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OS DESAFIOS DA GESTÃO DEMOCRÁTICA ESCOLAR: UMA
REFLEXÃO SOBRE O PAPEL DO PEDAGOGO NA ESCOLA
MARTINS, Maria das Dores Nacari1
CZERNISZ, Eliane Cleide da Silva2
RESUMO
Este artigo é fruto da intervenção realizada no Colégio Estadual Unidade Pólo de Jandaia do
Sul – parte das atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. Tem como
objetivo desenvolver uma reflexão sobre a gestão democrática considerando seus limites e
possibilidades a partir de uma discussão que envolve os aspectos legais e as ações escolares
desenvolvidas pelo pedagogo e equipe pedagógica. O trabalho está baseado em discussões
bibliográficas e nas reflexões oriundas de intervenção na escola. Trata-se de um assunto
importante às escolas que pretendem desenvolver ações coletivas democratizando as relações
em seu interior. Os resultados apontaram a importância do trabalho do pedagogo na gestão
escolar, a necessidade de que a escola tenha uma equipe pedagógica que desenvolva estudos e
ações visando a implementação da gestão democrática.
Palavras-chave: Gestão democrática; gestão; participação; pedagogo; democratização.
1 Professora Pedagoga do Colégio Estadual Unidade Pólo de Jandaia do Sul.
2 Professora do Curso de Pedagogia – Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina.
1.0 INTRODUÇÃO
Este artigo é resultado da intervenção realizada no Colégio Estadual Unidade Polo de
Jandaia do Sul – parte das atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE.
O ponto de partida para a reflexão aqui desenvolvida foram inquietações de vários anos de
trabalho dentro de diversas instituições de ensino. Desde então, e hoje como professora
pedagoga venho trabalhando, buscando uma nova atuação frente a administração escolar e o
relacionamento com a comunidade. As posições de indiferença ou descrença na possibilidade
de uma gestão escolar participativa sempre foram manifestadas no interior das escolas por
onde passei, por colegas que não tiveram a oportunidade de estudar o tema. Também percebia
que havia certo medo dos gestores ao permitirem que a comunidade participasse das decisões
da escola. O medo de “perder o controle” é uma preocupação dos gestores, assim como,
também a falta de confiança no trabalho de um colega ou ainda a competição entre os pares,
questões presentes no âmbito escolar.
A possibilidade de uma reflexão mais sistematizada sobre o tema – Gestão
Democrática – veio com o PDE. O resultado dessa experiência está aqui sistematizado. Este
artigo vem com o objetivo de apresentar os resultados obtidos com essa intervenção. A
primeira tarefa foi conhecer os determinantes que interferem na participação da comunidade
na escola. Entendendo ser a gestão democrática uma construção coletiva, onde tem como
princípio a participação, a coletividade e a mudança da cultura de participação na escola.
Para tanto foram realizados grupos de estudos para análise, discussão e reflexão sobre
a gestão democrática da educação buscando destacar seus fundamentos, princípios e
processos. O questionamento que originou esse trabalho foi: “o Projeto Político-Pedagógico
do Colégio Estadual Unidade Polo é elaborado de forma a proporcionar uma gestão
democrática da educação?” E “as ações que vem sendo realizadas podem dar conta do que
está nele previsto?”. Nesse processo também foram discutidas as metas que poderiam ser
traçadas por gestores, equipe pedagógica, professores e demais membros da comunidade
escolar para que a gestão democrática se efetive.
O envolvimento de todos os membros da comunidade escolar nas decisões da escola,
buscando incentivar a participação e a discussão de encaminhamentos da escola de forma
coletiva, é a razão pela qual esse trabalho se justifica. Conforme destacou Paro (1998a), a
democratização da escola não se reduz às “eleições para diretor”, mas em uma efetiva
estruturação onde deve haver a participação de toda coletividade na construção do Projeto
Político Pedagógico, no Currículo Escolar e nas decisões da escola. Tal articulação, além de
um direito de controle democrático sobre os serviços do estado, também “supõe o
enraizamento e continuidade com todo o processo de formação do cidadão que ocorre no todo
da sociedade” (PARO, 1998b, p.59). Entendemos que deste modo este trabalho contribuiu
para ampliar a reflexão sobre a gestão democrática da escola pública.
