psicose, o grande Outro e o pequeno aesto juntos, o psictico em vez de dizer que tal fulano falou, ele escuta o outro falando. O mesmoacontece com o sujeito e o moi (a) juntos: a trata-se da questo do Ideal, que o que estrutura odelrio, o sujeito passa a ser aquilo que ele idealiza.

    Na clnica no se faz o diagnstico de psicose pelo discurso, a tem-se que fazer a distino entredelrio e idias delirides, o que caracteriza o delrio a sua irredutibilidade, que a suposio dosaber no A uma certeza, o psictico o sujeito da certeza. O neurtico tem dvidas, tentaexplicar, o psictico no est aberto significao flica, ele no questiona, ele tem certeza. Ametfora delirante, a forma do psictico dar sentido ao que est fora do sentido.

    Diz-se que um paciente psictico, quando apresenta fenmenos elementares, ao menos umfenmeno elementar. Para Lacan, delrio um fenmeno elementar, isso fala de uma estruturapsictica, que pode estar ou no desencadeada, surtada. Por isso para Lacan no h osborderlines, porque trata-se de uma questo de estrutura. A caracterstica do psictico a nosuposio do saber no A, por isso ele no faz a transferncia, por isso no analisvel, essa aquesto preliminar.

    Nesse esquema R Lacan inclui o Real mas ainda no inclui o objeto a. Quando formaliza o objetoa, Lacan acrescenta uma Nota de Rodap ao Escrito Questo Preliminar (pg.553) e inclui oobjeto a no esquema R. No espao entre I e M, no lugar de i(a), no campo do Real, Lacan colocao objeto a. Depois Lacan vai amarrar esse esquema borromeanamente, para fazer a relaodesses elementos entre si.

    Miller est se ocupando desse esquema R porque o momento em que Lacan, revendo sua obra,vai falar do lugar do Real em relao ao Imaginrio e ao Simblico, que o eixo do que estamosvendo: se temos o grito e o apelo, se um S1 e outro S2, se um o Eu ideal e o outro o Ideal doEu, o que de Real h no grito?

    Lacan est sempre desenvolvendo o mesmo esquema. Do esquema Lambda passa para oesquema R, depois para o Grafo do Desejo que um desenvolvimento do esquema R. umdesenvolvimento cronolgico. Quando ele passa para um esquema no volta mais para o anterior.Vai tornando a idia cada vez mais precisa. O Grafo do Desejo baseado nos mesmos elementosdo esquema Lambda ao qual acrescenta novos elementos. A estrutura sempre a mesma. Depoisdo grafo vai para os Quatro Discursos que contm os mesmos elementos, s que a j no se tratada estrutura do sujeito. Depois so as Frmulas Qunticas da Sexuao que resultam dodesenvolvimento do quadrante de Peirce. Afinal a topologia.

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    O Real em momentos d iferentes do ensino de Lacan

    Mrcio Peter de Souza LeiteAbril de 1997

    No captulo 9, na pg. 141, Miller est propondo nos fornecer um pequeno guia de referncia sobreos diferentes momentos do ensino de Lacan sobre o Real e explica que ele no toma essesmomentos com uma preocupao cronolgica mas que o que busca sempre a constncia daorientao de Lacan.

    Ele comea por lembrar que o termo Real em Lacan, e o comeo do estruturalismo lacaniano, o que est que est alm do mstico e antes da linguagem, o que est foracludo da estrutura dalinguagem.

    A estrutura o que estabelece uma relao de elementos. Para a psicanlise a estrutura de que setrata sempre de linguagem. O Real est fora da linguagem, no pode ser expressado pornenhuma forma de linguagem, embora a condicione. Define-se o Real por excluso, como o queno est na linguagem, como o que condiciona a linguagem. Essa a noo mais ampla. DepoisLacan vai entrar no mrito dessa definio: ser uma Letra, uma Escrita, um Trao?

    Aqui ele j no est pensando o Real como necessidade, como instinto, mas como o quecondiciona a significao que entretanto, como o instinto tambm est fora da linguagem. o Realque est alm do organismo, do instinto, da necessidade, mas que tambm est fora dalinguagem.

