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Apontamentos - História da Idade Moderna A periodização histórica, tal como a entendemos (História da Idade Antiga, História da Idade Média, Historia da Idade Moderna e História da Idade Contemporânea), tem como base a evolução histórica da Europa e são períodos temporais meramente convencionais; Os limiares de cada período são fictícios, podendo variar, consoante a história de cada país europeu; Balizas cronológicas da Idade Moderna: Início: Conquista de Ceuta pelos portugueses – 1415; Tomada de Constantinopla pelos Turcos – 1453; Descoberta da América por Cristóvão Colombo – 1492; Viagem de Vasco da Gama à Índia – 1497; Afirmação do Renascimento (quattrocento italiano); Crises do século XIV como marco estrutural em que termina a Idade Média e surge a Idade Moderna. Fim: Revolução Francesa (1789); Início do século XIX (Portugal e Espanha); Mais tarde (Europa central e de leste). Capítulo I O Homem do Século XVI No século XVI ocorreram mudanças climatéricas na Europa, que iniciaram uma pequena idade glacial”, que se viria a prolongar até meados do século XIX; A dependência do homem em relação ao clima era maior do que hoje; A habitação

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Apontamentos - História da Idade Moderna

A periodização histórica, tal como a entendemos (História da Idade Antiga, História da Idade Média, Historia

da Idade Moderna e História da Idade Contemporânea), tem como base a evolução histórica da Europa e

são períodos temporais meramente convencionais;

Os limiares de cada período são fictícios, podendo variar, consoante a história de cada país europeu;

Balizas cronológicas da Idade Moderna:

Início:

Conquista de Ceuta pelos portugueses – 1415;

Tomada de Constantinopla pelos Turcos – 1453;

Descoberta da América por Cristóvão Colombo – 1492;

Viagem de Vasco da Gama à Índia – 1497;

Afirmação do Renascimento (quattrocento italiano);

Crises do século XIV como marco estrutural em que termina a Idade Média e surge a

Idade Moderna.

Fim:

Revolução Francesa (1789);

Início do século XIX (Portugal e Espanha);

Mais tarde (Europa central e de leste).

Capítulo I

O Homem do Século XVI

No século XVI ocorreram mudanças climatéricas na Europa, que iniciaram uma “pequena idade glacial”,

que se viria a prolongar até meados do século XIX;

A dependência do homem em relação ao clima era maior do que hoje;

A habitação

A casa era distinta no campo ou na cidade e variava ainda, consoante o estrato social do seu proprietário;

Predomínio da madeira sobre a pedra ou o tijolo, nas cidades da Europa central e do norte; Na Europa

ocidental predominava o tabique (madeira e adobe), a cobertura era de colmo ou de telha; As janelas de

vidro surgem nas cidades a partir do século XVI, o ladrilho e o sobrado constituíam o chão das casas mais

ricas e o aquecimento com lareira era raro, sendo o mais vulgar o uso de braseira;

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No mundo asiático, ligava-se o adobe com o bambu. Na cidade, a casa pobre era uma casa térrea,

constituída por dois compartimentos: a “casa dianteira” (“cómodo da frente”) e a câmara ou sobrado

(“cómodo traseiro”) que podia encontrar-se na traseira daquela ou num piso superior. A “casa burguesa”

cresce em altura, com uma parte térrea, constituída pela loja ou oficina e, nos pisos superiores a residência

do artesão ou do mercador e dos trabalhadores; No campo, a habitação associava pessoas e animais.

A demografia e a economia

A Europa do século XVI permanecia, em grande parte, não habitada pelo homem; a floresta, os baldios,

as charnecas dominavam os campos cultivados e permaneciam como fonte de riqueza para o homem:

forneciam lenha, caça, frutos silvestres, etc. Os campos, permanentemente cultivados, eram rotativamente

deixados em pousio. Os adubos eram naturais, provindo dos excrementos humanos e animais. Por vezes,

os campos cresciam à custa da floresta e dos pântanos. O vento e a água eram as grandes forças de

energia motriz. Excepcionalmente, o carvão de pedra e a madeira produziam igualmente energia, aplicada

ao aquecimento ou à indústria.

Os transportes

O cavalo e o dromedário eram os animais destinados ao transporte terrestre, enquanto os diversos tipos de

barcos faziam a circulação nos rios, mares e oceanos.

A alimentação

Os regimes alimentares eram os tradicionais, alterados na Europa do período moderno pela divulgação do

consumo do arroz, a partir do Mediterrâneo, ou pela introdução na dieta alimentar e consequente

vulgarização de produtos do continente americano, como a batata, o milho maiz, o tomate e o peru. O pão,

a carne, o peixe, os mariscos, os lacticínios, os vegetais, as gorduras animais (manteiga, banha e óleo de

peixe) e vegetais (o azeite) eram comuns na Europa, mesmo entre os pobres. Como bebidas, para além da

água, usava-se o vinho, a cerveja, a cidra.

A peste

As doenças que atacavam o homem moderno eram várias: umas provocadas pelas carências alimentares;

outras pelas deficientes condições higiénicas; outras de carácter infecto-contagioso, geradoras de

epidemias, as designadas “pestes”. Como prevenção às epidemias, propunha-se a fuga, o isolamento dos

doentes, a quarentena e as queimas de ervas odoríferas, como o alecrim.

A segurança

O homem deste período era violento. A agressividade manifestava-se no fanatismo das guerras religiosas,

no modo como assistia às condenações como se se tratasse de um espectáculo, no seu comportamento

perante a dor física.

Page 3: Os meus apontamentos_História da Idade Moderna

Perspectiva sobre a morte

A morte era entendida como uma passagem para uma outra vida e era preparada pelo testamento.

A estrutura familiar

A família prolongava-se nos filhos. À grande natalidade correspondia também uma grande mortalidade

infantil que tenderia a diminuir, ainda no período moderno.

A noção do tempo

A noção do tempo era relativa e tinha como base o calendário natural: a sucessão dos dias e das noites, as

estações dos anos e a sua relação com o calendário agrícola ou o relacionamento com as festividades

cristãs. No entanto, no período moderno divulgam-se os relógios que tinham começado a surgir na Europa

no século XIV.

A língua

É no século XVI que as línguas europeias se começam a codificar, através das primeiras gramáticas. Para

a divulgação do texto escrito contribuiu a imprensa, inventada no século anterior. Os algarismos substituem

a numeração romana, assim como o experimentalismo começa a questionar conhecimentos que vêm da

Antiguidade.

Capítulo II

O meio económico: reconstrução e expansão

A riqueza de um reino, de um senhorio ou de uma família media-se pelo número de indivíduos que

possuíam. A natalidade era limitada pelo número de mulheres, pela sua idade fisiológica e pela duração

prolongada do aleitamento. O intervalo inter genésico entre os partos, tidos por uma mulher, era de cerca

de dois anos. A mortalidade feminina no parto e no período pós-parto era grande, devido à falta de higiene

e à quase ausência de cuidados médicos.

A mortalidade feminina e masculina eram elevadas, cifrando-se a esperança média de vida à volta dos 40

anos. As fomes e as pestes continuam a ser as grandes destruidoras da população, vitimando idosos e

crianças. Apesar disso, os séculos XV e XVI assistiram a um crescimento demográfico que permitiu à

Europa conhecer novos arroteamentos de terras e, nomeadamente ao mundo mediterrânico, expandir-se

para outros continentes. Estes séculos ficaram conhecidos pela grande movimentação populacional: a

mobilidade dos camponeses para novas aldeias e novas terras; a expulsão de judeus e mouros da

Península Ibérica. A densidade demográfica rondaria os 30 habitantes por km2, sendo a França e a

Península Itálica as regiões mais povoadas e o Norte da Europa o mais fracamente habitado.

O século XVI conheceu a duplicação da população de grande parte das cidades europeias.

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A indústria conquistou o campo, ao mesmo tempo que a burguesia investia na aquisição de terras no

termo da cidade. Os costumes comunitários persistiam no campo que era o abastecedor da cidade. A

diferenciação entre campo e cidade não era tão nítida como hoje, vivendo no mundo urbano trabalhadores

rurais do termo, para além de a própria cidade conter, em si, hortas, pomares, almuínhas e, nas ruas,

circularem animais domésticos e gado.

A agricultura mantinha-se como a principal actividade económica e dois anos agrícolas maus tornavam-se

numa catástrofe. A fome, provocada pelos maus anos agrícolas, exigia uma rápida importação de cereais

de outras regiões. O comércio dos cereais, nomeadamente do trigo, era definido por rotas regionais ou por

rotas entre reinos ou continentes diferentes, como aquelas que traziam os cereais do norte de África para a

Europa mediterrânica. Os preços dos cereais eram fixados pelas autoridades urbanas ou pelo próprio rei.

Apesar da importância dos cereais no tráfego comercial, este era alimentado pelas especiarias, pelos

produtos industriais, como os têxteis e outros, pelas madeiras, etc. A floresta era fonte de riqueza e apoio

para uma série de pequenas industrias, que iam desde o carvão à madeira.

Na cidade, uma parte importante do comércio residia na venda dos produtos manufacturados pelos

artesãos. Os artesãos de um ofício ou mester reuniam-se numa corporação de mestres e companheiros, a

qual regulamentava o ofício e definia o preço dos artefactos produzidos. Os ofícios tal como os artesãos

tinham uma hierarquia que se traduzia pela localização no espaço urbano, pelo salário, pelo prestígio social

e político dos seus artífices, ou pela permanência, sob seu controlo, de outros ofícios afins.

Uma das indústrias mais importantes era a têxtil que definiu zonas de produção, como a Flandres, a

Inglaterra, Florença ou a Espanha. Esta última era com a Inglaterra uma zona produtora de lã. A produção

têxtil conhecia uma associação entre factory system e domestic system. O início do período moderno

marcou o princípio da produção da seda europeia, nomeadamente nas cidades italianas.

Neste período surgiu também a indústria hulhífera, na Europa central, levando ao aparecimento do alto-

forno a fole, movido por meio de rodas de água, para a produção do ferro fundido. A exploração das minas

de cobre e de prata deu origem a uma indústria capitalista, associada a nomes de famílias banqueiras

alemãs, como a dos Fugger de Augsburgo. Pela primeira vez, extraiu-se a prata dos outros metais, como o

cobre, através da técnica do mercúrio.

O início da modernidade está ligado ao aparecimento da indústria do livro impresso, graças à invenção da

imprensa com caracteres móveis por Guttemberg, em meados de Quatrocentos.

