os ditames da consciência: "a consciência atrai o que vai adiante" vol. iii

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Page 1: Os Ditames da Consciência: "A Consciência atrai o que vai adiante" Vol. III
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Maribel Oliveira Barreto

Os Ditames da Consciência

A CONSCIÊNCIA ATRAI O QUE VAI ADIANTE

Volume 3

Salvador, Bahia

2011

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BARRETO, Maribel. Os Ditames da

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).

B26 Barreto, Maribel Os ditames da consciência: a consciência atrai o que vai adiante.[manuscrito] / Maribel Barreto, Georgina Kruschewsky, Norma S. Mendes, et. al. – Salvador: Sathyarte, 2011. 142p. ISBN 978-85-99255-05-01

1. Consciência - ditames. 2. Consciência - desenvolvimento 3. Consciência - espiritualidade. 4. Consciência - educação. I. Kr-uschewsky, Georgina. II. Mendes, Norma S. III. Título.

CDD: 989

Ficha catalográfica elaborada por Débora Sampaio Leitão CRB-5/1655

1ª Edição - Salvador/Bahia, 2011.Direitos desta edição reservados à autora,

que permite e estimula a reprodução de parte do livro, desde que seja citada a fonte.

Projeto gráfico e editoração: Sathyarte - Arte e Mídia Ltda.

e-mail: [email protected]

Capa: Ana Paula Amorim

Revisão: Heber Torres

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BARRETO, Maribel. Os Ditames da

SUMÁRIO

PREFÁCIO........................................................................... 05

1 OBJETO ...........................................................................09A CONSCIÊNCIA ATRAI O QUE VAI ADIANTE.......................... 11Maribel Barreto

2 FINALIDADE ....................................................................23A VIVÊNCIA DO AUTOCONHECIMENTO NO PROCESSO EDUCATIVO DOS ADOLESCENTES NA ONG CIPÓ ................... 25Georgina Costa Kruschewsky e Maribel Barreto 3 JUSTIFICATIVA .................................................................41A FILOSOFIA DA CONSCIÊNCIA DO SÉCULO XXI - RUMO A UM NOVO SABER ................................................... 43Norma Mendes e Maribel Barreto

4 FUNDAMENTO ................................................................57EDUCAÇÃO INTEGRAL COMO BASE PARA O DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA A PARTIR DOS VALORES HUMANOS ..................................................... 59Janelúcia Farias e Maribel Barreto

5 MÉTODO .........................................................................75GESTÃO COM CONSCIÊNCIA .................................................. 77Maria Angélica Senra e Maribel Barreto

6 RECURSOS ...................................................................... 89CONSCIÊNCIA, EDUCAÇÃO E VIOLÊNCIA ESCOLAR ................ 91Ana Paula Amorim e Maribel Barreto7 FONTE .............................................................................109

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CONSCIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM CAMINHO PARA A DIVINIZAÇÃO ............................................................ 111Maribel Barreto

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PREFÁCIO

Maribel Barreto me impressiona e me encanta. Como uma pessoa tão jovem, vivendo em uma sociedade materialista com todos os seus desdobramentos:

individualismo, egoísmo, competitividade etc..., pode ser tão serena, humana e produtiva?

Acompanho o seu processo de vida, como pessoa e como profissional, desde quando a mesma ainda era aspirante ao Mestrado em Educação, da Universidade Federal da Bahia; na sequencia, os passos como pesquisadora e educadora e tenho a honra de conviver com ela, de forma muito próxima, partilhando projetos, produção acadêmica, sonhos e desilusões nos últimos dez anos.

Testemunhei, portanto, a sua jornada de formação acadêmica e testemunho sua prática rumo ao despertar da consciência humana, no firme propósito de tomar consciência que somos muito mais do que projetos acadêmicos, sucesso econômico e execução de tarefas.

Seu comportamento e suas ações buscam mostrar a grandeza do ser, da sua unicidade, da sua totalidade como um ser integral e quartenário; ou seja, composto por quatro dimensões ou níveis de consciência: sensação (corpo físico-sensorial); sentimentos (corpo astral); pensamentos (corpo psíquico) e intuição (corpo espiritual).

Este livro, como outros de sua autoria ou capitaneados por ela, mostra a imperatividade das energias da era que iniciamos a viver, mas que já haviam sido anunciadas há bastante tempo por pensadores, sábios e buscadores. Shakespeare a apresentou com a clássica afirmação: “Há mais coisas, entre o Céu e a Terra, que o homem desconhece”. Sem dúvidas a maioria de nós continua desconhecendo e quiçá, algum dia

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despertará para elas.

O conteúdo deste livro representa um sopro de lucidez e de possibilidades para os buscadores, aqueles que conseguiram romper a couraça das conservas sociais, que nos empurram para o ter, para o consumismo, para a intolerância e vislumbra a autocompreensão como caminho único e seguro para a cura da alma, do corpo e da sociedade.

Ele consegue trabalhar a temática da consciência, do autoconhecimento, como uma ferramenta primeira, por exemplo, para que se possa exercer a gestão empresarial de forma humanizada, para que a educação seja colocada a serviço de um mundo mais justo e sem violências e a espiritualidade como o caminho seguro na condução do ser humano em direção ao divino que existe em cada um de nós.

O mesmo tema, a mesma saga percorrem os sete capítulos que o compõe: o primeiro fala deste eixo fundante e dá título ao livro: “A consciência atrai o que vai adiante” é escrito pela professora Dra Maribel Barreto, e discute em que consiste a evolução, de que forma a ciência poderá ser posta a serviço dessa divinização e não do crescimento econômico de alguns em detrimento da maioria. Processo que será assim conduzido através do despertar da consciência, a mesma que terá condições de controlar e dirigir o que vier adiante.

A autora e organizadora do trabalho fecha a discussão que compõe o miolo do livro com o artigo: “Consciência e Espiritualidade” e assevera que o autoconhecimento levará o indivíduo a reconhecer o seu lugar no mundo e os seus papéis social e individual. O grande mérito do mesmo é ter mostrado como essa teoria foi testada na prática, através de vivências de autoconhecimento ministradas e coordenadas pela autora.

Os cinco capítulos que compõem o conteúdo central do livro não fogem ao propósito de apresentar a consciência como o caminho seguro para a humanização rumo ao divino que cada ser humano segreda.

Frutos de pesquisas realizadas por Mestres, formados no Mestrado em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social, da Fundação Visconde de Cairu, sob a batunta da Professora Maribel, acham-se assim

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distribuídos: A vivencia do autoconhecimento no processo educativo dos adolescentes na ONG Cipó, de autoria de Georgina Kruschewsky e Maribel Barreto; A filosofia da consciência do ser no século XXI – rumo a um novo saber, produzido por Norma Sueli Mendes e Maribel Barreto; Educação integral como base para o desenvolvimento da consciência a partir dos valores humanas, escrito por Janelúcia Farias e Maribel Barreto; Gestão com Consciência, de Maria Angélica Senra e Maribel Barreto; e Consciencia, Educação e Violência Escolar, escrito por Ana Paula Amorim e Maribel Barreto.

Sem pretender falar de cada um deles, até porque é certo deixar ao leitor o prazer de desvendá-los, farei breves considerações a titulo de apresentação. O primeiro dos cinco também é um exercício de articular a teoria com a prática, a partir da realização de vivências de autoconhecimento com adolescentes de uma ONG, na cidade de Salvador, visando saber se o autoconhecimento é condição para uma educação integral. Conclui que mais do isso, ela favorece a informação e a formação dos educandos, pois a partir do autoconhecimento eles chegaram a ter uma melhor relação consigo e com os outros.

O artigo sobre a filosofia da consciência mostra a importância de se ter harmonia entre o viver e as Leis do Universo. Respeitar os ditames da consciência leva o sujeito a ter uma vida harmoniosa, bela e boa.

Na sequência, Janelúcia Farias discute a importância da implantação de uma disciplina de Iniciação à Consciência no currículo de uma Escola de Ensino Fundamental, afirmando que ela ajudaria a trabalhar os valores humanos e a formação do ser como um todo.

O artigo Gestão com Consciência faz uma incursão por uma área árida para os valores humanos, porém, muito visitada atualmente: a gestão empresarial humanizada. Nisso destaca a importância do papel do gestor na valorização das questões subjetivas dos trabalhadores, o que pressupõe o despertar da sua consciência.

Nesse bloco central do livro o artigo de Ana Paula Amorim trabalha as principais teorias explicativas da violência na escola, para concluir que os maiores motivos da mesma assentam na falta de consciência e

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sua solução é investir numa educação que proporcione o seu despertar.

Como se vê, o livro cerca a problemática da consciência em todas as suas dimensões de forma pertinente e convincente. De modo que ele se dirige a todos aqueles que buscam um sentido verdadeiro para a vida e um caminho seguro para a cura dos grandes males individuais e sociais.

Drª Elizete PassosDoutora em EducaçãoProfessora Titular de Ética e Responsabilidade Social da Fundação Visconde de CairuSalvador- Bahia

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1 OBJETO

A CONSCIÊNCIA ATRAI O QUE VAI ADIANTE

CONSCIOUSNESS ATTRACTS WHAT GOES FORWARD

Maribel Barreto

“A Consciência mais do que resolve”“Consciousness gives more than resolutions”

(JAIR TÉRCIO, 2010)

Resumo: O presente artigo tem o objetivo de suscitar reflexões acerca da consciência no sentido de se provar praticando o processo, em si, da evolução, por atrair o que vai adiante. Metodologicamente, realizamos uma pesquisa bibliográfica a partir dos autores principais: Costa (2010, 2011); Goswami (2009, 2010); Ornstein (1991); Montenegro (2009); Gleiser (2010); Teilhard de Chardin (1980). Esperamos que o leitor possa sentir o seu processo de evolução se praticando de forma abreviada e consciente, da dimensão de ser humano até a divinização.

Palavras-chave: Evolução. Consciência. Divindade.

Abstract: The objective o the present article is to stimulate reflections about consciousness in the sense of proving itself by practicing the process of evolution, in oneself, by atracting what goes forward. Methodologically, we realized a literature research that comprises such main authors: Costa (2010, 2011); Goswami (2009, 2010); Ornstein (1991); Montenegro (2009); Gleiser (2010); Teilhard de Chardin (1980). We hope the reader may feel its process of evolution by practicing consciously and in a shorten way, from the human being dimension to divinization.

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Keywords: Evolution. Consciousness. Divinity.

INTRODUÇÃO

Como o propósito de bem compreendermos o papel da consciência nos impelindo a ser o que devemos ser, no nosso processo de evolução abreviada e consciente, para os devidos fins, nos dedicamos à elaboração deste artigo.

Metodologicamente, realizamos uma pesquisa bibliográfica cujos autores guardam afinidade de concepção acerca da vida, da evolução e da consciência, permitindo ao ser sentir o seu processo de evolução se praticando, a partir de si mesmo no seu momento atual. Senão vejamos o que expressa a parábola abaixo:

A humanidade ainda desposada pelo Ser Humano pouco inteligente, sabendo da presença do Iluminado e da possibilidade de crescimento abreviado, com o trabalho proposto pelo mesmo, o buscou e quando achou questionou: como posso aproveitar tudo aquilo que nos podes oferecer? Daí ouviu dele: divorcie-se do que pouco importa e terei, então, iniciado; pois em ciência vos digo - qualquer realização exige que comecemos com o pouco que temos para ir adiante; até porque, nada regride; tudo evolui, do relativo para o absoluto, por conseguinte evolui, a ponto de identificar-se com o Princípio Criador de todas as coisas, que Sou. (OCIDEMNTE, 2009, p. 1289)

Neste sentido, devemos volver a atenção para nós mesmos, levando em conta o inegável poder da força da Lei de Evolução, esta que estabelece, em seus princípios, que o que é não permanecerá eternamente como está e que nos cabe aproveitar as benesses de tudo que esta por vir, quer seja nos campos da ciência, da filosofia e da religião; nas áreas pessoal, profissional e espiritual; nas dimensões do sentir, pensar e agir.

Afinal, tudo evolui; tudo se transforma; tudo ascende do relativo ao Absoluto; portanto, tudo se aprimora, a ponto de identificar-se com o Absoluto; e tão logo a ciência comprovará.

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A EVOLUÇÃO COMO LINGUAGEM DA DIVINDADE

“A evolução é prova cabal de que tudo é motivo do que vai adiante;

e tudo que vai adiante é motivo de tudo”.(JAIR TÉRCIO, 2011)

“A evolução consciente é hoje uma necessidade de toda a humanidade.”

(ROBERT ORNSTEIN, 1991)

“O Universo é um livro aberto, e a coerência apenas procura entendê-lo”.

(CÉSAR LATTES, 1948)

Quer inconscientemente quer conscientemente nada, nem ser humano algum, conseguem, de fato, opor-se ao Movimento Universal, pois não é possível modificar o movimento do qual somos animados. E tudo está em movimento, provando e praticando a vida, a evolução, a criação.

A ciência aceita o processo evolutivo e vamos reconhecer a evolução como a linguagem da divindade, sendo que o discurso dessa linguagem é o que vem adiante, considerando a razão de sua Existência, afinal, nada existe que não tenha uma razão de existir. Como sabiamente afirma o físico e astrônomo, Gleiser (2010, p.15): “nossa presença aqui tem que ter uma razão de ser [...] devemos ser criaturas divinas, ou ao menos parte de um grande plano cósmico. Sermos meramente humanos não pode ser toda a história”.

Compreendemos que a evolução é a lei da vida e que não tem outro destino, senão o de levar tudo a se identificar com o Princípio Criador. Neste sentido, quer seja pelo sofrimento, pelo sentimento ou pela razão, o ser humano moraliza-se, evangeliza-se, enfim, espiritualiza-se; até porque, como afirmado, inclusive pela ciência, tudo evolui; enfim, tudo ascende do relativo para o Absoluto.

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Neste mesmo contexto evolutivo, Goswami (2009, p. 167) lança a seguinte indagação: “Estaremos destinados a nos tornar super-humanos - deuses, nesse sentido - no próximo estágio de uma evolução?” Em seguida, o mesmo responde: “[...] quando ‘morrermos’ como humanos mentais, seremos seres supramentais, super-humanos. Esta é a evolução suprema à nossa espera”. E ainda complementa anunciando como desafio para este milênio superar a separação causada pelos valores exacerbados da mente e do ego mental em detrimento da supermente, o nosso poder maior”.

Por outro lado, apesar de anunciar os limites da separação mente, ego, supermente, Goswami (2009) reconhece que tal separação também nos deu uma maior compreensão, uma base para o próximo salto quântico de nossa evolução como espécie. Afinal, a evolução se pratica e o ser humano é o responsável pela condução do seu processo de evolução, de forma abreviada e consciente.

E no sentido de enaltecer o nosso papel enquanto seres humanos, assim expressa Teilhard de Chardin (1980, p. 19):

Por essa posição privilegiada atribuída ao homem na physis, este se toma não somente o centro de perspectiva a partir do qual se constitui a visão convergente do universo e o discurso sobre o Ponto ômega, mas também o responsável pelo destino da evolução.

Eis a abordagem que defende o antropocentrismo moderno, interpretando-o como um ‘antropocentrismo de movimento’: o homem no centro dinâmico da evolução. E como tal, almejando acelerar a evolução, é facultado ao mesmo empreender esforço voluntário, consciente e ciente até o alcance de nossa Origem Causal.

Válido ressaltar que o referido esforço deve considerar o movimento, o tempo e o espaço onde nós nos encontramos, hoje, aqui e agora, pois somente chegaremos lá se partirmos de onde estamos e é onde estamos onde residem as nossas melhores oportunidades, independentemente das circunstâncias.

Reforçando esta ideia do ser humano como centro dinâmico da evolução e destacando o valor da evolução consciente, Ornstein (1991,

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p. 328) evidencia:Não haverá mais evolução biológica sem evolução consciente. Temos que assumir o comando de nosso desenvolvimento agora, e iniciar um programa maciço para mudanças conscientes em nossa mentalidade, nossa relação com os outros, nossa identificação com o resto da humanidade. O ritmo das alterações é violento demais para que tentemos nos adaptar inconscientemente.

Nesta mesma direção, destacamos a revelação mais chocante da cosmologia moderna, segundo Gleiser (2010, p. 145): “96% da composição material do cosmo é desconhecida!” Ou seja, não temos o direito de esperar que a evolução naturalmente se processe, até porque quanto mais aprendemos, mais temos para aprender, nos adiantar e desvelar, a partir de nós mesmos, a compreensão do Todo, que somos.

Assim sendo, confirmamos a máxima de que temos o dever moral de evoluir pelo aprender e sentir, mas de forma abreviada e consciente, até porque a consciência é algo que deve ser despertado, construído e/ou desenvolvido, a partir de cada um de nós, favorecendo-nos agir levando em conta não só o conhecimento, mas a aproximação e/ou identificação com as Leis Naturais que regem o Universo, que repousam em nossas consciências, em prol do nosso equilíbrio dinâmico, dos planetas e do Universo, na sua totalidade.

E, considerando que os nossos relacionamentos individuais e coletivos se baseiam na consciência, quanto mais cônscios disto nos tornamos, mais nossa consciência irá funcionar como devido. E quanto mais ela assim funcionar, mais veremos o Universo com outros olhos, pois ela, a consciência, tem sua própria maneira de ver o Universo.

A LEI COMO LINGUAGEM DO DISCURSO DA EVOLUÇÃO

“A Lei é o único dispositivo de que a evolução utiliza

para realizar-se com brevidade”.

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(JAIR TÉRCIO, 2009)

“É tão só conhecendo-se e dominando-se a si mesmo que o ser humano conseguirá conhecer e dominar o Universo,

com seus mistérios e suas leis.” (AGRIMAR MONTENEGRO, 2009)

“As qualidades morais se aprimoram, direta ou indiretamente, muito mais por efeito do hábito,

dos poderes de raciocínio, da religião etc., do que por seleção natural.”

(CHARLES DARWIN, 1871)

O que vem a ser uma Lei? A razão não se recusa a aceitar e o nosso sentimento confirma que uma Lei é a expressão da Ordem Natural, caracterizada não como Obra do Acaso, tampouco como jogo de cartas, de ludo ou de dados de Deus para com o Universo, mas, no mínimo, como Vontade da Divindade. E ela, a Lei, é clara, ao afirmar que, no Universo tudo são Leis Naturais que o regem.

Neste sentido, destacamos o papel do Ser Humano como a maior representação consciente de tais Leis, que repousam em sua consciência, lembrando que a consciência é a faculdade que o Ser Humano possui que o possibilita buscar e achar os respectivos valores lógicos, racionais e Universais, bem como aplicá-los nas situações diferentes do seu dia-a-dia de relações, em prol de um viver em sintonia com a Grande Obra Divina da qual somos e fazemos parte.

Gleiser (2010, p.16) nos convida a reflexões significativas neste diálogo com o Universo através de suas Leis e o papel do ser humano neste contexto. Ele afirma que “a ciência moderna [...] põe a humanidade no centro do cosmo”. Ele denomina essa corrente de pensamento como “humanocentrismo”. Continua:

Talvez não sejamos a medida de todas as coisas, como propôs o

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grego Protágoras em torno de 450 a.C., mas somos as coisas que podem medir. Enquanto continuamos a nos questionar sobre quem somos e sobre o mundo em que vivemos, nossa existência terá significado.

Assim sendo, o discurso da divindade é a evolução e a linguagem desse discurso é a Lei, esta que ao presidir a evolução é, além de inegável e inevitável é autossustentável, pois se prova praticando-se, inclusive, abreviadamente, e somente com ela, a Lei Natural, torna-se possível ao ser humano saber bem lidar com o que vem adiante e não pode ser evitado, aproveitando todas as benesses do processo de evolução rumo à divinização, integrando ciência, filosofia e religião. Até porque como bem afirma Ornstein (1991, p. 333):

[...] estamos empreendendo mudanças drásticas no planeta, e é vital que a religião e ciência se unam em suas preocupações, numa afirmação de que nenhum de nós está só.

Neste sentido que possamos transitar da Era do Conhecimento para a Era da Consciência, pois quando o Ser Humano se afasta de sua personalidade Divina, demonstra ter perdido o que indica a noção exata de alma, de consciência e de Lei Natural para a sua evolução abreviada consciente, por conseguinte, é inclinado à fragmentação, mutilação e degradação, enfim, ao sofrimento extremo, tal como muitos tem vivido, em tempos atuais.

A CONSCIÊNCIA ATRAI O QUE ESTÁ DISPONÍVEL NA HUMANIDADE

“O fim da consciência é a plenitude”.(JAIR TÉRCIO, 2009)

“Somos a consciência do cosmo”. (MARCELO GLEISER, 2010)

“A consciência é cósmica, primeira e única”. (ERWIN SCHRÖDINGER, 1944)

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Ao mesmo tempo em que temos convivido com conflitos de diversas ordens, quer sejam educacionais, econômicos, sociais, políticos, naturais, pelo distanciamento, porque não dizer, da nossa Natureza Divina, do nosso centro, da profundidade, dadas as descobertas das últimas décadas, Gleiser afirma que: “basta abrir os olhos para ver que estamos avançando numa nova direção, criando uma nova visão de mundo, em que a ênfase deixa de ser no cosmo e passa a ser em nós, humanos” (2010, p. 147).

É a consciência que faz isso. Nos faz nos percebermos como centro do universo e vê o que está adiante. Mais ainda, nos faz percebermos que Deus não é outro senão nós mesmos. O ser humano é o próprio Deus.

Tal compreensão é confirmada pelo já citado físico quântico Goswami (2009, p. 38-39), senão vejamos:

“[...] olhamos para Deus, e ele somos nós. A ideia parece subjetiva demais para poder ser classificada como ciência. Na realidade, não é. Quando se examinam as propriedades de uma consciência que conseguem ‘causar o colapso’ [...] encontram-se três características muito reveladoras: 1. a consciência é a base de toda existência; 2. essa consciência que escolhe é unitiva, não local e a mesma para todos. Em outras palavras, a consciência que escolhe é objetiva; 3. no caso de um colapso quântico, a consciência torna-se ‘autorreferente em todos, dando-nos não apenas a sensação do objeto manifestado, como também a experiência de um self – um sujeito que sente o objeto como algo separado de si.

Ele identifica, portanto, que esse caráter unitivo da consciência é a

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consciência-Deus. A física quântica consiste em introduzir a consciência-Deus como agente de causação descendente (Deus como criador do mundo e de todas as espécies), oferecendo evidências científicas.

E como seres humanos precisamos sempre tomar nova consciência de nós mesmos, visto que, inclusive, ela, a consciência, é essencialmente criadora e sempre procura uma forma nova de auto-expressão e nos faz buscar, achar e manter o que em essência somos, de dentro para fora.

Vejamos uma história, que bem enriquece esta concepção (OCIDEMNTE, 2001, p. 176-177):

- Só se cresce de dentro para fora -

Igor, o andarilho, era um mestre imutabilista, um dos mais bem preparados na prática de exercícios relacionados às forças em domínio do ser humano, tais como: reflexão, concentração, meditação, vibração, percepção, contemplação e exaltação.

Era a época do ano em que as árvores ficavam despidas. E fazia, mestre Igor, sua caminhada reflexiva, por perto do seu templo, minutos antes do sol render a lua, cujo tempo, o movimento do orvalho sobre as folhas, denunciavam. Depois da caminhada, quando do retorno ao templo, o mestre entrou no mesmo e encontrou os seus discípulos acordando, espreguiçadamente.

- Vamos lá, vamos lá, acordem. Façamos juntos uma caminhada.

