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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
Ficha para Catálogo de Artigo – Trabalho Final Professor PDE/2014
Título:O lúdico no ensino da Matemática: trabalhando com gincana.
Autor Lucilene Peron Belusso
Disciplina/Área Matemática
Escola de Implementação do
Projeto e sua localização
Colégio Estadual do Campo Coelho Neto – Ensino
Fundamental e Médio - Rua 15 de Novembro – nº 287
– Aurora do Iguaçu
Município da escola São Miguel do Iguaçu
Núcleo Regional de
Educação
Foz do Iguaçu
Professor Orientador Luciana Del Castanhel Peron da Silva
Instituição de Ensino Superior UNIOESTE – Foz do Iguaçu
Relação Interdisciplinar
Está relacionada principalmente às disciplinas de Língua Portuguesa, Arte e Educação Física.
Público Alvo
Alunos do 6º Ano do Ensino Fundamental, do ano de
2015.
Resumo
Este trabalho sugere que seja estabelecido um olhar mais afetuoso com relação aos alunos que chegam ao 6º ano, para que estes não se percam emocionalmente e pedagogicamente nessa nova fase de estudos, ou seja, nessa transição do 5º para o 6º ano. Com foco neste objetivo, propõe-se uma nova metodologia para as aulas de matemática, na intenção de recepcionar melhor essas crianças e possibilitar um laço mais afetivo entre professor e aluno. Para isso foi desenvolvida uma gincana para a turma do 6º ano do Colégio Estadual do Campo Coelho Neto, onde a turma foi dividida em quatro grupos que resolveram atividades diversificadas envolvendo resolução de exercícios, paródias, histórias em quadrinhos entre outras. O objetivo foi proporcionar uma interação maior entre professor-aluno e a redução de problemas comuns como: indisciplina, falta de concentração para ler, interpretar e resolver os exercícios propostos, dificuldades de entender o conteúdo explicado e alto índice de reprovação. Acredita-se que estes problemas podem ser consequências também da falta de uma proposta de recepção adequada desses novos alunos.
Palavras-chave “Ensino de Matemática”; “relação professor e aluno”;
“gincana”; “resolução de problemas”; “transição”.
O LÚDICO NO ENSINO DA MATEMÁTICA: TRABALHANDO COM
GINCANA.
Lucilene Peron Belusso1 Luciana Del Castanhel Peron da Silva2
RESUMO:
Este trabalho sugere que seja estabelecido um olhar mais afetuoso com relação aos alunos que chegam ao 6º ano, para que estes não se percam emocionalmente e pedagogicamente nessa nova fase de estudos, ou seja, nessa transição do 5º para o 6º ano. Com foco neste objetivo, propõe-se uma nova metodologia para as aulas de matemática, na intenção de recepcionar melhor essas crianças e possibilitar um laço mais afetivo entre professor e aluno. Sendo assim, foi desenvolvida uma gincana para a turma do 6º ano do Colégio Estadual do Campo Coelho Neto, a turma foi dividida em quatro grupos que resolveram atividades diversificadas envolvendo resolução de exercícios, paródias, histórias em quadrinhos entre outras. O objetivo foi proporcionar uma interação maior entre professor-aluno e a redução de problemas comuns como: indisciplina, falta de concentração para ler, interpretar e resolver os exercícios propostos, dificuldades de entender o conteúdo explicado e alto índice de reprovação. Acredita-se que estes problemas podem ser consequências também da falta de uma proposta de recepção adequada desses novos alunos. Palavras chave: Ensino de Matemática; Relação professor e aluno; Gincana;
Resolução de problemas; Transição.
INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos na atuação como docente da disciplina de
Matemática na rede pública do estado do Paraná, observa-se uma mudança
comportamental e intelectual nos alunos que chegam às escolas, mudanças
que vem se acentuando ano após ano, resultado de inúmeros atrativos que
nossos alunos têm fora do ambiente escolar, fatores externos muito mais
prazerosos do que a escola e conteúdos. Estamos competindo com tecnologias
que a cada dia se inovam com sons e com muitas imagens, estas sim, atraem
a todos e principalmente as crianças.
Sendo assim, o estudo para as crianças acaba sendo pouco atrativo.
