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OS EFEITOS DA ESCOLHA DE UMA EMPRESA DE AUDITORIA EXTERNA NA REDUÇÃO DO CUSTO DE ENDIVIDAMENTO José Clemente M. Ferreira Santos Bacharel e Mestrando em Contabilidade e Controladoria Universidade Federal de Minas Gerais Brasil [email protected] Poueri do Carmo Mário, Dr. Doutor em Ciências Contábeis Universidade Federal de Minas Gerais Brasil [email protected] Autorizamos a publicação da comunicação no livro de atas do XVIII CICA, em formato digital. Pretendemos apresentar a comunicação com discussant. Contato: [email protected] 1. INTRODUÇÃO De maneira geral, a literatura coloca que a atuação dos auditores independentes é fundamental para o funcionamento dos mercados financeiro e de capitais. Tal argumento possui como premissa que, ao emitir opinião sobre a fidedignidade das informações contábeis, o auditor contribui para um ambiente de negócios caracterizado pela confiabilidade e credibilidade (Newman, Patterson, & Smith, 2005; Ojo, 2008; Basel Committee on Banking Supervision [BCBS], 2008; Zagonov, 2011). Entretanto, a aferição de tal confiabilidade e credibilidade decorre da reputação de independência e qualidade do trabalho construída pelo auditor, embora tais quesitos possam ser considerados de mensuração subjetiva. Nesse sentido, destaca-se a posição de Sunder (2014), segundo o qual, a reputação de uma firma de auditoria, construída ao longo dos anos por meio de um cuidadoso controle de qualidade, é provavelmente a medida mais importante de qualidade dos serviços que ela presta. Manita (2009) afirma que a identificação do que seria uma auditoria de qualidade é dificultada, em função da não-uniformidade do processo de auditoria. Pae e Yoo (2001) destacam que o auditor só é questionado quando: (i) a demonstração preparada pela

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OS EFEITOS DA ESCOLHA DE UMA EMPRESA DE AUDITORIA EXTERNA NA

REDUÇÃO DO CUSTO DE ENDIVIDAMENTO

José Clemente M. Ferreira Santos

Bacharel e Mestrando em Contabilidade e Controladoria – Universidade Federal de Minas

Gerais – Brasil

[email protected]

Poueri do Carmo Mário, Dr.

Doutor em Ciências Contábeis – Universidade Federal de Minas Gerais – Brasil

[email protected]

• Autorizamos a publicação da comunicação no livro de atas do XVIII CICA, em

formato digital.

• Pretendemos apresentar a comunicação com discussant.

• Contato: [email protected]

1. INTRODUÇÃO

De maneira geral, a literatura coloca que a atuação dos auditores independentes é fundamental

para o funcionamento dos mercados financeiro e de capitais. Tal argumento possui como

premissa que, ao emitir opinião sobre a fidedignidade das informações contábeis, o auditor

contribui para um ambiente de negócios caracterizado pela confiabilidade e credibilidade

(Newman, Patterson, & Smith, 2005; Ojo, 2008; Basel Committee on Banking Supervision

[BCBS], 2008; Zagonov, 2011).

Entretanto, a aferição de tal confiabilidade e credibilidade decorre da reputação de

independência e qualidade do trabalho construída pelo auditor, embora tais quesitos possam

ser considerados de mensuração subjetiva. Nesse sentido, destaca-se a posição de Sunder

(2014), segundo o qual, a reputação de uma firma de auditoria, construída ao longo dos anos

por meio de um cuidadoso controle de qualidade, é provavelmente a medida mais importante

de qualidade dos serviços que ela presta.

Manita (2009) afirma que a identificação do que seria uma auditoria de qualidade é

dificultada, em função da não-uniformidade do processo de auditoria. Pae e Yoo (2001)

destacam que o auditor só é questionado quando: (i) a demonstração preparada pela

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administração é distorcida; (ii) o auditor oferece uma opinião favorável a essas informações

distorcidas; (iii) o investidor, confiando nessa informação, toma a decisão de investir na

empresa; e (iv) o retorno esperado não é confirmado. Para Dye (1993) as informações

referentes à qualidade da auditoria não são divulgadas no momento em que ela é realizada,

nem posteriormente, pois caso a empresa não apresente problemas financeiros não terá

motivos para questionar o trabalho dos auditores.

