os prémios científicos como fonte de inovação

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  • 8/3/2019 Os Prmios Cientficos como fonte de Inovao

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    Os prmios cientcoscomo fonte de inovao

    Ricardo Abreu (14707)Sociologia da Cincia

    Mestrado em Estudos Sociais da CinciaEste ensaio tem o objectivo de realizar um trabalho acadmico para a Unidade Curricularde Sociologia da Cincia a frequentar pelo autor em epgrafe no mestrado em EstudosSociais da Cincia. Foi proposto fazer uma pesquisa acadmica sobre a relao entre osprmios cientcos e a inovao, temas pouco abordados no mbito da sociologia.Durante a pesquisa bibliogrca o autor vericou que existem diversos sistemas derecompensa no meio cientco e que os prmios cientcos so uma forma de motivaona procura da excelncia. Finalmente, vericou-se ainda que os prmios cientcosapresentados em formatos de competio permitem acelerar o processo de inovaocientca.

    ISCTE-IULJaneiro 2012

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    NDICE

    A. Introduo ! 1

    B. Na senda do progresso cientco ! 2

    C. O reconhecimento no mundo da Cincia ! 3

    D. Os sistemas de recompensa e a inovao ! 5

    E. Os prmios cientcos e a inovao ! 6

    F. Concluso ! 9

    G. Bibliograa! 11

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    A. IntroduoQuando em Maio de 1919 Raymond Orteig, um simples dono de um hotel em NovaIorque, ofereceu cerca de 25 mil dlares a quem conseguisse fazer uma viagem de aviosem paragens entre Nova Iorque e Paris ou vice-versa, criou uma corrida desenfreadaentre os mais excntricos na aeronutica da altura. Orteig teve que esperar at 1924 paraver realizado o seu sonho. Foi precisamente o americano Charles Lindbergh com o seuavio Spirit of St. Louis que alcanou o solo francs aps 30 horas de voo e arrecadou oprmio Orteig.

    Para conseguir esta proeza o Spirit of St. Louis incorporara em si vrias tecnologiasessenciais para conseguir atingir o objectivo nal, incluindo um motor de refrigerao a ar,uma inovao para altura o depsito de combustvel foi colocado na fuselagem em frenteao piloto para melhorar o centro da gravidade, uma inovao nodesign aeronutico.Lindbergh usou ainda na sua aventura um instrumento especial de navegao, umcompasso indutor do campo electromagntico, que permite a navegao da aeronave

    tendo em conta o campo magntico da Terra. Um instrumento de elevada preciso paraos requisitos desta poca.

    Vrios lmes foram produzidos em Hollywood desde o feito do aventuroso avio Spirit ofSt. Louis. Contudo, o legado de Raymon Orteig cou imortalizado no prmio Orteig quenos anos seguintes inspirou outros mais prmios de percursos areos, como o Dole AirRace de 1927, que promovia uma corrida sobre o Oceano Pacico entre So Francisco eo Hawaii, ou o mais recente prmio, X-Prize , de 10 milhes de dlares para a primeiraorganizao no-governamental que lance uma nave espacial duas vezes num espao deuma semana. Este ultimo prmio foi conseguido em Outubro de 2004 pelo projecto TierOne, nanciado em mais de 100 milhes de dlares em novas tecnologias por Paul Allen,co-fundador da Microsoft.

    Estes exemplos de prmios para a conquista dos cus e alm deles, permitiram como seviu, desenvolvimentos de novas tecnologias e inovaes que at ao momento noexistiam. Mas o que move estas mentes desaadoras a criarem novos instrumentos,novos materiais, novas invenes? Como aceleram processo de inovao os diversosprmios e desaos? Que signicado tm os prmios cientcos no sistema deInvestigao e Desenvolvimento? So estas e outras questes que se pretende abordarneste ensaio.

    Este trabalho est estruturado em quatro captulos que abordam a temtica doreconhecimento e recompensa no seio cientco. No primeiro captulo, o autor desteensaio apresenta uma evoluo histrico-sociolgica da cincia, com o intuito de captar aateno do leitor para alguns marcos e personalidades que contriburam para oentendimento do progresso da cincia. O segundo captulo aborda a cincia comoinstituio e como esta promove o desenvolvimento de sistemas de recompensa ereconhecimento dos cientistas para o caminho da inovao. Para a realizao destecapitulo referenciado os trabalhos do socilogo da cincia Robert K. Merton.