O mar é a grande via de comunicação e de comércio, sendo as estradas usadas pelos correios ou pelos

indivíduos em pequenas comitivas.

Os mercados situavam-se nos agregados urbanos, espaço, por excelência, das trocas, quer periódicas,

como as feiras e os mercados, quer diárias nas tendas e lojas, e eram regulamentadas pelas autoridades

municipais ou senhoriais. As feiras eram protegidas pelo senhor da terra e, as mais importantes, pelos

soberanos, como as de Medina del Campo, em Espanha, ou as de Genebra e Lyon, em França. Em certas

cidades havia a bolsa de mercadorias, como em Anvers (Antuérpia), em 1533.

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A moeda distinguia-se: a moeda circulante (ouro, prata e bolhão ou cobre) e moeda de conta ou moeda

padrão. Esta última era, em França, a libra tornesa (de Tours) ou a libra parisiense (de Paris) que circulava,

cunhada em escudos ou outras espécies áureas, em pistola e tostões de prata, e em espécies subsidiárias

de cobre ou de bolhão (liga de prata e outros metais inferiores em que estes constituíam a maior

percentagem).

A paridade entre o ouro e a prata era fixa e determinada pelo poder emissor, na generalidade o rei,

podendo também ser por um senhor que usufruísse do direito de lavrar moeda própria no seu senhorio.

A circulação das espécies monetárias era universal, ou seja, ultrapassava os limites territoriais do reino ou

senhorio que a emitia, pois valia consoante o ouro, prata ou cobre que continha; ou seja, a moeda era

instrumento de troca mas era também uma mercadoria. O cambista ou cambiador era o avaliador das

espécies nos vários mercados. Na segunda metade do século XV, aumentou a circulação e a reserva de

ouro na Europa, devido à drenagem deste metal de África para a Europa, quer, via rotas caravaneiras que

de Tombuctu traziam o ouro para os portos do norte de África, quer via Portugal que atingiu as fontes do

ouro do Sudão.

A abundância de ouro levou a uma depreciação deste metal perante a prata e conduziu à exploração de

novas minas e novas técnicas para a obtenção de prata, na Hungria e na Áustria. Esta situação só seria

alterada com a chegada do ouro, mas sobretudo, da prata americana, a partir de 1530, trazidos pelos

espanhóis.

A partir do século XIII, os mercadores europeus conheceram a letra de câmbio e o “recâmbio”, para

substituir a moeda, nos negócios de longa distância. Cédulas, empréstimos e rendas eram outras formas de

crédito. Os capitalistas desta época eram mercadores cambistas que emprestavam dinheiro a crédito e que

exerciam as funções de bancos de depósito, como os Médicis, os Fugger, os Weltzer.

A partir de 1520, a Europa entrou em recessão: os preços subiram, nomeadamente os agrícolas,

provocados pela entrada excessiva de metais preciosos não acompanhada pelo aumento do consumo; os

rendimentos em espécie tornaram-se um valor-padrão, em detrimento da moeda; o objectivo do lucro

imediato levou ao investimento nos negócios e ao recurso ao crédito; este entrou em crise, levando à

falência de algumas das grandes casas bancárias; os produtos ultramarinos invadiram a Europa, detendo o

rei de Portugal, entre 1504 a 1540, uma parte importante deste comércio, tendo-lhe sucedido a Espanha, a

partir de 1550.

A Europa dividia-se em áreas de influência geográfica e mercantil: o Mediterrâneo; a fachada atlântica; o

Báltico e a Europa central. No mundo mediterrânico sobressaíam as cidades italianas, nomeadamente

Génova e Veneza; na fachada atlântica, dominavam Lisboa com a Casa da Mina e a Casa da Índia e

Sevilha, com a Casa de Contractación; no mundo báltico, temos as cidades hanseáticas com Lubeck e

Dantzig; na Europa central, sobressaíam com Augsburgo, Nuremberga que se encontrava na rota de

Veneza, Frankfurt e Colónia, eixos para a Flandres e para Leipzig, no Báltico. O desenvolvimento do

comércio e dos seus monopólios levou à afirmação dos Estados, que obrigou os soberanos a socorrerem-

se do crédito dos banqueiros endividando-se.

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Capítulo III

Humanismo e Renascença: A Renovação da Europa

A Renascença é uma evolução natural dos finais da Idade Média e não um corte com esta época da

humanidade. O seu limiar inicial remonta ao renascimento urbano dos séculos XII e XIII, para alguns

autores. No entanto, convencionou-se relacioná-la com a maturidade do renascimento italiano, nos meados

do século XV e inícios do XVI.

A Renascença, iniciada na Itália, procurava retomar o pensamento e as formas da expressão plástica da

Antiguidade greco-romana. A Renascença está directamente relacionada com o Humanismo, movimento

que situava o homem no centro das preocupações espirituais e dos estudos e arrasta a uma nova

concepção do mundo.

O aparecimento do livro impresso e a decadência das universidades contribuíram para as mutações

intelectuais que caracterizaram o humanismo e a Renascença. O poder da imprensa leva à criação da

censura, por parte dos soberanos e da Igreja, a qual é entregue, na generalidade, às universidades. A maior

parte dos livros versava temas religiosos (Bíblia e A Imitação de Cristo), seguindo-se as obras de literatura,

direito e ciência.

Divulgou-se o ensino elementar, nas escolas paroquiais, sendo gratuito para os mais carenciados. Versava

o ensino da leitura, da escrita e do cálculo. O ensino intermediário desenrolava-se em colégios, onde

ensinavam professores laicos e eclesiásticos. Neles também residiam alunos das faculdades das Artes.

Outros substituíam as universidades nas cidades onde estas não existiam.

As universidades mantiveram a sua organização medieval, agrupando mestres, estudantes e agentes

diversos. Os estudantes estavam reunidos em “nações”. À sua frente estava o reitor eleito, o conselho da

universidade e a assembleia de professores. Os soberanos e a Igreja concediam-lhe privilégios e isenções.

As faculdades superiores eram as de Teologia, Direito (canónico e/ou civil) e Medicina a que se acedia

depois de frequentar a faculdade das Artes. O ensino universitário tem por base o pensamento escolástico,

em crise nesta época, devido à querela dos universais, entre realistas e nominalistas.

Florença, no tempo dos Médicis, foi a cidade do humanismo, destacando-se o escritor Lourenço Valla, o

filósofo neoplatónico Marsílio Ficino, o arquitecto Brabante, o escultor Donatello e os pintores Botticelli e

Ghirlandaio.

Roma sucedia a Florença, cujo humanismo fora interrompido pelo fanatismo de Savonarola. Os papas

Alexandre VI, Júlio II e Leão X tornaram-se os grandes papas do Renascimento italiano. Bramante, Miguel

Ângelo e Rafael deram o nome à basílica de S. Pedro, no Vaticano. O homem, como criação de Deus, era o

centro do universo.

Ao Renascimento italiano, corresponde o ideal do homem, definido por Baldassarre Castiglione, o cortesão.

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O Renascimento teve em Veneza características excepcionais, afirmadas pelo pensamento aristotélico e

averroísta de Pomponazzi, embora se tivesse tornado o principal centro de arte, após o saque de Roma de

1527.

A mobilidade dos universitários e das gentes da Igreja fez irradiar os ideais do humanismo e a estética da

Renascença italiana para outros reinos da Europa ocidental e respectivas universidades. Entre esses

humanistas, temos Erasmo de Roterdão, o português Damião de Góis, o francês Rabelais, o inglês Thomas

Moore, autor da Utopia, o holandês Dürer, entre outros. Também os humanistas da Europa ocidental

estudavam e dominavam o latim, o grego e o hebraico, mas distinguem-se dos italianos pela preocupação

com a política e com a religião. Lefebvre d’Etaples e Erasmo renovaram o sentimento religioso, através do

misticismo, o primeiro, e do ideal humano da Antiguidade, o segundo.

Não houve humanismo na Europa mas humanismos que, em alguns locais, afirmaram os nacionalismos e

renovaram as línguas nacionais. Humanistas houve que se afirmaram no campo da ciência (astronomia,

matemática), da filosofia, da medicina, como Leonardo da Vinci, em Itália, o polaco Copérnico, defensor da

teoria heliocêntrica, ou os médicos Ambroise Pare e Vesálio.

A literatura italiana renovou-se com Ariosto que integrou o romance de cavalaria no espírito do

Renascimento, ou com Maquiavel, autor do primeiro tratado político. A arte e a literatura do final do

Renascimento integraram um estilo designado por maneirista. No período maneirista renovou-se a música

religiosa com Palestrina.

Contemporâneo da Renascença artística italiana foi o gótico flamejante na Europa ocidental que deu estilos

nacionais, como o manuelino, em Portugal, e o plateresco ou isabelino, em Espanha. Com o incentivo às

línguas nacionais, ocorreu a tradução da Bíblia do latim para as línguas faladas, iniciada na Alemanha com

Lutero.

A Renascença atingiu também os países do leste europeu e Constantinopla, onde dominavam os turcos. A

Renascença foi um fenómeno europeu que exerceu uma acção mais profunda na Itália e se expandiu por

toda a Europa, apoiando-se nas tradições locais, tornando-se num agente de unificação da cultura

europeia.

Capítulo IV

A Reforma

A Reforma foi uma cisão dentro da cristandade ocidental que teve causas religiosas, morais, económicas,

sociais e políticas e foi, também, uma renovação dentro da Igreja romana, vulgarmente designada por

Contra-Reforma, para se distinguir da Reforma protestante.

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Entre as causas religiosas, encontramos: a angústia do homem do final da Idade Média, perante o pecado e

a morte; a individualização da religião e o misticismo; os movimentos contestatários de Roma que

rejeitavam a tradição católica e afirmavam o primado da Bíblia, como fundamento da fé, aplicavam a

metodologia crítica aos textos sagrados e permitiam a livre interpretação destes, independentemente dos

conhecimentos teológicos dos fiéis, mas permaneciam submissos à Igreja; a importância do pensamento

erasmiano entre os humanistas e os críticos.

Entre as causas morais, anotamos: a dissolução dos costumes do clero, em toda a sua hierarquia; a

indistinção entre o político e o religioso, entre as hierarquias eclesiásticas.