Autores como Dang (2004), Braunbeck (2010), Palmrose (1988) e Geiger e Raghunandan

(2002) sugerem proxies destinadas a mensurar a qualidade “real” da auditoria, tais como:

pedido de refazimento pelo ente regulamentador, republicações voluntárias, litígios contra o

auditor e constatação de demonstrações materialmente distorcidas. Além das proxies de

qualidade “real”, há métricas de qualidade “percebida”, como: tamanho do auditor,

especialização do auditor, coeficiente de resposta do preço das ações aos resultados contábeis

e erros nas projeções dos gestores ou dos analistas (DeAngelo, 1981; Teoh e Wong, 1993; Gu,

Lee, e Rosett, 2005; Behn, Choi, e Kang, 2008; Zagonov, 2011; Chambers e Payne, 2008 e

Romanus, Maher, e Fleming, 2008).

As práticas de gerenciamento de resultados, juntamente com as variáveis tamanho da firma de

auditoria e especialização do auditor são apontadas como medidas de qualidade de auditoria.

As empresas auditadas pelas firmas de auditoria conhecidas como Big Four possuem menor

grau de accruals discricionários em relação às demais, em função de sua maior capacidade de

redução de práticas de earnings management (Gul, Fung, & Bikki, 2009). Estudos como os de

Kanagaretnam, Krishnan (2010) e Martinez e Reis (2010) utilizam tamanho da auditoria e

especialização como proxies de qualidade, porém quando precisam confirmar a validade

dessas métricas, adotam como procedimento padrão testar a relação entre essas medidas e o

nível dos accruals discricionários.

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Nessa linha, destaca-se a figura da reputação do auditor na redução da percepção de risco pela

entidade, conforme se depreende de Sunder (2014, p. 143) da mesma forma que as firmas

auditadas possuem oportunidades para construir sua reputação, seus clientes também

possuem. O cliente paga um honorário de auditoria maior para contratar um auditor com boa

reputação e a auditoria aceita um honorário inferior de uma firma cliente com boa reputação,

pois clientes com boa gestão financeira impõem menos risco sobre o auditor, que poderá

emitir um parecer com menos horas de exame. No entanto, as auditorias tendem a evitar

clientes com negócios ruins, pois apresentam maior risco.

Ou seja, ao auditar uma determinada entidade, o auditor confere a ela uma melhor percepção

de risco pelo mercado, gerando uma maior confiança nas informações financeiras e contábeis,

bem como na gestão da entidade. Confiança é apontada, segundo Iudícibus (2010), como

fundamental no mundo dos negócios, de forma que a essa menor percepção de risco facilita as

operações e a redução do custo do capital. Assim, essa diminuição dos riscos, no geral, é

refletida na redução do custo de financiamento (juros) da empresa.

Desse modo, o presente estudo tem como problema diagnosticar qual é o efeito da escolha por

uma auditoria Big Four em relação à redução do custo de endividamento das empresas? Para

responder a esse questionamento, temos como objetivo demonstrar os efeitos da redução do

custo médio de endividamento das empresas listadas na B3 (Brasil, Bolsa e Balcão),

comparando as auditadas por uma auditoria Big Four em comparação às demais empresas de

auditoria.

Como justificativa, destacamos que as taxas de juros adotadas no Brasil estão entre as maiores

do mundo, quando comparadas com as de economias similares ou desenvolvidas. Dentre 167

países o Brasil ocupa a 112ª posição, com uma taxa de juros de 6,50% em 2019, a mesma do

Nepal. Dessa forma, permanece a frente apenas de países como Venezuela (22,40%), Haiti

(20,00%), Iran (18,00%), dentre outros (Trading Economics, 2019). Ou seja, a taxa de juros

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do Brasil é menor em relação a países em guerra ou com graves problemas econômicos.

Quando comparado com a taxa média dos continentes observa-se que está entre as mais altas,

sendo menor apenas em relação ao continente africano, conforme a Figura1:

Figura 1: Taxa Média de Juros

Fonte: Elaborado pelos autores (2019)

Dados: Trading Economics (2019)

Sendo assim, dado a necessidade de captação de passivo oneroso por parte das entidades, este

deve ter o menor custo. Diante disso, justifica-se buscar medidas para reduzir as taxas de

juros. A literatura aponta que quanto maior a confiabilidade da empresa, menores os riscos

para os credores, logo menores são os custos da dívida. A auditoria é um mecanismo para

garantir a confiabilidade das informações reportadas. De acordo com Teoh e Wong (1993) os

investidores confiam mais nos resultados divulgados pelas firmas auditadas pelas grandes

empresas de auditoria. Sendo assim, dado a maior confiabilidade das empresas auditadas por

Big Four espera-se que os seus custos da dívida sejam menores, para assim compensar os

gastos com honorários de auditoria e práticas de governança para manter sua boa reputação no

mercado.

