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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
ALDCELLY MONTENEGRO PEREIRA LOPES
OS DIREITOS DA POPULAÇÃO IDOSA E A EFETIVAÇÃO DA
POLÍTICA E SISTEMA DE PROTEÇÃO: a realidade do município de
Natal/RN.
NATAL / RN
2013.1
ALDCELLY MONTENEGRO PEREIRA LOPES
OS DIREITOS DA POPULAÇÃO IDOSA E A EFETIVAÇÃO DA
POLÍTICA E SISTEMA DE PROTEÇÃO: a realidade do município de
Natal/RN.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de graduação em Serviço Social, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção de título de bacharel em Serviço Social.
Orientadora: Profa. Ms. Juliana Maria do Nascimento
NATAL / RN
2013.1
Lopes, Aldcelly Montenegro Pereira.
Os direitos da população idosa e a efetivação da política e sistema de proteção: a realidade do município de Natal-RN / Aldcelly Montenegro Pereira Lopes. – Natal, RN, 2013. 65 f.: il. Orientadora: Profa. Me. Juliana Maria do Nascimento. Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Serviço Social. 1. Serviço Social - Monografia. 2. População idosa - Monografia. 3. Violação de direitos - Monografia. 4. Proteção social - Monografia. I. Nascimento, Juliana Maria do. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
CDU 364-053.9(813.2)
ALDCELLY MONTENEGRO PEREIRA LOPES
OS DIREITOS DA POPULAÇÃO IDOSA E A EFETIVAÇÃO DA
POLÍTICA E SISTEMA DE PROTEÇÃO: a realidade do município de
Natal/RN.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de graduação em Serviço Social, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção de título de bacharel em Serviço Social.
MONOGRAFIA APRESENTADA EM: __/__/2013.
BANCA EXAMINADORA
Profª. Ms. Juliana Maria do Nascimento (Orientadora) Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Profª Dra. Iris Maria de Oliveira (Examinadora) Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Profª Ms. Leidiane Souza de Oliveira (Examinadora) Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Dedico este trabalho a Deus, minha fonte de
sabedoria e inspiração, pelo qual me deu forças
para chegar até aqui.
Aos meus pais, exemplos de fé e sabedoria por
ensinarem a acreditar na minha capacidade e
enxergar o melhor de mim.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeço a Deus autor da minha vida, fonte de inspiração,
pelo qual me deu forças para chegar até aqui, por mais uma conquista realizada,
agradeço pela família maravilhosa que tenho, por todos os esforços que fizeram
para que eu pudesse estar aqui hoje, pelo apoio constante nas decisões que
precisei tomar alegrias compartilhadas, dúvidas, erros e acertos, não medindo
esforços para a realização dos meus sonhos, ela paciência, pelas advertências
quando necessário, mas tudo isso foi preciso para chegar até á conclusão desta
etapa, e a novas que virão.
Quero agradecer também a todos os amigos presentes, por terem me
compreendido, cada vez que eu parei para pensar se realmente tinha certeza de que
este era o caminho, por estarem ao meu lado, quando mais precisei, a vocês devo
amor e respeito.
Em especial, agradeço:
A minha mãe Gicelly, grande mulher guerreira, de fé, que esteve presente em
todo esse processo de aprendizagem, de lutas, dando todo apoio sempre em tudo
que precisei.
Ao meu Pai, que é um modelo de vida a ser seguido, mostrando o caminho a
seguir, aos seus sábios conselhos me passando segurança em todas as decisões
que precisei tomar.
Ao meu avô, grande mestre que tive exemplo de vida, ela imensidão que
representa na minha vida, dedico este trabalho em homenagem a ele, também fruto
do meu amor.
Meus sinceros agradecimentos, aos parentes e amigos que de alguma forma
contribuíram com esse processo de trabalho, especialmente ao meu amigo Junior
Rodrigues que esteve bem presente em todos os momentos. Aos que souberam
apoiar e compreender minhas ausências durante mais esta jornada.
As minhas amigas do coração, Dayane Cristine, Berenice Souto, Iris Cabral
entre outras com quem dividi as angústias das provas e trabalhos e as alegrias das
comemorações, pelos momentos divertidos e engraçados, sem os quais os dias não
teriam sido tão emocionantes.
A minha Professora Juliana Maria do Nascimento, obrigada, pela paciência
que teve comigo quando fiquei discutindo sobre esta monografia.
E por fim, agradeço a Deus pelas oportunidades que me foram oferecidas
durante o curso da minha vida, por todas as pessoas que colocou em meu caminho,
pelas alegrias e pelos tropeços, que me fizeram parar e olhar para o alto e
reconhecer o Seu cuidado e eterno amor por mim.
A todas essas pessoas, não existem palavras que possam expressar meus
sentimentos. Somente o meu amor.
“Com o passar dos anos, as árvores tornam-se
mais fortes e os rios, mais
largos. De igual modo, com a idade, os seres
humanos adquirem uma
profundidade e amplitude incomensurável de
experiência e sabedoria. É
por isso que os idosos deveriam ser não só
respeitados e reverenciados,
mas também utilizados como o rico recurso
que constituem para a
sociedade”.
(Kofi Annan)
RESUMO
O Presente trabalho apresenta o fenômeno do envelhecimento como um processo natural do ciclo da vida e da sociedade. Confirma que atualmente no Brasil vem surgindo uma mudança significativa em sua estrutura etária, determinada pelas alterações da dinâmica demográfica brasileira como: a queda da taxa de fecundidade, aumento da expectativa de vida, as descobertas científicas e tecnológicas. Como consequência, identifica-se um crescimento populacional do segmento idoso e do aumento do número de anos de vida, realidade que impõe hoje a pensar e analisar a velhice, não como o fim da vida, mas como uma nova etapa a ser vivida. Objetiva analisar e discutir a efetivação da política e sistema de Proteção Social ao Idoso no Município de Natal, no que se refere á prestação de serviços na perspectiva da Proteção e da garantia dos direitos da pessoa idosa. Pretende contribuir na compreensão da situação de violência e violação dos direitos do idoso no Município. Analisa a situação do descaso, da exclusão e do preconceito que rotulam e dificultam a efetivação de políticas públicas e sociais voltados para esta população. Afirma que, no Brasil, houve grandes intervenções na política brasileira; avanços e retrocessos no que se refere, de um lado, a implementação das políticas neoliberais e, de outro, um processo de lutas e conquistas da população idosa na efetivação de leis constitucionais que promovessem a dignidade da pessoa idosa. Evidencia estas e outras reflexões a partir de determinantes políticos e conjunturais postos pela sociedade brasileira que dificultam o processo de efetivação da Política do Idoso. Conclui-se que o contexto apresentado possibilitará maior compreensão na analise e reflexão das diversas formas de enfrentamento à violência a partir do sistema de Proteção do Idoso no Município de Natal, bem como possibilita apreender determinantes históricos que explicam o agravamento da violência na sociedade capitalista particularmente contra a população idosa.
Palavras- chave: População idosa. Envelhecimento. Violação de direitos.Proteção
social.
ABSTRACT
The Present work presents the phenomenon of the aging as a natural process of the cycle of the life and of the society. It confirms that now in Brazil it is appearing a significant change in his/her age structure, certain for the alterations of the Brazilian demographic dynamics as: the fall of the fecundity tax, increase of the life expectation, the scientific and technological discoveries. As consequence, identifies a population growth of the senior segment and of the increase of the number of years of life, reality that imposes today to think and to analyze the old age, I don't eat the end of the life, but as a new stage to be lived. Lens to analyze and to discuss the to execute of the politics and system of Social Protection to the Senior in the Municipal district of Christmas, in what refers á services rendered in the perspective of the Protection and of the warranty of the senior person's rights. He/she intends to contribute in the understanding of the violence situation and violation of the senior's rights in the Municipal district. He/she analyzes the situation of the disregard, of the exclusion and of the prejudice that you/they label and they hinder the to execute of public and social politics returned for this population. He/she affirms that, in Brazil, there were great interventions in the Brazilian politics; progresses and retreats in what refer, on a side, the implementation of the neoliberal politics and, of other, a process of fights and conquests of the senior population in the to execute of constitutional laws that you/they promoted the senior person's dignity. It evidences these and other reflections starting from political and of the situation determinant put by the Brazilian society that you/they hinder the process of to execute of the Senior's Politics. It is ended that the presented context will make possible larger understanding in the it analyzes and reflection in the several to face ways to the violence starting from the system of Protection of the Senior in the Municipal district of Christmas, as well as it makes possible to apprehend historical determinant that explain the aggravation of the violence particularly in the capitalist society against the senior population.
Key-words: Elderly population. Aging. Violation of rights. Violence. Social Protection.
LISTA DE SIGLAS ACP – Associação Cearense de Proteção ao Idoso
ANG – Associação Nacional de Gerontologia
API - Atenção a Pessoa Idosa
BPC - Benefício da Prestação Continuada
CAP - Caixa de Aposentadoria e Pensão
CEI - Conselho Estadual do Idoso
CF – Constituição Federal
CNA - Confederação Nacional dos Aposentados
CNDI – Conselho Nacional dos Direitos do Idoso
CODIMM - Coordenadoria da Defesa de Direitos das Mulheres e Minorias
FNDAS - Fundo Nacional da Assistência Social
IAPAS – Instituto de Apoio Operacional e Assistencial
IAPs - Instituto de Aposentadoria e Pensões
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ILPI – Instituto de Longa Permanência para Idosos
INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social
INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social
IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
LBA – Legião Brasileira de Assistência
LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social
LOPS - Lei Orgânica da Previdência Social
OMS – Organização Mundial de Saúde
ONG – Organização Não - Governamental
PNI – Política Nacional do Idoso
SBGG – Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia
SEDH – Secretaria Especial de Direitos Humanos
SEMTAS - Secretária Municipal de Trabalho e Assistência Social
SESC – Serviço Social do Comércio
SINPAS - Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social
SUS – Sistema Único de Saúde.
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 11
2 OS DETERMINANTES HISTÓRICO-SOCIAIS E CULTURAIS QUE INFLUENCIAM
NOS PROCESSOS DE VIOLÊNCIA E VIOLAÇÃO DE DIREITOS DA POPULAÇÃO
IDOSA NO BRASIL. ........................................................................................................ 17
2.1 ENVELHECIMENTO E CULTURA NA SOCIEDADE BRASILEIRA: VIOLÊNCIA E
NEGAÇÃO DE IDENTIDADE. ......................................................................................................17
2.2 A LUTA DA POPULAÇÃO IDOSA POR DIREITOS NA SOCIEDADE CAPITALISTA:
AVANÇOS E RETROCESSOS. ...................................................................................................24
3 OS DIREITOS DA POPULAÇÃO IDOSA E A EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA E
SISTEMA DE PROTEÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE. ............................................ 31
3.1 CONQUISTAS E LIMITES NA GARANTIA E EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS DOS
IDOSOS NO CONTEXTO NEOLIBERAL. ..................................................................................31
4 A EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA E O SISTEMA DE PROTEÇÃO NO MUNICÍPIO DE
NATAL/RN. ..................................................................................................................... 45
4.1 OS ÓRGÃOS DE PREVENÇÃO, PROTEÇÃO E ATENÇÃO EM NATAL/RN:
CONDIÇÕES DE EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA DO IDOSO. .................................................45
4.2 O COMBATE Á VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA: UMA REALIDADE
OCULTA. .........................................................................................................................................53
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 57
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 60
11
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho apresenta como objeto de análise a realidade de
violência vivenciada pela população idosa no Brasil e, mais particularmente, no
Estado do Rio Grande do Norte. Tem como objetivo apreender o movimento societal
propulsor das desigualdades e recusa da diversidade, desvelar a realidade da
violação dos direitos das pessoas idosas bem como o tratamento que o Estado tem
dado a este segmento via Políticas Públicas. A perspectiva de regressão de direitos
vai retomar no contexto histórico do Brasil, contextualizando com vários fatores
determinantes que implicam no desenvolvimento de políticas sociais no nordeste,
especificamente no Município de Natal, pelo qual têm tornado uma sociedade
brasileira ainda tão desigual. Trata-se, portanto, de apreender as possibilidades
objetivas de efetivação das políticas direcionadas a pessoa idosa, visando a
contribuir para o fortalecimento do sistema de proteção social a pessoa idosa.
O despertar de interesse para essa temática se deu em função da experiência
de estágio curricular que realizou-se na Secretária Municipal de Trabalho e
Assistência Social (SEMTAS), no âmbito do SOS Idoso.
O SOS Idoso é uma rede nacional de proteção social para a pessoa Idosa.
Esse programa atende vários Estados, o Programa SOS Idoso é um canal de
recebimento de denúncias, através do Disque Denúncia 0800 084 1021, no qual são
averiguadas situações de violência e violação de direitos contra a pessoa idosa. No
município do Natal tem como missão efetivar o amplo atendimento ao idoso em
condição de risco ou de vulnerabilidade tanto pelo ciclo de vida, quanto pelas
situações de violação de direitos que vivencia, na perspectiva de reconstrução do
vinculo familiar ou da sua inclusão na rede de proteção social direcionada á pessoa
idosa. Esse trabalho surgiu em 2003, buscando assegurar a qualidade de vida e
bem-estar da pessoa idosa. O SOS Idoso é uma rede que também vincula-se com o
Ministério Público, Promotoria do Idoso, delegacias, entres outros órgãos públicos.O
programa promove o apoio às famílias na tarefa de cuidar, garantir a dignidade da
pessoa humana, no intuito de garantir a autonomia no suprimento de suas
necessidades físicas e psicológicas e manutenção dos proventos.
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Objetiva garantir a proteção à pessoa idosa, na perspectiva da efetivação de
seus direitos sociais, sua inclusão na rede de proteção social direcionada à pessoa
idosa, bem como a reconstituição do vínculo familiar e/ou comunitário (GOMES et
al., 2009.)