Entre as causas económicas, sociais e políticas, temos: o crescente desenvolvimento económico da

burguesia e do capitalismo comercial; o empobrecimento do mundo rural (camponeses e pequena nobreza

terratenente), devido aos maus anos agrícolas e às fomes, gerador das revoltas dos camponeses contra a

miséria, na Europa central; a expansão nas diversas camadas sociais do erasmismo; a fragmentação

política, em principados e senhorios eclesiásticos, do Sacro Império que não permitia uma centralização

forte do poder imperial perante o fisco pontifical, como a colecta das indulgências.

A Reforma, dita protestante, foi conhecida por vários movimentos: luteranismo, calvinismo, presbterianismo,

anabaptistas, anglicanismo, entre outros. Teve como antecedentes os movimentos contestatários do final

da Idade Média, como os de Wiclif, na Inglaterra, os de João Huss, conhecidos por hussitas, os taboristas,

os valdenses e outros.

A cisão reformista iniciou-se com Martinho Lutero e teve as seguintes fases:

1517 (31/10) Afixação em Wittenberg das 95 teses contra Roma e a colecta das indulgências;

1519 Disputa de Leipzig;

1520 Publicação das obras de Lutero;

1520 (25/12) Queima da bula Exsurge domini;

1521 Assembleia de Worms, onde Lutero recusou retratar-se, foi excomungado, expulso do Império e

se refugiou em Wartburgo:

O pensamento de Lutero radicou-se nos seguintes princípios: a salvação dos homens era mérito de Jesus

Cristo; as obras eram inúteis à salvação; o sacerdócio era universal; os sacramentos actuantes na graça de

Deus em cada homem eram o baptismo, a comunhão e a confissão ou penitência; a acção da

predestinação na salvação de cada cristão.

Lutero reclamou: a formação de Igrejas nacionais autónomas, para o que contou com o apoio dos príncipes

alemães; a extinção das ordens mendicantes; a extinção do celibato eclesiástico; a comunhão sobre as

duas espécies; medidas contra o luxo e a usura.

O luteranismo organizou-se e ocupou um espaço geográfico na Alemanha: associou-se ao catolicismo

contra os camponeses e a pequena nobreza alemã, seguidores do pensamento reformista e social de

Munzer, em 1525; os príncipes alemães associaram-se e formaram a liga de Smalkalde, em 1531; a paz de

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Augsburgo era o reconhecimento, por parte do imperador Carlos V, da existência oficial das Igrejas

luteranas nacionais, obrigando os súbditos a seguir a religião do príncipe.

Aparecem outros movimentos reformistas como os sacramentários de Zwingli, defensores dos seguintes

princípios: predestinação; recusa do baptismo e da comunhão como sacramentos.

Ou os anabaptistas e mennonitas que: submetiam a Igreja ao poder político; reconheciam o primado da

conversão pessoal pelo que só admitiam o baptismo de adultos; rejeitavam a autoridade do Estado e a

propriedade individual.

A segunda vaga dos movimentos reformadores atinge a França, a Inglaterra e a Escócia, principalmente.

Nesta segunda fase, temos o movimento pregado por Calvino que atingiu a França (cuja Igreja era nacional,

no respeitante à disciplina eclesiástica, desde a Concordata de Bolonha, em 1516), cuja realidade política,

social e religiosa era diferente do Império, e outras regiões.

Os princípios do calvinismo são: a revelação encontra-se nas Escrituras (Antigo e Novo Testamentos); a

predestinação; a fé é fonte de salvação; o baptismo e a ceia são testemunhos da graça de Deus, mas não

fonte de graça divina.

A cidade de Genebra tornou-se o balão de ensaio da concepção político-religiosa do estado calvinista. O

calvinismo estendia-se pela França, fundava as primeiras Igrejas e convocava o primeiro sínodo nacional,

em 1559. Nesse mesmo ano, John Knox levava o calvinismo para a Escócia e substituía o catolicismo pelo

presbiteranismo. Em 1534, Henrique VIII, por razões políticas, abandonava Roma, tornando-se pelo Acto de

Supremacia o chefe supremo da Igreja inglesa.

A Reforma inglesa (anglicanismo) assentou nos seguintes princípios: o rei era o chefe supremo da Igreja,

rejeitando-se o Papa e Roma; extinguiu-se o clero regular, passando os seus bens para a coroa; o rei

nomeia os bispos como chefe supremo da Igreja anglicana; o culto aproximou-se do católico, depois de

uma afinidade ao calvinismo no respeitante ao dogma.

Ao mesmo tempo a Igreja católica fazia a sua Reforma, que se caracterizou como Contra Reforma; a

reforma disciplinar e doutrinal (Concílio de Trento), a renascença católica e a missionação.

Instrumentos dessa Contra Reforma católica foram o Santo Ofício, as novas ordens religiosas, como a dos

jesuítas de Santo Inácio de Loyola. A Companhia de Jesus formava, nos seus Colégios, os seus padres,

dentro dos ideários humanista e teológico católicos e, posteriormente, abriu colégios para leigos.

O Concílio de Trento, iniciado em 1545 e terminado em 1563, definiu o dogma e restaurou a disciplina

eclesiástica: o dogma baseia-se na Escritura e na tradição; a interpretação das Escrituras pertence à Igreja;

a hierarquia eclesiástica (papa e bispos) detém o poder confiado por Cristo a S. Pedro e aos apóstolos; a

justificação do homem vem da graça divina e são os sacramentos que lha conferem; as obras e a fé

intervêm na salvação de cada cristão; afirmação da presença de Cristo, pela transubstanciação, no pão e

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no vinho da Eucaristia; os sacerdotes são educados em seminários e os monges em clausura; implementa-

se a catequização dos cristãos; precisou-se a legislação canónica sobre o casamento.

A renascença católica realizou-se com as novas ordens, a sua pregação e o seu ensino: os colégios dos

jesuítas dedicaram-se ao ensino masculino e à missionação; as ursulinas investiram no ensino feminino; S.

Filipe Néri criou o Oratório, ordem devotada à oração e à actividade apostólica; Sta Teresa de Ávila fundou

as carmelitas reformadas e abriu novos caminhos ao misticismo cristão; renovaram-se os estudos

teológicos.

Os espaços geográficos da Reforma protestante encontram-se no centro e norte da Europa, enquanto a

Reforma católica se localizou à volta do Mediterrâneo. As duas Reformas antagonizaram-se pois as noções

de liberdade e de tolerância religiosas eram, com raras excepções, inexistentes na época. Destes

movimentos, o luterano foi o mais retrógrado em relações ao capitalismo.

Na cultura, permaneceram os métodos humanistas. Na arte, a reforma calvinista foi iconoclasta, enquanto

os demais protestantes apenas aceitavam a imagem de Cristo.

Capítulo V

As Sociedades Europeias

A sociedade moderna assentava em princípios diferentes daqueles que hoje regulam as nossas

sociedades.

A religião estava presente em todos os actos da vida familiar e pública, marcando os princípios que regiam

a sociedade. A sociedade defendia as diferenças sociais, prevalecendo a ideia de igualdade perante Deus e

a morte. A sociedade era obra de Deus que a criou una e diferente nas suas funções, à semelhança do

corpo humano onde cada órgão e membro desempenham funções diversas mas necessárias.

A sociedade estava dividida em três ordens ou estados: clero, nobreza e povo. Cada estado tinha funções

diferentes mas solidárias umas com as outras: o clero rezava; a nobreza defendia e o povo trabalhava. Se o

privilégio definia os estados mais poderoso, a riqueza, definida pela posse da terra e/ou pelo dinheiro,

marcava os indivíduos dentro de cada estado.

Numa sociedade de ordens, os grupos sociais encontravam-se hierarquizados segundo a honra, a estima, a

dignidade, vinculadas a determinadas funções pelo conjunto dos habitantes. A sociedade de ordens ou de

estados não era estanque, havendo uma mobilidade de uma ordem inferior para outra superior, por mérito

ou riqueza próprios e pela vontade do rei.

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A hereditariedade era importante porque ela permitia à família sobreviver, na vida e no pós-morte: as

gerações eram solidárias entre si. A importância da família encontrava-se não só na transmissão do nome

ou de uma terra, mas na aprendizagem de um ofício.

A segunda metade do século XV e o primeiro quartel do século XVI foram marcados pelo crescimento

demográfico e por uma certa mobilidade social. Nas cidades, uma burguesia capitalista afirmava-se nos

sectores têxtil e mineiro e investia uma parte do seu capital na aquisição de bens fundiários.

Sobre os camponeses, aumentava os direitos em espécie e em dinheiro, assim como apareciam novas

formas de arrendamento dos campos. A opressão sobre os camponeses, assim como as prédicas

igualitárias dos lolardos, taboritas e anabaptistas, alimentaram as revoltas dos camponeses e dos homens

dos ofícios contra a miséria, a partir de 1520-1530. Os camponeses permaneceram oprimidos com os

direitos banais e os direitos feudais, para além do dízimo à Igreja, enquanto os lavradores trabalhavam em

propriedades suas ou arrendadas à nobreza ou ao clero.

Na cidade, a situação dos mesteirais variava com o ofício e a sua importância na economia. A instrução era

apanágio do clero e de um grupo de burgueses que enveredava pela magistratura, os letrados ou legistas.

A nobreza caracterizava-se pela posse da terra e pela residência no senhorio ou na corte, com excepção da

nobreza italiana que residia nas cidades, embora fosse também terratenente.

Capítulo VI

Os Estados Europeus

Os estados modernos definiram-se pela afirmação das consciências e das línguas nacionais, das fronteiras

territoriais, da realeza perante os senhores feudais, da administração central, pelo desenvolvimento do

comércio e pelo incremento da instrução, graças à imprensa.

Observou-se a decadência do imperador perante o papa e as realezas e da superioridade do papa (poder

teocrático) perante os reis. Os papas mantiveram o poder espiritual, o direito de condenar uma heresia ou

um rei herético, o direito de apelar às cruzadas e o de árbitros em questões internacionais (ex: o Tratado de

Tordesilhas, entre Portugal e a Espanha, em 1494).

O poder real era também de origem divina, governando os reis “pela graça de Deus”, sendo ungidos pela

Igreja do reino. Os reis rodeavam-se de conselheiros que iam procurar à alta nobreza e clero e aos letrados.

Concorriam com o papa na nomeação de bispos e abades, indigitando àquele a nomeação das

personalidades por si escolhidas. O rei era o supremo suserano na hierarquia social, devendo subordinar-se

aos privilégios, direitos e liberdades dos súbditos, ao direito e ao costume do reino. O rei convocava as

cortes, os estados gerais ou o parlamento sempre que necessitava consultar os três corpos do reino ou

pedir-lhes ajuda financeira para guerras, casamentos ou outras necessidades.

