os inimigos da igreja

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OS INIMIGOS DA IGREJA (Baseado no livro A Ortodoxia da Igreja de Watcmann Nee) O livro de Apocalipse (ou Revelação, sua interpretação literal) costuma afastar boa parte dos irmãos de sua leitura por considerarem um livro que trata apenas das coisas do fim, sendo muitas vezes de difícil compreensão. Entretanto, devemos considerar que na ocasião que João escreveu o livro, os acontecimentos vistos por ele estavam no futuro, ainda iriam acontecer. Hoje quando lemos Apocalipse temos duas situações bem claras: vários eventos já aconteceram e fazem parte da história e outros ainda estão por acontecer. Um dos aspectos mais relevantes de Apocalipse que diz respeito a nós, são as Cartas às Igrejas, visto que ali encontramos as palavras tanto de elogio como de correção do Senhor, visando colocar-nos novamente em direção ao alvo. A primeira coisa que devemos considerar sobre estas cartas é que elas não são literais, não foram dirigidas às igrejas da época com os mesmos nomes, visto que havia mais de sete igrejas no mundo então. Deus escolheu sete igrejas que tinham características de mútua afinidade e colocou a profecia sobre elas. Na terra há sete igrejas e no céu apenas sete candeeiros. Duas vezes João fala para guardar as profecias deste livro – este é um livro para se guardar e não para estudar (1:3, 22:7). Estas cartas possuem uma peculiaridade interessante, apenas as quatro últimas falam da volta de Jesus. Elas estão alinhadas historicamente, três já passaram, mas as quatro últimas existirão na terra até a volta do Senhor. Isto é um pouco estranho para quem possui uma visão “dispensacionalista” dos acontecimentos, onde uma igreja sucedia a outra até a volta do Senhor, que seria por ocasião da Igreja de Laodicéia. Não existe base sólida para crermos nisto, como veremos a seguir.

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Page 1: Os Inimigos Da Igreja

OS INIMIGOS DA IGREJA

(Baseado no livro A Ortodoxia da Igreja de Watcmann Nee)

O livro de Apocalipse (ou Revelação, sua interpretação literal) costuma afastar

boa parte dos irmãos de sua leitura por considerarem um livro que trata apenas

das coisas do fim, sendo muitas vezes de difícil compreensão. Entretanto,

devemos considerar que na ocasião que João escreveu o livro, os

acontecimentos vistos por ele estavam no futuro, ainda iriam acontecer. Hoje

quando lemos Apocalipse temos duas situações bem claras: vários eventos já

aconteceram e fazem parte da história e outros ainda estão por acontecer.

Um dos aspectos mais relevantes de Apocalipse que diz respeito a nós, são as

Cartas às Igrejas, visto que ali encontramos as palavras tanto de elogio como

de correção do Senhor, visando colocar-nos novamente em direção ao alvo. A

primeira coisa que devemos considerar sobre estas cartas é que elas não são

literais, não foram dirigidas às igrejas da época com os mesmos nomes, visto

que havia mais de sete igrejas no mundo então. Deus escolheu sete igrejas

que tinham características de mútua afinidade e colocou a profecia sobre elas.

Na terra há sete igrejas e no céu apenas sete candeeiros.

Duas vezes João fala para guardar as profecias deste livro – este é um

livro para se guardar e não para estudar (1:3, 22:7).

Estas cartas possuem uma peculiaridade interessante, apenas as quatro

últimas falam da volta de Jesus. Elas estão alinhadas historicamente, três já

passaram, mas as quatro últimas existirão na terra até a volta do Senhor. Isto é

um pouco estranho para quem possui uma visão “dispensacionalista” dos

acontecimentos, onde uma igreja sucedia a outra até a volta do Senhor, que

seria por ocasião da Igreja de Laodicéia. Não existe base sólida para crermos

nisto, como veremos a seguir.

Page 2: Os Inimigos Da Igreja

Qual o ensino para estas igrejas? Quais são os inimigos presentes em algumas

destas igrejas e que as tornam reprováveis? E por fim, podem estes inimigos

estarem presentes entre nós ainda hoje?

