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1 OS MOVIMENTOS SOCIAIS E AS EXPERIÊNCIAS DE LUTA E ORGANIZAÇÃO DESENVOLVIDAS PELO MST NO BRASIL Marcelo Nascimento Rosa 1 Membro do Núcleo de Pesquisa Geografia, Trabalho e Movimentos Sociais (GETeM) Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão [email protected] Marina Pires Ribeiro 2 Membro do Núcleo de Pesquisa Geografia, Trabalho e Movimentos Sociais (GETeM) Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão [email protected] Juliana de Jesus Santos 3 Membro do Núcleo de Pesquisa Geografia, Trabalho e Movimentos Sociais (GETeM) Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão [email protected] Ana Paula Novais Pires 4 Membro do Núcleo de Pesquisa Geografia, Trabalho e Movimentos Sociais (GETeM) Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão [email protected] Resumo As diversas formas de organização popular que surgiram no final do século XX despertaram o interesse nos estudos dos movimentos sociais, chamando a atenção para a necessidade de sua conceituação. Tais estudos também decorrem da premência em verificar, analiticamente, as formas de organização e os processos de luta e ação política desenvolvida por tais movimentos. Nesse sentido, este artigo procura, em um primeiro momento, identificar diversas abordagens teóricas sobre os movimentos sociais na atualidade e, em um segundo momento, identificar brevemente as várias experiências de organização e luta construídas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) no Brasil, nas últimas décadas. Palavras-chave: Organização Popular. Movimentos Sociais. MST. Introdução Os movimentos sociais têm conquistado grande espaço nas ações políticas nas últimas décadas e sua contribuição na organização das camadas populares fez emergir vários conflitos políticos, com fortes rebatimentos nas políticas públicas e nos programas de governo, revigorando o campo da luta de classes. Eles surgem em diversos países e

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OS MOVIMENTOS SOCIAIS E AS EXPERIÊNCIAS DE LUTA E ORGANIZAÇÃO DESENVOLVIDAS PELO MST NO BRASIL

Marcelo Nascimento Rosa1 Membro do Núcleo de Pesquisa Geografia, Trabalho e Movimentos Sociais (GETeM)

Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão [email protected]

Marina Pires Ribeiro2

Membro do Núcleo de Pesquisa Geografia, Trabalho e Movimentos Sociais (GETeM)

Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão [email protected]

Juliana de Jesus Santos3

Membro do Núcleo de Pesquisa Geografia, Trabalho e Movimentos Sociais (GETeM)

Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão [email protected]

Ana Paula Novais Pires4

Membro do Núcleo de Pesquisa Geografia, Trabalho e Movimentos Sociais (GETeM)

Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão [email protected]

Resumo As diversas formas de organização popular que surgiram no final do século XX despertaram o interesse nos estudos dos movimentos sociais, chamando a atenção para a necessidade de sua conceituação. Tais estudos também decorrem da premência em verificar, analiticamente, as formas de organização e os processos de luta e ação política desenvolvida por tais movimentos. Nesse sentido, este artigo procura, em um primeiro momento, identificar diversas abordagens teóricas sobre os movimentos sociais na atualidade e, em um segundo momento, identificar brevemente as várias experiências de organização e luta construídas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) no Brasil, nas últimas décadas. Palavras-chave: Organização Popular. Movimentos Sociais. MST.

Introdução

Os movimentos sociais têm conquistado grande espaço nas ações políticas nas últimas

décadas e sua contribuição na organização das camadas populares fez emergir vários

conflitos políticos, com fortes rebatimentos nas políticas públicas e nos programas de

governo, revigorando o campo da luta de classes. Eles surgem em diversos países e

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compõem uma imensa gama de reivindicações e grupos sociais. No caso do Brasil

destaca-se neste trabalho o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),

como o maior movimento de luta pela terra organizado no país.

Diante das implicações intrínsecas à questão agrária do Brasil, o MST surge na década

de 1980 com origem nos ideais da esquerda partidária do país e na solidariedade da

Igreja Católica, trazendo consigo marcas complexas no seu objetivo e interpretações

diversas da sociedade sobre sua atuação. Tais complexidades revelam a luta destes

trabalhadores pela terra.

Pode-se dizer que os movimentos sociais ocuparam o cenário da ação política depois da

década de 1960, nos Estados Unidos e na Europa. Entre as reivindicações desse período

destacam-se as do movimento negro, das mulheres, das questões culturais, dos

migrantes, pacifistas, entre outros. Nos países da América Latina pode-se citar os

movimentos de luta contra os governos autoritários, assim como, os movimentos

feministas, os indígenas e, principalmente, os de luta pela terra.

Muitos são os teóricos que procuraram compreender os movimentos sociais e seu

protagonismo no final século XX, como por exemplo, Gohn (2008), Tarrow (2009),

Hobsbawm (2008), Birh (1998), Fernandes (1996, 2000) e outros. A diversidade de

abordagens é compatível com a amplitude dos grupos que compõem o universo dos

movimentos sociais.

Sua diversidade no campo de ação política também é motivo de algumas críticas, sendo

que para alguns autores, a incapacidade de aglutinar interesses e fazer alianças com

outros movimentos sociais tem sido responsável pelo isolamento de grande parte desses

movimentos. Outra questão levantada se refere a pouca preocupação com a organização,

uma vez que, os movimentos que optam por tal estratégia tendem a desaparecer. Esses,

e outros, motivos têm contribuído para que a repercussão das ações desenvolvidas pelos

movimentos sociais não seja tão impactante nas transformações estruturais da sociedade

capitalista.

Neste contexto, um dos movimentos sociais no Brasil que conquistou autonomia e

reconhecimento político foi o MST, responsável pelas principais ações de luta anti-

capital nas últimas décadas. Suas formas de organização e seus processos de luta foram

responsáveis pela sua espacialização e territorialização em grande parte do território

brasileiro. Além de ter inserido a reforma agrária na agenda política do país, o MST

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também possibilitou o acesso à terra à famílias que viviam no campo e nas cidades em

condições precárias de vida.