Através do programa social SOS Idoso é feito uma realização de visitas
domiciliares, atendimentos individuais e familiares, assistência psicossocial,
orientações e encaminhamentos e palestras educativas para os idosos. O
profissional faz a escuta, acolhe as informações do denunciador, articula com os
serviços socioassistenciais, interinstitucional, com o sistema de garantia de direitos,
atividades de convívio e de organização da vida cotidiana.
O tratar dessas questões vêm sendo realizado pela SEMTAS, que,
especificamente através do programa SOS Idoso, recebe ocorrências diariamente
através do disque denuncia, onde são notificadas e averiguadas os mais diversos
tipos de violação e violência contra a pessoa idosa, como maus tratos, negligência,
auto-negligência, desvio de proventos, violência física, verbal, psicológica, dentre
outras. Muitos desses indivíduos desconhecem os serviços de assistência e
proteção contra a violência, por isso, hesitam em denunciar seus agressores.
O presente estudo é de natureza qualitativa, bibliográfica, do tipo descritivo e
documental. O método de investigação será pautado no método critico-dialético,
articulando com determinações societárias que nos permite analisar o movimento da
sociedade como ela nos apresenta, Nesse processo procura-se apreender um
processo investigativo no cotidiano da vida social e politica do idoso, em como
desvelar as intenções e características do Sistema de proteção Social do Idoso e a
efetivação da politica social no Município de Natal.
O processo de envelhecimento se dá por uma serie de características, uma
delas se dá pelas mudanças físicas, psíquicas e sociais que acontecem de forma
particular em cada individuo. É entendido como parte integrante e fundamental no
curso de vida de cada individuo. Entendemos, no entanto, que “envelhecer” além de
ser um processo natural, é um processo que precisa ser estudado, analisado e
pesquisado de forma critica para que possamos encará-lo da melhor forma possível
(MARTINS, 2011).
13
O envelhecimento além de ser um processo natural e dinâmico, também é um
processo natural e social marcado pelas condições de vida que o individuo
enfrentam ao longo da sua vida. O país esta mais velho e precisa se planejar para
atender essa população.O desafio tem sido dada na medida de como a sociedade
enfrenta essas diferentes realidades,é o idoso deficiente,impossibilitado para o
exercício de suas atividades,o idoso eficiente para o trabalho que consegue atender
as demandas do mercado de trabalho,aos dependentes que não conseguem realizar
suas tarefas necessárias para sua sobrevivência,entre outros fatores é importante
repensar nesse movimento dialético que encontra a realidade do idoso em sua
contexto social e em sua totalidade.
É nítido e comprovado por pesquisas que a população idosa tem tido um
celebre crescimento de larga escala. As modificações do modelo familiar, dos novos
papéis do homem e da mulher na sociedade deram outro norte, as exigências de
novos direitos dentre outros aspectos. A família moderna sofreu profundas
mudanças pela industrialização e pela urbanização. Em nossa sociedade capitalista,
culturalmente quem “envelhece” convive com uma espécie de “apartheid social”,
pois condicionados a viverem um tipo de margem da sociedade, os idosos
costumam ser considerados caretas, ultrapassados, inúteis e absoletos, como afirma
Goldman (2007).
Essa contradição é agravada por fatores culturais que idolatram o moderno, o novo, o jovem e ridicularizam o antigo e o velho. Assim o idoso se depara com problemas de rejeição da auto-imagem e tende a assumir como verdadeiros os valores da sociedade que o marginaliza. Dessa forma a marginalização do idoso se processa socialmente e é muitas vezes, assumida pelo próprio idoso, que não tendo condições de superar as dificuldades naturais do envelhecimento, se deixa conduzir, por padrões preconceituosos que o colocam á margem da sociedade. (GOLDMAN, 2007, p.123).
A população vem crescendo em grande escala. Hoje o envelhecimento da
população tem sido um reflexo da realidade social. Estatísticas apontam para esta
realidade como também revelam a necessidade que as políticas públicas e sociais
devam ser executadas e que atendam a esta população que, de alguma forma,
contribuiu ao longo de sua vida para a construção de uma sociedade visando uma
14
maior compreensão das relações sociais na efetivação dos espaços de cidadania.
Nessa perspectiva, a Política Nacional do Idoso, de 1994, surge com o objetivo de
arcar com condições para promover com a longevidade e com a qualidade de vida,
desenvolvendo programas que deem conta desses desafios que a população idosa
possa trazer.
No que se refere à questão dos direitos da pessoa idosa e sua violação,
constituem fenômenos que, analisados sob uma perspectiva de totalidade, são
considerados partes integrantes de um processo histórico e contemporâneo de
desigualdade social, marcado pela regressão de direitos no contexto contraditório da
sociabilidade capitalista ao longo de todo o contexto histórico (SANTOS; OLIVEIRA,
2010).
A Lei é um instrumento sem duvida muito importante para a prevenção e
combate á violência contra o Idoso. A Lei 10.741/03 dispõe o Estatuto do Idoso bem
como a Política Nacional do Idoso regulamentada pela Lei 8.842/94 respalda sobre
sua relevância na sociedade, uma conquista de suma importância no que se refere à
conquista dos idosos como sujeitos de direitos.
Os idosos apesar de toda desigualdade social por sua vez estão ganhando
cada vez mais seu espaço no que diz respeito ao reconhecimento como categoria
de direitos e da cidadania por uma boa qualidade de vida. Obviamente, que irá
repercutir de acordo com a classe social que o individuo (a pessoa idosa) se insere
na sociedade brasileira. Esses direitos devem ser concretizados a partir das políticas
sociais na área da saúde, da promoção, da assistência social, educação, trabalho,
esporte, lazer, previdência social, habitação, urbanismo entre outros.
É objetivo deste trabalho analisar a efetivação da Política de Proteção ao
Idoso no Município de Natal, a partir dos determinantes sócio-políticos e conjunturais
postos pela sociedade contemporânea. Desta forma, apresentam-se os seguintes
objetivos específicos: apreender os determinantes histórico-sociais que explicam os
agravamentos da violência na sociedade capitalista, particularmente contra a
População Idosa; analisar o sistema de proteção ao Idoso no Município de Natal, a
partir de seus órgãos de prevenção, proteção e traçando o perfil desta população,
como também trataremos o combate á violência contra a pessoa idosa diante de
uma realidade oculta.
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Durante o desenvolvimento do trabalho buscaremos respaldo no Estatuto do
Idoso em 2003, o qual percorreu por uma longa trajetória de lutas que resultou em
mais de 20 anos, para ser aprovado e entrar em vigor. O Estatuto vem tratar dos
direitos fundamentais como a vida, liberdade, respeito, dignidade, alimentos, direito
á saúde, dando proteção ao idoso, contra o abandono, negligência, dentre outros.
O Estatuto do Idoso em 2003 veio para ampliar os direitos dos cidadãos com
mais de 60 anos, tendo em vista a articulação com a Lei 8.842 da Política Nacional
do Idoso, de 4 de janeiro de 1994, que trata no art. 3:
[...] é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Publico assegurar o idoso, com absoluta prioridade e efetivação do direito á vida, á saúde, á alimentação, á educação, á cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, á cidadania, á liberdade, á dignidade, ao respeito e á convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1994, p.1).
A ideologia dominante com seu modelo capitalista desvaloriza o idoso, sua
importância e seu significado para sociedade.
De acordo com Peixoto (2007) os idosos na sociedade capitalista passam a
ser considerados “velhos improdutivos”, pois o trabalho é considerado ate hoje como
algo produtivo na sociedade. O idoso por uma questão de lógica também poderia ter
seu lugar de destaque na sociedade, por seu saber acumulado, porém em uma
sociedade centrada no jovem, a força que representa o ser velho já não atende as
perspectivas de mercado. O autor afirma que “[...] a representação social da velhice
é, assim, bastante marcada pela inserção do individuo no processo de produção”
(PEIXOTO, 2007, p. 25). Dessa forma, entende-se a velhice dos trabalhadores como
vinculada à inutilidade e à incapacidade de produzir.
A sociedade é a mesma que mantém e reproduz a idéia de que a pessoa vale
o quanto produz e o quanto ganha e, por isso, os mais velhos, estando fora do
mercado de trabalho e, quase sempre, ganhando uma pequena aposentadoria
podem ser descartados e considerados inúteis. No contexto sociopolítico neoliberal
é necessário intervir na realidade social em que os idosos se encontram, valorizando
seu lugar na sociedade de forma a desenvolver estratégias de melhores condições
16
de vida nesta conjuntura neoliberal e garantir seus direitos como sujeitos de direitos.
Há uma importância de buscar caminhos para que essa população tenha acesso às
informações necessárias sobre as leis e seu estatuto para reivindicar do Estado e da
sociedade sobre seus direitos.
Esta monografia apresenta a seguinte estrutura: a sessão segunda irá
apresentar os determinantes histórico-sociais e culturais que influenciam até hoje, os
processos de violência e violação de direitos da população idosa no Brasil, levando-
se em consideração o contexto do envelhecimento e a cultura na sociedade
brasileira, que ao longo do tempo vem agravando os processos de violência e a
negação de identidade, assim como, far-se-á também uma análise da luta da
população idosa por direitos na sociedade capitalista.
Em seguida, na terceira sessão, discorreremos acerca dos direitos da
população idosa e a efetivação da política, assim como do sistema de proteção na
contemporaneidade, onde será explicitada uma apreciação das conquistas e limites
da efetivação dos direitos dos idosos no contexto neoliberal.
Na quarta sessão analisaremos a efetivação da política e o sistema de
proteção no Município de Natal/RN, identificando os órgãos de prevenção, proteção
e atenção do referido município, sobre as condições de efetivação da política do
idoso; e o combate à violência contra o idoso. A quinta sessão tratará das
considerações finais e sugestões desta pesquisa.
17
2 OS DETERMINANTES HISTÓRICO-SOCIAIS E CULTURAIS QUE
INFLUENCIAM NOS PROCESSOS DE VIOLÊNCIA E VIOLAÇÃO DE DIREITOS
DA POPULAÇÃO IDOSA NO BRASIL.
2.1 ENVELHECIMENTO E CULTURA NA SOCIEDADE BRASILEIRA: VIOLÊNCIA E
NEGAÇÃO DE IDENTIDADE.
Tratar do processo de envelhecimento tem sido um grande desafio para a
sociedade brasileira na medida em que a população idosa tem sofrido grandes
repercussões nos processos de envelhecimento e longevidade. O processo de
envelhecimento é natural do ciclo da vida, e diante dessa nova estrutura etária
percebemos a velhice não como o fim da vida, mas uma nova etapa da população
idosa.A sociedade brasileira vem sofrendo profundas transformações no que se
refere á composição etária de sua população. O envelhecimento da população
deixou de ser uma preocupação individual, e passou a ser uma tarefa do Estado,
promover o bem - estar dos idosos. Com o aumento da População Idosa foi imposto
novos desafios á sociedade brasileira.
O envelhecimento da população tem sido um reflexo da expectativa de vida,
de uma pessoa que passa dos 60 anos sendo esta considerada idosa. Essa
população vem crescendo em grande escala, estatísticas apontam para esta
realidade como também revela a necessidade de que Políticas Públicas e Sociais
devem ser executadas e atendam as demandas desse segmento. No documentário
apresentado pela TV câmara a Dr. Ana Amélia Camarano, pesquisadora do Instituto
de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), aponta que o brasileiro idoso hoje se
encontra em diferentes realidades: a professora aposentada que cuida dos bisnetos,
o vendedor ambulante que nunca pagou o INSS, o idoso sem família, o aposentado
que voltou para universidade, o portador de Alzheimer que conta com o apoio da
família.
Esses são alguns personagens que compõem um retrato bastante humano do
desafio de envelhecer no Brasil. Sobre isso, Bolsanello (1986) fala que:
18
Falar de envelhecimento é discorrer sobre a idéia de vida, uma vez que envelhecemos a partir de nosso nascimento, sendo este um curso natural da nossa vida. Todos nos envelhecemos, com ou sem atividades, independente da idade, contudo, não devemos esquecer a necessidade de qualidade de vida nesse contexto. (BOLSANELLO, 1986, p.762).
O Brasil vem sofrendo uma forte transição demográfica, passando por um
processo de envelhecimento populacional conhecido como fenômeno da
longevidade. Longevidade significa vida longa, relacionado a uma boa expectativa
de vida. O país esta envelhecendo e por outro lado vieram às transformações
advindas do avanço tecnológico e com ele o alargamento da expectativa de vida e
qualidade de vida para a população idosa.
O crescente envelhecimento populacional que vem ocorrendo tanto no âmbito
mundial, quanto no Brasil, essa mudança no perfil demográfico no País vem
trazendo um aumento da população de idosos no Brasil. O fenômeno da
longevidade é um tema presente na atualidade, que vem despertando maior
interesse social e científico a partir da década de 1990.
Fonte: Terra/IBGE, 2012/2011. 1
1 Informações referenciadas nas pesquisas do IBGE, 2011.Documento eletrônico não paginado.
Figura 1 – Gráfico da População Idosa no Brasil.
19
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
na Figura 1, aponta que nos anos 40, o Brasil apresentava um padrão demográfico
instável, onde os níveis de fecundidade e mortalidade mantinham em níveis
elevados.
A composição da estrutura familiar era caracterizada por uma família
numérica, típica de uma sociedade agrária e de uma sociedade que sofria
precariamente pela situação caótica do desemprego, processo de urbanização e ao
mesmo tempo da industrialização fluxo migratório contribuiu para uma urbanização
descontrolada e concentrada em um processo longo. Nos anos 60 percebemos
mudanças nos papeis familiares modificando a dada complexidade por fatores
socioculturais da época.
Percebe-se que as taxas de crescimento da população brasileira sofre um
grande declínio as taxas de fecundidade. A fecundidade no Brasil foi diminuindo com
a circulação dos métodos anticoncepcionais, participação da mulher no mercado de
trabalho, a mulher começa a garantir novas concepções de planejamento no mundo
familiar, introdução de novos valores familiares, há uma nova questão social na
dinâmica da sociedade diminuindo o número de filhos por casal e havendo um forte
aumento de intervalos por numero de nascimento entre outros fatores.