    No terceiro captulo, o autor faz uma pequena digresso ao mundo das patentes paraexplicar a relao entre o sistema de recompensas e a inovao. Neste capitulo possvel identicar vrios tipos de sistemas recompensas advogados por diversos autorescom trabalhos publicados no mbito da economia e inovao, como Suzanne Scotchmer.No quarto e ltimo captulo, abordada a relao existente entre os prmios cientcos e

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    a inovao. Neste captulo, o autor do ensaio assentou a sua pesquisa terica emestudos feitos sobre os prmios Nobel como tambm outros mais. de destacar nestecapitulo um relatrio elaborado pela consultora McKinsey sobre economia social, em queanalisa aspectos quantitativos e qualitativos de centenas de prmios, distines erecompensas cientcas.

    Este ensaio tem o objectivo de realizar um trabalho acadmico para a disciplina deSociologia da Cincia a frequentar pelo o autor no mestrado em Estudos Sociais daCincia. Foi proposto fazer uma pesquisa acadmica sobre a relao entre os prmioscientcos e a inovao, temas pouco abordados no mbito da sociologia. Na pesquisabibliogrca foi vericado o crescente nmero de trabalhos sobre prmios cientcos nombito da economia em detrimento da sociologia.

    B. Na senda do progresso cientco

    A cincia de hoje diferente daquela praticada pelos ancestrais, no pela razo principalda curiosidade do Homem e a incessante procura da verdade, mas sim pela forma comoest organizada e como se produz o conhecimento o qual o motor do desenvolvimentoda cincia. Dos gregos como Ptolomeu at ao renascentista Galileu Galilei a cincianavegava por mares muito obscuros, por vezes considerada magia ou feitiaria. ORenascimento vem trazer sociedade da poca, a luz da compreenso da cincia e dasua prtica.

    Podemos dizer que a ruptura entre a antiga e a nova cincia deu-se inicio no sculo XVII,com os diversos trabalhos rigorosos de Galileu, do magnco Isaac Newton, emPhilosophie Naturalis Principia Mathematica , do matemtico Johannes Kepler e muitosoutros lsofos, naturalistas e astrnomos renascentistas. Este perodo foi importante, detal forma que os nomes destes grandes pensadores caram registados nas suasdescobertas e nas suas teorias como a fsica newtoniana ou astronomia copernicana,algo que mais tarde, chamados de paradigmas da cincia, por Thomas S. Kuhn (Kuhn,1996). A prtica cientca deste tempo era marcada fortemente pela racionalidade dosprotagonistas e caracterizada tambm pelo nvel de experimentao usado na produode conhecimento. Contudo durante os sculos seguintes, a cincia esteve subordinadaaos requisitos e dogmas religiosos que em grande parte no permitiria aos cientistaspercorrerem caminhos menos ortodoxos e mais desinibidores da criatividade.

    Foi s no sculo XIX que a cincia conseguiu se afastar da batina eclesistica com osurgimento do puritanismo e a sua forma de encarar a cincia. O espirito puritano de olhara natureza assenta numa relao positiva entre a cincia e a tecnologia, promovendodesta forma o progresso. A tica adjacente a esta corrente holstica motivou aqueles quepraticavam cincia, e puderam a criticar, antecipando objeces e rompendo com acensura da igreja. A secularizao que o puritanismo trouxe cincia levou eliminaodas restries religiosas no trabalho cientco, permitindo ao mtodo cienticoproporcionar a inveno tecnolgica. Este perodo foi considerado pelo socilogo RobertMerton (Merton & Sztompka, 1996), como a ascenso da cincia moderna.

    A revoluo cientca foi a portadora de grandes mestres tericos e loscos. Mas com oerguer da cincia moderna, o caminho trilhado diversicou-se por campos cientcos semrestries. Das cincias naturais como a fsica, a qumica, a biologia ou astronomia, scincias sociais da poltica, lingustica ou economia. O socilogo Randall Collins (Collins,

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    2000), divide esta estrutura da cincia em dois pilares: os grupos de especialistasorganizados em redes de especialidade cientca; e o processo de secularizao. Ouseja, a organizao em rede de intelectuais permitiu a gerao de mais criatividade e adisseminao da cincia e tecnologia. E a sada da igreja do controlo da cincia permitiuaumentar da produo de conhecimento. Estas duas grandes mudanas no seio daestrutura cientca dominante originaram maior competitividade entre os especialistas(Collins, 2000).The connection between the two great changes is structural: the organizational breackdown of church led theological intelectuals on all sides to seek new alliances,energizing conits in astronomy and mathematics and endowing them with general signicance. For a time, competition over technical innovation became a main focus of intellectual attention (Collins, 2000).

