os rumos da educaÇÃo brasileira - colégio 24 horas da educacao... · para isso, os planos...
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ARNALDONISKIERdaAcademiaBrasileiradeLetras
OSRUMOSDAEDUCAÇÃOBRASILEIRA
“A pessoa humana
precisa ser gente, pessoa
livre, antes de enfrentar a
incontrolável especialização
do ensino superior.”
D. Lourenço de Almeida Prado (CEE, 1973).
ConselhoEstadualdeEducaçãodoRiodeJaneiro
14 de abril de 2015
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Trata‐se de uma efeméride de suma importância para a educação do Rio
de Janeiro. O Conselho Estadual de Educação está completando 40 anos de bons
serviços, com uma apreciável soma de deliberações e pareceres, alguns modelares,
servindo de exemplo para outros organismos congêneres do país.
No caso, antes de penetrarmos na intimidade desse trabalho, convém
dar uma palavra de louvor aos conselheiros de todos os tempos, hoje liderados pela
figura exemplar de educador que é Roberto Boclin. Tenho o prazer de contar com a
sua amizade, que começou nos tempos em que presidiu o Senai, no Rio de Janeiro,
com uma atuação de primeira ordem. Peço licença para renovar‐lhe o agradecimento
pela concessão da Medalha Educatio et Labor, a maior láurea do Senai, sua iniciativa
de que sou e serei sempre grato.
Não temos sido muito felizes, no que se refere à gestão da educação
brasileira. Se lançarmos luz sobre o período anterior ao Governo Lula, mesmo tendo
havido continuidade de oito anos a convicção é de que houve significativo aumento
quantitativo, mas a qualidade deixou muito a desejar. Para isso contribuiu o descaso
com a questão do magistério. E se quisermos focalizar o ensino médio, assinalou‐se
uma verdadeira tragédia. Portarias seguidas lançaram sobre o sistema um verdadeiro
caos, do qual ainda não nos levantamos. A perda da importância do Conselho Nacional
de Educação não foi uma boa ideia.
Do período Lula para cá, tivemos uma sucessão indesejável de ministros.
Essa descontinuidade representa um mal, mesmo que alguns feitos tenham sido
assinalados na gestão de seis anos de Fernando Haddad. Sucederam‐se depois no
posto os ministros Aloísio Mercadante, José Henrique Paim e, mais recentemente, Cid
Gomes e o atual, Renato Janine Ribeiro. A falta de estabilidade não permite que haja
um esforço coerente para implementar o Plano Nacional de Educação, que, de resto,
custou a ser aprovado (teve uma defasagem de três anos, como se pudéssemos nos
dar ao luxo de perder tanto tempo para nada).
Faço essa análise à luz da experiência adquirida em 23 anos de presença
em Conselhos de Educação, a partir de 1972, quando fui nomeado pelo então
governador da Guanabara, Chagas Freitas, para completar o mandato pertencente à
estimada professora Teresinha Saraiva. De 1975 a 1979, no governo Faria Lima e
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nomeado pela professora Myrthes Wenzel, integrei o primeiro governo do Estado do
Rio de Janeiro depois da fusão. De 1979 a 1983, como Secretário de Estado de
Educação e Cultura, presidi o CEE. A seguir, no governo Leonel Brizola, tive o mandato
renovado por mais quatro anos (1983 a 1987).
A experiência de conselheiro se estendeu ao plano nacional, quando fui
indicado pelo presidente José Sarney para o Conselho Federal de Educação (1986‐
1992), ocasião em que tive o privilégio de exercer por três anos o comando da Câmara
de Ensino Superior. Nela, eram dadas as autorizações de novos cursos, exceção feita
para Medicina. Nenhum curso foi criado nesse período.
Depois, completei essa experiência com mais dois anos no Conselho
Nacional de Educação, nomeado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. No CNE
fiquei com a responsabilidade dupla de realizar todos os estudos a respeito de
educação à distância, que embasaram os oito artigos a respeito dessa modalidade
colocados por Darcy Ribeiro na LDB no 9394 de 1996, além de ter sido o relator
preferencial da criação de novos cursos superiores de Administração, tendo dado
parecer em 823 processos, nem todos favoráveis, é claro. Mas hoje, se Administração
é o curso mais procurado, no ensino superior brasileiro, certamente se deve em parte
a esse trabalho. Superou os tradicionais Direito, Medicina e Engenharia.
Quais são os rumos da educação brasileira? Em consonância com o
Plano Nacional de Educação, podemos citar, como ideal, a criação de uma base
curricular comum em todo o país, a reformulação do ensino médio (com foco na
integração integral), a melhoria da gestão escolar, a tão sonhada valorização do
magistério com a criação de escolas de excelência para a formação de professores e
diretores e a organização do Plano de Ações Articuladas (PAR), para definir como será
feita a aplicação dos recursos para a educação, com a definição das regras para
concessão dos royalties do petróleo (especialmente o pré‐sal).
É certo que desejamos implementar o projeto de colocação de todas as
crianças de quatro e cinco anos nas escolas brasileiras, com a valorização de uma
educação infantil até aqui omissa. Para isso, os Planos Municipais de Educação
precisam marcar presença – e infelizmente não é o que estamos vendo. Muitos dos
nossos 5.600 municípios ainda não aprovaram esse importante mecanismo.
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EDUCAÇÃO SECUNDÁRIA
O desejo de ascensão econômica e social, através da educação, é direito
de todos. O que se verifica, porém, é que os candidatos ao 3o grau correm atrás de
um mítico instrumento de profissionalização, com um mercado de trabalho sem
condições de absorver mais do que 1.500.00 egressos, daí resultando um enorme
desperdício em termos de realização pessoal e, consequentemente, social. E isso sem
falar daqueles que venceram a barreira do vestibular e são subengajados (às vezes,
nem isso) em um mercado de trabalho já bastante diversificado.
Apesar do retoque dado pela Lei 7.044/81 às propostas infelizes da Lei
5.692/71, veio juntar‐se o quase desmantelamento dos cursos técnicos, portadores de
feição própria desde a Lei Orgânica do Ensino Secundário, na década de 1940.
Embora com reconhecido mérito por seu trabalho, especialmente no
setor secundário, por exigência da industrialização do país, a profissionalização por
igual, em todo o 2o grau, levou as escolas técnicas a uma situação quase de inércia.
Despojadas de sua particularidade, a de preparar recursos humanos para níveis médios
na agricultura, no comércio e na indústria, o que se viu paralelamente foi o fracasso da
obrigatoriedade inserida na Lei 5.692/71.
Continuou, portanto, a mesma corrida à procura de um 3o grau como
formador de profissionais e confirmam‐se anualmente as palavras bíblicas ‐ são muitos
os chamados e poucos os escolhidos.
Não existe estudo sistemático em torno daqueles que não foram
“escolhidos”, de suas frustrações, do desperdício e até mesmo dos sacrifícios pessoais
e familiares a que devem se submeter se persistirem na tentativa de prosseguir
estudos em nível superior. Reportagens ligeiras, às vésperas do grande acontecimento
nacional que são os exames vestibulares, apontam alguns teimosos e outros ainda
mudando de opção por outra de acesso mais fácil, esta nem sempre afim à de seu
interesse inicial.
À falta de dados objetivos sobre o problema algumas perguntas se
fazem pertinentes: o que é feito desses jovens que são rejeitados anualmente? Qual o
somatório desses rejeitados? Que profissões mais ou menos indeterminadas estarão
exercendo? De que modo se estão acomodando em soluções que não eram as
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esperadas? Será justo o ensino gratuito para se formar numa profissão que não será
exercida?
ENSINO MÉDIO
Não se muda o ensino médio pelo simples desejo de mudar. A mesma
estrutura dicotômica sobrevive desde 1910, fazendo prevalecer nesse grau de ensino
uma divisão efetivamente injusta: de um lado o curso propedêutico, preparatório para
o ingresso no ensino superior; de outro, um arremedo de profissionalização, com
terminalidade discutível e incerta.
A Lei nº 9394/96 propôs duas vertentes para o ensino médio: a primeira
delas conduz ao prosseguimento de estudos; a segunda se relaciona à formação
profissional, esta amparada pelo Decreto presidencial nº 2208/97, que cuidou de
esmiuçar a matéria.
Entre as razões da mudança, houve referência ao enciclopedismo de
que padecemos, ao lado da padronização descabida em face das distintas realidades
do País. Por isso mesmo, foi recomendado aos Estados, por intermédio dos seus
Conselhos de Educação, que utilizem adequadamente 25% da carga horária para
estabelecer currículos diferenciados, de acordo com os interesses dos alunos. Isto
significa a existência de 600 horas/aula disponíveis para essa escolha, ficando as
demais 1800 horas/aula para as matérias que assegurarão uma certa unidade, ao lado
da garantia de aquisição da cultura que precisa ser incorporada ao universo dos
estudantes.
Não se trata de voltar ao antigo eixo clássico/científico, mas sim educar
de tal forma que os jovens tenham possibilidade de acesso ao mercado de trabalho,
em nível intermediário, com um currículo diferenciado.
A procura desses novos processos educativos não exclui o cuidado com
a criatura humana, que precisa ser gente, pessoa livre, como nos dizia D. Lourenço de
Almeida Prado, ex‐reitor do Colégio de São Bento (Rio). A tônica das mudanças não
pode ser pura e simplesmente o apreço às maravilhas do desenvolvimento científico e
tecnológico, mas a prevalência do conceito de humanismo sobre quaisquer outras
preocupações.
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Não queremos disciplinas estanques, é certo, como foi a proposta
positivista até agora vigente. A base nacional comum dos currículos, com as diretrizes
a serem implantadas, deve contemplar esses cuidados na formação do homem,
começo e fim de todo o processo.
Quando o escritor Josué Montello afirmava que vencerá a batalha da
eficácia quem for competente, estava justamente valorizando o enorme esforço que
representa essa profunda mudança na educação brasileira de nível médio.
Como tem crescido muito a demanda de ensino médio, o que é uma
tendência mundial, deseja‐se a ampliação da oferta, mas com a garantia da qualidade.
Segundo os instrumentos legais que regem a matéria, inclusive a Portaria ministerial
nº 646, de 14 de maio de 1997, pretende‐se um ensino técnico complementar e não
sucedâneo do ensino médio. A capacidade crítica do aluno e a sua formação
humanística não poderão ser prejudicados.