Essa nova estrutura traz uma nova realidade, o Estado passa a se preocupar
e investir em Políticas Sociais em massa, organizado por uma rede de Proteção
básica e proteção social. Essas transformações estão relacionadas à mudança
estrutural da sociedade essa mudança reflete diretamente na família e todas as
formas de relações sociais. A transformação no padrão demográfico ocorria com a
mudança da estrutura etária, com isso diminuía o crescimento da população de
crianças e adultos, dando espaço para evasão o novo grupo etário, uma nova
população ativa, a população idosa.
O gráfico também apresenta particularidades no processo de envelhecimento,
o cenário mostra um aumento elevado no número de idosos, a estimativa no ano de
2050, representa uma média de 30% da população. O ato de envelhecer é um
processo proveniente da própria vida.
O envelhecimento da População esta diretamente associado ao aumento da
expectativa de vida das pessoas que por sua vez se relaciona com as conquistas e
20
avanços científicos e tecnológicos, neste caso voltados para os avanços da
medicina, medicamentos, equipamentos e tratamentos que interferiram na qualidade
de vida e, portanto na longevidade da população, repercutindo na qualidade de vida
do cidadão brasileiro. A medida em que a sociedade muda há uma necessidade de
implementar políticas que atendam essa demanda, para que possa acompanhar
toda essas mudanças estruturais e relacionadas á pessoa idosa.
Para Neri (1999, p.121), “o envelhecimento possui uma dimensão existencial 2
(grifo nosso) e se modifica com a relação do homem e o tempo, com o mundo e sua
própria história, revestindo-se não só de características biopsiquicas como também
sociais e culturais”.
A velhice pode ser bem sucedida na maneira como o individuo conduz a sua
vida, fatores sociais, físicos e psicológicos contribuem para esta fase da vida. A
maioria das pessoas se mantém fixadas na realidade de que os valores da
juventude são bem mais prazerosos, e nessa fase muitas vezes não consegue
enxergar a beleza dos anos vividos, das experiências acumuladas em seu histórico
de vida. Portanto, o envelhecimento tem dimensão existencial porque modifica a
relação do homem com a natureza, com o tempo de vida, em um espaço social e
sua própria história pelo qual constitui não só características biopsiquicas, como
também sociais e culturais.
O modo de envelhecer varia de como é o curso de vida de cada pessoa,
grupo etário e condições de vida. Envelhecer ocorre de maneira diferente em cada
pessoa, pois depende de seu ritmo, época de vida, condições socioeconômicas e
nível cultural entre outros fatores, não caracterizando um período só de perdas e
limitações, mas um estado de espírito que decorre da maneira como a sociedade e o
próprio individuo encara (NERI; CACHIONI, 1999).
2 A dimensão existencial se vincula não apenas, à sobrevivência biológica, a automanutenção financeira, ao exercício dos direitos sociais, culturais e econômicos, como também a integridade psíquica e ao bem-estar psicológico da pessoa natural, bem assim ao direito do individuo de escolher e realizar atividades (inclusive concretizar metas) que dão sentido a sua vida. Daí se denota a situação existencial humana (ou seja, “conjunto de relações nas quais o ente humano existente se encontra no mundo e com os outros”, pessoas e coisas) e o direito mínimo existencial (direito ao “necessário á existência digna”). (ABBAGNANO, 2006).
21
Na verdade, não existe idade certa para estabelecer se uma pessoa é velha
ou não, mas é possível estabelecer conceitos universais, para determinar um ponto
a partir do qual as pessoas envelhecem. Isso porque a questão da velhice, ou
melhor, das velhices, possui inúmeras conotações, sejam elas políticas, sociais,
culturais e ideológicas. Não há uma idade universalmente aceita como o limiar da
velhice. As opiniões divergem de acordo com a classe socioeconômica e o nível
cultural. Morhy (1999) considera que envelhecer pode ser conceituado como:
O processo de acumular experiências e enriquecer a vida por meios de conhecimento e habilidades físicas. Essa sabedoria adquirida proporciona o potencial para tomar decisões razoáveis e benéficas a respeito de nós mesmos. O grau de independência que dispomos na vida esta diretamente relacionado à atividade maior ou menor em nosso corpo mente e espírito [...] o envelhecimento pode ser definido como uma serie de processos que ocorrem nos organismos vivos, com o passar do tempo leva a perda da adaptabilidade, a alteração funcional e, eventualmente a extinção.(MORHY, 1999, p. 26).
Os conceitos e denominações da velhice nada mais são do que resultado da
construção social dada por uma sociedade, com valores e princípios próprios, por
questões multifacetadas e por vezes contraditórias.
Essa contradição está representada no fato de que, no momento
contemporânea, ao mesmo tempo em que a sociedade potencializa a longevidade, a
expectativa de vida, ela nega aos idosos o seu valor e sua importância.
Para Papaléo Netto (2002, p. 10 apud RODRIGUES et al., 2006, p. 2), o
conceito tradicional de velhice é tido como:
O envelhecimento (processo), a velhice (fase da vida) e o velho ou idoso (resultado final) constituem um conjunto cujos componentes estão intimamente relacionados. [...] o envelhecimento é conceituado como um processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que terminam por levá-lo à morte. [...] Às manifestações somáticas da velhice, que é a última fase do ciclo da vida, as quais são caracterizadas por redução da capacidade funcional, calvície e redução da capacidade de trabalho e da resistência, entre outras, associam-se a perda dos papéis sociais, solidão e perdas psicológicas, motoras e afetivas.
22
O envelhecimento ao mesmo tempo em que é uma conquista nos dias atuais
é um forte desafio no que pode representar uma consequência nos efeitos da
passagem do tempo, das condições biológicas, envolvendo fatores psicossociais e
psicossomáticos. É por isso que o envelhecimento tem dimensão existencial porque
modifica a relação do homem com o tempo, com o mundo e sua própria história,
constituindo características biopsiquicas, como também sociais e culturais.
A velhice passou a ocupar um lugar marginalizado pelo fato dos idosos já
terem realizado seus “potenciais evolutivos”, já terem trabalhado e contribuído,
dando tudo o que tinham para oferecer, perdendo assim o seu “valor social”. Isso é
mais evidente, principalmente, nas sociedades ocidentais contemporâneas, nas
quais o indivíduo é medido por sua produtividade, o seu valor como ser social é
medido pelo seu trabalho.
O ser velho tem sido representado com um conjunto de atribuições e
transformações negativas que estão ligadas ao conceito tradicional de velhice. Na
sociedade capitalista, o envelhecimento é marcado exclusivamente por valores
negativos, o envelhecer é visto como algo indesejável e causador de sofrimento. Ao
passo que a juventude é fortemente exaltada, a velhice é excluída e estigmatizada.
Exemplo disso é o fato de que, no capitalismo, o velho perde seu poder como
produtor de bens e riqueza, em consequência, seu valor social.
A sociedade é a mesma que mantém e reproduz a idéia de que a pessoa vale
o quanto produz e o quanto ganha, e por isso, os mais velhos, estão fora do
mercado de trabalho, e quase sempre, vem ganhando uma pequena aposentadoria
que podem ser descartados, e considerados inúteis.
A maioria dos jovens mantém a idéia estigmatizados idoso impregnado os
valores fixos na juventude uma grande fase da vida, enquanto ser idoso. Como
afirma Peixoto (2007), ao relatar que:
[...] a representação social da velhice é, assim, bastante marcada pela inserção do individuo no processo de produção. Dessa forma, entende-se a velhice dos trabalhadores como vinculada à inutilidade e à incapacidade de produzir.” [...] (PEIXOTO, 2007, p. 25).
23
Vivemos numa sociedade de consumo, onde o novo é privilegiado e
valorizado, em detrimento do velho. Nesta desigual realidade capitalista, o velho
passa a ser ultrapassado, descartado, ou é caracterizado como fora de moda. Essa
contradição é agravada por fatores culturais que idolatram o moderno, o novo, o
jovem e ridicularizam o antigo e o velho.
Assim o idoso se depara com problemas de rejeição da auto-imagem e tende
a assumir como verdadeiros os valores da sociedade que o marginaliza. Dessa
forma a marginalização do idoso se processa socialmente e é muitas vezes,
assumida pelo próprio idoso, que não tendo condições de superar as dificuldades
naturais do envelhecimento, se deixa conduzir, por padrões preconceituosos que o
colocam á margem da sociedade (GOLDMAN, 2007).
Marilena Chauí (1999) diz que:
[...] a sociedade brasileira é marcada pela estrutura hierárquica do
espaço social que determina a forma de uma sociedade fortemente verticalizada em todos os aspectos: nela as relações sociais e intersubjetivas são sempre realizadas como relação superior, que manda e um inferior que obedece [...] o outro jamais é conhecido como sujeito, nem como sujeitos de direitos jamais é reconhecido como subjetividade nem como alteridade. (CHAUÍ, 2000, p. 89).
Nesse contexto Oliveira (2007, p. 4) relata que a cultura brasileira caracteriza-
se por ser “[...] do atraso e a formação social brasileira são perpassadas por
relações que privilegiam o favor, o clientelismo, o paternalismo e a privatização do
público.
Falar de cultura política no campo da política social considera-se por um lado
traços conservadores, autoritáritarismo na formação social, cultural e economia
brasileira de políticas sociais enquanto direito do cidadão e dever do Estado, pois a
Política Social é criada a partir do contexto das relações sociais numa sociedade
que expressa uma diversidade de antagonismos nas praticas de grupos sociais.
A cultura é uma dimensão fundamental de hegemonia, nela se concentram
as forças sociais, o bloco de poder constituído por uma classe. Essa cultura tem a
capacidade de controlar e produzir mudanças na sociedade tendo em vista na
sociedade de classes (IANI, 1996). Percebemos que a maioria dos idosos sente
24
dificuldades de inserção; é importante avaliar que as diferenças sociais, étnicas e
culturais influenciam na dinâmica do idoso na sociedade e esta idéia conduz a
refletir sobre estes desafios de modo a trabalhar com este idoso e resgatar seu
papel político e social como cidadão de direitos.
2.2 A LUTA DA POPULAÇÃO IDOSA POR DIREITOS NA SOCIEDADE
CAPITALISTA: AVANÇOS E RETROCESSOS.
O propósito deste subitem é discutir sobre a efetivação das Políticas e o
sistema de proteção social destinada ao idoso. Cada sociedade numa determinada
época, tinha uma forma de tratar e definir o idoso. Neste sentido fica evidente a
impossibilidade de pensarmos sobre o que significa “ser velho” fora de um contexto
histórico, já que a velhice toma contornos diferenciados de acordo com o lugar, a
cultura, e a forma como as pessoas se organizam. O cenário dos anos 30 emerge
em meio a uma forte turbulência sofrendo reflexos do avanço do capitalismo, que se
expandia no setor industrial. As políticas de proteção social no Brasil surgiram a
partir de sua organização,quando veio para enfrentar a questão social tal como era
na República Velha, configurando uma política social de cunho clientelista,
corporativista, que compõe o cenário da década de 1930.
A República Velha (1889 – 1930) foi caracterizada pelo revezamento na
presidência da República entre os estados de Minas Gerais e São Paulo, chamado
de política do café com leite. Um governo marcado pelo autoritarismo e pela
tendência centralizadora dos interesses do Estado. A década de 20 foi denunciada
por fortes manifestações no que diz respeito ao contexto das oligarquias. Política
marcada fortemente pelo coronelismo troca de favores, e clientelismo, nessa época
a população estava em fase de transição, as cidades em modernização devidas o
crescente êxodo e migração para as zonas urbanas.
A história dos idosos no Brasil evolui a partir da perspectiva da caridade, da
filantropia. A proteção social era voltada para o atendimento de certas situações de
pobreza. A origem da proteção social baseava-se no modelo da família. A proteção
dos indivíduos contra as adversidades da vida cabia aos familiares mais jovens à
aptidão para o trabalho cuidar dos idosos e incapacitados. Contudo, nem todas as
25
pessoas podiam contar com a proteção familiar para seu amparo em momentos de
necessidade. Então surgiu a intervenção do Estado de forma mais concreta.
Inicialmente o Estado adota algumas medidas isoladas e restritas a algumas
categorias profissionais urbanas e cria, em 1923, a Caixa de Aposentadoria e
Pensão (CAP) dos ferroviários, a qual foi o embrião de toda a política de previdência
social e eixo dorsal da futura política de seguridade social. No período Republicano,
a constituição de 1891 foi a primeira a conter a expressão “aposentadoria” que era
concedida aos funcionários públicos em casos de invalidez. Com um tempo as
caixas de aposentadoria são transformadas para IAPs (Instituto de Aposentadoria e
Pensões), passando a abranger categorias profissionais não só a empresas.
As mudanças políticas e econômicas estavam ocorrendo no Brasil, dentro de
uma ordem capitalista, desenvolvimento no setor industrial, o surgimento das greves
trabalhistas era tratada de forma reivindicatória e insatisfação dos trabalhadores que
determinavam uma proposta para o Estado, para melhores condições de trabalho
nas indústrias.
O desenvolvimento industrial do país sentia-se prejudicado com as agitações
dos trabalhadores, portanto para acalmar os ânimos foi criada a Lei Eloy Chaves
(Decreto nº 4.682, de 24 de janeiro de 1923), pois garante sob a forma de lei alguns
direitos aos trabalhadores em contrapartida o empresariado adquira desta
resignação e maior produtividade no trabalho. Esta política de seguro social defendia
a prestação gratuita de assistência médica curativa, fornecimento de medicamentos,
concessão de aposentadoria por tempo de serviço, velhice, invalidez, pensões para
dependentes dos empregados e auxilio federal. A Lei Eloy Chaves, Decreto
Legislativo nº 4.682, de 24/01/1923, foi uma conquista dos trabalhadores e à
primeira norma a instituir no país a previdência social, com a criação das Caixas de
Aposentadoria e Pensão (CAP) para os ferroviários. As caixas de aposentadoria e
Pensões vieram com a finalidade de prestar benefícios (aposentadorias e pensões)
e assistência médica.