2. REFERENCIAL TEÓRICO:

2.1.Teoria da Agência

Segundo Brown (1962), há registros de que as atividades de auditoria são anteriores ao século

XVI, com o objetivo de identificar possíveis fraudes nos navios que chegavam de outros

0,00% 1,00% 2,00% 3,00% 4,00% 5,00% 6,00% 7,00% 8,00% 9,00%

AMÉRICA

EUROPA

BRASIL

ÁSIA

ÁFRICA

AMÉRICA EUROPA BRASIL ÁSIA ÁFRICA

Série1 4,41% 1,23% 6,50% 4,33% 7,89%

Taxa Média de Juros

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continentes com mercadorias e pedras preciosas, bem como na arrecadação dos impostos

perante o governo. No entanto, Almeida e Almeida (2009) destacam que, somente após a

Revolução Industrial, houve um crescimento da necessidade por parte dos proprietários

(principal) de proteger seus investimentos da expropriação dos gestores (agentes), por meio

da contratação de um terceiro a essa relação: o auditor.

Lima (2009) coloca que após esse período as empresas deixaram de lado uma estrutura

familiar, na medida em que o proprietário não conduzia mais os negócios, delegando tal

atribuição a administradores. Nesse contexto, surgiu a chamada relação de agência, que é

definida por Jensen e Meckling (2008) como um contrato sob o qual o principal emprega um

agente para executar em seu nome um serviço que implique a delegação de algum poder de

decisão.

Jensen e Meckling (2008) ainda acrescentam que caso as partes dessa relação desejarem

maximizar sua própria utilidade, há boas razões para acreditar que o agente nem sempre agirá

de acordo com os interesses do principal. Nesse sentido, colocam que o principal irá limitar as

divergências de interesses por meio da aplicação de incentivos ao agente, bem como no

desembolso de custos de monitoramento, visando a limitar as atividades irregulares do agente.

Ou seja, o serviço de auditoria externa configuraria um desses custos de monitoramento

sugeridos por Jensen e Meckling, pois daria ao principal (acionista) uma maior segurança

quanto às informações sobre a posição financeira informada pela administração. Entretanto,

Sunder (2014) coloca que para justificar a contratação de um auditor no contexto dos

contratos da firma, os acionistas devem acreditar que os custos de agência, somados aos

honorários de auditoria, são inferiores aos benefícios esperados do relatório de auditoria.

Além disso, para Sunder (2014) conclui que os auditores desempenham um papel importante

na definição, na operação e na garantia do cumprimento do conjunto de contratos da firma,

sendo a sua função precípua na economia a redução dos custos de agência.

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2.2. Auditoria Externa

Segundo Almeida (2008), a origem da auditoria externa surgiu como decorrência da evolução

do sistema capitalista. Isso acontece porque inicialmente as empresas eram fechadas e

pertenciam a grupos familiares e, com a evolução do mercado e do acirramento da

concorrência, houve a necessidade de aumentar os investimentos e, por consequência, buscar

capital fora dessa estrutura inicial.

Entretanto, para investir nessas empresas, o investidor precisava conhecer, dentre outras

coisas, a sua posição patrimonial e financeira, geralmente obtida por meio de demonstrativos

contábeis. Assim, Almeida (2008) conclui que, como medida de segurança contra a

possibilidade de manipulação de informações, os futuros investidores passaram a exigir que

esses demonstrativos fossem examinados por um profissional independente da empresa objeto

da avaliação, de forma a emitir uma opinião técnica sobre a razoabilidade das mesmas.

Dessa forma, de acordo com Crepaldi (2010, p. 23), a auditoria pode ser definida como o

“levantamento, estudo e avaliação sistemática das transações, procedimentos, operações,

rotinas e das demonstrações financeiras de uma entidade”. Já Attie (2010, p. 5) resume que a

auditoria é uma “especialização contábil voltada a testar a eficiência e a eficácia do controle

patrimonial implantado com o objetivo de expressar uma opinião sobre determinado dado”. A

eficácia do controle patrimonial implantado, destacada no conceito proposto por Attie (2010),

está relacionada à ótica conceitual de contratos, decorrente da teoria da agência.

Segundo Braunbeck (2010) Watts e Zimmerman foram possivelmente os primeiros autores

que buscaram explicitamente “explicar e prever” a prática da auditoria tomando como base o

referencial da teoria da firma, decorrente do trabalho de Jensen e Meckling. De tal forma,

Watts e Zimmerman (1983) organizaram algumas evidências históricas da prática da auditoria

no contexto da discussão do problema de agência.

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O trabalho de Watts e Zimmerman (1983) têm como premissa subjacente que os contratos de

uma firma são desenhados no sentido de reduzir o oportunismo dos gestores (agentes).

Ademais, colocam que o enforcement desses contratos requer o incentivo e o monitoramento

dos agentes, conforme previsto por Jensen e Meckling (1976).