Passou a existir o esquema modular, facilitando a formação técnica, que
pode ser obtida tanto durante como após o ensino médio. A expectativa era a de que
isso aumentasse a oferta de vagas nas escolas técnicas.
Quando couber, por necessidade do próprio mercado, poderão ser
oferecidos os cursos pós‐médios, de um ou dois anos, após os três previstos, com os
créditos obtidos valendo para os cursos superiores afins.
De forma pioneira, o Decreto 2208/97 previu também a implantação,
nas escolas técnicas, de cursos básicos destinados à qualificação e requalificação de
trabalhadores, independentemente do seu nível de escolaridade. Convivemos com
vídeos, televisões digitais, computadores, telemática, robótica (como se vê com a
incrível conquista de Marte), Internet etc, sendo fundamental ampliar as perspectivas
dos nossos trabalhadores, em relação ao seu nível de conhecimento. Menos de 9% da
nossa população economicamente ativa (PEA) têm acesso a programas regulares de
educação profissional. E com menos de quatro anos de escolaridade média. Isso nos
coloca abaixo de países da própria América Latina, como é o caso de Argentina, México
e Chile, sacrificando as possibilidades da nossa inserção mais vantajosa nos mercados
abertos pela onda de globalização da economia.
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Os VAZIOS DA EDUCAÇÃO MÉDIA
A briga pelo aperfeiçoamento da educação brasileira não se limita mais
a meia dúzia de abnegados. Hoje, há o generalizado convencimento de que é preciso
mudar – e para muito melhor. Os discursos não são originais e esperar por milagres
improváveis é deixar o sistema caminhar para um nó inexorável. Quem ganharia com
isso?
Alunos dispostos como se estivessem num ônibus lotado; aulas
expositivas ao estilo “magister dixit” dos velhos tempos, com gosto dos tradicionais
trivium e quadrivium da educação clássica – eis o quadro encontradiço na grande
maioria das escolas brasileiras de ensino médio. Modernidade? Só naquelas que, a
duras penas, conseguiram a doação de computadores solitários.
Nos planos oficiais, os conteúdos, por intermédio das diretrizes
curriculares, fizeram dez anos de serviços, alcançando uma estabilidade altamente
questionável. Quase nada muda no que se refere ao desenvolvimento intelectual dos
alunos, embora permaneça o dispositivo constitucional da aprendizagem como um
direito social, devendo ser oferecida com qualidade. Pudera, as escolas, sobretudo as
públicas, operam sucateadas, sem estrutura condizente, e conduzidas por professores
justamente desmotivados, em virtude da tibieza dos seus salários. No Brasil há solução
para quase tudo, menos para encontrar uma resposta condigna para essa questão que
vem desde meados do século passado.
É certo que o perfil do aluno está mudando. Em busca da sonhada
empregabilidade, ele reivindica o domínio de línguas estrangeiras modernas (pelo
menos o inglês, como segunda língua) e o conhecimento dos mistérios da Internet,
cujo domínio passou a ser sinônimo de status. Há um novo e instigante perfil
psicológico dos jovens – e isso o Plano Nacional de Educação deve contemplar, mas
com uma perspectiva facilmente previsível: não deveremos contar com o apoio total
dos mestres nesse processo, pois lhes falta a necessária autoestima.
Foi uma boa iniciativa alargar para nove anos a obrigatoriedade do
ensino fundamental. Continuam, como desafios, os lamentáveis problemas da
permanência e da conclusão, o que pode perfeitamente explicar os vazios da educação
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média, que sofre as consequências dos problemas trazidos da base. Muitos jovens
dessa faixa etária crucial fogem da escola, com conhecimentos precários. Muitas vezes
se limitam a assinar o nome, caracterizando o que chamamos de analfabetismo
funcional. Os conhecimentos de leitura e interpretação não passam de precários.
Como pretender alunos críticos, reflexivos e investigativos, se lhes falta o essencial,
que é o adequado domínio da língua portuguesa?
Melhorar a educação brasileira, de um modo geral, pode ser uma
utopia? Depende, naturalmente, da existência de uma política séria, no setor,
conduzida por pessoas competentes e desinteressadas de proveito pessoal ou político.
A boa escola deixará de ser uma utopia quando esse quadro se modificar.
UMA NOVA FORMA DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL
A procura de capacitação profissional não é fenômeno recente, nem
produto da era industrial. Ela remonta na história e, já na Idade Média, artesãos de
um mesmo ofício juntavam‐se em grêmios e organizavam‐se em guildas, estas como
associações corporativas e aqueles como centros de trabalho e ensino. Aos candidatos
era transmitida cada especialidade, em escala crescente, de simples aprendizes a
mestres neste ou naquele ofício.
Mais adiante, o século XVII incorporou às suas características outra
concepção de vida, decorrente de necessidades sociais bem diversas da época
anterior. Nesse século, com a expansão do comércio e da indústria e por influência do
realismo pedagógico, a educação passou a diferençar‐se, não mais se concentrando no
ensino humanístico.
Foi também nesse período que, no outro lado do Atlântico, na Nova
Inglaterra, a primeira lei educativa estabelecia, entre outras prescrições, o aprendizado
de artes e ofícios, a par de uma educação literária elementar. Ainda nessa época e no
século seguinte, por força da ciência, passava‐se à investigação criadora com efeitos na
educação técnica (manual, elementar ou superior) exigida agora não só pelas
necessidades sociais como pelas econômicas. Na América Latina, por exemplo,
surgiram no século XVIII as escolas de mineração, apartadas da influência do clero e
constituídas sob a tutela do Estado.
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Na América do Norte, a educação técnico‐vocacional passou a ser
considerada, originando‐se daí o ensino do trabalho manufatureiro, agrícola e
comercial, este especialmente em consequência do volume de negócios então
realizados pelos Estados Unidos.
Essa tendência para adequar‐se o ensino às aptidões dos alunos e às
necessidades da época culminaram, nesse país, com a instituição da high school que,
ao lado de uma educação geral, proporciona conhecimentos úteis e especializados em
determinado ciclo.
Em toda parte firmava‐se o movimento de reforma dos sistemas de
educação pública, tendo em vista considerações econômicas no que se referia à maior
produção e conservação das riquezas.
No nosso século, em muitos países e em consonância com princípios
ideológicos, pragmáticos ou políticos, os sistemas preveem escolas de preparação de
jovens para preenchimento de postos de categoria intermediária na administração e
no comércio; outros incluem trabalho em granjas ou outro tipo de empreendimento
como requisito para ingresso em instituições de ensino superior; outros ainda
distribuem escolas vocacionais que chegam em níveis médios, inferiores e superiores.
O fato é que a concorrência industrial impõe a alguns países incluir, por
exemplo, a instrução agrícola em toda zona rural. As escolas holandesas têm instrução
em laticínios e, na Suíça, há instrução especializada para cada uma das indústrias do
país.
Enquanto muitos outros, em estágios de desenvolvimento até
superiores ao nosso, conseguiram superar o preconceito entre educação geral e
educação especializada, o Brasil ainda não atingiu o equilíbrio entre uma concepção
educacional como bem de consumo individual e outra dirigida pragmaticamente para
o investimento econômico, embora calcada em uma base de educação geral.
Some‐se a isso o espírito classista tão em voga no momento, originando‐
se daí um sentido corporativista a compartimentar de forma rígida os diversos campos
profissionais sem, contudo, cobrir espaços intermediários. Para estes, o Brasil
moderno exige uma nova forma de profissionalização que não é necessariamente a
proporcionada por um ensino em nível superior.
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Já é possível se pensar em cursos subsequentes ao ensino médio, não‐
universitários, como capazes de fornecer a técnica para o exercício de determinada
profissão em correspondência a um mercado de trabalho em constante
transformação, com características próprias e carente de pessoal qualificado.
Essa carência é de tal ordem que, para determinadas funções, assiste‐se
à disparidade de deslocamento de portadores de nível superior para ocupações com
requisitos mais baixos. Por outro ângulo, as pesquisas existentes confirmam as
expectativas dos formados em escolas técnicas em ingressar no ensino superior, uma
vez que as oportunidades de ascensão social tornam‐se mais estreitas quando não têm
o respaldo de tal grau de ensino.
Assim é que as escolas técnicas têm tido muitas vezes, e com êxito,
funções propedêuticas, embora distanciando‐se dos objetivos para os quais foram
criadas.
Além disso, as informações sobre mercado de trabalho, suas mudanças,
capacidade de absorção, perfis de entrada e outras variáveis, pecavam pela lentidão e
não poderiam ser assimiladas pelas escolas com o ritmo desejável.
É conveniente lembrar ainda que até hoje subsistem, para efeito de
ensino e de categoria ocupacional, concepções diferentes do termo técnica.
UMA CONFUSÃO QUE PRECISA SER DESFEITA
O trabalho e o ensino são geralmente confundidos como referentes a
operários qualificados, sem levar em conta o tipo de escolaridade. O mesmo se
verifica na nomenclatura adotada para certos ramos, tipos e níveis de ensino, tais
como rede regular de ensino, como se o noturno e o supletivo não o fossem; o normal
(atual magistério) a contrapor‐se a outros tipos que não seguem as “normas” legais, e
assim por diante.
Um retorno às raízes gregas do termo técnico nos indica como sua
acepção original “arte, habilidade”. Mais tarde, além de substantivado para o
feminino, também incorporou o significado de “peculiar a uma determinada arte,
ofício, profissão ou ciência”. O dicionário Aurélio consigna: “Técnicas (Fem.
substantivado do adj. técnico). 1................. 2 ‐ Maneira, jeito ou habilidade especial de
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executar ou fazer algo”. Em relação a técnico, diz igualmente: “Adj. 1‐ Peculiar a uma
determinada arte, ofício profissão ou ciência. 2 ‐ Indivíduo que aplica determinada
técnica, especialista, perito, experto.”
É nesse sentido, portanto, que podem ser entrelaçados cursos de
capacitação profissional pós‐secundários ao domínio de habilidades não adquiridas
anteriormente, mas assimiláveis não só através da educação permanente como por
adaptação ou readaptação a novas exigências do mercado em qualquer setor:
primário, secundário ou terceiro, sem esquecer o quaternário (criação tecnológica).
AS POTENCIALIDADES DOS ESTUDOS PÓS‐SECUNDÁRIOS
O artigo 30 da lei 5.692/71, em seus parágrafos 1o, 2o e 3o previa a
possibilidade de a formação de professores atingir níveis progressivamente mais
elevados, mediante os chamados estudos adicionais, nitidamente estudos pós‐
secundários ou pós‐médios.