Page 12: Os meus apontamentos_História da Idade Moderna

Senhores feudais e cidades gozavam de privilégios e direitos consuetudinários, para além de autonomia

administrativa nos seus territórios. O absolutismo consistia na ausência de controlo da acção do soberano e

não na ausência de limites à autoridade real. O príncipe surgia como árbitro das tensões dos diversos

estados ou ordens sociais ou dentro da mesma ordem, como a oposição entre famílias de poderosos e

respectivas clientelas.

O poder real serviu-se, a seu favor, da oposição entre nobres e burgueses pela partilha do poder político,

uma vez que era à burguesia nacional ou estrangeira que os soberanos iam buscar os seus banqueiros. A

privação com o poder real permitiu a alguns burgueses ascenderem, pelo favor régio, à nobilitação, embora

só passadas algumas gerações estes novos nobres se pudessem cruzar com a nobreza de sangue. A

integração passava também pela adopção de uma das funções do nobre: a carreira das armas.

A monarquia francesa: tinha limites geográficos diferentes da actual França; o soberano era um suserano

entre suseranos e exercia o poder numa parte do seu território, o domínio real; outros senhores feudais

eram soberanos de outros territórios, como o imperador ou o rei de Navarra que, neste caso, estavam numa

situação de vassalos do rei de França; outros eram membros da família real, como os Bourbon, os Valois,

etc; a Corte era o centro da governação e era itinerante; o rei tinha a coadjuvá-lo na governação o conselho

do rei, constituído pelos pares de França e os grandes oficiais da Coroa, membros de direito, para além de

outros dignitários convocados pelo soberano; na generalidade, o rei funcionava diariamente com alguns

conselheiros apenas, os membros do chamado conselho restrito ou secreto; alguns desses dignitários eram

o chanceler, o condestável, o almirante e o grão-mestre; entre os oficiais da administração, destacavam-se

os secretários de Estado; nas províncias, os bailios e os senecais tinham funções militares, judiciárias e

administrativas, delegando o exercício da justiça nos seus lugares-tenentes, magistrados; o exercício era

constituído por oficiais permanentes e por uma maioria de mercenários, recrutados em momentos de

guerra. A nobreza era por excelência o corpo guerreiro; o aparelho judiciário era constituído pelo Grande

Conselho, tribunal que julgava em ultima instância e presidido pelo rei, e pelos parlamentos, tribunais

provinciais ou regionais que tinham abaixo de si os tribunais das bailias e dos senescais; a administração

fiscal e financeira era gerida pelos tribunais de contas; as finanças ordinárias eram designadas domínios e

as extraordinárias designavam-se impostos, os Estados Gerais, convocados pelo soberano, reuniam com

os representantes dos três corpos do reino; com Francisco I e Henrique II assistiu-se ao reforço da

administração real e à afirmação do nacionalismo.

A monarquia inglesa: era territorialmente constituída pela Inglaterra e pelo País de Gales e, por uma

pequena parte costeira da Irlanda; a Escócia só virá a ser integrada na monarquia inglesa depois da morte

de Maria Stuart, com Isabel de Inglaterra; o rei governava coadjuvado por um conselho privado, constituído

pelo chanceler, tesoureiro, guarda do selo privado e por dignitários convocados por ele, para o efeito; à

frente de cada condado estava o xerife; em Westminster, tinham sede os três tribunais do reino; a câmara

do rei geria as finanças reais; o Parlamento era a sede das três ordens do reino que deviam ser consultadas

pelo soberano, no que respeitava ao lançamento dos impostos e à política externa; o rei de Inglaterra

tornou-se o chefe da igreja anglicana, pelo Acto de Supremacia.

Page 13: Os meus apontamentos_História da Idade Moderna

Capítulo VII

A Política Estrangeira e as relações entre os povos

No período moderno, a política externa assentava, para além das relações entre as famílias dinásticas, nas

relações entre os povos.

O avanço turco para o Ocidente conduziu à conquista de Constantinopla, em 1453, à conquista dos Balcãs

e da zona danubiana, e aos primeiro e segundo cercos de Viena, em 1529 e 1532. A conquista da Europa

balcânica pelos turcos isolou esta cristandade, reflectindo-se o seu domínio, durante cerca de três séculos.

Aliás, o reflexo deste domínio, ainda hoje, permanece nas populações da ex-Jugoslávia.

O estado russo substituiu o império romano do Oriente, no que respeita à unificação da cristandade

ortodoxa e à sua protecção contra os infiéis, consolidação que teve por base o casamento de Ivan III com a

princesa bizantina Sofia Paleólogo, sobrinha do último imperador de Constantinopla (Bizâncio). A unificação

territorial da Rússia foi efectuada pelo príncipe de Moscovo, Ivan III, que a estendeu para norte, até ao

Árctico, e para Oriente, até ao rio Ob. As principais cidades deste novo reino eram Moscovo, tornada o

centro religioso da cristandade ortodoxa, Novgorod, a cidade-empório comercial, e Pskov, centro de

comércio.

A Rússia estruturava-se socialmente num sistema feudal, onde os grandes senhores, os boiardos, se uniam

ao soberano por laços vitalícios e a quem ele remunerava com a doação de terras. O Conselho dos

Boiardos instituiu-se em conselho régio. Os camponeses estavam ligados à terra e aos seus senhores, não

os podendo abandonar.

A outra força que se afirmava a Oriente era a do infiel turco otomano. O poder turco residia no seu exército,

constituído pelos spahis, os cavaleiros, e os janízaros, a infantaria, e na sua armada de galeras, movida a

remos por cativos cristãos. Os janízaros eram um corpo especial, constituído por antigos cristãos,

apanhados em crianças e educados no islamismo, que eram forçados ao celibato. Fanáticos, eram as

tropas de elite.

Os tributos em que assentava eram pagos pelas populações não islâmicas do seu território (cristãos e

judeus), e pelos tributos dos príncipes vassalos do sultão turco. O sultão era coadjuvado na governação por

um grão-vizir e por vizires, que formavam o divã. Paxás governavam as províncias.

No seu avanço para Ocidente, os Otomanos conquistaram Alepo, Damasco, Jerusalém, Cairo e Alexandria

e declaravam-se os protectores das cidades santas de Meca e de Medina. O sultão turco tornou-se

protector de Argel, alargando o seu poder até à Mauritânia. No seu avanço no Mediterrâneo europeu, os

turcos atacaram Veneza que acabou por negociar com o sultão uma paz e um livre comércio com o Oriente.

O sultão tornou-se califa.

Os espanhóis saíam vitoriosos contra os muçulmanos do norte de África, ao conquistarem Melila e Orão. A

diplomacia cristã com o Islão vencia em Veneza e em Roma, onde o papa recebia um embaixador do

Page 14: Os meus apontamentos_História da Idade Moderna

sultão. No entanto, a guerra tornava-se um dos flagelos da cristandade, que se constituía em nações, que

faziam remontar as suas origens, dentro da tradição humanística, aos heróis greco-romanos.

Nasceram, nesta época, os primeiros imperialismos, como o francês que se afirmou com a candidatura de

Francisco I ao Império, enquanto o império alemão, de origem medieval, se estendia, com os Habsburgos, à

Espanha e ao império americano e asiático desta, com Carlos V (Carlos I de Espanha). Igualmente

nasceram os imperialismos marítimos dos reinos peninsulares (Portugal e Espanha).

Entre 1494-1529, ocorreram as guerras de Itália que se identificaram com as tentativas de conquista de

estados italianos pelos reis de França e que se estendeu aos suíços e outros reinos, aliados do papa Júlio

II, e ao Império. A paz com a França, no tempo do papa Leão X e de Francisco I, levou à Concordata de

Bolonha. A paz com os suíços foi assinada em Friburgo e designada por “paz perpétua”, que permitia ao rei

de França recrutar mercenários entre eles.

A guerra que se viria a alastrar à Espanha, ligada ao Império, terminaria com a derrota da França em Pavia

e com o Tratado de Madrid, em 1526. Em 1527, os aliados mudavam de campo, tendo Roma e Inglaterra

passado para o lado da França contra Carlos V. Os soldados deste invadiram a Itália e entraram em Roma

e saquearam-na.

A paz de Cambrai punha fim ao conflito, deixando a França com a Borgonha e a Espanha mantinha a

hegemonia sobre a Itália (1529). Os problemas do imperador com os príncipes luteranos reiniciaram a

guerra, pois estes receberam o apoio do rei de França, Henrique II. Em 1555-56, Carlos V divide o Império

por Filipe II de Espanha e Fernando II. A este coube os territórios do Império, enquanto aquele ficou com a

Espanha e o seu império ultramarino, e os Países Baixos, ao mesmo tempo que casava com a inglesa

Maria Tudor, filha de Henrique VIII. Nova guerra de França para reconquistar o norte de Itália, conduziu à

sua derrota, pela paz de Careau-Cambrésis, que levou ao abandono do Piemonte e de Sbóia e à

manutenção da conquista de Calais.

A Europa conhecia um novo equilíbrio e novas potências: a Espanha, a França e a Inglaterra. A Oriente

mantinha-se o equilíbrio turco que avançara para a Hungria e a dividira, enquanto no Mediterrâneo central o

Islão ameaçava a Europa mediterrânica. As guerras de Itália tiveram como consequência a mudança da

arte da guerra em terra e no mar. O século XVI viu consolidar-se a diplomacia como uma arte política.

Capítulo VIII

Transformações do Quadro Económico, Social e Mental

A Europa atravessou, de 1530 a 1620, um período de expansão económica, acompanhado de inflação e de

alta de preços. A alta de preços atingiu, na primeira fase, até 1575, os preços agrícolas. A alta de preços

esteve relacionada com o excesso de moeda em circulação, provocada pela vinda do ouro e da prata

americanos para Espanha e Europa.

Page 15: Os meus apontamentos_História da Idade Moderna

Os metais preciosos americanos não ficavam reduzidos à Espanha, onde a fraca economia, apesar do

crescimento demográfico, levava à sua expulsão para outras regiões da Europa, como a França, das quais

a Espanha era economicamente dependente. Por outro lado, artesãos franceses emigravam para Espanha

onde os salários eram mais altos do que em França.

