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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO RELATÓRIO TÉCNICO 1 Os problemas na liquidação e pagamento da despesa em uma Unidade Gestora do Exército Brasileiro. Eduardo de Melo Araujo [email protected] UFF/ICHS Resumo Este trabalho tem o intuito de apontar como são realizados os processos da despesa nas Unidades Gestoras do Exército Brasileiro, no qual são elencados os principais obstáculos que afetam a ordem dos procedimentos formais dentro da unidade, bem como as consequências geradas por problemas encontrados nas liquidações e pagamento, causando o desperdício de recursos públicos principalmente em períodos de crises econômicas no país. Os problemas mais comuns são as demoras na entrega dos materiais e serviços, entregas com incorreções nas notas fiscais e/ou produtos, ocasionando a demora na conclusão do processo da despesa e gerando restos a pagar, sendo que tais problemas partem do fornecedor. Têm-se ainda, os problemas provocados pela Administração Pública, como a demora na liberação de numerário para efetuar os pagamentos e a falta de créditos para o processo da despesa. Palavras-chave: Liquidação, pagamento e despesa. 1 - Introdução O presente relatório tem o intuito de elencar o processo da liquidação e pagamento da despesa em uma Unidade Administrativa Autônoma do Exército Brasileiro, mais precisamente no 17º Batalhão Logístico Leve, situado em Juiz de Fora - MG, apontando todos os procedimentos necessários para sua realização prevista em legislação, bem como apontar as dificuldades quanto à sua execução com relação ao recebimento de materiais para a concretização desses processos e o recurso para efetivação da quitação junto ao fornecedor. O que ocorre nas unidades das Forças Armadas é a existência de uma descentralização quanto a autonomia administrativa dessas unidades, diferentemente de diversos órgãos do governo que centralizam suas despesas e os problemas financeiros. Os procedimentos para a busca de soluções nas Forças Armadas são tomadas isoladamente junto ao órgão que descentraliza os recursos, então os problemas encontrados em uma unidade são repetidos em diversas outras, ou seja, períodos de crise financeira trazem igualmente para todos os quartéis as dificuldades impostas pela falta de recursos financeiros, ocasionando problemas relacionados a multas e juros, perdas de crédito por falta de entrega de materiais por parte de fornecedores e atraso no repasse financeiro para pagar os fornecedores. Inicialmente será apresentado o caso a ser analisado, onde o foco é apresentar os problemas mais comuns que envolvem a liquidação e o pagamento do fornecedor. Logo a

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

1

Os problemas na liquidação e pagamento da despesa em uma Unidade

Gestora do Exército Brasileiro.

Eduardo de Melo Araujo – [email protected] – UFF/ICHS

Resumo

Este trabalho tem o intuito de apontar como são realizados os processos da despesa nas

Unidades Gestoras do Exército Brasileiro, no qual são elencados os principais obstáculos que

afetam a ordem dos procedimentos formais dentro da unidade, bem como as consequências

geradas por problemas encontrados nas liquidações e pagamento, causando o desperdício de

recursos públicos principalmente em períodos de crises econômicas no país. Os problemas

mais comuns são as demoras na entrega dos materiais e serviços, entregas com incorreções

nas notas fiscais e/ou produtos, ocasionando a demora na conclusão do processo da despesa e

gerando restos a pagar, sendo que tais problemas partem do fornecedor. Têm-se ainda, os

problemas provocados pela Administração Pública, como a demora na liberação de numerário

para efetuar os pagamentos e a falta de créditos para o processo da despesa.

Palavras-chave: Liquidação, pagamento e despesa.

1 - Introdução

O presente relatório tem o intuito de elencar o processo da liquidação e pagamento da

despesa em uma Unidade Administrativa Autônoma do Exército Brasileiro, mais

precisamente no 17º Batalhão Logístico Leve, situado em Juiz de Fora - MG, apontando todos

os procedimentos necessários para sua realização prevista em legislação, bem como apontar

as dificuldades quanto à sua execução com relação ao recebimento de materiais para a

concretização desses processos e o recurso para efetivação da quitação junto ao fornecedor.