Portanto, é muito importante que a relação professor-aluno, seja a melhor
possível, para que assim, mais resultados positivos esse aluno tenha em sua
1 Especialista em Ensino da Matemática e professora PDE na área de matemática.
2 Professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste Campus de Foz do
Iguaçu e orientadora PDE na área de Matemática.
caminhada escolar. Não se pode negar que cabe também ao professor,
conduzir o aluno para que tenha essa prática e que ela se dê com mais
sucesso.
Todo o processo escolar é permeado por dificuldades e ansiedades, por
parte de alunos e também de professores, ao ter em cada novo ano letivo um
desafio. Porém essas dificuldades e ansiedades são mais acentuadas na
transição do 5° para o 6° Ano do Ensino Fundamental.
A mudança pela qual passam os alunos neste período é muito grande e
merece atenção. Nessa fase muitos acabam não cumprindo as obrigações
advindas, não se concentrando durante as aulas e obtendo resultados
insatisfatórios nas avaliações. Outros acabam se sentindo tão livres e se
tornam indisciplinados.
A indisciplina tem sido intensamente vivenciada nas escolas, apresentando-se como uma fonte de estresse nas relações interpessoais, particularmente quando associada a situações de conflito em sala de aula (GARCIA, 1999, p.101).
É muito comum ver nas escolas as turmas de 6ºs anos apresentando
muitos problemas de indisciplina. A matemática sendo uma disciplina que
exige muita concentração passa a ser uma matéria complicadíssima e
inacessível para alguns alunos.
Frente a todas as adversidades que encontramos na escola atualmente
constatamos que é preciso recepcionar melhor - de maneira mais afetiva -
esses alunos que chegam ao 6º ano, acreditando, que desta forma, teremos
um melhor relacionamento professor/aluno, repercutindo na melhora do
aprendizado, podendo assim, ser identificado no resultado avaliativo.
DESENVOLVIMENTO
Criar um ambiente aconchegante para o aluno no início da etapa de
estudos dos anos finais do Ensino Fundamental pode tranquilizar a inquietude
de muitos problemas futuros na disciplina de Matemática e amenizar traumas
que ela possa causar com uma primeira má impressão. Promover o gosto pela
disciplina logo de início, é tarefa do professor do 6º ano, pois isso pode diminuir
um pouco os problemas enfrentados pelos professores de Matemática ao longo
dos anos finais do ensino fundamental.
Levando em consideração que os alunos que chegam no 6º ano hoje,
tem de 10 a 11 anos, ainda podemos considerá-los crianças e por se
comportarem como tal, têm a brincadeira como o melhor e mais importante
passatempo. Conforme o estudo realizado pelas autoras:
Brincar é tão importante e sério para a criança como trabalhar é para o adulto. Isso explica porque encontramos tanta dedicação por parte da criança em relação ao brincar. Brincando ela imita gestos e atitudes do mundo adulto, descobre o mundo, vivencia leis, regras, experimenta sensações (SMOLE; DINIZ; CANDIDO, 2000, p13).
Por esse motivo é comum vermos as crianças inventando brincadeiras
diversas durante os intervalos e até mesmo durante as aulas. Na escola, isso é
mais frequente ainda, pois não se deparam com um problema bastante comum
em casa que é a falta de companhia: com quem eu posso brincar? Como a
escola é um espaço cheio de crianças, as brincadeiras fluem naturalmente.
Em meio a essa realidade escolar, não se pode esquecer que a criança
precisa estudar, o que não é uma tarefa fácil como aponta Paulo Freire quando
coloca: “estudar é, realmente, um trabalho difícil. Exige de quem o faz uma
postura crítica, sistemática. Exige uma disciplina intelectual que não se ganha a
não ser praticando-a.” (1982, p.9). Essa prática deve vir acompanhada de uma
força de vontade muito grande por parte do aluno.
Nesse contexto, ensinar também se torna uma tarefa muito difícil. Nos
dias de hoje então, isso se torna mais difícil ainda, pois estamos competindo
com uma série de fatores externos muito mais prazerosos do que a escola e os
conteúdos. Estamos competindo com tecnologias que a cada dia se inovam,
com sons e com muitas imagens, que estas sim, atraem a todos e
principalmente as crianças.