    O sculo XX vem trazer para a cincia elementos novos quer cientcos quer sociais e deorganizao, que anteriormente no assumiam um peso signicativo na estruturacientca. Com o advento de 1900, surgem tambm novas e emergentes disciplinas comoa teoria da informao, as telecomunicaes ou as cincias dos materiais. No foi s aonvel das disciplinas que as mudanas se notaram, mas tambm ao nvel das redes deespecialistas. Estas tornaram-se mais prossionalizadas originando escolas depensamento, onde o debate pblico mais generalizado e a competitividade entre paressurge como elemento essencial para o progresso cientco. Richard Whitley (Whitley,2000) diz mesmo que esta forma de produzir conhecimento a fonte para inovao ebase para a criao de novas industrias.

    Vrias escolas de pensamento surgiram neste perodo, promovendo o debate de ideias eoriginando uma corrida dos cientistas competio pela publicao dos seus trabalhos de

    forma serem reconhecidos dentro e fora dos crculos de produo de conhecimento. Estacompetio era to aguerrida que levou o lsofo Karl Popper a armar que todas asteorias devem ser escrutinadas at se encontrar provas da sua falsidade. Para estelosofo pertencente escola positivista de Viena, no existe tal coisa como a verdadeabsoluta e o progresso cientico faz-se com julgamentos e retrica, imortalizado no seutrabalho de 1963Cunjectures and Refutation (Popper, 2002).

    C. O reconhecimento no mundo da Cincia

    O sculo XX foi sem dvida marcado pelo o avano cientco transversal a todas as reasdo saber. Esta nova forma de produzir conhecimento com escrutnio entre cientistas levoua cincia para outro patamar um nvel em que a sociedade ouvida e as organizaesso veculos das inovaes tecnolgicas. A este novo sistema de produo deconhecimento e de uma prtica cientca em que vrias cincias interagem entre si e comas outras levou a Michael Gibbons e seus colegas a designar oModo 2 da produo de conhecimento (Gibbons, 1994).

    Esta forma de produo de conhecimento perdura at ao nossos dias e caracterizadapor uma cincia aberta e sem fronteiras. Gibbons (1994), arma que a cincia j no exclusiva dos centros clssicos do saber, como as universidades, a produo deconhecimento pode ser feita em organizaes, indstrias e laboratrios governamentais.E nesta constelao de instituies e actores da cincia, mais ou menos especializados,existe uma rede de difuso e absoro de conhecimento cientco e intelectual. Existe

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    tambm, rivalidades e sistemas variados de recompensas para o contributo intelectualdos actores. Sistemas estes essenciais, segundo Whitler (2000), para a obteno derecursos e investimentos para a produo de cincia.

    Como Merton (Merton & Storer, 1979a) arma, a cincia como instituio anloga soutras instituies que integram a dinmica da sociedade. Por isso, possui normas,valores e uma organizao sistmica. Contudo esta instituio diferente, tem apeculiaridade de assentar o seu desenvolvimento no avano da cincia e doconhecimento tornando-a em muito original. Uma caracterstica das instituiescontemporneas a forma como motivam os seus constituintes a alcanar os objectivosda instituio. A cincia tambm tem uma forma de recompensa associada aoreconhecimento honorco dos cientistas e da prpria instituio. Para Merton(1979a), seo aumento do conhecimento e da reputao dos cientistas coincidirem, a instituiocincia torna-se mais ecaz, ou seja, os objectivos da instituio e a recompensa doscientistas esto juntos numa nalidade comum.

    Richard Witley (2000) rma esta convico de Merton ao sustentar que o factor principalde recompensa do cientista a reputao intelectual. E a cincia como instituio deinvestigao cientca, fomenta as oportunidades e as promoes de carreira dos seuscolaboradores com base na produo de conhecimento e inovao. Esta metodologia dereconhecer o trabalho do cientista pela sua produo cientca (i.e trabalhos publicados)tem originado algumas controversias no seio cientco, como o caso doefeito Mateus .