A França estabeleceu uma nova moeda de conta ou moeda padrão, o franco de prata que valia 1/3 do

escudo de ouro. Como moeda subsidiária (de troco), lavrava o bolhão ou bilhão (liga de prata e metais

inferiores em que a prata entrava em fraca percentagem). Em 1578, o bolhão foi substituído pelo cobre. Em

Espanha, a moeda inflacionada (o bolhão) expulsava as espécies de prata da circulação provocando

quebras nos salários e carestia dos géneros, apesar dos tabelamentos, nomeadamente, dos cereais. A

Inglaterra conseguiu, em 1561, uma reforma monetária sem prejudicar a economia nacional.

Desde os finais do século XV, surgiu uma nova teoria e prática económicas: o mercantilismo. O

mercantilismo defendia o desenvolvimento das manufacturas e exportação dos seus produtos; incentivo à

agricultura; suspeição, quanto à ociosidade e ao luxo que tinha por base importações; as importações não

deviam ultrapassar, no seu custo, as exportações. Ortiz, em Espanha, Laffemas, em França e Gresham, na

Inglaterra, foram defensores das doutrinas mercantilistas. Na sequência destas teorias, os soberanos

defenderam o proteccionismo. Os monopólios régios acompanharam estas teorias: os metais preciosos e a

pimenta foram monopólio dos reis de Portugal; as minas e pedreiras, dos reis de França; os reis de

Espanha incentivaram a produção de lã castelhana e tinham o monopólio dos metais americanos.

A Inglaterra protegeu as manufacturas, criando “companhias” em substituição das corporações. A França

regulamentou os ofícios e, em Espanha, Carlos V proibia a exportação do linho, do cânhamo, do couro, das

peles, das sedas, dos ferros e dos minérios de ferro. Os reis de Inglaterra desenvolveram pouco o

proteccionismo, promulgando antes Actos de Navegação que, a partir de 1651, reservarão aos seus navios

uma parte do comércio de importação.

O mercantilismo não teve sucesso em todas as partes onde foi aplicado, nem em todas as medidas que

defendia. A economia capitalista comercial continuava limitada pela Igreja que proibia o empréstimo a juro

e, por consequência, o adiantamento monetário com juro, o depósito. Preferia-se o recâmbio ou seja, o

acordo convencionado entre dois parceiros desde o início da operação. O capitalismo invadiu o campo.

Perante a decadência dos impérios comerciais peninsulares, novos estados tomavam parte no comércio

ultramarino, tendo por base companhias comerciais e a teoria mercantilista. Estas companhias

especializavam-se numa região geográfica como a Companhia das Índias Orientais e tinham a protecção

dos soberanos.

Novos produtos, para além da pimenta, foram trazidos do Oriente, como as sedas, as porcelanas, os

algodões, as madeiras, os tapetes. Os franceses foram os iniciadores deste comércio triangular (Espanha –

França – Levante turco), ou seja, prata – tecidos – produtos do Oriente, seguindo-se-lhes os ingleses e os

holandeses. Da América, aos metais seguiu-se o açúcar do Brasil e das Antilhas, a partir de 1570.

Page 16: Os meus apontamentos_História da Idade Moderna

A expansão económica foi acompanhada pelo avanço da técnica, como a primeira máquina de tricotar ou a

fabricação de meias de seda em tear, ou como o avanço da siderurgia, devido às armas de fogo que levou

Nef a falar de uma primeira revolução industrial em Liége, na Suécia e na Inglaterra. A lenha é substituída

pelo carvão de hulha. O desenvolvimento económico aconteceu na Inglaterra e na Holanda, e menos na

França e no Império, por causa das guerras de religião. Entretanto, o mundo mediterrânico entrava em

decadência, apesar de um breve vislumbre económico em Génova, como centro bancário. Amesterdão

afirmou-se uma metrópole económica, durante o século XVII e, em 1609, criou a Bolsa de Amesterdão.

O século XVII revelou-se igualmente um século de crises, marcado por grandes fomes, epidemias e guerras

que provocaram grandes mortandades e uma grave quebra demográfica. Os preços sofreram uma descida

que se acentuaria a partir da segunda metade da centúria, sem qualquer benefício social. A crise atingiu,

primeiro, as regiões do centro europeu que tinham sofrido a expansão do século XVI, excepto a Holanda, e

chegou mais tarde às regiões mediterrânicas. A crise teve a sua origem na escassez de metais preciosos,

que fugiam da circulação por entesouramento ou para a joalharia, ou por aquisição de produtos de luxo que

os levavam para o Oriente. A expulsão da circulação europeia, juntava-se a diminuição da produção dos

metais preciosos americanos.

A recessão económica (fase B de Simiand) marcou a evolução de uma sociedade que continuava a ser

marcadamente rural, apesar do desenvolvimento das cidades e dos empreendimentos coloniais. As

riquezas fundiárias, com excepção dos Países Baixos. A posse da terra continuava a ser motivo de

consideração social e prestígio.

Nos países marcados pela Reforma, onde os bens da Igreja tinham sido secularizados, os soberanos

distribuíram uma parte pela nobreza ou venderam a maioria à burguesia endinheirada e a lavradores ricos.

Também nos países católicos, como a França, ocorreu uma mudança nas terras da Igreja que viu um quinto

delas ser dado pelos reis, em pagamento de serviços, durante as guerras contra os protestantes ou

huguenotes.

Sob a acção dos novos proprietários, a agricultura passava a ser um investimento para dar lucro. Para além

da nova face da agricultura, esta conheceu novos terrenos obtidos pelos arroteamentos de pauis, feitos por

técnicos holandeses, em regiões do Potou e da Inglaterra. Tornando-se a alimentação um dos objectivos

prioritários, acrescia à produção cerealífera a criação de gado. Os pastos cresceram à custa das terras

agrícolas em Inglaterra ou no sul da Itália. O mundo campesino vivia de salários baixos que não

acompanhavam a subida dos preços e eram sobrecarregados pelo peso dos impostos reais e das corveias

senhoriais. As condições deste grupo social agravaram-se durante o século XVI e, sobretudo, no início do

seguinte.

Na Inglaterra, as práticas comunitárias tendiam a desaparecer e levavam ao aparecimento de um

proletariado agrícola que era absorvido pelo desenvolvimento da indústria. Na França, os camponeses

perdiam a capacidade de compra, devido ao empobrecimento, ao fisco real e às guerras. Na Europa de

leste, os camponeses caíam na servidão.

Page 17: Os meus apontamentos_História da Idade Moderna

Cresceu o número de pobres válidos nas cidades, devido à migração para os centros urbanos. Nas cidades,

a burguesia detinha o grande comércio e a banca, assim como alguma indústria. Os pequenos lojistas e os

artesãos tiveram uma evolução muito diversa, ao sabor dos preços das matérias-primas, da evolução dos

salários e dos preços dos objectos fabricados. O esquema familiar manteve-se, sendo o grande número de

filhos uma riqueza, quando atingem a idade de aprendizagem do ofício familiar.

A partir de meados do século XVI, ampliou-se o fosso entre os mestres de um ofício e os companheiros, ou

seja, os artesãos especializados, tornando-se difícil a ascensão deste a mestre. A regulamentação dos

ofícios, restringindo os ofícios livres, dificultaria a ascensão económica e social dos companheiros ou dos

artesãos de tenda aberta. O título de mestre tornou-se mais fácil dentro de uma família de mestres,

enquanto os companheiros se reuniam em confrarias com funções de defesa de salários e trabalho, uniões

que, por vezes, conduziam a greves. A miséria atingiu este proletariado urbano, constituído por

companheiros, assalariados diversos e camponeses migrados para a cidade, cujo recuso era a

mendicidade e a caridade, praticada por outros com o fim de atingir a salvação eterna. A média burguesia

afirmava-se socialmente pelo exercício de cargos administrativos.

Os estados sociais evoluíam de uma sociedade de ordens para uma sociedade de classes, onde as

diferenças sociais dentro dos mesmos grupos eram significativas. A riqueza traduzia-se no comportamento,

na moda, nos adornos, na habitação e na alimentação. Para lutar contra o luxo excessivo e contra a

indiferenciação social, os soberanos promulgavam as pragmáticas contra o luxo. A miséria de uns e a

riqueza de uma minoria conduziu a revoltas sociais. Mas as tensões sociais também se fizeram sentir entre

burgueses e nobres.

A nobreza pressionada pela ascensão e riqueza da burguesia afirmava-se como uma ordem e defendia o

seu status, acentuando comportamentos e mentalidade que assentavam na pureza de sangue, na honra e

no desprezo pelo trabalho. Da burguesia saiu uma nova nobreza de gente que ascendeu por mérito à

nobilitação, ou seja, a quem os soberanos concederam títulos, ou que os adquiriram por funções junto da

corte. Esta nova nobreza tentava imitar a nobreza de sangue, aproximando-se dela por casamento ou pelo

ofício das armas. A nova nobreza de letrados tendia a afirmar-se como um quarto estado ou ordem: a

nobreza de toga.

A modificação social de uma sociedade de ordens para uma sociedade de classes foi bem visível na

Holanda e na Inglaterra, onde o peso dos negócios obtivera uma consideração semelhante à da terra

noutras regiões da Europa. As ordens saíram reforçadas, a nível de mentalidade e de estatuto, com a

publicação do Tratado das Ordens de Loyseau, em 1611. O fechamento da nobreza como ordem tornava a

mobilidade social mais discreta no século XVII. As convulsões sociais da primeira metade do século XVII

assentaram não só em questões religiosas, mas também em questões de natureza politica e social. A luta

contra o peso do fisco real acendeu-se contra os agentes colectores de impostos e os representantes do

rei, em França. Aqui a revolta era contra o Estado.

A segunda metade do século XVI e a primeira metade do século XVII afirmavam-se pela crise do

humanismo e da consciência europeia. As Reformas tinham provocado uma crise de irreligião na

Page 18: Os meus apontamentos_História da Idade Moderna

consciência do homem deste período. A arte evoluíra do classicismo ao maneirismo e deste ao barroco. A

sociedade afirmava-se pela violência e pelo medo. De ambos era reflexo a perseguição às feiticeiras, como

agentes do demónio, que, na generalidade, acabavam na fogueira.

Capítulo IX

Guerras de religião e crise política do fim do Século XVI

A partir de 1560, a Europa dividiu-se em dois campos: católicos e reformados. A tolerância religiosa era

praticamente inexistente, estando a religião de um indivíduo ou povo determinada pela religião do rei ou do

príncipe. A tolerância apenas se aplicava à nobreza, na França. As guerras de religião alastraram na

Europa central, abrangendo a França e os Países Baixos.

