os idosos e seus tempos de lazer em famÍlia: uma aproximaÇÃo pedagÓgico-social

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Artigo Científico

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    O S I D O S O S E S E U S T E M P O S D E L A Z E R E M FA M L I A : U M A A P R O X I M A O P E D A G G I C O - S O C I A L

    L a u r a Va r e l a C r e s p o 1

    r e s u m o

    Na sociedade atual, o tempo de lazer um direito da cidadania, constituindo a educao um pilar fundamental para a transforma-o do tempo livre num tempo de lazer satisfatoriamente vivido. A educao do lazer resulta-se essencial para que os idosos possam desenvolver a criatividade, a liberdade, a autonomia, a participao comunitria, a convivncia intergeracional, etc., de forma que a velhice seja um tempo de novas aprendizagens e de desenvolvi-mento pessoal e social. Partindo da reviso da literatura cientifica atual fundamental mente espanhola e de diversas experincias desenvolvidas na Espa-nha, destacamos os tempos de lazer dos idosos e a educao do lazer familiar (experincias em que participam avs, pais e fi-lhos) como importantes oportunidades educativas. Os tempos de

    A R T I G O S

    1 Departamento de Teoria da Educao, Histria da Educao e Pedagogia Social. Grupo de Pes-quisa em Pedagogia Social e Educao Ambiental. Universidade de Santiago de Compostela. E-mail: [email protected]

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    S lazer, satisfatoriamente vividos, podem contribuir a superar a viso nega tiva da velhice, existncia de tempos compartilhados entre as dife rentes pessoas da famlia e ao intercmbio de saberes entre as diversas geraes, em uma perspectiva da aprendizagem ao longo da vida. Uma tarefa que a Pedagogia Social vem desenvolvendo nas ltimas dcadas.

    p a l a v r a s - c h a v eLazer em Famlia. Idosos. Educao do Lazer. Experincias Intergeracionais.

    1 I n t r o d u o : a v e l h i c e e o l a z e r n a s s o c i e d a d e s

    d o s c u l o X X I

    Nos ltimos anos, sobretudo a partir dos anos oitenta do passado scu-lo, se produziu um notvel crescimento do coletivo de pessoas da Terceira Idade a nvel mundial, prevendo-se que no ano 2050 o volume das pessoas com 60, ou mais anos ter triplicado. Um processo no que no s se constata que h mais pessoas que chegam velhice, mas tambm que quem o faz vive mais anos que antes, tal e como se refl ete no Relatrio da Segunda Assem-blia Mundial sobre Envelhecimento (ONU, 2002), celebrada por iniciativa das Naes Unidas, em Madrid, em abril de 2002.

    Por um lado, a populao da Amrica Latina e do Caribe est envelhe-cendo progressivamente. Segundo o relatrio da CEPAL (2009) titulado En-vejecimiento, derechos humanos y polticas pblicas, editado por Sandra Huenchuan, na Amrica Latina e no Caribe, o envelhecimento um processo paulatino e inexorvel. Em termos absolutos, entre 2000 e 2025, 57 milhes de pessoas se somaro aos 41 milhes existentes, e entre 2025 e 2050 esse aumen-to ser de 86 milhes. De acordo com essa dinmica, a proporo de pessoas com mais de 60 anos dentro da populao total se quadruplicar entre 2000 e 2050, de maneira que nesse ltimo ano um da cada quatro latino-americanos e caribenhos ser um idoso.

    Por outro lado, os pases europeus apresentam uma estrutura popula-cional notavelmente envelhecida e a cada vez mais diversa. Segundo o relat-rio demogrfi co de Eurostat (2010), o nmero de pessoas com mais de 60 anos cresce de forma exponencial. Na Espanha, um dos pases mais envelhecidos

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    Sda Europa, seguindo dados do inqurito de idosos do Instituto de Mayo-res y Servicios Sociales (IMSERSO, 2009), os idosos de 65 anos contabilizam um total de 7.782.904 pessoas, o que supe 16,7% da populao total do pas (46.745.807 habitantes), segundo dados do Instituto Nacional de Estadstica (INE, 2009). As mulheres representam um 57,5% (quatro milhes e meio) e os homens o 42,5%. Alm disso, o nmero de pessoas muito velhas de 80 e mais anos constitui 28% do total de quem tm mais de 65 anos.