No capítulo IV, específico do ensino de 2o grau, o artigo 22 admitia 3 ou
4 anos de estudos para esse nível e a alínea b do artigo 23 rezava: “Os estudos
correspondentes à 4a série do ensino de 2o grau poderão, quando equivalentes, ser
aproveitados em curso superior da mesma área ou de áreas afins.”
Em 1982, a Lei 7.044 deu uma nova redação a esse mesmo artigo: “O
ensino de 2o grau terá a duração mínima de 2.200 (duas mil e duzentas) horas de
trabalho escolar efetivo e será desenvolvido em pelo menos (o grifo é nosso) três
séries anuais.
Parágrafo Primeiro ‐ Quando se tratar de habilitação profissional, esse
mínimo poderá ser ampliado pelo Conselho Federal de Educação, de acordo com a
natureza e o nível dos estudos pretendidos.”
Não é proibido a uma escola de ensino médio oferecer cursos somente
profissionais àqueles que tenham esse grau, como se deduz da nova redação do artigo
16 (in Lei 7.044/82) da Lei 5.692/71: “Caberá aos estabelecimentos de ensino expedir
os certificados de conclusão de série, de disciplinas ou grau escolar, e os diplomas ou
certificados correspondentes às habilitações profissionais.”
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Por outro lado, vigoravam as virtualidades do ensino supletivo, em suas
diversas modalidades, embora pouco exploradas pelos meios educacionais, talvez pelo
preconceito em relação esse tipo de ensino.
A devolução do status às escolas técnicas foi uma das metas do
Ministério da Educação. O Conselho Nacional de Educação e os Conselhos Estaduais
sempre se pronunciaram sobre a importância de tal modalidade de estudos, e estes
últimos, dentro de suas competências, se manifestaram sobre:
. A adequação e a carga horária dos cursos pretendidos e sua
correspondência com as necessidades de cada comunidade.
. A metodologia a ser aplicada.
. As condições de ingresso do corpo discente, incluindo‐se testes de
aptidão específicos.
. A qualificação do corpo docente para esse tipo de estudos.
. A possibilidade de conversão desses cursos em outros de objetivos
afins, através de uma organização flexível para atender com a rapidez necessária à
evolução inevitável das técnicas e da tecnologia.
. A rigorosa avaliação a ser implantada no processo.
PÓS‐MÉDIO: A EXPERIÊNCIA DO RIO DE JANEIRO
Na história desses 40 anos de CEE, muitas iniciativas foram pioneiras e
outras ganharam repercussão nacional. De todas as experiências vividas, nos 15 anos
em que frequentei o Conselho Estadual de Educação do RJ (quatro dos quais como seu
presidente), talvez a mais especial tenha sido a inspiração para que o então
Conselheiro Carlos Alberto Serpa de Oliveira fizesse o seu parecer sobre os cursos pós‐
secundários ou de técnicos especializados.
Foi uma lúcida tentativa de encontrar solução para a intrincada questão
do ensino médio que, aliás, permanece até hoje. É, seguramente, o nível de ensino
mais precário no sistema brasileiro.
Uma das boas alegrias que tive, como Secretário Estadual de Educação e
Cultura do Rio de Janeiro, foi ter criado uma série de Centros de Estudos Supletivos de
alto nível. O mais qualificado deles, sem dúvida, foi o que inaugurei no prédio do Senai,
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na rua São Franscisco Xavier, graças aos entendimentos mantidos com o professor
Roberto Boclin.
No CES do Maracanã, inaugurado em 1980, já era possível contar com
materiais instrucionais de primeira ordem, além do emprego de tecnologias
educacionais, como no ensino de línguas estrangeiras, com cabines individuais. Isso na
época era uma grande novidade na rede pública de ensino.
O melhor indicador do acerto do projeto pedagógico desenvolvido pelo
CES pode ser o resultado dos vestibulares. Muitos alunos passaram para universidades
públicas e particulares, demonstrando que nem sempre o supletivo é um ensino de
segunda categoria. Depende das intenções dos que o ministram.
Com o passar dos anos, é possível recordar a experiência do Rio de
Janeiro na implantação de um sistema de cursos pós‐secundários ou pós‐médios. A
Secretaria Estadual de Educação, a partir de 1980, buscou os instrumentos legais
indispensáveis à concretização desses experimentos pedagógicos, junto ao Conselho
Estadual de Educação, resultando algo bastante expressivo e, infelizmente,
interrompido, como, aliás, é hábito na vida brasileira.
O primeiro processo, enviado pelo Secretário de Estado de Educação e
Cultura, referia‐se ao Parecer nº 126/80. O CEE aprovou a formação de 80
profissionais, em Angra dos Reis, em Processamento de Aço e Estruturas Navais com
1.080 horas, sob a responsabilidade do Colégio Estadual Henrique Lage, de Niterói, em
parceria com a Verolme. Foi a primeira vez que surgiu no sistema a expressão curso
pós‐secundário. Dos 25 inscritos, 24 foram contratados pela Verolme.
O segundo parecer do CEE (423/80) referia‐se à formação profissional a
partir do C.E. Leopoldo Miguez, oferecendo oportunidades de especialização com
1.605 horas. Foram realizados sob supervisão da SEE‐RJ.
O Parecer nº 240/81 aprovou projeto de formação de pessoal de nível
médio para atividades gerenciais. Houve a colaboração da Fundação Cesgranrio, por
intermédio de Carlos Alberto Serpa, realizando‐se nos municípios de Nova Friburgo e
Volta Redonda, para habilitação de 80 técnicos em cada uma das localidades
mencionadas. Realizaram‐se, com amplo êxito, dois cursos: Gerência de Materiais e
Gerência Financeira, com carga horária de 990 horas/aula. Houve treinamento
pedagógico e o emprego de módulos instrucionais, utilizando‐se as instalações dos
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Colégios Estaduais Manuel Marinho (Volta Redonda) e Jamil El‐Jaick (Friburgo). A
habilitação foi apostilada no documento de que os alunos já eram portadores, valendo
como título para as suas carreiras. Representou um estímulo até hoje lembrado pelo
que participaram da experiência que, infelizmente, não teve a necessária
continuidade.
Tivemos ainda o Parecer nº 489/81, que autorizou a implantação da 4ª
série do ensino médio para egressos das habilitações básicas em Administração e em
Comércio. O objetivo era o prosseguimento dos estudos para a obtenção do título de
“técnico” numa 4ª série proposta. “Visando a uma efetiva profissionalização da
clientela de ensino médio com uma formação genérica, mas interesse profissional
específico.” Graças ao parecer assinado pelo professor Edgar Flexa Ribeiro, então
presidente da Câmara de Ensino de Ensino Médio, foi possível implantar a 4ª série e
formar técnicos em Contabilidade e Assistentes de Administração para os portadores
da habilitações básicas em Comércio e em Administração, numa cidade (Rio) que tem
predomínio nas atividades do setor terciário (prestação de serviços).
Com o SENAI/RJ ainda se aprovou o Parecer nº 390/83, criando o Curso
Técnico Especial, destinado a capacitar para o exercício de funções na área têxtil os
alunos egressos das escolas estaduais de ensino médio. O que há de lamentável nisso
tudo é a solução de continuidade, uma praga da nossa pedagogia, embora no período
de 79 a 83 tenhamos dobrado, no Rio de Janeiro, o número das escolas médias:
recebemos com 150 e deixamos com 303, o que positivamente representou um
recorde.
A ideia da Secretaria Estadual de Educação era ministrar os 28 cursos
profissionalizantes no Rio de Janeiro por intermédio de 100 Centros de Referência (um
para cada município), de acordo com o perfil econômico de cada região, criando mão‐
de‐obra qualificada.
ENSINO TÉCNICO GANHA FORÇA
Nossa educação é cheia de altos e baixos. Mais baixos do que altos.
Agora mesmo, descobre‐se que muitas escolas de ensino fundamental, especialmente
no interior, simplesmente não funcionam, embora estejam cadastradas como em
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plena operação. E tantas outras trabalham em circunstâncias precaríssimas. É assim
que vamos melhorar a qualidade do ensino?
A alegria da presidência da República está concentrada, hoje, no ensino
técnico. No dia mesmo em que se comemorava, em Belém do Pará, a inscrição de mais
de 6,8 milhões de alunos no Pronatec, tivemos o ensejo de conversar, no Rio de
Janeiro, com o professor Luiz Cláudio Costa, secretário‐executivo do MEC, que viera
prestigiar a entrega do título do Educador do Ano ao professor Geraldo Amintas, de
Minas Gerais. Foi numa solenidade realizada pela Academia Brasileira de Educação,
presidida pelo professor Carlos Alberto Serpa de Oliveira.
Na mesma ocasião, do papo fez parte uma figura mítica da educação
brasileira, o professor Roberto Boclin, que durante 20 anos presidiu o Senai/Rio de
Janeiro. Segundo o professor Boclin, o Senai soube se aproveitar da inovação dos
cursos pós‐médios e criou 20 cursos que estão em funcionamento até hoje. Segundo
sua expressão, “agora que o Pronatec é uma realidade, prestigiada pelo governo,
devemos aproveitar todos esses elementos para valorizar a educação técnica e chegar
ao final do ano, quem sabe, com 10 milhões de alunos. Existe essa clara possibilidade.”
Isto sem se falar nas imensas potencialidades da Qualificação
Profissional, onde cabem os mais variados cursos, com cargas horárias diversificadas,
para atender às grandes necessidades do nosso mercado de trabalho. Até a Nuvem de
Livros está organizando esses cursos, a serem dados via web, em todo o Brasil. Terá a
parceria, na distribuição dos certificados, do prestigiado CIEE/RJ, que comemorou 50
anos de existência.
O Pronatec já existe em 3,8 mil municípios brasileiros, com uma
perspectiva de chegar rapidamente a 4,2 municípios. Tem uma característica
marcante: os seus alunos são basicamente de renda baixa e na faixa etária de 14 a 29
anos de idade, com predomínio na região Sudeste. É uma política pública que está
dando certo, contando com o apoio de Estados e Municípios, seguindo uma inteligente
estratégia de marketing do Palácio do Planalto. Pode‐se afirmar que é a maior reforma
da educação profissional já feita em nosso país e isso nos enche de alegria. Resta,
apenas, cuidar para que a qualidade da parceria público‐privada esteja à altura das
necessidades nacionais. E que se reduza a evasão hoje existente.
