os inimigos da igreja
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OS INIMIGOS DA IGREJA
(Baseado no livro A Ortodoxia da Igreja de Watcmann Nee)
O livro de Apocalipse (ou Revelação, sua interpretação literal) costuma afastar
boa parte dos irmãos de sua leitura por considerarem um livro que trata apenas
das coisas do fim, sendo muitas vezes de difícil compreensão. Entretanto,
devemos considerar que na ocasião que João escreveu o livro, os
acontecimentos vistos por ele estavam no futuro, ainda iriam acontecer. Hoje
quando lemos Apocalipse temos duas situações bem claras: vários eventos já
aconteceram e fazem parte da história e outros ainda estão por acontecer.
Um dos aspectos mais relevantes de Apocalipse que diz respeito a nós, são as
Cartas às Igrejas, visto que ali encontramos as palavras tanto de elogio como
de correção do Senhor, visando colocar-nos novamente em direção ao alvo. A
primeira coisa que devemos considerar sobre estas cartas é que elas não são
literais, não foram dirigidas às igrejas da época com os mesmos nomes, visto
que havia mais de sete igrejas no mundo então. Deus escolheu sete igrejas
que tinham características de mútua afinidade e colocou a profecia sobre elas.
Na terra há sete igrejas e no céu apenas sete candeeiros.
Duas vezes João fala para guardar as profecias deste livro – este é um
livro para se guardar e não para estudar (1:3, 22:7).
Estas cartas possuem uma peculiaridade interessante, apenas as quatro
últimas falam da volta de Jesus. Elas estão alinhadas historicamente, três já
passaram, mas as quatro últimas existirão na terra até a volta do Senhor. Isto é
um pouco estranho para quem possui uma visão “dispensacionalista” dos
acontecimentos, onde uma igreja sucedia a outra até a volta do Senhor, que
seria por ocasião da Igreja de Laodicéia. Não existe base sólida para crermos
nisto, como veremos a seguir.
Qual o ensino para estas igrejas? Quais são os inimigos presentes em algumas
destas igrejas e que as tornam reprováveis? E por fim, podem estes inimigos
estarem presentes entre nós ainda hoje?
“A o anjo da igreja em Éfeso escreve: Estas coisas diz aquele que
conserva na mão direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete
candeeiros de ouro: Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua
perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à
prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste
mentirosos; e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu
nome, e não te deixaste esmorecer. Tenho, porém, contra ti que
abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste,
arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e
moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas. Tens,
contudo, a teu favor que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu
também odeio. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas:
Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra
no paraíso de Deus. Ap 2:1-7
Éfeso significa desejável – É a igreja logo após a era apostólica. Seu principal
pecado foi ter abandonado o primeiro amor (proten no original, que tem sentido
de melhor). Aparece pela primeira vez um dos inimigos da igreja, os nicolaítas.
No original esta palavra é composta e significa nikao – conquistar + laos –
povo, ou seja, conquistar o povo ou estar sobre o povo. A partir do terceiro
século o sacerdócio dos santos foi substituído pelo sacerdócio profissional,
Constantino tornou a fé cristã uma religião oficial e passou a assalariar os
sacerdotes. Deste então o clero foi separado dos leigos criando uma casta, ou
seja, sobrepujando sobre o povo e seu ministério. Deus se agradava do fato
dos Efésios odiarem as obras dos nicolaítas, o que Ele também odiava. Deus
nunca desejou uma casta sacerdotal, nem mesmo com Israel, ele queria toda
uma nação de sacerdotes (Ex 19:6), entretanto Israel abdicou deste desejo de
Deus e pediu para Moisés se tornar um intermediário entre eles (Dt 5:27). Com
os nicolaítas na igreja, o cristianismo se tornou judaísmo.
“Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: Estas coisas diz o primeiro e o
último, que esteve morto e tornou a viver: Conheço a tua tribulação, a tua
pobreza (mas tu és rico) e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram
judeus e não são, sendo, antes, sinagoga de Satanás. Não temas as
coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão
alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez
dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. Quem tem ouvidos,
ouça o que o Espírito diz às igrejas: O vencedor de nenhum modo sofrerá
dano da segunda morte. Ap 2:8-11”
Esmirna, derivado de mirra, significa sofrimento, a igreja sob perseguição. Os
judeus aqui são os inimigos, Deus os chama de sinagoga de satanás. Não é
oposição contra Israel, pois estaria em contradição com o que Paulo fala em
Romanos 9, mas aos judaizantes dentro da igreja. Temos que separar o amor
de Deus e suas promessas para Israel, que nada tem a ver com a estrutura
religiosa e as principais características do judaísmo e com isto ver o que o
Senhor estava se referindo. O templo, a lei, os sacerdotes e as promessas
eram as bases do judaísmo. O judaísmo é uma religião terrena. Um templo
material, regulamentos de letras, sacerdotes mediadores e gozo nesta terra. No
judaísmo, se quero ser abençoado ou agradecer uma bênção, tenho que ir ao
templo. Se quiser fazer um sacrifício, o mesmo. No novo testamento não é
assim, não existe lugar especial, nós somos sacerdotes, somos templo. O lugar
de adoração é o adorador! Na igreja Deus habita no homem. No judaísmo
Deus habita em uma casa. Esta prática penetrou dentro da igreja ao longo dos
séculos a ponto de muitos chamarem o local de reunião de templo, mas
mesmo quando chamamos de igreja isto não fica amenizado, pois igreja somos
nós, não o local de reunião. Devemos considerar que se vamos à igreja, não
somos igreja! Igreja no original é ekklesia, que significa “os chamados para
fora”. O Senhor nos designou para sermos suas testemunhas e isto se faz no
mundo e não entre quatro paredes. Ele nos enviou como ovelhas no meio de
lobos, esta é a essência “missionária” da igreja. Paulo falou de pessoas dentro
da igreja que “o seu deus é o ventre” (Fp 3:19), uma forma diferente de falar
sobre aqueles que pensam apenas em seu bem estar, que estão na igreja para
se banquetear com os irmãos como Judas e Pedro falam em suas epístolas.
Os judaizantes querem transformar a igreja em um local de satisfação do
homem, de bênçãos terrenas, um evangelho com o homem no centro, de
regras. No judaísmo a responsabilidade do povo é levar o boi ou a ovelha ao
templo, os encargos “espirituais” ficam por conta dos sacerdotes. A motivação
é sempre um sacrifício por uma melhor colheita, a fertilidade do gado ou outros
benefícios pessoais. Na Nova Aliança não temos o templo, não há o que
sacrificar para pedir algo para Deus, visto que o último e perfeito sacrifício já foi
feito por Cristo na cruz e este sacrifício nos concedeu a maior bênção que
podemos alcançar, que é o acesso ao Pai e à sua família, por isto Paulo fala na
carta aos Efésios que nós fomos abençoados (Ef 1:3), no passado. Não
existe em todo o Novo Testamento um ensino para “pedir uma bênção”, todas
as vezes que existe um ensino ou episódio de oração com um pedido ele
invariavelmente está relacionado com a carga de Cristo que pesa sobre nós.
Vejamos:
“Por isso, também não cessamos de orar por vós, para que o nosso Deus
vos torne dignos da sua vocação e cumpra com poder todo propósito de
bondade e obra de fé, (II Tes 1:1)”
“Finalmente, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se
propague e seja glorificada, como também está acontecendo entre vós; (II
Tes 3:1)"
“Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram
cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de
Deus. (At 4:31)”
“Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás
a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te
recompensará. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios;
porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos. Não vos
assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que
tendes necessidade, antes que lho peçais. Portanto, vós orareis assim:
Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu
reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de
cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós
temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em
tentação; mas livra-nos do mal, pois teu é o reino, o poder e a glória para
sempre. Amém! Mt 6:6-13”
O ensino de Jesus sobre oração nos autoriza a pedir sobre nossas
necessidades, apesar de Deus já conhecê-las. Também coloca temas em
ordem de relevância naquela que acabaria sendo conhecida como “oração
modelo”, sendo que a oração inicia com dois pedidos por cargas do coração do
Pai para depois inserir um pedido sobre o nosso pão cotidiano.