A Previdência Social, foi um marco histórico nesse período como Político
Social, teve sua evolução no Brasil, marcada ao longo do século XX, tendo como
contexto e motor as grandes transformações sociais, políticas, econômicas e
26
institucionais, e como forma de assegurar a reprodução da força de trabalho para a
manutenção do capitalismo, que garantia o bem-estar do trabalhador.
O novo modelo de sociedade amplia as contradições dentro de um sistema de
lutas e reivindicações da classe trabalhadora por melhores condições de vida, a
carga do horário de trabalho, férias remuneradas, descanso semanal e melhores
condições de trabalho, que o Estado reconhece as reivindicações advindas dos
trabalhadores.
O perfil das políticas sociais no período de 1937 a 1945 foi marcado pelos
traços do autoritarismo, e centralizado pela atuação burocrática, o poder central e
eram compostos por traços paternalistas baseado na legislação trabalhista numa
estrutura altamente burocrática e corporativista para a classe trabalhadora. Na
Constituição de 1937 já havia algum indicio de proteção à velhice, estabelecendo o
seguro de velhice para o trabalhador. Os direitos da pessoa idosa, Constituição
Federal em 1934 alcançou grandes conquistas, no artigo 121, trata dessa questão,
principalmente voltado à lógica do direito trabalhista em formato de uma previdência
social “a favor da velhice”. Uma preocupação recorrente da industrialização e
urbanização que criou péssimas condições de trabalhos para a classe trabalhadora,
pessoas impróprias como ex-trabalhadores que se tornavam idosos para o trabalho
fabril e que não tinha condições nem meios de se sustentar.
Nas Constituições de 1946, em seu artigo 157, fala da Previdência “contra as
consequências da velhice”, e de 1967, da previdência social “nos casos de velhice”
no artigo 158. Vale salientar que nessas Constituições havia uma preocupação
moral com a formação da ordem e preservação da raça (FALEIROS, 2007).
No Brasil, e em alguns outros países, surgiram também as santas casas de
misericórdia que foi de grande importância no auxilio com a população idosa. Essas
instituições foram fundadas a partir de uma necessidade emergencial para dar
assistência aos idosos marginalizados e excluídos pela sociedade. O surgimento de
instituições para idosos não é recente. No Brasil, já havia índice de idosos que
sofriam violação de direitos por parte a família, maus tratos, toda forma de
negligência, marginalização e, devido a isso, muitas vezes se submetiam a
convivência fora do âmbito familiar.
27
Em 1960, foi criado o Ministério do Trabalho e da Previdência Social. Foi
editada a Lei nº 3.807, de 26/08/1960, Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS),
cujo projeto tramitou desde 1947, sendo considerada uma das normas
previdenciárias mais importantes da época. Caracterizou-se pela fase da
uniformização da previdência social. Com a concessão dos benefícios dos diversos
institutos existentes na época, ampliou vários benefícios sociais, tais como: auxílio-
natalidade, o auxílio-funeral, e o auxílio-reclusão e assistência social o estatuto do
trabalhador rural, foi implementada a Lei regulamentada pelo nº 4.214, de
02/03/1963, criando Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL).
Na década de 1960 surgem varias organizações não governamentais que se
dispuseram para o trabalho em prol da população idosa. Destaca-se nesse período
a criação da Sociedade Brasileira de Gerontologia e Geriatria (SBGG). Ela foi
fundada em 16 de maio de 1961, na cidade do Rio de Janeiro, por um grupo de
profissionais cuja visão e sensibilidade foram traços marcantes, o diferencial no
campo da ciência da época. Eles percebem em um futuro que o Brasil não se
tornaria um País tão jovem isso precisava preparar o jovem, e por isso precisava
preparar-se tecnicamente e cientificamente para enfrentar o desafio de garantir a
qualidade de vida dos idosos. A associação tem como objetivo de agregar médicos e
outros profissionais que se interessam pela geriatria e gerontologia estimulando e
apoiando o desenvolvimento na área do envelhecimento. A qualidade de vida do
idoso se processa não tão somente com a saúde física, emocional, mas social que
reflete na conjuntura do idoso. O idoso muitas vezes não aceita o processo de
envelhecimento é um processo contínuo e nem sempre a família também
compreendo, o velho tende a ter comportamentos diferentes, começam a sentir
dificuldades de enfrentamento com a realidade social.
Hoje em dia em alguns países os médicos geriatras acompanham pacientes
idosos em suas residências juntamente com o serviço social com o objetivo de
acompanhar todo o histórico do paciente na dinâmica de conhecer a realidade da
família (abandono, maus-tratos, negligência).
A velhice em um aspecto social tem representado na nossa sociedade um
processo de negação, pois dentro do ambiente social é notório o descaso, a
exclusão e o preconceito. Estes rotulam e dificultam qualquer trabalho que venha
28
beneficiar este segmento, portanto há uma necessidade de politizar-la e criar um
novo lugar do idoso pelo pleno exercício da cidadania. Para Silva (2003):
[...] a condição do velho na atualidade não tem revelado grandes alterações dos tempos remotos”. Mesmo com a evolução tecnológica e social, muitos problemas ainda são encontrados quando se trata do envelhecimento, pois não há inovações, mas disparidades marcantes. [...] a urbanização e a industrialização acentuaram as desigualdades que, associadas aos preconceitos e estigmas, vêm demonstrando que as experiências acumuladas durante a vida não estão sendo aceitas pelos mais jovens. (SILVA, 2003, p. 110).
Assim, mesmo vivenciando inovações, nos mais distintos campos, o idoso
enfrenta problemas sociais graves. “No Brasil, como em outros países em
desenvolvimento, a questão do envelhecimento populacional soma-se a uma ampla
lista de questões sociais não resolvidas, tais como a pobreza e a exclusão”
(CAMARANO, 2004, p. 254).
Ainda em 1960 a Associação Nacional de Gerontologia (ANG) recomenda a
formação de uma comissão com o objetivo especifico de estudar e definir a estrutura
do CNDI. A comissão deveria ser integrada por profissionais na área de gerontologia
parcial e da geriatra, elementos que representam a constituição de vários ministérios
nas áreas de saúde, trabalho e previdência, ação social, educação, ANG, SBGG,
Serviço Nacional do Comércio (SESC), Conselho Estadual de Idosos (CEI), e
Confederação Nacional dos Aposentados (CNA) (PRADO, 2006).
A gerontologia é um campo que veio estudar a interdisciplinaridade que
investiga os fenômenos fisiológicos, psicológicos e sociais relacionados com o
envelhecimento do ser humano. A gerontologia difere da geriatria na medida em que
esta última é o ramo da medicina associado ao estudo, prevenção e tratamento das
doenças e da incapacidade em idades avançadas.
O CNI (Conselho Nacional do Idoso) tinha como finalidade elaborar as
diretrizes para implementar a Política Nacional do Idoso. A CNDI(Conferência
Nacional do Idoso) tinha como objetivo de promover a cooperação entre os governos
de União, dos Estados, do Distrito Federal, e dos Municipais atendendo os direitos
do idoso e da sociedade civil, promover a parceria com organismos governamentais
e não governamentais, estabelecendo metas, com as demandas alcançadas,
29
promover pesquisas, realização de estudos, debates sobre a aplicação e os
resultados estratégicos alcançados pelos programas e projetos de atendimento ao
Idoso, desenvolvidos pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos, ampliando
também a participação e o controle por intermédio da rede nacional dos órgãos
colegiados no âmbito regional, estadual, municipal e territorial fortalecendo o
atendimento dos direitos do Idoso.
Uma problemática constante que interfere na vida do idoso é em relação ao
envelhecimento, representado por alguns um problema social não equacionado,
refletir sobre essa questão é de suma importância, mesmo diante de algumas
circunstâncias impostas pela ótica cronológica do tempo, das dificuldades de realizar
tarefas, das impossibilidades, e incapacidades impostas pelo mundo do trabalho não
torna o idoso um sujeito excluso da sociedade. O preconceito esta na
marginalização social, portanto os principais movimentos retratam uma luta voltada
para os direitos de dignidade, respeito e melhores condições de vida.
Em 1963 o SESC, São Paulo iniciou uma série de ações com um grupo de
aposentados do comércio e da área de prestação de serviços. A proposta pretendia
incentivar a convivência para prevenir e evitar o descaso dessas pessoas. Essa
ação se estendeu a grupos de aposentados, também outras categorias profissionais
ampliando o publico e as demandas. Também foram criadas escolas para a terceira
idade, uma proposta socioeducativa para os idosos. O SESC fez presente em todo o
Estado interior e capital, como trabalho com os idosos. Aprendendo a conviver com
a diversidade e os diferentes tipos de velhice. O crescimento do numero de idosos
forçou a reflexão sobre as condições de vida desta população.
Segundo Paz (2001), antes da criação da referida lei, alguns conselhos já
vinham sendo criados em todo o Brasil, como é o caso de São Paulo, instituído em
1987, Rio Grande do Sul, em 1988 Santa Catarina em 1990 e Sergipe, em 1991.
Os conselhos são instâncias democráticas que visam promover e executar
ações sociais públicas e fiscalizar direitos em todos os níveis governamentais. A lei,
no entanto foi objeto de veto por parte do ex-presidente Itamar Franco, houve uma
série de manifestações do movimento social contra o veto.
30
A CNDI além de ter como objetivo de elaborar diretrizes para implementar a
política do Idoso também promovia a realização de estudos, debates e pesquisas
sobre a aplicação e os resultados estratégicas alcançadas pelos programas e
projetos de atendimento ao idoso, desenvolvidos pela Secretaria Especial dos
Direitos Humanos, ampliar também a participação e controle social por intermédio da
rede nacional de órgãos colegiados no âmbito regional, estadual, municipal e
territorial, fortalecendo o atendimento dos direitos do idoso.
Em 1969, a Legião Brasileira de Assistência (LBA) é transformada em
fundação e vinculada ao Ministério do Trabalho e Previdência Social, tendo sua
estrutura ampliada e passando a contar com novos projetos e programas.
Depois da segunda guerra mundial o conceito de qualidade de vida tornou
mais latente no que se refere às condições de vida da população idosa. No Brasil
ate 1960, com o crescimento da população idosa, veio uma forte expectativa de vida
devido às baixas taxas de mortalidade e taxas de fecundidade. Hoje um dos maiores
desafios da velhice é a negação de nossa sociedade em que sua maioria construa
uma velhice digna, e recuperem as deficiências e incapacidade que ainda
permanecem latentes.
A nossa sociedade se caracteriza por uma cultura política autoritária que
perdura até os dias de hoje. Portanto temos de levar em conta a dificuldade de
modificar a falta de autonomia que se impregna na cultura sócio-política brasileira,
nossa formação histórica ainda continua reprodutora de relações sociais que limitam
o indivíduo a uma cidadania passiva.
Portanto no inicio da década de 70 verifica-se uma forte articulação dos
movimentos sociais na busca por direitos mais consolidados e veremos adiante,
avanço nas políticas públicas sociais no que diz respeito à pessoa idosa. Agora em
diante vamos apresentar a articulação dos movimentos sociais que ocasionaram
mudanças e conquistas na década de 1980, como a Constituição Federal, Política
Nacional do Idoso, Estatuto do Idoso entre outras ferramentas importantes para o
bem estar e qualidade de vida para a População Idosa.
31
3 OS DIREITOS DA POPULAÇÃO IDOSA E A EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA E
SISTEMA DE PROTEÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE.
3.1 CONQUISTAS E LIMITES NA GARANTIA E EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS
DOS IDOSOS NO CONTEXTO NEOLIBERAL.
O final da década de 1970 foi marcada por profundas mudanças econômicas
e políticas. Essas demandas são percebidas como problemas sociais, e se tornaram
suficientemente visíveis à sociedade. Nesse período houve fortes iniciativas em
relação ao campo político e econômico, pois apontavam enfrentamento da crise
global que instaurava mundialmente o aprofundamento da exploração da classe
trabalhadora onde a mesma era submetida ao arrocho salarial, as mais duras
condições de trabalho e repressão política. Além da crise financeira que o
capitalismo passava no período. A estratégia era favorecer o desenvolvimento
econômico, o governo não estava preocupado com a questão social e com isso a
população sofria com a desregulamentação da força do trabalho, ao invés de trazer
melhores condições de vida trouxe desigualdades aumentando o desemprego para
a classe.
Diante do crescimento da pobreza e das desigualdades sociais no Brasil, a
assistência social era uma política pública de caráter o clientelista e assistencialista.
No contexto da ditadura militar há fortes iniciativas do Estado voltados à população
idosa, os enfrentamentos se davam na área de saúde, da assistência, da
previdência, na saúde, na área da assistência entre outros segmentos sociais. Os
idosos recebiam atenção de cunho caritativo de instituições não governamentais,
tais como entidades religiosas e filantrópicas.
Os idosos começaram a se organizarem em associações na década de 1970,
na tentativa de uma melhor proteção social. Os idosos buscavam a efetivação de
seus direitos, uma política orientada por padrões de universalidade e justiça capaz
de devolver à dignidade, a autonomia, a liberdade da população que se
encontravam em situações de exclusão. As lutas dos movimentos sociais e dos
vários segmentos insatisfeitos da sociedade fizerem emergir o desejo de cultura
32
democrática com a participação da população idosa no processo decisório da
implementação de políticas sociais mais consolidadas já que os cidadãos
asseguravam direitos com base na cultura dominadora e autoritária. Os movimentos
sociais fizeram emergir no País a participação no processo decisório de políticas
sociais.