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O DRAMA DO PROUNI/FIES
Há uma tendência, em nossa realidade, de promover a expansão do
ensino superior federal com cursos noturnos. Isso é natural porque mais de 80% dos
alunos das escolas particulares estudam à noite. Talvez aí resida a principal causa da
baixa qualidade desses cursos. São alunos que trabalham de dia e, já estressados,
procuram à noite os conhecimentos necessários para adquirir o indispensável diploma.
O Prouni é um programa de bolsas em faculdades particulares. Regulou
isenções, segundo critérios do próprio MEC. Como se viu, isso tudo resultou numa
homérica confusão, a começar pelas bolsas concedidas a filhos de professores e
funcionários, para figurar em acordos coletivos como moeda de troca. Agora, uma
comissão mista estuda novos critérios para a concessão de bolsas, já que 40% dos
estudantes das escolas privadas têm o benefício do Prouni ou do Fies. O que se deve
criticar, no caso, é o descaso com as questões de qualidade, em geral malsucedidas em
tais escolas.
Hoje, o Brasil tem quase 7 milhões de jovens universitários. Desses, há
cerca de 2 milhões que se utilizam do incentivo do Fundo de Financiamento Estudantil
(Fies), um sistema de crédito a instituições privadas de ensino superior, para
ressarcimento depois da formatura, a juros baixos. Se tudo estivesse indo bem (são
investidos 14 bilhões de reais por ano) rapidamente poderíamos chegar aos desejados
10 milhões de universitários.
Mas houve uma interrupção no processo. O governo repassava
mensalmente o dinheiro do financiamento às instituições, mas desde o ano passado
resolveu fazer uma série de exigências, complicando as coisas. Passou a exigir nota
mínima de 450 pontos no Enem e o aluno não ter tirado nota zero na redação.
Agregou a isso algumas exigências para renovação dos contratos – e assim hoje é um
drama manter o Fies com as facilidades de origem. Generalizou‐se a crise. Aliás, em
boa razão porque se deixou às instituições privadas de ensino o direito de estabelecer
o valor das mensalidades. Acabou dando confusão.
O ajuste provocou uma desordem olímpica – e até a presidente Dilma
Rousseff reconheceu que o Governo errou ao deixar as matrículas com o setor privado,
que cresceu como uma bolha perigosa. A redução do número de vagas para cada
17
região do país fez a demanda encolher, além de ter provocado a criação de parcerias
de grandes grupos educacionais com financiadoras privadas. Essa conta, assim, não
está fechando. A mudança das regras no meio do jogo só poderia dar como
consequência a existência de uma enorme crise, que leva muitos alunos à lamentável
desistência, depois das tentativas frustradas de renovar o Fies, em filas intermináveis.
O MEC informa que vai estudar caso a caso, até o dia 30 de abril, a fim
de minorar as consequências do que ele próprio criou. Promete não prejudicar os
alunos, mas não é isso que se está observando. Triste exemplo de descontrole do que
poderia ser uma boa ideia. Considerando‐se os números de hoje, há cerca de 30% de
todos os alunos de ensino superior utilizando os mecanismos do Fies. Não se sabe
exatamente quantos permanecerão no processo. Pode‐se afirmar que ficamos longe
de meta de alcançar os 10 milhões de universitários.
UMA RARA EXPERIÊNCIA
Aprendi a admirar, nas ações dos Conselhos Estaduais de Educação, a
sua responsabilidade no que tange à elaboração de normas fundamentais para o
adequado funcionamento dos sistemas. Isso precisa ser rigorosamente respeitado,
mas o que ocorre na prática é que esse poder vai‐se esvaindo, com o predomínio da
liderança dos executivos.
Cheguei a sentir o fenômeno no Rio de Janeiro, nos mais de quinze anos
de presença do CEE – e mais detidamente no Conselho Federal de Educação (1986‐
1992) e no Conselho Nacional de Educação (1996‐1998). No começo até que o CFE
tinha muita força. Suas decisões sempre foram muito respeitadas pelo MEC (em alguns
casos eram até temidas). Já no CNE, mais recente, houve como que um afrouxamento
das normas. Elas foram cedendo espaço a decisões do Executivo, algumas até ao
arrepio da lei. Nasceram portarias visivelmente ilegais, contrariando dispositivos legais,
com o que naturalmente não se poderia concordar. Isso vitimou, sobretudo, o ensino
médio – e o resultado é uma balbúrdia muitas vezes incompreensível.
18
A IMPORTÂNCIA DAS NORMAS
Desde que fui convidado a integrar o Conselho Estadual de Educação do
Rio de Janeiro, em 1972, aprendi a admirar as atividades do CEE, como órgão
normativo, que entre outras obrigações devia subsidiar a elaboração e acompanhar a
execução do Plano Estadual de Educação e manifestar‐se sobre questões que
abrangessem mais de um nível ou modalidade de ensino. No caso do ensino superior,
tudo o que se referisse à Universidade do Estado da Guanabara, hoje UERJ. Além disso,
deveria assessorar a Secretaria de Estado de Educação no diagnóstico dos problemas e
deliberar sobre medidas para aperfeiçoar o sistema de ensino, especialmente para a
melhor integração dos seus diferentes níveis e modalidades.
Foi possível, assim, viver notáveis experiências, especialmente porque o
CEE era constituído de incríveis educadores, como o Padre Leme Lopes, D. Lourenço de
Almeida Prado, Edília Coelho Garcia, Carlos Alberto Serpa, Edgard Flexa Ribeiro, Hélio
Ribeiro, Fátima Cunha Ferreira Pinto, Vera Candau, Joaquim Cardoso Lemos, Gildásio
Amado, Amaury Pereira Muniz, Roberto Ebert, Antonio José Chediak, Miguel Alves de
Lima, Henrique Zaremba, Pery Porto e outros mais que se foram agregando ao
conjunto, com o tempo, como Sérgio Pereira da Silva, Roberto Boclin, Vicente Barreto,
Maria Ieda Linhares, Bayard Boiteux, Paulo de Bessa, Maria José Fadul, Dinamérico
Pombo, Lucy Vereza, Herbert de Souza e Oscar Gonçalves Filho. Foi um conjunto de
grandes educadores, aos quais o Rio de Janeiro deve belos serviços prestados ao
desenvolvimento da nossa pedagogia. Os seus pareceres e deliberações hoje fazem
parte da história da educação brasileira.
Pode‐se recordar a acesa discussão em torno da ideia de ministrar
educação sexual nas escolas do Rio de Janeiro. Não havia unanimidade, pois boa parte
dos conselheiros, com o padre Leme Lopes à frente, entendia que isso era tarefa dos
pais e não da escola. Mas foi possível discutir a Indicação no 7/77, de nossa autoria,
que versava sobre prevenção ao tráfico ilícito e uso indevido de substâncias
entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica. Um sinal de alerta
para um problema que, depois, com o tempo, se agravaria enormemente. Visava
“atenuar o mal que mina o valor e as potencialidades da nossa juventude.”
19
Depois, ainda em 1977, discutiu‐se a criação de novos cursos e
habilitações na área do ensino superior, considerando‐se os quatro distritos
geoeducacionais do Rio de Janeiro, segundo estudos do conselheiro federal Newton
Sucupira. Estabeleceu‐se um bem fundamentado “Diagnóstico do Ensino Superior”.
A Indicação de nº 10/77 criou um grupo de trabalho para estudar a
criação dos cursos pós‐secundários não universitários em face, principalmente, à
ausência de qualificação profissional suficiente para que nossos jovens participassem
efetivamente do mercado de trabalho ao completarem o 2º grau. Tais cursos, de baixo
custo, deveriam brotar de uma íntima convivência com empresas ligadas
especialmente aos setores primários e secundários da economia. Como primeira
sugestão, em termos de acesso aos cursos pós‐secundários, surgiu a de um processo
classificatório de testes de aptidão conjugados a pontos obtidos pelo tipo de formação
especial a nível de 2º grau completada pelos postulantes.
Foram vários processos a respeito de isenção do salário‐educação, o
reconhecimento de cursos da UERJ, o financiamento da recuperação de prédios
escolares, a criação do curso de Pedagogia na Fundação de Itaboraí e tantos outros
processos que hoje fazem parte do acervo de realizações desta casa.
Tivemos outros períodos brilhantes no CEE, como aqueles presididos
pelo competente Conselheiro Roberto Boclin. Em 1998, por exemplo, a Deliberação nº
232 da qual foi relator o Conselheiro Celso Niskier, normatizou a EAD no Rio de
Janeiro, a primeira do Brasil. Teve um sentido histórico.
COMO SURGIRAM AS “ACADEMIAS”
Tendo por modelo a Europa, a maior parte das primeiras escolas
secundárias fundadas nas colônias norte‐americanas, nos séculos XVII e XVIII, eram
instituições clássicas, com o objetivo de preparar os jovens para os estudos superiores
ou eclesiásticos.
Com o início da Revolução Industrial, em meados do século XVIII, surgiu
a necessidade do ensino científico e comercial, daí a existência de uma nova escola: a
“academia”. Com a independência norte‐americana, lastreada na crença da liberdade,
da democracia e da perfectibilidade do homem, veio a convicção de que só a educação
20
levaria o homem a aperfeiçoar‐se. A expansão das “academias” deveu‐se ao estímulo
à outorga de terras.
Segundo o especialista George Parkyn, “as academias possuíam um
currículo muito variado, com aulas de leitura, escrita, aritmética, gramática, geografia,
cartografia, topografia e hidráulica, navegação, astronomia, geometria e
trigonometria, álgebra, química, filosofia moral, retórica, lógica, latim, grego e francês.
Era o próprio enciclopedismo, hoje condenado.
Mas havia uma particularidade saudável: a organização era flexível,
cabendo ao próprio aluno a escolha das matérias que o preparariam para a vida
desejada. Embora destinadas a uma elite, as “academias” tiveram papel de relevo, no
século XIX, somente arrefecendo a sua importância quando, nos Estados Unidos,
começaram a surgir as escolas secundárias públicas, com o objetivo de preparar os
alunos para a universidade ou um emprego. Com o começo da prosperidade dos
Estados Unidos, já em 1930 mais da metade dos adolescentes de 15 a 18 anos
encontravam‐se matriculados nas escolas secundárias públicas. Daí o crescimento não
parou mais. Hoje, há escolas secundárias do 1º ciclo (junior high schools) de três
anos, que preparam para o 2º ciclo secundário (senior high schools) igualmente
de três anos. Assim se tem o sistema 6‐3‐3, muito popular, com 6 anos de primário,
este ministrado por um só professor. As práticas vocacionais são dadas no 1º ciclo,
reservando‐se ao 2º ciclo as disciplinas que levam a uma preparação profissional.