O que ocorre nas unidades das Forças Armadas é a existência de uma descentralização

quanto a autonomia administrativa dessas unidades, diferentemente de diversos órgãos do

governo que centralizam suas despesas e os problemas financeiros. Os procedimentos para a

busca de soluções nas Forças Armadas são tomadas isoladamente junto ao órgão que

descentraliza os recursos, então os problemas encontrados em uma unidade são repetidos em

diversas outras, ou seja, períodos de crise financeira trazem igualmente para todos os quartéis

as dificuldades impostas pela falta de recursos financeiros, ocasionando problemas

relacionados a multas e juros, perdas de crédito por falta de entrega de materiais por parte de

fornecedores e atraso no repasse financeiro para pagar os fornecedores.

Inicialmente será apresentado o caso a ser analisado, onde o foco é apresentar os

problemas mais comuns que envolvem a liquidação e o pagamento do fornecedor. Logo a

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

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seguir será apresentado o embasamento teórico com relação aos procedimentos a serem

executados, e por fim as ações que são realizadas para a correção dos problemas encontrados.

2 – Apresentação do Caso

A situação aqui apresentada é delimitada pelos processos de liquidação e pagamento

no Exército Brasileiro, sendo utilizado para isso o 17º Batalhão Logístico Leve (Unidade

Gestora: 160116), onde seu foco é a logística e a manutenção de viaturas e armamento das

unidades militares da região de Minas Gerais.

A caracterização desta Unidade estudada tem como consequência um movimento de

recursos maiores que as outras unidades do Exército, devido ao fato de ser responsável por

realizar o apoio técnico indispensável para o funcionamento das demais unidades. Isso leva a

organização a ter maiores necessidades de materiais, a licitar mais, gerando uma quantidade

vultosa de compromissos com fornecedores.

Essa quantidade de compromissos gerados possuem lados positivos e negativos para

os processos executados na Organização Militar em questão, pois junto com as necessidades e

os maiores recursos para realização de licitações, acompanham também os problemas de

diversos tipos, como falta do material especificado, demora na entrega, a entrega de produto

com especificações diferentes, erros na conferência da comparação entre nota de empenho e

nota fiscal e a demora na quitação da despesa com o fornecedor, com a imputação de juros e

multas.

O foco é mostrar as consequências ocasionadas pelos problemas gerados na liquidação

e pagamento da despesa, bem como todas as possibilidades de soluções, onde destaca-se as

ações realizadas pelo setor financeiro da unidade para evitar os pagamentos de multas e juros

a fornecedores, o contato direto junto aos fornecedores para entrega em tempo hábil dos

materiais e/ou serviços contratados, evitando-se os restos a pagar e a possível perda de

créditos orçamentários caso o fornecedor não cumpra seus deveres acordados quanto as

entregas contratadas.

2.1 – Processos que antecedem a liquidação e o pagamento

A despesa inicia-se com a necessidade estipulada pelos setores da organização e a

autorização para gastar (créditos orçamentários), dando origem à requisição do material por

parte do interessado, tendo como consequência os processos licitatórios para apontar as

propostas mais vantajosas dos serviços e/ou materiais necessários para a Administração

Pública.

Posteriormente, com a definição do licitado, entra-se na primeira fase da despesa e a

assunção do compromisso da Administração Pública com o fornecedor, por intermédio da

emissão do empenho. A partir do empenho, ambas as partes possuem direitos e obrigações em

relação ao compromisso firmado. O fornecedor tem o dever de entregar o serviço e/ou

material acordado dentro do especificado e o direito de receber o valor estipulado, já a

Administração Pública possui o direito de receber o material e/ou serviço especificado e o

dever de quitar seus compromissos com o fornecedor.

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

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2.2 – Liquidação e pagamento da despesa

Os processos em questão são realizados pelo Setor Financeiro da Unidade

Administrativa, cujo processo inicia-se com o recebimento da Nota de Empenho (NE) e a

Nota Fiscal (NF) do fornecedor, recebidas anteriormente pelo Almoxarifado da Unidade, que

possui a incumbência de atestar o recebimento do material especificado.

O Setor Financeiro de posse das NE e NF faz a conferência comparativa das mesmas,

bem como se todas as certidões do fornecedor como o Fundo de Garantia do Tempo de

Serviço (FGTS), Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e Receita Federal, estão

regularizadas. Terminado o passo anterior, a despesa poderá ser liquidada junto ao Sistema

Integrado de Administração Financeira (SIAFI), ou seja, é a confirmação para a Unidade

Orçamentária que os estágios anteriores foram cumpridos. O passo seguinte é a liberação do

recurso financeiro (numerário) pela Secretaria de Economia e Finanças do Exército (SEF) por

intermédio da sua Diretoria de Contabilidade à unidade, no qual realiza o pagamento ao

fornecedor e quita o compromisso firmado. O processo é detalhado através do fluxograma de

liquidação e pagamento da despesa abaixo.