Não podemos ampliar mais do que o texto nos permite a promessa de
recompensa (apodidomai) que Jesus fala no versículo 6, visto que esta palavra
no original pode significar o pagamento de uma dívida (o qual Deus não tem
para conosco) ou coisas prometidas por juramento, por isto Jesus repete
novamente mais tarde:” Porque para Deus não haverá impossíveis em
todas as suas promessas Lc 1:37” e Paulo também diz: “Porque quantas
são as promessas de Deus, tantas tem nele o sim, porquanto também por
ele é o amém para a glória de Deus por nosso intermédio. II Co 1:20”
Mas então porque Jesus disse: “e tudo quanto pedirdes em oração, crendo
recebereis. Mt 21:22”? Ora, nenhuma passagem da escritura pode ser
entendida de forma isolada, mas corroborada pelas demais que tratam do
mesmo assunto. Jesus expôs mais detalhadamente este assunto nos capítulos
14, 15 e 16 no evangelho de João, com destaque para os seguintes versículos:
“E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja
glorificado no Filho Jo 14:12”
“Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em
vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito. Jo 15:7”
Mais tarde, João volta neste assunto em sua epístola e diz:
“e aquilo que pedimos dele recebemos, porque guardamos os seus
mandamentos e fazemos diante dele o que lhe é agradável. I Jo 3:22”
E Tiago nos acrescenta:
“Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a
lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis; pedis e não
recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres. Tg 4:2-
3”
Concluímos que:
- Podemos e devemos fazer conhecidas diante de Deus todas as nossas
necessidades, sem ansiedade (Fp 4:6);
- Deus nos dá boas dádivas porque Ele é bom (Mt 7:11);
- Devemos buscar o Reino de Deus em primeiro lugar para podermos esperar
receber da parte dEle o atendimento de nossas necessidades (Mt 6:33);
- Nossa oração deve ter a mesma ênfase que havia na oração do Jesus para a
implantação do Reino de Deus na terra (Mt 6:10).
Pedir uma bênção baseado em repetição ou negócio com Deus é
Judaísmo, falar com o Pai em intimidade e ter um coração grato acima de
tudo é cristianismo!
“Ao anjo da igreja em Pérgamo escreve: Estas coisas diz aquele que tem
a espada afiada de dois gumes: Conheço o lugar em que habitas, onde
está o trono de Satanás, e que conservas o meu nome e não negaste a
minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha testemunha, meu fiel, o qual
foi morto entre vós, onde Satanás habita. Tenho, todavia, contra ti
algumas coisas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão,
o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para
comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição.
Outrossim, também tu tens os que da mesma forma sustentam a doutrina
dos nicolaítas. Portanto, arrepende-te; e, se não, venho a ti sem demora e
contra eles pelejarei com a espada da minha boca. Quem tem ouvidos,
ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor, dar-lhe-ei do maná
escondido, bem como lhe darei uma pedrinha branca, e sobre essa
pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele
que o recebe. Ap 2:12-17”
Pérgamo – significa casamento ou união. A igreja e o mundo se unem em
Pérgamo, nasce a religião estatal. Antipas, a testemunha fiel de quem fala o
Senhor não existe na história, portanto deve ser olhado como um nome
profético da mesma forma que as cartas às igrejas. Seu nome significa contra
tudo, obviamente não um crítico alucinado, mas alguém que se opõe a entrada
do mundo na igreja e se posiciona de tal maneira que se torna um mártir. É em
Pérgamo que aparecem aqueles que sustentam a doutrina de Balaão, o
terceiro inimigo da igreja. Balaão era um profeta gentio que vendia seus
“serviços” para quem desejasse. Moabe pediu para Balaão amaldiçoar Israel,
mas Deus não permitiu. Vemos que mais tarde Balaão tramou um plano para
destruir a Israel, introduzindo as mulheres Moabitas e seus ídolos entre eles
(Nm 25 a 31). Balaão usa um método muito simples, ele destrói a separação
existente entre o mundo e a igreja e o resultado é idolatria. “Não compreendeis
que a amizade do mundo é inimizade contra Deus” (Tg 4:4). Balaão foi o
primeiro a ganhar dinheiro com os dons, é o protótipo do mercenário que
Paulo e Pedro falam nas escrituras (II Co 2:178, II Pe 2:2). Pedro e Judas
fazem referência a Balaão de forma bastante negativa em suas epístolas. Do
ponto de vista financeiro, Constantino introduziu o salário para os sacerdotes,
que agora estavam sob o serviço de Mamon e não de Deus. Não sem razão,