Realmente parece pouco atrativo o papel da escola diante de todos os
recursos de entretenimento que as crianças encontram fora dela. Chegando ao
6º ano, essa falta de atratividade que a escola oferece pode agravar muito a
relação professor-aluno.
A flexibilidade de horário da professora de 4ª série
3 favorece uma
rotina de aula mais próxima do aluno. Na 5ª série4 e a partir dela, é
comum os professores apresentarem variações de procedimentos e
3 Esse termo deixou de ser usado quando o Ensino Fundamental passou a ser de 9 anos,
equivale ao 5º ano. 4 Equivale ao 6º ano.
condutas, além da ausência de um trabalho coletivo, evidenciada pela falta de integração entre as disciplinas e programas escolares. Além disso, existe um distanciamento maior entre o professor da 5ª série e os alunos. Na 4ª série, as trocas afetivas são favorecidas pelas conversas da professora com os alunos, garantidas pelo tempo maior de permanência em sala de aula, nas correções dos cadernos de tarefas, na apresentação das atividades de classe (HAUSER, 2007, p.15, 16).
Esse distanciamento professor-aluno aos poucos vai interferindo no
comportamento da criança na escola e, consequentemente, refletindo em uma
série de fatores. É nítida a diferença que o aluno sente ao ingressar no 6º ano
diante da mudança de “status” que deixam de agregar na escola de um ano
para o outro.
Outro dado importante a ser observado é a mudança de condição do aluno da 5ª série. Os alunos da 4ª série, geralmente, são considerados “mais maduros e mais velhos” da escola, uma vez que estudam numa unidade ou escola onde ocorre a divisão ou separação de alunos. Mesmo nas escolas particulares, é comum encontrarmos prédios destinados a alunos de 1ª a 4ª série enquanto os de 5ª série em diante freqüentam outra unidade. Esse fato de serem “os mais velhos” conferia-lhes certo “status de autoridade” em relação aos alunos mais novos. Quando vão para a 5ª série, além da própria mudança de prédio, eles serão considerados os mais jovens e “imaturos” da escola (HAUSER, 2011, p.16).
Com muito custo, ao longo do ano, essas crianças acabam entrando no
ritmo de uma nova rotina de estudos, mas às vezes, muitos problemas acabam
interferindo na vida escolar de uma turma de 6º ano. Um deles é a indisciplina.
Talvez, isso ocorra, devido aos momentos em que essas crianças permaneçam
sozinhas na sala de aula entre a troca de professores de uma aula para outra.
É inevitável que nesse momento ocorram brincadeiras e, muitas vezes, o
professor da aula seguinte leva minutos até acalmar a turma.
Nessa perspectiva, é comum o professor, principalmente, o de
matemática, tentar a todo custo demonstrar que quem domina a sala de aula é
ele, muitas vezes agindo com autoritarismo. Assim, se a criança não criou um
laço afetivo com o professor, gostar da disciplina se torna quase impossível,
levando um aluno que até então não apresentava dificuldades a apresentar.
É nesse momento que professores podem acabar comprometendo a
vida escolar de um aluno. Quando o professor não tem a paciência devida que
um aluno de 6º ano requer, é que se inibe a vontade do aluno em aprender.
Para professores do 6º ano mais do que nunca, o amor pela profissão
deve falar mais alto. A paciência em um professor do 6º ano deve ser maior do
que nas outras turmas dos anos finais do ensino fundamental, pois o aluno
nessa turma apresenta-se com muita insegurança.
Se o professor não tiver esse olhar especial para com esses alunos,
pode ser ele mesmo o responsável por fazer com que o aluno perca a vontade
de querer estudar. Um aluno que se apresentou bem na escola até o 5º ano,
não pode vir a dar problemas justamente quando chega no 6º ano.
Percebe-se assim a importância do ensinar com metodologias que
aproximem a criança do professor, consequentemente criando um laço afetivo.
Na infância, o que mais atrai uma criança é a brincadeira. Ensinar a
matemática com brincadeiras pode fazer com que a criança se sinta acolhida
nesse novo ambiente em que está chegando, como também, continue vendo
essa disciplina como uma disciplina de possível entendimento, ou pelo menos,
não passe a vê-la como “um bicho de sete cabeças.”