Desse modo, em um primeiro momento este trabalho procura identificar algumas

abordagens teóricas sobre os movimentos sociais. Em um segundo momento procura

ressaltar as experiências desenvolvida pelo MST na luta pela terra e pela reforma

agrária no Brasil, além das abordagens sobre o movimento a partir do que é exposto

pela mídia e isso reflete na sociedade. O presente estudo está alicerçado por autores que

discutem a questão agrária e os movimentos sociais como Fernandes (1996; 2000;

2003), Gohn (2008), Tarrow (2009), Bihr (1998), Vieira (2007), Villas Bôas (2008),

dentre outros, na tentativa de entender como se alicerça a discussão sobre os dilemas

no/do campo no Brasil e como se insere o MST nesse contexto.

Movimentos Sociais: algumas abordagens teóricas

O conceito de movimento social tem sido muito utilizado por pesquisadores nas últimas

décadas. Isso se deve, sobretudo, a dimensão política que ganhou os movimentos pelos

direitos civis, culturalistas, pacifistas, ambientalistas, feministas, dentre outros, a partir

da década de 1960 nos Estados Unidos e na Europa. Nos países da América Latina,

assim como em alguns países da Europa, também é possível citar o protagonismo das

manifestações e revoltas contra os regimes autoritários. No Brasil, além do grande

movimento pela abertura política e contra a ditadura militar, expresso pelo movimento

das “diretas já”, o MST empreendeu significativa luta pelo acesso a terra e pela reforma

agrária no país.

Para Tarrow (2009), é indispensável compreender os movimentos sociais associados ao

confronto político. Para o autor preparar, coordenar e manter o confronto político é uma

contribuição importante dos movimentos sociais.

[...] afirmo que o confronto político é desencadeado quando oportunidades e restrições políticas em mudança criam incentivos para atores sociais que não tem recursos próprios. Eles agem através de repertórios de confronto conhecidos, expandindo-os ao criar inovações marginais. O confronto político conduz a uma interação sustentada com opositores quando é apoiado por densas redes sociais e estimulado por símbolos culturalmente vibrantes e orientados para a ação. O resultado é o movimento social (TARROW, 2009, p. 18).

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Contudo, o autor ressalta que nem todos os confrontos políticos podem ser

caracterizados como movimentos sociais. Ao buscar caracterizar os movimentos sociais

Tarrow (2009, p. 18) diz que o termo é reservado para “[...] designar as sequências de

confronto político baseadas em redes sociais de apoio e em vigorosos esquemas de ação

coletiva e que, além disso, desenvolvem a capacidade de manter provocações

sustentadas contra opositores poderosos.” Neste contexto, o autor ressalta que todos os

movimentos sociais fazem parte de um universo mais amplo do confronto político e

podem surgir de dentro das próprias instituições, ou mesmo, se expandir e transformar-

se em revolução.

Nesse sentido, Tarrow (2009) ainda define os movimentos socais “como desafios

coletivos baseados em objetivos comuns e solidariedade social numa interação

sustentada com as elites, opositores e autoridades”. Para isso, os movimentos sociais

possuem quatro propriedades básicas: o protesto coletivo, o objetivo comum, a

solidariedade social e a interação sustentada.

O protesto coletivo, ou o desafio coletivo, pode ocorrer através de várias formas (abaixo

assinados, votações, passeatas etc.), contudo as formas de ação coletiva mais

características dos movimentos sociais são as de ruptura e enfrentamento direto contra

governos, elites, autoridades ou hábitos culturais. Tal ruptura também pode assumir a

forma de resistência pessoal coordenada ou mesmo de afirmação coletiva de novos

valores. Apesar de desenvolver outras formas de ação, como, por exemplo, fazer

pressão e negociar com autoridades, construir consenso entre os apoiadores e combinar

o protesto com a participação em instituições, as ações mais características dos

movimentos sociais são os desafios contenciosos. Segundo Tarrow (2009), isso não

quer dizer que movimentos sociais são dispostos a violência, mas isso ocorre,

sobretudo, devido à escassez de recursos estáveis.

Os movimentos usam o desafio coletivo para tornarem-se pontos de atração para apoiadores, ganharem a atenção de opositores e terceiros e criar eleitores para serem por eles representados (TARROW, 2009, p. 22).

O objetivo ou propósito comum se define a partir dos motivos que levam as pessoas a se

unirem a movimentos. Ao mesmo tempo que tais motivos podem estar relacionados a

aspectos como diversão e jogos, também podem se relacionar a fúria incontrolável da

multidão. Contudo, um motivo básico que leva a participação em movimentos, citado

por Tarrow (2009), é a organização de reivindicações comuns aos opositores,

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autoridades ou elites. Nesse contexto, nem sempre os custos e riscos em agir

coletivamente contra opositores são levados em conta, assim como, nem sempre tais

conflitos estão estritamente relacionados a interesses de classe.

Gohn (2008), ao estudar os movimentos sociais na América Latina e as abordagens

teóricas sobre os mesmos, ressalta que ao se referir a categoria movimentos sociais

restringe seu universo de análise aos movimentos sociais urbanos e rurais, “[...]

organizados no âmbito das demandas por direitos sociais, culturais, por melhores

condições de vida, acesso à terra, moradia, serviços públicos etc.” (GOHN, 2008, p.

439). Portanto, sua análise não inclui os movimentos ligados ao trabalho, como o

movimento operário e sindical. Para a autora tal delimitação não busca estabelecer

hierarquias, mas apenas delimitar o campo de pesquisa.

Além disso, o autor (2008), ainda argumenta que é possível delimitar três frentes de

ação no universo dos movimentos sociais, contemplando assim suas demandas, suas

formas de organização e seu campo de ação. A primeira seria composta pelos

movimentos identitários que lutam por direitos sociais, políticos, econômicos e

culturais, abarcando os segmentos sociais excluídos. Inclui-se aqui o movimento das

mulheres, dos afro-descendentes, dos índios, dos portadores de necessidades especiais,

dos jovens e idosos, dos migrantes e outros.