também para Pérgamo, que agora está unida com o mundo, os Nicolaítas não
apenas se manifestam com suas obras, como em Éfeso, mas introduzem
definitivamente sua doutrina em Pérgamo, já que na nova estrutura de igreja
estatal mundana não é possível funcionar o sacerdócio dos santos, apenas
homens especiais poderiam servir a Deus e isto se estabelece na forma de
dogmas, ou seja, de verdades absolutas. As práticas iniciadas em Éfeso se
consolidam em Pérgamo. Para entendermos bem a diferença entre Éfeso e
Pérgamo, imaginem um irmão que comete adultério, isto é comportamento, era
nesta situação que estava Éfeso. Agora, se este mesmo irmão busca na Bíblia
exemplos para justificar seu pecado, isto é Pérgamo, é um passo adiante, é
ensinamento. Na condição de Pérgamo os cristãos não se sentem em posição
de questionar os sacerdotes especiais e acabam por aceitar a doutrina por eles
introduzida, mas devemos lembrar que Deus elogiou a Antipas e mais do que
nunca devemos ter a Cristo em nós para não sermos confundidos. “Guardei
tua palavra em meu coração, para não ser confundido” Sl 119:6 .
Concluímos que a doutrina de Balaão introduziu os ensinamentos dos
nicolaítas na igreja.
“Ao anjo da igreja em Tiatira escreve: Estas coisas diz o Filho de Deus,
que tem os olhos como chama de fogo e os pés semelhantes ao bronze
polido: Conheço as tuas obras, o teu amor, a tua fé, o teu serviço, a tua
perseverança e as tuas últimas obras, mais numerosas do que as
primeiras. Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel,
que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda
seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas
sacrificadas aos ídolos. Dei-lhe tempo para que se arrependesse; ela,
todavia, não quer arrepender-se da sua prostituição. Eis que a prostro de
cama, bem como em grande tribulação os que com ela adulteram, caso
não se arrependam das obras que ela incita. Matarei os seus filhos, e
todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e
corações, e vos darei a cada um segundo as vossas obras. Digo, todavia,
a vós outros, os demais de Tiatira, a tantos quantos não têm essa
doutrina e que não conheceram, como eles dizem, as coisas profundas de
Satanás: Outra carga não jogarei sobre vós; tão-somente conservai o que
tendes, até que eu venha. Ao vencedor, que guardar até ao fim as minhas
obras, eu lhe darei autoridade sobre as nações, e com cetro de ferro as
regerá e as reduzirá a pedaços como se fossem objetos de barro; assim
como também eu recebi de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã.
Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ap 2:18-29”
Tiatira – significa odor de aflição, isto é, repleta de muitos sacrifícios. As
igrejas mencionadas anteriormente passaram, Tiatira permanecerá até a volta
do Senhor, tal qual Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Apenas nestas quatro
últimas igrejas existe menção da volta do Senhor.
Em Tiatira surge o último grande inimigo da igreja, Jezabel (I Rs 16). Ela seduz
os servos de Deus a praticarem prostituição e sacrifício a ídolos. Foi Jezabel,
que levou a Israel a adorar baal. Se a idolatria foi introduzida em Pérgamo,
agora o problema é maior, pois o próprio Deus foi substituído. A igreja católica
romana surge em Pérgamo pelo ano 300 e se solidifica em Tiatira, com a
introdução de Maria no status “mãe de Deus”. Na prática a maioria absoluta
dos católicos adora e intercede à Maria e não à Cristo. Deus nunca reconhece
como legítimo o casamento entre seu povo e os gentios, como Jezabel era
uma gentia, sua união era prostituição e não casamento e o resultado da
prostituição é idolatria. Jezabel reclama para si o direito de ensinar e pregar. A
mulher pregando, tendo o que dizer, é Tiatira, pois não está submissa a Cristo,
que é a Palavra de Deus encarnada, somente Ele tem o que falar. Jezabel foi a
única mulher que matava os profetas em Israel e na história da igreja vemos
quantos profetas e cristãos verdadeiros morreram nas mãos da inquisição
“Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Estas coisas diz aquele que tem os
sete Espíritos de Deus e as sete estrelas: Conheço as tuas obras, que
tens nome de que vives e estás morto. Sê vigilante e consolida o resto
que estava para morrer, porque não tenho achado íntegras as tuas obras
na presença do meu Deus. Lembra-te, pois, do que tens recebido e
ouvido, guarda-o e arrepende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como
ladrão, e não conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti.