    Nas ltimas dcadas o envelhecimento associou-se a imagens negativas, tanto pelas transformaes que sofreram os modelos familiares tradicionais como pela notvel infl uncia dos meios de comunicao na expanso do mito da eterna juventude. Em frente beleza e boa sade que se pressupe s pessoas jovens, a velhice se associa deteriorao fsico e mental, ausncia de projetos e vontades de viver, ao isolamento e desmotivao, etc.

    Ainda que nessa etapa se vejam diminudas algumas faculdades fsicas e psicolgicas, as pessoas da Terceira Idade so um coletivo heterogneo que constitui um importante potencial para as sociedades do sculo XXI, ao con-tribuir com a experincia, o conhecimento, o compromisso e o envolvimento necessrios para promover a vida em comum. Trata-se de um coletivo que dispe de grande quantidade de tempo, depois da aposentadoria, decrescen-do o nmero de responsabilidades de trabalho e familiares s que tm de dar resposta a cada dia.

    A Organizao Mundial da Sade (OMS) advoga por uma mudana de perspectiva, invocando a necessidade de revalorizar o papel das pessoas ido-sas na sociedade, mediante iniciativas, vivncias e experincias em consonn-cia com o conceito de envelhecimento ativo, entendido este como o processo de otimizao das oportunidades de sade, participao e segurana com o objetivo de melhorar a qualidade de vida medida que as pessoas fi cam mais velhas (OMS, 2005, p. 13). A palavra ativo refere-se participao continua nas questes sociais, econmicas, culturais, espirituais e civis, e no somente capacidade de estar fi sicamente ativo, ou de fazer parte da fora de trabalho.

    O envelhecimento ativo baseia-se no reconhecimento dos direitos das pessoas mais velhas, entre os quais se destaca o direito ao lazer. No artigo 24 da Declarao Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948) afi rma-se que toda pessoa tem direito ao descanso e ao desfrute do tempo livre. Mas, se o tempo livre uma condio necessria para a existncia de lazer, no sufi -ciente, j que, segundo a Carta Internacional para a Educao do Lazer da World Leisure Recreation Association (WLRA, 1993), o lazer refere-se a uma rea especfi ca da experincia humana, com seus benefcios prprios, entre

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    S eles a liberdade de eleio, a criatividade, a satisfao, o desfrute e o prazer e uma maior felicidade, no sendo possvel ter experincias de lazer contando unicamente com tempo livre.

    Nesse sentido, para que uma atividade possa ser considerada como vivn cia de lazer, necessrio que cumpra trs condies (TRILLA, 1999): que seja livremente eleita e executada; que tenha uma fi nalidade em si mes-ma; e que resulte prazenteira. Tambm, a experincia de lazer tem de pro-mover a autorrealizao das pessoas e capacit-las para fazer uso de suas potencialidades para o bem comum e a melhora da vida em comunidade (CSIKSZENMIHALYI; KLEIBER, 1991). Contudo, o lazer no tem de se cen-trar exclusivamente em determinadas manifestaes culturais especfi cas de uma elite social, mas tem de possibilitar a criao de manifestaes artsticas e culturais diversas.

    Tendo em conta essas condies, o lazer autotlico, entendido como aquele em que as experincias se desenvolvem pelo desfrute e prazer que geram, deve constituir o principal referente da educao durante o processo de envelhecimento. So vrias as dimenses que constituem o lazer autotli-co (CUENCA, 2004; CABALLO; FRAGUELA, 2005): ldica, criativa, festivo-comunitria, ambiental-ecolgica, solidaria e educativa.

    A dimenso ldica aquela na que se desenvolvem experincias de jogo e diverso, durante qualquer etapa do ciclo vital; a dimenso ambiental-ecolgica relaciona-se, por uma parte, com o meio fsico, social, cultural, pes-soal e comunitrio e, por outra, com a vivncia de lazer unida natureza; a dimenso festiva refere-se s experincias extraordinrias que ocorrem nas festas, como expoente da identidade cultural e social; a dimenso solidria relaciona-se com o lazer entendido como vivncia altrusta, na que predomi-na a vontade de cooperar desinteressadamente com os demais; e por ltimo, a educativa reconhece o valor pedaggico das iniciativas e prticas que se promovem no tempo livre e abre a aprendizagem a novas oportunidades formativas, atitudes, experincias, vivncias, etc., que contribuem para a for-mao e o desenvolvimento integral das pessoas.