A segunda frente de ação seria formada pelos movimentos de luta por melhores

condições de vida e de trabalho, seja no campo ou na cidade, que reivindicam direito e

acesso à terra, à moradia, à educação, à saúde, à alimentação etc. Por fim, a terceira

frente é constituída pelos movimentos globais. “São lutas que atuam em redes

sociopolíticas e culturais, via fóruns, plenárias, colegiados, conselhos etc.” (GOHN,

2008, p. 440). Esta forma de ação seria para Gohn (2008), a grande novidade nos

movimentos sociais no novo milênio.

Hobsbawm (2008), ao analisar alguns estudos sobre movimentos sociais,

especificamente que se posicionavam a favor de sua espontaneidade e abandono a

estratégia de organização, argumenta que, apesar de ser válidas as criticas à

organização, tal posição deve ser compreendida de acordo com seu ponto de vista

histórico. Na maioria das vezes, o abandono das estratégias de organização leva a uma

ação política pontual, sem grandes transformações. Além do mais, boa parte dos

movimentos sociais que não se preocuparam com alguma forma de organização

tenderam a desaparecer com o tempo.

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Bihr (1998), na tentativa de buscar compreender a crise do movimento operário

europeu, faz uma breve ressalva ao papel que assumiu os movimentos sociais após a

década de 1960. Para o autor tais movimentos apresentam um duplo caráter: suas lutas

situam-se geralmente fora da esfera imediata do trabalho e da produção; e seus

protagonistas geralmente são indiferentes em relação às formas organizacionais e às

referências ideológicas do movimento operário.

A análise de Bihr (1998) fundamenta-se no processo de apropriação capitalista da práxis

social, que para o autor é:

[...] o processo pelo qual a prática social é, em seu conjunto, submetida aos imperativos da reprodução do capital, sendo consequentemente remodelada tanto em suas formas como em seus conteúdos. Pois a reprodução dessa relação social central, que é o capital, depende de elementos e de condições que sua dinâmica econômica (seu processo cíclico de acumulação) sozinha não tem possibilidade de garantir (BIHR, 1998, p. 144).

A apropriação capitalista da práxis social ocorre, segundo o autor, nas condições sociais

gerais do processo de produção e nas condições gerais do processo de circulação. No

primeiro caso, a reprodução do capital necessita de uma serie de infraestruturas

(distribuição de energia, comunicação etc.) que somente o Estado pode disponibilizar.

Situa-se aqui também a força de trabalho que, para se reproduzir, necessita de forte

intervenção estatal, através da assistência social, das instituições de educação, formação

profissional e outras.

Na apropriação capitalista da práxis social nas condições do processo de circulação

todas as relações sociais são submetidas à lógica da equivalência da troca, através do

mercado. Tal resultado é assegurado por algumas formas assumidas que, para o autor,

são abstrações sociais da mesma ordem que o valor. Entre elas destaca-se a centralidade

urbana, o direito (suporte contratual da sociedade civil), o espetáculo (comunicação

simbólica) e a racionalidade instrumental (voltada para a eficácia e o êxito).

Bihr (1998 p. 148) argumenta que, permeada por contradições, a apropriação da práxis

social pelo capital tende “[...] a transformar a imensa maioria dos homens em simples

executantes de práticas cujos pormenores tornam-se obscuros ou opacos para sua

consciência.” Tal expropriação dos atores sociais em relação ao controle de suas

práticas sociais, constitui o reverso e o complemento da autonomização das forças

produtivas sociais.

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Diante disso, ainda para Bihr (1998), no centro das diversas crises sociais enfrentadas

pela sociedade nas últimas décadas (como a crise urbana, das identidades territoriais, da

juventude, de gênero etc.), inclusive nos países capitalistas desenvolvidas, está o

processo de apropriação contraditória da práxis social pelo capital. Assim, a

incapacidade de sua solução por parte da gestão estatal, o seu desenvolvimento e

aprofundamento e a insuficiência do movimento operário em apontar alternativas à

lógica do capital, favoreceu o fortalecimento dos movimentos sociais e das práticas

alternativas.

Entretanto, na avaliação de Bihr (1998) ao mesmo tempo em que os movimentos sociais

apresentaram um avanço na luta de classes, sua ação política refletiu fortes limites. No

primeiro caso o autor argumenta que pelo fato dos movimentos sociais situarem-se fora

da esfera do trabalho e da produção e estabelecerem suas principais ações no espaço de

reprodução do capital, eles possibilitaram uma ampliação no terreno e um

aprofundamento na questão da luta de classes.

Se, por um lado, os movimentos sociais possibilitaram essa reavaliação da luta de

classes, por outro lado, sua atuação periférica ao núcleo da produção capitalista e a falta

de uma articulação com o movimento operário condenou-os a uma relativa fraqueza

política. Tal articulação, segundo Bihr (1998) seria necessária para ampliar o alcance

político de suas ações, assim como conferir e consolidar sua radicalidade anticapitalista.

Como isso não ocorreu, grande parte dos movimentos sociais mergulhou no

particularismo, onde cada um deles buscou se isolar em um grupo de problemas

específicos, sem estabelecer relações uns com os outros.

Sustentando-se em alguns sociólogos como Maria da Gloria Gohn, Fernandes (1996,

p.21) argumenta que “[...] a noção de movimento social é compreendida como uma

forma de organização da classe trabalhadora, tomando-se por base os grupos populares,

ou as camadas populares, ou ainda os setores populares”.

Apesar de concentrar sua análise nos movimentos sociais do campo Fernandes (1996)

contribuiu com uma teoria geográfica dos movimentos sociais de forma geral. Ao

apoiar-se nos conceitos de espaço social, lugar social e território, o autor procura

compreender as diversas formas de organização de tais movimentos, assim como os

processos desencadeados pelas relações construídas através da organização popular,

entre eles a espacialização e a territorialização da luta.