    A Letra, a Escrita esto fora da linguagem? Lacan tenta responder com alngua, com lingisteria.A linguagem at ento era pensada apenas como o que produz sentido, a alngua no produz.

    Esses termos, alngua elingisterias eram teis quando a prtica analtica estava condicionada idia de sentido, tornaram-se caducos com o ltimo Lacan. No primeiro Lacan o modelo para sepensar a prtica analtica enquanto condicionada idia de sentido era o esquema binrio,saussuriano, o A e o sujeito ($), a significao flica.

    No segundo Lacan o que interessa a produo da cadeia e no o vnculo discursivo entre $ e Aque tm em comum a significao flica, tm um cdigo comum. Agora, a prtica analtica se dcom o analista na posio de objeto a e no de A, onde no importante asignificao, o sentido,muito pelo contrrio. O analista no est l como cdigo e no h a significao flica na posiode dirigir o tratamento. O que vai interessar de agora em diante a produo da cadeia e no ovnculo discursivo $ - A. O que interessa a relao do objeto com a cadeia, o analista na posioobjetal pensado como causa da produo da cadeia e no vai se vincular pela significao flica,pelo cdigo.

    A partir dessa terceira formalizao do Real Lacan vai se questionar como se d a produo dacadeia, sobre o que condiciona o $ a passar de um S1 para S2. Por a chegamos no objeto acomo Real, mas ser que a Letra Real, o trao unrio Real? Me parece que esta ltima noode Real est ligada noo de n borromeano, os registros dependem da articulao na qual seencontram.

    O Simblico pode estar na posio de Real, o Imaginrio pode estar na posio do Simblico.Essas diferentes articulaes que vo produzir as dimenses as ditasmanses do ser. No setrata de categorias fixas. No se pode dizer que tal dimenso seja Real ou Simblica ouImaginria, isso vai depender do quarto n; ser R. S. ou I dependendo dos outros registros edependendo de um quarto elemento que ao coloc-los numa certa relao, produz esse efeito. O

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    quarto elemento, o quarto n a funo paterna, o que decide o que Real, o que Simblico, oque Imaginrio.

    Toda neurose, toda psicose uma caracterstica particular do sujeito de buscar uma suplncia

    para essa amarrao. Lacan acha que o n borromeano serve para explicar o parltre, umaforma que ele acha que explica, uma forma um pouco mstica pela referncia implcita Santssima Trindade. Esse o Real do ltimo Lacan. De que maneira o Real condiciona oSimblico? A ao do analista intervindo como N.P. produz um efeito de separao diferente, quemodifica a estrutura do sujeito.

    Podemos distinguir no ensino de Lacan trs momentos diferentes na elaborao da noo de Real:(pg. 143 do Seminrio).

    R1 - O real concomitante com a noo de Imaginrio.

    R2 - O real do esquema R, articulado com o Imaginrio e o Simblico.

    R3 - O real alm do Simblico, do ltimo Lacan.

    Parece que ao no usar o n borromeano Miller no pensa o Real nessa interdependncia, eletoma do segundo Lacan, no a interdependncia dos registros, mas o Real em si, porque no usaa topologia. A teoria s til para explicar a prtica. muito mais fcil pensar a relao $ - A doque pensar topologicamente. Miller vai propor escrever de que forma o Real determina oSimblico, porque no adianta procurar a causa do sentido, ela vai estar numa materialidade queest fora do sentido, ento no adianta tentar compreender, no por a e sim pela materialidade.Essa a prtica que opera a partir do analista como presena, como causa do discurso e quequando atua, atua fora de um saber. Saber isso autoriza nossa prtica. Conclui-se que no h umsaber sobre o sintoma, mas pode-se presumir que haja um saber sobre a fantasia, essa aquesto clnica que se impe, a forma pela qual Miller prefere abordar a questo.

    O conceito de real evolui no ensino de Lacan, mas h uma invariante nessa evoluo, o real oque volta sempre ao mesmo lugar. Miller vai articular essa invariante com a insgniaque ele define

    como um significante imaginrio ou imagem utilizada como significante que aparece principalmenteno lugar da significao (pg.145).