As guerras de religião em França (1562-1598). Uma parte da nobreza francesa aderiu ao protestantismo,

arrastando consigo vassalos e camponeses. O protestantismo estendeu-se também às principais cidades

de França. Por detrás das facções religiosas, protestante e católica, estavam facções políticas, adversárias

dos de Guise. Catarina de Médicis, regente durante a menoridade de Carlos IX, praticou uma política de

tolerância, onde procurou reconciliar os adversários políticos. Tendo convocado os Estados Gerais, um dos

procuradores do povo reclamou a liberdade religiosa e propôs o confisco dos bens da Igreja, para sanear a

economia. Um dos expoentes dessa política foi o Édito de Tolerância de Janeiro de 1562, que outorgava

aos protestantes a liberdade de culto fora das cidades. Apesar do édito, os campos extremaram-se:

huguenotes, chefiados por António de Bourbon e Conde, e os católicos pelos de Guise. A guerra alastrou.

Depois do assassinato de Francisco de Guise, Catarina promulgou o Édito de Pacificação de Amboise,

menos favorável aos protestantes que o do ano anterior: o culto reformado mantinha-se onde já existia; os

senhores com direito a justiça usufruíam de liberdade de culto tal como os seus vassalos; nos demais

casos, o culto protestante ficava restrito aos arrabaldes de uma cidade por bailiado. À tentativa frustrada de

rapto do rei por Conde e do massacre dos chefes católicos seguiu-se de novo a guerra. O Édito de Saint

Germain (1570) deu aos huguenotes, durante dois anos, quatro praças fortes. O almirante de Coligny

tentou, junto de Carlos IX, uma aliança protestante contra a Espanha. A matança de S. Bartolomeu foi

ordenada pelo rei de França contra os chefes protestantes. Por fim, Carlos IX e Henrique III, sucedia-lhes o

rei de Navarra, Henrique casado com Margarida de Valois e que seguia a fé reformada. Filipe II de Espanha

apoiava os de Guise que tinham formado a Liga Católica e queria colocar a filha no trono de França. Isabel

de Inglaterra apoiava os protestantes. Henrique IV renegou o protestantismo e prometeu conservar a

religião católica. Em 1598, publicou o Édito de Nantes, onde permitiu a liberdade de culto em todos os

lugares, com excepção de Paris ou onde a corte estivesse. Reconhecia-se o direito de acesso a todos os

ofícios e cargos por parte dos protestantes. A paz de Vervins foi assinada entre a França e a Espanha,

mantendo as cláusulas de Cateau-Cambrésis.

As guerras de religião nos Países Baixos (1566-1609). A oposição religiosa teve consequências de

separação política, numa região unida entre si por uma espécie de federação. Os católicos eram apoiados

por Filipe II, senhor dos Países Baixos, depois de Carlos V, o qual estava representado no local por

Page 19: Os meus apontamentos_História da Idade Moderna

Margarida de Parma. Em 1566, a nobreza moderada aliou-se aos calvinistas, contra a política dos

representantes do rei de Espanha e senhor dos Países Baixos. Os calvinistas levantaram-se contra a

religião católica e atacaram igrejas e mosteiros a que respondeu Filipe II com o envio do duque de Alba e a

ocupação do aparelho político, contra os privilégios e liberdades da província. À sublevação religiosa

sucedeu a sublevação política contra os espanhóis, a partir de 1572. A resistência tinha como cabecilha

Guilherme de Orange. A pacificação de Gand concedia a liberdade religiosa às duas províncias calvinistas.

D. João de Áustria acabou por aceitar a pacificação de Gand e a partida das tropas espanholas. As

províncias católicas rebelaram-se contra a chefia de Guilherme de Orange e constituíram a União de Arras

que previa a reconciliação com Filipe II. As províncias do norte, calvinistas, responderam com a União de

Utreque. Em 1609, Filipe III reconhecia a independência destas ultimas, designadas as Províncias Unidas.

Os Países Baixos católicos foram dados à infanta D. Isabel e ao seu marido, o arquiduque Alberto. As

guerras político-religiosas provocaram a decadência económica da região, com o aparecimento de

Antuérpia (Anvers), como centro económico a qual foi substituída por Amesterdão, a norte, nas Províncias

Unidas (Holanda). A Igreja empobreceu com o confisco dos seus bens que não lhe foram restituídos, para

pagamento da guerra. No plano cultural, a figura mais proeminente foi Montaigne. No plano político, a

teorização levava à ideia de contrato entre o povo e o rei e à teoria da monarquia absoluta, desenhada por

Jean Bodin, na sua obra A República: o rei era limitado pela lei de Deus e pela lei natural.

Capítulo X

Europa Mediterrânea e Europa do Noroeste

Os finais do século XVI assistiram ao crescente poderio da Espanha, no mundo mediterrânico e da

Inglaterra, na Europa do noroeste. Filipe II unificou a Península sob a União Ibérica e avançou na direcção

do Mediterrâneo, onde combateu os turcos, vencendo-os em Lepanto, e dos Países Baixos, onde lutou

contra os calvinistas. Dominou uma parte da Itália: o sul com o reino de Nápoles, a Sardenha e a Sicília, e o

norte com o Milanado. O palácio do Escorial foi o símbolo do seu governo.

Filipe II, com a ascensão ao trono de Portugal, ligou o império português do Oriente, as ilhas atlânticas, o

litoral africano e o Brasil ao império espanhol das Américas, mas começou com ele o início da decadência

espanhola. Da América espanhola continuam a vir carregamentos de metais preciosos, para Sevilha. A

coroa, por via dos asientos, encontrava-se em deficit perante os mercadores genoveses, seus credores.

Filipe II declarou a bancarrota em 1557, 1575 e em 1596. Para evitar a carestia proibiu a exportação de

cereais. A Espanha manteve-se exportadora de lã em bruto, graças ao apoio que dava aos produtores que

constituíam a Mesta, para Itália e importava tecidos italianos e franceses. O artesanato estava nas mãos

dos mouriscos.

A rival de Espanha foi a Inglaterra, com quem a coroa espanhola desenvolveu uma política de casamento:

Henrique VIII casou com uma princesa espanhola de quem teve uma filha e sucessora, Maria Tudor, que,

por sua vez, casou com Filipe II. A Inglaterra era um reino onde a criação de gado, a produção de lã, a

cultura de cereais prevaleciam mas onde o comércio marítimo e as indústrias estavam em desenvolvimento.

Page 20: Os meus apontamentos_História da Idade Moderna

A sucessora de Maria Tudor, católica, foi Isabel, que professava a fé anglicana e se manifestou a adversária

mais poderosa de Filipe II, agindo politicamente no continente ao lado dos huguenotes franceses e dos

calvinistas holandeses. Contra ela fez este a Armada Invencível, em 1588, que foi derrotada nos mares do

Norte. Face ao Parlamento, afirmou-se como um poder absoluto. No seu reinado, consolidou-se o

anglicanismo que aceitava o dogma calvinista e conservava a liturgia católica. Uma insurreição católica no

norte de Inglaterra foi sufocada, ao mesmo tempo que uma seita protestante, os puritanos, contestavam a

pompa e a riqueza da igreja anglicana.

Economicamente, a Inglaterra era um reino agrícola que arrancou, neste governo, para um império

comercial marítimo, graças aos corsários, como Francis Drake, que atacavam os galeões espanhóis e

portugueses, ao aumento demográfico e ao desenvolvimento da indústria. O desenvolvimento da indústria

acompanhou a utilização do carvão de pedra (a hulha), energia abastecedora dos altos-fornos, enquanto o

comércio marítimo lançava os barcos dos mercadores ingleses nas rotas do império português do Oriente.

Os ingleses constituíam companhias comerciais que tendiam ao monopólio, tais como a Companhia

Moscovita ou a Companhia das Índias Orientais.

Esta actuação era incentivada pela política real que proibia as importações de têxteis do continente. No

comércio marítimo, a Inglaterra tornou-se rival da Holanda que no século XVII teria em Amesterdão um

centro de economia-mundo, na expressão de Braudel.

O desenvolvimento da indústria têxtil aumentou as “enclosures”, ou seja os campos fechados para a criação

de gado lanígero e levou à migração para as cidades de muitos camponeses que viviam na mendicidade ou

eram absorvidos pela indústria. Para evitar a mendicidade, a Inglaterra promulgava a lei dos pobres de

1601. A Renascença chegava tardiamente a Inglaterra. Desta época é Shakespeare.

Com a morte de Isabel, sem descendência directa, sucedeu no trono inglês Jaime I da Escócia, o filho de

Maria Stuart, rainha católica da Escócia, mandada decapitar na Torre de Londres, por Isabel. A Grã-

Bretanha ficava unida num reino único (País de Gales, Inglaterra e Escócia), enquanto a Irlanda, católica,

se rebelava contra o domínio inglês.

O início do século XVII assistiu à assinatura dos primeiros tratados de paz, após as guerras de religião:

(1598) paz entre Henrique IV de França e Filipe II; (1604) paz entre Jaime VI e Filipe III; (1609) paz entre as

Províncias Unidas (Holanda) e Filipe III. O domínio da Europa do Noroeste sucedia à Europa mediterrânica

de que a Espanha de Filipe II fora a última protagonista.

Capítulo XI

As margens da Europa Ocidental

Ivan IV, o terrível, procedeu a reformas na Rússia de que se salientam o estabelecimento do primeiro

nobiliário de famílias nobres (boiardos), ficando a hierarquia social estabelecida pela ligação destas famílias

Page 21: Os meus apontamentos_História da Idade Moderna

à família real de Moscovo; os grupos sociais estavam definidos em relação às funções que cada um

preenchia junto do czar; a duma dos boiardos (o conselho) e a assembleia nacional sofreram um

apagamento durante o reinado de Ivan IV; o seu governo caracterizou-se por uma expansão territorial que

levou à dominação dos tártaros da Crimeia e à conquista de Astracã, com a consequente abertura da

Rússia aos portos da Ásia; o mundo rural caracterizava-se por uma grande mobilidade, indo as aldeias

sendo integradas na administração russa à medida que esta avançava territorialmente.

A sociedade russa não era uma sociedade feudal: os boiardos mantiveram as suas terras desde que fiéis

ao czar; as terras confiscadas aos boiardos revoltosos eram dadas em pagamento de serviços a uma

nobreza de funcionários que se tornara hereditária. A Rússia tinha poucas cidades e uma população urbana

escassa, quase não existindo uma burguesia. Os artesãos eram na sua maioria estrangeiros e residiam nos

arrabaldes de Moscovo.