2.0 GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: FUNDAMENTOS, LIMITES E
POSSIBILIDADES.
Em discussão realizada na escola com a equipe pedagógica, diretores, professores,
APMF – Associação de Pais, Mestres e Funcionários da Escola e Conselho Escolar sobre a
importância da discussão da gestão democrática na escola pública foi iniciada uma reflexão
acerca da gestão democrática da escola pública, dos desafios presentes na gestão devido às
atividades que envolvem toda a equipe pedagógica, professores, pedagogos e diretores e
também a demanda de compromissos assumidos pela escola frente a comunidade escolar.
Esse debate constituiu o início dos estudos propostos na intervenção pedagógica sobre o tema,
do qual foi constituído um grupo cujas reflexões apontaram para a construção de uma escola
democrática.
A pretensão também foi superar o discurso comum presente no âmbito escolar de que
há uma centralização das ações e direção da escola na figura do diretor, vislumbrando assim
abrir as portas da escola para a comunidade, não apenas para o acesso a informações de ações
e decisões já tomadas, mas para a participação e construção coletiva de uma escola pública
voltada para a formação da cidadania.
Desenvolvida essa caminhada foi possível pelos princípios da Constituição de 1988 e
referendados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9394 de 20 de
dezembro de 1996 (LDBEN/96, p. 4) “reforçar a necessidade da democratização da gestão
escolar democrática”.
De acordo com Cury (2002), a gestão democrática tem se tornado um dos motivos
mais frequentes de debates na área educacional. Este princípio tem sido referido na eleição de
diretores das escolas públicas. É um assunto que compõe várias Constituições Estaduais e
Leis Orgânicas Municipais, conforme podemos verificar também no município de Jandaia do
Sul. Apesar da prescrição cumpre refletir sobre as exigências e desafios trazidos por esta
exigência legal.
A Gestão Democrática apresenta exigências, detêm algumas características, e que,
para melhor entendimento, faz-se necessário um estudo sobre seus princípios, fundamentos e
processos. Como foi discutido por Paro (1998b, p. 55), existe a necessidade de que a escola
seja “fundada sob a égide dos preceitos democráticos que desmanche a atual estrutura
hierarquizante e autoritária que inibe o exercício de relações verdadeiramente pedagógicas”.
O entendimento de Paro (1998b, p.53-54), ao discutir os princípios da gestão escolar
democrática nos contextos da LDBEN 9394/96 no art. 3°; inc. VIII, repete o estabelecido no
art. 206 da Constituição Federal ao situar os princípios da gestão democrática. O art. 14 da
LDBEN estabelece quais os princípios que devem nortear as normas da gestão democrática do
ensino público da educação básica, que, segundo o mesmo Artigo e o autor, serão definidos
pelos “sistemas de ensino”. (PARO, 1998a). Aqui já fica perceptível que a gestão não se
limita a escola, a gestão é um processo abrangente, que compreende todas as relações
tangentes ao processo da educação.
Como já havíamos afirmado no Projeto de Intervenção (2011), ainda referente ao
artigo 14 da LDBEN 9394/96 os profissionais da educação participam na elaboração do
projeto político-pedagógico e a comunidade em instâncias participativas. Os profissionais da
educação como membros da comunidade escolar também participam das instâncias
participativas como, por exemplo, APMF e Conselho Escolar. Observamos que tais instâncias
podem ser deliberativas, fiscais ou consultivas. Vejamos o que diz a Lei:
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino
público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os
seguintes princípios:
I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico
da escola;
II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou
equivalentes (BRASIL, 1996).
A afirmação da participação como determinação legal e as possibilidades de melhoria
da escola com a democratização da gestão da educação em um sentido mais amplo nos leva a
crer que faz-se necessário e urgente que as escolas desenvolvam estudos sobre o tema para
que possam a partir de então desenvolver a autonomia para que as mesmas tenham poder de
decisão para escolher melhores caminhos a serem seguidos pela escola assim como para
assumir seus resultados.