“A o anjo da igreja em Éfeso escreve: Estas coisas diz aquele que

conserva na mão direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete

candeeiros de ouro: Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua

perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à

prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste

mentirosos; e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu

nome, e não te deixaste esmorecer. Tenho, porém, contra ti que

abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste,

arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e

moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas. Tens,

contudo, a teu favor que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu

também odeio. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas:

Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra

no paraíso de Deus. Ap 2:1-7

Éfeso significa desejável – É a igreja logo após a era apostólica. Seu principal

pecado foi ter abandonado o primeiro amor (proten no original, que tem sentido

de melhor). Aparece pela primeira vez um dos inimigos da igreja, os nicolaítas.

No original esta palavra é composta e significa nikao – conquistar + laos –

povo, ou seja, conquistar o povo ou estar sobre o povo. A partir do terceiro

século o sacerdócio dos santos foi substituído pelo sacerdócio profissional,

Constantino tornou a fé cristã uma religião oficial e passou a assalariar os

sacerdotes. Deste então o clero foi separado dos leigos criando uma casta, ou

seja, sobrepujando sobre o povo e seu ministério. Deus se agradava do fato

dos Efésios odiarem as obras dos nicolaítas, o que Ele também odiava. Deus

nunca desejou uma casta sacerdotal, nem mesmo com Israel, ele queria toda

uma nação de sacerdotes (Ex 19:6), entretanto Israel abdicou deste desejo de

Deus e pediu para Moisés se tornar um intermediário entre eles (Dt 5:27). Com

os nicolaítas na igreja, o cristianismo se tornou judaísmo.

Page 3: Os Inimigos Da Igreja

“Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: Estas coisas diz o primeiro e o

último, que esteve morto e tornou a viver: Conheço a tua tribulação, a tua

pobreza (mas tu és rico) e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram

judeus e não são, sendo, antes, sinagoga de Satanás. Não temas as

coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão

alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez

dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. Quem tem ouvidos,

ouça o que o Espírito diz às igrejas: O vencedor de nenhum modo sofrerá

dano da segunda morte. Ap 2:8-11”

Esmirna, derivado de mirra, significa sofrimento, a igreja sob perseguição. Os

judeus aqui são os inimigos, Deus os chama de sinagoga de satanás. Não é

oposição contra Israel, pois estaria em contradição com o que Paulo fala em

Romanos 9, mas aos judaizantes dentro da igreja. Temos que separar o amor

de Deus e suas promessas para Israel, que nada tem a ver com a estrutura

religiosa e as principais características do judaísmo e com isto ver o que o

Senhor estava se referindo. O templo, a lei, os sacerdotes e as promessas

eram as bases do judaísmo. O judaísmo é uma religião terrena. Um templo

material, regulamentos de letras, sacerdotes mediadores e gozo nesta terra. No

judaísmo, se quero ser abençoado ou agradecer uma bênção, tenho que ir ao

templo. Se quiser fazer um sacrifício, o mesmo. No novo testamento não é

assim, não existe lugar especial, nós somos sacerdotes, somos templo. O lugar

de adoração é o adorador! Na igreja Deus habita no homem. No judaísmo

Deus habita em uma casa. Esta prática penetrou dentro da igreja ao longo dos

séculos a ponto de muitos chamarem o local de reunião de templo, mas

mesmo quando chamamos de igreja isto não fica amenizado, pois igreja somos

nós, não o local de reunião. Devemos considerar que se vamos à igreja, não

somos igreja! Igreja no original é ekklesia, que significa “os chamados para

fora”. O Senhor nos designou para sermos suas testemunhas e isto se faz no

mundo e não entre quatro paredes. Ele nos enviou como ovelhas no meio de

lobos, esta é a essência “missionária” da igreja. Paulo falou de pessoas dentro

da igreja que “o seu deus é o ventre” (Fp 3:19), uma forma diferente de falar

sobre aqueles que pensam apenas em seu bem estar, que estão na igreja para

se banquetear com os irmãos como Judas e Pedro falam em suas epístolas.