    Todas elas so dimenses complementares, no excludentes, que sur-gem na experincia de lazer e contribuem para a vivncia de um processo de envelhecimento de uma forma positiva. Alm disso, o lazer uma estrat-gia de preveno e de promoo da sade que tem, pelo menos, dois efeitos positivos na velhice: por um lado, ao incrementar a percepo do apoio so-cial, favorece os relacionamentos interpessoais e o desenvolvimento de uma identidade social por meio da pertena a grupos; e por outro, ao aumentar a autodeterminao, e/ou possibilitar a reduo da dependncia, contribui

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    Spara que as pessoas tenham uma maior percepo de controle e domnio dos acontecimentos e situaes potencialmente estressantes que as afetam (L-PEZ PAZ, 2010).

    Com essa perspectiva, considerando os benefcios que o lazer pode poten ciar ao bem-estar dos idosos e melhora de sua qualidade de vida, os poderes pblicos e a sociedade civil devem assumir a responsabilidade de estimular as suas prticas, com um duplo compromisso: em primeiro lugar, o que comporta dotar e/ou melhorar os recursos e iniciativas orientadas a pre-venir, ou desenvolver um lazer ativo na velhice. Em segundo lugar, promo-ver tanto como seja possvel o protagonismo dos idosos nas atuaes que se levem a cabo, especialmente quando delas possa resultar a dinamizao dos processos de desenvolvimento local nos territrios que habitam.

    Nesse contexto, referimos tanto ao direito das pessoas a um tempo de lazer individual como ao lazer familiar, entendendo que o desenvolvimento de experincias intergeracionais contribui para superar a imagem negativa da velhice e o estabelecimento de vnculos entre pessoas de diferentes geraes.

    1 . A E d u c a o d o L a z e r : u m n o v o r e f e r e n t e n a v i d a d o s

    i d o s o s

    Seguindo o Relatrio Mundial da UNESCO (2005), titulado Rumo s sociedades do conhecimento, cabe afi rmar que a expresso sociedade da aprendizagem learning society , referida aquisio de conhecimento, no pode fi car reduzida s instituies escolares (espao) nem ao perodo inicial de formao (tempo), mas tem de se estender ao longo de toda a vida. Dado que a aprendizagem no se associa exclusivamente interveno dos profi s-sionais da educao devendo estar mediada por outros agentes (famlia, tecno logias da informao, centros de tempo livre, etc.), hoje em dia, torna-se cada vez mais necessrio reforar a dimenso educativa ou de aprendiza-gem de qualquer organizao.

    A Pedagogia do Lazer, segundo Cuenca (2006, p. 92), uma parte espe-cfi ca da Pedagogia Geral que tem o objetivo de contribuir para o desenvol-vimento, a melhora e a satisfao vital das pessoas e comunidades atravs de conhecimentos, atitudes e habilidades relacionadas com o lazer. Na atuali-dade, essa Pedagogia tem de enfrentar a trs grandes desafi os:

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    S a) Contribuir para a aprendizagem do uso do tempo prprio. a cons-truo do tempo livre individual e social desde a prpria vontade, a capacidade de eleio, deciso e autonomia. b) Favorecer o lazer e a utilidade gozosa de conhecimento, como reivin-dicao da aprendizagem desinteressada, no utilitarista. Busca-se a promoo autotlica e da prpria cultura.c) Dimensionar o lazer como uma experincia de prazer, risco e auto-controle. A ruptura com a quotidianeidade remete para a aceitao pes-soal de verdadeiro risco, no qual a aprendizagem do autocontrole tem um papel decisivo, evitando possveis experincias nocivas.

    Alm disso, para a existncia de lazer fundamental ter garantidas as condies bsicas da existncia (alimentao, moradia, recursos econmicos, etc.), assegurando que as pessoas tenham um nvel de vida digno que lhes permita preocupar-se no somente da sua subsistncia, mas tambm da sua autorrealizao e da participao em experincias de lazer comunitrias.