Observamos também que a autonomia é outro item contemplado no artigo 15 da
mesma Lei:
Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de
educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e
administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito
financeiro público (BRASIL, 1996).
A participação da comunidade na gestão exige que a escola integre a família e a
comunidade às atividades escolares, cabendo aos profissionais da escola colaborar nesta
articulação. Acreditamos que esta é uma forma que possibilitará acompanhar e avaliar os
serviços prestados pelo Estado. Deste modo é também possibilitado ao individuo exercer sua
verdadeira cidadania, já que ao avaliar e acompanhar também poderá, se necessário, contestar
e controlar as ações que foram decididas pela maioria.
Ressaltamos também que é muito importante para o exercício da gestão democrática
informar aos pais e responsáveis sobre a execução da proposta pedagógica estabelecida pela
escola para que eles participem do processo. Todas essas ações desenvolvidas na gestão são
tarefas a serem desenvolvidas pelo pedagogo e demais membros da equipe pedagógica.
Conforme destacou Paro (1998a), e já havíamos comentado aqui a democratização da
escola não se reduz às “eleições para diretor”, ela é um processo onde deve haver a
participação de toda coletividade na construção do Projeto Político Pedagógico, no Currículo
Escolar e nas decisões da escola. Tal articulação, além de um direito de controle democrático
sobre os serviços do estado, também “supõe o enraizamento e continuidade com todo o
processo de formação do cidadão que ocorre no todo da sociedade” (PARO, 1998b, p.59).
A escola deve ser um local de constante interação, que propicie a participação todos
para a sua construção. Para que corresponda à escola almejada é preciso que ela permita a
realização de projetos construídos coletivamente. Paro (1998a), ainda destaca que é a
participação da população usuária (alunos, pais e responsáveis) que mantém a escola estatal
que deverá servir e agir de acordo com os interesses da população objetivando a efetiva
democratização.
Assim em acordo com estudos realizados sobre o assunto, a partir da análise de Paro
(1998a), a participação de todos os segmentos da comunidade escolar junto à equipe diretiva,
independente de política partidária, é primordial para a colheita de bons resultados no
contexto escolar. Para conquistar a educação de qualidade, a gestão deve atender aos
interesses coletivos, a escola precisa escutar a todos (professores, funcionários, pais e alunos)
antes de tomar decisões. E se a participação for colegiada, há a exigência de organização, de
diálogo, de estudos, para que ocorra o processo educacional da instituição e também o
processo de formação política da equipe pedagógica envolvida na democratização da gestão
escolar.
Nesta busca pela participação da comunidade escolar, várias dificuldades podem
barrar a disponibilidade de reunir grupos de discussão para pensar o Projeto Político
Pedagógico (PARO, 1998a). Dentre as dificuldades prováveis, a participação dos pais talvez
seja a ação mais difícil devido ao cotidiano social, uma vez que há forte presença de pais ou
responsáveis que são trabalhadores com jornada de 40 horas semanais ou até 60 horas.
“A correria cotidiana em função do trabalho, agenda lotada de compromissos, faz com
que os pais se mantenham distantes da escola, apostando na direção e corpo docente para
educação de seus filhos” (PARO, 2001 apud COLARES: PACÍFICO: ESTRELA, 2009. p.
101). Paro (1998a), lembra que o lado financeiro exige, atualmente, que tanto o pai quanto a
mãe trabalhem fora, tenham salários que permitam o sustento do lar. Uma saída para a
questão de acordo com o autor, talvez seja estudar um horário que ao menos privilegie maior
participação. Entendemos que esta é também uma tarefa da equipe pedagógica e daqueles que
trabalham na gestão da escola.
Ainda em Paro (1998a), o autor salienta que, as reuniões de grupos de discussão
noturnos são mais viáveis para agregar maior número de pais. Ou reuniões aos sábados,
mesmo que fora do horário normal de funcionamento da Escola. E acredita que pelo fato de
direção, professores, funcionários e alunos já estarem no ambiente escolar, é possível parar as
aulas ou projetos a qualquer momento para discutir o Projeto Político Pedagógico da escola,
inviabilizando o acesso à participação dos pais nessas discussões.