Registra‐se no mundo a ampliação do ensino médio, em virtude da
extensão do acesso à escola das camadas inferiores da classe média e das mais bem
dotadas da classe dos trabalhadores. A consequência natural é a ampliação
quantitativa do acesso a essa etapa, reservando‐se aos educadores a gigantesca tarefa
de melhorar a qualidade do ensino, em que todos hoje se encontram vivamente
empenhados. Ao fenômeno da ampliação de vagas não correspondeu o indispensável
aperfeiçoamento da relação ensino‐aprendizagem. Deseja‐se, é claro, educação para
todos, como pede a Declaração de Jomtien (Tailândia), de 1993, mas é fundamental
que se chegue a essa igualdade de oportunidades com a garantia mínima de qualidade
do ensino.
Assim se poderá alcançar, de forma competente, o elenco de marcos da
educação secundária estabelecidos nos Estados Unidos, mas de aplicação universal:
21
“1. A finalidade da democracia é organizar uma sociedade tal que cada um de seus
membros possa, antes de tudo, desenvolver sua personalidade por meio de atividade
destinada a melhorar o bem‐estar de seus concidadãos e da sociedade em geral; 2.
Numa democracia, a educação, tanto na escola como fora dela, deve desenvolver em
cada indivíduo os conhecimentos, os interesses, os ideais, os hábitos e as capacidades
que lhe permitirão encontrar o seu lugar e de agir com a preocupação de dirigir a si
mesmo e orientar a sociedade para fins cada vez mais nobres.”
Tais objetivos seriam mais facilmente alcançados se o currículo (e temos
essa grande chance, com a sua completa reorganização) for capaz de ajudar o aluno a
conservar uma boa saúde, a adquirir os conhecimentos escolares essenciais, a
desempenhar seu papel na família, a se preparar para o exercício de uma profissão, a
agir como bom cidadão, a utilizar seus lazeres de maneira construtiva e a formar seu
caráter. Tais princípios são rigorosamente essenciais.
É preciso registrar a existência, nos Estados Unidos, da escola
secundária polivalente (comprehensive high school). Por se situar, em geral, em
comunidades mais pobres, passou a oferecer aos seus alunos uma enorme variedade
de cursos, preparando jovens para os estudos universitários. Foi em tais escolas que
se desenvolveu a modalidade de educação à distância, hoje sendo objeto de lei e de
estudos aplicados à realidade brasileira.
HISTÓRIA DA UERJ
A história da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) teve início
em 4 de dezembro de 1950, com a promulgação da lei municipal nº 547, que criou a
nova Universidade do Distrito Federal (UDF). Diferente da instituição homônima,
fundada em 1935 e extinta em 1939, a nova Universidade ganhou força e tornou‐se
uma referência em ensino superior, pesquisa e extensão na Região Sudeste.
Nesse trajeto, a instituição viu seu nome mudar, acompanhando as
transformações políticas que ocorriam. Em 1958, a UDF foi rebatizada como
Universidade do Rio de Janeiro (URJ). Em 1961, após a transferência do Distrito Federal
para a recém‐inaugurada Brasília, a URJ passou a se chamar Universidade do Estado da
22
Guanabara (UEG). Finalmente, em 1975, ganhou o nome definitivo de Universidade do
Estado do Rio de Janeiro.
Criada a partir da fusão da Faculdade de Ciências Econômicas do Rio de
Janeiro, da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, da Faculdade de Filosofia do
Instituto La‐Fayette e da Faculdade de Ciências Médicas, a Universidade cresceu,
incorporando e criando novas unidades com o passar dos anos. Às faculdades
fundadoras uniram‐se instituições como a Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi),
o Hospital Geral Pedro Ernesto (Hupe), a Escola de Enfermagem Raquel Haddock Lobo,
entre outras. Além disso, novas unidades foram criadas para atender às demandas da
Universidade e da comunidade, como o Colégio de Aplicação (CAp) e a Editora da UERJ
(Eduerj), entre outros. Tive uma presença fundamental na criação do CAp.
Nesses mais de sessenta anos de história, a Universidade cresceu em
tamanho, estrutura e importância nos cenários regional e nacional.
A PROLIFERAÇÃO DE UNIVERSIDADES
Em 1930, funcionavam no Brasil apenas duas universidades — uma
federal, a do Rio de Janeiro, e a segunda, estadual, situada em Belo Horizonte. Outras
instituições do mesmo gênero, como a de São Paulo, em 1934, a do Distrito Federal
(primeira), em 1935, e a de Porto Alegre, em 1936, foram criadas, todas elas pelos
governos locais. A massificação do ensino superior viria a acontecer, contudo, do final
de 1945 até a votação da Lei de Diretrizes e Bases, em 1961. Nessa época foram
instituídas no Brasil diversas universidades. Entre estabelecimentos federais, estaduais
e particulares, passou‐se a contar, no início dos anos 60, com mais de trinta
universidades.
Hoje, em pleno Século XXI, esse número é expressivo, e só o Estado do
Rio de Janeiro conta com dezenas de unidades, entre as quais: Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (UERJ); Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO);
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Universidade Estadual da Zona Oeste
(UEZO); Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM); Centro Universitário Carioca
(UNICARIOCA); Centro Universitário Celso Lisboa (UCL); Centro Universitário Hermínio
da Silveira (UNI IBMR); Centro Universitário Metodista BENNETT; Universidade
23
Cândido Mendes (UCAM); Universidade Castelo Branco (UCB); Universidade Estácio de
Sá; Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO); Universidade Severino Sombra (USS);
Universidade Veiga de Almeida (UVA); Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro (PUCRIO); Centro Universitário de Barra Mansa (UBM); Universidade Estadual
do Norte Fluminense (UENF); Centro Universitário Fluminense (UNIFLU); Universidade
de Nova Iguaçu (UNIG); Universidade Federal Fluminense (UFF); Centro Universitário
Plínio Leite (UNIPLI); Universidade Católica de Petrópolis (UCP); Universidade Salgado
de Oliveira (UNIVERSO); Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ); Centro
Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO); Centro Universitário de Volta Redonda
(UNIFOA); Centro Universitário Geraldo di Biase (UGB).
O FIM DO “DECOREBA”
Marcado durante muitos anos para ser apenas o corredor de acesso ao
ensino superior, sem personalidade própria, o ensino médio foi vítima de
experimentos pedagógicos variados, um dos quais o vestibular. De acordo com o que
se exigia no exame de habilitação, assim se fazia o ensino médio. Não é tão distante
assim que se possa esquecer o tempo das “cruzinhas” nos vestibulares, exigindo dos
pacientes candidatos horas e mais horas de adestramento, nos abomináveis cursinhos
que marcaram a educação brasileira. Assim nasceu a figura do “decoreba”,
capaz de guardar de memória datas e fatos com ou sem relevo, mas que caíam nas
provas. Talvez por isso a característica de enciclopedismo tenha sido tão forte, num
currículo sobrecarregado por 11 ou 12 matérias. Até hoje, o nível de aprendizagem
dos alunos do ensino médio ainda é muito baixo.
Agregam‐se poucos conhecimentos ao que já é sabido desde o ensino
fundamental e a razão é simples: quando a Fundação Cesgranrio realiza os seus
exames ‐ e isso me foi dito pelo seu presidente, professor Carlos Alberto Serpa ‐
sempre coloca questões de ensino fundamental, para medir o grau de conhecimento
dos candidatos. Mais grave: há uma questão de matemática que é sempre a mesma e
nem por isso deixa de existir uma enorme margem de erro (sobre medida de áreas).
Busca‐se o profissional polivalente e multimídia. Isso tem por objetivo
assegurar um mínimo de conhecimentos na educação geral e permitir, por outro lado,
24
que o aluno possa dar continuidade à sua vida, seja entrando para o mercado de
trabalho em nível intermediário, seja na universidade. É parecido com o que ocorre na
Alemanha, onde aos 15 anos de idade o aluno faz a opção de seguir o curso
profissionalizante ou caminhar no sentido da universidade.
Alguns educadores discordam dessa definição, considerando os jovens
despreparados para fazer tão cedo essa opção. É o caso do professor e ex‐Conselheiro
Edgar Flexa Ribeiro, que pergunta: “Será mesmo o começo da adolescência o melhor
momento para pedir a um jovem uma definição desse porte?” O educador carioca
ainda critica como leviandade a frase ouvida (também por mim) numa entrevista de
televisão: “Pra quê vou estudar química se quero ser advogado?”
A idade da definição não é um corredor da morte, sem volta. Haverá
mecanismos de interação do ensino médio propriamente dito com aquele destinado à
formação profissional, de tal forma que seja possível o recuo, com aproveitamento de
créditos. E insiste‐se na existência de matérias essenciais da base comum, de 1800
horas, para que a especialização ocorra nas 600 horas disponíveis. Isso não implica em
exclusão. A decisão é das próprias comunidades, por meio dos seus competentes
Conselhos de Educação. Não se pode criticar o MEC por um desejo de
descentralização que finalmente iluminou as suas autoridades.
Os alunos deverão demonstrar determinadas habilidades, com ênfase
no raciocínio, no senso crítico e na capacidade de relacionar conceitos e fatos. Só
guardar uma data histórica significará muito pouco se a isso não se agregar, na
compreensão do educando, o seu completo significado.
INVESTIMENTOS NA FORMAÇÃO DE MÃO‐DE‐OBRA
A Região Metropolitana do Rio de Janeiro tem nítida vocação para se
desenvolver como centro financeiro, comercial, de serviços e turismo, além de se
expandir em setores como petróleo e gás, construção naval, informática,
biotecnologia, editorial e gráfico e um polo insubstituível de pesquisa científica e
tecnológica. Só não se pode ver frustrada essa perspectiva por falta de recursos
humanos adequados.
25
Segundo estudos da Confederação Nacional da Indústria, a baixa
escolaridade da mão‐de‐obra brasileira afeta a nossa competitividade no exterior. A
falta de conhecimento básico sacrifica a produtividade das fábricas: só 12,14% dos
trabalhadores da indústria têm o ensino médio completo e apenas 4,16% têm ensino
superior. Isso não ocorre por falta de dinheiro, pois, segundo o MEC, estaríamos
investindo 6,1% do PIB em educação, quase o mesmo que o México. Da nossa
população economicamente ativa três em cada quatro pessoas não concluíram o
ensino fundamental. Pode‐se inferir que esses recursos financeiros, tradicionalmente,
têm sido mal distribuídos, mal administrados e desviados para outros fins.