Disse o mestre Igor aos discípulos, tão rápido quanto sentou, pondo-se em estado de meditação.

Os discípulos, preparando-se para tal caminhada, agitavam-se para lá e para cá, por entre os cômodos do templo. Alguns deles, enquanto aguardavam os outros, buscaram também entrar em estado de meditação, como que imitando o mestre, embora não a maioria.

Uma vez todos a posto e preparados, um deles, o novato, e impaciente, Kédi, não suportando esperar, demonstrou sua impaciência indagando ao mestre Igor:

- Mestre, afinal, vamos ou não vamos caminhar?

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E muito rapidamente ouviu do mestre:

- Apresse-se meu querido, pois já estamos muito adiante.

Disse-lhe o mestre, tão logo se calando e voltando ao estado em que se encontrava. E isso fazia com que Kédi buscasse praticar para sentir a verdade que reside no fato de que o ser humano é composto de várias dimensões, que devem ser experimentadas pela descoberta e não pelas invenções; pela experiência direta, correta e completa e não pelas definições; pela compreensão e não pelo conceito pré-estabelecido; pela realidade experimentada e não pela revelação, enfim, pelo real e não pelo verbal, pois que as suas portas estão dispostas de maneira que só podem ser abertas de dentro para fora. Eis o caminho da virtuosidade.

- Ufa! Que vacilo – pensava calado Kédi – mas saber sem sentir faz, senão nenhum, pouco sentido.

“Ser consciente é buscar saber caminhas para o mais distante de si mesmo possível,

mas pelo caminho que vai para dentro.”

Nesta direção, só conscientes do presente poderemos notar o novo que sempre vem e nem sempre notamos. E quanto mais consciência mais atraímos o que está disponível na humanidade e temos possibilidades de penetrar nos ditos mistérios da Existência, inclusive, pela ciência. Até porque, ciência sem consciência mais do que mutila nossos corpos, macula nossas almas, embora não possa obstar nossos espíritos.

Assim sendo, à verdadeira ciência não cabe gerar ateus; mas levar os seres humanos a conhecerem-se, a ponto de mais do que se curvarem diante da divindade, até porque, as benesses da consciência são alcançadas por aqueles que estando fazendo o que fazem não deixam de estar conscientes de si mesmos, rumo à compreensão da totalidade.

E neste sentido, somente quando a consciência chega em seu ápice, então conhece e sente o mistério da Existência, a ponto de realizá-la, de forma visível, experimentável e sistematizável.

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Assim sendo, a linguagem da evolução mostra que devemos estar abertos, conscientes e cientes para com as novidades da Existência ou não aproveitamos suas benesses.

CONCLUSÃO“A ciência não tem limite; não pára; e não tem fim”.

(JAIR TÉRCIO, 2011)

“O materialismo nunca pode explicar a consciência plenamente”.

(AMIT GOSWAMI, 2009)

“A consciência superior visa a uma realidade em que as ações individuais se organizem em algo maior,

e se manifesta na vida comum”.(ROBERT ORNSTEIN, 1991)

Diante das análises, esperamos que, como seres conscientes possamos encontrar, no cotidiano das nossas vidas, o movimento, espaço e tempo, bem como o propósito de tudo, inclusive, do que vai adiante; e, ainda, o método preciso de fazê-lo, e fazê-lo bem. Até porque somos o Universo buscando se conhecer; e o nosso maior dever consiste em descobrir a Divindade que habita em nós mesmos. Isto porque, a Divindade é inegável, inevitável e autossustentável, pois se prova se praticando.

Que assim possamos praticar a nossa evolução, fazendo de nós mesmos seres humanos mais do que humanos; isto porque, a fase humana, não é a última fase da Obra Homem; e viver significa caminhando para a Origem Causal; enfim, para Deus, a Vida das Leis Divinas, das Leis Universais, enfim, das Leis Naturais que regem o Universo.

REFERÊNCIAS

COSTA, Jair Tércio C. A arca da liderança II. Salvador: Sathyarte, 2010.

_______. A arca da liderança I. Salvador: Sathyarte, 2011.

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DARWIN, C. The descent of man and selection in relation to sex. London: John Murray, 1871.

GLEISER, Marcelo. Criação imperfeita: cosmo, vida e o código oculto da natureza. 3.ed. Rio de Janeiro: Record, 2010.

GOSWAMI, Amit. A evolução criativa das espécies. São Paulo: Aleph, 2009.

_________. O ativista quântico. São Paulo: Aleph, 2010.

LATTES, César. Os físicos e a bíblia: depoimento. [agosto, 2001]. Campinas: Jornal da Unicamp. Entrevista concedida a Tatiana Fávaro.

MONTENEGRO, Agrimar. Uma busca iniciática: o desenvolvimento espiritual no ser humano-2012/ Agrimonte. João Pessoa: Ideia, 2010.

OCIDEMNTE - ORGANIZAÇÃO CIENTÍFICA DE ESTUDOS MATERIAIS, NATURAIS E ESPIRITUAIS – 7º CDE. Arca Sagrada. Salvador: OCIDEMNTE, 2009.

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2 FINALIDADE

A VIVÊNCIA DO AUTOCONHECIMENTO NO PROCESSO EDUCATIVO DOS ADOLESCENTES

NA ONG CIPÓ

THE SELF-KNOWLEDGE EXPERIENCE IN THE EDUCATIVE PROCESS OF THE ADOLESCENTS FROM THE CIPÓ’S ONG

Georgina Costa Kruschewsky1 Maribel Barreto

Resumo: O presente artigo apresenta os resultados da pesquisa que teve como objetivo identificar se a vivência do autoconhecimento no processo educacional favoreceria a educação integral de adolescentes. Apresentamos a experiência educativa de oficinas de sensibilização para adolescentes de uma organização não-governamental denominada CIPÓ, localizada em Salvador, Bahia. Através da revisão de literatura, estudamos as relações entre educação integral e autoconhecimento, temas que orientaram o estudo. Metodologicamente, optamos pela pesquisa-ação. Com o desenvolvimento da pesquisa, verificamos que a educação deve se responsabilizar não somente em oferecer conteúdos, mas também estimular os educandos para a importância da sua auto-observação. Constatamos que uma ação pedagógica visando ao aprimoramento das habilidades do educando, através da vivência do autoconhecimento, pode ajudá-lo a perceber-se melhor, contribuindo para a relação que estabelece consigo e com os demais em sua vida.

Palavras-chave: Autoconhecimento. Adolescentes. Educação integral.

Abstract: The present article presents the results of the research that had as aim to identify if the experience of self-knowledge in the educational process would help integral education. We present the educational experience of sensitization workshops

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that we implemented for adolescents from a non-governmental organization named CIPÓ, located in Salvador, Bahia. Through literature review we studied the relationships between integral education and self-knowledge. With the development of the research one could verify that education should not only offer contents but mostly it ought to stimulate in the learners the importance of self-observation. We found out that pedagogical action that aims at improving learners’ skills, through the experience of self-knowledge, can help them have a better perception about themselves thus contributing for their relationship with themselves and with others.

Key Words: Self-knowledge. Adolescents. Integral education.

INTRODUÇÃO

A educação escolar contemporânea, de uma forma geral, tem desenvolvido uma ação pedagógica que promove o acúmulo de informações, em detrimento da formação integral do indivíduo. Uma das conseqüências é a considerável existência de indivíduos detentores de competência intelectual, porém inábeis e imaturos ao lidar com questões afetivas, psicológicas e emocionais.

Segundo Krishnamurti (1995), o que denominamos hoje de educação é um processo de obtenção de informações e conhecimentos adquiridos nos livros. Para o autor citado, este tipo de educação “nos proporciona um modo sutil de fuga de nós mesmos, ocasionando sofrimentos cada vez maiores”. A desordem nasce das relações incorretas com os indivíduos e com as idéias. Ele ainda menciona que, enquanto não entendermos tais relações e as transformarmos, o aprendizado representará apenas acúmulo de conhecimentos, dando lugar ao caos e à destruição da sociedade.

Sob esta perspectiva, precisamos repensar a prática educativa, no sentido desta alimentar o desenvolvimento global do indivíduo, e buscarmos o seu crescimento no campo social, intelectual, emocional e espiritual. Através da educação integral, o educando adquire o saber não só por intermédio do que a sua mente produz, mas inclusive das respostas oferecidas pelo seu corpo e por suas emoções.

No momento atual, é fato que a educação precisa ser repensada, principalmente no que se refere ao nível médio, época relevante para a

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definição do rumo profissional a ser tomado pelo jovem. Desse modo, cabe à educação promover o crescimento do adolescente, no intuito de torná-lo cada vez mais consciente de si mesmo.

Nesse contexto, ficou evidenciado, para nós, o desejo de debruçarmos sobre o mundo do Ser adolescente. A opção por esta faixa etária justifica-se pelo nosso interesse em estudar o referido assunto e pelo fato da adolescência representar uma fase de grandes descobertas e decisões, tempo em que o jovem começa a fazer construções para sua vida e, por isso, busca respostas referentes a questões tais como: qual o sentido da minha vida? Quais os meus propósitos? O que desejo para mim?

Para tratar o problema em foco, a pesquisa realizada apresentou como objetivos específicos:

a) Examinarmos como ocorre o processo de desenvolvimento dos adolescentes;

b) Verificarmos se o processo ensino-aprendizagem tem possibilitado o autoconhecimento dos adolescentes;

c) Evidenciarmos a importância do autoconhecimento para a formação dos mesmos;

d) Gerarmos contribuições para pesquisadores na aquisição de conhecimentos acadêmicos, sociais e profissionais, para o universo de trabalho desenvolvido na ONG Cipó junto aos adolescentes; e para a Academia;

e) Implementarmos oficinas de sensibilização, utilizando o autoconhecimento como prática viabilizadora de uma educação integral.

Diante desta pesquisa entendemos, desta maneira, que caberá a nós, educadores, não somente buscar a educação integral do educando, mas, sobretudo, de nós mesmos, oportunizando reflexões sobre a própria conduta e servindo de exemplo para os educandos.

É objetivo também deste artigo, por fim, constituir-se como um convite aos educadores para que repensem suas práticas educativas,

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percebendo o aluno como um ser humano que pensa, sente e “pulsa” e que, exatamente por isso, é muito mais do que um simples receptor de conteúdos.

A EDUCAÇÃO E SEU PAPEL NA FORMAÇÃO BIOPSICOSSOCIAL DOS ADOLESCENTES

A humanidade, atualmente, vive situações que apontam para um desequilíbrio global, produzido pela inconseqüência de muitos dos seus atos. A falta de zelo, ganância desenfreada, corrupção, violência, volúpia, entre outros aspectos do ser humano para consigo e com o mundo à sua volta, têm acirrado, cada vez mais, a dissociação entre o mundo interno do indivíduo e a sociedade, dando origem ao caos social que tanto tem assolado o planeta como um todo.

Desta forma, há demandas de transformações da sociedade que somente serão possíveis de ocorrer a partir da transformação do indivíduo, especialmente através da educação.

Tradicionalmente, o propósito da educação tem sido perpetuar o conhecimento acumulado de uma geração para outra. Porém, de acordo com Delors (2002), essa função atribuída à educação não será sustentável por muito mais tempo. Segundo o autor, a mudança na sociedade encontra-se tão veloz que o futuro deixa de ser previsível como antes.

Neste sentido, acreditamos que o papel da escola vai muito além da perpetuação do conhecimento acumulado de uma geração para outra, indo ao encontro da necessidade de conscientização, contribuindo para que o educando conquiste sua identidade a partir da construção de uma visão integrada de si mesmo, num contexto de educação que inclua, de modo sistemático, a integração entre mente e coração. Segundo esta linha de pensamento, o propósito do ensino deve ser preparar o aluno para a busca da plenitude, sob uma perspectiva de integração da sua natureza interna com a natureza externa, de forma

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dialética e equilibrada.

Corpo, mente e sentimentos, de acordo com a visão sistêmica, são aqui entendidos como partes de um sistema não passível de fragmentação. Assim, apesar de não ser educador, Wilber (2001, p. 11) indiretamente permite a defesa de que a prática educativa deve direcionar a sua atenção para o ser humano na sua totalidade:

Uma verdadeira visão integral [...] deveria incluir a matéria, o corpo, a mente, a alma e o espírito, tal como se apresentam em seu desdobramento através do eu, a cultura e a natureza. Deveria tratar-se de uma visão compreensiva, equilibrada e inclusiva, uma visão que abraçasse a ciência, a arte e a moral, uma visão que englobasse todas as disciplinas [...].

Entretanto, o que temos verificado é que na maior parte das vezes os educandos são instruídos a adquirir conhecimentos prontos, e não têm sido instigados à questionamentos, participação, reflexões a respeito de si próprios e sobre os papéis que desempenham nos diversos momentos da vida. Assim, vêm se colocando mais como espectadores do processo pedagógico do que construtores ativos do seu saber.

Nesse contexto, o sistema educacional escolar tem criado, ao longo do tempo, indivíduos emocionalmente imaturos e sem aprofundamento no conhecimento de sua pessoa.

Para que os adolescentes estejam cientes das diversas opções oferecidas pela vida, a busca da identidade - quando estimulada pela educação - favorecerá a apresentação de respostas para seus questionamentos. Inclusive porque a adolescência é um período de instabilidade afetiva e rebeldia, onde se intensificam os projetos de vida. Portanto, a escolha profissional é um dos fatores que influenciam sobremodo na identidade desse sujeito. Por meio do que pretende ser e realizar, o adolescente oferecerá seu apoio à sociedade e poderá adquirir dela retribuições.

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Cremos, pois, na necessidade de uma didática aplicada em sala de aula, cujo propósito seja favorecer uma maior interação entre o adolescente e o educador, e entre os próprios adolescentes. Estes sujeitos sociais precisam de estímulos que os auxiliem a intuir, pensar, sentir e ser. As suas potencialidades não devem ser escondidas, mas avivadas.

Nesse contexto, uma prática educativa que utiliza como base o autoconhecimento pode ser fundamental para que o adolescente identifique o que realmente o motiva, ou o que possa contribuir para a sua melhor integração com o mundo. Ao exercitar o hábito de autoconhecer-se, o adolescente pode passar a estar mais atento aos seus sentimentos, oportunidade em que poderá reconhecer sua natureza interior. Neste caso, haverá melhores chances a uma intimidade consigo, ampliando o conhecimento da subjetividade e favorecendo uma maior integração com a realidade exterior.

Sob esta perspectiva, o projeto educativo deve se apoiar na busca pela integração do ser humano para consigo e com o mundo à sua volta. Isto requer trazer à consciência valores subjetivos, oferecendo uma formação coerente que minimamente valorize as habilidades de cada educando e a discussão sobre sua razão de existir (BARRETO, 2005). A educação, portanto, deve contribuir com o desenvolvimento da consciência do indivíduo, bem como das suas interações com o mundo no seu entorno, e com os valores compartilhados socialmente.

Diante das análises aqui apresentadas, a presente pesquisa defende que a formação biopsicossocial do adolescente deve ser o propósito da educação, especialmente no ensino médio, comprometendo-se com o desenvolvimento pleno dos sujeitos sociais que se encontram nessa etapa de vida.

MÉTODO

De acordo com o caráter desta pesquisa, e visando à análise das informações, demos preferência à estratégia de investigação pesquisa-

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ação. A escolha também se fez visando ao aspecto participativo, ou seja, uma interação entre os pesquisadores e representantes da realidade a ser estudada. Este tipo de abordagem facilitou o acesso à realidade dos sujeitos sociais, notadamente quanto às contribuições subjetivas relacionadas a crenças, valores e opiniões.

Neste estudo, para além dos citados, procuramos dialogar com alguns outros autores: Rafael Yus (2002), Maribel Barreto (2002, 2005) e Jaques Delors (2001), no propósito de conhecer e compreender mais profundamente o fenômeno pesquisado relativamente à educação integral; Thums (1999) e Cardoso (1999), que ressaltam a educação holística como indispensável à formação integral do ser humano, constituindo-se em base para análise do desenvolvimento da pesquisa.

Pereira e Hannas (2000) mencionam que a educação brasileira, a exemplo do que ocorre em outras tantas culturas, separou a educação do corpo, do espírito, do coração e da transcendência, e atualmente vigora a necessidade de integração. Segundo a história dos povos, o cientificismo, a mecanização, a busca pelos grandes negócios, o poder subjugador das religiões e países, entre outros, vêm demandando, ao longo do tempo, verdadeiros impactos psicológicos e físicos, que se refletem no afastamento de si, de seus anseios, por falta de conhecimento, ingerência, não validação ou desistência das próprias buscas.

Relativamente ao autoconhecimento voltado para a educação de jovens, deparamos com o desafio da carência bibliográfica. Soares (2001) apresenta uma interessante reflexão sobre o processo educativo, referindo que a vivência do autoconhecimento pode contribuir no processo pedagógico. Krisnamurti (2001) defende que o educando precisa ser estimulado a se auto-observar e que a educação correta advém da transformação do próprio ser. Martinelli (1999) afirma ainda que é preciso a compreensão acerca dos sentimentos e idéias e descobrir o que ocorre consigo.

A primeira etapa da pesquisa-ação envolveu o conhecimento da realidade da instituição Cipó, bem como seu funcionamento atual: projetos e propostas, número de alunos, demandas, atividades oferecidas, horário de funcionamento, entre outros aspectos. A ONG

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Cipó, organização não-governamental sem fins lucrativos, é uma entidade que possui programas sócio-educativos baseados na Educação pela Comunicação e atua na formação profissional de adolescentes, criando oportunidades para a inserção qualificada no mundo do trabalho.

No que se refere à ação da pesquisa, realizamos três oficinas de sensibilização com a duração de três horas cada uma. Inicialmente trabalhamos com a turma do horário matutino, juntamente com a da tarde, totalizando cerca de 50 adolescentes.

Percebemos que ao final das atividades os adolescentes estavam mais participativos e buscando uma relação social mais próxima com o grupo de pesquisa e entre eles mesmos. A partir das informações obtidas, foram originadas informações necessárias à análise a respeito da influência do autoconhecimento em relação às potencialidades dos adolescentes. Todos os passos dados, as decisões, as experiências, as partilhas, entre outros, foram relevantes para a definição dos caminhos percorridos no desenvolvimento do estudo.

PROCESSO DA PESQUISA-AÇÃO: OFICINAS DE SENSIBILIZAÇÃO

O desenvolvimento do estudo se deu com vistas a conhecermos a entidade abordada, verificarmos a existência de práticas do autoconhecimento no seu processo pedagógico e, especialmente, atuarmos junto aos sujeitos-adolescentes com a finalidade de favorecermos o processo de autoconhecimento, ainda que de forma embrionária.

Resultante das práticas realizadas nas oficinas, os adolescentes ampliaram sua consciência a respeito das dimensões que constituem o seu ser: corpo físico, intelecto, emoções e intuição, por meio de dinâmicas. Também debateram sobre seus hábitos e comportamentos automáticos. Nossa busca também privilegiou:

a) Questionar acerca do seu aprendizado no âmbito das atividades realizadas na entidade;

b) Conhecer suas expectativas em relação à Cipó durante a própria

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preparação no Estúdio Aprendiz;

c) Identificar as suas mudanças, após o ingresso nas atividades da ONG citada;

d) Falarem sobre o papel que atribuem a Cipó e às atividades realizadas nas oficinas de sensibilização no processo de se perceberem.

Ao serem indagados sobre o que entendiam por autoconhecimento, os adolescentes, em sua maioria, responderam significar um conhecimento a respeito de si mesmo, o que pode ser evidenciado por uma educanda de 16 anos:

Conhecer a si mesmo, saber como é você interna e externamente (Entrevistada F).

A percepção integrada - exterior e interior - pode permitir ao adolescente ter suas dúvidas e questionamentos reduzidos e a acreditar em sua força interior. Além disso, perceber melhor a sua natureza íntima pode favorecê-lo a criar uma base consistente para o desenvolvimento da sua personalidade.

Outra participante, de 15 anos, escreve que o autoconhecimento é:A pessoa conhecer a sua fisionomia, seus pensamentos e tentar se melhorar, não sentir mais raiva como antes, saber como os outros o enxergam (Entrevistada G).

Por intermédio do autoconhecimento o indivíduo pode vir a compreender melhor os seus pensamentos e sentimentos, e a observar-se mais detidamente através das relações que estabelece consigo e com os demais durante a sua existência. O ato de estar atento a si e à sua relação com o outro poderá ajudá-lo a se reconhecer melhor.

Portanto, à educação compete oferecer meios que facilitem, ao adolescente, reflexões sobre ele mesmo, prezando a construção de um equilíbrio entre o que pensa, sente e se manifesta diante de si e do mundo.

No momento em que os adolescentes foram questionados sobre a contribuição das oficinas de sensibilização, 100% do universo pesquisado perceberam as oficinas como uma oportunidade para o desenvolvimento

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pessoal e profissional.

A fala de um entrevistado de 15 anos é ilustrativa:As oficinas me ajudaram muito. Aprendi a olhar mais as pessoas, a não julgar pessoas sem sentido de consciência, entre outras, espero que após essa oficina venha várias outras que será sempre bem vinda (Entrevistado D).

Quando os adolescentes foram indagados acerca de alguma nova descoberta que tenham feito a partir das três oficinas que vivenciaram, muitos afirmaram uma melhoria nas relações com a família, refletiram sobre o que vivem no presente e no que almejam para o futuro, que deixaram de julgar os outros e passaram a olhar mais para si mesmos, além de adquirirem paciência e compreensão para com as pessoas.

Quando perguntados sobre a contribuição das oficinas acerca da sua formação, entre outras, os alunos disseram que ajudaram no processo de autoconhecimento, além do âmbito pessoal e profissional. As falas de quatro educandas de dezesseis anos são expressivas:

Aprendi o meu autoconhecimento, a conhecer e a falar de mim e de meus sentimentos (Entrevistada N).

Nos aspectos de autoconhecimento, de ter controle com meu corpo, controlar as minhas emoções (Entrevistada B).

Nos meus pensamentos e conclusões sobre mim e com minhas convivências (Entrevistada P).

Aprendi a me ver melhor, como eu sou e os meus objetivos a serem alcançados (Entrevistada O).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente investigação, realizada na ONG Cipó, em Salvador - Ba, nos possibilitou levantar elementos que permitiram analisar as demandas de uma prática educativa que favorece o processo do autoconhecimento, e possíveis caminhos para tal realização. Os resultados encontrados vieram ao encontro da problematização apresentada no início da pesquisa, qual seja: qual o papel do autoconhecimento na formação

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do adolescente e quais são os seus impactos no desenvolvimento do mesmo?

Os encontros realizados com os jovens pesquisados parecem ter possibilitado o despertar para algumas questões cotidianas vivenciadas pelos referidos sujeitos. Observamos que às atividades se sucedeu um maior conforto emocional por parte dos adolescentes, motivados pelo encontro com um espaço onde prevaleceu o sentimento de confiança, e comprometimento, e em que as questões puderam ser compartilhadas, acolhidas e pensadas.

Nesta perspectiva, a pesquisa confirmou que a prática da educação integral atrelada à vivência do autoconhecimento pôde favorecer, nos adolescentes, um melhor entendimento acerca deles próprios e das pessoas ao redor, deixando muitas vezes de projetar, nos outros, os seus desejos e ansiedades.

Foi possível perceber uma maior expressividade no grupo, verificada nas suas exposições acerca dos seus pontos de vista, quando nas interações e debates realizados nas oficinas. Os jovens deixaram de culpar os outros e passaram a refletir e comprometer-se com suas transformações e modos de se conduzir na vida.