Page 4: Os Inimigos Da Igreja

Os judaizantes querem transformar a igreja em um local de satisfação do

homem, de bênçãos terrenas, um evangelho com o homem no centro, de

regras. No judaísmo a responsabilidade do povo é levar o boi ou a ovelha ao

templo, os encargos “espirituais” ficam por conta dos sacerdotes. A motivação

é sempre um sacrifício por uma melhor colheita, a fertilidade do gado ou outros

benefícios pessoais. Na Nova Aliança não temos o templo, não há o que

sacrificar para pedir algo para Deus, visto que o último e perfeito sacrifício já foi

feito por Cristo na cruz e este sacrifício nos concedeu a maior bênção que

podemos alcançar, que é o acesso ao Pai e à sua família, por isto Paulo fala na

carta aos Efésios que nós fomos abençoados (Ef 1:3), no passado. Não

existe em todo o Novo Testamento um ensino para “pedir uma bênção”, todas

as vezes que existe um ensino ou episódio de oração com um pedido ele

invariavelmente está relacionado com a carga de Cristo que pesa sobre nós.

Vejamos:

“Por isso, também não cessamos de orar por vós, para que o nosso Deus

vos torne dignos da sua vocação e cumpra com poder todo propósito de

bondade e obra de fé, (II Tes 1:1)”

“Finalmente, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se

propague e seja glorificada, como também está acontecendo entre vós; (II

Tes 3:1)"

“Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram

cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de

Deus. (At 4:31)”

“Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás

a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te

recompensará. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios;

porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos. Não vos

assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que

tendes necessidade, antes que lho peçais. Portanto, vós orareis assim:

Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu

Page 5: Os Inimigos Da Igreja

reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de

cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós

temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em

tentação; mas livra-nos do mal, pois teu é o reino, o poder e a glória para

sempre. Amém! Mt 6:6-13”

O ensino de Jesus sobre oração nos autoriza a pedir sobre nossas

necessidades, apesar de Deus já conhecê-las. Também coloca temas em

ordem de relevância naquela que acabaria sendo conhecida como “oração

modelo”, sendo que a oração inicia com dois pedidos por cargas do coração do

Pai para depois inserir um pedido sobre o nosso pão cotidiano.

Não podemos ampliar mais do que o texto nos permite a promessa de

recompensa (apodidomai) que Jesus fala no versículo 6, visto que esta palavra

no original pode significar o pagamento de uma dívida (o qual Deus não tem

para conosco) ou coisas prometidas por juramento, por isto Jesus repete

novamente mais tarde:” Porque para Deus não haverá impossíveis em

todas as suas promessas Lc 1:37” e Paulo também diz: “Porque quantas

são as promessas de Deus, tantas tem nele o sim, porquanto também por

ele é o amém para a glória de Deus por nosso intermédio. II Co 1:20”

Mas então porque Jesus disse: “e tudo quanto pedirdes em oração, crendo

recebereis. Mt 21:22”? Ora, nenhuma passagem da escritura pode ser

entendida de forma isolada, mas corroborada pelas demais que tratam do

mesmo assunto. Jesus expôs mais detalhadamente este assunto nos capítulos

14, 15 e 16 no evangelho de João, com destaque para os seguintes versículos:

“E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja

glorificado no Filho Jo 14:12”

“Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em

vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito. Jo 15:7”

Mais tarde, João volta neste assunto em sua epístola e diz:

Page 6: Os Inimigos Da Igreja

“e aquilo que pedimos dele recebemos, porque guardamos os seus

mandamentos e fazemos diante dele o que lhe é agradável. I Jo 3:22”

E Tiago nos acrescenta:

“Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a

lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis; pedis e não

recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres. Tg 4:2-

3”

Concluímos que:

- Podemos e devemos fazer conhecidas diante de Deus todas as nossas

necessidades, sem ansiedade (Fp 4:6);

- Deus nos dá boas dádivas porque Ele é bom (Mt 7:11);

- Devemos buscar o Reino de Deus em primeiro lugar para podermos esperar

receber da parte dEle o atendimento de nossas necessidades (Mt 6:33);

- Nossa oração deve ter a mesma ênfase que havia na oração do Jesus para a

implantação do Reino de Deus na terra (Mt 6:10).