Nesse contexto o projeto possibilitou que os alunos fossem
recepcionados nas aulas de matemática, com uma metodologia um pouco
diferente da qual estavam habituados. Logo no início do ano de 2015 os alunos
participaram de uma gincana, com regras e pontuações previamente
explicadas. A turma foi dividida em quatro grupos e, a partir daí, todas as
atividades propostas eram resolvidas pela equipe, marcando pontuações por
cada tarefa desenvolvida corretamente. As atividades envolveram desde a
resolução de exercícios, até a confecção de cartazes, paródias, poemas, caça-
palavras, atividade semelhante ao passa e repassa e confecção de livrinhos
com história em quadrinhos. No decorrer das atividades, foram também
realizadas dinâmicas com o objetivo de mostrar a importância do próximo em
nossa vida, a importância do trabalho em equipe, como a atitude de um pode
influenciar na vida do outro, como podemos ajudar o outro, desenvolver
valores, cooperação, trabalho em equipe e aspectos intrínsecos de liderança,
desenvolvimento autônomo, foco em pessoas, relacionamento interpessoal,
análise das vivências diárias e comunicação.
O encerramento da gincana se deu em dois momentos: primeiramente
com os alunos e depois com os pais, onde foi possível apresentar todas as
atividades realizadas no decorrer da gincana.
A avaliação se deu em todos os momentos da gincana, atentando
sempre para o envolvimento dos alunos na realização das atividades, sendo
observado diariamente o comportamento dos alunos diante de diversos
tópicos, tais como, relacionamento, organização, liderança, cooperativismo.
Também observamos o domínio que o aluno apresenta diante de todos os
conteúdos apresentados.
De acordo com as DCE:
No processo avaliativo, é necessário que o professor faça uso da observação sistemática para diagnosticar as dificuldades dos alunos e criar oportunidades diversificadas para que possam expressar seu conhecimento. Tais oportunidades devem incluir manifestação escritas, orais e de demonstração, inclusive por meio de ferramentas e equipamentos, tais como materiais manipuláveis, computador e calculadora (DCE, 2008, p. 69).
Diante disso, todas as atividades foram avaliadas ao longo da sua
realização, seja ela de resolução, de criação ou de apresentação. Assim
sendo, foi observado se os objetivos propostos foram alcançados. O projeto
se deu nessa dinâmica, desenvolvido com os alunos, apresentado a
comunidade escolar e avaliado paralelamente pelo professor.
IMPLEMENTAÇÃO:
Considerando que a presente pesquisa está inserida no âmbito do Programa
de Desenvolvimento Educacional - PDE, que tem sua importância enquanto política de
formação continuada e valorização dos Professores – da Rede Pública de Ensino do
Estado do Paraná, uma das atividades propostas aos professores integrantes do
programa em 2014, foi a produção de um material didático pedagógico que atendesse
às necessidades de aprendizagem dos alunos das escolas públicas do Estado do
Paraná. Optou-se pela produção de uma Unidade Didática, a qual se propõe uma
nova metodologia para as aulas de matemática, na intenção de recepcionar
melhor essas crianças e possibilitar um laço mais afetivo entre professor e
aluno.
O público alvo deste trabalho foram os alunos do sexto ano A, sendo
que o grupo pesquisado estuda em um Colégio Estadual de Ensino
Fundamental e Médio no município de São Miguel do Iguaçu, distrito de Aurora
do Iguaçu. A escola localiza-se na Região Oeste do Paraná à apenas 40 km da
fronteira Brasil/Paraguai.
Para a implementação desse trabalho na escola, algumas ações foram
necessárias: Inicialmente foram desenvolvidas reuniões com a equipe
pedagógica e administrativa da escola, com o objetivo de esclarecer e mostrar
as propostas de ação do trabalho da pesquisadora PDE na escola.
Especificamente, na reunião pedagógica no inicio do ano letivo em fevereiro de
2015, retorno das atividades na escola, o projeto foi socializado à equipe
administrativa e pedagógica.