    No primeiro conceito de Real, R1, o que Lacan toma do Real para constituir o sujeito a gestalt, aforma. Gestalt um termo de uma teoria psicolgica usada inicialmente por Lacan, que toma ocorpo humano, como gestalt, como forma. Na teoria da gestalt o Imaginrio vale por si mesmo.Conformao inata, formas geneticamente esperadas.

    O segundo Real, R2, a realidade psquica, o Real da psicose; o que foi forcludo no Simblicoretorna pelo Real, define Lacan. O que o psictico vivencia como Real a realidade psquica,enquanto que, no neurtico a fantasia, no psictico o delrio. A diferena que para o neurticoaquilo tem um sentido, o neurtico acede ao Simblico, pode expressar o contedo, o psicticono acede ao Simblico, o delrio no tem sentido. No segundo Real h um significante na psicose,por exemplo, a alucinao tambm est no Simblico.

    O terceiro conceito do Real, R3, para Lacan o que est o tempo todo fora do Simblico, acondio material que determina o delrio. A realidade psquica freudiana, diz que a realidade paraa psicanlise no o biolgico; Freud chegou at esse ponto e Lacan especifica: o real o queexiste na realidade psquica e que est fora do Simblico, o objeto a; porque a caracterstica doobjeto a tambm estar fora do Simblico.

    Na realidade psquica freudiana ainda existe o Simblico. Lacan est fazendo a diferena, dentroda realidade psquica, do que o Real e do que no Real. O Real o que est fora do Simblico,no o discurso significante: $ - A. No terceiro conceito: existe algo fora do Simblico, que ocausa.

    O terceiro Real no um significante, o objeto a causa do sujeito enquanto causa do desejo; acausa do sujeito o significante. O sujeito evanescente um efeito do significante que busca se

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    complementar noutro significante. Existe uma tendncia para a completude que Freud chamou depulso. Pulso a demanda do A de ser completo.

    Em Freud sempre houve uma tendncia biologizante mas em Lacan - D $, a pulso no tem

    nada a ver com o biolgico. D significa a demanda do Outro ao sujeito para ser completo, o que verificvel clinicamente, pois o sujeito sempre tende a ser completo. Freud chama isso de pulso etenta explicar pela biologia. Lacan vai dizer que no se trata do biolgico. A pulso a tendnciaao Um, que no homeosttica, mas causada pela estrutura da linguagem, que parte do Umque fica faltante e tende a voltar a ser completo, o Um que igual ao Todo. O sujeito buscasempre isso que ele desconhece, a idia de inconsciente; isso que mesmo que ele encontre, noserve para nada, o gozo. Quando Lacan chega a comea a pensar nos outros gozos. O que apsicanlise tenta influir nessa condio do sujeito, para que ele no se aliene nessa busca,porque ele no encontrar jamais a completude. a destituio subjetiva.

    Nesse captulo IX Miller introduz esse R3 porque est falando da relao S1e S2, da questo daorigem de S1- S2, a origem da cadeia e de como se d a passagem de S 1para S2. disso que aidia do R3 tenta dar conta.

    O que constante na passagem do Imaginrio para o Simblico e do Simblico para o Real oReal, que o que articula Imaginrio e Simblico. O Real o que constante nos registros, oque determina o Simblico e o Imaginrio e por isso que Miller vai falar da insgnia - Exemplo dobigode do Hitler (pg.145).

    O terceiro Real o que determina o Simblico, mas se determina o Simblico tambm determina oImaginrio. o Real enquanto causa, por isso J.A.Miller fala da insgnia, um significante imaginrioque ao mesmo tempo simblico e real. Miller est todo o tempo procurando o real. Entre o grito eo apelo, onde est o real? O real no est nem no grito, e nem no apelo, o que cruza um com ooutro.

    Esse grito quando significado pelo Outro, tem um registro - o S1 - que pode ser chamado deSimblico. O S1no ltimo Lacan est ligado ao Existe o Um, isso est ligado a um Real diferente

    do anterior. O Real est entre o grito e o apelo, como Lacan prope no esquema R, o Real entre oSimblico e o Imaginrio. Miller usa tambm o modelo do grafo do desejo para dizer que o Real oponto de capiton.