A baixa qualificação provoca uma perda de 20% na produtividade, o que
leva determinadas indústrias, como é o caso da Votorantim (o maior grupo privado
brasileiro) a promover investimentos por conta própria na educação. Se os
funcionários devem ser capazes de interpretar, tomar decisões e avaliar resultados, é
essencial que eles dominem o idioma e mais particularmente a linguagem técnica. De
outro modo, nada se poderá obter de concreto em termos de qualidade.
Na visita que fizemos ao Grupo Samsung, na Coréia do Sul, com
faturamento superior a 70 bilhões de dólares, conhecemos os seus planos de
investimento progressivo em alta tecnologia e qualidade de serviços, com ênfase nas
pesquisas em desenvolvimento, educação e treinamento. Todos os seus trabalhadores
têm no mínimo o ensino médio completo (são 230 mil funcionários). Hoje, sabe‐se
que a cada 10% investidos em educação ganha‐se 8,6% em produtividade. Quem
desconhecer essa realidade estará condenando o País ao atraso.
UNIVERSIDADE ABERTA
Em 1976, a Indicação nº 18, de minha autoria, no Conselho Federal de
Educação, implementou a ideia de uma Universidade Aberta, “com a qual só teria a
lucrar o sistema educacional como um todo e sob múltiplas formas, em um país que se
moderniza, mas que ainda não dispõe de recursos humanos qualificados em muitos
setores, além de permitir a muitos o aperfeiçoamento e a reconversão de profissão”.
O Brasil dispõe da experiência de utilização dos meios de comunicação de
massa em educação desde o final da década de 50. O Projeto Minerva, a TV do
26
Maranhão, a Fundação Roberto Marinho, os programas da Fundação Padre Anchieta, o
trabalho da ABT, para citar apenas algumas.
O Conselho Federal de Educação aceitou a argumentação contida na referida
Indicação. O Ministério da Educação encampou a iniciativa, criando, por decisão do
então Ministro Hugo Napoleão, com a Portaria nº 511/88, uma Comissão Especial para
“estudar as virtualidades do ensino por correspondência e técnicas correlatas com
vistas a um aproveitamento na Universidade Aberta”.
A Comissão ficou encarregada de formular uma Política Nacional de Ensino à
Distância, bem como promover a realização de cursos à distância para o magistério de
ensino fundamental e médio. A mesma Portaria criou no INEP a Coordenadoria
Nacional de Ensino à Distância, embrião do Instituto Nacional de Educação à Distância
(INEAD).
O Parecer nº263/88 emitiu as seguintes conclusões:
“I – Que o Ministério da Educação crie um Grupo de Trabalho que, de forma
sistematizada, se volte para a problemática do ensino à distância, promovendo
levantamentos, entendimentos e troca de experiências entre os responsáveis pelas
iniciativas nesse sentido já existentes no país, procurando integrar esforços, avaliar
resultados e possibilitar uma judiciosa seleção de métodos e técnicas mais adequados
à natureza dos cursos oferecidos e às realidades da clientela a que se destinam.
II – Que esse Grupo de Trabalho planeje e incentive o desenvolvimento de
projetos experimentais de ensino à distância, centrados principalmente em
instituições educativas nas diferentes regiões do país, recobrindo com prioridade as
áreas de capacitação de professores leigos e do treinamento e melhoria da mão‐de‐
obra, com extensão progressiva e cautelosa a outros campos do conhecimento, depois
das primeiras avaliações positivas.
III – Que esses projetos experimentais, em princípio, tenham como elemento
integrador os cursos por correspondência, mas que a eles se possa juntar a atuação
pelos jornais, revistas e emissoras de rádio e TV, oficiais ou particulares.
IV – Que esse Grupo de Trabalho implante um cuidadoso sistema de
acompanhamento e avaliação dessas experiências, fornecendo relatórios semestrais
das mesmas a todas as instituições envolvidas e também ao conselho Federal de
Educação que, para tal fim, manterá uma Comissão Especial.
27
V – Que, ao se completar o procedimento de avaliação, seja apreciada pelo
Conselho Federal de Educação a possibilidade de que, à vista dos resultados obtidos,
se autorize a expedição de diplomas.”
As diretrizes estabelecidas visaram a ampliar as oportunidades de educação
formal e não‐formal, através da metodologia de EAD, a uma população que se
ressente da oferta de serviços educacionais em quantidade e qualidade compatíveis
com seus interesses e suas necessidades. Pelo que se trabalhou em prol da Educação à
Distância, há apoio legal e logístico para que se implantem outras modalidades de
ensino. O que falta é a firme decisão política para incluí‐las dentro de uma Política
Nacional de Educação à Distância, com os cuidados exigidos.
A HORA DA EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA
A cultura é um processo, de que a educação faz parte. São grandes as
carências brasileiras em ambos os campos. Fala‐se em universidade pós‐moderna, mas
os nossos homens de pensamento ainda são tímidos, no reconhecimento da existência
de uma cultura pós‐moderna, amparada pelos recursos da Era do Conhecimento. Ela
seria forte e de grande abrangência, permitindo que a diversidade regional ganhasse
mais espaço, preservando as raízes da identidade nacional. Isso na literatura, na
música, no teatro, no folclore, etc.
Chegamos à TV Digital. Além das estações de sinais abertos, já existentes,
outras virão para dar cobertura ao Executivo, ao Legislativo e ao Judiciário, além da
Educação, da Cultura e da Cidadania. Cultura para todos poderia é a visão geral do
processo, que tem dois ganhos extraordinários, frutos da infindável competência de
cientistas e pesquisadores: alta definição e interatividade.
Temos evidentes carências, embora se considere a cultura um bom
negócio. O nosso povo se ressente de maior alcance do rádio, da televisão e do
cinema, principalmente no interior do país. As raízes culturais em geral não são
respeitadas na sua integridade e pureza. Com os mecanismos da educação à distância
(EAD) é possível estabelecer um sistema inteligente de trocas, com vantagens para
todos.
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Sempre haverá o problema da produção, caríssima. Com recursos que
envolveriam também a lei do incentivo audiovisual, além de outros mecanismos, como
a Lei do incentivo audiovisual, além de outros apoios, como a Lei Rouanet de Amparo à
Cultura, será possível criar um órgão oficial que cuidaria estritamente dos softwares,
dentro da Política Nacional de Cultura, com possibilidades de exportação para nações
vizinhas, sensíveis à cultura latina.
Para que os resultados sejam positivos, sugere‐se o estabelecimento de
uma estratégia de marketing cultural, com a novidade de contar obrigatoriamente com
os recursos advindos da maior circulação de ideias via EAD. Com o cuidado natural de
evitar que, pelo exagero, haja a desfiguração das nossas raízes, bem ao contrário. Elas
seriam fortificadas com esse grande reforço, o que tornaria o Brasil maior na sua
integridade, enriquecendo todas as suas elogiadas atividades quando se trata de
música, literatura, valorização da língua portuguesa, em colaboração com a Academia
Brasileira de Letras, folclore (Reizado, Congado, Bumba‐meu‐boi etc), teatro, cinema,
artes plásticas, dança, etc.
Temos associações, nessas áreas, que são fabulosamente competentes.
O que a EAD pode trazer ao processo é um inteligente intercâmbio, com proveito
geral. Educação e Cultura devem caminhar lado a lado, pois estreitam as relações com
as comunidades, promovendo ações democráticas.
O nosso programa de cidadania é louvável, até porque contempla escolas
rurais e indígenas, mas há obstáculos que não podem ser desconsiderados. Exemplo é
a existência de mais de 41 mil cidades que ainda não dispõem de energia elétrica,
retrato de um lamentável atraso. Hoje, há mais de 20 mil escolas públicas com
laboratórios de informática, com modernos computadores.
O número precisa crescer muito, sendo necessário o uso do Fust (Fundo
de Universalização dos Serviços de Telecomunicações). De todos os laboratórios de
informática referidos somente 22 mil têm acesso à internet, o que constitui uma séria
limitação ao nosso desejo estratégico de ampliar as oportunidades educacionais e
culturais dos alunos, com o emprego de novas estratégias.
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A HORA DA CULTURA
As perspectivas a respeito da ampliação do nosso universo cultural são
muito claras. Já houve o início do funcionamento da TV Digital, primeiro em São Paulo,
depois no Rio de Janeiro. A grande inovação é que os canais de sinais abertos serão em
maior número, além de gozarem dos benefícios tecnológicos da alta definição e do da
interatividade. Será um grande avanço, sem dúvida. Mas o maior dos ganhos será a
existência de canais abertos para ações oficiais nos campos fundamentais da vida
nacional.
No canal onde for abrigada a Cultura, haverá a ampliação das
oportunidades de trabalho de produtores brasileiros, hoje sujeitos a janelas nas TVs
comerciais. Já imaginaram o que isso poderá representar, mesmo que demore cinco
ou seis anos para a sua implementação, que se fará pelo sistema nipo‐brasileiro,
conforme determinação governamental? É preciso pensar e muito sobre a matéria.
Os modismos aqui chegam, com uma velocidade própria. Desde a época
do Descobrimento, as cartas com as novidades demoravam mais de um mês, trazidas
pelas valentes caravelas portuguesas. E alguma coisa para virar modismo, naqueles
tempos, não era fácil. O primeiro jornal aqui circulou em 1808.
Há mais de 50 anos que se discute no Brasil o emprego da educação à
distância. Outros países foram avançando na eficiente modalidade, como é o caso do
Canadá, da Espanha, da Inglaterra e da Austrália, entre outros. Aqui, depois de tempos
espaçosos de preguiça (ou medo do novo), como o receio de que se tornasse um
supletivo de terceira classe, felizmente caminhamos para uma reação favorável, a
partir do que foi prescrito na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (no
9.394/96).
Hoje, há mais de 1 milhão de alunos brasileiros frequentando cursos via
educação à distância, no nível superior, o que já é uma prova de que acordamos para o
que é muito comum em Universidades norte‐americanas, como tivemos a chance de
verificar em visita à Nova University, na Flórida. Os seus 15 mil alunos estudam no
regime de meio a meio, com um pormenor essencial: as avaliações são sempre
presenciais, o que evita qualquer possibilidade de fraude.