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Ao estabelecer as formas de organização, os movimentos sociais criam novos espaços

(de experiências, de solidariedade, de socialização política, etc). A evolução dessas

relações possibilitam a ação política e os conflitos, assim como a territorialização da

luta, sobretudo através da conquista de territórios. Diante do contexto, Fernandes (1996)

afirma que:

O meu interesse é entender os processos de desenvolvimento das formas de organização, construídas por um movimento social mediante os conflitos e enfrentamentos, realizados nos diversos níveis das relações sociais. Para compreender melhor esses processos, procuramos estudar as dimensões do espaço social. Essas dimensões têm as suas origens no desenvolvimento das ações organizadas por sujeitos sociais na construção, conquista e controle do seu espaço de socialização política. Nesses processos, o espaço social se concretiza em lugares sociais, construídos/conquistados na interação do movimento tempo/espaço, em que são geradas as formas de organização dos movimentos sociais, que se desenvolvem até as ações reveladas pelas ocupações de terra. São essas ações que levam a conquista de frações do território (FERNANDES, 1996, p. 22-23).

Fernandes (1996) ainda argumenta que a produção do espaço no desenvolvimento

capitalista ocorre de forma desigual e contraditória, permeada, por um lado, pela

expropriação, dominação e exploração por parte da burguesia e latifundiários e, por

outro, pela subordinação, resistência, organização e libertação por parte dos

trabalhadores. “No interior desse processo formam-se diferentes movimentos sociais

que inauguram novas situações, desenvolvem outros processos. Nesse sentido, os

processos representam o fenômeno histórico da luta entre as classes” (FERNANDES,

1996, p. 24).

Com isso, ao se estabelecer a luta e a resistência o movimento social inaugura um novo

espaço de socialização política, que além de representar uma nova relação

espaço/tempo, também é multidimencional. De acordo com as experiências estudadas

por Fernandes (1996) foi possível identificar três dimensões do espaço de socialização

política: o espaço comunicativo, o espaço interativo e o espaço de luta e resistência.

Com essa definição o autor procura qualificar o entendimento das formas de

organização e dos processos desenvolvidos pelos movimentos sociais, particularmente

pelo MST no Brasil.

Nesse contexto, Fernandes (2000) desenvolve a idéia de movimentos socioespaciais e

movimentos socioterritoriais. Para o autor os movimentos sociais que têm o espaço ou o

território como trunfos organizam suas formas e estabelecem suas ações a partir desse

referencial. O conceito de movimento socioespacial é amplo, pois faz referência as

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reivindicações de diversas dimensões do espaço geográfico (social, econômico, político

e outras). Já o conceito de movimento socioterritorial focaliza os movimentos que

possuem o território como trunfo, estabelecendo aqui uma diferença fundamental entre

outros movimentos que não tem tal objetivo, mas que lutam por outras dimensões,

estruturas e recursos do espaço geográfico.

Assim, a ocupação, o trabalho de base, o acampamento, a negociação política, a

organicidade, a espacialização e a territorialização seriam para Fernandes (2000)

elementos essenciais para se compreender o processo de formação dos movimentos

sociais. Tal procedimento teórico-metodológico foi utilizado para analisar, sobretudo, o

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que será analisado seguir.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Brasil

Os sinais do processo colonial que conduziram a estrutura fundiária do Brasil via Lei

das Sesmarias e das grandes monoculturas estimularam a formação de novos arranjos

no espaço rural, por conseguinte surge o MST, Movimento dos Trabalhadores Sem

Terra. A gênese do MST está vinculada às mudanças rurais e urbanas que mobilizaram

bóias-frias, desempregados sem oportunidades no espaço urbano, dentre outros. Assim,

os posseiros modernos multiplicaram-se e os Sem Terra surgem na década de 80

provenientes não só desse fenômeno, como da desapropriação de suas terras pela

marcha da grande lavoura, em particular da cana-de-açúcar na febre do pró-álcool e da

soja principalmente no Sul do Brasil (SILVA, 2004).

O fortalecimento do MST condicionou a integração das lutas no campo, visando uma

melhor condição social, bem como propaga uma divisão igualitária da terra. Diante da

inexistência políticas públicas que facilitem o acesso à terra a todos, o movimento vem

crescendo e ao lado dele um jogo de complexidades, de análises e especulações

diversas. O MST alicerça suas ações segundo a Constituição que afirma competir à

União a desapropriação de áreas que não cumpram seu papel social (MACHADO apud

SANDRONI, 2000).

A relação do MST com a luta histórica de criação e recriação do campesinato brasileiro,

portanto a história da luta de classes (FERNANDES, 1996; 2000) é latente.

Particularmente, circunscreve-se na resistência contra a política de desenvolvimento

agropecuário adotada pelo governo militar no país.

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Com o objetivo de acelerar a modernização da agricultura sem alterar a estrutura

fundiária, a política agropecuária do regime militar recebeu vários incentivos e

subsídios. Dessa forma, alguns setores da agricultura sofreram forte processo de

modernização tecnológica, passando a depender menos dos recursos naturais e mais das

indústrias produtoras de insumos.

Conhecida como modernização conservadora da agricultura tal política foi responsável

por um crescimento econômico da produção agrícola no país, contudo acentuou ainda

mais a concentração da propriedade da terra. Vale ressaltar que tal política provocou um

violento processo de expropriação e expulsão dos trabalhadores do campo, que em sua

maioria migraram para as cidades e para outras regiões do país a procura de emprego e

melhores condições de vida.

Um dos instrumentos utilizados pelo regime militar foi o Estatuto da Terra, criado pela

Lei 4.504/64, que tinha como objetivo disciplinar o uso e a ocupação de terras no país,

as relações fundiárias e controlar os conflitos no campo. Com a promessa de realizar a

reforma agrária, a política adotada pelo regime militar foi de fortalecimento da empresa

capitalista no campo e os projetos de colonização.

Sob o lema integrar para não entregar, a Amazônia foi o principal alvo das políticas de

colonização. O território “vazio” da Amazônia deveria ser ocupado, mediante benefícios

políticos e incentivos fiscais, sobretudo oferecidos as grandes empresas capitalistas

nacionais e internacionais.

