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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
2013
Rosangela Bezerra de Melo
Maria Tereza Carneiro Soares
Caderno Temático
Educação Profissional Técnica de Nível Médio no Paraná:
conformações curriculares e atores escolares.
Ficha para Identificação da produção Didático-pedagógica
Título: Educação Profissional Técnica de Nível Médio no Paraná: conformações curriculares e atores escolares.
Autor Rosangela Bezerra de Melo
Disciplina/Área Pedagogia
Escola de Implementação do Projeto e sua localidade
Colégio Estadual Rio Branco – Rua Bispo Dom José, 2426 – Bairro Seminário
Município da Escola Curitiba
Núcleo Regional de Educação Curitiba
Professora Orientadora Profª Drª Maria Tereza Carneiro Soares
Instituição de Ensino Superior Universidade Federal do Paraná
Relação Interdisciplinar Disciplinas da BNC e Específicas da Educação Profissional Técnica de Nível Médio
Resumo Esse Caderno Temático tem como finalidade ser um material de apoio a pedagogos e coordenadores de curso que contribua para a integração curricular entre as disciplinas da Base Nacional Comum e as específicas da Educação Profissional, tendo em vista um Currículo Integrado. Cabe à Educação Profissional Técnica de Nível Médio propiciar uma compreensão global do processo produtivo, para além de um domínio operacional dos conteúdos, de uma mera apreensão do saber tecnológico, valorizando o trabalho como um princípio educativo. Entende-se que o Currículo Integrado possibilitará aos estudantes acesso aos bens científicos e culturais da humanidade ao mesmo tempo em que realizam sua formação técnica e profissional. Na base da construção de um projeto de formação está a compreensão do trabalho no seu duplo sentido, ontológico e histórico. É formação pelo trabalho e na vida. A base legal da educação brasileira, nas dimensões - trabalho, ciência, tecnologia e cultura, convertidos em contextos da formação específica - formam a base unitária do ensino médio integrado à educação profissional. O Currículo Integrado objetiva a formação do sujeito em suas múltiplas dimensões, onde conhecimentos gerais e conhecimentos profissionais constituem-se numa unidade, sendo distintos somente na metodologia e finalidades construídas historicamente. Assim sendo, a organização dos conteúdos devem levar em conta a formação em suas múltiplas capacidades, por meio de estratégias de ensino que favoreçam a superação da visão fragmentária e linear da realidade, promovendo o ser humano no sentido de instrumentalizá-lo quanto à essência da sociedade bem como sua transformação.
Palavras-chave (3 a 5) Educação Profissional; Currículo Integrado; Coordenadores de Curso; Pedagogos.
Formato do Material Didático Caderno Temático
Público Alvo Coordenadores de Curso e Pedagogos
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS COORDENAÇÃO ESTADUAL DO PDE
CADERNO TEMÁTICO
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO NO PARANÁ: CONFORMAÇÕES CURRICULARES E
ATORES ESCOLARES
Unidade I – A relação Educação-Trabalho na definição dos
pressupostos de oferta da Educação Profissional de Nível Médio.
Unidade II – As definições prescritas para a Educação Profissional
pós Lei n.º 9.394/96.
Unidade III – Currículo Integrado.
Unidade IV - Articulação entre disciplinas da Base Nacional Comum
e Disciplinas Específicas da Educação Profissional no Curso
Técnico Integrado.
Apresentação
Destinado aos Estabelecimentos de Ensino da Rede Pública do Estado do
Paraná ofertantes da Educação Profissional Técnica de Nível Médio, o Caderno
Temático aqui apresentado tem como finalidade ser um material de apoio a
pedagogos e coordenadores de curso que contribua para a integração curricular
entre as disciplinas da Base Nacional Comum e as específicas da Educação
Profissional, tendo em vista um Currículo Integrado.
Devido ter trabalhado na Equipe Pedagógica de Instituição de Ensino
ofertante da Educação Profissional Técnica de Nível Médio, entre os anos de 2004 a
2011, pude perceber a necessidade da articulação entre coordenadores de cursos
dessa modalidade de ensino e pedagogos no atendimento aos docentes e
discentes. Atualmente, ao exercer a função de pedagoga na Coordenação de
Cursos Técnicos no Departamento de Educação e Trabalho – DET/SEED venho
observando que essa articulação parece ser crucial na melhoria do processo ensino-
aprendizagem que envolve professores e alunos desses cursos.
Com essa hipótese, como professora PDE, ao acompanhar a Semana
Pedagógica do primeiro semestre do ano letivo de 2013, no colégio em que aplicarei
este caderno temático, pude observar que os professores presentes, docentes das
disciplinas que compõem a Base Nacional Comum do Currículo do Ensino Médio
(Língua Portuguesa e Literatura, Matemática, História, Geografia, Biologia, Química,
Física, Filosofia, Sociologia, Arte, Língua Estrangeira Moderna: Inglês, Língua
Estrangeira Moderna: Espanhol e Educação Física), não conheciam a ementa e os
conteúdos das disciplinas específicas do curso integrado que atendem, neste caso o
de secretariado (Administração, Cerimonial e Protocolo, Contabilidade, Gestão de
Pessoas, Informática, Introdução às Finanças, Metodologia Científica, Noções de
Direito e Legislação Social e do Trabalho, Psicologia Organizacional e Técnicas de
Secretariado).