Ficou bastante claro para nós que tratar da educação integral exige do educador um movimento constante, pois há um esforço em buscar um equilíbrio entre ações, pensamentos e sentimentos, tanto advindas do educador, como condutor da sala de aula, quanto dos seus alunos. Constatamos que o exercício desta atividade requer tempo. Não é um processo que ocorre de maneira breve e rápida, pois requer mudança e mudança significa luta contra resistências, hábitos cristalizados e ir ao encontro de novas atitudes.

Esperamos que este estudo contribua para o processo de formação dos adolescentes no que diz respeito à sua educação na totalidade; apresente uma prática de ensino-aprendizagem para os profissionais da área de educação; e busque esclarecer e minimizar a resistência daqueles educandos acostumados a um sistema educacional que prioriza apenas o seu desenvolvimento intelectual.

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Os resultados apresentados por esta dissertação sugerem que os currículos das escolas do ensino médios tenham, perpassando a sua matriz curricular, atividades e conteúdos baseados na perspectiva do autoconhecimento. Desta forma, favoreceríamos, de maneira mais específica, a formação integral dos educandos.

Considerando nossa intenção em contribuir para a realização de um processo educativo que prime pelo desenvolvimento integral do ser humano, acreditamos que é chegado também o momento de não só tratarmos acerca do autoconhecimento apenas no ensino médio, mas também no universo acadêmico.

Sugerimos que o currículo do ensino superior possua a disciplina autoconhecimento, independentemente do curso que o aluno venha a ingressar na Faculdade, para que possa haver uma continuidade da prática de enxergar-se quando se tornar um adulto, haja vista os diferentes estágios do seu desenvolvimento. Desta forma, favoreceremos o desenvolvimento da sua consciência, que corresponde ao processo de sua auto-educação. Eis que não adianta, enquanto educadores, contribuirmos para formar indivíduos intelectualmente cultos, porém emocionalmente despreparados.

Sabemos que ir ao encontro de uma educação integral associada à prática do autoconhecimento requer, inclusive dos educadores, mudança paradigmática, pois a grande maioria não deve ter tido a oportunidade de uma formação integral. Isto pode exigir do mesmo um processo de formação continuada, em prol da construção de novos conhecimentos.

Olhar-nos verdadeiramente sem ilusões, adentrar-nos para irmos de encontro ao próprio Eu, enxergar-nos sem disfarces ou rótulos é o que pode estar faltando a muitos de nós, não só aos adolescentes. Somos muito mais do que cérebros pensantes...SOMOS INDIVISÍVEIS! Não somos partes dissociadas por uma cabeça, “coração” (sentimentos) e corpo físico. O que importa verdadeiramente para evoluirmos é primar pelo nosso desenvolvimento, buscando um equilíbrio para a nossa formação biopsicosocial.

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3 JUSTIFICATIVA

A FILOSOFIA DA CONSCIÊNCIA DO SÉCULO XXI – RUMO A UM NOVO SABER

THE PHYLOSOPHY OF CONSCIOUSNESS IN THE 21TH CENTURY – TOWARDS A NEW KNOWLEGDE

Norma Sueli Mendes1

Maribel Barreto

Resumo: O presente artigo pretende refletir sobre as dimensões do sentir, pensar e agir do ser humano, na qualidade de indivíduos sociais que se encontram inseridos no mundo da vida, no mundo do trabalho no que tange às percepções que

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nos apontam os novos paradigmas educacionais do século XXI. ime levando-se em consideração que a inobservância das normas de conduta quer sejam representados pelos códigos morais, parâmetros educacionais, pelas legislações em vigor, pelos princípios dos direitos humanos, pelos princípios doutrinários das diversas dimensões religiosas, quer sejam orientais ou ocidentais, princípios filosófico-educacionais no que se referem às dimensões antropológicas, axiológicas e epistemológicas presentes no cenário socioeducacional como um todo, bem como os princípios das leis científicas. Assim, conforme a presente pesquisa bibliográfica desenvolvida, chegou-se à conclusão de que a desobediência aos princípios que historicamente conduziram a conduta humana, tende a levar-nos ao fracasso de toda ordem – individual e social – compreendida como degradação dos valores humanos, sobretudo quando das evidências de degradações quer sejam manifestas na biosfera ou antroposfera – nas quais se encontram presentes uma escala de inversão de valores que terminam indo de encontro aos Ditames da Consciência. Os valores humanos educacionais aqui refletidos proporcionam ao ser humano, como demonstrado na presente pesquisa, um viver rico, belo e significativo consoante a educação em valores humanos e de acordo com os desafios educacionais aqui evidenciados, bem como as exigências desse novo século XXI, que requer, de todos os segmentos sociais, econômicos, políticos e educacionais ações condizentes para promoção da consolidação da paz e justiça social. Por conseguinte, analisemos amplamente sobre o aprender a aprender e mãos à obra!

Palavras-chave: Paradigmas educacionais para o Século XX. Direitos Humanos. Princípios Filosófico-educacionais. Ditames da Consciência.

Abstract: The present article intended to reflect upon the feeling, thinking and acting dimensions of the human being, whilst social individuals that are immersed in the world of life, in the world of work in respect to the perceptions that show us the new educational paradigms of the 21th century, with regard to the knowledge society, its objective concerning a straight, complete and significant life, taking in consideration that the failure to respect the rules of conduct, whether they are represented by moral codes, educational paradigms, current legislation, the principle of human rights, doctrinal bases of the various religious dimensions whether eastern or western, philosofic-educational principles with regard the anthropologic, axiological and epistemological dimensions presented at the social-educational scenario as a whole, as well as, the principles of the scientific laws. Thus, according to the present bibliographical research developed from the reflections presented on the Master’s Thesis on Human Development and Social Responsibility, it came to the conclusion that the disobedience to the principles, which historically guided the human conduct, tends to lead us to failure of all sorts – individual and social – understood as the degradation of the human values, specially because of the evidences of degradation, whether they are expressed in the biosphere or in the anthropsphere, denominated human cosmos, where there is an inversion of values that ends up colliding with the Dictates of Consciousness. The human educational values reflected here contribute to the human being, as demonstrated in this research, a rich, beautiful and significant

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life in accordance with education in human values and according to the educational challenges highlighted here, as well as, the demands of this new 21th century that require action from all social, economic, political and educational areas consistent with promoting the consolidation of peace and social justice. Therefore, let us analyze extensively about learning to learn and get to work!

Keywords: Educational paradigms for the 21th century. Information society. Philosophy of obedience. Human Rights. Philosophic-educational Principles. Cientific Principles, Doctrinal Principles and the Disctates of Consciousness.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é fruto das pesquisas desenvolvidas para a dissertação do Mestrado Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social e tem como proposta buscar refletir sobre as abordagens teórico-metodológicas que se encontram presentes no cenário filosófico-educacional que trata das discussões acerca dos pressupostos ético-humanísticos que visam à dignidade da pessoa humana frente aos desafios sociais que se impõem nas diversas dimensões do sentir, pensar e agir.

Para tanto, utilizamos a pesquisa bibliográfica buscando verificar como os teóricos BARRETO (2006) BATISTA; SILVA (2009); BERTEN (2004); COSTA (2010); DELORS (1999; 2004); MONDAINE (2006) estão articulando as suas concepções filosóficas, científicas e doutrinárias no que concerne auxiliar os aspectos educacionais em que passa o ser humano enquanto produto e produtor do meio em que se encontra inserido.

SOBRE OS PARADIGMAS EDUCACIONAIS PARA O SÉCULO XXI

O pensador Edgar Morin (2003) reflete quanto aos princípios do conhecimento pertinente. Chama atenção para o fato de que é preciso ensinar os métodos que permitam estabelecer as relações mútuas e as influências recíprocas entre as partes e o todo em um mundo complexo.

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O autor promove debates sobre: ensinar a condição humana – o ser humano é, a um só tempo, físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Contudo admite que essa unidade complexa da natureza humana é totalmente desintegrada na educação por meio das disciplinas, tendo-se tornado impossível aprender o que significa ser humano.

No âmbito da reflexão sobre: ensinar a identidade terrena, Morin (2003) discorre sobre o destino planetário do gênero humano, numa outra realidade-chave até agora ignorada pela educação. Desse modo, quanto a enfrentar as incertezas, alerta para o fato de que a educação deveria incluir o ensino das incertezas.

Considerando esses saberes necessárioss a educação do século, faz-se imprescindível uma formação capaz de desenvolver competências e habilidades , bem como preparar para uma jornada consciente acerca do papel docente neste contexto do novo milênio, através de práticas que possam traduzir o primado do ser humano como centro de convergênciacultural, ambiental, social, dentre outros aspectos, porquanto “Crise na sociedade ou na natureza significa também problemas em nossas vidas. [...] Necessitamos recuperar o sentido da vida em coletividade, e, portanto, da ética” (SUNG; SILVA, 2004, p. 67 e 68).

A nova exigência de formação profissional requer uma postura dinâmica e flexível às adaptações do mercado, da cultura. Além disso, a nova demanda da educação profissional exige valores que possam nortear um ensino que se preocupe com uma formação cidadã legitimada para a inserção no mundo da vida e no mundo do trabalho, considerando que:

[...] Para se empreender uma jornada de estudos e proposições sobre uma educação pautada em Valores Humanos, importa ter presente esta multidimensionalidade do ser humano. Isto se opõe à visão da ciência moderna, que praticamente, tratou o ser humano de forma unidimensional a partir da cosmovisão decorrente da ciência experimental. E nós vivemos sob a égide das forças dessa cosmovisão sobre o ser humano, sua vida e seu modo de ser. (BARRETO, 2006,

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p. 27)

O pensar e o sentir, nos dias de hoje, são fatores preponderantes para a consciência humana refletir sobre as práticas não mais condizentes com a necessidade:

[...] ponto de partida para a construção de uma organização mental e de consciência que eleve o homem a cimos intelectuais bem mais altos. Pensar e sentir, duas grandes dimensões da consciência humana que estão aviltadas (MAREJÓN apud MÁTTAR NETO, 1997, p. 12).

Considerando a dimensão da reflexão filosófica no âmbito da trilogia do sentir, pensar e agir, se faz imprescindível alcançar abordagens que primem em desenvolver uma amplitude de consciência participativa do processo de emancipação dos sujeitos envolvidos no processo educacional, assim, para Saviani (1982, p. 10) “[...] passar do senso comum à consciência filosófica significa passar de uma concepção fragmentária a uma concepção unitária, coerente, articulada, explícita, original, intencional, ativa e cultivada”.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, sugere propostas significativas para a educação do século XXI, tendo em vista a necessidade de enfrentar desafios de cunho social, ambiental, econômico dentre outros que terminam refletindo negativamente para o desenvolvimento e melhorias educacionais almejadas

SOBRE OS DIREITOS HUMANOS E ALGUNS DOS PRINCÍPIOS FILOSÓFICO-EDUCACIONAIS, CIENTÍFICOS E DOUTRINÁRIOS

Os desafios sociais contemporâneos denotam que precisamos tomar posturas mais concernentes para trabalharmos a educação, pois já é sabido por todos que a transgressão ou desobediência às Leis não promovem o ser humano à sua condição de pessoa humana, conforme ressaltado na

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Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que elege a educação como promoção da dignidade humana e tem como objetivo que:

[...] Cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. (MONDAINI, 2006, p. 149)

Dessa maneira, educar pressupõe responsabilizar-se e comprometer-se com o outro e consigo. Portanto, observemos a abordagem pragmática encontrando o conceito epistêmico de verdade da nossa contemporaneidade segundo Japiassu (1997, p. 14):

[...] O homem atual parece não acreditar mais numa Razão fundadora capaz de proporcionar-lhe uma base sólida permitindo-lhe formular uma visão da realidade [...] não acredita mais que os megarrelatos sejam capazes de fornecer um sentido à história e de legitimar os projetos políticos, sociais e econômicos. [...] E cada vez mais desconfiando do projeto desenvolvimentista, competitivista e funcionalista da modernidade, ele busca, além de uma nova concepção da razão e uma racionalidade pluralista, uma compreensão da vida humana não-objetivante, não-instrumental e não-logicista.

Devemos, ao mesmo tempo, conforme ressalta Batista e Silva (2009), refletir criticamente a respeito de uma prática educativa que possa contribuir para uma formação ético-humanística, em que a ênfase do respeito pelo outro auxilie no processo dialógico da busca do verdadeiro, do justo e do belo renunciando a todas as formas de violência e de coação presentes no planeta, uma vez que para a maioria das pessoas a dimensão existencial é considerada como um imperativo forte na vida do ser humano:

[...] As coisas e os animais são, enquanto o homem existe. Existência é justamente a vida (biológica) mais o seu sentido. Sentido que advém da linguagem, instauradora do humano, que advém da palavra, criadora da consciência reflexiva e do

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mundo. “No princípio era a palavra” (João, 1.1), diz o texto bíblico. Pela palavra se faz o mundo (DUARTE JÚNIOR, 2004, p. 20-22).

Vale salientar, além disso, que o papel da educação contemporânea reflete, segundo Pena-Vega, Almeida e Petraglia (2003), a gravidade dos efeitos da fragmentação do saber que, também, terminam influenciando o nosso sistema educacional, haja vista a reflexão seguinte:

[...] nosso sistema educacional ensinou-nos a isolar os objetos, separar os problemas, analisar, mas não a juntar. [...] A hiperespecialização impede que se veja o global (que ela fragmenta em parcelas), assim como o essencial (que ela dissolve). [...] nenhum problema particular pode ser formulado e pensado corretamente fora do seu contexto, e seu próprio contexto deve ser inserido mais e mais no contexto planetário global. Vimos particularmente no decorrer dos dez últimos anos, que todos os grandes problemas tornaram-se planetários: para pensar localmente é preciso também pensar globalmente (PENA-VEGA; ALMEIDA; PETRAGLIA, 2003, p. 149).

Temos as oito metas do milênio para buscar solucionar e/ou minimizar questões como: AIDS, mortandade infantil, questões de gênero, fome extrema, entre outros graves problemas sociais, econômicos, que assolam uma grande parcela da humanidade do planeta, exigindo dos países mais desenvolvidos uma tomada de posição para tais questões.

[...] mais de três quartos da população mundial vivem em países em desenvolvimento e se beneficiam de apenas 16% da riqueza mundial. Mais grave ainda, de acordo com estudos da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (CNUCED), o rendimento médio dos países menos avançados, que englobam ao todo 560 milhões de habitantes, está atualmente baixando. Seriam por habitante 300 dólares por ano, contra 906 dólares nos outros países em desenvolvimento e 21 598 dólares nos países industrializados. [...] Requerem-se novas aptidões e os sistemas educativos devem dar respostas a esta necessidade, não só assegurando os anos de escolarização ou de formação profissional estritamente necessário, mas formando cientistas inovadores

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e quadros técnicos de alto nível (DELORS, 2004, p. 70 e 71).

A construção ética contemporânea exige cada vez mais uma ação educacional que possa acompanhar essa crescente evolução tecnológica presente no mercado globalizado e extremamente competitivo, exigindo cada vez mais um desempenho de excelência, posturas flexíveis para uso da criatividade e resolução de problemas:

As constituições e as mudanças de paradigmas, assim como as transformações internas dos discursos – científicos ou outros – , não podem ser completamente compreendidas independentemente de seu contexto de produção. A idéia de contexto é dupla: em primeiro lugar o contexto se refere a práticas sociais que constituem o contexto de produção das teorias; em segundo lugar o contexto reenvia a práticas políticas que constituem o contexto de aplicação das teorias. A dimensão reflexiva consiste em inscrever nossa reflexão epistemológica neste duplo contexto (BERTEN, 2002, p. 10).

A vida é um todo indivisível. Comenta Costa (2010, p. 3) que “É dever do homem: pesquisar, analisar para compreender e praticar para evoluir”. Também ressalta o teórico que é fato a máxima de que:

No Universo nada vive isolado, portanto, de que nele tudo vive em relação – estas que implicam em ajuda mútua – sugere dentre outros fatos, de que os Seres humanos devem estar cada vez mais cônscios de que nós, o mundo e a humanidade somos um e o mesmo. (COSTA, 2010, prefácio).

Reside em tal reflexão motivo para que criemos maiores responsabilidades e critérios pedagógicos que busquem auxiliar de forma mais abrangente com propósito de uma educação integral, holística e transdisciplinar que possa auxiliar o processo de emancipação cidadã pela melhoria das condições de vida da nossa sociedade e do nosso planeta.

SOBRE OS DITAMES DA CONSCIÊNCIA – A OBEDIÊNCIA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUTIVOS FUNDAMENTAIS COM RELAÇÃO À EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS

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Refletindo filosoficamente sobre os valores éticos e morais, inicialmente com o Mestre Sócrates de Atenas (470/469-399 a. C.), conforme Reale (2003, p. 72): é o “[...] descobridor da essência do homem como “psyché” a partir de Platão (427-347), que fez dele o protagonista de quase todos os seus diálogos, tornou-se o símbolo da própria filosofia”. Já Platão tinha como concepção ética a dimensão da polis, cujo adjetivo politikós derivou a política, assim, a sua ética depende da sua concepção metafísica e “[...] tem como cume a Ideia do bem e sua doutrina da alma (...) a razão que contempla e quer racionalmente é a parte superior, e o apetite, relacionado com as necessidades corporais, é a inferior)” (VÀZQUEZ, 2004, p. 270).

Como contraponto da concepção acerca da ética platônica, o filósofo Aristóteles (384-322) de Estagira considera que em todo ser se deve distinguir o ato – manifestação atual do ser – o que já existe, e a potência – o que pode vir a ser – as possibilidades do ser. O seu exemplo clássico para ilustrar a sua ontologia é o da árvore, onde uma semente potencialmente já é uma árvore, bastando para isto atualizar-se (REALE, 2003).

Portanto, quando os problemas da moralidade e da educação são formulados dessa maneira, não somos capazes de desassociar o aprendizado acerca do aprender a ser e do conviver juntos (DELORS, 2004), tampouco deixar de lado o fato de que somos produto dos nossos sentimentos, pensamentos e atos a partir dos princípios que elegemos para dar sentido à vida como um todo.

Na dimensão da ética medieval, temos a configuração de uma dimensão da ética dogmática, onde a razão passa a ser serva da teologia e fica submetida à ação dos dogmas. Vàzquez (2004) chama atenção de que a sociedade medieval é marcada por uma grande desigualdade, bem como por uma impregnação religiosa da ética cristã.

Na Modernidade, encontramos na filosofia o problema acerca das possibilidades do conhecimento verdadeiro. Assim a teoria do

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Conhecimento Moderna2 tem como um dos principais expoentes o filósofo francês René Descartes (1596-1650). Na ciência temos a denominação crítica-reflexiva de “era cientificista”.

Desse modo, temos uma nova configuração educacional denominada de naturalista e antropocêntrica, já que ocorre o deslocamento da lógica teológica para a dimensão acerca do ser humano enquanto sujeito central das discussões:

[...] o homem adquire um valor pessoal, não só como ser espiritual, mas também como ser corpóreo, sensível, e não só como ser dotado de razão, mas também de vontade. Sua natureza não somente se revela na contemplação, mas também na ação. O homem afirma seu valor em todos os campos [...] Ao se transferir o centro de Deus para o homem, este acabará por apresentar-se como o absoluto, ou como o criador ou legislador em diferentes domínios, incluindo nestes a moral (VÀZQUEZ, 2004, p. 280).

No contexto dos debates atuais, no plano da reflexão internacional, no que tange a essas questões, podemos verificar que a Unesco, sob a responsabilidade de Delors (1999), vem contemplando tais perspectivas:

[...] a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda a vida, serão de algum modo para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer [...] aprender a fazer [...] aprender a viver juntos; finalmente aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes (DELORS, 2004, p. 89-90).

Nesse sentido, precisamos refletir que: “a ética contemporânea surge [...] numa época de contínuos progressos científicos e técnicos” e que o “[...] desenvolvimento das forças produtoras acabarão por questionar a própria existência da humanidade” (VÀZQUEZ, 2004, p. 284).

Por ora, se quisermos comprovar a edificação de um mundo de paz e ordem social, busquemos um estado de ser que possa tão somente ser em prol da construção de um novo saber acerca dos Ditames da Consciência. Experimentemos!

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando que a nossa preocupação focou a dimensão ético-humanística, verificamos que esse processo de conscientização de valores estreita a ligação entre a educação e a vida, uma vez que educamos para que se formem pessoas capazes de atuar no mundo conscientemente.

Por conseguinte, é importante, também, não só apontarmos quais são essas abordagens de valores, saberes e atitudes necessários para a transformação educacional aqui refletida, mas também colocá-las no cerne dessa discussão e praticar.

Nesse sentido, acreditamos que as contribuições das concepções teórico-metodológicas dos autores pesquisados, nos remetem para mais uma indagação: de que forma a ação educativa pode contribuir no processo de transformação do sujeito?

A presente pesquisa nos oportunizou analisar para compreender o quanto necessitamos nos esforçar desmedidamente para fundar uma educação capaz de enaltecer a pessoa humana. Igualmente nos oportunizou a pensar que a inobservância aos princípios que historicamente conduziram a conduta humana tende a levar-nos ao fracasso de toda ordem – individual e social –compreendido aqui como degradação dos valores humanos.

Por hora desejamos discernimento, razão e bom senso para refletirmos sobre o fato de que juntos somos mais fortes no exercício da nossa práxis educativa em prol da dignificação humana para a sua emancipação na condição de pessoa humana, consciente e ciente do seu papel enquanto cidadão planetário, contribuindo assim para o equilíbrio dinâmico e inconteste do universo em expansão: Salve, Salve Deus nas Alturas e Paz Na Terra os Homens de Boa Vontade!

REFERÊNCIAS

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BARRETO, Maribel Oliveira. Teoria e prática de uma Educação Integral. Salvador: Sathyarte, 2006.

BATISTA, Hildonice de Souza. SILVA, Norma Sueli Mendes Da. PRÁXIS PEDAGÓGICA E A FORMAÇÃO DE VALORES HUMANOS: UM OLHAR TRANSDISCIPLINAR NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES In: Anais do Seminário Nacional Educação e Pluralidade Sócio-Cultural: instituições, sujeitos e políticas públicas, Feira de Santana-Bahia: Universidade Estadual de Feira de Santana – Departamento de Educação – Área de Política Educacional. Centro de Estudos e Documentação em Educação – CEDE, 2009.

BERTEN, André. FILOSOFIA SOCIAL: A responsabilidade social do filósofo. Tradução de Márcio Antole de Souza Romeiro. São Paulo: Paulus, 2004. 140 p.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O QUE É EDUCAÇÃO. São Paulo: Brasiliense, 2005 (Coleção Primeiros Passos; 20) 115 p.

COSTA. Jair Tércio Cunha. ARCA DA LIDERANÇA II. Salvador-Ba: Editora Sathyarte, 2010, 263 p.

DELORS, Jacques (org.). Educação: um tesouro a descobrir. “Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. 9ª ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 1999.

________. Educação: um tesouro a descobrir. “Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. 9. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 2004.

DUARTE JÚNIOR, João-Francisco. O QUE É REALIDADE. 10. ed. São Paulo: Brasiliense, 2004. (Coleção Os Pensadores; 115), 103 p.

JAPIASSU, Hilton. UM DESAFIO À FILOSOFIA: PENSAR-SE NOS DIAS DE HOJE. São Paulo: Letras & Letras, 1997. 208 p.

MÁTTAR NETO, João Augusto. Filosofia e Administração. São Paulo: Makron Books, 1997.

MONDAINI, Marco. DIREITOS HUMANOS. São Paulo: Contexto, 2006.