    O que o Real, enquanto objeto a?

    O objeto a a causa do desejo, mas a falta no o objeto a, a falta um conceito ligado aoSimblico, o objeto a do Real. A falta uma coisa o objeto outra, pode-se pensar a falta doobjeto da completude e pode-se tambm pensar o objeto que completaria a falta, mas no se podeconfundir o objeto a e a falta.

    A falta uma forma de nomear algo que a prtica analtica evidencia, trata-se de um efeitosignificante, a falta escrita como - da ordem do significante. O objeto a o que no significante, portanto no d para pensar a falta como objeto a.

    A questo seria: quais as maneiras de completar a falta?Uma das maneiras com outro significante pela associao livre, pela significao flica; a outramaneira objetalmente pela presena do analista, apenas pela presena o analista intervm nasignificao.

    O analista produz esse efeito pela fantasia, porque o analisante lhe atribui um saber. O analistasabe que o paciente produz fantasias tambm fora da sesso, essa complementao ilusria queno s pelo significante tambm se produz fora, isso que Lacan vai chamar de objeto. Aangstia por exemplo, no da ordem significante, a angstia um efeito corporal, a faltasentida no corpo, a presentificao do objeto a.

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    Diferena entre sentido e significao.

    No primeiro Lacan toda significao flica. Depois Lacan divide significao flica em gozo flicoe sentido. Quando ele fala em gozo flico est falando de significao flica, um gozo fora docorpo no precisa ser compreendido.

    O sentido tem a ver com a compreenso, com a completude, com o outro imaginrio. Lacan emLtourdit diz que a interpretao vai contra o sentido e a favor da significao. Essa significaoaqui no a significao flica, ela se superpe ao gozo flico. Portanto temos: de um ladosentido, significao flica, compreenso, e do outro lado, significao fora do sentido e gozoflico, um gozo diferente do gozo do sentido que do Imaginrio. Portanto temos no Imaginrio:sentido, completude com o outro, compreenso, entendimento e fora do Imaginrio o puro gozoflico, Joyce por exemplo.

    Na pg.147, Miller fala do matema da interpretao. Espera-se que os significantes trazidos peloanalista se associem aos significantes associados pelo sujeito e produzam um certo nmero deefeitos. A isso chamamos interpretao. Porque uma interpretao no visa o sentido, no visa arelao entre Imaginrio e Simblico, no tem como objetivo compreender de que forma oImaginrio e o Simblico se complementam. Ento o que interpretar quando se leva em conta ofato de que o Real condiciona a ligao entre o Imaginrio e o Simblico? A interpretao o queresponde associao. No modelo freudiano a interpretao pelo sentido, busca sempre osignificante que falta para dar sentido associao, este tambm foi o primeiro modelo deinterpretao em Lacan. No se pode negar que a experincia nos mostra que muito do que sediz na anlise funciona nesse esquema e permite ao sujeito demarcar sua representao(pg.148). Isso comporta o analista como ideal do eu.

    O que comanda uma cadeia sempre um Ideal. Aqui Miller est articulando a identificao e oIdeal, est usando como sinnimos. Mas existe um que comanda o outro, por isso est fora dosistema, o S1, o Um todo s. O que a interpretao que aponta o S1, e no relao S1- S2?

    Miller diz na pg.150 que h a uma dificuldade conceitual, porque no d para pensar o S 1 todos, j que s se chega ao S1pelo S2e inventa uma soluo interessante: existiriam dois S1, o S1todo s e o S1que se relaciona com o S2. Como seria isso na clnica? Miller usa o exemplo datosse de Dora. Seria um S1? Uma insgnia?

    O que faz insgnia?

    Para localizar o termo insgnia preciso tom-lo em seu valor contraditrio: ao nvel da articulaoa insgnia o significante da mediao do sujeito em relao ao Outro, enquanto no nvel em queest sozinha a insgnia tem um valor exatamente contrrio: um significante redutor do Outro, umsignificante que se instala, paradoxalmente, fora do sistema significante.