Em seu encaminhamento político, os governos militares utilizaram-se da bandeira da reforma agrária, mediante projetos de colonização, na promessa de solucionar os conflitos sociais no campo, atendendo assim aos interesses do empresariado nacional e internacional. Como o objetivo era colonizar para não reformar, o problema da terra jamais seria resolvido com os projetos de colonização na Amazônia, pois o que estava por trás desse processo era uma estratégia geopolítica de exploração total dos recursos naturais pelos grandes grupos nacionais/internacionais. Assim, o envolvimento das Forças Armadas, do Estado autoritário garantiram aos grandes grupos econômicos a exploração da Amazônia (FERNANDES, 1996, p. 34).

Nesse sentido, a política agropecuária adotada pelo regime militar não atendia a

necessidade da agricultura camponesa e dos pequenos agricultores. Com o

fortalecimento do complexo agroindustrial e a acentuação da concentração de terras, os

conflitos no campo se intensificaram a partir no final da década de 1970, sobretudo na

região Sul do país.

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Embora tenha apoiado o golpe militar, a Igreja Católica, a partir de 1973, começa a

mudar sua posição. Contraria a política agropecuária adotada, a igreja teve forte

participação na organização dos movimentos de luta pela terra, mediante a Comissão

Pastoral da Terra e as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Com a Teologia da

Libertação, padres e bispos passaram a ver nos pobres o sujeito de sua libertação e da

nova evangelização.

A partir de um momento histórico de luta popular no Brasil, desencadeada no final da

década de 1970 e início de 1980 e marcada pela vontade de ruptura e transição política,

os trabalhadores conquistaram novos espaços de luta e resistência, tanto no campo,

como na cidade. Assim, o MST foi gerado sob a influência de diversas experiências de

lutas populares. Entre elas destacam-se as ocupações de terra nos estados do Rio Grande

do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro e Goiás, assim como no

Paraná, com o conflito decorrente da construção da Barragem de Itaipu, que desaproprio

mais de dez mil famílias de suas terras.

Sob influência da CPT um encontro nacional foi organizado em Goiânia (GO), em

1982, para promover a troca de experiências na luta pela terra, reunindo trabalhadores e

movimentos sociais de dezesseis estados. A princípio os trabalhadores dos estados do

Centro-Sul viram a necessidade de organizar um movimento maior, para romper o

isolamento, criando uma Coordenação Regional que agregou os estados RS, SC, PR, SP

e MS. A partir dessa organização outro encontro nacional foi convocado em Cascavel

(PR), em 1984, que marcou a fundação e a organização do Movimento dos

Trabalhadores Sem-Terra, cujo objetivo era lutar por terra e reforma agrária no país.

Assim, o MST surgiu com a articulação dos diversos movimentos localizados que

estavam acontecendo em cada estado.

Experiências de Organização e Luta Desenvolvidas pelo MST

Por acreditar na importância de se compreender os movimentos sociais em sua

totalidade, com as suas formas de organização e os processos desenvolvidos pelos

mesmos, Fernandes (1996, 2000) propõe uma verdadeira teoria geográfica dos

movimentos sociais. Tomando como exemplo as experiências do MST o autor procura

identificar, no espaço de socialização política criado pelo movimento, três dimensões

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espaciais que compõe a metodologia de organização e luta do movimento, são elas: o

espaço comunicativo, o espaço interativo e o espaço de luta e resistência.

Essas experiências desenvolvidas pelos trabalhadores possibilitaram a espacialização e a

territorialização da luta pela terra no país. Nesse sentido, as três dimensões do espaço de

socialização política são identificadas no trabalho de base, no processo de ocupação e

nos acampamentos, noções e conceitos esses apreendidos para explicar com mais

clareza a dimensão do movimento social. São experiências que criam novos espaços,

marcados pela resistência e luta dos trabalhadores, portanto pela luta histórica entre as

classes socais.

Um movimento social como o dos trabalhadores sem-terra tem como objetivo principal

conquistar a terra de trabalho. Sua maior ação política se caracteriza na ocupação de

terras, contudo, existem várias metodologias de organização e luta desenvolvida pelo

MST, diferenciadas de acordo com cada realidade e conjuntura política. Elas foram

criadas através de experiências, trocas e reflexões, por isso, antes de se executar alguma

metodologia de luta existe um intenso trabalho de formação, organização, tática de luta

e negociação com o estado e com os latifundiários, elementos esses que compõe o

trabalho de base, como expõe Fernandes (2000).

Os trabalhos de base podem ser resultados da espacialização e/ou da espacialidade da luta pela terra. Nascem sempre da própria necessidade das comunidades. A espacialização é um processo do movimento concreto da ação em sua reprodução no espaço e no território. Desse modo, os trabalhos de base podem ser organizados por pessoas que vieram de outro lugar, onde construíram as suas experiências. Por exemplo: um ou mais sem-terra de um estado que se deslocam para outras regiões do país para organizar famílias sem-terra. E, dessa forma, vão criando o Movimento na sua territorialização. [...] Desse modo, as pessoas do próprio lugar iniciam o trabalho de base porque ouviram falar, viram ou leram sobre ocupações de terra, ou seja, tomaram conhecimento por diferentes meios: falado, escrito, televisivo etc. E assim, iniciam a luta pela terra construindo suas experiências (FERNANDES, 2000, p. 62-63).

Assim, nas reuniões dos trabalhos de base ocorre a recuperação da trajetória de vida, a

compreensão da questão agrária, as análises de conjuntura, da correlação de forças e da

formação de alianças. Por outro lado, defrontam-se com o poder do Estado, dos

latifundiários e seus jagunços. Portanto, é nos trabalhos de base que se cria as condições

subjetivas para luta, através do interesse e do reconhecimento de direitos, ou seja, os

trabalhadores participam de forma ativa na construção de seus destinos. Com isso, são

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nos trabalhos de base que são criadas as condições subjetivas para luta, onde ocorre a

decisão e organização para realizar o processo de ocupação.