Tens, contudo, em Sardes, umas poucas pessoas que não contaminaram
as suas vestiduras e andarão de branco junto comigo, pois são dignas. O
vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum
apagarei o seu nome do Livro da Vida; pelo contrário, confessarei o seu
nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos. Quem tem ouvidos,
ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ap 3:1-6”
Sardes – Significa: os remanescentes. Sardes é a reação de Deus à Tiatira, é
o reavivamento da igreja. Um destes remanescentes foi Lutero. A reforma foi
um início de Sardes, mas não consumou aquilo que Deus queria, por isto disse
que suas obras não eram “perfeitas”. Na verdade os avivamentos foram
reações de Deus a posição de Pérgamo e Tiatira. Mesmo após uma reação,
Sardes por não ter suas obras perfeitas, ou avançava ou retornaria para Tiatira
ou Pérgamo e temos que considerar que a situação de uma igreja com
sacerdócio profissional contaminou até mesmo a reforma. As primeiras igrejas
após a reforma tiveram forte ligação com o estado, ou seja, eram tão estatais
quanto a igreja católica. Assim foi com os Luteranos na Alemanha, com os
anglicanos na Inglaterra. Nesta época já havia remanescentes surgindo dentro
das igrejas estatais, como os anabatistas, os valdenses, os puritanos, entre
outros e que foram perseguidos e mortos tanto pelos católicos como pelos
protestantes nos países em que possuíam ligação com o estado. É inegável
que Deus abençoou diversas vezes Sardes com avivamentos, mas os homens
tendem a querer tornar estas experiências exclusivas e não promovem o que
Deus deseja, que é “consolida o resto que estava para morrer”, desta
forma, eles querem conter a bênção limitando ela a um grupo ou a uma idéia.
Pare entendermos, é como se as denominações fossem uma taça onde Deus
derramaria seu Espírito. Com o passar do tempo e sem mais o Espírito, as
denominações passam a contender entre si para saber qual é a melhor taça! O
erro de Sardes é não entender que o reavivamento é mandado por Deus não
para nosso benefício, mas para fazer a igreja retornar para o princípio, mas
para isto muito das estruturas existentes teriam que ser abaladas, o que acaba
não ocorrendo.
“Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: Estas coisas diz o santo, o
verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre, e ninguém fechará,
e que fecha, e ninguém abrirá: Conheço as tuas obras - eis que tenho
posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar - que
tens pouca força, entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o
meu nome. Eis farei que alguns dos que são da sinagoga de Satanás,
desses que a si mesmos se declaram judeus e não são, mas mentem, eis
que os farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que eu te amei.
Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te
guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para
experimentar os que habitam sobre a terra. Venho sem demora. Conserva
o que tens, para que ninguém tome a tua coroa. Ao vencedor, fá-lo-ei
coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também
sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova
Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo
nome. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ap 3:7-13”
Filadélfia – significa: amor fraternal. É a igreja que retorna a doutrina dos
apóstolos. Das igrejas apenas Esmirna e Filadélfia não foram repreendidas.
Filadélfia além de não ser repreendida, ela é louvada. Somente existe Filadélfia
quando os nicolaítas desaparecem, ou seja, quando a classe mediadora de
ministérios especiais é substituída pelo sacerdócio dos santos. Qual foi a
primeira vez que isto aconteceu? Em 1825 na Irlanda, um grupos de irmãos
passaram a se reunir sem qualquer bandeira sobre eles, praticavam
simplesmente aquilo que estava em Atos. Eles recebiam calorosamente todos
que viessem estar com eles, independente da denominação que fizessem
parte. Foi nesta época que restauraram entre eles a identificação de “cristãos”.
Este grupo foi chamado de “movimento dos irmãos”. Muitos protestantes
históricos abriram mão de seu status e se juntaram a eles nesta época, entre
eles John Nelson Darby. Do ponto de vista de restauração o movimento dos
irmãos foi mais além do que a reforma, entretanto por não estarem vinculados
ao poder político tinham pouca força, o resultado disto foi a perseguição de
muitos que abraçaram a simplicidade do evangelho e a dispersão dos irmãos.