    Miller est partindo do princpio que existe o S1todo s, entretanto isso lheparece ao mesmo tempo absurdo, porque s se pode chegar ao S1enquanto relacionado com o S2. Ento ele escreve o conjunto do S1todos e o conjunto do S1articulado ao S2,e conclui que o S1 todo s umainveno a partir do S1articulado ao S2. Na pg. 157 diz: O S1 sozinho,isto fora da cadeia, tem que se opor ao estatuto que ele recebe ao seinscrever na cadeia significante por sua articulao ao S2. comosignificante sozinho que ele insgnia. Um significante sozinho umsignificante que, a partir das diacronias aponta uma sincronia, aquele

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    significante que repete, aquele significante do qual posso perceber essa caracterstica dele nodepender de outros, mas dele condicionar os outros. O S1que condiciona os S2, da vai sair a idiade Letra. Ento S1 uma inferncia da cadeia, ele uma exceo, quando se mexe nele se atinge

    os S2. O S1no est no sistema, uma inferncia terica, no possvel demonstrar.O que se temfenomenicamente a sincronia, a diacronia uma inferncia que comanda a sincronia, que acadeia S1 S2 ...Sn. Uma representao para algum, para o S2, implica cadeia; se no umarepresentao, ento uma coisa que em si.

    Poderamos resumir: em Freud temos deslocamento e condensao que no primeiro Lacan, oLacan freudiano, so pensados com as categorias da lingstica, metfora e metonmia. Nosegundo Lacan, o Lacan lacaniano, as categorias lingsticas da diacronia e sincronia sopensadas como alienao e separao e a nfase colocada sobre a questo da pulsaotemporal.

    Miller se pergunta como possvel na clnica inferir a existncia de um S1, se a clnica aassociao livre, a cadeia S1 - S2, e na clnica no se tem o S1 sozinho. O modelo de S1, umsignificante que no chama outro significante, o fenmeno elementar. Ento na clnica da

    neurose, como pode o analista pensar que h um significante diferente, o S1? Miller vaidesconstruir o modelo da causao do sujeito, vai usar as categorias da causao do sujeito parapensar a clnica.

    Ento, como saber sobre o S1articulado?

    Existe um eixo, que o eixo sincrnico - a fala do paciente S1 S2 Sn, e existe um eixodiacrnico, que significa atravs :

    S1S2- Sn

    S1S2 - Sn (Escritos pg.593).

    Lacan usa isso no seu trabalho A Direo do Tratamento quando fala da interpretao. Millersugere que se pode chegar ao S1 todo s a partir da sincronia da cadeia significante, da qual se

    pode inferir essa diacronia pela repetio. A idia que se pode tirar do discurso do Miller quequando Lacan comea a falar em causao do sujeito ele teria abandonado a lingstica.

    Sincronia e diacronia so termos da lingstica ligados diretamente metonmia e metfora, aodeslocamento e condensao. Me parece que quando Lacan introduz a causao do sujeito, elesubstitui esses termos por alienao e separao.

    Como se descobre o S1sozinho? Miller diz que pela metfora (ou diacronia, ou separao), pelarepetio, algo que insiste pela sua materialidade, que no do sentido, o que desmancha a idiada metfora como condensao de sentido, porque no se trata mais da via do sentido, isso mudatudo, vai contra o Lacan do Simblico. A lingstica, a linguagem, a metfora e a metonmia,continuam existindo mas no isso que opera numa cura psicanaltica, a lingstica diz Lacan, condicionada pela alngua, que anterior. O que interessa, o condicionamento material dametfora e no o seu efeito de significao, como critrio da direo da cura. Freud pensa os

    limites da Interpretao em Adio Metapsicolgica a Teoria dos sonhos.

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    Al ienao e separao, e a separao do a do S1

    Mrcio Peter de Souza LeiteMaio de 1997

    Nos captulos X e XI Miller apresenta vrias idias importantes: a alienao e a separao e aindaa separao do a do S1 e a constituio do sujeito. Nesse momento o que est em questo aformao da cadeia do S1sozinho, e o porque da chamada ao S2,com a conseqente extrao doobjeto a e a produo do $. a formalizao do momento graficado:

    No Seminrio da Angstia Lacan falava da relao do sujeito ao A e da diviso subjetiva, maistarde, a partir do Seminrio 11 comeou a falar em termos de cadeia significante S 1 - S2,e nasoperaes de Causao do sujeito alienao e separao.