Tais lutas asseguraram importantes conquistas no campo da cidadania,
participação popular, e a democratização do Estado e da sociedade civil. Segundo
Teixeira (2007) no final da década de 1970 e início da década de 1980, os
trabalhadores idosos fundaram as Associações de Aposentados e Pensionistas, cuja
efetivação, como movimento unificado, ocorreu com a criação de federações que se
uniram, formando, em 1985, a Confederação Brasileira de Aposentados e
Pensionistas (COBAP) onde reivindicavam o aumento dos valores da aposentadoria,
pelos direitos sociais e garantia da cidadania. Faleiros (2007) vem tratar que essa
constituição foi elaborada no processo de transição democrática que rompeu com a
ditadura militar, configurou um estado de direito, com um sistema de garantias da
cidadania. O objetivo das manifestações eram abrir possibilidades para estes
cidadãos idosos enquanto sujeitos para incorporação de uma cultura de direitos.
A Lei nº 6.179 de 11 de dezembro de 1974, institui amparo social aos idosos
com mais de 70 anos, incapacitados para o trabalho, que não exerçam atividades
remuneradas, e que não tenham outro meio que garantam seu sustento, receberá
um valor equivalente a 50% do salário vigente. O Instituto Nacional da Previdência
Social foi um programa que se tornou responsável pelo atendimento do idoso.
Foram criados o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
(INAMPS), e o Instituto de Arrecadação da Previdência Social (IAPAS), além de
integrar os órgãos já existentes. Em 1977 foi criado o Sistema Nacional de
Previdência e Assistência Social (SINPAS), o programa passou a atender o
segmento idoso em todo território nacional.
A prestação da Assistência ás pessoas idosa no Brasil foi uma grande
conquista e teve inicio a partir da Portaria nº 82, de 4 de julho de 1974, do Ministério
da Previdência e Assistência Social (MPAS), por intermédio do antigo Instituto
Nacional da Previdência Social (INPS). De início, tal instituto foi um programa de
33
Assistência ao Idoso, que consistia o atendimento nos postos previdenciários. O
movimento dos aposentados e pensionistas em 1985 ganhou grande visibilidade,
tendo constituído no segundo o maior trabalho durante da Assembleia Nacional
Constituinte, em 1987- 1988, perdendo somente para os ruralistas. Segundo Haddad
(2003):
O movimento dos aposentados ao reagir das formas autoritárias e de repressão política, vai além das reivindicações por melhorias de proventos, isto é encaminhando propostas que questionavam o novo modelo econômico, [...] foi portador de elementos que despertaram nos aposentados e pensionistas a consciência de seus direitos e o espírito de cidadania. (HADDAD, 2003, p.113).
A disputa pela Previdência implicava no contexto da privatização adotando
um modelo que sustentava a política Neoliberal. Nessa conjuntura institucional o
cidadão torna-se um cliente consumidor na perspectiva empresarial, onde o projeto
profissional tornava-se um desafio, já que a reforma previdenciária interferia na
relação do Estado de bem-estar social. O acesso aos benefícios dependia de
comprovação de pobreza ou falta de sustento que podia ser atestada por autoridade
administrativa ou judiciária local. Outra vitória no campo da conquista dos direitos se
deu com a criação do primeiro Conselho Municipal do Idoso em São Paulo em 1989,
assegurando o processo de participação e lutas, na reivindicação de políticas que
efetivassem os direitos concedidos a partir da Constituição Federal de 1988.
A organização e o amadurecimento do movimento ocorreram na medida em
que se manifestava a crise na previdência com suas reformas. As marcas históricas
da cultura política autoritária no Brasil são expressas pelo forte idéia do clientelismo
e o patrimonialismo, ou seja, os acessos aos serviços públicos eram bastante
defasados, daí a distinção do público e o privado; quando era absorvida a idéia de
que o público não funcionava. O resultado desse embate tem forte impacto sobre a
população idosa que conta com as políticas de seguridade para sua sobrevivência.
Houve uma forte defasagem de proventos dos aposentados e pensionistas, na qual
o Estado fechava os olhos para a velhice.
Na situação de pobreza, o Brasil vivia no decorrer dos anos 1980 do ponto de
vista econômico um dos momentos mais difíceis de sua história, recessão
34
prolongada, inflação, desemprego. No que se refere ao governo democrático, os
movimentos sociais contribuíram para um desenvolvimento político e para a
emancipação social, visto que é o espaço público é o espaço de todos os cidadãos,
que o direito de participação política, os movimentos sociais era uma forma de
reivindicação para melhoria para a população na construção de uma sociedade com
menos injustiças sociais. Portanto a defesa de uma democracia participativa a voz
as classes oprimidas é uma necessidade do Estado Democrático de Direito.
A década de 1980 a luta da redemocratização foi um movimento dado pela
expressão política, que denunciava um processo de barbárie e desrespeito a
população submetida a maus tratos, torturas, violação de direitos, liberdade de
expressão. O período da ditadura militar foi marcado pela mobilização de
organizações populares e outros segmentos da sociedade que se mobilizaram
contra o agravamento da questão social, a influência era dada por várias entidades
públicas e políticas, como SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência), a OAB (Ordem dos advogados do Brasil), jornalistas estudantes,
intelectuais, igreja católica e toda a sociedade civil, que atingiu um processo de
democratização dando espaço para a entrada de uma nova constituição que
influenciavam nas políticas sociais do Estado Brasileiro.
O contexto dos problemas sociais no âmbito do Estado era apontado como
causas centrais das profundas crises econômica e social dando ênfase nas
privatizações um novo cenário marcado pela ofensiva neoliberal. A política brasileira
estava submetida à crise econômica e um forte agravamento das expressões da
questão social, elas eram respostas dadas pelo Estado às reivindicações para
sociedade civil, na tentativa de amenizar e acalmar a população, o Estado transferia
assim a responsabilidade para o terceiro setor, sociedade civil e outros segmentos
sociais. Uma política econômica que idealiza a participação do Estado mínimo de
direitos e menos eficiente na questão de ampliar o bem – estar social da população
idosa.
O mecanismo de terceirização dos serviços públicos para empresas privadas
ou Organizações Não-Governamentais (ONGs) – visto que o governo via como
necessário o caráter competitivo na área social – estes passaram a serem
consideradas mercadorias. Assim, fatalmente o caráter de direito social é perdido,
35
pois os serviços ficaram disponíveis àqueles que tiverem recursos financeiros ou
outros equivalentes para adquiri-los. Transfigurasse a noção de direitos sociais para
a noção de um mercado de políticas sociais (SILVA, 2003).
Esse modelo tem elementos que colocam em questão o caráter universalista
das políticas sociais dos campos da saúde e da educação. Na verdade,
individualizam os direitos sociais e intensifica-se a mercantilização dos serviços,
transferindo para o mercado a realização dessas necessidades. Ao se compactuar
de tal modelo, o cidadão deixa de compartilhar direitos iguais e universais, enquanto
isso, a disponibilidade financeira determina o direito de ter acesso aos serviços
públicos (FALEIROS, 2004; SILVA, 2003).
Nesse período de participação da sociedade civil trouxe políticas de
características universais daí decorre a introdução do conceito de seguridade social,
a Constituição Federal de 1988 trouxe novas conquistas no âmbito da população
idosa, na garantia de direitos relativos á Saúde, Previdência e Assistência Social.
Também teve destaque a intervenção dos movimentos sociais na defesa dos direitos
dos idosos com a implementação da PNI (Política Nacional do Idoso),em 1994,
ampliação da cobertura da Previdência Social para os aposentados no valor de um
salário mínimo, o beneficio de Prestação Continuada (BPC), Lei nº 8.742, de 07 de
dezembro de 1993 para os idosos e pessoas com deficiência, com uma serie de
inovações no contexto constitucional, daí após alguns anos surgiu à necessidade de
uma implementação mais especifica surgindo assim o Estatuto do Idoso, Lei
10.741/03. O Estatuto veio com grande importância na vizibilização dos direitos
fundamentais da pessoa idosa.
A Constituição Federal tem como preceito a saúde pública como direito de
todos e dever do Estado, a assistência será prestada para quem dela necessitar,
independente da contribuição a seguridade e no que se refere à Previdência Social,
exigem a contribuição para que seus segurados e dependentes. Um novo conceito
de seguridade social foi implementado na política social e isso foi um grande avanço
dentro da constituição, pois anteriormente as políticas eram caracterizadas não
como um direito prestado ao cidadão, mas uma benesse, um favor, uma relação
baseada de modo clientelista e partenalista.
36
Esse período manteve ainda um caráter compensatório devido que a política
brasileira estava ameaçada e submetida à crise econômica, agravamento da
questão social, apesar de conquistas garantidas na CF. O art.194 da Constituição
Federal trata sobre a “irredutibilidade do valor dos benefícios a caráter democrático e
descentralizado da gestão administrativa, com a participação da comunidade, em
especial dos trabalhadores, empresários e aposentados” (BRASIL, 1988, p. 33).
Dessa maneira, os objetivos de seguridade social no contexto democrático uma
nova organização das políticas se concretizam e representam um novo avanço na
qualidade de vida dos idosos (HADDAD, 2003).
As políticas sociais entram, neste cenário, caracterizadas como:
paternalistas geradoras de desequilíbrio, custo excessivo do trabalho, e, de
preferência, devem ser acessadas via mercado, transformando‐se em serviços
privados.
Esse processo é mais intensivo na periferia do capitalismo,
considerando os caminhos da política econômica e das relações sociais
delineados no item anterior, bastando observar a “obstacularização” do conceito
constitucional de seguridade social no Brasil a partir dos anos 90
(BOSCHETTI, 2003).
A noção de cidadania surge também fortemente nos anos 80, devido ao
Estado ditatorial, ressaltando um caráter inovador e estratégico. A concepção de
cidadania da condição de cidadão do idoso tem se tornado compatível com a
desigualdade real inerente á sociedade capitalista. Com esse novo cenário
demográfico impõe novos desafios para a sociedade brasileira, sendo então
necessário pensar como lidar com essa revolução demográfica.
A cidadania se dá pela condição social que confere ao individuo, a
capacidade de usufruir de direitos que lhes permitem participar da vida política e
social da comunidade pelo qual está inserido. Ser um cidadão com cidadania é estar
participando a partir do conhecimento dos direitos e deveres, gozando de direitos
(privilégios garantidos pelo Estado), políticos e sociais, segundo Carolino et al.
(2011). Ele confirma que:
[...] cidadania é extremamente complexa, uma vez que não se trata de um conceito pronto, acabado e universal, mas determinado pelo
37
fator histórico; variando no tempo e no espaço. Assim, pode-se conceituar cidadania diante do momento histórico contextualizado, vivido por cada sociedade. Com isso é importante, sobretudo para os idosos excluídos da participação política, a luta para garantir melhores condições de vida e oportunidades de participar das decisões que dizem respeito á vida de toda a sociedade. (CAROLINO et al. 2011, p. 3).
Os direitos sociais são reflexos da importância dos direitos políticos, os
cidadãos idosos são sujeitos políticos que revelam condições de garantir sua
dignidade, qualidade de vida para promoção de sua cidadania, direitos de escolha
fundamentais para a conscientização política da classe e da sociedade.
A Constituição brasileira tem seus princípios fundamentais constitutivos na
dignidade da pessoa humana, no seu contexto atual o modelo de produção
capitalista que desvaloriza o idoso, sua experiência, importância e significado para a
sociedade. Após a publicação da Constituição Brasileira conhecida a constituição
cidadã houve uma mudança de luta o que retratou muito bem a ampla mobilização
de aposentados em torno de seus proventos e as tensões que a impulsionavam. O
movimento dos aposentados foi desencadeado em função do governo, em setembro
de 1991, ter concedido reajustes diferenciados para aposentados, estipulando
benefícios superiores. Os aposentados insatisfeitos com a medida governamental
mobilizaram-se para a conquista de igualdade no reajuste.
Segundo Alvarenga (2006), demanda a organização e articulação em nível
nacional, recorrendo aos meios de comunicação para atingir maiores números de
aposentados e pressionar a vários setores do governo assim como sensibilizar a
sociedade. A situação dos aposentados brasileiros idosos em sua maioria acabou
provocando indignação popular e conquistando simpatia para o movimento. Tal
discussão foi externada ora na situação de pobreza em que vivem os idosos, ora o
desrespeito em que eram tratados, nos bancos, nos transportes e serviços públicos
ora na possibilidade do surgimento de novas identidades dos idosos provedores da
família responsáveis pela sobrevivência de outros.
Em 1993 foi garantia uma grande conquista, sendo instituído o beneficio de
Prestação Continuada por meio da Lei Orgânica Lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS), criada pela Lei 8.742 de 07 de dezembro de 1993, cuja operacionalização
do reconhecimento do direito, normatizado através do Decreto 6.214 de setembro de
38
2007. Cabe ao Instituto Nacional do Seguro Social, INSS e seu financiamento ao
Fundo Nacional da Assistência Social (FNAS). Compreendido como direito do
cidadão e dever do Estado às pessoas com deficiência e idosas acima de 65 anos
cuja renda mensal familiar per capita seja inferior a ¼ do salário mínimo vigente.
De acordo com o art. 203 da Constituição Federal trata que:
A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I-A proteção à família, á maternidade, á infância, á adolescência e a velhice; II- O amparo ás crianças e adolescentes carentes; III-A promoção da integração ao trabalho; IV-A habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração a vida comunitária; V- A garantia de um salário mínimo de beneficio mensal a pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. (BRASIL, 1988).3
A assistência social foi inserida na Constituição de 1988 nos art. 203 e 204,
sendo regulamentada pela Lei orgânica da Assistência Social, para atender
necessidades básicas dos indivíduos, tais como proteção à família, à infância, à
adolescência, à maternidade, à velhice e à pessoa portadora de deficiência. Essa
assistência destina-se aos indivíduos sem condições de prover o próprio sustento de
forma permanente ou provisória, independente de contribuição à seguridade social
(TAVARES, 2004; ARAÚJO, 2006; SILVA, 2008).
Martins (2003, p. 56) define a Assistência Social como:
Um conjunto de atividades particulares e estatais direcionadas para o atendimento dos hipossuficientes, consistindo os bens oferecidos em pequenos benefícios em dinheiro, assistência à saúde, fornecimento de alimentos e outras pequenas prestações. Não só complementa os serviços da Previdência Social, como a amplia, em razão da natureza da clientela e das necessidades providas.