FLUXOGRAMA

Fonte: Elaborado pelo autor

Pode-se ainda ressaltar neste processo, que todos os documentos gerados são

previamente autorizados pelo Ordenador de Despesas, sendo este o responsável pelo

gerenciamento da Unidade Administrativa, além disso, dentro deste processo está inserido o

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

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responsável pela conformidade de todos os registros documentais, atestando todo o

procedimento realizado depois de concluído.

2.3 – Problemas quanto à quitação da despesa

O item 2.2 passa uma visão geral de um processo sem nenhum tipo de erros e/ou

falhas, porém acontece em algumas situações, problemas neste percurso, e justamente é o

ponto a ser considerado neste relatório.

Há grande dificuldade de se contratar na Administração Pública por diversos fatores,

mas uma das grandes questões é a escassez de recursos que ocasiona a demora em pagar o

fornecedor, é notório, principalmente em períodos de crises financeiras que o país passa,

muitos ajustes fiscais são realizados, afetando diretamente os órgãos da administração.

Esses ajustes influenciam diretamente no fornecimento de materiais e/ou serviços, pois

o fornecedor realiza a entrega do material, cumprindo sua parte no acordo, e o seu direito de

receber o que é devido atrasa, pela dificuldade de liberação financeira dos órgãos superiores,

o que ocasiona juros e multas.

Outro problema pontual é a geração de restos a pagar, causado principalmente pelo

fornecedor, cujo fornecimento do especificado ou sua falta, causa demora na entrega, o que

impossibilita a liquidação e o pagamento, transpondo o exercício financeiro corrente, podendo

causar até o cancelamento do acordo em alguns casos, trazendo prejuízo a Unidade

Administrativa no que diz respeito à perda do crédito para cumprir determinadas

necessidades. Vale lembrar neste ponto que a perda do crédito não gera desperdício para a

Administração Pública, mas a perda de oportunidades para a unidade em questão.

A tabela 1 apresenta características a serem observadas com relação aos problemas

apontados, com enfoque nos potenciais, pontos de defesa, debilidades e vulnerabilidades do

processo.

Tabela 1 - Matriz FOFA (SWOT)

Matriz FOFA Análise Externa

OPORTUNIDADES (O)

Análise Externa AMEAÇAS

(A)

Análise Interna

FORTES (F)

- Análise e contratação de

fornecedores confiáveis e históricos

favoráveis;

- Entrega do serviço e/ou materiais

especificados em tempo hábil e

sem erros; e

- Tempestividade para liquidar e

pagar a despesa realizada.

- Demora no fornecimento do

serviço e/ou material, gerando

restos a pagar;

- Fornecedores pouco confiáveis; e

- Cobrança aos fornecedores para

tempestividade na entrega do

material.

Análise Interna

FRACOS (F)

- Erros na confecção do empenho

ou da parte requisitória do

interessado; e

- Demora na liberação de recursos

para quitação do compromisso

junto ao fornecedor.

- Falta de interesse do fornecedor

em fornecer para a Administração

Pública devido à demora no

recebimento do recurso

Fonte: Elaborado pelo autor

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

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Deve-se considerar que a busca pela eficiência nas instituições públicas tem que estar

direcionada para seus pontos fortes e as oportunidades encontradas, mas sempre mapeando o

que se espera melhorar.

3 – Referencial Teórico

3.1 – Unidade Administrativa Autônoma

É uma Unidade investida do poder de gerir créditos orçamentários e/ou recursos

financeira através do SIAFI.

Art. 11. Unidade Administrativa é a Organização Militar estruturada para o exercício

de administração própria, possuindo competência para gerir bens da União e de

terceiros e à qual foi concedida autonomia ou semi-autonomia administrativa.

§ 1º UA autônoma é a que dispõe de organização e meios para exercer plena

administração própria e tem competência para praticar todos os atos e fatos

administrativos decorrentes da gestão de bens da União e de terceiros, bem como

estudar. encaminhar, dar parecer e julgar direitos (RAE – R3, p.5).