A auditoria está então diretamente relacionada à citada prática de monitoramento. Portanto,

Braunbeck (2010) conclui que a auditoria atinge seu objetivo quando em seu trabalho

consegue reduzir custos do comportamento oportunista, o que ocorrerá a medida que o auditor

informe as rupturas contratuais que identifica. Por conseguinte, Watts e Zimmerman (1983,

p. 615) definem que “a probabilidade de que um auditor irá informar uma ruptura contratual

identificada é efetivamente a definição de independência da profissão”.

2.3. Qualidade da Auditoria

DeAngelo (1981) e Watts e Zimmerman (1986) definem qualidade da auditoria como a

probabilidade conjunta de que um determinado auditor detecte uma falha no sistema contábil

de seu cliente, bem como que tal falha seja reportada em seu relatório (parecer). Com base

nessa definição, Braunbeck (2010) propõe que a qualidade da auditoria poderia ser escrita sob

a forma da função 1:

QA = (Competência, Independência) (1)

Em que:

QA = Qualidade da Auditoria

Braunbeck (2010) também acrescenta que o tema qualidade da auditoria é frequentemente

associado na literatura à discussão de gerenciamento de resultados decorrentes do uso de

accruals discricionários. Tal associação é explorada de forma abrangente no trabalho de

Almeida e Almeida (2009), que avaliam a qualidade da auditoria por meio do uso de accruals

discricionários e do tamanho da empresa de auditoria (considerado como uma variável dummy

de big-four ou não big-four). Os autores concluem no estudo que “empresas auditadas pelas

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Big Four possuem menor grau de accruals discricionários em relação às demais, sugerindo a

capacidade para mitigar práticas de earnings management”.

Com relação às premissas de sustentação daquilo que seria um trabalho de auditoria de

qualidade, Braunbeck (2010) propôs como constructo no qual a independência e a

competência técnica são os pilares. Conforme demonstrado na figura 2:

Figura 3: Premissas para um trabalho de auditoria de qualidade.

Figura 01: Adaptado de Braunbeck (2010, p. 22).

A condição para independência seria de acordo com Arruñada (1997, p. 69) “o auditor

informar falhas detectadas”, essa condição é atendida quando:

ηV < π(V + KqQ + KpP + KlL) (2)

Em que:

V = Valor das quase-rendas associadas a um cliente específico que se tenha identificado uma

falha material relevante.

Q = quase-renda dos demais clientes da firma de auditoria

P = Ativos específico da firma de auditoria

L = Valor presente dos possíveis litígios.

K = Constante (Competência)

η = Probabilidade de troca do auditor pelo cliente como resposta a insatisfação com a

modificação cogitada pelo auditor

π = Probabilidade de deterioração financeira do cliente.

Dessa forma, ηV é o custo de informar a falha detectada e π(V + KqQ + KpP + KlL) é o custo

de não informar. Logo, quando as perdas referentes a um cliente específico forem menores

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que as perdas de envolvimento em um escândalo por não reportar as falhas detectadas, o

auditor possui incentivos econômicos/financeiros para informar o erro material relevante, ou

seja, ser independente. Arruñada (1997) trata a competência como uma constante. Enquanto a

independência está relacionada com reportar ou não a desconformidade a competência é a

probabilidade de descobrir as falhas. Sendo assim, de acordo com Carson (2009) e (Watkins,

2004) a competência é influenciada por elementos como: grau de capacitação e treinamento

das equipes de auditoria e o desenvolvimento e aplicação de sistemas e metodologia.

Para realizar seu trabalho de forma efetiva, Attie (2010, p. 26) coloca que “a ação da auditoria

não pode se limitar àquilo que está registrado nos livros oficiais, mas também àquilo que pode

ter sido omitido nos registros principais”, sendo então necessária uma atitude mental e

profissional questionadora e cética, que é aprimorada justamente por independência e

competência técnica.

Para Beatty (1989) a contratação dos serviços de uma auditoria Big Four indica que a

empresa deseja que suas informações sejam analisadas por profissionais altamente

capacitados. De acordo com Teoh e Wong (1993) os investidores confiam mais nos resultados

divulgados pelas firmas auditadas pelas grandes empresas de auditoria. Contratar uma Big

Four representa que a contabilidade da firma será avaliada por auditores altamente treinados.

Dessa forma, para Stigler (1961) a reputação da firma tende a aumentar, visto que, os

executivos serão melhores avaliados em suas decisões contábeis o que poderá reduzir as

práticas de earnings management.

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2.4. Custo da Dívida

De acordo com Reeb, Mansi e Allee (2001) as agências de classificação de créditos informam

a potenciais financiadores a probabilidade de inadimplência de um respectivo cliente. Essa

classificação vai de "excelente" a "muito ruim", dessa forma, o credor pode avaliar o tamanho

do risco esperado. Sendo assim, quanto menor o risco menor o custo da dívida.