MORIN, Edgar. Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. Tradução de Catarina Eleonora F. FDA Silva e Jeanne Sawaya. 8ª ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2003. 118 p.

PENA-VEGA. Alfredo, ALMEIDA. Cleide R. S. PETRAGLIA. Izabel (Orgs.). Edgar Morin: Ética, Cultura e Educação. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2003.

REALE. Giovanni. ANTISERE. Dario. História da Filosofia - Antiguidade e Idade Média - Volume I. São Paulo: Paulus, 2003.

SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica, 2. ed.

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São Paulo: Cortez Editora: Autores Associados, 1982.

SUNG, Jung Mo; SILVA, Josué Cândido da. Conversando sobre ética e sociedade. 13ª ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Tradução, João Dell’Anna. – 25ª ed. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.

Notas:1 Mestre em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social (CEPPEV-CAIRU). Especialista em Metodologia do Ensino, Pesquisa e Extensão em Educação (Universidade do Estado da Bahia - UNEB). Licenciada em Filosofia (Universidade Católica do Salvador - UCSAL). Coordenadora do Curso Latu Sensu de Metodologia do Ensino de Filosofia e Sociologia da Rede FTC. Educadora do Ensino Superior e em Pós Graduações. Publicações: Ensino de Filosofia nos Cursos de Administração: a dimensão ético-humanística para uma formação humano-profissional; Consciência Moral Habermasiana: contribuições para o desenvolvimento humano e responsabilidade social na formação professional; Práxis Pedagógica e a Formação de Valores Humanos: um olhar transdisciplinar na formação de professores. Contato: [email protected]

2 Disciplina filosófica também conhecida como epistemologia, surgida na Modernidade, e que tem por objeto a investigação e a problematização acerca do conhecimento ao longo dos períodos históricos.

4 FUNDAMENTO

EDUCAÇÃO INTEGRAL COMO BASE PARA O DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA

A PARTIR DOS VALORES HUMANOS

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INTEGRAL EDUCATION: TO CURRICULUM EDUCATION FOR HUMAN VALUES

Janelúcia Santos Farias1

Maribel Barreto

Resumo: O artigo teve como referência os capítulos I e II da dissertação de mestrado, com o título: Os múltiplos olhares sobre a implantação de uma disciplina voltada para Iniciação à Consciência no currículo do Ensino Fundamental: a opinião dos pais, educadores e educandos. Para tanto, indagamos: Qual a repercussão da implementação de uma disciplina voltada para a Iniciação à Consciência no currículo de uma escola de Ensino Fundamental? Discutimos neste artigo qual a importância do currículo voltado para os valores humanos, bem como a importância e contribuição da educação integral diante das competências, habilidades e atitudes que importam ser construídas no Ensino Fundamental.

Palavras-chave: Educação em Valores Humanos. Consciência. Educação Integral.

Abstract: The article was a reference to Chapters I and II of the dissertation, entitled: Multiple perspectives on the implementation of a discipline-oriented Introduction to Consciousness in the curriculum of elementary school: the views of parents, educators and students. For this, we ask: What is the impact of implementing a discipline focused on Initiation to Consciousness in the curriculum of a school of elementary school? This article we discuss the importance of curriculum which focused on human values as well as the importance and contribution of the integral education on the responsibilities, skills and attitudes that mind be built in Elementary Education.

Keywords: Education in Human Values . Consciousness. Integral Education.

INTRODUÇÃO

Vivemos importantes reformas na Educação Brasileira e de necessárias investigações, reflexões e pesquisas nas diversas áreas de atuação humana e produção de conhecimento. Enquanto educadora e discente-pesquisadora, identificamos, na cidade de Salvador, no bairro de Itapuã, uma instituição escolar de educação básica, que prima por

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desenvolver o indivíduo para a educação em valores humanos e cujo currículo insere a temática consciência através da disciplina Iniciação à Consciência, em função de sua proposta de educação integral.

Instituições de ensino superior, no Brasil, precisamente no estado da Bahia, também trabalham com a temática em questão. Como exemplo, temos a disciplina Conscienciologia que faz parte da grade curricular e vem sendo referenciada pelo mestrado da Fundação Visconde de Cairu como uma estratégia de mudar a formação dos educandos em prol do desenvolvimento humano e da responsabilidade social.

A escola pesquisada segue o mesmo caminho que este curso de formação superior empreende.

Segundo Janki (2003), apud organização Brahma Kumaris (2003), em tempos de crise de valores, especialmente na sociedade contemporânea, chegamos a um ponto em que reconhecemos a necessidade dos valores, na medida em que:

[...] Os valores promovem independência e liberdade, expandem a capacidade de sermos auto-suficientes e nos liberam de influências externas. O ser humano desenvolve a habilidade de discernir entre a verdade e de seguir o caminho da verdade. (JANKI apud KUMARIS 2003, p. 6)

Então, perguntamos: Qual o papel da escola na vida humana? Será transmitir conhecimento? E a melhor resposta é aquela que aponta o caminho do dinamismo, levando em consideração a conservação de uma cultura da comunidade na qual ele está inserido.

A transmissão do patrimônio cultural depende das condições sociais dos sujeitos, já que a atitude diante dos bens culturais, em geral, e da instituição escolar, em particular, é condicionada pelo capital cultural e por certo ethos2 transmitido pela família, que difere conforme as classes sociais.

Essa transmissão ocorre mais por vias indiretas que diretas, paulatinamente, de forma osmótica, isto é, sem a necessidade de um aprendizado metódico. É uma herança cultural, da qual o herdeiro

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dificilmente escapa, que a família transmite sendo uma combinação de propriedades (as mais variadas) e certo ethos, como explica Bourdieu (2002, p. 42): um “sistema de valores implícitos e profundamente interiorizados, que contribui para definir, entre outras coisas, as atitudes face ao capital cultural, a instituição escolar e os sistemas de ensino”.

A responsável por dar continuidade à transmissão cultural iniciada pela família é a ação pedagógica. Por isso, ao identificarmos a escola como principal instituição através da qual se mantêm e se legitimam os privilégios sociais, a abordagem de Bourdieu, neste domínio, é praticamente bipolarizada: a educação organizada e orientada tem lugar no seio da família ou na escola. Assim, o resto, segundo o teórico e sociólogo BOURDIEU (1979, p. 122), “são situações cotidianas, frutos do acaso” nós diríamos, de um processo de socialização espontâneo, e não necessariamente intencional, presente no cotidiano de todos os indivíduos.

Sendo assim, cabe-nos perguntar novamente: Qual é o papel da escola? Podemos responder: educar. Mas podemos ir mais longe: o papel da escola é, também, o de socializar, é apresentar ao sujeito uma maneira de sentir, pensar e agir, de acordo com certos objetivos estabelecidos pela sociedade e pela própria vida. Ainda nessa linha de raciocínio, não podemos conceber a escola sem que ela cumpra seu papel de promover a inserção social, inclusive no mercado de trabalho (DELORS, 1999).

Sabemos que a educação tem por finalidade desenvolver, em cada indivíduo, toda a perfeição de que ele seja capaz. “Este se desenvolve e se transforma continuamente, e a educação pode atuar na configuração da personalidade a partir de determinadas condições internas do indivíduo” (LIBÂNEO, 2001, p. 66).

Sobre isso, Barreto (2005, p. 63) confirma-nos que: “Somente um homem educado pela consciência de valores é que pode servir de pedra fundamental da harmonia social da paz mundial”.

A LDB 9394/96 vem nos apontar esse caminho explicativo, afirmando-nos que esta proposta supõe o desenvolvimento de todas as

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potencialidades humanas com equilíbrio entre os aspectos cognitivos, afetivos, psicomotores, espirituais e sociais.O que se quer discutir aqui é sobre uma educação que desenvolva o ser humano em todas as suas potencialidades, levando-se em consideração os aspectos físico, cognitivo, emocional e moral. Segundo Barreto (2007, p. 26):

O ser humano é multidimensional; manifesta-se através de facetas mais visíveis ou menos visíveis. A mais facilmente observável é sua dimensão objetiva, que se manifesta através do corpo físico-biológico. A menos observável e mais sutil é a sua dimensão subjetiva.

Sendo assim, há uma necessidade de uma nova educação que forme o ser humano enquanto sujeito de subjetividade, que aprende e que se constrói permanentemente. Nessa interface, mediado pela ética e por valores morais, busca-se uma educação que encoraje um ambiente transformador, crítico e que propicie o desenvolvimento de consciências.

Segundo esta autora (2007), o currículo da educação integral deve levar o estudante a analisar as suas próprias relações e ações, de forma que este tome consciência delas e desenvolva habilidades adequadas para, se necessário, as transformar. Com isso, se pretende superar a fragmentação que domina o pensamento analítico-cartesiano o qual caracteriza a cultura do mundo ocidental.

Consoante Yus (2002), a Educação Integral está baseada no princípio de interconexão, procurando também um equilíbrio dinâmico em situações de aprendizagem entre elementos, e considera todas as facetas da experiência humana; ou seja, não só o intelecto racional – como as responsabilidades de vocação e cidadania – mas também os aspectos físicos, emocionais, sociais, estéticos, criativos, intuitivos e espirituais, inatos da natureza do ser humano.

Para se empreender uma jornada de estudos e proposições sobre uma educação pautada em Valores Humanos, importa ter presente esta multidimensionalidade do ser humano. Isto se opõe à visão da ciência moderna que tratou o ser humano praticamente de forma unidimensional, a partir da cosmovisão decorrente da ciência

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experimental. E nós vivemos sob a égide das forças dessa cosmovisão sobre: o ser humano, sua vida e seu modo de ser.

EDUCAÇÃO INTEGRAL: DO CURRÍCULO À EDUCAÇÃO PARA VALORES HUMANOS

Assim, devidamente respaldadas pelas contribuições de Barreto (2005), Yus (2002) e Pereira (2000), chegamos à compreensão de que o problema atual não reside, efetivamente, na “educação”, mas sim na “forma como se pensa e se faz a educação”.

A forma como se pensa e se faz educação, efetivamente, se expressa a partir do currículo. Ele é o substrato da ação educativa que norteia nosso caminhar na escola. Sendo assim, apresentamos uma breve reflexão sobre o conceito, o significado e a importância do currículo na escola; bem como sobre a influência dos documentos legais, em sua composição, na escola atual; para, então, mostrarmos o nosso olhar sobre a necessidade de se implantar um currículo multirreferencial, que tenha por base não só os conhecimentos conceituais e factuais, mas também atitudes e valores, com a finalidade de se desenvolver uma Educação Integral.

Citando Ribeiro (1993), verificamos que o termo currículo não possui um sentido único, na medida em que se localiza, sim, com uma diversidade de definições e de conceitos, em função das perspectivas a serem adotadas. Por isso, ousamos, inclusive, afirmar que, desde o seu surgimento, em 1818, como título do livro de Bobbitt, The curriculum, o conceito de “currículo” é, provavelmente, um dos mais controversos de todos os que normalmente se encontram em qualquer análise disciplinar da educação. Conscientes da diversidade de definições e posicionamentos sobre currículo, para a reflexão da proposta de educação integral, apresentamos neste estudo, a dimensão conceitual de Zabala (1992), o qual define o currículo como:

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[...] o conjunto dos pressupostos de partida, das metas que se desejam alcançar e dos passos que se dão para as alcançar; é o conjunto dos conhecimentos, habilidades, atitudes, etc., que são considerados importantes para serem trabalhados na escola, ano após ano. E, supostamente, é a razão de cada uma dessas opções. (ZABALA, 1992, p. 12).

Currículo não é, portanto, uma área técnica, “ateórica” e apolítica na escola, encarregada de organizar o conhecimento escolar. Tampouco é aquele instrumento puro e neutro, sem intenções sociais, que procurava estudar os melhores procedimentos, métodos e técnicas de bem ensinar.

Ao adotarmos a definição de Zabala (1992), deixamos de lado o currículo fragmentado, disciplinar, linear, descontextualizado da vida do educando, o qual, há muito tempo, vem sendo questionado por educadores comprometidos com a educação. Neste sentido, é claro que, em pleno século XXI, a escola da atualidade necessita prementemente, de um currículo que: ofereça uma visão multidisciplinar dos conhecimentos; valorize outros tipos de inteligência, além da linguística, da lógico-matemática, da espacial; assim como faça uso de novas tecnologias e da comunicação entre os grupos, preparando o ser humano para uma sociedade de relações com muitas adversidades. Só assim a escola atenderia a uma proposta de Educação Integral.

Ao pensarmos em uma educação integral para o despertar da consciência como nosso principal objetivo enquanto educadores, torna-se necessário que busquemos um olhar sobre o tipo de currículo apresentado e seguido pela escola. Um currículo tradicional, interdisciplinar, transdisciplinar ou multidisciplinar? É o que analisaremos a seguir.

Entendemos que, para concretizarmos tal proposição, faz-se mister um currículo em conformidade com as afirmações de Fróes (1998), Zabala (1992), Pacheco (1996), dentre outros. Um currículo que permita a vivência profunda da perspectiva histórica e multidimensional do

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homem, reconhecendo-o como um sujeito físico, emocional, histórico, social, temporal.

Partindo desta premissa, os currículos da educação básica, principalmente, do ensino fundamental, no Brasil, no limiar de sua transição, deveriam estar inspirados no paradigma dos saberes da interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e da multirreferencialidade.

A interdisciplinaridade pode ser fecundante com o conceito de multirreferencialidade desenvolvido por Jacques Ardoíno e seu grupo de trabalho da Universidade de Vincennes, em Paris. Conforme é indicado pelo mesmo,

[..] o aparecimento da idéia da abordagem multirreferencial no âmbito das ciências humanas, e especialmente da educação, está diretamente relacionado com o reconhecimento da complexidade e da heterogeneidade que caracterizam as práticas sociais. (ARDOÍNO apud MARTINS, 2007, 86-87.)

Considerando que educar é integrar o homem consigo mesmo e com o todo de que faz parte, enfim com a vida, através das relações com coisas, pessoas, pensamentos, seres, bem como sentimentos, a prática educativa não poderia estar permeada por conhecimentos isolados, levando-se em consideração que o todo é uma unidade complexa.

O currículo multirreferencial é um currículo que está sempre em mudança e se construindo, através de várias referências, vários sujeitos, várias mídias, meios de comunicação, linguagens de expressão, que não ocorrem somente no espaço da escola e nem pelas metodologias pedagógicas determinadas pela escola (ARDOÍNO, 1988).

Neste momento, é importante salientar que estes saberes levam em consideração a cosmovisão, ou seja, visão do ser humano em sua totalidade. As contribuições do pensamento de Barreto (2006) nos oferecem indicadores significativos para compreendermos a formação integral do ser humano, acerca da visão de consciência, que permite compreender o significado de uma concepção de Educação Integral, pautada em uma proposta curricular inter e transdisciplinar, multirreferencial, com recorte para o trabalho com “Valores Humanos”.

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De modo que, neste contexto, a função da escola se estabelece na superação do modo fragmentado de conhecimento da realidade, que tem gerado conflitos nas práticas educativas, seja no âmbito familiar, na política, ou em outras facetas da vida humana.

Por isso, o papel dos profissionais em educação, particularmente do professor, é fundamental para o desenvolvimento integral do ser nesses aspectos. Primeiro, por seu papel de agente e mobilizador de opinião e de atitudes, fazendo da escola um espaço de reflexão essencial para a construção da cidadania e de um ser mais consciente.

Conforme Barreto: A educação escolar, além de se destinar à obtenção de títulos e/ou à conquista de um meio de vida, deve ir além disso, ou seja, deve assumir o propósito principal de ativar as qualidades divinas da sabedoria em ação, desapego e discernimento, que asseguram ao indivíduo o desenvolvimento das virtudes da paz, verdade e retidão. (BARRETO, 2006, p. 161)

Na perspectiva defendida neste trabalho, a escola deve promover a formação integral dos educandos em parceria com a família, por acreditarmos que uma das funções precípuas da escola é proporcionar um conjunto de práticas pré-estabelecidas, tendo o propósito de contribuir para que os educandos se apropriem de conteúdos sociais e culturais, crítica e construtivamente, considerando-se seus níveis físico, psíquico e moral, de acordo com sua capacidade, e levando-se em consideração a complexidade do sujeito.

Importa e acreditamos que, para a formação dos educandos, não basta mais o trabalho com os conteúdos e a consequente consolidação de suas aprendizagens que influenciarão sua formação moral. Sendo relevante a conduta dos educadores, sejam pais, professores, etc., que se encontram ao abrigo das categorias da moralidade. Estes, com o exemplo de sua conduta, fornecem aos educandos valores e modelos que, certamente, serão seguidos ou contestados.

A educação em valores é uma questão fundamental da sociedade atual, imersa numa rede complexa de situações e fenômenos que exige,

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a cada dia, intervenções sistemáticas e planejadas dos profissionais da educação escolar.

Na verdade, historicamente, a escola tem sido a instituição escolhida pelo Estado e pela família como o melhor lugar para o ensino-aprendizagem dos valores, de modo a cumprir, em se tratando de educação para a vida em sociedade, a finalidade do pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o mundo do trabalho.

Assim, embora todos os profissionais da escola se digam comprometidos com a temática, um rápido olhar sobre o currículo e a prática pedagógica da escola revela que estes temas ocupam um espaço irrelevante, pequeno, muitas vezes restrito a um recorte disciplinar ou, quando muito, a uma atividade transversal.

Reconhecida a importância da temática no momento atual, cabe-nos esclarecer os conceitos que utilizaremos a seguir, no decorrer deste artigo, para darmos sustentação ao que denominamos Educação Integral e à consequente compreensão da prática desenvolvida na Escola Ananda, nosso lócus de estudo.

Enquanto um dos objetos de estudo da filosofia, o valor tem diversas interpretações e se situa nos mais diversos campos da história. Seu conceito e seu sentido são relativos a uma corrente de pensamento e o momento sócio-histórico que se esteja vivendo. Adotamos os conceitos de Martinelli (1996) e Barreto (2006) que, a nosso ver, se complementam. Para a primeira, os valores humanos são princípios que fundamentam a consciência humana e estão presentes em todas as religiões e filosofias, independentemente da raça, da cultura ou sexo. Sobre isto diz:

Os valores humanos dignificam a conduta humana e ampliam a capacidade de percepção do ser como consciência luminosa que tem no pensamento e nos sentimentos sua manifestação palpável e aferível. Eles unificam e libertam as pessoas da pequenez do individualismo, enaltecem a condição humana e dissolvem preconceitos e diferenças. (MARTINELLI, 1999, p.17)

Já a segunda afirma que: [...] são posicionamentos de não-indiferença diante de tudo

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o que existe, sejam expressões do interior ou do exterior da realidade. No contexto dos valores, a palavra significa aquilo que se toma como ideal moral de vida. E, na vida humana, valor, do ponto de vista positivo, tem a ver com bem-estar e, do ponto de vista negativo, com mal-estar. (BARRETO, 2006, p. 128)

Ainda conforme nos afirma Barreto (2006, p. 128):A educação, portanto, deverá cumprir seu papel, buscando, através do foco na formação integral dos educandos, garantir condutas humanas éticas, não só no nível pré-pessoal ou pessoal, mas no transpessoal, através de práticas educativas que conduzam ao desenvolvimento dos três níveis de conhecimento que são: o sensório, o mental e o espiritual.

Pensar sobre atitudes, valores e normas nos leva imediatamente à questão do comportamento. Segundo os PCN’s (BRASIL, 1998, Vol.8), as atitudes, alvo da atenção educativa, são disposições pessoais que tendem a se expressar por meio de comportamentos. Entretanto, há de se considerar que inúmeros fatores interferem nessa expressão e que um determinado comportamento não reflete, necessariamente, a atitude de alguém.

Neste momento, sentimos a necessidade de enfatizar quais são esses valores humanos, indicando a direção que devemos seguir em prol da formação integral do indivíduo, através da qual este se torna um sujeito que vive e realiza as diversas dimensões e os diversos níveis do seu ser.

Vejamos que a própria Barreto (2006) nos fala que estar no mundo é posicionar-se e, portanto, assumir posicionamento valorativo. Nesta perspectiva, a autora nos faz entender que assumir uma posição de indiferença é uma contradição em si, o que implica em posicionamento axiológico. Assim, estando no mundo, é impossível não assumirmos um posicionamento valorativo, afinal, desde que nos colocamos no mundo, nós escolhemos.

Essas considerações são especialmente importantes na educação fundamental, já que os alunos estão conhecendo e construindo seus valores e sua capacidade de gerir o próprio comportamento a partir destes.

Incluir explicitamente o ensino de valores e o desenvolvimento de

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atitudes no trabalho escolar não significa, portanto, tomar como alvo, como instrumento e como medida da ação pedagógica, o controle de comportamento dos alunos, mas sim, intervir de forma permanente, reflexiva e sistemática no desenvolvimento das atitudes, sendo necessário acompanhar o processo dos alunos, de forma cuidadosa, para compreender seus comportamentos no contexto amplo do desenvolvimento moral e social.

A UNESCO, ao reunir a Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, a qual deu origem ao relatório “Educação: um tesouro a descobrir” (DELORS et al., 1996), reafirmou que:

[…] a educação deve contribuir para o desenvolvimento total integral do ser humano, isto é, espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético e ético, responsabilidade pessoal, social, espiritualidade. Cabendo à educação preparar não para a sociedade do presente, mas criar um referencial de valores e de meios para compreender e atuar em sociedades do futuro; significa que a educação tem como papel essencial “conferir a todos os seres humanos a liberdade de pensamento, discernimento, sentimentos e imaginação de que necessitam para desenvolver os seus talentos e permanecerem, tanto quanto possível, donos do seu próprio destino”. (DELORS et al., 1996, p.102)

Na busca de uma educação integral, pautada em valores humanos, no aprender a ser e nos conteúdos atitudinais, existe um trabalho voltado para os valores humanos, que é o Programa de “Educação em Valores Humanos” (PEVH), baseado na proposta de Sathya Sai Baba, que trabalha, basicamente, em função de cinco valores absolutos, sendo que, a cada valor absoluto espiritual, há valores relativos correspondentes, que, exercitados, aprimoram a personalidade e fortalecem o caráter. Como resultado, dimensionam o papel da escola com os alunos e com a comunidade, no que tange às questões de violência, uso de drogas e demais mazelas sociais hoje tão presentes em nossas sociedades.

A Educação Integral fundamentada em Valores Humanos tem por finalidade a formação do caráter e parece inspirar outra maneira de ver as coisas em ciência, filosofia e religião, na medida em que ela lida, ao mesmo tempo, com os diversos níveis e as multidimensões do ser humano.

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Esses valores absolutos, conforme Sai Baba (2000), são os reais, pois são imutáveis e estão presentes em todas as sociedades e culturas. Vejamos o que significa cada um desses valores absolutos mencionados por Martinelli:

[...] A verdade é eterna e imutável; o que varia é a nossa capacidade de percebê-la e vivenciá-la. A verdade relativa é mutável, percebida por meio dos sentidos físicos e representada pelo que vê e sente, emite julgamentos. A ação-correta, em termos absolutos, é o pulsar da energia harmoniosa da lei cósmica eterna. A ação correta se manifesta pela sincronia entre os ritmos interiores com os ritmos exteriores. Agir corretamente é colocar o amor na ação consciente. Amor é a força de criação, coesão e sustentação da vida, revela nosso ser essencial, sagrado e sublime, permitindo que conheçamos a realidade além da forma. A Paz é a base da felicidade humana, a harmonia entre os níveis racional, emocional, intelectual e espiritual que nos aproxima da alma. Não-violência, todos os demais valores estão contidos neste valor, é a meta da consciência, a perfeição humana. Representa a soberania do espírito sobre a matéria, significa infundir diretamente no ambiente físico e no âmbito de ação pessoal a conexão com a alma e a prática dos valores humanos. (MARTINELLI, 1999, p. 20)

Barreto ainda ressalta que:A finalidade da Educação fundamentada em Valores Humanos, como já visto, é a de favorecer o desenvolvimento das habilidades intelectuais e virtuosas dos educandos, auxiliando-os na elevação do pensamento e do espírito para a busca de unidade, a partir das relações que estabelece com as pessoas e com o todo do qual faz parte. (BARRETO, 2006, p.169).