3.2 – Crédito e Numerário

3.2.1 – Crédito

É a autorização legislativa para a realização de despesa, destinada à emissão de

empenho. Sua descentralização acontece de uma Unidade Orçamentária para a Unidade

Administrativa, conforme explica Giacomoni (2002, p.28):

Entende-se como descentralização de créditos à transferência, de uma Unidade

Orçamentária para outra Unidade Gestora ou Orçamentária, do poder de utilizar

créditos orçamentários ou adicionais que estejam sobre sua supervisão ou lhe

tenham sido dotados ou transferidos.

O crédito nada mais é que o direito que a organização tem de gastar, ou seja, o direito

de assumir o compromisso de uma despesa junto ao fornecedor.

3.2.2 – Numerário

“É o recurso financeiro necessário à satisfação dos compromissos assumidos através

do empenho.” (art. 50, Decreto-Lei Nº 200). É o dinheiro propriamente dito. No Exército seu

sub-repasse as Unidades Administrativas é realizado pela Secretaria de Economia e Finanças

(SEF). Segundo Piscitelli (2002, p.173):

O sub-repasse é a liberação de recursos do órgão setorial de programação financeira,

no caso do Exército é a SEF, para as unidades gestoras de sua jurisdição e entre as

unidades gestoras de um mesmo Ministério, órgão ou entidade.

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

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3.3 – Estágios da Despesa

Segundo Giacomoni (2002), os estágios da despesa possuem três procedimentos, a

saber: empenho, liquidação e pagamento.

3.3.1 – Empenho

Toda despesa para ser realizada, depende de empenho prévio, não podendo exceder os

limites do crédito que foi descentralizado.

Segundo a Lei Nº 4320/64, o empenho da despesa é o ato emanado da autoridade

competente que cria para o Estado a obrigação de pagamento pendente ou não de implemento

de condição.

O Conselho Federal de Contabilidade traz na sua conceituação o seguinte:

É o ato da autoridade competente ou, por delegação de competência, dos vice-

presidentes, do diretor executivo e/ou de outro designado para tal, que cria para o

Conselho a obrigação do pagamento dentro do limite dos créditos concedidos no

orçamento para cada despesa.

É prévio, ou seja, precede a realização da despesa e está restrito ao limite do crédito

orçamentário; consequentemente, é vedada a realização de despesa sem prévio

empenho. A emissão do empenho deduz o seu valor da dotação orçamentária,

tornando a quantia empenhada indisponível para nova aplicação.

3.3.2 - Liquidação

Esse é o segundo estágio da despesa, onde são procedidas às verificações e avaliações

sobre o cumprimento do credor, das condições determinadas na licitação, contrato, empenho,

etc.

Segundo Giacomoni (2002, p.268),

A liquidação consiste na verificação do direito adquirido pelo credor, tomando-se

por base os títulos e documentos que comprovam o respectivo crédito.

A liquidação deverá considerar ainda:

1. O contrato, ajuste ou acordo respectivo;

2. A Nota de Empenho; e

3. Os comprovantes de entrega de material ou prestação efetiva do serviço.

A Lei Nº 4320/64, no se capítulo III esclarece o seguinte com relação ao assunto:

Art. 62. – O pagamento da despesa só será efetuado quando ordenado após sua

regular liquidação.

Art. 63. – A liquidação da despesa consiste na verificação do direito adquirido pelo

credor, tendo por base os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito.

§1º Essa verificação tem, por fim, apurar:

I – a origem e o objeto do que se deve pagar;

II – a importância exata a pagar;

III – a quem se deve pagar a importância, para extinguir a obrigação.

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

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§2º A liquidação da despesa por fornecimentos feitos ou serviços prestados terá por

base:

I – o contrato, ajuste ou acordo respectivo;

II – a nota de empenho;

III – os comprovantes da entrega de material ou da prestação efetiva do serviço.

3.3.3 - Pagamento

O último estágio da despesa, que segundo Giacomoni (2002), possui dois momentos, a

ordem de pagamento, que constitui no despacho pela autoridade competente da unidade

dirigida, ou seja, neste caso o Ordenador de Despesas e o outro momento o pagamento

propriamente dito.

O art. 64, Lei Nº 4320/64, esclarece que a ordem de pagamento é o despacho exarado

por autoridade competente, determinando que a despesa seja paga.