A principal característica da assistência social é ser prestada gratuitamente
aos necessitados. As ações governamentais na área da assistência social serão
realizadas com os recursos dos orçamentos dos entes federativos e mediante o
recolhimento das contribuições previstas no art. 195 da Constituição, além de outras
3 Documento eletrônico não paginado.
39
fontes, observando-se as seguintes diretrizes: “I - descentralização político-
administrativa das ações; II - participação da população.” (CARDONE, 1990, p. 45).
Geralmente, confundem-se os conceitos, principalmente de Previdência e
Assistência Social e essa confusão pode ser desfeita, ao se perceber que cada uma
das áreas da Seguridade Social tem princípios próprios e diferentes objetivos.
(TAVARES, 2004; SILVA, 2008).
Entre as atividades da saúde e da assistência social uma grande diferença é
que a saúde tem o caráter de universalidade mais amplo do que o previsto para a
assistência social, pois ela visa garantir meios de subsistência às pessoas sem
condições de suprir o próprio sustento, dando especial atenção às crianças, velhos e
deficientes, independentemente de contribuição à seguridade social. Todos os
idosos, sem exceção, têm direito ao SUS. O Sistema único de Saúde foi criado pela
Constituição Federal de 1988 (art. 198) e regulamentado pelas Leis nº 8.080/90 (Lei
Orgânica da Saúde) e nº 8.142/90 para que toda a população brasileira tenha
acesso ao atendimento gratuito e público de saúde.
A principal forma de assistência social, prevista no art. 203, V da Constituição
Federal, garante o valor de um salário mínimo mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não ter meios de prover a própria
subsistência, ou tê-la provida por sua família (SILVA, 2008).
A Assistência Social é a área de atendimento voltada exclusivamente ás
camadas pobres e em situação de vulnerabilidade e incapacidade para o provimento
de sua própria renda, esta possui poder limitado de ampliação da cobertura de
atendimento em razão, basicamente dos estreitos limites estabelecidos pelos
critérios de renda familiar que são utilizados como condições de avaliação e
elegibilidade dos benefícios. Ainda a Política necessita de avanços no que se refere
a questão da garantia de direitos e a ao posicionamento de corte de renda
(YAŚODÃ, 2011[?]).
A Lei Orgânica da Assistência Social esta relacionada com as recentes
alterações do Estatuto do Idoso que ampliaram ainda mais o público beneficiário,
chamados de Benefícios de Prestação Continuada o BPC. Contudo o futuro da
manutenção e ampliação da cobertura previdenciária será cada vez mais um desafio
ainda maior que o atual, já que há uma maior expectativa de vida dos idosos e um
processo vital do envelhecimento populacional devido a maior qualidade de vida e
40
avanço da medicina, isso impossibilitara uma piora na relação de dependência de
benefícios e gastos nos cofres públicos previdenciários.
Em 1994 foi implementada a Política Nacional do Idoso (Lei nº 8. 842) objetiva
assegurar os direitos sociais da População Idosa, permitindo promoção, autonomia,
integração e participação da sociedade.
A Política Nacional do Idoso tem como objetivo garantir ao cidadão com mais
de 60 anos as condições necessárias para continuar no pleno exercício da
cidadania, assegurando os direitos sociais do idoso, criando condições para
promover sua autonomia, integração e efetiva participação na sociedade. A política
trouxe uma nova forma de encarar o idoso, considerando-o como um cidadão com
direitos e deveres. Ela atribui responsabilidades à sociedade e às famílias no que diz
respeito à integração, participação, e convívio dos idosos, bem como a organização
destes para participar da elaboração de políticas nos âmbitos nacional, estadual e
municipal. A implantação das Políticas do Idoso deve se dar por ações integradas e
parcerias entre o poder público e a sociedade civil. A política rege como principio a
família, a sociedade e o Estado como dever de assegurar ao idoso, todos os direitos
de cidadania, defendendo sua dignidade, seu bem estar, direito á vida e participação
na comunidade.
O idoso também não deverá sofrer preconceito, descriminação de qualquer
natureza; as diferenças econômicas, sociais e regionais bem como as contradições
entre o meio rural e urbano serão levadas em conta na execução das mudanças que
a política propõe. A Política Nacional do Idoso é recente em termos de proteção,
esse segmento populacional vem ganhando espaço e visibilidade no decorrer os
anos. A política nacional do idoso foi regulamentada por meio do decreto
presidencial nº 1948:
Nessa regulamentação são atribuídas às competências dos órgãos e entidades publicas para a implementação da PNI e ainda remete ao conselho nacional de seguridade, a formulação, a coordenação, supervisão e avaliação da política nacional do idoso. (BRASIL, 1994).4
4 Documento eletrônico não paginado.
41
A regulamentação da lei teve respaldo em denúncias sobre a situação dos
idosos, a negação dos direitos sociais e a prestação dos serviços públicos, portanto
essas legislações servem para afirmar e fortalecer a categoria como também
estimular a participação do idoso no conselho nacional.
O objetivo central era criar condições para promover a longevidade com
qualidade de vida, determinando a execução de ações governamentais em diversos
setores como saúde, justiça, trabalho e previdência social. A lei determinava ainda
que o idoso não poderia ser vítima de qualquer tipo de preconceito, mas estabelecia
como deveria ser feita a fiscalização. A Política Nacional do Idoso não possuía um
caráter punitivo, mas estabelecia como deveria ser feita a fiscalização.
O reconhecimento das Políticas Sociais do Brasil ao longo de sua historia,
sofreu fortes “embatimentos” no processo de estigmatização, exclusão onde nem
todos os Brasileiros tinham acesso aos seus direitos como cidadãos dignos de sua
efetivação. O que se propõe é contribuir e ampliar acerca da questão social, diante
de um contexto conflituoso que permite uma visão critica da realidade em que o
Brasil vivia.
Com o processo de acumulação capitalista e hegemonia do poder econômico
e político demandava diferentes estratégias reguladas pelo Estado Neoliberal. O
Estado passa a criar regras na esfera dos direitos implantando assim um novo
método de privatização. A ordem era garantir aos cidadãos brasileiros,
principalmente idosos a mínima proteção social, um padrão mínimo de sobrevivência
onde os acessos dos serviços públicos começaram a ficar limitados por outro lado o
Estado mostra a capacidade de dinamizar recursos financeiros, desenvolvendo um
modelo voltado para a acumulação de capitais, o governo preocupava-se com o
avanço na economia e esquecia de volta-se para o desenvolvimento do social,
ficando assim mais evidente a impossibilidade de separação da economia e política.
As políticas sociais e publicas, contudo se tornava cada vez mais contraditória
devido a impossibilidade de haver um fortalecimento da democracia no sentido mais
amplo, onde os idosos teriam uma nova compreensão do real, da realidade,
evidenciando uma estratégia de alargamento dos direitos sociais, e a formação de
uma sociedade baseada na justiça e equidade. Uma das características marcantes
42
do retrocesso do projeto neoliberal no que se refere à Reforma da Previdência se
configurou em um grande déficit, em contrapartida do pretendido, acarretou o
aumento de tempo de contribuição e a redução do valor dos benefícios para os
idosos, abrindo espaço para a entrada da previdência privada.
A retirada do papel central do Estado no combate às questões sociais levou a
um arcabouço de políticas sociais particularizadas e isoladas, buscando somente
remediar os problemas sociais. Outro exemplo marcante do retrocesso das políticas
neoliberais é a desregulamentação do SUS (Sistema Único de Saúde), um sistema
que também foi fruto de lutas democráticas da sociedade brasileira, principalmente
por parte dos idosos por serem vitimas do processo de negação de direitos, todo
esse processo de lutas foram contempladas na Constituição de 1988. O retrocesso
se configurou na medida em que a população conquista seus direitos.
Diante de toda retrospectiva histórica o idoso sofre diferentes interesses
divergentes, na consolidação e uma identidade coletiva, onde o poder dominador
hegemônico de classes ainda predomina fortemente na sociedade brasileira e esta é
uma luta constante, mediante a busca de uma sociedade mais justa, livre do
preconceito e respeito à diversidade de diferentes condições sociais, pois mediante
a constituição brasileira somos todos iguais perante a lei, e isto deve ser
predominado na nossa sociedade. A perspectiva maior é problematizar as
demandas e as necessidades dos cidadãos para que possamos ganhar visibilidade
e reconhecimento público.
Em 1º de outubro de 2003 foi regulamentada a Lei 10.741 que dispõe do
Estatuto do Idoso, destinado a regulação de direitos assegurados a pessoa idosa
com idade igual ao superior a 60 anos. O idoso alcançou várias conquistas nos
espaços público e sociais, tais como:
[...] Todo cidadão com 60 anos ou mais deve ter desconto de 50% nas atividades culturais e educativas; programas nos meios de comunicação com conteúdos culturais e educativos sobre o processo do envelhecimento e gratuidade nos transportes públicos urbanos, o estatuto convoca ao Estado a obrigação de prover seu sustento, caso os familiares não tenham condições de ajudá-lo, em relação ao direito a saúde publica, atendimento domiciliar àqueles impossibilitados de se locomover; a acomodação de acompanhantes nos hospitais e a proibição da discriminação na cobrança dos planos
43
de saúde, a saúde também é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação. (BRASIL, 2003).5
O artigo 196 da Constituição Federal na área da educação criam
oportunidades de acesso do idoso a programas educacionais destinados a sua
inserção na comunidade, tratando de temas ligados ao envelhecimento, como
também proporciona desconto de pelo menos 50% nas atividades culturais,
esportivas e de lazer, determina também a possibilidade de adoção nos concursos
para o desempate o critério da idade, no âmbito da Assistência Social o ao idoso
acima de 65 anos, que não tenha como prover a própria subsistência, nem tê-la
provida pela família, o benefício mensal no valor de um salário-mínimo nos termos
da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) entre muitos outros benefícios e
conquistas alcançadas ao longo do tempo.
A Lei Distrital nº 2.477/99, que garante a reserva de vagas para idosos nos
estacionamentos públicos e privados, já foi devidamente regulamentada. Assim, o
proprietário e condutor de veículo que tiver mais de 65 anos pode estacionar nas
vagas reservadas se estiver portando o selo do DETRAN. O Estatuto garante
também penalidades para quem mostrar imagens que desrespeitem as pessoas
mais velhas ou para quem abandonar o idoso sem assistência. A Assistência Social
passou a ser componente da Seguridade Social devendo ser prestada a todos
aqueles que dela necessitarem independente de contribuições, passando a ser
considerada como um direito de cidadania e reconhecida como política pública.
Essa luta por direitos trouxe também avanços na medida em que o novo
sistema foi considerado como uma política de proteção social pelo qual o País criava
condições para ampliação de direitos, ganhando espaço no Sistema Único de
Saúde, (SUS) como direitos de todos, constituindo a possibilidade de
universalização, à assistência para quem dela necessitar e a Previdência Social para
aqueles que contribuírem para o sistema previdenciário. No entanto para que o
5 Documento eletrônico não paginado.
44
idoso possa exercer a sua cidadania ativa é preciso que ele compreenda e saiba
situar a própria existência e, especialmente de forma coletiva, na luta por seus
interesses e benefícios. Torna-se imprescindível incentivá-lo para que ele possa
assumir o papel de protagonista na busca de seu espaço social, como sujeito de
direitos.
Essa busca incessante dos idosos tem crescido significativamente, com sua
participação na sociedade pelo qual vem sendo organizado por grupos de discussão
e formação, como Centros de Convivência e Conselhos de Idosos. Hoje o grande
desafio é a efetivação da legislação de proteção e amparo ao idoso, que envolve o
Estado e a sociedade civil no espaço de poder.
A participação efetiva dos idosos se dá no processo democrático, do
contrário, sem o amparo do sistema legal, o segmento idoso não estaria
instrumentalizado para reivindicar a efetivação dos seus direitos em seu aspecto
sócio-político e cultural. A sociedade brasileira apresenta uma frágil cultura política,
resultado de práticas pouco democráticas, práticas estas que perduram até hoje.
Romper com esta ideologia não é algo imediato, pois a ruptura implica em ações
políticas concretas que envolvam a reflexão, articulação, reivindicação e
estabelecimento de novas estratégias.
A crescente mobilização dos idosos permitiu que a sociedade alcançasse
novas perspectivas no que se refere à autonomia e fortalecimento do segmento.
Contudo, esperamos que a sociedade civil organizada, em seus espaços políticos,
continue exercitando a discussão para melhor compreender o significado das novas
competências atribuídas ao segmento. É um processo contínuo que fortalece a
autoconfiança dos idosos, para capacitá-los na articulação de seus interesses e para
a participação na vivência comunidade, a fim de que os idosos possam levar uma
vida autodeterminada e responsável para participar do processo político. Diante
deste cenário político e social a população idosa sente a necessidade de ampliação
de Políticas Públicas por parte do Estado para que possam atender essa demanda
de suma importância para a sociedade.
45
4 A EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA E O SISTEMA DE PROTEÇÃO NO MUNICÍPIO
DE NATAL/RN.
O Sistema de Efetivação da Política do Estado do Rio Grande do Norte, o
poder Público, tem assumido novos papéis e responsáveis para implementar
Políticas Públicas e Sociais financiadas por três instancias governamentais,
financiados pela união, Estado e Município.
Iremos tratar especificamente dos órgãos de prevenção e proteção do
município de Natal. Pensar no Sistema de Proteção na Terceira Idade é um grande
desafio na contemporaneidade. Hoje as discussões sobre a pessoa idosa têm
ganhado espaço na sociedade, devido ao crescimento significativo da expectativa de
vida da população idosa. Além do avanço da aprovação do Estatuto do Idoso,
documento que legitima um conjunto de direitos para este segmento tão importante
que ganhou visibilidade tanto para a sociedade tanto para o poder público. Hoje o
segmento idoso deixou de ser um assunto familiar para se tornar uma questão
publica inerente a toda à sociedade, consequentemente o Estado via intermédio
políticas públicas tem o dever de garantir direitos ao cidadão idoso. Os municípios
tiveram que democratizar suas relações com a sociedade a partir da criação de
canais de participação como conselhos, delegacias, promotorias do Idoso e
Ministério Público que propõem elaborar, programar e monitorar as políticas públicas
no âmbito local.