No primeiro contato com os alunos a cerca da implementação do
projeto foi enviado aos pais uma documentação, com o intuito de esclarecer
sobre a importância do desenvolvimento desse trabalho com os alunos, além
disso, foi solicitada a autorização para a participação coletiva dos filhos no
projeto com a assinatura do TCLE (Termo de Consentimento e Livre
Esclarecido), já que os alunos eram menores e precisavam da autorização dos
pais para participar da pesquisa e tomarem ciência do uso de imagens.
Em seguida, foi apresentado o projeto aos alunos e suas finalidades
esclarecendo o projeto PDE e em especial, como se desenvolveria a gincana e
sobre o diário de bordo, (um caderno que cada equipe receberia para
descrever opiniões e críticas sobre atividades da gincana). Foi possível
perceber a empolgação por parte dos alunos, que receberam o projeto muito
bem e se mostraram entusiasmados com a gincana.
Após a explicação das regras, por se tratar de uma gincana de longa
duração, os alunos tiveram a liberdade de escolher os componentes de cada
equipe. Esclarecemos que as equipes não poderiam ser desfeitas no decorrer
da gincana. Assim, a turma ficou dividida em quatro equipes nomeadas por: A,
B, C e D. A partir desse momento as aulas aconteceram sempre em forma de
gincana. Todas as atividades desenvolvidas foram através de provas que
computavam pontos para as equipes. Os pontos puderam ser acompanhados
pela turma através de um cartaz de controle que foi afixado na sala para
visualização da mesma.
Fonte: Arquivo pessoal.
DINÂMICAS:
As atividades foram separadas em três blocos e entre as atividades
foram feitas cinco dinâmicas, todas com o objetivo de mostrar a importância do
outro em nossa vida, a importância que a atitude de um pode exercer na vida
do outro, buscar o desenvolvimento autônomo, mostrar a importância do
trabalho em grupo e como é importante um ajudar o outro.
Em relação às dinâmicas, duas se destacaram pelo resultado alcançado:
a do anjo da guarda e a flor e os espinhos. A do anjo, cada aluno foi anjo da
guarda de outro durante uma semana. O ideal era que ninguém contasse quem
era anjo de quem. O objetivo era que cuidassem, olhassem as atitudes,
instruíssem nas coisas erradas, elogiassem no que estava certo, enfim,
agissem como verdadeiros anjos da guarda. É claro, que alguns, não fizeram o
papel de anjo, mas a maioria “pegou no pé” do seu protegido, principalmente
durante as aulas quanto à bagunça e lixo no chão. Os alunos tiveram muita
facilidade em chamar a atenção do seu protegido, mas, pouca habilidade em
elogiá-lo. Destaca-se o relato da equipe A:
“Bom, cuidar de mim já é muito complicado, mas cuidar de outra
pessoa, nossa, é uma experiência única. Eu gostei muito dessa
brincadeira, porque ajudou a nos aproximarmos mais uns dos outros
e ter uma amizade muito forte” (DIÁRIO DE BORDO – equipe A).
Na sequência aplicamos a dinâmica da flor e dos espinhos que relata
em um áudio as dores que a gente passa pelo caminho, na família, na vida, as
coisas que a gente perde. Os alunos tiveram a oportunidade de refletir, em
seguida receberam um quadrado em papel dobradura marrom para que eles
escrevessem nele, tudo o que causava tristeza na sua vida. Para concluir, foi
entregue um quadrado vermelho, onde escreveram as coisas boas que
acontecem em sua vida. Montamos um painel, o caule com a parte marrom e
uma flor com a parte vermelha, juntas as flores simbolizavam que a alegria
deve estar acima de todo o sofrimento.
Colocar foto
BLOCO 1: O primeiro bloco foi de atividades envolvendo geometria
plana e espacial. Como a gincana estava iniciando, os alunos estavam muito
empolgados na realização das tarefas. Na primeira tarefa, entre outras, os
alunos tiveram que desenhar, recortar e colar um cubo e um paralelepípedo
com as medidas estipuladas. Alguns apresentaram dificuldade para realizar
essa atividade e duas equipes não conseguiram marcar pontos, pois alguns
alunos não terminaram a montagem dos sólidos.