    S2 o A, o que tem de novo o S1que no o sujeito, algo anterior, o sujeito um efeito doS1- S2. O sujeito um efeito da fala pois por si mesmo o sujeito no tem consistncia. O modeloda cadeia o de dois significantes, S1S2e o que nos interessa do sujeito a cadeia significanteque ele produz, o que o analista escuta na cadeia, um significante diferente do outro.

    Como se introduz a falta na cadeia? A instalao da falta se d a cada invocao pulsional, no que a falta j esteja instalada desde a infncia de um sujeito mas em cada momento da vida, frentea um ato psquico (o que motiva esse ato psquico a pulso, que a Demanda do A, D A), o Ase funda como faltante ou barrado, como dizemos, e o sujeito ser sempre faltante ou barrado, $,porque decorre do A. Essa teoria explica o processo psquico. Se o A no for faltante no h saber,no h cadeia, no h suposio de saber no A.

    Na situao analtica em que um sujeito fala para um A, o analista, trata-se de um processopsquico onde se destaca, se particulariza a noo de inconsciente e de sujeito do inconsciente. Aprimeira operao de causao do sujeito a fala, a alienao (aliens- termo hegeliano).

    cadeia associativa se superpe a alienao que pressupe dois significantes: um significante S1se relacionando com outro significante S2produz, em um outro lugar que no nem S1nem S2, umsujeito. Miller articula o S1como necessidade lgica da formao da cadeia e o S1articulado ao S2.So dois conjuntos que ele pensa, como Lacan no Seminrio 11, a partir de duas operaes da

    teoria dos conjuntos: reunio ou alienao e separao. Diz Miller na pg.158 que, na alienao oureunio no se trata simplesmente de adio de um elemento ao outro na medida que percebemosque com o significante vem tambm o lugar no qual ele se inscreve. No pensamos sobre o S 1edepois sobre S1e S2; pensamos sobre conjuntos: o conjunto E do qual o S 1 o nico elemento, eo conjunto E de dois elementos, S1e S2e por isso que no estamos no registro da adio deelementos mas no registro da reunio, que o termo apropriado na teoria dos conjuntos.

    Quando raciocinamos a partir dos conjuntospercebemos no apenas o elemento mastambm o Outro, na medida que o significante,para ns, do Outro.

    O que articula o S1com o S2 colocar o S1nainterseco dos dois conjuntos. Se o S1estivesse

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    colocado no outro crculo no haveria a relao S1S2. Os dois conjuntos se articulam na zona deinterseco e Miller coloca o S1no ponto de articulao, enfatiza o S1na articulao com S2. Umavez que isolamos esses dois conjuntos podemos escrever sua reunio da seguinte forma:

    O resultado visvel desse grfico que aparece um espao vazio que separamos como o conjuntoE, que separa a funo $, espao que estava presente no conjunto E', mas escondido. A operaode reunio, por subtrao, isola o espao subjetivo. Percebe-se aqui o que significa dizer que osujeito torna-se um significante; no primeiro tempo dessa pulsao o sujeito confunde-se com osignificante S1 que ao mesmo tempo cria o sujeito e o apaga. Se tomamos o que aparece ao nvelda identificao fundamental percebemos que o sujeito est constitudo por duas partes, pelo

    significante em que se torna, S1e pelo conjunto vazio invisvel, parte do conjunto acima descrito, E. o que Lacan chama de afnise do sujeito ou faddingdo sujeito sob o significante que o constitui(pg. 160).Dizer faddingconstituinte significa que antes do sujeito no h nada seno a linguagem;esse S1 lhe vem do Outro e a partir disso, Lacan diz Isso fala dele (do sujeito) e a partir da queele se apreende. Lacan diz tambm, falando do sujeito: Ele desaparece como sujeito sob osignificante em que se transforma (Escritos, pg.835).

    A operao de separao utiliza o que a operao de alienao isolou, a saber o conjunto vazio, oconjunto E, do qual foi subtrado seu nico elemento significante .