Para Bharath Sunder e Sunder (2008) os custos da dívida são menores para os tomadores de

empréstimo com maior qualidade contábil. Zhang ( 2008 ) relata que as taxas de juros dos

empréstimos estão negativamente relacionadas ao conservadorismo contábil do tomador.

Pittman e Fortin (2004) concluem que as taxas de juros são significativamente menores

para empresas de capital aberto auditadas por Big Four do que para empresas auditadas por

não Big Four, pois um auditor Big aumenta a credibilidade das demonstrações financeiras e

reduz a incerteza de informação ex ante e os custos ex post de monitoramento da dívida.

Kim, Simunic, Stein e Yi (2011) analisaram o valor das auditorias externas voluntárias em

relação ao custo da dívida. Considerando uma amostra constituída por três grupos: pequenas

empresas com e sem e auditorias voluntárias e grandes empresas com auditorias obrigatórias.

Dessa forma, os resultados apontam que empresas privadas com auditoria externa pagam uma

taxa de juros significativamente menor sobre suas dívidas do que as empresas privadas sem

auditoria. No entanto, não encontramos nenhuma diferença significativa na taxa de juros da

dívida entre as empresas Big 4 auditada e não Big 4 auditadas.

Tsai e Hua (2009) verificaram o valor da qualidade da auditoria em relação às taxas de juros

dos empréstimos. Os resultados empíricos indicam que empresas auditadas por Big Four

pagam taxas de juros menores do que as auditadas por não Big For. No entanto, o benefício

da redução do custo da dívida é menor à medida que o rating de crédito aumenta.

Kim, Song e Tsui (2013) analisaram empréstimos bancário dos EUA de 1996 a 2008

investigando a relação entre tamanho do auditor e taxas de juros. Os resultados indicaram que

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as taxas de juros dos empréstimos são menores em para tomadores auditados por Big Four.

Além disso, concluíram que um longo relacionamento cliente-auditor reduz o custo do

empréstimo.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1. Tipologia da Pesquisa, Definição da Amostra e Coleta de dados

Segundo conceitos abordados por Martins e Theóphilo (2009), com relação à abordagem ao

problema de pesquisa, essa foi classificada como quantitativa, visto que o uso da estatística

inferencial foi fundamental para responder o problema de pesquisa proposto. No que tange

aos objetivos a pesquisa é como descritiva, pois visa demonstrar os efeitos da escolha do tipo

de empresa de auditoria.

A pesquisa bibliográfica e a documental foram às estratégias de pesquisas escolhidas para

esse estudo. Baseando-se nas definições de Martins e Theóphilo (2009), a pesquisa

bibliográfica proporcionou encontrar em materiais que já foram publicados conhecimento

sobre o tema abordado. A pesquisa documental foi fundamental para este estudo, visto que

foram realizadas consultas nos Relatórios da auditoria para determinar se a empresa de

auditoria era big four ou não.

A amostra é composta pelas empresas de capital aberto da B3, com registro ativo na CVM,

dos segmentos de listagem: Novo mercado, Nível 1 e 2. Dessa forma, os dados contábeis das

companhias coletados no software Economática® e nos relatórios de auditoria são referentes

a 185 empresa no período de 2014 a 2017. Este período foi escolhido, pois permite analisar o

efeito no custo da dívida após a convergência paras as normas internacionais de auditoria e

contabilidade, além disso, engloba a adoção do novo relatório de auditoria que ocorreu em

2016.

A escolha dos segmentos de listagem Novo mercado, nível 1 e nível 2 foi pelo fato de

apresentarem maiores níveis de governança corporativa e consequentemente melhor reputação

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no mercado. Logo, considerando o estudo de Bhojraj e Sengupta (2003) espera-se que a

presença de investidores institucionais e o monitoramento mais rigoroso resultem em menores

custos de financiamento.

A pesquisa se baseia, no que tange as variáveis, nos estudos citados na figura 4. Em relação

ao modelo foi estimado pelo método de Mínimos Quadrados Ordinários (GLS) por se adequar

melhor aos dados. Por fim, em relação a abordagem teórica fundamenta-se nas pesquisas de

Kim, Song e Tsui (2013).

3.1.1 Variáveis de Análise e Definição do Modelo

As variáveis do modelo estimado neste estudo foram selecionadas de acordo com a literatura

nacional e internacional, conforme evidenciado na Figura 4.

Figura 4: Variáveis do modelo.

Variável Sigla Fórmula Sinal

Esperado Literatura

Variável Dependente

Custo da Dívida CD Despesas Financeiras/Passivo Oneroso

de Curto e Longo Prazo

Lopes e Martins

(2007) e Nardi e

Nakao (2009)

Variáveis Independentes

Auditoria Big Four AUD

Dummy: Y=1 para empresas auditadas

por Big Four(Ernst & Young,

Deloitte, PWC e KPMG) e Y=0 caso

contrário.