O Conselho Federal de Contabilidade aponta em sua INSTRUÇÃO DE TRABALHO

– INT/VPCI Nº 001/2007, o seguinte:

O pagamento é o último estágio da despesa. Por ele se extinguem as obrigações

assumidas com terceiros.

O pagamento é ordenado pela autoridade competente, quando a despesa for

considerada liquidada ou processada.

A Ordem de Pagamento só poderá ser exarada em documentos processados pelo

Setor Financeiro, tais como: emissão de cheques, DOC, TED, depósitos ou outros

procedimentos adotados pelos Conselhos, e encaminhados, posteriormente, ao Setor

de Contabilidade, para as providências sob sua responsabilidade.

3.4 – Restos a Pagar

Consideram-se Restos a Pagar as despesas empenhadas mas não pagas até o dia 31 de

dezembro distinguindo-se as processadas das não processadas.

Deste modo, a despesa orçamentária empenhada que não for paga até o dia 31 de dezembro,

final do exercício financeiro, será considerada como Restos a Pagar, para fins de

encerramento do correspondente exercício financeiro. Uma vez empenhada, a despesa

pertence ao exercício financeiro em que o empenho ocorreu, onerando a dotação orçamentária

daquele exercício. No art. 36, da Lei nº 4.320/64 é apontado o seguinte:

Entende-se por Restos a Pagar de Despesas Processadas aqueles cujo empenho foi

entregue ao credor, que por sua vez já forneceu o material, prestou o serviço ou

executou a obra, e a despesa foi considerada liquidada, estando apta ao pagamento.

Nesta fase a despesa processou-se até a liquidação e em termos orçamentários foi

considerada realizada, faltando apenas à entrega dos recursos através do pagamento.

Já os Restos a Pagar de Despesa Não Processada são aqueles cujo empenho foi

legalmente emitido, mas depende ainda da fase de liquidação, isto é, o empenho fora

emitido, porém o objeto adquirido ainda não foi entregue e depende de algum fator

para sua regular liquidação; do ponto de vista do Sistema Orçamentário de

escrituração contábil, a despesa não está devidamente processada.

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

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É justamente os Restos a Pagar de despesa não processada que causa o transtorno com

relação à perda de créditos por parte da unidade, pois se o fornecedor não cumprir sua parte

do contrato, não entregando o acordado, cabe a Administração Pública cancelar o

compromisso, deixando de adquirir um material e/ou serviço, devolvendo o crédito aos órgãos

superiores.

Quanto ao cancelamento, Kohama (1999, p. 77 e 79) fez os seguintes comentários:

Poderá haver necessidade de cancelamento de restos a pagar e, quando isto ocorrer,

nesta parte o valor será considerado como pago, do ponto de vista financeiro, e, ao

mesmo tempo, a contrapartida desse registro contábil, como consequência será

considerada como recolhimento de receita orçamentária, embora seja uma operação

contábil, aliás, alguns chamam de “receita figurativa”. Em razão dos restos a pagar,

quando inscritos como contrapartida contábil constituírem receita extra

orçamentária, atendendo ao disposto no parágrafo único, do art. 103, da Lei nº

4320/64, para compensar sua inclusão na despesa orçamentária, essa operação será

refletida no passivo financeiro como dívida flutuante.

O cancelamento dos restos a pagar se constituirá em despesa extra orçamentária,

demostrada como baixa de pagamento, apesar de não ter havido desembolso financeiro.

3.5 – Multas e Juros

A mensagem SIAFI NR 2010/ 0471465, DE 3 DE MARÇO DE 2011, da 11ª

Inspetoria de Contabilidade e Finanças do Exército, amparada pelo ACÓRDÃO Nº 20/2008 -

TCU - 2ª CÂMARA, esclarece o seguinte em relação ao assunto:

... 3. As despesas com juros e multas por atraso no pagamento de fatura oneram

irregularmente o erário com a criação de encargos adicionais que não se coadunam

com o caráter público da despesa ou com os gastos próprios da administração

pública, ferindo o princípio da economicidade e da eficiência. A exemplo, o TCU

manifestou recomendações no Acórdão nr 20/2008 – 2ª câmara, da seguinte forma:

...“1.2.quando houver pagamento de contas (tais como telefone, energia elétrica,

água, etc.) de responsabilidade do órgão em atraso, que venha a acarretar prejuízo

para o erário em encargos tais como juros de mora e multa, adote providências para

a identificação do responsável pela falha, a fim de se proceder à cobrança amigável

ou ao desconto em folha de pagamento do prejuízo causado pelo servidor, nos

termos do art. 46 da lei 8.112/90”... (p.12)

4. Em face do acima exposto, oriento-vos a:

A.estabelecer no instrumento contratual as regras para devolução de faturas que não

estejam dentro do prazo previsto para o pagamento tempestivo;...