Por sua vez, os processos de ocupação estão relacionados ao tipo de propriedade da

terra, as formas de organização das famílias e aos tipos de experiências que constroem.

Com referência a Hobsbawn, Fernandes (2000) cita três formas de ocupação de terras

realizadas por camponeses, são elas: terras de trabalho reconquistadas (terras ocupadas

a algum tempo por camponeses, mas encontram-se em litígio devido a territorialização

do capital e a expropriação); terras devolutas (terras do Estado ocupadas em áreas de

fronteira, que passam a ser griladas por latifundiários); e ocupação de latifúndios.

Apesar de existir no Brasil as ocupações do primeiro tipo, sobretudo na Amazônia,

tende a predominar no país as ocupações de terras devolutas/públicas e as ocupações de

latifúndios.

Outra questão que envolve as ocupações de terra é a forma de organização das famílias,

que podem ser em movimentos isolados e/ou em movimentos territorializados.

Os significados de movimentos isolados e movimentos territorializados têm como referência a organização social e o espaço geográfico. Compreendo como movimento isolado uma organização social que se realiza em uma base territorial determinada. Que tem o seu território de atuação definido por circunstâncias inerentes aos movimentos. Ou seja, nascem em diferentes pontos do espaço geográfico, em lutas de resistências. Brotam em terras de latifúndios através da espacialidade da luta. Construindo, dessa forma, a sua territorialidade, compreendida como processo de reprodução de ações características de um determinado território. O movimento territorializado ou socioterritorial está organizado e atua em diferentes lugares ao mesmo tempo, ação possibilitada por causa de sua forma de organização, que permite espacializar a luta para conquistar novas frações do território, multiplicando-se no processo de territorialização (FERNANDES, 2000, p. 68).

As ocupações realizadas por tais movimentos podem ser espontâneas e isoladas,

organizadas e isoladas, organizadas e espacializadas. As ocupações espontâneas e

isoladas são realizadas, na maioria das vezes, por pequenos grupos, organizados ou não

em movimentos sociais. São espontâneas devido à falta de uma preocupação anterior

em construir uma organização. Devido a necessidade, esta experiência de ocupação

pode levar a formação de um movimento social isolado.

As ocupações organizadas e isoladas podem ser realizadas por pequenos grupos ou não,

e são organizadas por movimentos sociais isolados de um ou mais municípios. Antes de

realizar a ocupação da terra as famílias organizam trabalhos de base e reuniões. A

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tendência de tais movimentos é se extinguirem após a realização da ocupação, ou

mesmo se transformarem em movimentos territorializados.

Já as ocupações organizadas e espacializadas são realizadas por movimentos

socioterritoriais. São experiências trazidas de outros lugares por trabalhadores que já

viveram experiências de ocupações em diversos lugares e regiões, que espacializam a

luta realizando novas ocupações e territorializando o movimento através da conquista de

novos território (assentamentos).

Ainda pelas experiências desenvolvidas nos processos de espacialização e

territorialização da luta pela terra, distingui-se mais dois tipos de ocupação: a ocupação

de uma determinada área e a ocupação massiva. No primeiro caso o objetivo é

conquistar apenas a área ocupada. Se acontecer o caso de famílias não serem

beneficiadas o grupo se organiza para reivindicar uma nova área. Essa lógica se altera

com as ocupações massivas, cujo objetivo é assentar todas as famílias acampadas. O

critério para assentar as famílias deixa de ser o tamanho da área e passa a ser a forma e

o tempo em que as famílias participam da luta. De acordo que as famílias vão sendo

assentadas, novas famílias se unem aos grupos remanescentes para conquistar novas

frações do território.

As diferentes formas de estabelecimento na terra também fazem parte do universo das

ocupações.

Há experiências em que ocupam uma faixa de terra e prosseguem com as negociações, reivindicando a desapropriação da área. Há experiências em que ocupam a terra, dividem em lotes e começam a trabalhar, noutras demarcam uma única área e plantam coletivamente. Essas práticas são resultados do desenvolvimento da organização dos sem-terra. São formas de resistência que colocam em questão a terra de trabalho contra a terra de exploração (FERNANDES, 2000, p. 75).

Por fim, as ocupações podem se encerrar quando todas as famílias são assentadas ou

conquistam todos os latifúndios de um ou mais municípios. Em decorrência disso,

diminui-se o processo de espacialização e territorialização da luta pela terra.

Outro elemento trabalhado por Fernandes (2000) que auxilia a entender o Movimento

dos Trabalhadores Sem-Terra é o acampamento. Quase sempre resultado de ocupações,

os acampamentos são caracterizados com verdadeiros espaços de luta e resistência. Eles

marcam os primeiros passos no processo de territorialização da luta. Um acampado é

um sem-terra que tem como objetivo tornar-se um assentado.

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Geralmente os acampamentos localizam-se no interior de latifúndios ou mesmo nas

margens de rodovias, de acordo com a conjuntura política. As famílias que realizam as

ocupações e formam os acampamentos podem estar realizando esta ação pela primeira

vez, ou mesmo estar repetindo por diversas vezes. Alguns movimentos sociais de luta

pela terra realizam apenas acampamentos e esperam as promessas de governo para

realizar o assentamento das famílias. Contudo, na perspectiva do MST a ocupação é um

elemento fundamental para pressionar as autoridades e garantir o assentamento das

famílias. Assim, mesmo com os despejos o MST procura garantir a manutenção do

acampamento até que todas as famílias sejam assentadas.

Ao estabelecer um acampamento várias comissões se criam para dar forma à

organização. As famílias participam para garantir as condições básicas de

sobrevivência, como saúde, educação, segurança, comunicação, etc. Outra questão

importante é a disposição dos barracos. Aparentemente um acampamento é um

amontoado de barros, contudo, sua disposição ocorre de acordo com a topografia do

terreno e com as necessidades de segurança e resistência contra os despejos e a

violência dos jagunços.