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Agora, a moda é citar a inclusão social, de que a digital obviamente é
parte. Cerca de 25 milhões de brasileiros com mais de 16 anos têm acesso à Internet,
mas devemos pensar que somos uma população superior a 200 milhões de habitantes.
Ainda é pequeno o índice dos que têm esse privilégio, mais adstrito a escolas
particulares, tornando bem visível o fosso entre incluídos e excluídos digitais, no
quadro geral de pobreza do País.
É claro que existe muita esperança na liberação dos recursos do Fust
(Fundo de Universalização das Telecomunicações). Alimentado com 1% do
faturamento das concessionárias de telefonia, não está sendo colocado à disposição
de bons projetos, como o acesso à rede mundial de computadores para escolas,
bibliotecas, hospitais, postos de saúde, órgãos de segurança, entre outros. Foi
tristemente jogado no processo de reforço do superávit primário. Como ficam o
treinamento e o aperfeiçoamento de professores e especialistas de que tanto
carecemos?
PROFESSORES
Temos cerca de 3 milhões de professores empregados (quase 500 mil no
ensino superior), com a média salarial de 700 dólares, o que é muito pouco.
Devemos valorizar a atuação dos professores e especialistas, não só
aperfeiçoando os seus cursos de formação (providência urgente), como remunerando
adequadamente esse serviço fundamental para os planos de crescimento do país. Será
sempre difícil estimular os jovens da classe média a escolher o magistério com salários
que são reconhecidamente dos mais baixos do mundo. A estimativa é de que, nos
próximos 5/6 anos, possamos triplicar os números atuais. E, ainda, assim, estaremos
abaixo de nações como as que foram batizadas de “tigres asiáticos”.
Só o aumento de salário do magistério, porém, não resolve. Afinal, o
dinheiro no fim do mês, sozinho, não transforma um professor despreparado num
mestre eficiente. Há um conjunto de fatores, que no Brasil talvez comece nas escolas
de formação de professores, que continuam deixando muito a desejar.
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Segundo um recente levantamento da Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), na última década, em comparação com
estudantes de 65 nacionalidades, ninguém avançou tanto em sala de aula quanto os
chilenos. O mérito do Chile foi aplicar com disciplina e persistência iniciativas de
eficácia já testadas, com sucesso, em países desenvolvidos. Elas só funcionaram
porque permaneceram de pé ao longo de duas décadas ininterruptas – a salvo de
trocas de poder, ideologias e ingerências políticas que costumam provocar retrocessos
na área.
No Brasil, vivemos hoje sob o estigma da baixa qualificação escolar.
Não é um fenômeno somente brasileiro, pois o presidente Barak Obama, que afirma
ter escolhido a esperança em lugar do medo, investe 500 bilhões de dólares anuais em
educação. Está impressionado com a má performance de 5 mil escolas norte‐
americanas e as notas medíocres alcançadas nos exames internacionais (Pisa) de
Matemática, por exemplo: os Estados Unidos ficaram em 36o lugar, enquanto o Brasil
alcançou o 58º, numa competição de 65 países (ano‐base 2012).
O abandono escolar é uma realidade brasileira, embora o Governo
tenha estimulado a valorização da escola por intermédio de ambiciosos projetos
sociais, como o Bolsa Família, que contempla 13,8 milhões de famílias, beneficiando
cerca de 50 milhões de pessoas, e já tirou 36 milhões de brasileiros da pobreza
extrema.
EDUCAÇÃO INFANTIL
Temos que melhorar os índices de atendimento à educação infantil (há
mais de 20 milhões de brasileiros entre 0 e 6 anos, dos quais somente 6,3 milhões são
atendidos de alguma forma); aperfeiçoar a qualidade do ensino fundamental, depois
de alcançada a sua universalização (há 50.545.050 milhões de matrículas); evitar os
fenômenos de evasão e repetência no ensino médio. Assim como em anos anteriores,
a rede estadual continua a ser a maior responsável pela oferta de ensino médio, com
85% das matrículas. A rede privada atende 12,7% e as redes federal e municipal
atendem juntas pouco mais que 2%, e valorizar a vertente profissionalizante, uma
32
obrigação dos poderes públicos, com a devida colaboração da iniciativa privada.
Devemos ampliar as oportunidades, sobretudo em novas profissões (Educação
Ambiental, Tecnologia da Informação, Energias Limpas). Nos últimos 10 anos as
matrículas no ensino superior dobraram, passando de 3,5 para quase 7,0 milhões de
alunos. É preciso manter a excelência da pós‐graduação, reconhecida
internacionalmente como de boa qualidade. Isso terá influência decisiva na ampliação
do número de cientistas brasileiros.
Para que tudo isso ocorra, o país deve se voltar, com firmeza, para a
formação e o aperfeiçoamento de professores e especialistas, inclusive com a adoção
criteriosa da modalidade de educação à distância. Os cursos à distância já contam com
uma participação superior a 15% na matrícula de graduação. Esse número, para uma
população estimada de 202 milhões de habitantes, em 2016, deverá ser
quadruplicado, pois o sistema comporta esse crescimento.
A presidente Dilma Roussef anunciou que será ministrado ensino
técnico a 8 milhões de trabalhadores brasileiros. Os números da educação profissional
apontam para a manutenção de sua expansão.
Cabe destaque para a forte expansão da rede federal, com aumento de
11% em um ano. Nos últimos nove anos, a rede federal mais que dobrou a oferta de
matrícula de educação profissional, com um crescimento de 143%. A ideia é nobre e
merece aplausos. Mas não se pode deixar de clamar pela prioridade absoluta: o
professor. Se não houver professores bem preparados e devidamente estimulados, os
esforços em prol da educação cairão no vazio, por absoluta falta de consistência.
Com a criação do Fundeb, o resultado da matrícula tornou‐se
determinante para a redistribuição de um expressivo volume de recursos. O Fundo
estima, ainda, que 60% desses recursos sejam destinados ao pagamento da
remuneração dos profissionais do magistério da educação básica em efetivo exercício
na rede pública. Essas exigências fundamentam a necessidade de permanente
monitoramento dos indicadores resultantes dos levantamentos censitários realizados
pelo Inep, notadamente os relativos às matrículas e ao perfil dos docentes que atuam
na educação básica.
33
CONHECIMENTO É PODER
Partindo do princípio de que “conhecimento é poder”, luta‐se para
reformular os currículos das escolas, abandonando a rigidez curricular que não mais
condiz com as necessidades dos que irão buscar de imediato o amparo no mercado de
trabalho. Pode‐se registrar um claro retrocesso, nos últimos 15 anos, mas a reação se
nota pela vontade política de valorizar a AVALIAÇÃO, mais do que nunca presente no
processo ensino‐aprendizagem. Busca‐se uma política de valores e não só de
resultados: a classe média alta brasileira raciocina em níveis muito inferiores, por
exemplo, aos europeus.
Existe a certeza de que “a aprendizagem é para toda a vida” (como
vimos na Unesco) e que a gestão da escola é um elemento estratégico essencial. Aí
surge a figura do diretor, que pode transformar esse quadro. Ele luta para vencer
preconceitos descabidos, como o que existe no Brasil contra o ensino profissional. A
Constituição de 1937 afirmava que ele seria destinado “às classes menos favorecidas”.
Não seria exagero encontrar, no preceito constitucional, uma das causas principais da
existência, hoje, de sete milhões de jovens brasileiros sem emprego por absoluta falta
de qualificação?
Com os nossos avanços econômicos, inclusive com as perspectivas do
pré‐sal, que poderá ter exploração potencializada nos próximos 10 anos, surgirão
milhares de empregos, sobretudo de nível intermediário, nas áreas de petróleo e gás,
transformando completamente as opções de recursos humanos.
O Brasil tem, hoje, o aluno “geração internet”, com toda a sua
monumental parafernália eletrônica: MSN, Orkut, Facebook, MP3, Google Wave,
Twitter, WhatsApp etc. Tudo ao mesmo tempo. Teremos um processo eficaz de
apreensão de conhecimentos?
Não é de estranhar a tendência de considerar monótonas as aulas
tradicionais e, com isso, até desrespeitar a figura do professor. Boas escolas resistem a
esse processo, mesmo considerando que a internet veio para ficar.
Em pleno século 21, como desconhecer essa realidade? Defende‐se a
ideia do turno integral para as nossas escolas (8 às 17h), mas com um projeto
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inteligente de construção da cidadania, utilizando os valores do humanismo e as
conquistas eletrônicas que nos espantam, diariamente.
Temos hoje mais de 60 milhões de alunos frequentando as escolas
brasileiras, em todos os níveis. Cerca de 33% da população, o que representa um
número bastante expressivo. O ensino cresceu muito, nos últimos anos, sobretudo no
fundamental. Mas quais são as perspectivas para o futuro?
Não podemos deixar de citar, o Projeto Mais Leitura, que oferece livros
a preços populares em quatro agências fixas, além da versão itinerante que percorre
os municípios do Estado do Rio de Janeiro. Também está nas comunidades pacificadas,
com estande desmontável. A missão do projeto é a democratização do acesso à
cultura.
O Brasil tem 197.468 escolas de ensino básico. Destas, 129.579 (65,62%)
não têm bibliotecas, o que significa um total de 15.000.000 de alunos sem bibliotecas.
Mas está na lei que, a partir de 2020, todas as escolas, públicas e particulares, deverão
ter uma biblioteca. A meta é alcançar, no mínimo, um livro por aluno matriculado.
BAIXA RENDA
Nas atuais circunstâncias, 70% da população das escolas públicas são
crianças de famílias de baixa renda.
Um em cada 10 brasileiros com mais de 15 anos ainda não sabe ler e
escrever. Temos 1,8 milhão de jovens de 15 a 17 anos de idade fora da escola.
De um lado, há 25 milhões de pessoas que acessam a internet em suas
casas, mas a escolaridade entre negros e brancos só deverá se igualar em 17 anos. O
tempo médio de estudo entre os que têm mais de 10 anos de idade é de 6,9 anos
(precisamos chegar a 11 anos).
Segundo criterioso levantamento, são áreas prioritárias de emprego:
energia; tecnologia da informação; infraestrutura urbana e construção; Engenharia (no
Brasil formam‐se 20 mil engenheiros por ano, na Índia são 200 mil engenheiros e na
China, 300 mil) e Geologia; Saúde Pública; Geriatria e Oncologia; Genética; Nutrição;
Comunicação e Relações Públicas; Administração; Relações Internacionais; Educação
35
Física; professores de Matemática, Física, Química, Biologia e Filosofia (precisamos
formar – e bem – 350 mil docentes em curto espaço de tempo).