Fonte: Arquivo pessoal Fonte: Arquivo Pessoal
Fonte: Arquivo pessoal Fonte: Arquivo pessoal
Nesse bloco, a atividade desenvolvida no laboratório de informática foi a
que teve maior destaque. Cada equipe construiu um desenho usando apenas
formas geométricas planas. Os desenhos foram impressos e logo após as
equipes contaram as figuras geométricas usadas para formá-los e pintaram os
mesmos. Para finalizar, construímos ainda uma história coletiva com os
desenhos de todas as equipes. Nessa atividade, os alunos demonstraram
muito interesse.
“Hoje terminamos de fazer nosso próprio desenho geométrico. Tivemos que pintar e contar quantas formas tinha o desenho. Todos nós gostamos de fazer isso e o mais legal foi quando todos pintaram uma parte do desenho e também ajudaram a contar as formas. Isso foi um trabalho muito divertido, tivemos até que fazer um texto, ele ficou muito bom. Juntamos todas as idéias que tivemos e o texto saiu. Foi incrível!!!” (Diário de bordo – EQUIPE B).
Fonte: Arquivo pessoal
Destaca-se no bloco 1, uma situação onde um aluno que está cursando
o 6º ano pela terceira vez, demonstrou uma alegria tão grande em uma das
provas da gincana, quando sua equipe pontuou. Relatou aos membros de sua
equipe: “nossa, eu fiquei muito feliz com os 3 pontos que nossa equipe
marcou.”
Esse comentário demonstra que o aluno esta despertando para o
ensino, pois o mesmo apresentava um quadro apatia com suas seguidas
reprovações. Anos de reprovação na mesma série de estudo traz ao aluno um
desânimo muito aparente, uma sensação de que não consegue mais aprender
nada do que o professor repassa. Segundo Alves:
Compreende-se que, com o passar do tempo a inteligência se
encolha por medo e horror diante dos desafios intelectuais e
que o aluno passe a se considerar como um burro. Quando a
verdade é outra: a sua inteligência foi intimidada pelos
professores e, por isto, ficou paralisada. (Rubem Alves, 1994.
(p.14)
É necessário estimular a autoestima desses alunos, mostrando
novamente que são capazes, para que sintam motivação para o estudo. Uma
motivação que foi anulada pelo excesso de reprovação.
BLOCO 2: Esse bloco foi de atividades que envolveram os conceitos da
matemática, operações básicas com números naturais e decimais e regras de
divisibilidade. Nesse momento a gincana contou com seis atividades e todas
visaram revisar o conteúdo visto nos anos anteriores.
As atividades exigiram mais trabalho, mas o resultado final foi
surpreendente: na primeira os alunos escreveram uma história em quadrinho,
desenvolvendo a resolução de uma situação problema. A segunda, cada
equipe escreveu um poema com quatro estrofes explicando as regras de
divisibilidade por dois, cinco e dez e uma estrofe finalizando o poema. E
finalizando escreveram uma paródia com os termos das operações.
Os alunos tiveram quatro aulas para montar o livrinho, sendo que alguns
apresentaram certa dificuldade para organizarem o trabalho em equipe. No
final todas as equipes cumpriram a prova, construindo trabalhos com
excelência.
Fonte: Arquivo pessoal Fonte: Arquivo pessoal
Na construção das paródias, as equipes empenharam-se bastante,
porém na hora de apresentar para a turma houve bastante hesitação, vergonha
por parte dos participantes. As equipes B e D apresentaram logo de primeira na
data marcada, a equipe A, precisou de mais tempo para ensaiar, criou um rap e
a equipe C não chegou a apresentar, perderam a música, com isso acabaram
não pontuado.
No desenvolvimento da terceira atividade que era o poema, foi retomado
com eles as regras de divisibilidade do 2, 5 e 10 para que copiassem no
caderno. Em seguida abordamos que eles teriam que fazer uma estrofe com 4
versos usando rima, contendo a regra de divisibilidade por cada um dos
números e por último uma estrofe para encerrar. Assim, o poema deles, teria 4
estrofes. A equipe A fez essa prova sem problema nenhum, foi a equipe que
melhor desempenhou essa atividade. As equipes B e D também conseguiram
com um pouco mais de dificuldade. A equipe C, nesse momento entrou em um
clima de desânimo total. Não sabiam o que era pra fazer, tentaram algumas
vezes, mas, não usaram o conteúdo solicitado, um jogava a responsabilidade
pro outro, quiseram até desmanchar a equipe nesse momento. Depois de
algumas intervenções, conseguiram com dificuldade cumprir a prova.