Com o aumento no número de assentamentos no início da década de 1990, os mesmo

passaram a contribuir com a luta das famílias acampadas, fornecendo transporte,

alimentação, tratores para preparar a terra para o plantio etc. Isso contribuiu para que o

MST organizasse diversas ocupações e acampamentos ao mesmo tempo, fortalecendo a

luta, a espacialização e a territorialização do movimento. Por outro lado, isso também

colaborou para o desenvolvimento de outra experiência denominada de acampamento

permanente ou acampamento aberto. Este acampamento forma-se em uma região onde

encontra-se diversos latifúndios, onde famílias de vários municípios se reúnem e se

organizam. Assim, a partir desse acampamento outras ações de ocupação são

planejadas, formando-se novos acampamentos. Em caso de despejo também ocorre o

retorno de famílias para o acampamento principal.

Nesse sentido, o acampamento é espaço de resistência e luta, assim como, espaço

comunicativo e espaço interativo.

[...] Essas três dimensões do espaço de socialização política desenvolvem-se no acampamento em diferentes situações. No início do processo de formação do MST, na década de 1980, em diferentes experiências de acampamentos, as famílias partiam para a ocupação somente depois de meses de preparação nos trabalhos de base. Desse modo, os sem-terra visitavam as comunidades, relatavam suas experiências, provocavam o debate e desenvolviam

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intensamente o espaço de socialização política em suas dimensões comunicativa e interativa. Esse procedimento possibilita o estabelecimento do espaço de luta e resistência de forma melhor organizada, pois as famílias são conhecedoras dos tipos de enfrentamentos da luta. Durante seu processo de formação, pela própria demanda da luta, o MST construiu outras experiências. Assim, nos trabalhos de base não se desenvolveram as dimensões interativas, que passaram a acontecer no espaço de luta e resistência. E ainda, quando há um acampamento permanente ou aberto, as famílias podem iniciar-se na luta inaugurando o espaço comunicativo, desenvolvendo o espaço interativo no espaço de luta e resistência. É o caso de quando os sem-terra estão lutando pela conquista de várias fazendas e as famílias vão se somando ao acampamento, quanto outras vão sendo assentadas (FERNANDES, 2000, p. 77-78).

Essas são algumas experiências que marcam a trajetória de luta e organização do

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra no Brasil. Suas ações foram de tal

importância que colocaram a reforma agrafia na pauta das políticas públicas no país,

apesar de boa parte delas não terem contribuído de forma decisiva para melhorar a vida

dos trabalhadores no campo.

Essa reflexão sobre a organização do MST contribui decisivamente para se

compreender o papel dos movimentos sociais nas últimas décadas. Apesar de haver

atualmente um descenso nos índices de ocupações realizadas pelo movimento, devido

aos compromissos assumidos com o atual governo do Partido dos Trabalhadores no

país, o MST ainda se constitui em um dos maiores movimentos sociais de luta pela terra

já documentados no Brasil.

Conceitos Pré-Conceituados Acerca do MST: Breves Reflexões

Ao discutir sobre os conceitos pré-conceituados acerca do Movimento dos

Trabalhadores Sem Terra (MST), faz-se indispensável analisar como o discurso

midiático tem abordado o movimento, já que a mídia escrita e falada produz

representações na/para a sociedade. Nesse sentido, o papel educativo e alienador da

mídia se imbricam por conta do poder de barganha que muitas vezes sustentam todo o

aparato dos canais de televisão, jornais e revistas, o que é analisado por Vieira (2007)

quando afirma que:

[...] Não podemos perder o horizonte da mídia enquanto um espaço classista, isto é, uma empresa privada que reproduz os valores de mundo de uma determinada classe social ou fração de classe (VIEIRA, 2007, p. 168).

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Assim, a estreita ligação entre os interesses de classe e o que é divulgado pela mídia

demonstram o poder manipulador na reprodução de ideias hegemônicas da minoria

abastada da sociedade capitalista, que advoga a favor da propriedade privada e que

penaliza os projetos que estão na contramão dos interesses do atual modo de produção.

Contudo, como ainda contribui Vieira (2007):

[...] Claro que não se trata de atribuir aos veículos de comunicação da indústria cultural um poder de manipulação total sobre a sociedade. A própria educação permite uma leitura enviesada sobre a sociedade e sobre a forma com que ela mesma vai traduzir as informações que recebe (VIEIRA, 2007, p. 174).

Nesse contexto, os movimentos sociais representam contrapontos ao sistema capitalista

ao questionarem o papel da propriedade privada, da produção e da sociedade, com ações

contestatórias na tentativa de romper com a ordem posta (VIEIRA, 2007).

A desqualificação/criminalização do movimento é anunciada pela mídia e ‘aceita’ por

parte da sociedade tendo como eixos de sustentação ideológica a violência,

desmoralização das leis, corrupção envolvendo membros dos movimentos, defesa do

socialismo, dentre outros, o que também é exemplificado por Dominguez (2009),

quanto à associação do MST à ilegalidade e à baderna, bem como ao uso do termo

invasão no lugar de ocupação.

Percebe-se, dessa forma, que a criminalização do MST objetiva retirar a dimensão

política que envolve a arraigada concentração de terras no país, bem como reafirma a

dicotomia campo-cidade ao alegar que os camponeses do MST são atrasados, portanto,

não contribuem para o progresso, não se inserem no contexto do agronegócio.

Dominguez (2009), ainda relata que a luta é árdua e os ataques de setores da sociedade

são fortes, como por exemplo, a violência do massacre em Corumbiara, Rondônia, onde

16 militantes foram assassinados em 1995 e em Eldorado dos Carajás, Pará, com 19

mortes, sendo que nas duas chacinas, policiais e jagunços foram os responsáveis.