O ensino superior precisa de um novo equacionamento. O objetivo é
avaliar se o que a universidade produz serve e, se serve, para quem. Deseja‐se saber,
por exemplo, se a universidade brasileira está na vanguarda da criação do
pensamento, se está cumprindo o papel de divulgadora do conhecimento e se é um
instrumento de facilidade para o aluno adquirir emprego e ser profissional. Nada
funciona bem, se não for avaliado, e é um contrassenso o funcionamento sem
avaliação: “A universidade é instrumento de construção de um mundo melhor”.
Numa visão concisa da educação brasileira, podemos estabelecer as
seguintes políticas e estratégias a curto e médio prazo:
1. aumentar a participação pública nos investimentos em educação;
2. elaborar um grande plano de assistência ao magistério,
compreendendo a progressão funcional e salários compatíveis, abrangendo o total de
1,5 milhão de professores;
3. aplicar intensivamente a modalidade de ensino à distância na
formação e treinamento de professores e especialistas;
4. determinar às universidades oficiais que promovam gratuitamente a
formação de professores em nível superior, como exige o Plano Nacional de Educação;
5. criar um Fundo de Pensão de Professores, a exemplo do que ocorre
em muitos países no mundo, para melhorar os salários da categoria quando chegar a
hora da aposentadoria;
6. ampliar o atendimento de 25 milhões de deficientes e 5 milhões de
indivíduos portadores de altas habilidades (superdotados);
7. ampliar significantemente o número de vagas nas escolas públicas de
nível superior (cursos noturnos);
8. apoiar iniciativas educacionais do Sistema S (Senac, Sesc, Senai, Sesi e
Senar), pelo sucesso e seriedade dos seus empreendimentos nacionais;
9. implementar o Plano Nacional de Educação, com ênfase absoluta na
Qualidade do Ensino, em todos os níveis;
10. criar projeto de valorização da Língua Portuguesa e da nossa
Literatura. O objetivo maior é trabalhar o idioma em todos os graus de ensino – e de
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forma obrigatória. Os livros doados pelo Poder Público, segundo criteriosa avaliação,
devem ser acompanhados por um treinamento adequado dos mestres, com a garantia
de que as obras chegarão aos alunos, o que hoje nem sempre ocorre;
11. modernizar todo o sistema, com o amplo emprego das tecnologias
educacionais que marcam a Sociedade do Conhecimento;
12. fazer da qualidade o grande projeto nacional de aperfeiçoamento do
ensino brasileiro, envolvendo escolas públicas e particulares.
Por aí existe um caminho a ser percorrido pelos participantes do
sistema, para que se tenha a educação como agente de transformação e sustentação
da sociedade brasileira.
PLANOS DE EDUCAÇÃO NÃO CUMPREM ETAPAS
A três meses do prazo final, apenas 2,8% dos 5.570 municípios
brasileiros já chegaram à última fase da adequação ou elaboração de seu plano
municipal de educação. Mais da metade deles (52,2%) ainda estão na primeira etapa
(criação da comissão responsável por elaborar o plano), e 14% dos municípios sequer
criaram essa comissão, segundo dados do Ministério da Educação. De acordo com o
Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado em 2014, no dia 24 de junho todos os
estados e municípios já devem ter terminado seus próprios planos, alinhados ao plano
nacional.
No caso dos planos estaduais, três dos 27 estados já tinham cumprido
todas as etapas até a sanção da lei: Maranhão, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Outros quatro, além do Distrito Federal, já elaboraram o plano, mas ele ainda não foi
aprovado pela Assembleia Legislativa e sancionado pelo governador. São eles Rio
Grande do Sul, Rondônia, Roraima e Santa Catarina. Cinco estados seguem na primeira
etapa, e apenas formaram a comissão, até agora: Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Paraná
e Sergipe.
Os atrasos, no entanto, não estão diretamente relacionados a multas ou
outras sanções. Embora o PNE tenha sido aprovado e suas regras e metas já estejam
valendo, ainda não há uma regulamentação que especifique responsabilidades para os
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gestores que descumprirem os prazos e metas. Os gestores estão, porém, submetidos
a possíveis ações civis públicas, caso não sigam a legislação vigente.
Cada rede precisa cumprir diversas etapas antes da conclusão do plano.
Quando o projeto for aprovado, o último passo é a sanção do Poder Executivo.
Considerando apenas os municípios que já finalizaram todas as etapas, inclusive a
sanção da lei, o número de planos municipais prontos no Brasil subiu de 37 para 46, o
que representa um aumento de 0,66% para 0,8% de todos os municípios brasileiros.
Por outro lado, o número de municípios que ainda não iniciaram o
trabalho caiu pela metade. Em dez estados brasileiros, não há municípios que ainda
não cumpriram pelo menos o primeiro passo dessa tarefa.
O MEC afirma que a Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino (Sase)
tem acompanhado o processo junto aos coordenadores estaduais, e que os gestores
municipais e estaduais contam com uma equipe de 297 técnicos, supervisores e
coordenadores para auxiliar os secretários que estão com maior dificuldade para
cumprir o prazo.
CONCLUSÕES
Estamos vivendo uma época de ruptura necessária, a caminho das
transformações sociais exigidas pelo povo brasileiro. A educação entrou nesse
processo irreversível, para alcançar a “Pátria Educadora”. Atinge a universalização do
ensino fundamental e agora vive a explosão de demanda do ensino médio, com as
duas vertentes propostas na nova lei: o ensino médio propedêutico e a formação
profissional que conduz à existência de técnicos formados em nível intermediário,
como há muito reclama o nosso desenvolvimento econômico e social.
Dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação mostram que o
MEC já gastou, desde 2009, 479 milhões de reais no programa do Governo Federal
intitulado Ensino Médio Inovador. A reforma foi uma das principais bandeiras de
campanha à reeleição da presidente Dilma, que elegeu o lema “Brasil, Pátria
Educadora” para sua atual gestão. Apesar do crescente investimento, o último Índice
de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) apontou que não houve avanço no
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ensino médio entre as avaliações de 2011 e 2013 – o indicador manteve‐se em 3,7,
abaixo da meta fixada para 2013, que era 3,9.
A exigência de nota mínima no Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) para quem quiser obter o Financiamento Estudantil (Fies) vai afetar justamente
o principal público do programa: os mais pobres. Os dados mais recentes da prova
disponíveis revelam que 93% dos alunos que não atingem o novo limite de 450 pontos
na média são de famílias com renda de até 5 salários mínimos.
Esse é o perfil de renda que responde, por exemplo, por 86% dos
contratos ativos do Fies. Estudos já mostraram que a renda familiar é um dos fatores
que mais influenciam no desempenho escolar. Os dados foram tabulados com base
nos microdados do Enem pela Meritt Informação Educacional. Metade dos 5,7 milhões
de pessoas que fizeram o Enem não alcançou, em 2012, o mínimo estipulado.
Os gastos do Governo Federal com o programa (que preferimos chamar
de “investimentos”) passaram de R$ 1,1 bilhão, em 2010, para R$ 13,7 bilhões em
2014. Mas o ritmo de crescimento do número de alunos nas universidades privadas
acabou caindo para 2,5% ao ano ‐ metade do que foi registrado no início do governo
Lula.
O Ministério da Educação (MEC) tem restringido novos contratos e, nas
renovações, colocou limite de reajuste de 6,4%. Mas a principal decisão anunciada
oficialmente foi a criação da pontuação mínima no Enem para quem quiser aderir ao
Fies.
As chances de alguém de família com renda de até 1 salário mínimo
mensal não conseguir o financiamento chegam a ser 20 vezes maiores do que alguém
no outro extremo das faixas de renda, cuja família ganha mais de 20 salários por mês.
O MEC conseguiu travar a demanda pelo Fies, mas o impacto não tem a mesma força
sobre todos. Atinge os mais pobres.
Quanto menor a renda, maior a proporção de participantes que não
atingiram a nota mínima. Entre os 2,7 milhões de candidatos com renda familiar de até
1,5 salário mínimo que fizeram o Enem em 2012, por exemplo, 63% não atingiram o
critério. Na outra ponta, o porcentual é de 17% entre os candidatos com mais de 10
salários.
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O MEC defende a exigência como maneira de estimular os alunos a
buscar melhor pontuação no Enem e aumentar a qualidade do ensino superior. A pasta
ressalta que mais de 550 mil candidatos com renda familiar de até 1 salário mínimo ‐
ou 2,6 milhões, se o limite de renda analisado for de 5 salários ‐ atenderiam à nova
regra de pontos.
Não podemos e não queremos ser caudatários de nações pós‐
industrializadas ou dos surpreendentes e assustadores “tigres asiáticos”. A educação
farta, generosa e de qualidade é o melhor caminho a ser trilhado, pois a especialização
traz como consequência imediata os ganhos de produtividade.
O mundo vive a dicotomia cruel: de um lado, altas tecnologias e, de
outro, mão‐de‐obra de baixa qualificação (no caso da China, com salários miseráveis
pagos aos trabalhadores, provocando uma competição perversa).
O simples adestramento de trabalhadores não parece o ideal. Ele
resolve questões de momento, com oportunismo, não levando a soluções duradouras.
A globalização da economia, muito boa para certos países, já nos trouxe
problemas internos graves, como os que ocorrem na indústria naval, a indústria de
brinquedos e a indústria têxtil. Apresenta‐se uma perspectiva favorável para o Brasil
em produtos agropecuários e produtos minerais (minério de ferro, bauxita e
manganês).
Devemos levar a nossa política de recursos humanos a considerar todos
esses fatos, na diversificação necessária. Sob esse aspecto, o papel do novo ensino
médio é estratégico e essencial, podendo elevar a qualidade dos nossos produtos,
valorizando a mão‐de‐obra indispensável e distribuindo melhor e de forma bem mais
equitativa a renda nacional.
Concluímos afirmando que tudo será possível ‐ e em curto espaço de
tempo ‐ se se mantiver o atual empenho das autoridades e se professores e
especialistas, numa escola renovada e com os equipamentos necessários, estiverem
formados e dispostos, com uma remuneração mais compatível, a vencer esse desafio
nada quixotesco. Assim poderá prevalecer, para o bem do País, o que vimos
denominando de novo humanismo tecnológico.