Outra orientação a ser considerada é a constante na alínea “a”, do item 8, do Capítulo

IV, do Manual da DGO – Orientações aos Agentes da Administração 2015, que aponta o

seguinte:

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

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Com o objetivo de reduzir o atraso nas liquidações de despesas com concessionárias

de serviços públicos, e, consequentemente, os gastos com multas e juros, oriundos

da demora no recebimento de faturas, esta Diretoria informa que as apropriações

destas despesas poderão ser realizadas com base nas faturas emitidas por meio do

sítio das empresas, que fornecem esse serviço na internet.

4. Plano de Ação Neste ponto cabe destacar quais são as ações tomadas para a redução ou a eliminação

dos problemas gerados pelos processos de liquidação e pagamento no Exército, aqui foca-se

principalmente na geração de juros e multa por atraso de pagamento aos fornecedores e a

geração de restos a pagar por falta do material a ser entregue e/ou fora de especificação,

acarretando a perda do crédito disponibilizado a Unidade Gestora. Para isso será apresentado

na tabela 2, um quadro com as respectivas ações realizadas pelo 17º Batalhão Logístico Leve.

Tabela 2 - Plano de Ação de Liquidação e Pagamento da despesa

Ação Quem

Executa? Quando? Onde? Por que? Como?

Recebimento/

Conferência NE

e NF.

Setor

Financeiro

Imediatamente

após o

recebimento da

NE e NF

Setor

Financeiro

Evitar erros na liquidação

da despesa, evitando

retrabalho e atrasos no

pagamento.

Confrontando NE

e NF.

Lançamento no

SIAFI

Setor

Financeiro

Após confronto

das NE e NF

Setor

Financeiro

A tempestividade do

lançamento no SIAFI

proporciona mais tempo

ao órgão que descentraliza

o numerário, sendo este

recebido antes do

vencimento da fatura.

Realizando a

liquidação da

despesa no

SIAFI, ou seja, a

solicitação do

numerário para

pagamento.

Recebimento do

numerário

Setor

Financeiro

Após a liquidação

no SIAFI

Setor

Financeiro

Para quitar as obrigações

com os fornecedores

Efetuando o

pagamento em

domicílio

bancário pré-

determinado,

através de Ordem

Bancária, através

SIAFI.

Envio da

Ordem

Bancária ao

Banco

Setor

Financeiro

Após liberação

no SIAFI, o

Ordenador de

Despesas assina o

documento físico

para envio ao

Banco

Setor

Financeiro

Para autorizar o banco a

liberar o recurso ao

fornecedor

Com o

recebimento do

documento

assinado.

Fonte: Elaborado pelo autor

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

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O plano de ação apresentado é objeto de processos que não tiveram nenhum obstáculo

para sua execução, colocado aqui propositalmente para melhor entendimento das ações

necessárias quando os problemas surgirem no processo, sendo este utilizado para melhor

visualização nas ações a serem tomadas para se evitar a geração de atraso de pagamento /

geração de juros e multas e cancelamentos de créditos devido a restos a pagar.

O atraso de pagamento é gerado principalmente pela escassez de recursos financeiros

na esfera do Governo Federal, no qual o sub-repasse para os órgãos públicos sofrem atrasos,

refletindo na ponta da linha, ou seja, na Unidade Gestora, trazendo em muitos casos a geração

de juros e multas, desperdiçando recursos importantes. Geralmente isso ocorre com os

pagamentos relacionados a despesas de energia elétrica, água, telefone e correios. Algumas

ações são tomadas rotineiramente pelo 17º Batalhão Logístico Leve, como são descritas nos

próximos parágrafos em relação ao quadro do Plano de ação de liquidação e pagamento da

despesa.