A prova mais empolgante por parte dos alunos nesse bloco foi a
prova Sabe ou Não Sabe? Essa atividade foi feita com uma carteira onde os
alunos tinham que após a leitura da pergunta, apertar o botão da lâmpada para
responder a questão. Aquele que acendesse a lâmpada tinha o direito de
responder, marcando assim 2 pontos. A torcida das equipes pelo participante
que estava respondendo a questão era muito grande. Sem dúvida foi uma das
provas que os alunos mais gostaram como mostra o depoimento:
Fonte: Arquivo pessoal Fonte: Arquivo pessoal
“Foi uma aula muito boa, nós adoramos a aula porque teve uma das
melhores provas que foi a do sabe ou não sabe. A minha equipe ficou
em segundo lugar, mas foi bom. Ter brincado valeu a pena” (DIÁRIO
DE BORDO – equipe A).
Fonte: Arquivo pessoal
BLOCO 3: Esse foi o último bloco da gincana, envolveu frações e foi o
bloco de encerramento.
As equipes organizaram-se trazendo uma receita que foi degustada no
encerramento da gincana e transcrita em um cartaz. Também deveriam trazer
um refrigerante por equipe. Todas as equipes marcaram ponto pela prova
cumprida. A Gincana foi finalizada com a contagem da pontuação de cada
equipe e entrega da premiação do 1º, 2º, 3º e 4º lugar. Os alunos demonstram
alegria com a premiação. Uma aluna agradeceu dizendo que as aulas de
matemática a ajudaram a crescer muito e que ela era muito grata a professora.
No encerramento os alunos tiveram a oportunidade de brincar na quadra, na
cama elástica e degustar as receitas. Conseguiam transparecer toda a
felicidade que estavam sentindo.
Fonte: Arquivo pessoal
ENCERRAMENTO COM OS PAIS:
O encerramento com os pais e responsáveis foi realizada à noite,
apresentamos aos pais o projeto e seus objetivos. Em seguida os alunos
apresentaram algumas atividades desenvolvidas por eles durante a gincana, as
paródias, poemas, cartazes, livros, cubos, e finalmente a direção da escola
realizou as considerações finais. Nesse momento um pai agradeceu dizendo
que realmente os alunos se perdem facilmente quando chegam no 6º ano,
porque é bem diferente. Depois finalizamos com um coquetel. Um aluno me
disse que estava no clube entrando na quadra para jogar quando lembrou que
tinha que ir à escola. Pediu carona para um amigo, chegou em casa e falou
para o pai se arrumar que eles tinham que ir para a escola e ainda me disse
que jamais me deixaria na mão que “nós é parceria”.
“Cuidar de uma pessoa é moleza comparado a cantar para todos os
pais. Véi você não tem noção o tamanho da nossa vergonha, mas ao
mesmo tempo, é legal saber que nós podemos fazer alguma coisa
para muitos que no passado infelizmente não puderam fazer”
(DIÁRIO DE BORDO – equipe A).
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
O PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado de
Paraná possibilitou o tempo de afastamento da escola necessário para a
efetivação da pesquisa, produção do material didático além de proporcionar a
aplicação e implementação destes na obtenção dos dados relatados neste
trabalho para efetiva concretização deste artigo.
Fonte: Arquivo pessoal Fonte: Arquivo pessoal
A turma do 6º ano em que o projeto foi aplicado é uma turma pequena,
porém, bem apática e com bastante dificuldades.
Durante a implementação do projeto, o que pudemos perceber, foi que
os alunos levaram muito a sério o desenvolvimento das atividades, deixando o
caderno muito organizado, com todos os exercícios resolvidos. Quando a rotina
da sala de aula voltou ao normal, folhando o caderno de alguns alunos,
principalmente o caderno daqueles que habitualmente não fazem muito as
atividades, percebemos nitidamente o fim da gincana. Os exercícios
incompletos, folhas em branco, exercícios sem copiar. Isso me fez rever anos
de profissão. Percebemos que, mesmo, com muito trabalho, essa questão da
desorganização no caderno, tem solução.