-

Davidson e Neu

(1993); Almeida

e Almeida

(2009);

Braunbeck

(2010)

Variáveis de Controle

Fluxo de Caixa Operacional FCOP LnFCOP -

Santana, Bezerra,

Teixeira e Cunha

(2016).

Retorno do ativo ROA Lucro Operacional / Ativo Total

Médio -

Asthana,

Khurana e

Raman (2019).

Liquidez corrente LIQ Ativo Circulante/ Passivo Circulante -

Tamanho TAM LnAtivo -

Kim, Simunic,

Stein e Yi

(2011); Tsai e

Hua (2009)

Fonte: Elaborado pelos autores (2019) - Dados da Pesquisa.

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Para consecução da modelagem econométrica, o presente estudo, fez uso da abordagem de

painel. A adoção desse tipo de modelagem econométrica se deve ao fato de que os dados que

integram amostras apresentarem informação temporal (series temporais). Dentre as

modelagens constantes na literatura, para tratamento de dados em painel, verifica-se: Pooled,

Efeitos Fixos, Efeitos Aleatórios e Mínimos Quadrados Generalizados (GLS), conforme

regressões (3) e (4):

𝐶𝐷𝑖 = 𝛽0 + 𝛽1 𝐴𝑈𝐷𝑖 + 𝛽2𝐹𝐶𝑂𝑃𝑖 + 𝛽3𝑅𝑂𝐴𝑖 + 𝛽4𝐿𝐼𝑄𝑖 + 𝛽5𝑇𝐴𝑀𝑖 + 𝜂𝑖 (3)

𝐶𝐷𝑖𝑡 = 𝛽0 + 𝛽1 𝐴𝑈𝐷𝑖𝑡 + 𝛽2𝐹𝐶𝑂𝑃𝑖𝑡 + 𝛽3𝑅𝑂𝐴𝑖𝑡 + 𝛽4𝐿𝐼𝑄𝑖𝑡 + 𝛽5𝑇𝐴𝑀𝑖𝑡 + 𝜀𝑖𝑡 + 𝜈𝑖𝑡 (4)

η = é o termo de erro do modelo pooled.

ε = representa o efeito individual específico não observável e não varia com o tempo, no

modelo em painel.

v = diz respeito ao erro usual da regressão, o qual varia com o tempo.

As demais variáveis estão dispostas na Figura 4.

A validação dos modelos de painel é feita por meio de testes estatísticos. O teste de Chow

verifica a adequabilidade dos parâmetros estimados entre as abordagens Pooled e Efeitos

Fixos. O teste de Breuch-Pagan é utilizado para testar a viabilidade entre as modelagens

Pooled e Efeitos Aleatórios. Ambos os testes apresentam como pressuposição em sua

hipótese nula a viabilidade do Pooeld. A escolha entre Efeitos Fixos e Efeitos Aleatórios é

feita por meio do teste de Hausman que tem como hipótese nula a viabilidade do modelo de

Efeitos Aleatórios (Wooldridge, 2002).

Ao realizar os testes, anteriormente citados, faz-se necessário verificar a presença de

heterocedasticidade e/ou autocorrelação dos resíduos dos modelos e, caso seja detectado tais

problemas, torna-se necessária a estimação dos parâmetros do modelo proposto por meio da

abordagem de Mínimos Quadrados Generalizados (GLS) que é utilizado com vistas a mitigar

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os problemas de estimação relacionados a ausência de homocedasticidade e presença de

autocorrelação. A verificação da presença de heterocedasticidade e autocorrelação é feita

respectivamente pelos testes de Modificado de Wald e de Woldridge (Baum, 2001).

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1. Análise Descritiva

A Tabela 1, evidenciada a seguir, apresenta estatísticas de descritivas (medidas de resumo e

variabilidade) inerentes às variáveis que integram o estudo.

Tabela 1: Estatísticas Descritivas das Variáveis Amostradas Média Mediana Desvio-Padrão CV Mínimo Máximo

CD 1,8807 0,1409 42,3991 2254.42% 0,0000 1153,0000

AUD 0,8676 1,0000 0,3392 39.10% 0,0000 1,0000

ROA 25,4953 4,6297 296,3043 1162.19% 0,0000 7691,2449

TAM 15,0585 15,3758 3,0433 20.21% 0,0000 21,1311

LIQ 1,7392 1,4487 1,4149 81.35% 0,0000 12,1124

CXOP 12,2678 12,6177 2,7515 22.43% 0,0000 18,5202

Fonte: Elaborado Pelos Autores (2019) – Dados da Pesquisa.