Outro fato de grande destaque na mídia foi a ocupação por 250 famílias ligadas ao MST

da Fazenda Cutrale, grande produtora de soco de laranja, situada no município de

Borebi (SP). O caso foi mostrado pelo Jornal Nacional, da Rede Globo como uma ação

de invasão e destruição, contudo, não foram expostos dados, de acordo a Dominguez

(2009), sobre a ilegalidade do uso de cerca de 2.700 hectares de terras da União que

foram griladas para o cultivo de laranja. Nesse sentido, Villas Bôas (2008) questiona a

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des(informação) da sociedade quanto aos crimes cometidos contra os que lutam pela

igualdade no campo:

Mas que violência cometem os militantes do MST? Os dados da Comissão Pastoral da Terra sobre assassinatos no campo desmentem contundentemente a ideia de que o MST e outros movimentos sociais são os sujeitos da violência. Entre 1985 e 2004 foram 1379 trabalhadores rurais assassinados. Desses, 75 foram a julgamento, e apenas 15 mandantes e 64 executores foram condenados1. A violência atribuída ao MST é aquela representada pela classe que entende como violento o ataque às suas propriedades improdutivas, que entende por violenta a ação que em nome do direito à vida compreende que esse princípio é prioritário se comparado ao direito à acumulação de capital (VILLAS BÔAS, 2008, p. 163).

Na “bancada ruralista” no Congresso Nacional, a senadora e latifundiária Kátia Abreu

(PDS-TO), expõe o MST como um movimento que não tem como propósito conseguir

“um pedaço de terra”, sendo uma organização criminosa que age à margem da lei

(Dominguez, 2009). Nesse contexto político, Demo (1993) contribui ao afirmar que o

Estado está a serviço da iniciativa privada, o que reforça a degradação das classes mais

pobres, o que é ratificado por Santos (2000) para considerar aí o papel do Estado na

manutenção do status quo dos que detém o poder, já que o Estado representa uma

relação de dominação, contudo, pode ser mobilizado para combater tal condição.

Destarte, a estrutura fundiária do Brasil está longe de contemplar as normas de um

governo democrático, pautado na igual distribuição de terras, que por sua vez conduz à

fixação do homem no campo, evitando o surgimento de impasses como a falta de

moradia nas grandes cidades, a violência, dentre outros impactos que provocam a

desordem da sociedade. Questões como a bancada ruralista no Congresso Nacional

fazem coro ao latifúndio, propagando a herança da desigualdade, um efeito dominó

maléfico ao bem estar da população rural e/ou urbana.

As manobras que marcam as complexidades do quadro agrário perpassam na maior

parte do território brasileiro por grandes extensões de terras improdutivas e

latifundiários que, em muitos casos, adquirem áreas via grilagem de terras, o que

propagam os impasses que afetam principalmente os mais pobres. Um dos fatos que

caracteriza a especulação acerca do movimento está ligado à questão dele se instalar em

fazendas consideradas produtivas, de acordo com a visão dos fazendeiros.

Há grandes extensões de terras sem produtividade nas mãos de poucos, portanto, a

criação de leis mais eficientes no tocante a “terra cumprindo sua função social” são

imprescindíveis. A função social da propriedade rural é vista no Artigo 186 da

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Constituição Federal, sendo cumprida quando atende, simultaneamente, segundo

critérios e graus de exigências aos seguintes requisitos: a) aproveitamento racional e

adequado; b) utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do

meio ambiente; c) observância das disposições de trabalho; d) exploração que favoreça

o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

Ao verificar a evolução da situação agrária brasileira, percebe-se que pouco mudou

quanto à distribuição da terra, comprovando as dificuldades do MST na construção de

um processo que garanta o acesso a terra.

Considerações Finais

Como foi visto, o conceito de movimento social têm sido utilizado com maior

frequência no decorrer das últimas décadas do século XX, sobretudo após 1960,

momento em que os movimentos culturais, étnicos, de gênero, de identidades territoriais

ganharam espaço político nos Estados Unidos e na Europa. Esse onda de protestos e

organização popular também chegou na América Latina através dos movimentos pela

democracia, dos povos indígenas e também da luta pela terra. Tal fato colocou a

necessidade de se compreender teoricamente o papel desses movimentos na sociedade.

Destaca-se aqui a contribuição de sociólogos, historiadores, geógrafos entre outros.

Por se situarem fora da esfera do trabalho e da produção, ou seja, no espaço da

reprodução das relações sociais capitalistas, os movimentos sociais deram uma

contribuição fundamental na compreensão da dimensão da luta de classes, assim como,

no significado dos conflitos políticos e sociais. A resposta dos movimentos sociais

frente a incapacidade do movimento operário de apresentar alternativas viáveis às

desigualdades sociais, possibilitou rever concepções e elaborar novas teorias.

Apesar de apresentar novos elementos no campo da resistência contra a apropriação da

práxis social pelo capital, a trajetória de ascensão e crise de muitos movimentos sociais

também possibilitou uma reavaliação de práticas e estratégias por parte daqueles que se

situam no campo da militância política. O aparente abandono do critério da organização

foi um dos fatores que mais contribuíram para o desaparecimento dos movimentos

sociais, assim como pela ineficiência de sua ação política, sua segmentação e

isolamento.

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Diante disso, pode-se perceber que os movimentos sociais mais organizados ocupam na

atualidade papel destacado na ação e no confronto político, sobretudo, devido a

incapacidade do movimento sindical de dar resposta a grave crise enfrentada com a

reestruturação produtiva do capital. Com isso, entende-se que é de fundamental

importância compreender os movimentos sociais em sua totalidade, ou seja, seus

anseios, suas formas de organização e seus processos de luta, para assim poder

identificar os novos elementos que compõem as contradições da sociedade capitalista na

contemporaneidade, potencializando assim as ações rumo a emancipação social.

Notas ___________________ 1 Graduando em Geografia pela UFG/CAC. Membro do Núcleo de Pesquisa Geografia, Trabalho e Movimentos Sociais (GETeM). Bolsista PROBEC. 2 Graduanda em Geografia pela UFG/CAC. Membro do Núcleo de Pesquisa Geografia,Trabalho e Movimentos Sociais (GETeM). Bolsista PIBIC. 3 Mestranda em Geografia pela UFG/CAC. Membro do Laboratório de Estudos de Gênero em Rede (LEGER). Bolsista CAPES. 4 Mestranda em Geografia pela UFG/CAC. Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas Socioambientais (NEPSA). Bolsista CAPES.

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