    O efeito Mateus outorgado por Merton tem na sua gnese os cientistas que produzemconhecimento em forma de publicaes que posteriormente so reconhecidas pelos seuspares. Para ele, o efeito Mateus consiste na percepo que se tem relativamente aoscientistas com reputao acumulada que normalmente so mais recompensados em favor

    daqueles que ainda so pouco conhecidos, pelos seus trabalhos publicados (Merton &Storer, 1979b).

    O reconhecimento cientco na instituio da cincia est normalmente associado excelncia pois pela excelncia da qualidade do trabalho cientco que se tentasobressair no mar da investigao cientca. A excelncia uma via para os cientistaschegarem ao reconhecimento e dos seus trabalhos sarem do anonimato. Merton (1979b)identica esta via como o sentido instrumental do reconhecimento e que afecta a formacomo se faz a investigao cientca. Este socilogo arma, que existem 3 grandesefeitos da procura absoluta da excelncia no desenho das investigaes cientcas (idem,1979b).

    O primeiro efeito diz respeito identicao dos talentos, de mentes prodigiosas quemarcam a diferena entre pares. O segundo efeito contempla a capacidade dedesenharmos investigaes cienticas que identicam os principais problemas nodesenvolvimento dos talentos humanos. E por m, o efeito da excelncia no desenho deinvestigaes que elevam a criatividade humana e promovem o caminho para adescoberta cientca, por via da criao de uma ambiente propicio educao (idem,1979b).

    Uma das premissas desta nova forma de produo de saber, a dinmica competitivaque o sistema Modo 2 de produo de conhecimento introduz no mercado e nas naesocidentais. O nmero de instituies privadas e publicas a produzir conhecimento magnnimo. Universidades, laboratrios governamentais, empresas, ONGs competempara obter a melhor tecnologia ou a prxima descoberta cientca que vai moldar o futuro.

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    E este fenmeno acompanhado pelo desenvolvimento de polticas cientcas etecnolgicas com o objectivo de melhorar a economia por via da inovao .

    D. Os sistemas de recompensa e a inovaoNotamos que a cincia no passado teve um papel idntico ao de hoje em dia; produzirconhecimento e criar inovao. A primeira vertente diz respeito ao capital intelectual e asegunda a um capital econmico que repercute pelo meio social e pelos cidados. Estesentido de prosperidade incentiva os governos e outras entidades a promover a cincia einovao, por processos que passam por revigorar as instituies e cientistas com baseem prmios, apoios nanceiros e outros sistemas de recompensa como direitos depropriedade intelectual e industrial (i.e patentes).

    sobretudo nas sociedades ocidentais que se nota uma maior centralizao dagovernao sobre o meio cientco escrutinado pela capacidade de iniciativa e do

    crescimento econmico sustentado, ou seja, um tipo de autoridade mais centralizadora(Rosenberg & Birdzell, 1986). Para Zuzanne Scotchmer (Scotchmer, 2004), a vantagemdo sistema de patentes que a responsabilidade da inovao descentralizada peloscidados, armando tambm que os sistemas de prmios e apoios nanceiros sotambm formas de descentralizao, onde por exemplo um inventor particular podeconcorrer a um sistema de prmios tal como nas patentes.

    Antes de mais necessrio esclarecer que existem diferentes contextos no sistema deprmios. Lee e Jerome Davis (2004) apontam trs subsistemas de prmios: um refere-se corrida pelas patentes, por exemplo pela descoberta de um novo material ou uma novamolcula, em que estes desaos so normalmente lanados por uma entidade privada;um outro subsistema so os prmios atribudos aps os resultados dos trabalhos, como o caso dos prmios Nobel; e ainda os prmios de Investigao e desenvolvimento quepodem ser atribudos antes de se conhecer a produo ou resultado da investigao deforma a incentivar os cientistas, como tambm depois do resultado no sentido derecompensar o trabalho dos mesmos.

    Outros autores (Brunt, Lerner, Nicholas, & School, 2011) armam que o sistema deprmios afectam a inovao em trs estgios: um o nmero de participantes queconcorrem ao prmio, contudo esta dimenso no sinnimo de mais inovao, o prmio s o mecanismo de promoo da inovao; um segundo estgio diz respeito aos

    prmios como incentivo inovao, Brunt (2011) vericou que existe uma correlaopositiva entre o valor monetrio dos prmios e a criao de patentes a longo prazo; noterceiro estgio os autores referem que os incentivos inovao, como os prmios,podem redireccionar os trabalhos de investigao e criao de inovao.