    A educao do lazer, entendida como o objeto de estudo da Pedagogia do Lazer e sua concreo prtica, apresenta uma dupla dimenso pessoal e comunitria que tem de ser potenciada nos processos de envelhecimento. No plano individual, a educao do lazer implica importantes benefcios de tipo intelectual (manter-se ativo, treinar a memria, etc.), fi siolgico (fazer exerccio fsico, controle de peso, etc.), educativo (aquisio de novas apren-dizagens, posta em prtica de outros j adquiridos, etc.). No nvel comuni-trio, o lazer est unido a processos de desenvolvimento das comunidades, que se projetam desde a convivncia familiar at a participao em coletivos associativos, vizinhais, etc.

    O valor que as pessoas outorgam ao lazer apresenta tanto uma vertente objetiva (melhora da forma fsica, estabelecimento de relacionamentos so-ciais, etc.), como subjetiva. Entre os benefcios de carter subjetivo, referidos por Driver, Tinsley e Manfredo (1991), destacam-se: a segurana (fazer algo com um compromisso em longo prazo e ser reconhecido), a companhia (re-duz o sentimento de solido, ao estabelecer contato com outras pessoas com os mesmos interesses), a autoexpresso (o indivduo pode experimentar os seus prprios talentos), o servio (satisfaz a necessidade de ajudar a outras pessoas), etc.

    Atendendo a esses benefcios, a importncia da participao das pesso-as da Terceira Idade em atividades sociais, econmicas, culturais, esportivas, recreativas e de voluntariado, tal e como se indica no Plano Internacional de Envelhecimento, estabelecido em Madrid em 2002, contribui para aumentar

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    Se manter o bem-estar desse coletivo, ainda mais em sociedades, como as nos-sas, cada vez mais envelhecidas. Alm disso, aponta-se para a necessidade de realizar atividades de promoo e fomento da interao entre geraes, reco-nhecendo e apoiando a contribuio dos idosos na famlia, na comunidade e na sociedade.

    Pensar a educao do lazer como um processo de aprendizagem ao longo de toda a vida adquire uma importante transcendncia no desenvol-vimento individual e social das pessoas, possibilitando-as de participar em vivncias de lazer positivas, tanto no presente como no futuro.

    2 . O l a z e r f a m i l i a r e a q u a l i d a d e d e v i d a d a s p e s s o a s

    d a Te r c e i r a I d a d e

    Tomando em considerao as contribuies realizadas pela organiza-o norte-americana Generations United, centrada na promoo dos relacio-namentos positivos entre diversas geraes, cabe afi rmar que os programas inter geracionais incrementam a cooperao, a interao e o intercmbio en-tre pessoas de diferentes geraes, permitindo-lhes compartilhar seus talen-tos e recursos, dando apoio umas s outras mediante relacionamentos que benefi ciam tanto aos indivduos como comunidade. (GENERATIONS UNITED, 2011) Para essa organizao, as polticas pblicas devem atender s necessidades de todas as geraes e conhecer os recursos que ajudam a esta-belecer conexes entre pessoas de diferentes idades (crianas, jovens, adultos e idosos).

    Os benefcios do intercmbio geracional no so somente para as pes-soas da Terceira Idade, mas tambm para o conjunto de todas as pessoas que participam de uma determinada comunidade ao possibilitar, tal como refere Sabater e Raya (2009), a reconstruo de redes sociais, o desenvolvimento do sentimento de comunidade, o logro de uma sociedade mais inclusiva e, com isso, o aumento da coeso social, a expanso dos valores civis, etc. Entre ou-tros, alguns dos benefcios derivados dessas iniciativas intergeracionais para os idosos so: o aumento da vitalidade, a melhora da capacidade para enfren-tar as doenas, a diversifi cao das oportunidades de aprendizagem, a fugida do isolamento, o incremento da autoestima e motivao, o desenvolvimento da amizade com gente mais nova, etc.

    Sendo importante a potenciao do intercmbio intergeracional nos programas de lazer em geral, as suas potencialidades devem convergir com

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    S as que acentuam o valor das experincias de lazer familiar. A Pedagogia do Lazer tem de possibilitar a convivncia dos idosos com outros membros da famlia no tempo livre, contribuindo para a superao da viso negativa da velhice no prprio ncleo familiar, e resultando fundamentalmente em que as famlias tomem conscincia da responsabilidade que tm de empregar em comum, sempre que seja possvel, o tempo livre (RODRGUEZ, 1978, p. 10).