Pedir uma bênção baseado em repetição ou negócio com Deus é

Judaísmo, falar com o Pai em intimidade e ter um coração grato acima de

tudo é cristianismo!

“Ao anjo da igreja em Pérgamo escreve: Estas coisas diz aquele que tem

a espada afiada de dois gumes: Conheço o lugar em que habitas, onde

está o trono de Satanás, e que conservas o meu nome e não negaste a

minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha testemunha, meu fiel, o qual

foi morto entre vós, onde Satanás habita. Tenho, todavia, contra ti

algumas coisas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão,

o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para

comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição.

Outrossim, também tu tens os que da mesma forma sustentam a doutrina

dos nicolaítas. Portanto, arrepende-te; e, se não, venho a ti sem demora e

contra eles pelejarei com a espada da minha boca. Quem tem ouvidos,

ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor, dar-lhe-ei do maná

Page 7: Os Inimigos Da Igreja

escondido, bem como lhe darei uma pedrinha branca, e sobre essa

pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele

que o recebe. Ap 2:12-17”

Pérgamo – significa casamento ou união. A igreja e o mundo se unem em

Pérgamo, nasce a religião estatal. Antipas, a testemunha fiel de quem fala o

Senhor não existe na história, portanto deve ser olhado como um nome

profético da mesma forma que as cartas às igrejas. Seu nome significa contra

tudo, obviamente não um crítico alucinado, mas alguém que se opõe a entrada

do mundo na igreja e se posiciona de tal maneira que se torna um mártir. É em

Pérgamo que aparecem aqueles que sustentam a doutrina de Balaão, o

terceiro inimigo da igreja. Balaão era um profeta gentio que vendia seus

“serviços” para quem desejasse. Moabe pediu para Balaão amaldiçoar Israel,

mas Deus não permitiu. Vemos que mais tarde Balaão tramou um plano para

destruir a Israel, introduzindo as mulheres Moabitas e seus ídolos entre eles

(Nm 25 a 31). Balaão usa um método muito simples, ele destrói a separação

existente entre o mundo e a igreja e o resultado é idolatria. “Não compreendeis

que a amizade do mundo é inimizade contra Deus” (Tg 4:4). Balaão foi o

primeiro a ganhar dinheiro com os dons, é o protótipo do mercenário que

Paulo e Pedro falam nas escrituras (II Co 2:178, II Pe 2:2). Pedro e Judas

fazem referência a Balaão de forma bastante negativa em suas epístolas. Do

ponto de vista financeiro, Constantino introduziu o salário para os sacerdotes,

que agora estavam sob o serviço de Mamon e não de Deus. Não sem razão,

também para Pérgamo, que agora está unida com o mundo, os Nicolaítas não

apenas se manifestam com suas obras, como em Éfeso, mas introduzem

definitivamente sua doutrina em Pérgamo, já que na nova estrutura de igreja

estatal mundana não é possível funcionar o sacerdócio dos santos, apenas

homens especiais poderiam servir a Deus e isto se estabelece na forma de

dogmas, ou seja, de verdades absolutas. As práticas iniciadas em Éfeso se

consolidam em Pérgamo. Para entendermos bem a diferença entre Éfeso e

Pérgamo, imaginem um irmão que comete adultério, isto é comportamento, era

nesta situação que estava Éfeso. Agora, se este mesmo irmão busca na Bíblia

exemplos para justificar seu pecado, isto é Pérgamo, é um passo adiante, é

ensinamento. Na condição de Pérgamo os cristãos não se sentem em posição

Page 8: Os Inimigos Da Igreja

de questionar os sacerdotes especiais e acabam por aceitar a doutrina por eles

introduzida, mas devemos lembrar que Deus elogiou a Antipas e mais do que

nunca devemos ter a Cristo em nós para não sermos confundidos. “Guardei

tua palavra em meu coração, para não ser confundido” Sl 119:6 .