    A recompensa aos inovadores por via de patentes ca limitada natureza da prpriapatente e dos direitos de reserva que tem este sistema. Se existe pouca informao sobreo que se vai premiar, quem promove os prmios com base no retorno econmico daspatentes no sabe em quanto pode premiar (Llobet, Hopenhayn, Mitchell, & Minneapolis,2000). Wright (Wright, 1983) prope a alternativa da criao de contratos, que umaalternativa mais centralizada mas a melhor soluo para os investigadores com maiorcapacidade de resposta aos desaos de inovao. E se os contratos dominarem osprmios cientcos as patentes no so o melhor modelo para incentivar a inovao,segundo Wright (1983).

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    E. Os prmios cientcos e a inovao no mundo acadmicos que os prmios cientcos tm maior impacto, no s peloreconhecimento dado aos cientistas e investigadores que vem o seu trabalhorecompensado, mas tambm no que concerne ao nanciamento da cincia e datecnologia. Os prmios cientcos so concebidos para reconhecer o trabalho doscientistas em campos diversos da investigao. So cobiados por muitos pois delessaiem, a retribuio de credibilidade, o prestgio e essencialmente um reconhecimentopelos pares. Os prmios cientcos so tambm uma motivao para os mais novos queprocuram carreiras cientcas, ou para os que esto no nal da sua carreira e vem estesprmios como reconhecimento do trabalho de uma vida.

    O Santo Graal dos prmios cientcos sem dvida o Prmio Nobel, pois este prmiointegra em si o reconhecimento do trabalho de vida, o contributo da cincia para asociedade e um valor monetrio elevado. No primeiros 50 anos deste prmio, foramatribudos 148 Nobis nas reas da fsica, qumica, medicina incluindo psicologia, a

    cientistas de vrias nacionalidades (Moulin, 1955). No trabalho de Lo Moulin (1955) nadcada de 50, o socilogo revela que entre 1901 e 1950 existiram alteraes no perlsocial dos laureados. Na segunda metade desta dcada o Nobel premiou mais equipasde investigao em contra-ponto com a primeira metade em que os prmios eramrecebidos a duas mos, mais individuais, reconhecendo o trabalho dos grandes cientistas.

    A idade dos laureados em mdia passava pelos 46 anos na fsica, 50 anos na qumica e56 na medicina e frequentemente tinham origem protestante ou judaica, no entantogrande parte pertencia a uma classe social abastada onde os seus pais tiveramexperincias acadmicas a nvel universitrio, o que demonstra uma fonte inspirao paraos lhos laureados, ou seja, o Prmio Nobel estava dominado por uma elite universitria(Berry, 1981).

    A nacionalidade dos cientistas laureados pelo o Prmio Nobel mudou em muito desde dasua apresentao pela primeira vez. No inicio do sculo XX os alemes representavam23,7%, seguidos da Inglaterra com cerca de 20% dos prmios atribudos at 1950, osEstados Unidos da Amrica no ultrapassavam os 17% (Moulin, 1955), em pleno sculoXXI, 53 do 92 laureados na fsica, qumica e medicina obtiveram os seus prmiosrepresentando os EUA e 12 fora da habitual Europa e EUA, surgindo cientistas da China,Japo, de Israel e da Russia (NobelPrizeOrg., 2012). Para alguns autores (Charlton,2007) deviam existir mais laureados pelo Nobel na cincia, pois tm sido 12 os cientistas,

    em mdia, por ano, cando muitas descobertas relevantes por reconhecer. O PrmioNobel tambm uma forma de reconhecer tambm a qualidade das instituies queacolhem os cientistas premiados (idem, 2007).

    No s de Nobel vivem os prmios da cincia, muitos outros so desenvolvidos porgovernos, privados e lantropos. S o catlogo da Gale Research lista por ano mais de2000 prmios entre 28 campos da cincia, tecnologia e medicina, s nos EUA e Canada(Wasserman, Company, & McLean, 2009). A empresa consultora McKinsey&Company noseu relatrio de inovao social And the winner is, para entender o impacto dosprmios e ans na sociedade, avaliou cerca de 219 prmios acima dos 100 mil dlaresdos ltimos 35 anos e entrevistou 12 patrocinadores e gestores desses sistemas de

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    prmios, nas reas que vo desde da cincia e tecnologia, literatura, passando porgovernos espiritualidade (McKinsey&Company, 2009)1.