4.1 OS ÓRGÃOS DE PREVENÇÃO, PROTEÇÃO E ATENÇÃO EM NATAL/RN:
CONDIÇÕES DE EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA DO IDOSO.
No município de Natal a rede de proteção social se constitui por diversos
órgãos como defensoria pública, Conselho do Idoso, Promotoria do Idoso, delegacia
do idoso entre outras instâncias públicas que trata sobre os reais interesses da
pessoa Idosa.
A defensoria Pública trata dos interesses das pessoas idosas, trabalha com a
fiscalização de estabelecimentos que prestam serviços aos idosos, além de outras
orientações e encaminhamentos no geral.
46
Os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distrito Federal e Municipais do Idoso,
estão previstos na Lei no 8.842, de 4 de janeiro de 1994, zelarão pelo cumprimento
dos direitos do idoso.
O Conselho do Idoso é um órgão que representa os idosos, a comunidade e
aos poderes públicos na busca de participação tratando-se de órgão paritário,
vinculado à administração pública, integrando a estrutura do Governo Municipal. O
Conselho tem sua organização composta por competência fixada em lei. Seu papel
é fiscalizar, consultar e normatizar todas as políticas nacionais e estaduais. O
conselho deve promover debates para a sociedade especificamente para o público
idoso de forma transparente, encaminhando propostas aos poderes municipais,
principais responsáveis pela execução das ações. Em nosso Município há muito
ainda em que se avançar principalmente por parte do Estado estar atento aos seus
direitos para que os direitos da pessoa idosa não possam ser violados, que muitas
vezes por questões de necessidades especiais, e algumas debilidades especificas
da idade, dificultam o procedimento de alguns idosos reivindicarem e se
responsabilizar por seus direitos não conseguindo realizar determinadas atividades,
daí a necessidade do apoio da família e da sociedade para conduzi-los a melhores
condições de acessibilidade.
Nesse contexto, o art. 7º da Lei nº 8.842, de 1994, passa a vigorar com a
seguinte redação:
[...] Compete aos Conselhos de que trata o art. 6º desta Lei a supervisão, o acompanhamento, a fiscalização e a avaliação da política nacional do idoso, no âmbito das respectivas instâncias político-administrativas. (BRASIL, 1994).6
Com a segunda metade da década de 1980, surgiram várias iniciativas para a
ampliação do exercício da cidadania, como os Ministérios Públicos estabelecidos
pela constituição.
O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte é conhecido como
Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Defesa das Pessoas Portadoras de
Deficiência, das Comunidades Indígenas, do Idoso e das Minorias Étnicas, tendo a
função fiscalizar a observância do principio da igualdade, coibindo descriminações
6 Documento eletrônico não paginado.
47
contra o idoso, tanto no âmbito dos registros que chegam feito por denúncias
anônimas ou não, como por parte de instituições que trata sobre essa temática.
Fiscalizando entidades públicas e particulares do atendimento, programas especiais
dos idosos proporcionando-lhes bem-estar, divulgar informações sobre o estatuto e
a política do idoso através de palestras, ou qualquer outro conteúdo que inibe a
presença do idoso, estimular a integração entre órgãos que atuem na mesma área
visando à criação de atendimento e a parceria de trabalho que possam contribuir.
O art. 74 compete ao Ministério Público: “I- instaurar o inquérito civil e a ação
civil pública para a proteção dos direitos e interesses difusos ou coletivos, individuais
indisponíveis e individuais homogêneos do idoso.” (BRASIL, 1994).7
Conta ainda sobre o Ministério Público do RN:
[...] Hoje, a Comarca de Natal conta com três Promotorias de Justiça que defendem os direitos dos idosos e se situam na Central do Cidadão do Praia Shopping e cerca de 80% (oitenta por cento) das reclamações dizem respeito a denúncias de crimes praticados contra tais pessoas. Para se ter idéia da demanda, estão sendo atendidos uma média de 06 a 08 casos diários na DECAI,além das requisições do próprio Ministério Público e das solicitações que estão sendo enviadas pela Coordenadoria da Defesa dos Direitos das Mulheres e Minorias (CODIMM) e pelo serviço SOS Idoso da Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (SEMTAS). (MINISTÉRIO PÚBLICO DO RN, 2008).8
O ministério público é composto pela promotoria do idoso localizado no
município de natal, pelo qual tem o objetivo de garantir bem- estar e condição de
vida para pessoas da terceira idade. O principal foco de atenção da promotoria é
contra a violência e os maus tratos aos idosos, portanto são realizados fiscalizações
em locais que recebem idosos, como asilos e casas de repouso.
Com o aumento das demandas e o frequente número de denúncias observou-
se a necessidade de instaurar uma delegacia exclusiva e acessível para atender a
demanda das pessoas idosas, após observações feitas e contidas no relatório da
lavra da Coordenadora de Defesa dos Direitos da Mulher e das Minorias.
A instalação da Delegacia especializada de atendimento ao Idoso situado no
município de Natal vem com objetivo de esclarecer e acompanhar a população idosa
7 Documento eletrônico não paginado. 8 Documento eletrônico não paginado.
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vitima de violência e maus tratos, o trabalho da delegacia serve como uma forma de
investigação, repressão e prevenção, conforme previsto nos artigos 96 do Estatuto
do Idoso:
Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade: Pena - reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.;§ 1o Na mesma pena incorre quem desdenhar humilhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa, por qualquer motivo.(BRASIL, 2003).9
A delegacia especializada do idoso buscou promover a adaptação dos
serviços mais acessíveis à pessoa idosa e as portadoras de deficiência a fim de
reduzir à mobilidade e garantir maior acessibilidade às pessoas.
A instituição delimita-se a garantia prioridade no atendimento prestado para o
perfil do idoso, como também investigar delitos e maus tratos pra os que sofrem de
violação de direitos, abandono material, lesão corporal, apropriação indébita da
renda entre outros tipos de violência. Strauss (2003, p. 2) revela que “os serviços
telefônicos funcionam como ouvidorias e, portanto como instrumento facilitadores do
exercício de cidadania”.
O papel da ouvidoria consiste em receber, denunciar, responder, solucionar,
casos de maus tratos, negligências, aceitarem críticas, sugestões, consultas e
solicitações de informações, procurando sempre identificar a gravidade das
ocorrências.
A delegacia especializada de proteção ao Idoso registrou neste ano de 2013
um aumento de 62% no numero de boletins de ocorrência em comparação com o
mesmo período do ano passado. Foram contabilizados 285 casos envolvendo
violência contra os idosos em Natal. Em 2012 a delegacia havia registrado no
mesmo montante 175 boletins. Um dos crimes que se tornou comum é o abandono,
negligência do Estado e da família do idoso, esses repercutem em varias classes
sociais, diante dessa perspectiva apontada por esses dados podemos perceber um
aumento acentuado da violência, além dessa problemática os direitos assegurados
pelo Estatuto do Idoso são negados diariamente nas repartições públicas, nas ruas,
transportes públicos, ambiente familiar.
9 Documento eletrônico não paginado.
49
O chefe de Investigação relatou que com o passar dos anos houve uma
mudança no perfil das denuncias.'' Inicialmente as pessoas denunciavam muito o
desrespeito na questão dos transportes públicos, agora o que mais se denuncia é o
que envolve o crime de desvio de bens. É um tipo de crime cometido pelos próprios
familiares apontou (LUCENA, 2013).10
De acordo com o Estatuto de o idoso, prevenir é a ameaça ou violação dos
direitos dos idosos passa a ser um dever de toda a sociedade brasileira tornando
obrigatórias às denuncias para os órgãos competentes (autoridades policiais,
ministérios públicos, conselho dos idosos entre outros). As denúncias dos serviços
vêm anunciar a questão dos maus tratos, negligência, discriminação, violência,
crueldade ou opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou
omissão, aos seus direitos.
A Constituição Federal de 1988 também no capítulo VII é clara ao nomear as
instituições responsáveis pela preservação da integridade física e moral dos idosos,
e em seu texto, a família vem em primeiro lugar:
[...] A família, a sociedade e o Estado tem o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar,garantindo-lhes o direito á vida. (BRASIL, 1988, p.127).
O idoso tem tido uma forte participação no ambiente familiar contribuindo para
a perpetuação de valores, crenças, formação de indivíduos conscientes, cujas raízes
ajudam a construir seus referencias sociais, e culturais. O idoso geralmente é o
proprietário da família, o que da suporte financeiro, abriga o netos, filhos, genros,
noras (PEIXOTO, 2004).
Esse suporte advém em sua maioria dos benefícios previdenciários ou de
trabalhos informais executados pelos idosos. Outro fator é que o fato de que os
idosos morarem com familiares não é garantia da presença e do prestigio e do
respeito. São frequentes as denúncias registradas nas delegacias especializadas
das quais são tratadas essas questões.
10 Documento eletrônico não paginado.
50
Percebemos que os principais registros de denúncias foram detectados a
partir de várias analises uma questão fortemente acentuada é no que se refere ao
abandono de idosos, negligência, maus tratos, violência física, psicológica.
Os casos de violência se configuram o maior índice de casos diagnostica a
ausência de uma rede familiar estruturada. Um fator bem presente é em relação à
violência doméstica que entre a maioria dos agressores esta para os cuidadores dos
idosos, a maioria frequentemente mulheres que além de ter a responsabilidade de
zelar pelo idoso, cuida dos afazeres domésticos entre outras atividades o que
poderia desencadear em atos de maus tratos.
Os maus tratos psicológicos, e físicos trazem graves sequelas e de acordo
com pesquisas tem trazido incidência devido à violação sofrida pelos idosos, seja no
ambiente familiar, social. Outra questão é que o número de denúncias decorrente
advém da questão do abuso financeiro, onde o curador ou cuidador não zelar pelo
seu bem estar e sua integridade. A maior incidência é por parte dos filhos. Entre
outros casos de negligencia foram denunciados, negligência por parte das
instituições filantrópicas voltados para os cuidadores de idosos, como já tratado
acima.
A Constituição Federal preza que os filhos maiores de idade, responsáveis
pelos seus atos, tem o dever de ajudar e amparar seus pais na velhice. De acordo
com a Constituição Federal os filhos têm a obrigação de prestarem assistência aos
pais idosos, principalmente não possuindo meios de prover a sua subsistência.
Muitos pais idosos são abandonados pelos filhos, que lhes negam prestar
assistência material e, subsiste o dever dos filhos na prestação de ordem afetiva,
moral, psíquica, especialmente, assistência afetiva.
O art. 229 da Constituição prevê que a família é a base da sociedade,
trazendo o nesse contexto, o dever aos pais o dever de amparar os filhos menores,
enquanto os filhos maiores são incumbidos de prestar auxílio aos pais na velhice,
carência ou enfermidade. (BRASIL, 1988). No art. 230 ressalta que:
A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. (BRASIL, 1988, p. 220[?]).
51
A negação do amparo afetivo, moral e psíquico, vêm causando danos à
personalidade do idoso, constrangimento de seus valores mais sublimes e virtuosos
como indivíduo (dignidade honra moral, reputação social). A consequência da
omissão dos filhos gera aflição, dor, sofrimento e angústia, podendo contribuir até
para o desenvolvimento, para o agravamento de doenças e, por fim, para a morte,
isto é prova de vários relatos de denúncias que chegam por intermédio da violação
de seus direitos.
A estigmatização verbalizada em nomes pejorativos e apelidos depreciativos
envergonham e implicam inferioridade, determinando o tipo de relação estabelecida
entre os grupos sociais, busca assegurar privilégios e prestigio em detrimento de
outros grupos (RODRIGUES, 2006).
A maior parte dos riscos de violência doméstica contra os idosos advém
também de um histórico familiar, psicopatológica do cuidador, incapacidade
funcional do idoso. Entretanto podemos justificar que a violência é denunciada pela
ignorância do agressor, ainda que prejudique o idoso. Este tipo de violência tem sido
um dos principais problemas enfrentados pela sociedade contemporânea, não
somente ao segmento idoso, que tem atingido várias classes, grupo e gênero social.
Ocorre em sua maioria dentro do ambiente familiar ate mesmo na residência
do idoso, nas relações entre os membros da família, desrespeitando todos os
critérios com relação à ordem econômica, social, político ou religiosa. Além disso, a
falta de capacitação e informação adequada de família e cuidado do idoso
dependente, e a ineficiência da política pública que possam dar estrutura necessária
à família Brasileira, decorre da ausência de uma estrutura adequada às instituições.
A Secretária Municipal de Trabalho e Assistência Social (SEMTAS), o
departamento de Proteção Social especial oferece programas de atendimento e
proteção ao idoso como o SOS idoso pelo qual são averiguadas situações de
violência e violação de direitos contra a pessoa idosa através do disque denuncia
0800 84 1021.
52
O departamento também trabalha com outro programa que merece destaque
é o API conviver (Atenção a pessoa Idosa), com o objetivo de contribuir para a
autonomia e permanência do idoso no próprio domicilio fortalecendo os vínculos
familiares e comunitários. A SEMTAS afirma que:
Além disso, através da Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (Resolução 109/2009) os serviços são ofertados de maneira integrada, como Serviço de Proteção Social Especial para pessoas com deficiência ou pessoas idosas e suas famílias e realizados nos CREAS das quatro regiões administrativas da capital: região norte, região sul, região leste e região oeste. Trata-se de um atendimento especializado a famílias com pessoas com deficiência e pessoas idosas com algum grau de dependência, que tiveram suas limitações agravadas por violações de direitos, tais como: exploração da imagem, isolamento, confinamento, atitudes discriminatórias e preconceituosas no seio da família, falta de cuidados adequados por parte do cuidador, alto grau de estresse do cuidador, desvalorização da potencialidade/capacidade da pessoa, dentre outras que agravam a dependência e comprometem o desenvolvimento da autonomia. (MACHADO, 2011).11
Na medida em que a sociedade vai mudando há uma necessidade de ajustar
as políticas para acompanhar e sustentar essas mudanças. Recebendo a devida
atenção das Políticas públicas, a família poderá vir a ter condições de viabilizar
maiores possibilidades de proteção, de socialização e criação de vínculos
relacionais maiores (CARVALHO, 2003).