A Tabela 1, por meio do coeficiente de variação (CV), nos informa que os dados relacionados

às variáveis custo da dívida apresentam acentuada variação em torno do valor médio. Esse

achado permite inferir que a variabilidade inerente a amostra determina a acentuada dispersão

em relação ao valor médio do custo da dívida. A heterogeneidade amostral é percebida,

também, em relação ao retorno sobre o total de ativos e a liquidez.

Os baixos valores de variação em torno da média inerentes às variáveis custo da dívida e

tamanho, das instituições que integram o estudo, estão relacionadas ao fato de que estas foram

logaritmizadas para que se pudesse mitigar o problema de heterocedasticidade a elas

vinculados.

4.2. Análise Econométrica

A Tabela 2 evidencia os modelos de Efeitos Aleatórios e Mínimos Quadrados Generalizados

(GLS) estimados para os dados da pesquisa. Além disso, mostra os testes que validam o

modelo GLS. Os dados foram gerados pelo Software Stata 13.0.

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Para consecução do modelo GLS proposto, foram realizados o teste de Chow que evidenciou

a inadequação da abordagem Pooled para estimação dos parâmetros propostos. O teste de

Breuch-Pagan apontou a inadequação do Pooled. Para a verificação de modelagem mais

pertinente entre Efeitos Fixos e Efeitos Aleatórios realizou-se o teste de Hauman que

apresentou como modelagem apropriada Efeitos Aleatórios. Devido a presença de

autocorreção no modelo de Efeitos Aleatórios evidenciada pelo teste de Wooldridge fez-se

necessário como forma de mitigar tal inconveniente, estimou-se o modelo pelo método de

Mínimos Quadrados Ordinários (GLS).

Tabela 2: Modelo de Efeitos Aleatórios e Mínimos Quadrados Generalizados

Variável dependente LOGCD

Regressores Efeitos Aleatórios GLS

LOGTAM -259,307*** -3,562383***

FCOP 0,0342296 0,0648721*

LIQ 0,0466186* 0,0185773

ROA -0,000987* 0,0000248

AUD -0,1331694 -0,0983513

Constante 5,023009** 7,273637***

Chow 12,04*** –

Breusch Pagan 371,37*** –

Hausman 6,63 –

Wooldridge 11,446*** –

Likelihood – -532,51

Wald – 50,31***

Nº de observações 619

Nº de Grupos 163

Fonte: Elaborado pelos autores (2019) - Dados da Pesquisa.

Notas: Teste de Chow – verificação de adequabilidade entre as abordagens Pooled e Efeitos Fixos; teste de

Breusch Pagan – verificação de adequabilidade entre as abordagens Pooled e Efeitos Aleatórios; teste de

Hausman – verificação de adequabilidade entre as abordagens Efeitos Fixos e Efeitos Aleatórios; teste de

Wooldridge – verificação de existência de autocorrelação entre os resíduos do modelo; teste de Likelihood:

verificação da existência de heterocedasticidade; teste de Wald – verificação da significância estatística do

modelo. As significâncias estatísticas dos testes são representadas através da seguinte simbologia: *10%; **5%;

***1%.

O coeficiente estimado da variável auditoria foi negativo conforme o esperado, porém a

variável não se apresentou significativa. Ou seja, neste contexto, o tipo de auditoria (Big For

ou Não Big Four) não interfere no custo da dívida. Este resultado contraria os achados de

Pittman e Fortin (2004), Tsai e Hua (2009) e Kim, Song e Tsui (2013). No entanto, contribui

com os resultados de Kim, Simunic, Stein e Yi (2011) que concluiu que o mercado de crédito

olha apenas se as demonstrações são auditadas ou não para concessão de empréstimos e

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financiamento com menores taxas. Ou seja, o fato da auditoria ser ou não big four, não

influencia na decisão de redução dos custos da dívida por parte do credor. Sendo assim, a

empresa ser auditada de fato exerce uma redução nas taxas de juros, conforme demonstrado

pelo sinal do coeficiente, porém ser Big four ou não, no contexto brasileiro, não exerce

influência significativa.

Os resultados encontrados apontam uma relação significativa e negativa entre o tamanho da

empresa e o custo da dívida colaborando com os resultados de Kim, Simunic, Stein e Yi

(2011). De forma que, ou aumento no tamanho da empresa reduz o custo da dívida em 3,56

reais. Segundo Titman e Wessels (1988) empresas menores tendem a captar mais dívidas de

curto prazo do que as grandes, e assim estão mais sujeitas as variações das taxas da economia.