Além disso, a concepção educacional do Programa de Educação em Valores Humanos (PEVH) defende que o trabalho integrado desses valores promove o desenvolvimento humano de forma ética e consciente, despertando, além da sua cognição, técnicas sociais e humanas, bem como o dever moral e social para a construção de uma sociedade mais justa e equilibrada.

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As experiências pedagógicas dentro do Programa de Educação em Valores Humanos têm como modelo uma escola situada no estado do Paraná, porém, além dessa, existem outras escolas com as atividades voltadas para a implantação da metodologia do Programa de Educação em Valores Humanos nos níveis de Educação Infantil e Ensino Fundamental, na rede particular de ensino da cidade de Salvador, incluindo, ainda, iniciativas de expansão do referido Programa, tais como a formação de núcleos de estudos e pesquisas sobre a Educação em Valores Humanos, bem como a divulgação da filosofia fundamentada em valores humanos em organizações particulares, a exemplo, da tecnologia social33 Tecnologia Social é sinônimo de melhoria de todo produto, método, processo ou técnica criados para solucionar algum tipo de problema social e que atendam aos quesitos de simplicidade, baixo custo, fácil aplicabilidade e impacto social comprovado.

Esses valores não podem ser encarados como metas a serem atingidas, mas como a expressão de qualidades divinas que são constituídas em cada ser humano, esperando somente o momento para poderem se manifestar. Desta forma, o ser humano assume um dever para consigo mesmo: pesquisar e compreender as manifestações da vida que dêem suporte para evoluir, a fim de que possa, vagarosamente, conhecer, aproximar e se identificar com a sua Unidade Cósmica.

Portanto, a educação em valores humanos deve liberar as capacidades do nível físico, mental, emocional, intelectual, intuitivo e espiritual da personalidade humana, fomentando uma ética diferenciada, expressa através de nossas ações e que nos torna seres humanos plenos e conscientes do nosso poder de transformar a sociedade pela autotransformação.

Sendo assim a Educação em Valores Humanos vem nos propor educar de forma que os educandos possam ser colocados como sujeitos-autores de sua realidade, reconhecendo sua dimensão histórica, e como sujeitos de direitos e deveres; sujeitos que cumpram os princípios de liberdade e igualdade sociais, através de uma atuação que favoreça o desenvolvimento de competências culturais, existenciais, cognitivas e morais.

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Notas:1 Mestre (a) em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social (Visconde de Cairu), Especialista Docencia para o ensino Superior, Pedagogia (UNEB). E-mail: [email protected] Sistema de valores.3 Tecnologia Social é sinônimo de melhoria de todo produto, método, processo ou técnica criados para solucionar algum tipo de problema social e que atendam aos quesitos de simplicidade, baixo custo, fácil aplicabilidade e impacto social comprovado.

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5 MÉTODO

GESTÃO COM CONSCIÊNCIA

MANAGEMENT WITH CONSCIOUSNESS

Maria Angélica Vieira1

Maribel Barreto

Resumo: O presente artigo tem como objetivo proporcionar ao leitor reflexões acerca da consciência, do seu despertar e da aliança necessária com a Gestão Organizacional para a Humanização nas Organizações. Neste novo milênio, considerado por Sharp (2000) a Era do SER, em que há o despontar do Paradigma Holístico, a busca por amorosidade e transparência nas relações, bem como por reconhecimento e autorrealização, por parte dos colaboradores, é constante e urgente nas Organizações. Para que estas necessidades sejam atendidas, necessário se faz que os Gestores estejam despertos para os aspectos subjetivos de seus colaboradores. Assim, urge o despertar de consciência do Gestor para que, refletindo sobre a sua práxis, estabeleça uma aliança entre a gestão e o desenvolvimento de sua consciência, para humanizar a Gestão Organizacional. Para lastrear este trabalho, realizamos uma pesquisa bibliográfica que contempla os seguintes autores: Wilber (1979, 1998), Batà (1976, 1997), Barreto (2006), Besant (1995), Biase (2004), Goswami (2004), Capra (2002), Ferguson (1980), Aktouf (1996), Vergara (2000), dentre outros que, através de suas ideias, nos favoreceram na construção do conhecimento acerca da temática proposta. Consideramos que é premente o Despertar de Consciência dos gestores para pensar, sentir e agir tendo como objetivo a Humanização nas Organizações.

Palavras-chave: Consciência. Gestão. Humanização da Gestão.

Abstract: The purpose of the article is to favor the reader with reflections about the consciousness of his awaken and alliance with Organization Management for the Humanity in Organizations. In this new millennium, considered by Sharp (2000) the being’s age, that have the appeared of Holistic Paradigm, the search for lovingness and transparent relationships, recognition and self-realization by employees is persistent and imperious. For that the necessities are answered, the managers have been awake for the subjective aspects of his employees. So the awake of consciousness of managers is necessary for make an alliance between Management and Consciousness

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Development for humanize the Organization Management. For to base this article we made a bibliographic search that include the following authors: Wilber (1979, 1998), Batà (1976, 1997), Barreto(2006), Besant (1995), Biase (2004), Goswami (2004), Capra (2002), Ferguson (1980), Aktouf (1996), Vergara (2000), that by their ideas help us on building knowledge by proposed theme. We consider that is urgent the consciousness awake of the Managers for to think, to feel and to act for the Humanization in the Organizations.

Keywords: Consciousness. Management. Management’s Humanization.

INTRODUÇÃO

O presente artigo é escrito em uma época denominada por Sharp (2000) como “Era do Ser”, também caracterizada como “Era do Conhecimento”, “da Informação”, “da Cooperação”, “da Comunicação”, num momento em que os interesses da sociedade se voltam para a valorização do ser humano, como ser multidimensional e complexo. Deste modo, a subjetividade, tão esquecida pela sociedade industrial e pelo paradigma cartesiano-newtoniano, está ressurgindo graças a uma nova visão de mundo proporcionada pela Física Quântica, ciência que, segundo Capra (2002), Ferguson (1980), Sharp (2000), e tantos outros autores têm modificado os conceitos de realidade e de natureza humana, reconciliando a espiritualidade oriental e o pragmatismo ocidental.

Nos últimos séculos, tal dimensão — o lado subjetivo do ser — foi esquecida em razão da primazia do paradigma vigente (FERGUSON, 1980), lastreado em uma ciência monológica (WILBER, 1998) que Capra (2002) denominou de instrumental, determinada a dominar o conjunto de crenças, ideias e valores religiosos, filosóficos e científicos, mediante o qual o grupo social concebe e entende a realidade.

Para Ferguson (1980), esse novo paradigma surge calcado no pensamento sistêmico, na visão do todo, conhecida por muitos como visão holística, em que o ser humano tem o seu olhar ampliado com relação ao objeto, ou seja, busca enxergar o outro na sua totalidade e não em partes separadas. Para Capra (2002), Ferguson (1980), Sharp (2000), e tantos outros, esta nova visão de mundo deve permear as organizações, a gestão, de modo que o ser seja priorizado. No entanto, no âmbito organizacional, os reflexos do esquecimento da subjetividade

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são visíveis. Para Aktouf (1996) e Vergara (2000), as Organizações com ou sem fins lucrativos, sustentáculos da sociedade, uma vez que, para as pessoas são a fonte de satisfação das suas necessidades, vêm sustentando o paradigma mecanicista do racionalismo instrumental.

Concordamos com os estudiosos que trazem a temática, que não é recente, da humanização da gestão nas organizações, que um novo paradigma deve ser cultivado pelos administradores nas empresas, para que uma gestão humanizada aconteça e conteúdos internos como sentimentos, amor e paz passem a fazer parte da prioridade nas organizações.

Portanto, neste trabalho, convidamos autores como Aktouf (1996), Capra (1975, 1982, 2002), Ferguson (1980), Vergara (2000), Wilber (1979, 1998), entre outros, que há muito tentam despertar os administradores, por meio de livros e pesquisas, para a necessidade do cultivar a subjetividade do ser humano, os valores, as atitudes humanizadas, resgatando a espiritualidade nas ações humanas, temas que, no século passado, foram relegados a segundo plano pelo materialismo científico.

Dialogaremos com eles a respeito da consciência e do seu despertar e da aliança necessária entre Gestão e Consciência para a Humanização da Gestão nas Organizações.

REFLEXÕES SOBRE A CONSCIÊNCIA E O SEU DESPERTAR

Partindo da nova visão que a Física Quântica descortina para a humanidade, das interpretações de Wilber (1979, 1998), Batà (1976, 1997), Barreto (2006), Besant (1995), Biase (2004), Goswami (2004) dentre outros, e tendo como lastro a experiência pessoal, da qual estudos acerca da consciência sempre fez parte, buscaremos dialogar a respeito da consciência e do seu despertar, do seu significado e da importância do seu reconhecimento para a evolução do ser humano integral em um momento de grandes transformações, assim como para

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a humanização da gestão nas organizações.

Segundo Barreto (2006) os estudos sobre a Consciência são de grande valia para a época atual, em que o ser humano deve ser valorizado nas suas múltiplas dimensões — física, mental, emocional e espiritual — em que o ser tende a sobrepujar o ter. Falar sobre consciência é tocar em algo que não pode ser sentido, nem medido, nem tampouco definido com precisão, haja vista cada estudioso ter a sua própria definição, a sua visão particular a respeito do que vem a ser a consciência. Portanto, estudiosos de cada área do conhecimento podem nos presentear com uma definição que nos ajude a refletir sobre o significado da consciência.

A nossa consciência nos permite sentir, pensar e agir de acordo com a moralidade, com o equilíbrio universal, com a ética. A consciência do homem, à medida que se expande e se desenvolve, favorece-o com um maior discernimento, com atitudes equilibradas e mais amorosas, com um ritmo de vida que proporcione ao ambiente em que esteja, bem-estar, harmonia, respeito mútuo, alegria, compreensão. (BARRETO, 2005)

Para Goswami (2004, p. 275), físico quântico que busca correlacionar espiritualidade e ciência, criador de uma teoria quântica da consciência, “[...] a consciência é a base de todo ser, ela é o absoluto [...] ela é a posição de vedanta, ela é a posição de toda a tradição mística.” Segundo o autor, como a consciência é a base de todo o ser, ela não pode ser definida em termos lógicos, e sim sentida, intuída. Goswami (2004, p. 275) afirma: “[...] um bom definidor da consciência, como você sabem, os místicos, eles nunca irão tentar definir consciência para vocês; eles dirão medite e descubra.”

Tais reflexões de um físico nos alegra bastante, haja vista a grande possibilidade de conduzir a humanidade para um novo modo de enxergar o mundo, de estudar a consciência não apenas por um prisma biológico ou atrelada aos processos cerebrais. De mostrar novas maneiras de conceber a consciência, o universo, o ser humano.

Concordando com o pensamento de Goswami (2004), Grof (2004,

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p. 273), psiquiatra, um dos pais da psicologia transpessoal, afirma: “[...] a consciência é uma espécie de fenômeno primário da existência [...] Para mim, portanto, é o mistério final. É aquela coisa totalmente irredutível da qual toda existência, de alguma forma, se origina.”

Consoante Besant (1995) a consciência está presente na vida de todo ser humano, tanto de forma una, como múltipla. Una, quando falamos de uma Consciência Absoluta, que sustenta e equilibra o Universo. Consciência Absoluta, a Perfeição, o Equilíbrio Universal, o Todo, o Eterno, o Infinito, o Imutável, Consciência Universal, o Brahman dos Hindus, o Deus dos Cristãos, o Alá dos Mulçumanos, Olorum dos Africanos de tradição Ketu, Zambi dos Africanos de tradição Angola, que se manifesta no tempo, espaço e em todas as formas existentes neles em sucessão e localização. Quando falamos de forma múltipla, trata-se da consciência individualizada, que todos ser humano possui e que o direciona na vida, para que esteja sempre em equilíbrio com o Todo universal.

Outros entendem consciência como compreensão de alguma coisa, ou como uma voz que nos fala no íntimo de cada um de nós. Estes a entendem como a capacidade de perceber as modificações psíquicas, os sentimentos, os erros, os acertos no que diz respeito aos valores morais.

Compreendemos consciência como um raio de luz, oriunda da luz universal, que brilha no interior de cada um de nós e que nos sinaliza quando os nossos sentir, pensar e agir não estão de acordo com o equilíbrio universal, que nos favorece com a paz, com a harmonia, com o amor, com a vida.

Segundo Batà (1976) a consciência é um estado interior de conhecimento que incide em uma transformação, tendo, portanto, vários níveis e graus. Então, na sua caminhada evolutiva, o ser humano, a cada nova experiência, a cada novo conhecimento adquirido, seja intelectual ou empírico, está a ampliar o espectro desta luz a que chamamos consciência; está a transcender para níveis mais elevados

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de consciência. Mas, de forma consciente, ele precisa buscar novos conhecimentos e experiências que o auxiliem a desenvolvê-la, a despertá-la, para que possa harmonizar-se com o Todo.

Para Wilber (1979), a consciência compõe-se de vários níveis, denominados de espectro da consciência, nesta ordem: nível da persona, nível do ego, nível do organismo total, nível da consciência da unidade.

Os níveis de consciência são separados por uma linha imaginária que Wilber (1979) denomina de linha limítrofe. Esta linha separa o eu do não-eu, o interno do externo, o eu dos aspectos exteriores, que são determinados por esta linha limítrofe ou linhas que estabelecem os limites entre o eu e o meu. À medida que o ser humano move e amplia a linha limítrofe no espectro da consciência, inclui e transcende os próximos níveis de consciência até chegar ao nível da consciência da unidade.

Atualmente, diante de tantas respostas prontas, precisamos aprender a fazer a pergunta certa: “Quem sou eu?”. E este questionamento é de fundamental importância para que o ser humano saia da zona de conforto, para que alargue as suas linhas limítrofes e abandone a atitude de cansaço perante a vida, de insatisfação, de rebelião, de incapacidade de encontrar um sentido para a vida. Ou se, por outro lado, for levado à contínua busca de prazer, que abandone conceitos de que viver é apenas gozar, provar sensações, fazer experiências agradáveis, procurar a felicidade, entendida no sentido mais exterior e materialista.

Que tal pergunta incite o indivíduo a compreender a vida como uma contínua ascensão para estados sempre mais profundos de consciência, na ânsia de aperfeiçoar-se, de progredir, de realizar-se em toda a plenitude. Que o ajude a compreender que viver é amadurecer, crescer, procurar a Verdade, um caminho difícil, porém estimulante para a descoberta de si mesmo (WILBER, 1979).

Observamos que uma grande maioria de seres humanos ainda não tem esta consciência desperta neste nível da unidade; encontra-se ainda no nível da persona, sem sequer admitir a sua sombra. Muitos

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deles encontram-se nas Organizações assumindo cargos de Liderança.

Compreendemos que tal estágio evolutivo, da grande maioria das pessoas, seja fruto de uma educação cartesiana, dual, mecanicista, materialista, que favorece, no meio em que vive, as disputas, a inveja, o ciúme, a competição desleal, toda sorte de assédio, principalmente o moral. Eis porque, como diz Wilber (1998), urge o despertar das consciências, para que haja uma vivência natural e equitativa do bem, da verdade e do belo.

O despertar da consciência do ser humano é, para Batà (1976), um processo lento, que envolve transformações, mudanças, novos conhecimentos, limites e sofrimentos, inquietações, reflexões, disposição e coragem para dizer sim ao que precisa ser mudado.

Nem sempre as ações, os pensamentos e os sentimentos dos seres humanos são aqueles que constroem, que se preocupam com o outro, muitas vezes porque tais reflexões a respeito do outro, da necessidade de prezar e cuidar ainda não tenha feito parte do seu modus vivendi, ou por causa de uma educação que negligenciou tais valores, ou por ser a criatura muito centrada em si mesma. Enfim, as causas são variadas, o que importa é deixar claro que se tal pessoa age assim na sua vida é porque ainda não sente a necessidade de mudar de comportamento ou porque ainda não foi despertada para tal premência, haja vista a sua responsabilidade para com o Todo, que também o seu nível de consciência não permite conhecer.

O que despertaria esta pessoa para importância do cuidar, do sentir-se corresponsável com a criação, com o Universo? Para que esta criatura mudasse o seu comportamento nesta sua caminhada, alguns estímulos serviriam para que o ser iniciasse o seu processo de reflexão sobre a vida. Para uns o sofrimento físico, para outros o sofrimento moral, para aqueloutros o conhecimento acadêmico, os feedbacks nas relações interpessoais ou o conhecimento empírico advindo de exemplos de outras pessoas, ou até mesmo da sua própria vida. Diríamos que tais estímulos seriam o início de uma trajetória rumo ao despertar de

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consciências.

Entendemos que o despertar de consciência se dá quando há uma mudança na vida do ser humano, tanto no que tange ao nível das suas reflexões acerca da vida, como pela necessidade que sente de mudar o seu comportamento perante si mesmo, o outro, a vida.

GESTÃO HUMANIZADA E CONSCIÊNCIA: UMA ALIANÇA NECESSÁRIA

De acordo com Wilber (1998) e Capra (1982), a cultura ocidental, na qual a maior parte dos seres humanos está inserida e foi educada, legou-lhes uma visão de mundo dual, limitadora, cartesiana, reducionista. Capra (2002) ressalta a dificuldade de o ser humano observar o Universo como um Todo interdependente, como uma teia de relações que se estabelece desde o micromundo dos processos subatômicos ao macromundo da astrofísica. O homem que possui a visão cartesiana não atenta para a necessidade de correlacionar-se com o outro, de ajudar o outro para que seja ajudado, de se sentir responsável e comprometido com tudo o que o cerca (CAPRA, 2002).

Capra (2002), Ferguson (1980) e Wilber (1979) ressaltam a tendência de que o ser humano não se sinta responsável por tudo o que esteja fora dos limites estabelecidos pela sua percepção e tenha sempre o seu olhar voltado para fora, para o exterior, para o outro, para não correr o risco de ser ameaçado ou ter os seus limites invadidos.

Para Capra (1982), Ferguson (1980), Wilber (1998) e outros, a visão reducionista induziu o homem a compreender tudo o que pudesse ser fracionado, dividido. Daí o seu comportamento de indiferença, de não inclusão, de separação frente ao seu semelhante; daí a sua atitude para consigo mesmo, de priorizar aspectos externos ao ser (dimensão física), esquecendo-se das dimensões mental, emocional e espiritual (WILBER, 1998).

Segundo Biase (2004, p. 8):

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Encontramo-nos neste início de milênio, em um ponto de mutação da cultura ocidental, em que os pilares da ciência acadêmica do século XX, tais como a física newtoniana e a neurociência mecanicística do funcionamento cerebral e da consciência, estão sendo minados por uma moderna ciência holística de natureza sistêmica, quântica, não reducionista, que vem solucionando o antigo dualismo cartesiano que separou mente e matéria, e homem e universo.

Sob a égide desta nova visão de mundo, estaremos construindo uma teia de relações lastreadas no amor, na solidariedade e na compaixão, que possibilite, principalmente no ambiente organizacional, o desenvolvimento humano. Para que haja o desenvolvimento humano nas organizações, é preciso que os gestores relacionem-se consigo mesmos e com os outros, integrando mente e espírito.

Para Goswami2 (2003) o núcleo desta nova visão de mundo, ou melhor, deste novo paradigma, é o reconhecimento de que a ciência moderna confirma uma ideia antiga — a ideia de que a consciência, e não a matéria é o substrato de tudo que existe. É a visão de mundo holística, que a física quântica está nos legando. Esta nova visão sobrepujará a tradicional e favorecerá as organizações com uma nova maneira de pensar o ser humano, humanizando a gestão.

Mas, para que tal visão de mundo permeie as organizações, é preciso que as pessoas que a compõem, principalmente os gestores, tenham a consciência desperta para tal. É preciso que sintam a necessidade de mudanças de paradigmas, de renovação das ideias, para criar e sustentar um ambiente de trabalho mais harmônico, mais coeso, mais criativo, mais humano.

Segundo Vergara (2000), no âmbito das Organizações, a necessidade de mudar já é sentida no que se refere às relações com as pessoas, à qualidade de vida no trabalho, à espiritualidade, enfim, à humanização da gestão.

Ao falarmos de consciência, falamos de pessoas, de grupos, de organizações, de gestão. Neste sentido, o despertamento das suas consciências, para níveis mais profundos promoverá também

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a transformação do modus vivendi das organizações, tornando as suas relações mais humanas. Pois não mais estarão preocupadas apenas consigo mesmas, mas com o Todo, uma vez que passarão a entender que os seus pensamentos, sentimentos e ações influenciam o próximo, já que vivem em uma teia de relações em sincronia com a Unidade.

Segundo Aktouf (1996, p. 242): Este movimento por maior humanidade na empresa não é nem um ideal romântico, nem um ato de filantropia gratuita, nem uma utopia, mas uma necessidade. Felizmente, esta necessidade já se faz sentida nas organizações, mesmo que de forma velada, restando, obviamente, àqueles que comungam deste pensamento, colocá-lo em prática.

Concordamos com o autor citado, quando afirma que este movimento para a humanização da gestão não se constitui em algo inalcançável, nem tampouco é pieguice ou sonho. Trata-se de um movimento palpável, possível, importantíssimo para a vida das organizações e para o ser humano que emprega a maior parte do seu tempo a trabalhar para o progresso delas.

Consideramos a humanização nas organizações uma questão de consciência do dever, de responsabilidade social, de respeito ao próximo, de comunhão com as nossas consciências e com a Consciência Absoluta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A física quântica favorece o ser humano com uma nova visão de mundo lastreada no Paradigma Holístico. Através da lente holística o SER pode apreender o Todo, bem como as suas interrelações, sendo ao mesmo tempo cocriador do universo de possibilidades do qual faz parte.

No “mundo” das Organizações eis a necessidade urgente do despertar de consciências dos gestores para que possam promover a humanização nas organizações, estando, portanto em consonância com

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os movimentos universais de transformação e evolução.

Compreendemos que urge o despertar de consciência do gestor para essa nova visão de mundo, a Visão Holística, que lhe favorecerá com uma percepção mais acurada do TODO, bem como da subjetividade e necessidades dos colaboradores. É necessário que o gestor esteja consciente de que o ser humano vive interconectado, de que a influência que exerce na subjetividade dos outros é real e que pode ser construtiva ou destrutiva, que os seus pensamentos, quando direcionados, realizam prodígios e que os bons sentimentos, principalmente o amor, são capazes de criar ambientes mais humanizados, produtivos e saudáveis.

Compreendemos que o movimento pela humanização das organizações requer coragem e determinação por parte dos gestores, bem como pensamento sistêmico, visão holística para que possa ouvir o inaudível, ouvir a alma das pessoas, suas reais necessidades e desejos.

Portanto torna-se necessário que a coragem faça parte do cotidiano do gestor. A coragem de fazer diferente, de inovar, de falar de amor nas organizações, de espiritualidade, de relações interpessoais saudáveis, de valores morais, de consciência. Ter coragem é agir com o coração, para que sempre se esteja em paz com a consciência. Neste sentido, a prioridade é fazer acontecer a humanização nas Organizações através de uma Gestão com Consciência.