Como foi comentado por Paro (1998a) entendemos que assembléias colegiadas servem
de base, complementam uma discussão maior, mais abrangente. O contexto escolar exige
renovação permanente, pois a própria sociedade está em transformação constante. Por isso
acreditamos que dialogar e buscar estratégias de ações que envolvem a todos os segmentos da
comunidade escolar na elaboração ou reestruturação do projeto de escola que queremos é a
ação mais urgente e importante.
3.0 O PAPEL DO PEDAGOGO NA GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA
O pedagogo é um profissional visto pela sociedade como aquele que ensina crianças
ou aquele que trabalha com a coordenação pedagógica. Na escola pública, há tempos atrás
esse profissional tem sido referenciando com ênfase em três funções: administração escolar,
supervisão e orientação educacional.
Em tempos passados o pedagogo administrador escolar gerenciava e supervisionava o
trabalho escolar. Via a escola como um todo. O pedagogo supervisor auxiliava o corpo
docente, visando aperfeiçoar o desempenho deste na utilização dos recursos didáticos, na
metodologia de transmissão do conteúdo, e por fim, na avaliação da aprendizagem dos alunos
visando proporcionar resultados mais significativos ao desenvolvimento dos educandos.
Já o pedagogo orientador educacional tinha o papel de assistir o educando, a família e
a comunidade. As tarefas do orientador abrangiam, por exemplo, medidas para contenção de
reprovação, evasão escolar, problemas disciplinares.
Há muitas críticas sobre o trabalho desenvolvido pelo pedagogo em ação nessas três
funções e há também o entendimento de que é preciso que todos entendam o currículo, eixo
do trabalho pedagógico. Podemos compreender a partir de Garcia (1995) ao comentar que
cabe ao administrador organizar o espaço para o acontecimento do trabalho pedagógico,
organizar o trabalho com os docentes e com a equipe pedagógica, ao supervisor cabe o
trabalho com os processos pedagógicos como planejamento, metodologias, seleção de
conteúdos e avaliação dos resultados, ao orientador cabe levantar a realidade do aluno e da
comunidade para que a escola saiba quem é o aluno com o qual trabalha. Todos trabalhando
pensando na formação do aluno, no conhecimento que será sistematizado.
Todo o trabalho a ser realizado a partir do currículo deve considerar como afirmou
Kuenzer (1998) a leitura do projeto pedagógico em curso, ou seja, a leitura da realidade
política, social e econômica mais ampla. Entendemos a partir da autora é que esta leitura da
realidade ampla é que irá permitir a organização de estratégias que visem o engajamento da
escola com a democratização da sociedade.
De acordo com Kuenzer (1998), é preciso a compreensão dos processos pedagógicos
numa dimensão ampla, de toda sociedade, para que os educadores possam organizar o
trabalho pedagógico escolar.
Consideramos essa tarefa importante e imprescindível, mas observamos que no dia a
dia escolar muitas outras tarefas são solicitadas ao pedagogo a exemplo da divulgação das
atribuições do professor Pedagogo conforme Edital de Concurso para Pedagogo da SEED de
2007.
No Estado do Paraná a SEED, através do supracitado Edital, atribui ao professor
pedagogo um rol de responsabilidades. Destacamos abaixo algumas que consideramos
centrais a esse profissional para a organização do trabalho coletivo e para o desenvolvimento
da gestão democrática:
- Coordenar a elaboração coletiva e acompanhar a efetivação do Projeto Político-
Pedagógico e do Plano de Ação da Escola;
- Coordenar a construção coletiva e a efetivação da Proposta Pedagógica Curricular
da Escola, a partir das Políticas Educacionais da SEED/PR e das Diretrizes
Curriculares Nacionais e Estaduais;
- Promover e coordenar reuniões pedagógicas e grupos de estudo para reflexão e
aprofundamento de temas relativos ao trabalho pedagógico e para a elaboração de
propostas de intervenção na realidade da escola;
- Participar e intervir, junto à direção, da organização do trabalho pedagógico
escolar no sentido de realizar a função social e a especificidade da educação escolar;
(PARANÁ, 2007).