    Figura A - Valor agregado em milhes de dlares para prmios superiores a 100 mildlares.

    ! ! Fonte: Relatrio McKinsey, 2009 (inclui 219 prmios)

    Por vezes os prmios cientcos so mais ecazes na aquisio de nanciamentos para acincia e para encorajar os cientistas a resolver os problemas sociais desenvolvendotecnologias que beneciem os consumidores ou aumentem a produtividade (Kalil, 2006).Para Thomas kalil do Hamilton Project2, existem algumas limitaes no uso de prmiospara o sistema cientco. Um dos problemas que normalmente os prmios s retribuemaps os objectivos concludos e so necessrio fundos para competir. Outra razo passapelo o facto de que vrios dos prmios atribudos so dirigidos investigaofundamental, a qual no permite saber em antemo o desenvolvimento da investigao.Por m, Kalil arma ainda que os prmios podem provocar duplicao de resultados deinvestigao, pois normalmente esto associados competio em concorrncia (Kalil,2006).

    Os prmios tm um grande poder em benecio da sociedade(McKinsey&Company,2009). Os prmios so cada vez em maior nmero e de elevado valor (o volume na ltimadcada ultrapassou os 300 milhes de dlares), mas estima-se que esta importnciaascenda aos mil milhes de dlares. Tambm o mbito destes prmios tem mudado, jque no tem havido, segundo os patrocinadores dos prmios, uma correspondncia coma tradicional procura de tecnologias disruptivas ou ao reconhecimento intelectual. Ospromotores dos prmios viram-se para questes e desaos mais sociais, como soluode problemas complexos (idem, 2009) .

    Segundo a McKinsey (2009), este tipo de prmios esto associados resoluo deproblemas sociais complexos e focam essencialmente reas como o ambiente e asalteraes climticas, a cincia e engenharia e em grande expanso, a aeronutica e o

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    1 Ver gura A

    2 Organizao No-Governamental americana dedicada discusso de polticas publicas.

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    espao que em 2007 j representava cerca de 88 milhes de dlares em prmios3.Financiados na maior parte por lantropos e empresas, representando cerca de 74% dos300 milhes de dlares, sendo o restante valor de originrio de organizaesgovernamentais.

    Figura B - Evoluo entre 1997 a 2007 dos Prmios em valor total por sector.

    ! ! ! Fonte: Relatrio McKinsey, 2009 (inclui 219 prmios)

    Como j foi referido anteriormente podem existir dois tipos de prmios, aqueles que soatribudos como forma de reconhecimento, e outros que so atribudos para alcanar umresultado especico, denominados prmios de incentivo (idem, 2009). Estes ltimos tmsurgido como opo mais lgica para os promotores e competidores, pois apresentam emmdia um valor por prmio mais elevado e vantagens competitivas como: aexpressividade, incorporando aspiraes, valores e comprometimento nos prmios;exibilidade, inspirando tanto pessoas como equipas a ultrapassar os convencionaislimites; abertura, pois atraem diversos e multidisciplinares grupos de especialistas; erecompensas contigentes ao sucesso, com a passagem do risco dos patrocinadores paraos competidores, ou seja sem os objectivos alcanados no atribudo o prmio (idem,2009).

    O estudo da Mckinsey revela ainda que os sistemas de recompensa e de incentivo por viados prmios podem inuenciar e potenciar as sociedades em sete formas diferentes ecomplementares: pela identicao da excelncia e mrito, pela capacidade de inuenciarda percepo publica, no foco das comunidades de especialistas em problemasespeccos, e na resoluo desses problemas, pela mobilizao e criao do talento, eeducao dos indivduos, e tambm na captao de capital nanceiro. Estes sete nveisde interaco entre o sistema de prmios e a sociedade permite em certa medida criarelevados benefcios sociais (McKinsey&Company, 2009).

    Para Peter H. Diamandis, presidente executivo da fundao X Prize, os prmios decongurao de incentivo potenciam a criatividade, originam inovaes e grandesdescobertas. Os prmios destinados resoluo de problemas especicos tm grande

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    Ricardo Abreu ISCTE-IUL 2012! 8/113 Ver gura B

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    impacto no s econmico mas tambm psicolgico nas equipas de investigao epermitem inovar em reas que at ento no seriam provveis e continuariam estagnadasno tempo (Diamandis, 2009).