REFERÊNCIASAKTOUF, Omar. A administração entre a tradição e a renovação. São Paulo: Atlas, 1996.

BARRETO, Maribel Oliveira. O papel da consciência em face aos desafios atuais da educação. Salvador: Sathyarte, 2005.

______. Consciência e educação. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM. p.1-18.

BATÀ, Ângela Maria La Sala. O desenvolvimento da consciência. São Paulo: Pensamento, 1976.

______. O espaço interior do homem. São Paulo: Pensamento, 1997.

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BARRETO, Maribel. Os Ditames da

BESANT, Annie. Um estudo sobre a consciência – uma contribuição à Psicologia. São Paulo: Pensamento, 1995.

BIASE, Francisco Di. Apresentação – Ciência e consciência na Era da Informação. In: AMOROSO, Richard L.; BIASE, Francisco Di (Orgs.). A revolução da consciência: novas descobertas sobre a mente no século XXI. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004, p.7-10.

CAPRA, Fritjof. O Tao da Física. São Paulo: Cultrix, 1975.

______. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix, 1982.

______. Conexões ocultas. São Paulo: Cultrix, 2002.

FERGUSON, Marilyn. A conspiração aquariana. Rio de Janeiro: Record, 1980.

GOSWAMI, Amit. O universo autoconsciente – como a consciência cria o mundo material. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2003.

GROF, Stanislav. A ciência e o primado da consciência. In: AMOROSO, Richard L.; BIASE, Francisco Di (Orgs.). A revolução da consciência: novas descobertas sobre a mente no século XXI. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004, p. 271-296.

SHARP, Anna. A empresa na era do ser. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

VERGARA, Sylvia Constant. Gestão de pessoas. São Paulo: Atlas, 2000.

WILBER, Ken. A consciência sem fronteiras. São Paulo: Cultrix, 1979.

______. A união da alma e dos sentidos – integrando ciência e religião. São Paulo: Cultrix, 1998.

Notas:1 Business, Executive, Professional &Self Coach - IBC. Mestre em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social, Especialista em Relações Públicas, Especialista em Psicologia da Educação, Graduada em Administração de Empresas, com formação em Dinâmica dos Grupos - SBDG (Sociedade Brasileira de Dinâmica dos Grupos). Docente de disciplinas como Gestão de Pessoas, Psicologia Organizacional, Aprendizagem e Criatividade, Modelos de Gestão Organizacional, Liderança e Coaching, dentre outras, em cursos de Graduação e Pós-Graduação. Tem como foco o Desenvolvimento Humano; A Subjetividade nas Organizações; Gestão Humanizada. Possui a Missão de ajudar ao ser humano acessar o seu potencial infinito latente, favorecendo o seu autoconhecimento, a sua autoconsciência, o seu autodesenvolvimento, e a sua transformação pessoal, para que obtenha resultados extraordinários em sua vida pessoal e profissional. Desenvolve estudos na área do Desenvolvimento Humano: Consciência; Espiritualidade nas Empresas; Gestão com Pessoas; Humanização da Gestão; Comportamento Organizacional; Relações Interpessoais e Intrapessoais; Competências Comportamentais; Inteligência Emocional e Espiritual; Gerenciamento Quântico; Criatividade, Aprendizagem e Inovação nas Organizações; Autoconhecimento; T&D, Dinâmica dos Grupos; Psicodrama; Constelação Sistêmica; Motivação; Liderança; Coaching e PNL. Atualmente trabalho como Coach e Analista Comportamental de Pessoas e Empresas; e como Docente na UNIJORGE - Centro Universitário Jorge Amado. Contato: angelicavieiradh.blogspot.com / [email protected].

2 “[...] um dos mais importantes físicos da atualidade e um dos poucos que penetrou fundo na

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espiritualidade humana [...] Ph.D., é professor titular de Física Quântica no Instituto de Física Teórica da Universidade de Óregon e autor de numerosos textos científicos.” (GOSWAMI, 2003, capa).

6 RECURSOS

CONSCIÊNCIA, EDUCAÇÃO E VIOLÊNCIA ESCOLAR

CONSCIENCE, EDUCATION AND SCHOOL VIOLENCE

Ana Paula Amorim1

Maribel Barreto

Resumo: O presente artigo versa sobre consciência, educação e violência escolar, fazendo um paralelo entre esses três temas, evidenciando o papel da consciência no contexto da violência no ambiente escolar. Apresenta breve reflexões sobre o papel da consciência e seus desdobramentos no ser humano e na sociedade; e traz alguns dos principais estudos sobre a violência escolar e seus fatores geradores, no sentido de evidenciar a importância do despertamento da consciência para a diminuição, contenção e/ou extinção da violência escolar.

Palavras-chaves: Consciência. Educação. Violência Escolar.

Abstract: This article focuses on awareness, education and school violence, drawing a parallel between these three themes, highlighting the role of consciousness in the context of violence in the school environment. Presents brief reflections on the role of consciousness and its consequences in humans and society, and brings some of the major studies on school violence and its generating factors, in order to reveal the importance of the awakening of consciousness to the reduction, containment and / or termination of school violence.

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Keywords: Consciousness. Education. School Violence.

INTRODUÇÃO

A violência nas escolas é hoje um fenômeno real, que na atualidade entrou inexoravelmente na agenda política da nação. A miséria, o desemprego, as desigualdades sociais, a falta de oportunidades para os jovens e a presença insuficiente de políticas públicas aplicadas ao controle da violência nas escolas fazem aumentar e recrudescer as manifestações de violência no país. Entretanto, não se trata de um fenômeno circunscrito a fatores estruturais de ordem sócio-econômica, mas um conjunto de fatores que incluem o âmbito cultural e psicossocial dos indivíduos, dos grupos e da sociedade.

Para compreender o problema da violência nas escolas, o primeiro passo é situá-lo dentro de sua esfera de complexidade. A violência na escola é diferente da violência nas ruas, portanto, soluções policialescas apenas não resolvem, pois é preciso extingui-la na sua origem causal. A raiz do problema da violência escolar está fora da escola e a maioria de seus profissionais, de seus estudantes e da comunidade em geral não consegue perceber isto, por não possuírem grau suficiente de desenvolvimento e expansão da consciência.

O presente artigo versa sobre consciência, educação e violência escolar, fazendo um paralelo entre esses três temas, evidenciando o papel da consciência no contexto da violência no ambiente escolar. Apresenta breve reflexões sobre o papel da consciência e seus desdobramentos no ser humano e na sociedade; e traz alguns dos principais estudos sobre a violência escolar e seus fatores geradores, no sentido de evidenciar a importância do despertamento da consciência para a diminuição, contenção e/ou extinção da violência escolar.

BREVES REFLEXÕES SOBRE CONSCIÊNCIA

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Definir e conceituar a consciência se constitui em uma tarefa hercúlea, considerando a amplitude de sua natureza e da sua complexidade. A quantidade de publicações sobre o assunto aumentou substancialmente nos últimos anos, o que comprova a novidade e amplitude do tema. Nos dias atuais, a temática da consciência tem perpassado as diversas áreas do conhecimento, seja ela científica, filosófica e até mesmo religiosa.

Porém, mais do que isso, nota-se uma necessidade de estudar com mais profundidade a temática da consciência e sua relação com o desenvolvimento do pensamento da não-violência, com o intuito de possibilitar ao ser humano atingir, efetivamente, qualidade de vida em grau significativo, principalmente quanto a questão da violência, considerando que a consciência é diretamente proporcional à tranqüilidade e inversamente proporcional ao conflito.

Estudando a consciência humana, é possível analisar e refletir acerca das ações dos indivíduos, bem como suas pretensões e aspirações de mudar sua vida pessoal e social, e, por conseguinte, o mundo que habitamos.

A partir da consciência humana, Giddens (2003) diferencia os conceitos de consciência prática - conjunto de conhecimentos tácitos utilizados em práticas sociais, presente no nível do subconsciente e referente a intencionalidade, mas não se revela por meio de práticas discursivas; e de consciência discursiva - referente ao conhecimento que os atores podem expressar por meio de discursos.

A teoria sociológica de Durkheim (1984) demonstra que os fatos sociais têm existência própria e independente daquilo que pensa e faz cada indivíduo em particular. Embora todos possuam suas “consciências individuais”, seus modos próprios de se comportar e interpretar a vida, pode-se notar, no interior de qualquer grupo ou sociedade, formas padronizadas de conduta e pensamento. Essa constatação está na base do que Durkheim chamou consciência coletiva.

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Para Leal (2003), o paradigma humanista enfatiza como a realidade é socialmente criada e sustentada, mas vincula a análise a um interesse sobre o que pode ser descrito com a patologia da consciência, pela qual o ser humano torna-se aprisionado dentro das fronteiras da realidade que ele cria e sustenta. Ainda segundo o autor, por responsabilidade entende-se o desenvolvimento de uma consciência de nossa interdependência social e, consequentemente, a compreensão de nossa responsabilidade coletiva para com os outros.

No entanto, o caminho que a humanidade percorreu nas diferentes etapas evolutivas levou a um desenvolvimento unilateral de suas potencialidades, provocando um desequilíbrio na forma de vida, responsável pelos problemas que hoje vivenciamos.

Para Barreto (2005), “a consciência é uma das faculdades do ser humano com a qual ele age e interage no meio que está inserido, segundo os seus sentimentos, pensamentos e atos”. Afinal, o ser humano integral é aquele que já tem consciência da responsabilidade como dever e da liberdade como direito; tem consciência de sua utilidade individual e social, e age e interage com base, não só no conhecimento, mas também no autoconhecimento.

A sociedade contemporânea gira em torno de um cotidiano capitalista e consumista, onde a valorização do conforto material cresce na razão proporcional ao desinteresse pelos aspectos humanos, sociais, existenciais, desenvolvendo como prioridade os valores efêmeros do mundo material, ensejando o orgulho, a cólera, a inveja, a luxúria, a gula, a preguiça e a avareza em detrimento dos valores essenciais e virtudes humanas como a fortaleza, a temperança, a prudência, a perseverança, a esperança a caridade e até mesmo a fé; enfim, os valores encontrados nos direitos humanos.

Deste modo, Barreto (2005) evidencia uma urgente necessidade de ser despertada a consciência do ser humano. O mundo clama para que seja erguido o véu que esconde consciência do homem de ser e estar no mundo, pois sua finalidade é, além de identificar sua natureza

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interna – psíquica e moral – com a externa – o mundo que o rodeia, é, sobretudo saber discernir entre o correto e o incorreto; o bem e o mal; ou até mesmo, entre o real e o ilusório segundo elementos coerentes e insofismáveis caracterizados por leis naturais que regem o universo.

Sabemos, pois, que a consciência é um “produto” da inteligência, e quando esta atin ge um determinado nível, no seu processo evolutivo filogenético2, relacionado com o desenvolvimento anatômico e estru-tural do cérebro, dá lugar ao “nascimento” da consciência. A diferença essencial entre o homem e as outras espécies animais está precisamente no fato de que, embora todos os animais sejam possuidores de cérebros mais ou menos diferenciados e portadores, inclusive de “inteligência”, somente o ser humano é o primeiro possuidor de uma consciência, pois a sua inteligência atingiu a um nível ideal determinado.

Para a psicologia transpessoal formulada por Ken Wilber (1980) e outros pesquisadores, o desenvolvimento da consciência pode atingir níveis mais sutis, ou melhor, ordens mais elevadas de unidade, identidade e integração, que resultam na unidade universal e na Identidade Suprema.

Assim, da matéria para o corpo, do corpo para a mente, da mente para o Espírito. Em cada caso, a consciência [...] oculta uma identidade exclusiva com uma dimensão menor e mais superficial, e se abre para ocasiões mais profundas, amplas e superiores, até que se abra para o princípio dele, no próprio Espírito. (WILBER, 1980 p.235)

Dentre as funções da consciência, a mais importante é a sua capacidade de conhecimento. É pela consciência que o ser humano percebe o mundo. Enquanto na esfera das sensações, o ser humano entra em relação com o mundo de uma forma “passiva”: ele recebe as sensações pelos seus sentidos, como fazem todas as espécies animais. Mas é pela consciência, no ato de conhecer, que ele assume uma posição “ativa”, pois conforme já assinalou Durkheim (1994, p. 12): “um agente dotado de consciência não se conduz, de fato, como um ser cuja atividade é reduzida a um sistema de reflexos: hesita, tateia, reflete, e

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é precisamente por estas particularidades que é reconhecido”.

A consciência é um tema fascinante porque dá a chave para o tesouro do entendimento sobre o próprio ser humano e como a seleção natural pôde produzir tamanha maravilha como o cérebro e sua capacidade em tempo tão curto. Hoje se sabe que a consciência está relacionada de tal modo com o cérebro, e por consequência com a inteligência, que seria difícil as dissociarmos. Segundo nos confirma Campos (1997, p. 2),

A consciência é fruto da evolução do sistema nervoso. Portanto, percepções, individualidade, linguagem, idéias, significado, cultura, escolha (ou livre arbítrio), moral e ética, todos existem em decorrência do funcionamento cerebral. Há, por vezes, receio de que a investigação científica possa levar a uma “desmistificação” da consciência humana. De fato, são inúmeras, e não triviais, as conseqüências da conceituação da consciência como fenômeno natural. Uma delas, talvez a mais importante, refere-se à percepção que o ser humano tem de si próprio e de seus semelhantes: teme-se que a concepção da consciência como resultado de um processo biológico corresponda a uma “profanação do espírito humano”, com conseqüente abandono do comportamento moral e ético. A tese é que, ao se trazer a consciência “de volta para a natureza” e ao se investigá-la como fenômeno natural e não místico, ampliam-se nossas possibilidades de entendê-la, com ganhos científicos, teóricos e sociais, além dos éticos e morais.

As conclusões enunciadas por cientistas sobre a consciência através do estudo de cada etapa evolutiva do processo de hominização refletem, cada uma ao seu tempo, situações que hoje parece óbvias ou até mesmo simplórias. Daí a importância e necessidade do ser humano, fundamentado em Leis Universais, construir e expandir um estado de consciência em prol da preservação de gênero humano, e por consequência de ações morais elevadas. Isso porque, a consciência é uma das mais importantes faculdades que possibilita o homem discernir o verdadeiro caminho que deve seguir (BARRETO, 2005).

Torna-se perceptível que a sociedade contemporânea encontra-se num estágio limiar de suas forças e, a não ser que pessoas e instituições

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empenhem-se seriamente na construção de uma nova visão de mundo e de vida, corremos sérios perigos de uma destruição total. É neste contexto que a educação é solicitada a dar a sua parcela de contribuição, uma vez que a mesma é um sistema que está diretamente comprometido com o desenvolvimento do ser humano, favorecendo-lhe condições para constituir um modo de agir, viver e conviver de forma significativa e contribuitiva no seu meio social e natural.

CONSCIÊNCIA E EDUCAÇÃO: A SIMBIOSE NECESSÁRIA

Já é evidente que o início da formação da personalidade humana, bem como a construção, despertamento e desenvolvimento da sua consciência está aliada à educação recebida por pais e educadores. Portanto, há a necessidade de se repensar a postura acadêmica e a postura de vida das pessoas, pois é factualmente verificável que o ser humano não atingiu um nível de consciência suficiente que o possibilite viver num estágio duradouro de estabilidade social.

Segundo Torres (2005), não obstante a herança genética e cultural para o desenvolvimento humano, resgata-se na atualidade, através da educação, a herança espiritual. Isto porque, independente da cultura, é natural do ser humano à medida que amadurece, indagar sobre a criação natural, ou seja, o princípio criador de todas as coisas, a finalidade da vida e a razão de nossa existência.

Para Barreto (2009), “quanto mais consciência tem o ser humano, menos conflitos e menos desequilíbrio ele tem e, na sociedade produz”. Na verdade, a consciência pode ser considerada o fio condutor que nos guiará de forma segura na nossa trajetória de vida. Assim considerado, a educação deveria ter como um dos objetivos despertar a consciência do ser humano, lembrando que ela não é dada plenamente manifesta; ela nos é dada como um dom. Mas, para que se manifeste, necessita da nossa capacidade para manifestá-la e esta, por sua vez, depende do

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nosso desenvolvimento.

Cabe, portanto, à educação favorecer o desenvolvimento integral do ser humano, melhor dizendo, desenvolver não só o potencial físico, intelectual, emocional, social, artístico, mas também, o espiritual (YUS, 2002). Para tanto, não basta mediar atividades teórico-práticas que favoreçam relações interpessoais e intrapessoais belas e ricas, respectivamente, mas também que oportunizem relações transpessoais significativas.

Parafraseando Luckesi (1998), ressalta-se o papel que a educação assume no desenvolvimento da consciência do ser humano. Segundo ele, a educação serve para criar condições, para que disciplinadamente, cada indivíduo possa ter acesso a níveis cada vez mais sutis de consciência. A consciência, portanto, não é abstração, algo intocável, mas sim aquilo que o ser humano é na totalidade do seu ser, o que inclui, simultaneamente, as dimensões do corpo, da personalidade (emoção) e da espiritualidade.

A visão humana, inclusive a do ritmo cósmico da vida, dá nos a demonstração desastrosa da sua relatividade, bem como nos mostra que a educação, até então, não só está faltando com o seu propósito, afinal, a ela tem, também, por fim manter e/ou tornar o ser humano integral e livre pelo despertamento de sua inteligência, bem como oportunizar-lhe não só o senso de integridade e liberdade, mas, também, o impulso para a sua, integração e libertação.

Assim, a importância do despertar da consciência para a compreensão de uma educação que consolide a formação integral do ser humano é evidente, pois não podemos ignorar a desintegração que paira na nossa vida presente, fruto de múltiplas dissociações, inclusive entre ciência, filosofia e espiritualidade – herança negativa da modernidade – mas, ao mesmo tempo, não podemos deixar de sinalizar os anseios da humanidade de integrar as diversas áreas do conhecimento e de construir um novo modo de ser, de viver e de conviver mais saudável.

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CONSCIÊNCIA: ANTÍDOTO NECESSÁRIO PARA MINIMIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA

Somente um homem educado pela consciência dos valores e princípios da não-violência é que pode servir de pedra fundamental da harmonia social e da paz mundial. Quando a ciência, principalmente a ciência da educação, se integrar totalmente à consciência, então o mundo terá paz e ordem universal.

Hegel (1969, pp. 299-336) foi o primeiro filósofo a integrar a violência não só à racionalidade da história das sociedades, como à origem mesma da consciência. Na análise da relação dialética entre senhor e servo, define a violência, primeiro, como processo de negação do “outro” pelo “eu”. Mas essa negação não é suficiente do ponto de vista da realização social. O “eu” precisa que o “outro” exista e que o reconheça, e então a luta pela vida se transforma em luta pelo reconhecimento.

Na sua dialética de interioridade/exterioridade a violência integra não só a racionalidade da história, mas a origem da própria consciência, por isso mesmo não podendo ser tratada de forma fatalista: é sempre um caminho possível em contraposição à tolerância, ao diálogo, ao reconhecimento e à civilização, como o mostram Hegel (1980), Freud (1974), Habermas (1980), Sartre (1980), entre outros.

Assim, até o momento, a situação humana na contemporaneidade tem se caracterizado pela dificuldade de se estabelecer relações interpessoais agradáveis ou vulgarmente ditas como “sociáveis”. As pessoas estão mais violentas, nervosas, ansiosas, temerosas, inseguras... e os nossos órgãos sensoriais são aguçados constantemente por essas abordagens. Não temos mais certeza do presente, ao menos de um futuro socialmente equilibrado. Mas, uma coisa podemos afirmar: é essencialmente necessário que tomemos medidas urgentes e radicais no que tange ao nosso modo de sentir, pensar e agir, pois precisamos reaprender a enxergar as coisas, e o planeta clama para ser visto com

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novos olhos!

Sem a devida conscientização humana não há transformação plena, mas sim uma mera mudança periférica, trivial e, não raro, destrutiva. Portanto, assim estaremos, além de criando, instituindo, implantado, e cada vez mais ampliando os problemas que tanto nos assola, vez que, com as ações até então tomadas por nós não raro em vez de o encararmos, fugimos deles e cada vez mais eles se tornam amplos, complexos e cada vez mais distantes.

Em época de globalização ou de modernização sem controle, a humanidade tem sido muitas vezes submetida há um intenso processo de informações, que a tem levado a abandonar, inconscientemente, valores morais, éticos, hábitos, crenças e costumes. Como possível conseqüência, é notório o autoconfronto e a autodestruição da sociedade (AGUIAR, 2002).

E assim, fica evidente que a consciência é a força interior do ser humano que o impele a exteriorizá-la sob a forma de ação e é ela quem o guia, porquanto, quanto mais consciência o ser humano tem, menos desequilíbrios na sociedade ele produz, mantém e/ou amplia (BARRETO, 2009).

Desta forma, desenvolver cada vez mais a consciência possibilita a permanência no estado de estabilidade social, já que quanto mais consciência o ser humano tem, menos conflitos e desequilíbrios na sociedade ele produz, mantém e/ou amplia, pois, antes do indivíduo ser “sociedade” ele é ser humano em relação, e é inegável que o ser humano edifica sua obra constante e incessantemente, fazendo com que existam duas opções ao seu realizar: construir a ordem ou a desordem.

REFLEXÕES SOBRE A VIOLÊNCIA ESCOLAR

As formas de violência evidenciadas na atualidade são muito mais graves do que se pensa: homicídios, estupros, agressões com armas etc. É certo que são fatos que continuam muito freqüentemente, e dão

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a impressão de que não há mais limite algum, que, daqui por diante, tudo pode acontecer na escola - o que contribui para produzir o que se poderia chamar de uma angústia social face à violência na escola.

Além disso, os ataques a professores ou os insultos que lhes são dirigidos já não são raros: aí também, um limite parece ter sido transposto, o que faz crescer a angústia social.

Fernandéz (2006) nos evidencia que a violência responde a uma realidade objetiva, e, neste sentido, se distinguem diversas correntes para explicar a violência desenfreada que vem ocorrendo no ambiente escolar. Correntes estas que se resumem nas seguintes expressões: violência na escola e violência escolar.

Em outras palavras, evidencia-se que nas escolas não se realizam somente condutas violentas (violência na escola), sendo que a própria instituição escolar acaba se transformando em território de produção de condutas violentas diversas (violência escolar ou escolas violentas).

As teses centrais, sobre o que giram todas as explicações incluídas nas correntes sobre a violência na escola, indicam que as condutas agressivas e a violência não são um produto da própria escola, sendo que a mesma violência pessoal e social existente na sociedade é levada para os centros educativos, se configurando como cenário de violência na escola. No entanto, vale considerar que a escola não deve deixar de lado a sua essência de ser um lugar tradicional de encontro e convivência.

O uso da escola como lugar de convivência deve ser utilizado tanto pelos indivíduos e grupos integrantes da comunidade escolar como por outros agentes da mesma ou até mesmo os menos relacionados a ela. Desta maneira, fomenta-se a idéia de que não existe uma violência escolar em sentido restrito, sendo a própria violência social que se irrompe e se aloja na escola de maneira generalizada.

Retomando as palavras de Fernandéz (2006), percebe-se que a violência escolar específica, ou seja, a violência gerada na escola pelas dinâmicas escolares, tanto se origina pela resolução de conflitos entre os diferentes membros da comunidade escolar, como também pode ser produzida pela própria instituição escolar. Nesta perspectiva, a escola

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em sua gestão e em sua convivência diária produz violência de vários tipos e níveis.