A maior parte da sua população era constituída por camponeses que pagavam os impostos e serviam no

exército. Uma parte destes eram agricultores livres, rendeiros de terras, e a maioria era constituída por

camponeses ligados à terra, sem a poder abandonar.

Cristãos ortodoxos, os russos tinham no clero, nos monges, um grupo social politicamente poderoso, tanto

mais que Moscovo se tornara num patriarcado, no tempo do czar Fedor.

Após um período de revoltas e perturbações sociais, ascendeu ao trono da Rússia Miguel Romanov que

iniciara a restauração do estado russo. Com os Romanov, a sociedade hierarquizou-se numa sociedade de

ordens, adstritas ao serviço do Estado: o clero, uma nobreza terratenente com funções militares e uma

pequena nobreza miserável que se dedicava ao comércio ou ao artesanato ou eram soldados; alguns

comerciantes e artesãos ao serviço do czar; e a maioria dos camponeses tornada serva, ligada à terra em

que vivia, pela lei de 1646. Territorialmente, a Rússia perdeu o acesso aos portos que a ligavam aos mares,

pelo que o grupo de mercadores estrangeiros, sitos em Moscovo, cresceu de importância junto da corte do

czar. Os cossacos entravam para a obediência do czar, em meados do século XVII, criando uma

aristocracia.

A Polónia, encravada entre a Rússia e a Europa ocidental, seguia o culto católico. Constituía uma

monarquia rural, onde a aristocracia vivia da terra e da caça. As cidades eram habitadas por uma maioria

de estrangeiros, alemães ou judeus, que detinham o comércio e o artesanato.

A partir de finais do século XVI, a Polónia entrava em decadência, apesar de ter agregado o grão-ducado

da Lituânia, em 1569, e ter atravessado um curto período de apogeu em que se abriu à cultura ocidental e

ao movimento da Renascença. Um dos grandes nomes da história da humanidade é o polaco Copérnico,

professor na universidade de Cracóvia. Na fase decadente, a Polónia teve uma família real de origem

sueca, com Varsóvia por capital. Consolidaram o cristianismo católico e encabeçaram cruzadas contra os

turcos, mas sem sucesso. As invasões da Suécia e da Rússia deixaram a Polónia decadente e

territorialmente fragilizada.

Page 22: Os meus apontamentos_História da Idade Moderna

A Escandinávia tinha contactos com a Europa ocidental através das cidades hanseáticas, nomeadamente

Lubeck. Os hanseáticos foram substituídos na Suécia pelos holandeses, que lhe exploram e exportam o

ferro e o cobre. A Dinamarca era um reino que desenvolvia a criação de gado e os lacticínios. A Noruega

exportava madeiras para a construção naval e peixe. Os reinos nórdicos eram monarquias (electiva a da

Dinamarca), em que o soberano era o chefe da religião luterana e a nobreza o grupo social preponderante.

Capítulo XII

Inglaterra e Províncias Unidas entre as Sociedades de Ordens e as Sociedades de Classes

Na Inglaterra:

Jaime I Stuart iniciou a união pessoal da Inglaterra e da Escócia, ao suceder ao trono por morte de Isabel.

Jaime I e seu filho Carlos I governaram como reis absolutistas, tal como Isabel, convocando poucas vezes o

Parlamento, constituído pela Câmara dos Lordes e a Câmara dos Comuns. Reuniam o conselho privado.

A administração local estava entregue aos deputados-tenentes, aos xerifes e aos juízes de paz, nomeados

pelo rei entre poderosos que defendiam o interesse do seu grupo social. As finanças reais tinham por base

os bens da coroa e os impostos autorizados pelo Parlamento. Em caso de dificuldade financeira preferiam

recorrer a empréstimos a convocar o Parlamento. Em 1605, uma conjura católica, a Conspiração da

Pólvoras, reuniu o reino à volta do rei.

No entanto a política externa não lhe foi favorável, ao fazer a paz com a Espanha que rompeu em 1625.

Carlos I desenvolveu uma politica externa activa pelo que convocou o Parlamento, em 1628, para solicitar

subsídios. Os parlamentares apresentaram-lhe a Petition of Right onde o censuravam por lançar impostos

sem autorização do Parlamento e o acusavam de prisões arbitrárias de súbditos seus. Aceitou a petição,

mas em 1629 voltava a governar sem o Parlamento. A este período, os ingleses chamaram-lhe a “tirania”.

Restaurou a liturgia católica na igreja anglicana o que provocou uma cisão entre os súbditos, tendo alguns

puritanos emigrado para a América do Norte. Também a Escócia foi afectada pela imposição religiosa da

estrutura anglicana que foi rejeitada pela Escócia presbiterana. A guerra com a Escócia e a necessidade de

dinheiro levou Carlos I a convocar o Parlamento, em 1640.

Iniciou-se um período de guerras civis no reino que foram acompanhadas pelas revoltas dos irlandeses

católicos, no Ulster. O Parlamento impôs a Carlos I a Grande Admoestação, onde lhe impunha a escolha de

conselheiros da confiança do Parlamento.

Carlos I tentou opor-se-lhes e prender os cabecilhas parlamentares, mas foi obrigado a fugir de Londres

que se sublevara. Os ingleses dividiram-se em dois partidos: os Cavaleiros, partidários do rei, e os Cabeças

Redondas, partidários do Parlamento. A má preparação militar era nítida em ambos os campos, até à

chegada de Olivier Cromwell, à frente do grupo parlamentar. Puritano fanático organizou e disciplinou o

Page 23: Os meus apontamentos_História da Idade Moderna

exército dos Cabeças Redondas. Carlos I foi derrotado. Fugiu para a Escócia onde viria a ser entregue ao

Parlamento de Londres.

Entretanto novas seitas de cariz social surgiram levando o Parlamento a votar a declaração que dava ao

povo a soberania, imediatamente a seguir a Deus. A Câmara dos Comuns passou a exercer o poder

supremo da nação. Carlos I foi condenado à morte em 1649.

O Parlamento aboliu a realeza e suprimiu a Câmara dos Lordes. Cromwell venceu a Irlanda e a Escócia,

derrotando o exército realista de Carlos II, filho de Carlos I. A Holanda de Guilherme de Orange opôs-se à

República de Cromwell.

A economia inglesa, durante os dois Stuarts, continuou a desenvolver-se, quer internamente na indústria,

quer a nível de comércio marítimo com as Índias. Nobres e negociantes participavam deste

desenvolvimento. Da burguesia ascendeu um novo corpo de nobres rurais que adquiriram os bens

secularizados da Igreja, no tempo de Jaime I. A aristocracia terratenente, os landlords, detinha a

administração central.

Camponeses e proletários urbanos viviam na miséria e eram permeáveis aos descontentamentos sociais e

religiosos. O puritanismo alastrou na Inglaterra, durante os Stuart. Com o estabelecimento da República,

Cromwell governou através do exército, nomeadamente o Conselho dos generais. Hostilizou a ideia de

igualdade política, mas afirmou a ideia de igualdade religiosa no seio do povo de Deus.

Em 1651, o Parlamento votou o Acto de Navegação, segundo o qual todos os produtos coloniais deviam ser

importados em navios ingleses e os produtos europeus em navios ingleses ou de seus países de origem.

Dissolveu o Parlamento em 1654 e dividiu as ilhas britânicas em onze circunscrições militares. Em 1657, o

Parlamento ofereceu-lhe a coroa que recusou, mas aceitou as insígnias reais e o direito de nomear um

sucessor. Em 1654 assinou a paz com os holandeses que reconheceram o Acto de Navegação. Os

ingleses atacaram as Antilhas e conquistaram a Jamaica. À sua morte, em 1658, sucedeu-lhe Ricardo

Cromwell que abdicava ao fim de seis meses. Em 1660, o Parlamento chamava o rei Carlos II ao poder.

Nas Províncias Unidas:

Enquanto os Países Baixos espanhóis decaíam, as Províncias Unidas, a norte, cresciam economicamente,

ao mesmo tempo que lutavam contra a Espanha. Expandem-se, chegando ao Oriente onde concorreram e

suplantaram os portugueses, ocuparam Curaçao e o nordeste brasileiro. Em 1648, derrotavam os

espanhóis que lhes reconheciam a independência. Em 1654, os holandeses entregavam o Brasil a Portugal,

mas mantinham a Malásia, o Ceilão, o Cabo, Surinã e Curaçao. Expandiam-se para a América do Norte,

onde fundavam Nova Amesterdão ou Nova York.

Os holandeses, com Amesterdão à cabeça, dominaram economicamente o século XVII, fazendo de

Amesterdão um centro de economia-mundo, no dizer de Braudel. Para além do comércio marítimo e da

pesca, os holandeses tornavam-se um povo agrícola e criador de gado. Criaram a Companhia das Índias

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Orientais e a Companhia das Índias Ocidentais. Amesterdão tinha um banco de câmbio e de depósito,

fundado em 1609, que se tornou um banco de crédito. Possuía uma bolsa.

A Amesterdão afluíram os cristãos novos portugueses e espanhóis que criaram uma activa e rica

comunidade judaica. A rivalidade económica e marítima conduziram ao direito internacional marítimo.

Grotius defendeu a ideia do maré liberum, contra a tese antiga do maré clausum. As Províncias Unidas

tornaram-se uma terra de liberdade política e religiosa, ao mesmo tempo que grandes nomes da cultura

apareciam, como o judeu Bento Espinosa. A união da França e da Inglaterra destruíram o poderio

económico da Holanda que se viu forçada a entregar Nova Amesterdão aos ingleses.

Pelo tratado de Nimégue, em 1678, a Holanda salvaguardou a sua independência territorial encabeçada

pela família Orange, mas a hegemonia comercial passou para a Inglaterra.

Capítulo XIII

O destino das grandes monarquias: Espanha e França

Espanha:

Viveu no século XVII o chamado “século de ouro”, apesar de nele ter tido origem a decadência da

Espanha. A primeira metade do século caracterizou-se por uma quebra demográfica, provocada pelas

epidemias, as guerras, como a da Catalunha, pela expulsão dos mouros e pela emigração para outras

paragens, nomeadamente a América.