São destacadas pela SEED também atividades que levam ao trabalho com a
comunidade escolar conforme podemos verificar abaixo e que são importantes para alcançar o
objetivo de democratização da escola:
- Sistematizar, junto à comunidade escolar, atividades que levem à efetivação do
processo ensino e aprendizagem, de modo a garantir o atendimento às necessidades
do educando;
- Participar da elaboração do projeto de formação continuada de todos os
profissionais da escola e promover ações para a sua efetivação, tendo como
finalidade a realização e o aprimoramento do trabalho pedagógico escolar;
- Analisar as propostas de natureza pedagógica a serem implantadas na escola,
observando a legislação educacional em vigor e o Estatuto da Criança e do
Adolescente, como fundamentos da prática educativa; (PARANÁ, 2007).
É citado também o trabalho do pedagogo na organização de atividades e para tanto
entendemos ser necessário o conhecimento da comunidade, dos professores e que as
atividades e propostas sejam resultado da participação coletiva:
- Coordenar a organização do espaço-tempo escolar a partir do Projeto Político-
Pedagógico e da Proposta Pedagógica Curricular da Escola, intervindo na
elaboração do calendário letivo, na formação de turmas, na definição e distribuição
do horário semanal das aulas e disciplinas, da hora-atividade, no preenchimento do
Livro Registro de Classe de acordo com as Instruções Normativas da SEED e em
outras atividades que interfiram diretamente na realização do trabalho pedagógico;
- Coordenar, junto à direção, o processo de distribuição de aulas e disciplinas a partir
de critérios legais, pedagógicos e didáticos e da Proposta Pedagógica Curricular da
Escola; organizar e acompanhar a avaliação do trabalho pedagógico escolar pela
comunidade interna e externa;
- Apresentar propostas, alternativas, sugestões e/ou críticas que promovam o
desenvolvimento e o aprimoramento do trabalho pedagógico escolar, conforme o
Projeto Político- Pedagógico, a Proposta Pedagógica Curricular, o Plano de Ação da
Escola e as Políticas Educacionais da SEED; (PARANÁ, 2007).
É também destacado nesse rol de atividades o trabalho com as instâncias colegiadas,
um espaço onde a aprendizagem das relações participativas toma forma. Vejamos:
- Organizar a realização dos Conselhos de Classe, de forma a garantir um processo
coletivo de formulação do trabalho pedagógico desenvolvido pela escola e em sala
de aula, além de coordenar a elaboração de propostas de intervenção decorrentes
desse processo;
- Informar ao coletivo da comunidade escolar os dados do aproveitamento escolar;
coordenar o processo coletivo de elaboração e aprimoramento do Regimento
Escolar, garantindo a participação democrática de toda a comunidade escolar;
- Orientar a comunidade escolar na proposição e construção de um processo
pedagógico numa perspectiva transformadora; ampliar os espaços de participação,
de democratização das relações e de acesso ao saber da comunidade escolar;
- Participar do Conselho Escolar, subsidiando teórica e metodologicamente as
discussões e reflexões acerca da organização e efetivação do trabalho pedagógico
escolar; propiciar o desenvolvimento da representatividade dos alunos e sua
participação nos diversos momentos e órgãos colegiados da escola;
- Promover a construção de estratégias pedagógicas de superação de todas as formas
de discriminação, preconceito e exclusão social e de ampliação do compromisso
ético-político com todas as categorias e classes sociais. (PARANÁ, 2007).
Entendemos a partir destes destaques a importância do papel do pedagogo.