Fruto de diferentes motivos, a violência está presente nos vários segmentos da vida humana e a escola, como uma instituição social, não escapa ao fenômeno. A violência na escola inclui também situações mais sutis, como atos de discriminação, preconceito, exclusão ou violência simbólica, muitas vezes cometida pela própria instituição educativa. A escola não é só o lugar onde explode a violência, ela participa, também, de sua gênese exercendo sobre os indivíduos algum tipo de pressão.

Muito embora a violência se manifeste indiferentemente da faixa etária, é na pré-adolescência e na adolescência que ela pode extrapolar os limites toleráveis. Nesta idade os jovens não estão preparados para derrotas e comparações; têm dificuldade em organizar o uso do tempo; mostram pouca concentração na escola, porque vivem no mundo de imaginações e sonhos; são barulhentos e inquietos; brincam na classe, desafiam e testam os professores.

Dessa forma, a violência na escola já não é mais apenas escolar, nem sua solução um desafio para educadores somente. A escola não dá conta de tudo. A violência é apenas um dos problemas pelos quais as pessoas, inclusive os criminosos, articulam seu pensamento sobre o governo e a sociedade.

As fronteiras entre a violência escolar e a violência social estão cada vez menos definidas. A erupção da violência na escola, fez com que a escola deixasse de ser um espaço protegido, onde se leva a cabo a educação dos estudantes com paz e tranqüilidade. Os dados denunciando atos violentos nas escolas se incrementam a cada dia, e as estatísticas de centros considerados como de alto risco aparecem cada vez mais na imprensa diária.

Consideração que muitos atos de violência ocorrem dentro do ambiente escolar, o custo para as escolas é também significativo. Ademais, a violação dos direitos humanos nas escolas tem relação direta com o aumento da evasão escolar. Neste caso, os custos/consequências podem ser ainda maiores devido, por um lado, à perda da produtividade

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dos alunos-vítimas da violência e, por outro, ao comprometimento da formação cidadã das vítimas.

Pode-se, portanto, constatar que o impacto da violência nas escolas é muito mais amplo do que o raciocínio lógico sobre seus desdobramentos estruturais tangíveis e intangíveis. O impacto da violência está diretamente relacionado à capacidade de aprendizagem dos alunos e à construção de sua cidadania.

REFLEXÕES CONCLUSIVAS

A expressão “violência escolar” se percebe em distintas óticas e apresenta sentidos diversos. Portanto, tem sido objeto de numerosos estudos, desde que se introduziu começou-se a discutir tal assunto há algumas décadas, antes de ser publicado o relatório internacional liderado pela UNESCO3, no intuito de estabelecer uma cultura de paz.

O comportamento violento, que causa tanta preocupação e temor, resulta da interação entre o desenvolvimento individual e os contextos sociais, como a família, a escola e a comunidade. Infelizmente, o modelo do mundo exterior é reproduzido nas escolas, fazendo com que essas instituições deixem de ser ambientes seguros, modulados pela disciplina, amizade e cooperação, e se transformem em espaços onde há violência, sofrimento e medo.

Há ainda de se considerar que a instituição escolar sofre uma crise de identidade que se soma a uma situação de desorientação, dando a sensação de que tem se perdido o rumo. Crises de identidade que se manifestam no momento em que a escola se vê obrigada a questionar, de maneira permanente, suas funções ante a influência e demanda insaciável de rápidas, novas e complexas respostas por parte da sociedade.

A escola é um lugar privilegiado para refletir sobre as questões que envolvem crianças e jovens, pais e filhos, educadores e educandos, bem como as relações que se dão na sociedade. É também nesse universo onde a socialização, a promoção da cidadania, a formação de atitudes,

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opiniões e o desenvolvimento pessoal podem ser incrementados ou prejudicados.

Por outro lado, parece que os indivíduos se acostumaram a conviver com a violência como uma forma habitual. Um indicador dessa situação pode ser evidenciado através dos meios de comunicação, onde se mostra exemplos diários de expressão da violência urbana. Ademais, cada vez que se dá menos importância a fatos desta natureza, se banaliza o fenômeno da violência. Em suma, vivemos em uma sociedade em que é necessário haver uma manifestação para resolver emergencialmente o problema da violência.

O mundo clama para que sejam tomadas medidas urgentes e radicais para que se reverta tal situação, pois, uma vez sensibilizando a humanidade para a relevância do estudo da consciência pode-se, quando não raro, no mínimo, conter e minimizar o caos social evidenciado, afinal, já nos disse Durkheim: somos o produto do que sentimos, pensamos e agimos.

A sociedade está doente e como efeito, neste período de transição, ela exterioriza os estados de desequilíbrio. A ciência e a tecnologia que tanto contribuíram para as conquistas pessoais do ser humano não equacionaram o problema do ser. Ao contrário, no amanhecer deste novo milênio a humanidade vive uma situação paradoxal. Embora alguns se preocupem em ampliar o tempo de vida do Planeta, que por consequência amplia o nosso também, e lute por mudanças em busca de uma sociedade mais justa, não vemos a iniciativa significativa e presente da minoria, que detém o poder, para realizar progressos políticos e econômicos em prol do bem-estar social da humanidade.

Alguns dizem que o que está acontecendo hoje é uma crise de gerações, falta e/ou perda da moralidade do ser humano, ascensão e dominação do capitalismo, avanço tecnológico sem estrutura ética, globalização, enfim, parece haver tantas explicações quanto problemas. Vivemos em uma civilização em que tudo ou quase tudo é padronizado, feito em série, massificado, integrando o homem como parte dessa máquina de fazer coisas.

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Neste panorama, o ser humano foi igualado a uma máquina dominada pelo tempo, e para se relacionar com o resto das pessoas, todas as pequenas máquinas passaram a viver num ritmo igual. A vida de cada um foi ajustada ao mesmo ritmo, de acordo com as necessidades imediatas de um todo maior, fazendo com que ninguém conseguisse ser alguém, pois agora todos fazem parte de uma imensa máquina chamada sociedade.

A reflexão sobre a questão da consciência (...) implica numa certa maneira de compreender a relação entre indivíduo e sociedade, haja vista que estudar o processo de consciência é refletir sobre a ação dos indivíduos e sua pretensão de mudar o mundo. Os seres humanos concretos e as relações que estabelecem são as forças que mantêm coesa uma determinada sociedade e que, igualmente, podem mudá-la.

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Notas:1 Mestre em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social; Pós-graduada em Ciência da Educação; Pós-graduada em Gestão de IES; Pós-graduada em Criação de Imagem e Styling de Moda; Pós-graduada em Educação Infantil; Graduada em Desenho Industrial. Atualmente é Assessora Acadêmica da Faculdade de Tecnologia e Ciências - FTC; Docente voluntária do Instituto Superior de Educação Ocidemnte - ISEO; Sócia-diretora da Sathyarte Arte e Mídia Ltda. Possui experiência em Controladoria; em Gestão de IES, nas áreas Administrativa, Acadêmica e Pedagógica, na modalidade presencial e EAD. Contato: [email protected] Filogenia é história da evolução de uma raça, espécie, gênero e de outras unidades taxonômicas. 3 UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura foi fundada em 16 de novembro de 1945. Sua finalidade é promover a cooperação internacional entre seus 192 Estados Membros.

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7 FONTE

CONSCIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE: UM CAMINHO PARA A DIVINIZAÇÃO

CONSCIOUSNESS AND SPIRITUALITY: A PATH TO DIVINIZATION

Maribel Barreto

“A nossa Natureza Divina coloca nossa consciência à prova.”“Our Divine Nature puts our consciousness to the test.”

(JAIR TÉRCIO, 2011)

Resumo: O presente artigo tem o objetivo de oportunizar o reconhecimento por parte do ser humano acerca do seu papel individual e social, não só a partir dos conhecimentos acerca da consciência e da espiritualidade, mas pelas práticas de autoconhecimento. A fundamentação teórica está pautada em autores como Barreto (2011), Policarpo (2011), Morin (2011), Queiroga (2012), Osho (2011), Wilber (2001), entre outros. A metodologia escolhida foi a pesquisa bibliográfica, mas embasada em realizações práticas de workshops acerca dos Ditames da Consciência e vivências diretas voltadas para o despertar da Consciência. Concluímos a pesquisa destacando a importância de realização de exercícios de conectividade, tais como de reflexão, concentração, meditação e contemplação, a partir dos exemplos da própria natureza, como meio de divinização, ou seja, de conexão com o divino que reside em tudo, e portanto, também em cada um de nós.

Palavras-chave: Consciência. Espiritualidade. Exercícios de conectividade.

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Abstract: The present article has the purpose to offer the human being the opportunity to recognize its individual and social role, not only related to consciousness and spirituality awareness but also regardingpractices of self-knowledge. The theoretical basis contemplates authors such as Barreto (2011), Policarpo (2011), Morin (2005), Queiroga (2012), Osho (2011), Wilber (2001), entre outros. The literature research was the methodology chosen, but based on the realization of practices in workshops about the Consciousness Dictates. We conclude the research emphasizing the importance of doing connectivity exercises, such as reflection, concentration, meditation and contemplation, based on examples from the nature itself, as a way to divinization, i.e., a way to connect with the divine that resides within everything, and therefore, also in each one of us.

Keywords: Evolution. Consciousness. Divinity.

INTRODUÇÃO

Este artigo é o resultado de estudos teóricos acerca da consciência, mas, principalmente, demonstra os benefícios da prática de exercícios psíquicos de conectividade para o despertamento, construção e desenvolvimento da consciência do ser humano, e consequente elevação do grau de espiritualidade, de forma abreviada.

A nossa experiência sugere e a razão não se recusa a aceitar a teoria de que o ser humano é um ser trino, composto de espírito, alma e corpo físico; e que aprende-se a organizar a alma da mesma maneira que aprendemos a resolver problemas de matemática e jogar xadrez, ou seja, com a prática, pois ela leva-nos à perfeição. Não é difícil entender que, quem conhece a sua alma, conhece a consciência, portanto conhece a Lei Natural, a Lei Universal, enfim, a Lei Divina.

Segundo o que sustentamos, a consciência é uma potencialidade inata do ser humano que o possibilita caminhar de forma, cada vez mais, abreviada na direção da relatividade para a absolutividade; da superficialidade para a profundidade; enfim, da materialidade para a espiritualidade. Neste sentido, nos reportamos a Wilber (2001) que afirma acerca do processo inevitável da evolução da matéria para o corpo; do corpo para a mente; da mente para o Espírito e em cada caso, a consciência oculta uma identidade exclusiva com uma dimensão menor

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e mais superficial, e se abre para ocasiões mais profundas, amplas e superiores, até que se abra para o princípio dele, no próprio Espírito.

O desenvolvimento da consciência, portanto, favorece ao ser humano transitar da dimensão de ser humano ainda fragmentado, para ser humano indiviso, integrado; e deste para divino, não só a partir do que ele sabe, mas principalmente pelo que sabe, sente e faz no seu dia a dia de relações.

Este artigo contempla um convite para que os seres humanos, em geral, possam, no mínimo, se dar a oportunidade de empreender em saber reconhecer o seu papel individual e social, não só a partir dos conhecimentos acerca da consciência e da espiritualidade, mas pelas práticas de autoconhecimento, porquanto tudo começa no ser humano.

As ideias, práticas e reflexões aqui compartilhadas refletem experiências íntimas, intensas e profícuas, nossas, e inclusive, com seres humanos sensibilizados quanto aos seus processos de evolução abreviada e consciente e tem nos oportunizado realizar, anualmente, os seguintes ações: (1) o Workshop, cujo tema fora: “Os Ditames da Consciência”, nos anos 2010 e 2011, em Salvador/Bahia/Brasil e em fevereiro de 2012, em Vancouver/British Columbia/Canadá; e (2) a Vivência, com o tema: “O Despertar da Consciência”, nos anos de 2011 e 2012, no Morro do Guarda-mor, na Chapada Diamantina Baiana, em Abaíra/Bahia/Brasil.

Quanto à sua estrutura, o artigo envolve a compreensão do Ser Humano como um ser trino; uma breve análise acerca da consciência, da espiritualidade, bem como o método para o despertar da consciência, com explanação teórica e prática sobre alguns exercícios de conectividade, a partir do exemplo dos animais, como meio de divinização, ou seja, de conexão com o divino que, possivelmente, reside em tudo e em cada um de nós. Por fim, cada um poderá praticar por si só tais exercícios, buscando fazer de si mesmo seu próprio mestre. Até porque, todos somos capazes, mas precisamos nos tornar habilis o bastante; para tanto, praticar.

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O SER HUMANO E SUA ESTRUTURA PARA COM A VIDA

“O Ser Humano é um ser trino, ou melhor, tridimensional, portanto com três medidas, a saber:

sentir, pensar e agir; ou melhor, espírito, alma e corpo físico”.(JAIR TÉRCIO, 2009)

“Enquanto que o ego é essencialmente o representante do mundo externo, da realidade, o superego coloca-se, em contraste com ele,

como representante do mundo interno, do id [...]”(SIGMUND FREUD, 1915)

“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas,

mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.

(CARL JUNG, 1940)

Partimos da premissa de que para bem praticarmos o caminho da interioridade, em integração com a exterioridade, devemos conhecer toda nossa potencialidade, aguçar nossa sensibilidade e nos disponibilizar para a totalidade.

Para tanto, sustentamos que muito importa ao Ser Humano descobrir a verdade afim que se encerra na diversidade de teorias acerca da estrutura do Ser Humano para com a vida, como por exemplo, a de que o Ser Humano é uma trindade composta de espírito, alma e corpo físico, criada por Deus através do espírito, com a finalidade de auxiliar na evolução abreviada do seu semelhante, do planeta, bem como do Universo, em sua eterna expansão.

De acordo com Freud (1915), o corpo é forjado como sendo um lugar de inscrição do psíquico e do somático, como bem descreve Fernandes (2003), e coincide, em vários momentos, com a própria

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trajetória do desenvolvimento do aparelho psíquico, assim como com o aparecimento do eu, visto como uma entidade organizada.

Dessa forma, o corpo que é objeto da psicanálise ultrapassa o somaìtico e constitui um todo em funcionamento coerente com a história do sujeito. Segundo Mandet (1993), o corpo a que se refere a psicanálise é o corpo enquanto objeto para o psiquismo, é o corpo da representação inconsciente, o corpo investido numa relação de significação, construído em seus fantasmas e em sua história.

Freud estabelece uma ruptura na lógica da separação corpo e alma, na medida em que rompe com o primado da biologização da alma e propõe a subjetivação do corpo. Viabiliza este percurso desde os primórdios da sua clínica e vai, pouco a pouco, sedimentando a subjetivação do corpo com a metapsicologia e com os dispositivos de acesso ao inconsciente.

Freud (1974) descreveu dois modelos principais de organização da mente. A primeira Teoria do Aparelho Psíquico que divide a mente em consciente, pré-consciente e inconsciente. O consciente é formado pelas ideias e sentimentos que estão em nossa mente a cada dado momento. O pré-consciente inclui conteúdos mentais que podem ser facilmente trazidos à consciência pelo simples aumento da atenção ou esforço de memória. Já o inconsciente apresenta conteúdos mentais censurados por serem inaceitáveis, sendo reprimidos e não podendo emergir tão facilmente à consciência.

A segunda Teoria do Aparelho Psíquico, que passa a considerar a existência de três instâncias ou estruturas psíquicas na mente: ego, id e superego (FREUD, 1976). Nesse modelo, o ego era entendido como separado das demandas pulsionais, possuindo aspectos conscientes e inconscientes. O aspecto consciente era o órgão executivo da mente, responsável pela tomada de decisões e pela integração perceptiva.

O aspecto inconsciente continha os mecanismos de defesa, como a repressão, necessários para defender o ego das pulsões poderosas da sexualidade (libido) e da agressividade, oriundas do id.

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O id é uma instância psíquica totalmente inconsciente que inclui as pulsões – de vida e de morte ou amorosas e agressivas –, tendo como objetivo descarregar a tensão provocada pela operação dessas forças.

É controlado pelos aspectos inconscientes do ego e pelo superego, que incorpora a consciência moral e o ideal de ego. O superego, por sua vez, é formado a partir das identificações inconscientes com as figuras dos pais e de outras pessoas significativas.

Fazendo uma breve análise complementar acerca da estrutura da personalidade do ser humano, a partir de Jung, podemos perceber, por exemplo, que o ego serve à mesma função que o ego freudiano, controlar a vida consciente e ligar o mundo intrapsíquico ao mundo externo e encontra-se no centro da personalidade consciente.

O constructo do aparelho psíquico de Jung evidencia que abaixo de uma margem externa de consciência está o inconsciente pessoal, contendo a nossa sombra, ou seja, os conteúdos que foram censurados pela consciência (os complexos, anima/animus e outros conteúdos da nossa história de vida)1. Em uma camada mais profunda, tem-se o inconsciente coletivo; lá estão os arquétipos2, os elementos do Self3, que, por sua vez, conectam-se à superfície da personalidade como o ego.

Na primeira metade da vida, o ego tenta identificar-se com o self e apropriar o poder do Self a serviço do crescimento e diferenciação do ego. Durante este tempo, o ego pode tornar-se inflado com um sentimento irrealista de poder – a arrogância da juventude. Se cortado do Self, o ego pode ser alienado e deprimido (JUNG, 2000).

Já na segunda metade da vida, o ego começa a servir mais ao Self do que ao domínio consciente da vida. Jung (2000) chamou este processo do desenvolvimento de “individuação”, o impulso em uma pessoa tanto para tornar-se singular como para preencher as propensões espirituais comuns a toda a humanidade. A individuação é a busca pelo autoconhecimento pleno, é a busca de tornar-se uno, ou seja, uma personalidade integrada com a totalidade do nosso Ser, através da integração entre o ego e o Self. Logo, a individuação é a busca pela nossa

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essência divina, afinal, o Self é a função transcendente que reside em nós, ele representa a nossa essência Divina. A individuação não é um fim, é um caminho, é a eterna busca da ampliação da consciência. Jung entende que o atingimento da consciência dessa totalidade é a meta de desenvolvimento da Psique, e que eventuais resistências em permitir o desenrolar natural do processo de individuação é um das causas do sofrimento e da doença psíquica.

Podemos aprofundar estas considerações através do conceito de individuação de Jung e alguns aspectos da tradição budista. A individuação é definida como o processo pelo qual o ser humano pode tornar-se um indivíduo, uma totalidade, ou seja, representa a unicidade interna (síntese). É um processo arquetípico que permite o surgimento lento de uma personalidade cada vez mais ampla (VON FRANZ, 1964). Segundo Gorresio (1997), a individuação é a jornada do ego na busca do aumento da consciência do Self. No entanto, não devemos confundir a individualidade com uma busca egocêntrica. Para isso, precisamos compreender o que é o Self na psicologia Junguiana.

O Self representa a quintessência dos arquétipos: é ao mesmo tempo a fonte da personalidade como seu objetivo final; é o símbolo da divindade no homem (MOACANIN, 1999) o que equivale no Budismo, ao Estado de Buda existente em todos os seres.

Na configuração psíquica descrita por Jung, o Self é o representante original do Eu, e não somente o ego, colocando-o assim próximo aos princípios das psicologias orientais. Segundo a tradição budista, ter o ego como único representante do Eu é uma ilusão, portanto, perigoso. O objetivo da prática budista, assim da psicologia junguiana, consiste no deslocamento do centro psíquico do ego para o Self, ou seja, no reconhecimento e na vivência de nossa budicidade (Individuação/ Iluminação).

Apesar disso, o ego é a chave fundamental para o processo de individuação, já que é necessária uma colaboração ativa de um ego consciente e capaz de tomar decisões responsáveis (GORRESIO, 1997).

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Jung, portanto, formulou uma concepção de ser humano que revela grande complexidade e compreende uma pluralidade de aspectos, abrangendo desde os que consideram a construção constante da identidade em sua articulação com uma subjetividade bastante peculiar, até os que, por outro lado, expressam sobretudo uma estrutura básica e comum a todos. Essa matriz universal fornece a matéria-prima para a constituição do acervo individual e coletivo dos símbolos, os quais são constantemente formados e atualizados em nossa cultura. Jung procurou, neste contexto, focalizar, em cada ser humano, comunidade ou época, a dimensão da singularidade e, também, a da universalidade.

A partir desta breve análise acerca da estrutura do ser humano, através de seus percursores, podemos deduzir que dar atenção somente a uma das partes que compõe o todo do ser humano parece-nos demonstrar, além de omissão, preguiça; e porque não dizer, irresponsabilidade, afinal, a totalidade requer ação total.

Eis que não é dissociável uma das partes do ser humano com o todo que a compõe. Cada parte é produto e produtora do meio no qual ela está inserida, além de refletir, diretamente, o todo da sua estrutura. O corpo físico, por exemplo, provém da alma. O que a esta afeta, reflete no primeiro, na sua qualidade de exteriorização.

Com esta compreensão, à consciência é possibilitada a sua real demonstração de integração do Ser portanto. Afinal, a consciência, como verdade absoluta e experimentada, inclusive através das atividades que temos proporcionado através de Workshops e Vivências, favorece a percepção direta; esta, a compreensão correta; esta, a autointegração; o autoconhecimento; e este, a autotransformação, o autodesenvolvimento, por conseguinte, a experiência completa, enfim, a autorrealização.

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CONSCIÊNCIA

“A Consciência é a presença de Deus no Ser Humano”.(JAIR TÉRCIO, 2011)

“Consciência é a Presença Universal Absoluta”.(EMÍLIA QUEIROGA, 2012)

“Consciência é uma atividade transcendente.”(FRANTZ FANON, 2007)

As pesquisas mais recentes da neurociência, da física quântica, da psicologia, da pedagogia evidenciam e o nosso sentimento confirma que não é possível evitar o processo de despertamento, construção e desenvolvimento da consciência. Afinal, a consciência se pratica e nos conduz ao alcance da felicidade, liberdade, enfim, da divindade, como verdade absoluta, sentida pela experimentação íntima, intensa e profunda.

Válido ressaltar que ela, a consciência, se refere a uma das faculdades inatas que possibilita ao criado integrar-se consigo mesmo, com seu próximo, com o meio em que vive e, por conseguinte, com O Criador, até porque ele não se autocriou. E prova isso cabalmente na medida que consegue viver em equilíbrio dinâmico, no dia a dia das relações, a ponto de experimentar aquele estado de eterno renascimento, vivendo semeando o bem, espalhando o amor e perpetuando a verdade.

Neste sentido, necessitamos avançar da esfera do conhecimento para a autoconhecimento, que não só o inclui, mas também ultrapassa. Parece-nos claro ser esta a chave de ser feliz, ou melhor, a chave de descobrir-se como felicidade, pois isto não advém com conhecimento, mas sim com autoconhecimento.

Vivemos, até prova em contrário, a Era do conhecimento, mas estamos propondo a Era da autoconhecimento. E isso é Consciência. E é exatamente o despertamento, construção e/ou desenvolvimento da consciência que implica progresso e não o avanço tecnológico.

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Precisamos empreender em fazer novos progressos, inclusive através da ciência, principalmente no campo da harmonia, do amor, da verdade e da justiça. Até porque, não é difícil se observar que ciência sem consciência nega a existência do espírito; deforma a alma humana e fragmenta o corpo físico.

Já dizia Morin em 1986 que fazer ciência sem consciência e consciência sem ciência são ambos mutilantes e mutiladores (MORIN, 2005), mas já estamos na segunda década do século XXI e as nossas sociedades convivendo com corrupção, violência e volúpia, de toda espécie, em graus exageradamente alarmantes, comprovando que nem a riqueza material; nem a arte, ciência, magia ou tecnologia, tampouco o sistema político atual bastam, para fazer feliz o gênero humano.