Concluímos que a doutrina de Balaão introduziu os ensinamentos dos

nicolaítas na igreja.

“Ao anjo da igreja em Tiatira escreve: Estas coisas diz o Filho de Deus,

que tem os olhos como chama de fogo e os pés semelhantes ao bronze

polido: Conheço as tuas obras, o teu amor, a tua fé, o teu serviço, a tua

perseverança e as tuas últimas obras, mais numerosas do que as

primeiras. Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel,

que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda

seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas

sacrificadas aos ídolos. Dei-lhe tempo para que se arrependesse; ela,

todavia, não quer arrepender-se da sua prostituição. Eis que a prostro de

cama, bem como em grande tribulação os que com ela adulteram, caso

não se arrependam das obras que ela incita. Matarei os seus filhos, e

todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e

corações, e vos darei a cada um segundo as vossas obras. Digo, todavia,

a vós outros, os demais de Tiatira, a tantos quantos não têm essa

doutrina e que não conheceram, como eles dizem, as coisas profundas de

Satanás: Outra carga não jogarei sobre vós; tão-somente conservai o que

tendes, até que eu venha. Ao vencedor, que guardar até ao fim as minhas

obras, eu lhe darei autoridade sobre as nações, e com cetro de ferro as

regerá e as reduzirá a pedaços como se fossem objetos de barro; assim

como também eu recebi de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã.

Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ap 2:18-29”

Tiatira – significa odor de aflição, isto é, repleta de muitos sacrifícios. As

igrejas mencionadas anteriormente passaram, Tiatira permanecerá até a volta

do Senhor, tal qual Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Apenas nestas quatro

últimas igrejas existe menção da volta do Senhor.

Page 9: Os Inimigos Da Igreja

Em Tiatira surge o último grande inimigo da igreja, Jezabel (I Rs 16). Ela seduz

os servos de Deus a praticarem prostituição e sacrifício a ídolos. Foi Jezabel,

que levou a Israel a adorar baal. Se a idolatria foi introduzida em Pérgamo,

agora o problema é maior, pois o próprio Deus foi substituído. A igreja católica

romana surge em Pérgamo pelo ano 300 e se solidifica em Tiatira, com a

introdução de Maria no status “mãe de Deus”. Na prática a maioria absoluta

dos católicos adora e intercede à Maria e não à Cristo. Deus nunca reconhece

como legítimo o casamento entre seu povo e os gentios, como Jezabel era

uma gentia, sua união era prostituição e não casamento e o resultado da

prostituição é idolatria. Jezabel reclama para si o direito de ensinar e pregar. A

mulher pregando, tendo o que dizer, é Tiatira, pois não está submissa a Cristo,

que é a Palavra de Deus encarnada, somente Ele tem o que falar. Jezabel foi a

única mulher que matava os profetas em Israel e na história da igreja vemos

quantos profetas e cristãos verdadeiros morreram nas mãos da inquisição

“Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Estas coisas diz aquele que tem os

sete Espíritos de Deus e as sete estrelas: Conheço as tuas obras, que

tens nome de que vives e estás morto. Sê vigilante e consolida o resto

que estava para morrer, porque não tenho achado íntegras as tuas obras

na presença do meu Deus. Lembra-te, pois, do que tens recebido e

ouvido, guarda-o e arrepende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como

ladrão, e não conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti.