O perigo que vemos para Filadélfia não está em conquistar algo, mas no
retrocesso, e isto acabou acontecendo, após 20 anos o movimento dos irmãos
de dividiu em dois grandes grupos, os “exclusivos” e os “abertos” e podemos
dizer que ainda hoje esta divisão existe nas mais diferentes nuances dos
chamados movimentos de restauração da igreja. Porque ocorreu este
retrocesso no “movimento dos irmãos”? Vemos que Jesus estava preocupado
basicamente com duas coisas com Filadélfia: guardar o seu nome e que o
amor mútuo dos irmãos se mantivesse aceso. Inferimos que o amor se apagou
e quando isto ocorre os comportamentos dão lugar a preocupações
exacerbadas com detalhes, levando ao legalismo e a divisão. Na tentativa de
rejeitar a unidade “terrena” e estatal da igreja católica, o movimento dos irmãos
enfatizaram uma unidade espiritual nos céus, sem sentido prático aqui na terra,
tornando a unidade desejada por Jesus expressa em João 17 apenas idealista.
O que vemos hoje é o resultado desta falha, pois enquanto os “abertos”
estabeleceram como limite a congregação (menor que a cidade), os
“exclusivos” estenderam sua esfera de ação além dos limites das cidades. Uma
igreja para várias cidades ou várias igrejas em uma mesma cidade, ambas não
são ordenadas por Deus.
“Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Estas coisas diz o Amém, a
testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus: Conheço as
tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente!
Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de
vomitar-te da minha boca; pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso
de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre,
cego e nu. Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo
para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que
não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os
olhos, a fim de que vejas. Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê,
pois, zeloso e arrepende-te. Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir
a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele,
comigo. Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim
como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono. Quem tem
ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ap 3:14-22”
Laodicéia – Significa: Justiça do povo - Laos (povo) e edikea (costumes). O
grande erro de Laodicéia foi substituir o ministério dos santos orientado pelo
Espírito Santo pelo ministério da maioria. Na falta do Espírito Santo, os
costumes e opiniões da maioria se sobrepujam e se estabelece uma
democracia na igreja. Dizer que Laodicéia é morno, significa que pode estar
cheia de conhecimento, mas carente de poder. Filadélfia caída gera Laodicéia.
A história nos mostra que muitos proeminentes protestantes, entre eles
Scofield, receberam ensino do “movimento dos irmãos”. O conhecimento da
palavra e a auto suficiência tornou os “irmãos” presunçosos. Este se tornou seu
principal pecado: o orgulho espiritual. Quando nos colocamos em posição de
não querer ouvir e receber de pessoas ou grupos que consideramos com
menor visão que nós, podemos crer que nos tornamos Laodicéia. Paulo disse:
“aquele que julga saber alguma coisa, ainda não aprendeu como convém
saber” e mais: “o saber ensoberbece, mas o amor edifica”. A face de
Moisés brilhava, mas ele próprio não tinha consciência disto, todo aquele que
sabe que sua face está brilhando, perderá o brilho dela. Pedro diz que a fé
deve ser provada, é o ouro provado pelo fogo (I Pe 1:7). Muitas vezes a
doutrina é o resultado da transmissão do pensamento de um para o outro, por
isto precisamos colírio, pois precisamos ver por nós mesmos.
Não devemos nos superestimar achando que estamos livres de abraçar um
destes inimigos da igreja. Os erros se instalam tal qual aconteceu em Éfeso,
primeiro começamos a praticar algo errado, depois passamos a defender
doutrinariamente nossas posições como verdades absolutas.
Considerando que estas cartas possuem um cunho extremamente prático,
devemos ter em mente que nosso alvo é sair de Laodicéia e voltarmos para
Filadélfia, para isto, o amor fraternal tem que ser restaurado em sua plenitude.
Somente com amor fraternal legítimo e ardente (I Pe 1:22) o serviço dos santos
e as mutualidades serão uma realidade na igreja e poderemos esperar para
sermos coluna no santuário de Deus.
Carlos Augusto
Out/2010