    Para Peter Diamandis (2009), este sistema de prmios de incentivos inovao temquatro factores determinantes: a ecincia, ou seja os prmios s so atribudos quandoalcanados os objectivos; alavancagem de recursos nanceiros, com a diferenciaoestrutural da origem dos fundos (fundos lantropos, patrocnio empresarial, etc.); criaode indstrias, pois a vertente de incentivo dos prmios promove diferentes abordagenspara a soluo dos problemas e atrai vrios competidores corrida criando clusters deinovao; alterao de paradigmas, porque um bom sistema de incentivo de prmiosconsegue elevar o potencial das pessoas e fazendo-as acreditar que possvel chegar meta.

    F. ConclusoEste ensaio resulta de uma pesquisa bibliogrca que procurou encontrar textos quesuportassem a conjectura entre a recompensa cientca em forma de prmios e comoesta afecta o desenvolvimento da inovao. Identicmos que a cincia moderna estestruturada de forma a recompensar o mrito dos seus intervenientes e que aoa longodos tempos existiu uma mutao estrutural no seio da cincia que permitiu os cientistasprocurarem novos objectivos motivados por recompensas baseadas em reconhecimento eprmios monetrios.

    De facto a produo de conhecimento cientico hoje moldada por factores decompetio e concorrncia. No basta o reconhecimento pelos pares, necessrio aostentao intelectual materializada em prmios prestigiosos e valorosos. procura deum scar da cincia que o talento emerge do pntano da ignorncia da comunidadecientca. Identicamos neste ensaio que a panplia de prmios elevou a complexidadedos vrios sistemas recompensa da cincia e que existem diversas formas de osclassicar e analisar. Dos prmios atribudosex ante como os incentivos investigao edesenvolvimento aosex post dos sistemas de patentes e propriedade intelectual.

    Os cientistas contemporneos vem a sua actividade natural, a investigao cientca, aser atropelada por factores externos que inuenciam as suas tomadas de deciso. No suciente produzir conhecimento em forma de artigos ou experincias cientcas, o

    cientista procura destacar e nanciar as suas investigaes com recurso a campeonatoscientcos almejando prmios monetrios e de reconhecimento. Os prmios associados aobjectivos especcos, de resoluo de problemas sociais e econmicos, so os maisprocurados neste momento. Os valores monetrios que estes prmios proporcionam somuito atractivos mas o risco de no conseguir chegar meta nal elevado porque aalavancagem nanceira volumosa e a competio aguerrida.

    A competio cientca em si recompensatria para a cincia em geral, pois motivadiversas equipas a trabalhar ancadamente para alcanar o sucesso, levando odesenvolvimento de novas tecnologias, novas descobertas e a novas formas deorganizao da cincia. Equipas multidisciplinares so criadas para conquistar prmiosdesejados e de elevado valor. Este fenmeno traz para a cincia um novo alento comotambm mais complexidade na sua organizao.

    Os prmios cientcos como fonte de inovao! Sociologia da Cincia

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    As diculdades que a cincia atravessa hoje em todo o lado assentam em dois aspectosessenciais a falta de recursos nanceiros e a motivao dos jovens para percorrer acarreira de cientista. A implementao de bons sistemas de prmios cientcos podempermitir s instituies governamentais e privadas obterem resultados mais ecazes. Ovalor monetrio dos prmios permite aos cientistas nanciarem os seus projectos deinvestigao e projeco meditica dos prmios podem encorajar os jovens a optarem porcarreiras na investigao cientca.A realizao deste ensaio procurou encontrar um sentido para a relao entre os sistemasde prmios cientcos e os de inovao numa perspectiva sociolgica. A pesquisabibliogrca indicou uma quase ausncia de literatura relativa temtica dos prmioscientcos no mbito da sociologia em contraponto com os diversos trabalhos na rea daeconomia, nomeadamente a inovao com base na propriedade industrial. Sugere-se quedentro da sociologia da cincia se realize mais trabalhos empricos de forma acompreender o impacto que os sistemas de recompensa na cincia tem sobre asociedade e sobre aqueles que vivem para a cincia, os cientistas.

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