Tens, contudo, em Sardes, umas poucas pessoas que não contaminaram

as suas vestiduras e andarão de branco junto comigo, pois são dignas. O

vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum

apagarei o seu nome do Livro da Vida; pelo contrário, confessarei o seu

nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos. Quem tem ouvidos,

ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ap 3:1-6”

Sardes – Significa: os remanescentes. Sardes é a reação de Deus à Tiatira, é

o reavivamento da igreja. Um destes remanescentes foi Lutero. A reforma foi

um início de Sardes, mas não consumou aquilo que Deus queria, por isto disse

que suas obras não eram “perfeitas”. Na verdade os avivamentos foram

reações de Deus a posição de Pérgamo e Tiatira. Mesmo após uma reação,

Page 10: Os Inimigos Da Igreja

Sardes por não ter suas obras perfeitas, ou avançava ou retornaria para Tiatira

ou Pérgamo e temos que considerar que a situação de uma igreja com

sacerdócio profissional contaminou até mesmo a reforma. As primeiras igrejas

após a reforma tiveram forte ligação com o estado, ou seja, eram tão estatais

quanto a igreja católica. Assim foi com os Luteranos na Alemanha, com os

anglicanos na Inglaterra. Nesta época já havia remanescentes surgindo dentro

das igrejas estatais, como os anabatistas, os valdenses, os puritanos, entre

outros e que foram perseguidos e mortos tanto pelos católicos como pelos

protestantes nos países em que possuíam ligação com o estado. É inegável

que Deus abençoou diversas vezes Sardes com avivamentos, mas os homens

tendem a querer tornar estas experiências exclusivas e não promovem o que

Deus deseja, que é “consolida o resto que estava para morrer”, desta

forma, eles querem conter a bênção limitando ela a um grupo ou a uma idéia.

Pare entendermos, é como se as denominações fossem uma taça onde Deus

derramaria seu Espírito. Com o passar do tempo e sem mais o Espírito, as

denominações passam a contender entre si para saber qual é a melhor taça! O

erro de Sardes é não entender que o reavivamento é mandado por Deus não

para nosso benefício, mas para fazer a igreja retornar para o princípio, mas

para isto muito das estruturas existentes teriam que ser abaladas, o que acaba

não ocorrendo.

“Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: Estas coisas diz o santo, o

verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre, e ninguém fechará,

e que fecha, e ninguém abrirá: Conheço as tuas obras - eis que tenho

posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar - que

tens pouca força, entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o

meu nome. Eis farei que alguns dos que são da sinagoga de Satanás,

desses que a si mesmos se declaram judeus e não são, mas mentem, eis

que os farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que eu te amei.

Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te

guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para

experimentar os que habitam sobre a terra. Venho sem demora. Conserva

o que tens, para que ninguém tome a tua coroa. Ao vencedor, fá-lo-ei

Page 11: Os Inimigos Da Igreja

coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também

sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova

Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo

nome. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ap 3:7-13”

Filadélfia – significa: amor fraternal. É a igreja que retorna a doutrina dos

apóstolos. Das igrejas apenas Esmirna e Filadélfia não foram repreendidas.

Filadélfia além de não ser repreendida, ela é louvada. Somente existe Filadélfia

quando os nicolaítas desaparecem, ou seja, quando a classe mediadora de

ministérios especiais é substituída pelo sacerdócio dos santos. Qual foi a

primeira vez que isto aconteceu? Em 1825 na Irlanda, um grupos de irmãos

passaram a se reunir sem qualquer bandeira sobre eles, praticavam

simplesmente aquilo que estava em Atos. Eles recebiam calorosamente todos

que viessem estar com eles, independente da denominação que fizessem

parte. Foi nesta época que restauraram entre eles a identificação de “cristãos”.

Este grupo foi chamado de “movimento dos irmãos”. Muitos protestantes

históricos abriram mão de seu status e se juntaram a eles nesta época, entre

eles John Nelson Darby. Do ponto de vista de restauração o movimento dos

irmãos foi mais além do que a reforma, entretanto por não estarem vinculados

ao poder político tinham pouca força, o resultado disto foi a perseguição de

muitos que abraçaram a simplicidade do evangelho e a dispersão dos irmãos.