    Com a educao familiar do lazer pretende-se o desenvolvimento de habilidades, atitudes e capacidades que possibilitem aos adultos e s crian-as compartilhar os seus tempos livres, mediante atividades que sejam de interesse mtuo, das quais todos os participantes desfrutem. Em sociedades dominadas pelo lazer individualista e pelas oportunidades de consumo, que geram distines entre quem pode e quem no pode ascender a determi-nadas prticas (jogar golfe, montar a cavalo, viajar, etc.) em funo do nvel aquisitivo das famlias, se evidencia a necessidade de promover experincias de lazer familiar que tenham em conta princpios como os seguintes:

    a) A autotlica: a atividade tem de ser realizada pelo mero fato de des-frutar juntos, pelo prazer que gera e o bem-estar que contribui ao coleti-vo compartilhar uma experincia de lazer em famlia.b) A integrao: mediante as atividades de lazer, fomenta-se uma maior interrelao entre os membros da famlia e os interesses e aprendiza-gens comuns no tempo livre. c) A liberdade: trata-se de que tanto os adultos como as crianas optem autonomamente pelas experincias, ou iniciativas de lazer que vo de-senvolver, com assessoramento, ou no, mas sempre buscando a eman-cipao das pessoas. d) A participao: em iniciativas orientadas para o bem-estar da cidada-nia e o desenvolvimento e melhora das comunidades nas que se desen-volvem vivncias de lazer.e) A aprendizagem contnua: o lazer em famlia induz novas aprendi-zagens tanto aos jovens, como aos idosos, em um processo de educao que se estende ao longo de todo o ciclo vital.

    Os relacionamentos quotidianos entre diferentes geraes possibili-tam o intercmbio de saberes, o desenvolvimento da solidariedade social e o conhe cimento mtuo. Alm disso, pode ajudar aos meninos e aos jovens a modifi car esteretipos relacionados com a idade, melhorar os relaciona-mentos e habilidades sociais, contribuir a uma menor exibio de condutas

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    Santisociais e ao fortalecimento de relacionamentos com a famlia, com os co-legas e amigos (RED INTERGENERACIONAL, 2009).

    Na Espanha, diferentes municpios esto desenvolvendo iniciativas centradas no lazer familiar, nas quais participam tanto os idosos, como ou-tros membros da famlia. Entre elas destacamos as seguintes experincias:

    a) Prdio intergeracional (Alicante): essa iniciativa foi selecionada pela Comisso Europeia como projeto de referncia pela sua contribuio convivncia entre geraes. Alm das atividades de lazer tambm ofere-cem servios residenciais e espaos comuns como biblioteca, sala de computadores, zona de relacionamento social, etc.b) Atividades intergeneracionais ao ar livre (Vigo): oferecem s pessoas, nos meses de vero, uma atividade saudvel e um encontro entre vrias geraes atravs de experincias tais como dana, ou Tai chi.c) Espaos de lazer em famlia (Madrid): encontro familiar de fi m de semana, orientado aquisio de habilidades de relacionamento entre pais e fi lhos, atravs de excurses, escritrios de teatro, etc.d) Domingos em famlia (Santiago de Compostela): atividades de tea-tro, msica, contos, etc., dirigidas ao pblico familiar, desenvolvidas em diversos centros socioculturais desse municpio.

    A existncia de uma oferta ldica e cultural para as famlias resulta de interesse e constitui um primeiro passo para o desenvolvimento do bem-es-tar social atravs do lazer. Ainda assim, consideramos que o objetivo lti-mo no que pais, avs e netos se transformem conjuntamente em passivos consumidores culturais, mas que sejam capazes de gerar as suas prprias experincias de lazer.

    O desafi o situa-se agora em que as Administraes pblicas, as institui-es educativas e as comunidades, possibilitem a recuperao e revalorizao de um tempo liberto para as pessoas, facilitando a experincia e a vivncia de tempos de lazer satisfatrios e autotlicos, tanto no nvel pessoal, como fami-liar. Um desafi o do qual no possvel prescindir numa sociedade cada vez mais interdependente desde o ponto de vista planetrio; tambm no que se refere ao tempo livre e na sua transformao em um tempo de lazer (CARI-DE, 1998, p. 27). Um contexto e um processo em que a Pedagogia Social e suas propostas socioeducativas so cada vez mais relevantes e signifi cativas.