No entanto as formulações das Políticas Públicas e Sociais permitem criar e
aperfeiçoar mecanismos que facilitem o acesso às informações e aos direitos dos
idosos. A interlocução entre os órgãos públicos e instituições que tratam sobre idoso
torna-se necessário à garantia dos direitos dos idosos, bem como o atendimento
destas demandas só que efetivadas com a mobilização e a participação efetiva dos
idosos. Hoje um dos maiores desafios da democracia brasileira é criar condições
para que todos os cidadãos tenham efetivamente os mesmos direitos e as mesmas
oportunidades de participar da construção do país.
11 Documento eletrônico não paginado.
53
4.2 O COMBATE Á VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA: UMA REALIDADE
OCULTA.
Tratar sobre a questão de violência contra os idosos é um problema que vem
junto com a consciência de diretos. A violência parece já fazer parte da historia da
humanidade. A violência se da de diversas formas em função do sistema
econômico, a violência contra o idoso é também um grave problema de saúde
pública no Brasil, o entendimento da violência familiar como um problema social é
recente. Pesquisas e propagandas vêm constatando que durante os últimos anos
vem ocorrendo um aumento no índice de violência contra os idosos. As violências e
acidentes ocupam o sexto lugar nessa mortalidade geral. O problema da violência
contra a população idosa é uma questão universal.
Os primeiros estudos sob violência externa surgiu nos EUA, na década de
1960, momento de grande ascensão dos movimentos sociais, principalmente o
movimento feminista que se propagava na época, além do mais se começava nesse
momento as mulheres compreenderem os registros de violência que se referia em
sua grande maioria ha abusos de natureza física, sexual e psicológica.
Devem-se considerar também as mudanças nos arranjos familiares, onde a
violência também se caracteriza por questão de raça, gênero, ou classe social. É
bastante comum a ocorrência de violência de maus tratos, simultaneamente devido
à questão financeira ou material.
A violência psicológica vem sendo caracterizada por uma reação de ameaça,
rejeição, depreciação, discriminação, humilhação, desrespeito. Trata-se de uma
agressão que não deixa marcas corporais visíveis, mas emocionalmente causa
cicatrizes por toda a vida. A palavra violência possui um significado mais frequente,
quer dizer o uso da força física, psicológica, para obrigar a pessoa a fazer algo que
não esta na vontade é constranger, é incomodar, é impedir que o outro manifeste
sua liberdade sob pena de viver gravemente ameaçado, violentado.
É um meio de coagir, de submeter o domínio do outro. Violência é uma forma
de violação dos direitos do outro. E essa violência não é fruto da natureza, mas do
processo de socialização das pessoas. O universo da violência é sempre um
54
universo de dor e sofrimento. A violência também tem se caracterizado de diferentes
modos, estrutural, interpessoal, institucional.
A violência estrutural é aquela que ocorre no seio social, ocasionada pela
desigualdade social, naturalizada pelas manifestações da pobreza, da miséria. A
violência interpessoal interfere nas relações humanas, e a violência institucional pelo
qual se refere na omissão das Políticas Públicas e Sociais.
Há um forte debate na sociedade entre organizações não governamentais e
governamentais sobre este problema de minimizar os efeitos destas. No Brasil e em
outros países ocorrem diariamente inúmeros mecanismos de proteção social de
direitos dos idosos.
O Estado precisa desenvolver de uma rede capaz de assegurar aos idosos
seus direitos básicos, como saúde, transporte, lazer. Sem o conhecimento adequado
do perfil da população idosa nenhuma rede de promoção e proteção, pode constituir
em programas ou órgãos públicos capacitados para atender esta demanda
especifica que traz grande significado ainda para a sociedade.
O problema muitas vezes esta na desigualdade social e econômica cujas
conseqüências levam a pratica da violência doméstica. A violência domestica tem
sido um dos graves problemas a serem enfrentados pela sociedade contemporânea,
não tão somente como segmento idoso, mas atinge outros grupos sociais.
A maneira como a sociedade trata os idosos é muito contraditória. Na maioria
das vezes passa visão negativa de envelhecimento, pois mantém e reproduz a idéia
que estão descartados no âmbito do mercado de trabalho e quase sempre
ganhando uma pequena parcela da aposentadoria para se manter, conquista
garantida por longo processo de trabalho durante o tempo. Mas também há uma
visão positiva aquela que vem da valorização da pessoa idosa, por sua história, sua
sabedoria.
Pasinato et al. (2004, p. 4) revela que “um dos grandes desafios para os
estudos sobre maus-tratos, não apenas especificamente em relação a idosos, reside
na definição das categorias e tipologias que designam as várias nuances”. Nesse
contexto, o autor classifica os maus-tratos e a violência contra os idosos,
demonstrados no quadro a seguir:
55
TIPOS DE VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO
Maus-tratos físicos Uso da força física para compelir os idosos a fazerem o que não desejam, para feri-los, provocar-lhes dor, incapacidade ou morte;
Maus-tratos psicológicos
Agressões verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar os idosos humilhá-los, restringir sua liberdade ou isolá-los do convívio social;
Abuso financeiro ou material
Exploração imprópria ou ilegal dos idosos ou uso não consentido de seus recursos financeiros e patrimoniais;
Abuso sexual
Refere-se ao ato ou jogo sexual de caráter homo ou heterorrelacional, utilizando pessoas idosas. Visa obter excitação, relação sexual ou práticas eróticas por meio de aliciamento, violência física ou ameaças;
Negligência
Recusa ou omissão de cuidados devidos e necessários aos idosos por parte dos responsáveis familiares ou institucionais. Geralmente, se manifesta associada a outros abusos que geram lesões e traumas físicos, emocionais e sociais, em particular, para os que se encontram em situação de múltipla dependência ou incapacidade;
Abandono
Ausência ou deserção dos responsáveis governamentais, institucionais ou familiares de prestarem socorro a uma pessoa idosa que necessite de proteção;
Autoabandonos ou autonegligência
Conduta de uma pessoa idosa que ameace a sua própria saúde ou segurança, pela recusa ou pelo fracasso de prover a si próprio o cuidado adequado.
Fonte: (PASINATO et al., 2004).
Esse perfil de percepção do autor em relação à violência do Idoso é
caracterizado por todo um contexto social pelo qual o individuo se encontra também
Quadro 1 – Classificação dos tipos de violência contra o Idoso.
56
fatores relacionados a gênero e a questão social, a negligência do Estado diante da
perspectiva das Politicas Públicas e Sociais que deixam a desejar.
No que tange aos direitos dos idosos, o Estatuto do Idoso reafirmou os
princípios constitucionais e os da Política Nacional do Idoso, serviços e programas
especializados na Assistência Social, para quem dela necessitar, prevenção ao
atendimento das vitimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade
e opressão, serviços de identificação e localização de parentes responsáveis por
idosos abandonados em instituições de longa permanência, hospitais, proteção
jurídica em defesa dos direitos dos idosos, como também participação da opinião
pública para ampliar a participação social no atendimento ao idoso (FONSECA;
GONÇALVES, 2003).
A relevância destas informações permite contribuir criticamente para o
conhecimento da Politica do Idoso, considerada como eixo estruturante e
imprescindível para a realização de uma política com mais qualidade e eficiência. As
discursões levantadas a partir da concepção do autor, verifica-se avanços no que diz
respeito à população idosa, a importância dada para este segmento, mostrando sua
real influência na Sociedade Contemporânea.
57
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O propósito deste trabalho foi apresentar a realidade do Município de Natal
com o objetivo de discutir sobre a efetivação das Políticas e o Sistema de Proteção
destinadas ao Idoso. O trabalho também vem abordar todo um contexto histórico no
Brasil em relação à Proteção Social, vem identificar as principais problemáticas do
idoso dentro do contexto familiar, respeitando suas particularidades e diferenças
individuais. Diante de várias lutas no processo de democratização, foram
constituídos novos projetos de emancipação política como a Constituição Federal
Brasileira, grande marco pelo qual proporcionou à população idosa um grande
avanço no que se refere à conquista de direitos.
A Política Nacional de Idoso representou grande reconhecimento da
importância do envelhecimento populacional no Brasil, regulamentada pela Lei nº
8.842/94 que veio com a finalidade de garantir autonomia ao idoso, integração e sua
efetiva participação na sociedade. (BRASIL, 1994).
Em 2003 foi sancionado o Estatuto do Idoso, que significou um marco legal no
sistema de proteção do idoso, regulamentando leis constitucionais e trazendo
grandes benefícios no que se refere à formulação de política social, a destinação de
recursos públicos, a prioridade no atendimento público e privado, a manutenção do
idoso com sua própria família; possibilitou também ao idoso a sua participação ativa
em conselhos, grupos comunitários como benefício de alargar suas relações e
vínculos sociais, além de esclarecer a esta população sobre como ter um
envelhecimento saudável e uma boa qualidade de vida como idoso, outra conquista
é a garantia no acesso à rede de saúde e assistência social, dessa forma verifica-se
uma maior qualidade nas condições de vida da população idosa.
A abordagem do envelhecimento é um assunto tratado por diversas áreas do
conhecimento. A categoria vem recebendo relativa importância na área acadêmica.
O lócus da pesquisa situou-se a partir de dados textuais, referências bibliografias,
internet, notícias veiculadas em jornais, entre outros meios de comunicação.
A abordagem do Trabalho pretende contribuir ao público idoso e a população
em geral que busca conhecimento sobre esta área, como também tratar e
compreender como a questão da violência e a proteção social via políticas públicas
58
são efetivadas no Município de Natal. A violência e a violação de direitos contra a
pessoa idosa é um fenômeno que vem ganhando visibilidade e ainda um problema
de omissão por parte do Estado diante do tratar do Idoso em relação a maior
conhecimento do problema, leis e políticas mais efetivas como também a falta de
estratégias de prevenção mais eficazes, como: planejamento público com mais
qualidade, viabilizar formas alternativas de participação do idoso e seu convívio
social na comunidade, destinar os recursos humanos e materiais na implementação
de sua politica, priorizando o atendimento preferencial e prioritário conforme o que é
garantido no Estatuto do Idoso, Lei 10.741/03.
Diante do contexto histórico já exposto, a questão da velhice até os dias de
hoje é uma proposta de discussões no âmbito de planejamento das políticas
publicas e sociais. Devido ao crescente do número de idosos na sociedade brasileira
despertou grande desafio para a sociedade, no que se refere ao reconhecimento
desta categoria, descobrindo sua importância como também sua integração com a
sociedade, um compromisso de cidadania, e uma obrigação dada à gestão pública.
É importante salientar que o art.1 inciso III da Constituição Federal (BRASIL,
1988) garante que um dos fundamentos do Estado democrático é a dignidade da
pessoa humana. E isto significa que todo idoso tem direito a dignidade humana, e
qualquer afrontação constituirá violação de direitos.
Analisar esse processo de estigmatização do idoso perpassa por todos os
elementos em relação à construção social da velhice, questão de identidade social e
visibilidade do idoso no espaço social em que se encontra. A análise do
envelhecimento inclui necessariamente a analise dos aspectos culturais, políticos,
econômicos, relativos a valores e preconceitos que permeiam a história das
sociedades. A descriminação aos velhos é o resultado dos valores típicos de uma
sociedade de consumo e de mercantilização das relações sociais. O exagerado
enaltecimento do jovem como algo útil para a sociedade e o velho como algo
descartável, além do descrédito sobre o saber adquirido com a experiência de vida,
são inevitáveis as consequências desses valores.
Nessa perspectiva de reconhecimento é fundamental garantir a participação
dos idosos na vida econômica, política e social, participação como cidadãos em
plenos direitos e desenvolver plenamente seu potencial como Idoso em todos os
59
aspectos sociais, culturais, entre outros. Para eliminar a violência e a discriminação,
é necessário garantir a igualdade entre gêneros e criar mecanismos de proteção
social.É necessário que haja uma nova consciência social e valorização deste
segmento da população tão importante que contribui ao longo de suas vidas para
formação e democratização de uma sociedade mais justa e humana, e muitas vezes
são deixados de lado, tornando-se marginalizados e isolados socialmente.
Considerando toda complexidade de fatores determinantes que envolvem
essa “questão social”, é necessário que se faça uma discursão mais detalhada,
sendo que tal apresentação do objeto de discurso possibilite maior compreensão
para que possa se analisar e refletir as formas de enfrentamento da Política e o
sistema de proteção diante da realidade no município de Natal. O estudo permitiu
também analisar e apresentar a estrutura e a efetivação da rede de proteção social
do Idoso no Município de Natal, no entanto veio aprofundar o debate em relação às
implicações da realidade. Percebe-se a necessidade de avançar na Política do
Idoso, na medida em que é negado ou um direito de um idoso é violado por falta de
recursos, preparação dos profissionais, falta de articulação das redes de proteção, é
preciso dar prioridade para essas políticas para que se estruture e fortaleça esse
segmento.
O desafio se coloca para além dos recursos humanos e materiais, é um
processo de luta constante, é um resultado de lutas de classe que percorre por
vários anos de emancipação política. Esperamos que estas contribuições possam
dar um novo olhar crítico, um norte para futuras pesquisas, de modo que possa
possibilitar novas reflexões e que mediante novas transformações dada pela
sociedade possa assim garantir um novo cenário onde a população idosa possa
garantir seus direitos com mais efetividade através de uma política pública social de
qualidade.
60
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