Na ação recebimento da NF, no caso das concessionárias de serviço público (Água,

Energia Elétrica, Telefonia e Correios), as faturas atrasam constantemente, fazendo com que

essas cheguem próximas do vencimento ao setor financeiro do 17º Batalhão Logístico Leve,

onde torna-se o tempo entre a liquidação e a liberação do recurso pequeno, fazendo com que o

pagamento seja posterior ao vencimento da fatura, gerando juros e multas para a fatura

posterior. Neste caso adota-se o cadastro pela internet para a retirada prévia das faturas pelo

setor financeiro, aumentando o tempo entre a liquidação e o pagamento. Outras ações

precisam ser tomadas, pois apenas aumentar o tempo entre o acesso à fatura e o pagamento

não resolve o problema totalmente, o setor financeiro precisa estar atento à proximidade da

data de vencimento da fatura e para isso efetua a cobrança através mensagens pelo SIAFI ao

órgão descentralizador dos numerários, alertando sobre o vencimento das obrigações, esse

ponto inclusive é uma das principais ações a tomar, pois vem ocorrendo até a inscrição no

SERASA dos Ordenadores de Despesas por débito com fornecedores, como relatado em

reportagem do Jornal “ O Estado “ no dia 24 de agosto de 2015. Outro relacionamento importante se refere à obrigação entre o fornecedor e o 17º

Batalhão Logístico Leve, ou seja, ela existe logo da confecção da Nota de Empenho, já

existindo o crédito para efetuar a despesa. Então ocorre que o fornecedor não entrega o

material especificado e/ou não o possui, essa demora pode ocasionar a virada do exercício

financeiro sem que o compromisso seja realizado, a despesa é inscrita em restos a pagar,

existindo prazo estipulado em decreto anual para que todo o processo seja concluído, caso

isso não ocorra o compromisso é cancelado e o 17º Batalhão Logístico Leve perde o crédito a

ele destinado. As ações tomadas nesse sentido são mais complicadas, o esforço é grande por

parte da organização, principalmente em relação a conhecer bem a qualificação e o histórico

dos fornecedores e o acompanhamento direto junto ao fornecedor para solucionar as

pendências necessárias dentro do prazo estipulado.

Têm ocorrido também neste período conturbado da economia no Brasil, problemas

com relação à cessação do serviço por parte das concessionárias de serviços públicos junto as

Unidades do Exército que não conseguem realizar o pagamento do serviço prestado, sendo

efetuados cortes de energia, água, esgoto, etc. Com isso, outro patamar de problema surgiu

devido ao não pagamento, dependendo de soluções advindas da Advocacia-Geral da União,

com interferência através de procedimentos judiciais para a continuidade da prestação do

serviço.

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

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O 17º Batalhão Logístico Leve, entre 2013 e 2015, conseguiu evitar o cancelamento de

créditos em torno de 98% com as ações tomadas junto aos fornecedores, propiciando suprir

suas necessidades e evitando a perda de oportunidades de melhoria.

5 – Conclusão

O caso apontado para a consecução do estudo em questão visou abranger a

necessidade de buscar soluções viáveis para superar os problemas encontrados em processos

rotineiros de liquidação e pagamento na Administração Pública, mostrar que algumas medidas

simples servem para aliviar desperdícios de dinheiro público, mesmo em períodos

conturbados da economia no Brasil.

Essas alternativas não eliminam os problemas de maneira definitiva, pelo contrário,

estes continuarão a acontecer, principalmente devido a Unidade Administrativa depender dos

recursos financeiros do Governo Federal, ou seja, por mais atento aos problemas e por mais

iniciativa que se tenha na ponta da linha, o recurso financeiro é liberado por órgãos

superiores, e estes não chegando no prazo, causarão transtornos como cortes do serviço, perda

de oportunidades pelo cancelamento de créditos, juros e multas para todos os órgãos

subordinados da esfera pública.

Cabe aos gestores e executores da Administração Pública que se encontram em

posição desfavorável com relação aos recursos existentes, continuar buscando soluções para

evitar que as perdas de recursos financeiros continuem a acontecer, intensificando as

cobranças aos órgãos de descentralização de créditos e numerários, preparando melhor o

fornecedor para a realidade em que encontra-se o país em relação a parte financeira,

amenizando a expectativa em relação ao recebimento do numerário, ou seja, é importante

deixar claro no momento do início do processo da despesa que atrasos de pagamento estão

ocorrendo, mas que providências estão sendo buscadas para ambas as partes.

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – RELATÓRIO TÉCNICO

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6 – Referências

BRASIL. Decreto-Lei Nº 4320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito

Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos

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