O descontrole, a libertinagem, a ânsia de domínio, a sensualidade voluntária, a ultravalorização dos prazeres sensoriais e do supérfluo ousam assaltar e tomar conta do nosso ser, e na sociedade ficam a arbitrar a mediocridade, a tolice e a infantilidade, favorecendo a outros Seres Humanos desavisados viverem pobres de arte, feios de ciência e insignificantes em espiritualidade.

Corroborando com estas reflexões, Sinício (2011) evidencia a necessidade de repensar sobre a vida, a consciência, o fator religante dos Novos Saberes, a necessidade de uma Nova Ciência, assim como sobre pensar, não pensar, existir, e ser, com vistas a um Novo Salto Evolutivo.

Araújo (2011, p. 163), na perspectiva de educar com foco nas gerações vindouras, afirma: “A humanidade está à espera de Seres Humanos mais virtuosos e mais divinos, enfim, mais apurados em seu senso de moralidade integrada ao Todo do qual somos partes integrantes.” Complementa reconhecendo que os princípios morais universais devem ser objeto de pesquisa de todos que primam por uma humanidade mais virtuosa.

É certo que a consciência tem suas expectativas; e aspira, conspirando, para que o Ser Humano corresponda à altura. Assim sendo, caminhemos compassadamente, porém em passos, cada vez

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mais, largos, pois assim poderemos crescer e nos adiantar, de forma incessante, impreterível e inadiavelmente na direção, principalmente, do progresso moral/espiritual, segundo as Leis Naturais que regem o Universo, que repousam em nossa consciência, denotando, em nós mesmos, o alcance da nossa Consciência, pela integração da materialidade e da espiritualidade, oportunizando, ao nosso ser, iluminar sua interioridade por gostar de viver na profundidade.

ESPIRITUALIDADE

“O limite da espiritualidade não pode ser encontrado senão pela divinização”.

(JAIR TÉRCIO, 2009)

“Religião é a crença na experiência de alguém, Espiritualidade é ter sua própria experiência.”

(DEEPAK CHOPRA, 2010)

“Somos Deus em processo de criação.” (KEN WILBER, 2011)

A espiritualidade é seguramente o caminho para a profundidade, para a interioridade, enfim, para a divindade. Portanto, não é uma mera esperança, tampouco mera especulação. Ela representa virtuosidade, que possibilita ao ser o alcance da felicidade.

É observável o fato de que, quanto menos aprofundamos na espiritualidade, mais nos mantemos na materialidade; quanto menos aprofundamos no nosso interior, mais nos mantemos no nosso exterior; quanto menos nos dirigimos à Luz, mais nos mantemos na obscuridade. E deve estar clara a teoria de que não temos mais tempo para perder tempo com aquilo que não importa para nosso processo de evolução abreviada e consciente. Ora, nada pode deter o poder da evolução.

Röhr (2010, p. 13-52) se refere à espiritualidade como uma

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dimensão transcendente e mais sutil que deve guiar o ser humano.” E considerando que o Ser Humano é um ser social que vive evoluindo, partindo da ignorância para a sabedoria; da tolice para a inteligência; da fragmentação para a Totalidade; enfim, das trevas para a Luz, é preciso darmos atenção prioritária à dimensão da espiritualidade.

Neste sentido, atualmente, o Ser Humano já pode perceber que deve investir, cada vez mais, em sua espiritualidade, e não só em sua materialidade, como até então tem sido feito; porquanto, nada há de tão duradouro na materialidade, quanto o que há na espiritualidade.

Vejamos a percepção do educador Policarpo (2011, p. 130):Considerando a natureza última de cada fenômeno, a espiritualidade, seria uma compreensão que nada deixaria de fora, simplesmente porque nada há que não esteja, de antemão, inscrito; ou que não seja expressão ou modo de ser do Vazio, ou do que existe em e por si mesmo. De acordo com tal entendimento, todos os fenômenos são, por definição, espirituais, pois nenhum deles é distinto do substrato fundamental de onde emerge.

Tal afirmação corrobora com nosso convite à busca incessante ao mergulho na dimensão da espiritualidade, num processo de conexão com nossa essência que, embora factual, não é material, não é superficial, não é palpável.

“Este processo de reconexão do ser humano com esta dimensão espiritual ou causal da Realidade possibilita o realinhamento de alguém com sua vocação essencial alinhada com o projeto cósmico de realização universal” (BIGNARDI, 2011, p. 48). Assim sendo, quanto mais nos dedicarmos a aprofundarmos na espiritualidade maiores possibilidades de realizações salutares. Até porque, não é possível evitar o vazio existencial que tem caracterizado o viver daqueles que não tem dado conotação espiritual à vida material.

Sem a compreensão da razão da existência neste planeta, por exemplo, o ser humano tende a caminhar como quê perdido, correndo riscos, perigos e cheio de incertezas; sem indagar-se acerca da finalidade da vida, tende a não buscar a concepção do todo dos atos e obras, principalmente das

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suas intenções; e sem almejar contatar conscientemente com o Princípio Criador de todas as coisas sua mente tende a não estar espontaneamente tranquila e menos ainda sob perfeito controle.

Eis o sentido essencial da espiritualidade, que como bem afirma Policarpo (2011, p. 130-132) refere-se à:

[...] aquela compreensão ou lucidez que guia/orienta os próprios pensamentos, as motivações e propósitos, os sentimentos e emoções, a corporeidade e os comportamentos, as relações com os outros e com o ambiente; e, ao assim fazer, permite ao homem tornar-se progressivamente mais inteiro, menos cindido, mais ético, íntegro e integral.

Nesta direção é possível superar a ignorância em seus diversos graus, ignorância esta que se exprime no desconhecimento de si, no desconhecimento dos outros e do mundo e no desconhecimento do propósito de sua vida (POLICARPO, 2011).

E à proporção da superação da ignorância tem-se espaço para a não dualidade, por exemplo entre a materialidade e a espiritualidade, expressa, segundo Policarpo (2011) com o desenvolvimento mais alto da mente, quando esta experimenta desde a autoconsciência até o estado da não dualidade que está além da consciência e da não consciência. Quando este estado é alcançado, reconhece-se que nada está separado daquilo que é em e por si mesmo; mas, ao contrário, todo fenômeno nada mais é do que expressão determinada daquilo que é em e por si mesmo (o Vazio, ou natureza última).

Eis o desafio da consciência: nos conduzir para a altura do nosso ser, a partir da expansão da nossa largura, mas pautado na profundidade, até porque, a consciência é diretamente proporcional à espiritualização e favorece a compreensão do Ser Humano acerca da altura como sendo a sua elevação para Deus; a largura como sendo a sua busca ao bem estar de si, do seu próximo e do meio em que vive; e a profundidade como sendo a sua busca acerca de si mesmo, bem como da Razão de sua Existência.

Assim sustento que temos o dever moral de nos dedicar à pesquisa e análise, até a compreensão, bem como à prática, até o sentimento para

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a evolução voluntária e consciente, como tarefa inadiável à divinização. Até porque, esta é uma aventura que Ser Humano algum pode se furtar a realizar, levando em conta a sua estrutura trina, qual precisa ser desvendada na totalidade.

MÉTODO PARA DESPERTAR A CONSCIÊNCIA

“Teoria sem prática é como conhecimento sem consciência”.(JAIR TÉRCIO, 2011)

“Conhece-te a ti mesmo, torna-te consciente de tua ignorância e será sábio”.

(SÓCRATES, 450 a.C.)

“O valor final da vida depende mais da consciência e do poder de contemplação que da mera sobrevivência”.

(ARISTÓTELES, 340 a.C.)

O nosso sentimento, a nossa experiência confirmam a máxima de que um método nada vale se não comprovado. E para poder comprovar é preciso praticar. Neste sentido vale lembrar que toda estrela só prova sua existência ao brilhar; e o Ser Humano só se comprova quando pronto para reconhecer a verdade e se adiantar, pelo praticar.

Cabe, portanto, ao Ser Humano transformar, de forma cada vez mais clara, segura e definitiva o conhecimento em consciência; fazendo com que a doutrina da religião, filosofia e ciência se tornem experiência direta, correta e completa, verdadeiramente vividas, bem como autoconhecimento, autorrealização. Isto porque, tanto a religião quanto a filosofia, bem como a ciência têm como finalidade o despertamento, construção e desenvolvimento da consciência humana, do contrário, seu trabalho terá sido, senão, em vão, de pouca valia.

De acordo com Krishnamurti (1998, p. 25): A transformação do mundo se efetua pela transformação do indivíduo, porque o indivíduo é o produto e uma parte do

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processo total da existência humana. Para nos transformamos é essencial o autoconhecimento. Se não sabemos o que somos, não há base para o pensamento correto; se não nos conhecemos, não pode haver transformação [...]

Neste sentido, um dos nossos grandes desafios é buscar e achar um método que eduque nossas almas sem fragmentá-la, a ponto de integrar o valor real de todas as coisas, através do interior da nossa trindade não mais adormecida.

Que este processo de caminhar para o nosso interior como uma dimensão alcançável seja a nossa busca cotidiana, afinal é na medida em que nossa ciência interior ascende que a consciência demonstra-se um de seus maiores instrumentos, ao mesmo tempo vasto, simples e profundo.

Sugiro que, experimentemos! Porquanto, nossa consciência é o nosso maior livro; e somente quando conseguimos lê-lo, descobrimos o seu autor e, inevitavelmente, nos identificamos com Ele.

Com este propósito, compartilhamos, as realizações teórico-práticas voltadas para o despertar, construir e/ou desenvolver da Conscência do gênero humano, que venho executando nos últimos três anos, quer seja através de Workshops ou mesmo de Vivências específicas, já anunciadas na introdução do presente artigo.

Como dito, estamos realizando, anualmente, a partir de 2010, o Workshop com o tema: “Os Ditames da Consciência”, em Salvador/Bahia/Brasil, com carga horária de 08 horas, bem como, por último, em Vancouver/Britsh Columbia/Canadá, na 2a. Conferência Internacional sobre Religião e Espiritualidade (University of British Columbia) além da Vivência intitulada: “O Despertar da Consciência”, no Morro do Guarda-mor, na Chapada Diamantina Baiana, em Abaíra/Bahia/Brasil, com carga horaria de 72 horas, considerando a Consciência como a chave que abre a nossa percepc’aÞo acerca da realidade como um todo, a partir de noìs mesmos.

Quanto à finalidade, tais ações, tanto o Workshop, quanto a Vivência, buscam facultar ao ser humano o fortalecimento do caráter,

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a ampliação da intuitividade e aproximação do seu centro, que é porta, no sentido de oportunizar o contato direto com a sua essência, variando apenas na intensidade quanto à sua realização.

Quanto ao público alvo, este envolve seres humanos acima de 18 anos, já dedicados ao processo de uso da consciência como instrumento de prioridade máxima em face da necessidade de viver em equilíbrio dinâmico no dia a dia das relações.

Quanto ao método inclui uma breve exposição teórica acerca da consciencia, explanação sobre a importância de realização de exercícios de conectividade com o vasto, simples e profundo; bem como a prática dos referidos exercícios voltados para o despertar, construir e desenvolver da consciencia, a partir dos exemplos da própria natureza, como meio de conexão com o divino que reside em tudo e em cada um de nós, ou seja, como meio de divinização.

Di Biase (1995) considera que existe uma conexão cósmica, em que temos que deixar nossa Pequena Mente se conectar à Grande Mente, estado que se consegue facilmente por meio das práticas de meditação, relaxamento e oração que, comprovadamente, sincronizam as ondas dos hemisférios cerebrais, gerando um estado superior alterado de consciência de tranquilidade receptiva profunda, para citar um dos neurocientistas brasileiros dedicados à causa da consciência e suas conexões numa dimensão holográfica.

Vejamos uma breve explanação acerca dos 7 exercícios de conectividade, as características dos animais, bem como a descrição dos movimentos referentes a cada um deles, a partir das nossas experiências, desde o ano de 2001, no contato direto com a natureza, sob condução do mestre espiritual Jair Tércio, levando em consideração, também, conhecimentos já disponíveis pela ciência acerca de características específicas. Senão vejamos:

1) Exercício de Conectividade: Concentração do Leão Características do animal: • Os leões passam cerca de três a quatro horas do dia caminhando,

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caçando, se alimentando. No tempo restante, cerca de vinte horas, eles descansam até dormem. Os leões descansam por vários motivos diferentes: falta de presas, para evitar o calor do dia e principalmente para conservar sua energia, em face das diversas demandas de seu grupo, principalmente quando tratar-se de defendê-lo de possíveis e/ou existentes adversários/inimigos. Descrição do movimento:• Sentado com os joelhos dobrados para o lado esquerdo do corpo, formando um angulo de 90 graus com a perna esquerda, e colocando o pé direito embaixo da coxa esquerda; nesta posição, inclinará o tronco para o lado direito, encostando os antebraços, em paralelo um com o outro, no chão, relaxando a cabeça entre os ombros. E nesta posição começará a ronronar, tempo em que mantém a sua atenção plena à respiração.• Caso canse poderá desfazer a posição, rolando o corpo até que fique com as costas no chão, tão relaxado quanto possível, ainda ronronando; retornando à posição de concentração, do mesmo lado em que começou, ou do outro.

Concentração do Leão (Guarda Mor/Chapada Diamantina - Abaíra/Bahia/Brasil, 2012)

2) Exercício de Conectividade: Reflexão da Leoa

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Características do animal: • A leoa é responsável por aproximadamente 90% da caça, que alimenta o seu grupo. Ela tem cerca de sete tentativas para capturar uma presa. Caso não consiga, todo o bando corre o risco de passar fome. Assim, ela não pode vacilar nas suas tentativas. Quando depois da 3a tentativa consecutiva ela cansa, daí começa a errar, prefere parar um pouco para refletir em melhores estratégias para obter sucesso nas próximas tentativas.

Descrição do movimento:• Sentado, sobre as pernas dobradas, inclinando o corpo para frente, com os cotovelos apoiados no chão e as mãos juntas, assemelhando-se a uma taça, amparando o queixo. Nesta posição, ronronando.• Em caso de cansaço, poderá esticar as pernas para trás, sem remover as mãos do queixo, continuando a ronronar.

Reflexão da Leoa (Hotel Pestana - Salvador/Bahia/Brasil, 2011)

3) Exercício de Conectividade: Testemunhar da Garça Características do animal

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• As garças esperam, pacientemente, na beira da água ou em água rasa, seja de córregos, lagoas etc, e de pé, sustentando-se sobre uma das pernas, com o pescoço afundado entre os ombros, imóvel, em um estado contemplativo, esperando o momento certo para pegar uma presa. Elas passam um longo tempo observando as presas, e são extremamente precisas em seus ataques, raramente falhando, pois demonstra ter experiência direta do processo da refração da luz na água.

Descrição do movimento• Em pé, olhos fechados, braços relaxados, entrando em um estado contemplativo, com a atenção voltada para os pés que sustentam o corpo.

Testemunhar da Garça (Othon Palace Hotel - Salvador/Bahia/Brasil, 2010)

4) Exercício de Conectividade: Olhar do Mangusto

Características do animal: • Os mangustos são animais caçadores habilidosos que procuram

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suas presas ativamente, utilizando sua sensibilidade olfativa e visual. Estão sempre atentos às presas. Tendem a ficar sobre suas patas traseiras observando o ambiente a sua volta.

Descrição do movimento:• Sentado, com pernas na mesma posição do movimento do leão, olhos abertos, fixos em um ponto, mas atentos a o que acontece ao redor.• É possível mudar a posição das pernas, para o outro lado, caso haja desconforto, depois de um tempo.

Olhar do Mangusto (Guarda Mor/Chapada Diamantina/Bahia/Brasil, 2012)

5) Exerc íc io de Conect iv idade: Introspecção da Crisálida Características do animal: • A crisálida é o estágio de pupa das borboletas. Este é o único estágio, na maioria das borboletas, onde elas, senão nada,

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pouco se movimentam. Elas mantêm-se em completo estado de introspecção.

Descrição do movimento:• Deitado sobre um dos lados do corpo, com as pernas na mesma posição do movimento do leão, com o braço do mesmo lado esticado para o alto, como se fosse a seda que prende a crisálida na superfície. • A atenção deve estar direcionada ao braço levantado, como um todo. • Em caso de cansaço poderá mudar de lado e levantar o outro braço.

Introspecção da Crisálida (University of British Columbia - Vancouver/British Columbia/Canadá, 2012)

6) Exercício de Conectividade: Auto-observação da Borboleta

Características do animal: • A borboleta quando em repouso dobra as suas asas para cima,

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ficando completamente quieta. Ela é considerada um símbolo de transformação e de renascimento.

Descrição do movimento:• Sentados, na mesma posição do movimento do mangusto, olhos fechados, com a atenção no seu eu interior, focados na auto-observação. • Em caso de desconforto, pode-se mudar o lado das pernas.

Auto-observação da Borboleta (Hotel Pestana – Salvador/Bahia/Brasil, 2011)

7) Exercício de Conectividade: Giro do Elefante

Características do animal: • O elefante é a única espécie, no planeta Terra, além do Homo sapiens sapiens e Homo neanderthalensis, reconhecidamente, a

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ter um ritual em relação à morte. Quando sente que está próximo de morrer, ele, o elefante, faz um movimento de rotação como se reverenciando aos quatro cantos do universo (norte, sul, leste e oeste), e em seguida se dirige ao cemitério dos seus antepassados. Onde falecem, sozinhos, longe do grupo.

Descrição do movimento:• Em pé, com as pernas levemente separadas, em paralelo, olhos fechados durante todo o tempo. • O exercício inclui sete movimentos, a seguir:

(1) O primeiro movimento consiste em deslizar o pé direito até o pé esquerdo, até que as pernas estejam se tocando; (2) Deslizar o pé direito, até que faça um ângulo de 90 graus com o esquerdo, deslocando o dedão do pé esquerdo até o pé direito, com o calcanhar em suspensão, para poder completar o movimento do dedão.(3), (4) e (5) Repetir este movimento por mais três vezes, completando uma volta em torno de si mesmo. (6) O sexto movimento consiste em, ainda na mesma posição, ir para dentro, direcionar a atenção para o ser interior. (7) E o sétimo movimento consiste em, ainda na mesma posição, ir para fora, expandir o ser para todas as direções.

Giro do Elefante (Guarda Mor/Chapada Diamantina - Abaíra/Bahia/Brasil, 2011)

A partir do envolvimento direto com tais exercícios psíquicos de conectividade é inegável, inevitável e autossustentável a divinização; ela que é o nosso destino final e não advém senão de um acidente; contudo, nele podemos não estar presente, mas não estamos inconscientes em

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momento algum. Os iluminados são prova cabal disto!

Seres iluminados como Krishna (há, aproximadamente, 5.000 anos atrás), Moises (há 3.400 anos atrás), Brahma (há 2.700 anos atrás), Mahavira (há 2.650 anos atrás), Zoroastro (há 2.600 anos atrás), Buda (há 2.500 anos atrás), Cristo (há 2.011 anos atrás), Maomé (há 1.400 anos atrás), Jair Tércio (na atualidade) praticaram exercícios de conectividade e relevaram/revelam a integração da sua identidade com a Consciência, ou seja, com a essência criadora. “Tornam-se, na não-localidade atemporal, testemunhas de toda a ação” (GOSWAMI, 2005, p. 240). Assim, o si-mesmo quântico, Consciência Universal e Deus são muito similares.

Moisés meditou 40 anos; Mahavira meditou 17 anos; Buda meditou 15 anos; Jesus meditou 25 anos; Jair meditou 18 anos, somente para citar alguns dos 9 exemplos de quem despertou, construiu e desenvolveu sua consciencia até o processo de identificação com sua Origem Causal, sua Iluminação, enfim, sua Divinização.

Mãos à obra, no sentido de poder praticar, conscientemente, tais exercícios ou algo que equivalha, no mínimo, 1 hora, por dia, buscando fazer de si mesmo seu maior mestre, afinal, todos devemos ser mestres, mas de nós mesmos, em prol da verdadeira tarefa que é a de encontrar a verdade interior, o centro consciente, enfim, o centro divino, em nós mesmos.

CONCLUSÃO

“A consciência diviniza”. (JAIR TÉRCIO, 2009)

“A todo momento e sob quaisquer circunstâncias devemos constantemente lembrar

nossa real natureza (eu sou).” (SRI RAMANA MAHARSHI, 1990)

“[..] nós somos a consciência – apenas sutilmente velada

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(um véu que pode ser penetrado em extensões variadas, como testemunharam místicos através dos séculos).”

(AMIT GOSWAMI, 1993)

Oxalá possamos fazer nossa parte no que se refere a viver em conexão com o divino, pois todos nós temos poderes divinos, mas o que nos torna divinos é como utilizamos tais poderes e, neste sentido, temos o dever moral de sentir, pensar e agir de forma que possibilite transformar a definição em compreensão, o conhecimento em consciência, enfim, que o explanado pela religião, filosofia e ciência se transforme em experiências diretas, corretas e completas, portanto em autoconhecimento e, por fim, em autorrealizações, até a divinização. Afinal, o divino se pratica se praticando.

Mas, vale ressaltar que a preocupação do Ser Humano não deve ser a de se tornar e manter como um ser Divino, mas, sim, a de fazer tudo divinamente, no dia a dia do seu viver. É provadamente verdadeira a teoria de que a consciencia exige ação correspondente, a partir não somente do conhecimento, mas da aproximação, até a identificação, com as Leis Naturais que regem o Universo, quais repousam nela, consciência. O fim do Ser Humano está no seu princípio Divino; o seu primeiro e último meio é o autoconhecimento; e os seus únicos recursos são as Leis Divinas, as Leis Universais, enfim, as Leis Naturais que regem o Universo. Até porque, no Universo, tudo são Leis.

Que as práticas de exercícios de conectividade possam, de forma cada vez mais intensa, favorecer quanto ao processo de autoconhecimento, que é diretamente proporcional à consciência, por espiritualizar, iluminar, enfim, divinizar. Afinal, que quem se alimenta do Divino nunca esquece!

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Notas: 1 A persona, a personalidade pública, intermedeia entre o ego e o mundo real. A sombra

contém aqueles traços inaceitáveis para a persona, quer eles sejam positivos, quer negativos. A anima é o depósito de todas as experiências de mulher na herança psíquica de um homem; o animus é o depósito de todas as experiências de homem na herança psíquica de uma mulher. A anima ou o animus conecta o ego ao mundo interno do complexo psíquico e é projetado sobre outros em relacionamentos cotidianos ou íntimos (JUNG, 2000).

2 Os arquétipos não possuem formas fixas ou pré-definidas. Trata-se de um recipiente que nunca podemos esvaziar, nem encher. Ele existe em si

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apenas potencialmente, e quando toma forma em alguma matéria, já não é mais o que era antes. Persiste através dos milênios e sempre exige novas interpretações.

Por serem anteriores e mais abrangentes que a consciência do ego, os arquétipos criam imagens ou visões que balanceiam alguns aspectos da atitude consciente

do sujeito. Os arquétipos são os elementos inabaláveis do inconsciente, mudando apenas de forma (JUNG, 2000).

3 O self é o arquétipo do ego; ele é o potencial inato para a integridade, um princípio ordenador inconsciente direcionando a vida psíquica geral que

dá lugar ao ego, faz acordos com e é parcialmente moldado pela realidade externa. O self surge do inconsciente em sonhos, fantasias e estados de consciência

alterada para dar direção. O inconsciente dá lugar à integração, ordem e individuação (JUNG, 2000).

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