    Na procura desse objetivo, os servios de lazer no mbito local tm de possibilitar a participao e integrao de todas as pessoas. O lazer um di-reito do qual ningum deve ser privado, resultando fundamental a existncia

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    S de uma oferta integral de servios que supere a tradicional segmentao por coletivos (meninos, adultos, incapacitados, etc.), entendidos como comparti-mentos fechados sem vnculos entre eles, que segregam as pessoas segundo sua idade cronolgica, ou alguma caracterstica peculiar.

    Enfatizamos a necessidade e a urgncia de dar apoio ao envolvimento familiar no processo de educao com modelos de participao, com um di-logo que faa emergir as necessidades do coletivo para poder construir re-cursos para a melhora do processo educativo (COMELLAS, 2007, p. 110). As prticas de lazer centradas na pessoa adulta tm de considerar as mltiplas dimenses (fsica, psicolgica, emocional, etc.) e sua estreita interrelao com os mltiplos contextos nos que se desenvolve sua vida quotidiana.

    3 . C o n c l u s e s

    O direito ao lazer, reconhecido no enquadramento normativo interna-cional, no constituiu uma prioridade das Administraes Pblicas, das es-colas, ou das famlias. Mas considerando os benefcios que supe na melhora da qualidade de vida das pessoas, o lazer no pode ser entendido como um tempo guiado exclusivamente pela recriao ou o descanso, confundindo lazer com ociosidade, seno mais bem por sua considerao como um tempo prprio, que contribui ao desenvolvimento das pessoas e ao bem-estar da cidadania, cujas potencialidades aumentam na medida em que se trans-formam em um tempo partilhado, convivencial e inclusivo.

    O tempo de lazer uma boa oportunidade para que as pessoas possam desenvolver novas aprendizagens em sua velhice, desfrutando de seu tempo livre atravs da participao em atividades coletivas. Entendendo a velhice como uma etapa vital com seus prprios dinamismos, o papel da educao do lazer no processo de transformao do tempo livre em um tempo vivido de forma satisfatria resulta indispensvel.

    Efetivamente, para que a educao possibilite essa vivncia positiva do lazer, temos de lembrar, seguindo a Gadott i (2003, p. 54) que ensinar mobi-lizar o desejo de aprender. Mais importante do que saber nunca perder a capacidade de aprender. essa capacidade que temos de cultivar nas pesso-as da Terceira Idade, mediante a denominada Pedagogia e Educao do La-zer, para que continuem querendo aprender e desfrutando ao longo da vida. Desde essa perspectiva de aprendizagem, resultam de grande importncia as experincias de lazer que possibilitam o desenvolvimento partilhado das potencialidades dos idosos, o estabelecimento de relacionamentos positivos

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    Sentre os indivduos e as comunidades, o fortalecimento do sentimento de pertencimento a um determinado territrio e a criao de laos de solidarie-dade entre diversas geraes.

    Nesse contexto, a transformao dos tempos livres em tempos de lazer que deem resposta s necessidades das pessoas da Terceira Idade, que possi-bilitem sua participao em experincias comunitrias transformadoras, constitui um importante desafi o para os professores, educadores, pedago-gos, trabalhadores sociais, etc., e para todas aquelas pessoas comprometidas com a educao, a melhora da qualidade de vida dos idosos e o progresso a escala humana das sociedades do novo milnio.

    T H E E L D E R L Y A N D T H E I R L E I S U R E T I M E I N F A M I L Y : A S O C I O P E D A G O G I C A L A P P R O X I M A T I O N

    a b s t r a c t

    In the current society, leisure time is the right of every citizen, and education constitutes a fundamental pillar for the transformation of free time into rewarding leisure time. Leisure education is essential, enabling elderly people to develop creativity, freedom, independen-ce, community participation, intergenerational coexistence, etc., in such a way that old age becomes a time for learning and for perso-nal and social development.Based on the review of current scientific literature on leisure and on various experiences in Spain, we highlight the leisure time of the elderly and family leisure education (experiences in which grandpa-rents, parents and children participate) as important educational oppor tunities. Rewarding leisure time can help overcome the nega-tive view of old age, enhance the time shared between different fa-mily members and promote knowledge exchange between different gene rations, from the perspective of lifelong learning. A task that Social Pedagogy has been developing in the last decades.

    k e y w o r d s

    Family Leisure. The Elderly. Leisure Education. Intergenerational Experiences.

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    Recebido: 23/12/20101 Reviso: 16/05/20112 Reviso: 26/09/2011Aceite Final: 04/10/2011