As aulas enquanto estavam sendo criativas, chamando a atenção a todo
o momento, cativava-os. Realizavam as atividades e a maioria gostava de tudo
o que estava sendo feito. A partir do momento em que as coisas voltaram ao
normal, muitas crianças se desanimaram e passaram a fazer os exercícios a
partir de muita cobrança.
Sou professora há 18 anos e, confesso que sempre trabalhei com 6º
ano. Porém, nunca olhei para eles com um olhar diferenciado. Eu gostava de
pegar essa turma, pois no meu ver, iria moldá-los do meu jeito e nos anos
seguintes eles estariam habituados a minha forma.
Sempre tive muito medo de entrar no PDE, pois não tinha muita
facilidade em escrever. Isso me assustava e, enquanto pude adiar esse
momento, adiei. Hoje, vejo que a escrita é uma consequência da leitura.
Quando você lê você consegue pôr no papel e o embasamento teórico é
fundamental para que a escrita ocorra.
A leitura nos abre a mente, e tudo o que li nesse ano que estive fora da
sala de aula, me fez olhar diferente para o sexto ano, uma turma que sempre
trabalhei, durante 17 anos sempre fiz a mesma rotina. Faltou leitura, faltou
correr atrás para tentar ver onde estava o problema. Poderia ter feito isso sem
ter entrado no PDE, poderia ter feito isso durante todos esses anos de trabalho,
mas não fiz. Um pouco por falta de tempo, um pouco por comodismo.
Não conseguimos solucionar todos os problemas com a implementação
do projeto, claro que não. Mas, hoje, eu e a turma do 6º ano, temos uma
intimidade bem grande. Alguns me procuram para confidenciar problemas
diários. Criamos um laço afetivo diferente. A gincana marcou a vida deles,
falam sobre isso volta e meia, comentam sobre as atividades, enfim, acredito
que atingi meu objetivo.
Esse tempo que tivemos para realizar leituras e fazer esse estudo mais
detalhado e direcionado ao 6º ano me fez vislumbrar que temos sim que
pensar com muito mais carinho nessa turma. A questão, não é se essa é ou
não a nossa função ou se estamos sendo pagos ou não para fazermos isso. A
questão é que eles precisam desse carinho da nossa parte, ou perderemos um
ano nos incomodando com uma turma que não quer fazer as coisas, por
indisciplina, por falta de vontade e, nós reclamando de tudo isso sem fazermos
nada.
Profissionalmente hoje sou melhor, consigo ver capacidades nos
alunos que antes não via, consigo parar minhas aulas e deixar que os alunos
falem, e não sou mais tão preocupada apenas com o conteúdo.
Como ser humano, aprendi que Deus coloca as pessoas na nossa
vida, para mostrar quem elas realmente são, aprendi que tudo acontece no
exato momento em que devem acontecer. E retornar para a sala de aula,
depois de ter vivido tudo isso, me causou certo temor, vontade de querer
mudar o mundo, mas sei que as coisas não são bem assim. Elas
simplesmente acontecem, temos um sistema que nos domina e muito do que
pensamos não podemos realizar. Sei que hoje sou mais observadora, falo
menos e ouço mais e isso é bom. Tudo é aprendizado, tudo é válido e valeu
muito a pena, esse tempo de repensar ideias e valores. Com certeza, um
tempo que jamais será esquecido.
Acredito que o trabalho realizado despertou principalmente um grande
comprometimento da professora PDE com a continuidade de mudanças que
irão contribuir para seu aperfeiçoamento e para a adoção de uma prática
educativa que toma o aluno como eixo central.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ALVES, Rubem. A arte de ensinar. 3. ed. Indaiatuba: Ars Poética Ltda, 1994. DIÁRIO DE BORDO; Equipe A – 6º ano. PDE – 2014/2015.
DIÁRIO DE BORDO; Equipe B – 6º ano. PDE – 2014/2015.
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