    Miller comea fazendo a articulao dos conjuntos E e E e agora articula o conjunto vazio E e oconjunto de dois elementos S1S2. A separao vai incidir sobre o conjunto vazio, que ficou isoladopela reunio ou alienao. A operao de separao resulta do confronto direto entre o vazio de Ee o conjunto E. No conjunto E o vazio tambm est presente a ttulo de parte: a separao leva

    uma interseco na qual a falta que resultou da reunio ou alienao corresponde com a faltapresente no conjunto binrio E. A falta tem portanto a ver com a falta, sua formulao lgica eno biolgica. Essa interseco entre o $ e o A barrado que o S 2pode ser escrita: $ A barradoe o resultado dessa interseco o objeto a. O que o $ e o A barrado tm em comum a falta e oobjeto a causa do desejo, o resto que no pode ser significantizado. O conjunto E, S1S2, o Abarrado, portanto existe a falta no E (o vazio) e a falta no E porque o A barrado. Na separao,Miller est explicando, pela operao de interseco, como os conjuntos se articulam pelo vazio,pela falta (pg.164).

    Na interseco aparece a falta no A e a falta no $ que se recobrem nesse espao onde surge umresto, o objeto a. A falta seria uma negativao, enquanto o objeto a positivao da falta. Millerdiz: Consideramos que desta parte tomada da falta falta resulta uma positivao quedenominamos objeto a(pg.164), com o que fica explicada a separao do objeto a do S1.

    O objeto a presentifica uma ausncia, amar dar o que no se tem. Nessas frmulasencontramos o resumo de toda a psicanlise: 1) a noo do A faltante, barrado; 2) tudo parte dosignificante, que obedece a certas leis; 3) o que condiciona o funcionamento dos significantes umsignificante particular, o significante da falta, o falo; 4) para que este exista preciso que haja afalta, que a castrao.

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    A frmula $ A barrado foi o que Lacan, no seu grafo escreveu $ D dando ao A o valor dademanda. Este o matema da pulso e precisamente ao ttulo de pulso que Lacan introduz aoperao de separao. Articular o $ com a falta no A seria essa segunda operao, a separao.

    Para justificar isso Miller coloca o corpo como o A, como o S 2.A conseqncia do A barrado o $,o sujeito do inconsciente que, pela via do falo, tende a apresentar-se ao A como completo. Tudoisso j est em Freud.

    A falta uma questo lgica; o objeto a tem uma consistncia lgica, se fundamenta no corpomas no o corpo. Decorre do fato do corpo sustentar uma cadeia significante, um sujeito doinconsciente e os efeitos disso tm a ver com a falta. O A o corpo, diz Lacan, o A o corpoenquanto conjunto vazio onde vo ser inscritos os significantes. Foi o primeiro tempo dessaemergncia na psicanlise, o corpo significante da histrica. A segunda emergncia foi adescoberta que o organismo no redutvel ao corpo significante; h uma parte que a no estincluda, a pulso.

    No captulo XI Miller retoma o esquema em funo do grito, S1e do apelo, S2. Se a linguagemparte do S2, do A, ento o S2que funda o S1? Ento o S2 anterior ao S1? Mas como, se o S1que causa o S2?

    Para responder, Miller usa a teoria dos conjuntos como a mais adequada para explicar. Temosprimeiro o grito que precisa do A para significar, o que transforma o grito em apelo. O A quetransforma o grito em apelo produz a marca que registrada como S1, mas ao mesmo tempo o S1 condio de S2, seno no haveria significao, no haveria marca; ento o S2seria o S1 ?

    Miller resolve essa aporia pela teoria dos conjuntos: o conjunto dos S2, que o A, que significa ogrito, e o conjunto dos S1, que o registro da significao dada pelo A, e vai raciocinar isso pelasoperaes de reunio e interseco, que so funes que no pressupem anterioridade, mas

    podem se dar concomitantemente. o que mostram as operaes de alienao e separao . Seh a separao, h o sujeito.

    Depois na pg.186 vai articular com identificao que o que faz com que na cadeia haja umadireo na articulao desses significante.