A economia caracterizou-se pelo crescimento da criação de gado à custa das terras cerealíferas, da

diminuição da produção vinícola, de uma indústria têxtil mais marcada pela exportação da lã em bruto do

que tecida e por uma indústria de produção da seda e por um comércio que conhecia o seu apogeu nas

feiras de Medina del Campo e em Cádis como termo da rota americana.

A sociedade estava marcada pela preponderância do alto clero e da alta nobreza que se definia pela

primogenitura e pela concentração dos morgadios no primogénito; pelos letrados; pelos fidalgos, nobres

não primogénitos; pelos burgueses e pelo campesinato onde abundavam os jornaleiros.

A Espanha era uma monarquia absoluta, onde o poder dos favoritos reais era bastante importante. Os reis

governavam com um conselho e convocavam escassamente as cortes dos diferentes estados que

constituíam a coroa espanhola. Aumentaram os impostos e a inflação foi galopante.

A Espanha sofreu uma longa e desgastante guerra com a França: o conde-duque de Olivares, primeiro-

ministro de Filipe III, enfrentava o cardeal Richelieu, primeiro-ministro de Luís XIII. Em 1640 eclodiram

revoltas separatistas em Portugal, na Catalunha, em Aragão e na Andaluzia. A Catalunha declarou-se

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súbdita de Luís XII de França até 1652. Portugal tornou-se independente e foi reconhecido como tal em

1668.

No tempo de Filipe IV, rebelou-se contra o domínio espanhol a Itália espanhola. Apesar da Inquisição, a

cultura e as artes desenvolveram-se dando nomes como Cervantes, na literatura, Velásquez e Greco, na

pintura.

França:

A França viveu entre 1598 e 1661, um período de guerra civil, crises económicas e sociais. Henrique de

Navarra abjurou o calvinismo para se tornar rei de França e afirmou-se como um rei católico. Governou

como um rei absoluto, sem convocar os Estados Gerais. Alterou a concepção da administração ao leiloar os

cargos que se tornavam propriedade de quem mais desse por eles, deu origem a um quarto estado que

veria os mais altos titulares nobilitados, originando uma nobreza de toga.

O Édito de Nantes, que permitia o culto reformado, foi aplicado com muitas dificuldades em todo o reino. A

guerra religiosa tinha deixado o reino desgastado economicamente. Os camponeses viviam na miséria e

nas cidades crescia a mendicidade. O banditismo proliferava.

Henrique IV tomou as seguintes medidas: promulgou o édito sobre os ofícios de 1581; encorajou a

agricultura, protegendo os camponeses e reduzindo-lhes os impostos, assim como incentivava a nobreza

rural a gerir os seus domínios; secou pântanos; restaurou as vias; incentivou a uma indústria nacional de

produtos de luxo de modo a evitar a importação, como a da seda. A criação de uma Companhia das Índias

Orientais falhou.

Henrique IV teve como conselheiros Sully, que sanearia a moeda, e Laffemas que defendia as teorias

mercantilistas.

As reformas não agradaram e a instabilidade social cresceu, agravada com a insatisfação religiosa.

Henrique IV foi assassinado, em 1610, quando se preparava para apoiar os protestantes contra a Espanha,

deixando o filho menor, o futuro Luís XIII.

Sucedeu-se um período de regência encabeçado pela rainha viúva Maria de Médicis, italiana, que ensaiou

a paz com a Espanha, casando Luís XIII com Ana de Áustria.

Vários partidos se digladiaram até à subida ao trono do rei que, em 1624, chamaria Richelieu para o

Conselho e faria dele ministro.

Richelieu desenvolveu a política de Henrique IV contra a Espanha, apoiando os Países Baixos e as revoltas

que, na Península, procuravam a autonomia da coroa espanhola, como Portugal ou a Catalunha.

Aproximando-se da Inglaterra, casando a irmã do rei com Carlos I de Inglaterra. Lutou contra os

protestantes franceses, dominando-os e permitindo que o Édito de Nantes pudesse ser executado com

moderação. Com mão férrea disciplinou a nobreza francesa, centralizou a administração e controlou a

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opinião pública. Reestruturou o exército (código Michau) e a marinha. Investiu nas teorias mercantilistas,

seguindo o pensamento de Laffemas. Os franceses ensaiaram a sua colonização americana povoando o

Quebec. Richelieu aplicou o Concílio de Trento em França. No seu testamento político dissertou sobre as

ideias absolutistas, sendo o rei considerado a imagem viva de Deus, prestando apenas perante Este contas

dos seus actos de governante.

As revoltas populares foram constantes perante o aumento sucessivo de impostos, a carestia, as fomes, as

epidemias, ao mesmo tempo que as intrigas da corte, instigadas pela rainha, apoiada pela Espanha

rebentavam continuamente. Sucedeu-lhe como ministro de França o cardeal Mazarino.

À morte de Luís XIII e na menoridade do futuro Luís XIV, criou-se um conselho de regência em que

tomavam parte, entre outros, Mazarino e a rainha viúva. Ana de Áustria fez o Parlamento anular o

testamento de Luís XIII e o conselho de regência, ficando a governar com Mazarino.

Entre 1648 e 1652, a França mergulhava de novo na guerra civil, agravada por uma crise económica, onde

os camponeses, artesãos e pequena burguesia se revoltavam contra os impostos, contra a fome e o

desemprego. A Fronda tal como outros movimentos similares manifestou-se contra o poder real e integrou

nesta revolta a nobreza togada, os parlamentos. A Fronda exigiu a abolição dos impostos criados a partir de

1635, afastamento dos oficiais colectores dos mesmos, mas mantinha-se leal ao rei e aos parlamentos.

O não cumprimento do acordado por parte da rainha regente e a fuga de Paris com o rei, a população e o

Parlamento de Paris revoltavam-se contra Mazarino. A paz foi feita entre ambos, ao mesmo tempo que a

nobreza chefiada por Conde se revoltava. A paz voltaria à França com a maioridade de Luís XIV.

Capítulo XIV

A Europa dilacerada (1609-1661)

A Reforma, no Império, provocou a secularização de muitos bens da Igreja, permitindo impulsionar a

agricultura. O trigo e a madeira das florestas eram trocados por sal e por peixe. Os holandeses participavam

deste comércio com as cidades hanseáticas e com as cidades alemãs.

Politicamente, a Reforma ajudou a independência dos diversos principados, tornando-se o Império um

principado federalizador da nação alemã. No acto da eleição, o imperador obrigava-se a aceitar a limitação

dos poderes fora do seu território. O Império separava-se religiosamente, tendo alguns príncipes se

convertido ao luteranismo, outros ao calvinismo, como o eleitor palatino, e tendo outros permanecido

católicos, como os duques da Baviera e os arquiduques da Áustria.

A cisão religiosa iria provocar no início do século XVII a criação da União Evangélica, protestante, que se

aliou à Inglaterra, às Províncias Unidas e à França, contra a Liga Católica, liderada por Maximiliano da

Baviera e aliada à Espanha. A Boémia era um reino, governado pelos Habsburgo, mas onde graças à Carta

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de Majestade, as diversas seitas protestantes viviam em liberdade religiosa. A revolta dos príncipes

protestantes da Boémia, contra o imperador conduziu a uma nova guerra religiosa. De facto, ao darem a

coroa ao eleitor palatino, chefe da Liga Evangélica, os senhores, nobreza e cidades da Boémia, tornavam o

grupo protestante maioritário no colégio dos eleitores, enfraquecendo a causa católica. A Europa dividiu-se

nos esforços de guerra e de paz. Para esta última contribuíram a França e a Inglaterra.

Os católicos, encabeçados pela Baviera, e pelo imperador Fernando II, venceram Frederico V, eleitor do

Palatino. Os checos foram duramente tratados, tendo uma parte da sua nobreza perdido os bens a favor

dos alemães. A Carta de Majestade foi abolida.

A realeza tornava-se hereditária na casa dos Habsburgo e o catolicismo voltava a ser a religião do estado.

O Palatinado foi dado ao duque da Baviera que passou a deter a dignidade eleitoral que pertencera a

Frederico V, que foi expulso do Império. A Suécia protestante, onde reinava Gustavo Adolfo, entrou na luta,

invadindo o império e tornando-se aliada dos príncipes protestantes. Ao lado do Imperador continuava a

Espanha. A invasão sueca acabaria na morte do soberano sueco e na paz entre os príncipes alemães e o

Imperador que ratificava com eles a dissolução das ligas.

A Guerra dos Trinta Anos estendeu-se para além do continente europeu e revestiu a luta da Suécia com o

Império e a da França contra a Espanha, com poder na Europa central, graças ao apoio que dava ao

imperador. Os franceses usaram contra a Espanha não só as armas, mas apoiavam as revoltas

autonomistas na Península e em Itália. A guerra terminou pelo Tratado de Vestefália de 1648. Para além da

paz entre a França e o Império e entre a França e a Espanha, as Províncias Unidas obtiveram a

independência face à Espanha e os cantões suíços separavam-se do Império. A Suécia ficava com poder

sobre a Pomerânia ocidental, a cidade de Wismar e os bispados de Bremen e de Verden. Do tratado de

Vestefália emergia uma nova ordem imperial, com a autonomia dos diversos estados e com a obtenção por

parte dos calvinistas do mesmo estatuto que os católicos e os luteranos.

A guerra franco-espanhola terminou com o Tratado dos Pirinéus em 1659. A França passava à situação

de árbitro dos reinos seus vizinhos. A guerra trouxe as condições gerais de miséria, quer nos campos, quer

nas cidades, com consequências na diminuição de natalidade, na propagação da fome e das epidemias.

Capítulo XV

O difícil nascimento da Europa Clássica

Entre os finais do século XVI e o início do XVII, fixaram-se as ortodoxias católicas e reformadas. A Igreja

católica reorganizou-se e disciplinou-se. Publicou-se o catecismo romano, o novo breviário e o novo missal.

As novas ordens religiosas tiveram uma acção importante na educação católica e humanística e na

missionação. Incentivou-se uma formação para os sacerdotes, criando os seminários. A caridade teve uma

acção social. Desenvolveu-se uma corrente mística de que Sta. Teresa de Ávila e S. João da Cruz foram

exemplos. A mística, o rigorismo e o pessimismo conduziram, em França, ao jansenismo, que teve algumas

das suas proposições condenadas por Roma.

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O espírito científico despertou. Desenvolveu-se a astronomia, a matemática, a física, a medicina. Nomes

como Galileu, Kepler, Harvey, Bacon celebrizaram-se. Na arte desenvolveu-se o Barroco. Na política,

afirmou-se o Absolutismo.