Já empresas maiores são menos alavancadas e tendem a utilizar mais financiamentos de longo

prazo. Para Ozkan (2002) empresas grandes podem ter melhor acesso a mercados financeiros

para aumentar dívida de longo prazo. Sendo assim, pode-se inferir que quanto maior a

empresa melhores condições de financiamento são oferecidas e que são captados menos

recursos de curto prazo. Para Sinkey (1992) e Chkir e Cosset (2001) os agentes de crédito

tendem a considerar empresas maiores como menos arriscadas, pois possuem melhor

reputação nos mercados de dívida.

A variável fluxo de caixa operacional apresentou-se positivamente significativa. Sendo assim,

o aumento no fluxo de caixa aumenta o custo da dívida. No entanto, esse resultado contraria o

esperado, visto que o FCOP deveria representar para o mercado que as empresas possuem

recursos suficientes para arcar com suas dívidas, logo teria um menor risco de inadimplência.

Uma possível explicação para esse resultado seria a atual conjuntura econômica do país. Ou

seja, a maior necessidade de financiamento aliada a maiores taxas de juros. Dessa forma, os

juros das dívidas lançados na atividade operacional da demonstração dos fluxos de caixa têm

impactado o fluxo de caixa e consequentemente a percepção do mercado. Pois as empresas

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podem estar alavancando por meio da dívida. Contudo, esse resultado e inferências não são

conclusivos.

As variáveis Liquidez corrente e Retorno do Ativo também não foram significativas para o

estudo. Além disso, não apresentaram o coeficiente negativo esperado. Diante disso, não é

possível realizar inferências sobre as variáveis em relação ao custo da dívida.

5. CONCLUSÃO

A auditoria é uma importante ferramenta para dar credibilidade as informações. Ou seja, a

auditoria fornece uma melhor percepção de risco ao mercado, gerando uma maior confiança

nas informações financeiras e contábeis, bem como na gestão da entidade. A confiança é

fundamental no mundo dos negócios, de forma que essa menor percepção de risco facilita as

operações e a redução do custo do capital. Assim, essa diminuição dos riscos, no geral, é

refletida na redução do custo de financiamento (juros) da empresa. Diante disso, a buscou-se

avaliar se o porte da auditoria poderia interferir no custo da dívida das empresas da B3 dos

segmentos Novo Mercado, nível 1 e nível 2.

Os resultados apontaram que as empresas serem auditadas ou não por uma Big Four (Ernst &

Young, PWC, Deloitte e KPMG) não gera uma redução dos custos da dívida, conforme o

esperado. No entanto, o coeficiente da variável mostra uma relação inversa entre auditoria e

custo da dívida, logo a empresa que passa por uma auditoria pode obter menores taxas no

mercado da dívida, no entanto, o porte do auditor não interfere na decisão do credor de

reduzir as taxas.

Os resultados mostram que as características da firma podem influenciar no custo da dívida.

Colaborando com a literatura, o aumento no tamanho da empresa reduz as taxas de juro, isso

porque empresas consolidadas no mercado possuem maior credibilidade dos credores, ou seja,

apresentam menor risco de falência. O resultado da variável fluxo de caixa foi contrário ao

esperado, diante disso, não é possível obter resultados conclusivos. Dessa forma, podem-se

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fazer inferências apenas sobre o fato do mercado brasileiro estar em crise e diante disso ter

um aumento das taxas de juros, dado o maior risco de inadimplência. Logo, esse contexto

pode ter afetado o fluxo de caixa das empresas analisadas.

O estudo contribui com a literatura nacional e internacional, dado que o foco de muitas

pesquisas brasileiras serem em relação a qualidade da auditoria ou entre gerenciamento de

resultados e auditoria, conforme se observa nos estudos de Santana, Bezerra, Teixeira e

Cunha (2016), Almeida e Almeida (2009), Braunbeck (2010), Dantas e Medeiros (2015)

dentre outros. Sendo assim, no que tange a literatura nacional o estudo inova em testar se há

vantagens em relação ao custo da dívida contratar uma empresa de auditoria Big Four. Diante

disso, aponta para o mercado que em relação aos custos da dívida não faz diferença o porte da

empresa; logo, antes de arcar com os custos de auditoria, as empresas devem avaliar o custo-

benefício da contratação de uma Big Four. Em relação à literatura internacional, o estudo

mostra a relação entre auditoria e taxas juros sob a perspectiva de um contexto econômico

diferente.

Dentre as limitações da pesquisa estão os problemas inerentes a qualquer modelo estatístico

(erro da regressão) e, além disso, os dados não observáveis referentes a demonstrações

contábeis e a não possibilidade de acesso a dados gerenciais para maior fundamentação dos

resultados encontrados. Como sugestão de pesquisa futura pode-se verificar se maiores

honorários de auditoria possuem alguma relação com a redução do custo médio de

endividamento das empresas listadas na B3.

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