O perigo que vemos para Filadélfia não está em conquistar algo, mas no

retrocesso, e isto acabou acontecendo, após 20 anos o movimento dos irmãos

de dividiu em dois grandes grupos, os “exclusivos” e os “abertos” e podemos

dizer que ainda hoje esta divisão existe nas mais diferentes nuances dos

chamados movimentos de restauração da igreja. Porque ocorreu este

retrocesso no “movimento dos irmãos”? Vemos que Jesus estava preocupado

basicamente com duas coisas com Filadélfia: guardar o seu nome e que o

amor mútuo dos irmãos se mantivesse aceso. Inferimos que o amor se apagou

e quando isto ocorre os comportamentos dão lugar a preocupações

exacerbadas com detalhes, levando ao legalismo e a divisão. Na tentativa de

rejeitar a unidade “terrena” e estatal da igreja católica, o movimento dos irmãos

enfatizaram uma unidade espiritual nos céus, sem sentido prático aqui na terra,

tornando a unidade desejada por Jesus expressa em João 17 apenas idealista.

Page 12: Os Inimigos Da Igreja

O que vemos hoje é o resultado desta falha, pois enquanto os “abertos”

estabeleceram como limite a congregação (menor que a cidade), os

“exclusivos” estenderam sua esfera de ação além dos limites das cidades. Uma

igreja para várias cidades ou várias igrejas em uma mesma cidade, ambas não

são ordenadas por Deus.

“Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Estas coisas diz o Amém, a

testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus: Conheço as

tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente!

Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de

vomitar-te da minha boca; pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso

de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre,

cego e nu. Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo

para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que

não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os

olhos, a fim de que vejas. Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê,

pois, zeloso e arrepende-te. Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir

a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele,

comigo. Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim

como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono. Quem tem

ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ap 3:14-22”

Laodicéia – Significa: Justiça do povo - Laos (povo) e edikea (costumes). O

grande erro de Laodicéia foi substituir o ministério dos santos orientado pelo

Espírito Santo pelo ministério da maioria. Na falta do Espírito Santo, os

costumes e opiniões da maioria se sobrepujam e se estabelece uma

democracia na igreja. Dizer que Laodicéia é morno, significa que pode estar

cheia de conhecimento, mas carente de poder. Filadélfia caída gera Laodicéia.

A história nos mostra que muitos proeminentes protestantes, entre eles

Scofield, receberam ensino do “movimento dos irmãos”. O conhecimento da

palavra e a auto suficiência tornou os “irmãos” presunçosos. Este se tornou seu

principal pecado: o orgulho espiritual. Quando nos colocamos em posição de

não querer ouvir e receber de pessoas ou grupos que consideramos com

Page 13: Os Inimigos Da Igreja

menor visão que nós, podemos crer que nos tornamos Laodicéia. Paulo disse:

“aquele que julga saber alguma coisa, ainda não aprendeu como convém

saber” e mais: “o saber ensoberbece, mas o amor edifica”. A face de

Moisés brilhava, mas ele próprio não tinha consciência disto, todo aquele que

sabe que sua face está brilhando, perderá o brilho dela. Pedro diz que a fé

deve ser provada, é o ouro provado pelo fogo (I Pe 1:7). Muitas vezes a

doutrina é o resultado da transmissão do pensamento de um para o outro, por

isto precisamos colírio, pois precisamos ver por nós mesmos.

Não devemos nos superestimar achando que estamos livres de abraçar um

destes inimigos da igreja. Os erros se instalam tal qual aconteceu em Éfeso,

primeiro começamos a praticar algo errado, depois passamos a defender

doutrinariamente nossas posições como verdades absolutas.

Considerando que estas cartas possuem um cunho extremamente prático,

devemos ter em mente que nosso alvo é sair de Laodicéia e voltarmos para

Filadélfia, para isto, o amor fraternal tem que ser restaurado em sua plenitude.

Somente com amor fraternal legítimo e ardente (I Pe 1:22) o serviço dos santos

e as mutualidades serão uma realidade na igreja e poderemos esperar para

sermos coluna no santuário de Deus.

Carlos Augusto

Out/2010