Entendemos também que para desenvolver todas essas atividades é preciso uma equipe de
pedagogos e de forma articulada pensar, estruturar e desenvolver as propostas educativas
atingindo aqui todos os segmentos escolares. Mas na prática, o professor pedagogo faz tudo
isso e muito mais, está sobrecarregado de atividades, chegando à necessidade de levar
trabalhos para serem desenvolvidos em sua casa, pois em muitas escolas há pedagogos, mas
não formam uma equipe articulada, ou há um pedagogo que não consegue atender a demanda
de trabalho o que irá implicar na forma como é utilizado o tempo de trabalho na escola para
desenvolver sua função, tornando-se um profissional que apaga “incêndios”. A escola é um
organismo vivo, cheio de contradições. A escola é real e tem dentro de si todos os problemas
sociais que precisam ser trabalhados. Deste modo é preciso refletir até que ponto as atividades
elencadas são possíveis quando a escola, na maioria das vezes é permeada por conflitos e não
dispõe da quantidade necessária de profissionais bem como da articulação que é exigida para
tão importante trabalho.
Nesse sentido pensamos aqui que a tarefa mais difícil do pedagogo é convencer os
pares da escola para que desenvolvam o trabalho de forma consistente. Que os problemas
cotidianos sejam resolvidos, mas que não absorvam o tempo do trabalho escolar para que a
ação pedagógica surta resultado. Contribuir para o crescimento e a profissionalização dos
educadores, despertando, em cada profissional, o desejo de atuar de forma diferente e
conferir-lhe ânimo para romper com a rotina cansativa que apaga a alegria de aprender da
maioria dos alunos é aqui considerada uma tarefa. Sabemos que para isso não há receita. O
convencimento ocorre quando conseguimos mostrar com ações. Para tanto é necessário
tempo, reflexão e estudos coletivos e a contribuição de todos. Esse é o sentido da
democratização da gestão: um trabalho pensado, organizado e desenvolvido por todos.
4.0 DADOS OBTIDOS NO GRUPO DE TRABALHO EM REDE
O GTR – Grupo de Trabalho em Rede foi desenvolvido com o objetivo de discutir a
gestão democrática da escola pública e sua importância. Os participantes discutindo o assunto
desenvolveram alguns relatos que explicitam a importância da democratização da gestão
escolar. É possível perceber que a discussão sobre a gestão foi compreendida e que o termo
gestão democrática não e modismo, nem mera legislação, mas uma necessidade real da escola
a ser implementada.
Entre as respostas obtidas no GTR foi destacado que a gestão democrática deve se
tornar uma cultura. As ações escolares por serem frutos da garantia de um direito devem estar
direcionadas à promoção do bem comum. A escola, conforme foi explicitado pelos
participantes do GTR, é um lugar para vivência, para a aprendizagem da cidadania, fato que
possibilitará àqueles que passam pela escola a definição dos rumos de suas vidas, a construção
da própria história.
5.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer de nossos estudos realizamos a discussão da Gestão Democrática da
escola pública. Consideramos que embora tenha ampla divulgação sobre o tema na escola
esse é ainda um assunto que merece estudos. Há ainda na escola, e esta foi uma percepção
durante a intervenção pedagógica, dificuldades de implementação da sonhada democratização
da gestão escolar. Para a mudança de fato é preciso uma longa caminhada de estudos e de
ação em que seja possível avaliar as estratégias utilizadas e os resultados obtidos. Tudo isso
de forma coletiva. Hoje um grande problema para tal é a falta de tempo que predomina na
escola. É preciso tempo para estudo.
Mesmo diante dos desafios presentes na sociedade em que muitas vezes predomina o
individualismo e o autoritarismo, é possível desconstruir este modelo, através do estudo, da
reflexão e da participação de todos da comunidade escolar.
Este é o princípio também para analisar a escola e sua função de ensinar e possibilitar
a aprendizagem e o desenvolvimento da cidadania, base para a escola formar cidadãos
conscientes e capazes de agirem comprometidos com os processos de democratização da
sociedade. O conhecimento obtido na escola é também chave para consecução desse objetivo.
É pelo conhecimento elaborado que os homens hoje poderão fazer escolhas sobre a sociedade
que querem construir.
Vimos que a educação é um bem público e direito de todo cidadão e precisa estar
acessível, não apenas para ensinar a ler e escrever, é necessário entender educação como
oportunidade de realizar mudanças, ter vez e voz num processo continuo de construção
democrática.
REFERÊNCIAS
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Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 03 julho
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2006. Disponível em:
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