Tais observações contribuíram para a definição temática do material aqui
apresentado, qual seja destacar a necessidade de articulação entre coordenadores
de cursos técnicos e pedagogos para que seja possível a efetivação do currículo
integrado. Nesta perspectiva, este caderno está organizado em quatro unidades.
UNIDADE I – A relação Educação-Trabalho na definição dos
pressupostos de oferta da Educação Profissional de Nível Médio
Tanto o trabalho quanto a propriedade, a ciência e a tecnologia, sob o capitalismo, deixam de ter centralidade como produtores de valores de uso para os trabalhadores: resposta a necessidades vitais destes seres humanos (FRIGOTTO, 2005, p. 63).
Segundo o Parecer nº 5/2011 CNE/CEB do qual se originou a Resolução nº
2/2012 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio “a
identidade do Ensino Médio define-se na superação do dualismo entre propedêutico
e profissional”.
Entendendo que cabe à Educação Profissional Técnica de Nível Médio
propiciar uma compreensão global do processo produtivo, para além de um domínio
operacional dos conteúdos, de uma mera apreensão do saber tecnológico,
valorizando o trabalho como um princípio educativo.
Nessa perspectiva, o trabalho é tido como realização inerente ao ser humano,
por isso, na produção do conhecimento é uma importante mediação ontológica e
histórica.
O trabalho é ação humana de interação com a realidade para a satisfação de necessidades e produção de liberdade. Nesse sentido, trabalho não é emprego, não é ação econômica específica. Trabalho é produção, criação, realização humanas. Compreender o trabalho nessa perspectiva é compreender a história da humanidade, as suas lutas e conquistas mediadas pelo conhecimento humano. (RAMOS,2008, P.63).
O Parecer CNE/CEB nº 5/2011, das Diretrizes Curriculares para o Ensino
Médio, por sua vez, assim coloca estes dois princípios com adequada compreensão:
A concepção do trabalho como princípio educativo é a base para a organização e desenvolvimento curricular em seus objetivos, conteúdos e métodos. Considerar o trabalho como princípio educativo equivale a dizer que o ser humano é produtor de sua realidade e, por isto, dela se apropria e pode transformá-la. Equivale a dizer, ainda, que é sujeito de sua história e de sua realidade. Em síntese, o trabalho é a primeira mediação entre o homem e a realidade material e social. O trabalho também se constitui como prática econômica porque garante a existência, produzindo riquezas e satisfazendo necessidades. Na base da construção de um projeto de formação está a compreensão do trabalho no seu duplo sentido, ontológico e histórico.
Observa-se que a finalidade é a superação da dicotomia entre trabalho
manual e trabalho intelectual, dando uma dimensão intelectual ao trabalho produtivo
e vice-versa, possibilitando aos estudantes uma formação para atuar
democraticamente como cidadãos, na posição de dirigentes ou de subordinados.
Para tanto, como está definido no inciso IV do art. 35 da LDB, é necessário
proporcionar aos alunos a “compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos
dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada
disciplina”.
Para Kuenzer (2000, p. 39), o trabalho como práxis humana é o:
(...) conjunto de ações, materiais e espirituais, que o homem, enquanto indivíduo e humanidade desenvolve para transformar a natureza, a sociedade, os outros homens e a si próprio com a finalidade de produzir as condições necessárias à sua existência. Desse ponto de vista, toda e qualquer educação sempre será educação para o trabalho.
Ciavatta (2005, p. 85) esclarece que:
Como formação humana, o que se busca é garantir ao adolescente, ao jovem e ao adulto trabalhador o direito a uma formação completa para a leitura do mundo e para a atuação como cidadão pertencente a um país, integrado dignamente à sua sociedade política. Formação que, neste sentido, supõe a compreensão das relações sociais subjacentes a todos os fenômenos.
Por se tratar da integração da formação básica com a formação profissional,
entende-se que o Currículo Integrado possibilitará aos estudantes acesso aos bens
científicos e culturais da humanidade ao mesmo tempo em que realizam sua
formação técnica e profissional. Esta formação se diferencia dos projetos vinculados
aos interesses de mercado, uma vez que é bem mais que isso.
É um ensino que pretende formar um profissional crítico, capaz de refletir
sobre sua condição social e defender interesses em favor da coletividade. Portanto,
em concordância com a perspectiva de que a Educação Profissional Técnica de
Nível Médio tem como compromisso educar para a participação política e produtiva
do mundo das relações sociais a partir de comportamento ético e compromisso
político, como resultado de desenvolvimento da autonomia intelectual e moral é que
foi pensada esta reflexão ao final dessa unidade e que são propostas as unidades
seguintes deste Caderno Temático.
Cabe à Educação Profissional Técnica de Nível
Médio propiciar uma compreensão global do processo
produtivo, para além de um domínio operacional dos
conteúdos, de uma mera apreensão do saber tecnológico,
valorizando o trabalho como um princípio educativo.
Como o PPP tem contemplado essa perspectiva?
Quais os desafios a serem enfrentados na busca de
uma Educação de qualidade que tenha o trabalho
como princípio educativo?
A Educação profissional Técnica de Nível Médio
“tem por finalidade a superação da dicotomia entre
trabalho manual e trabalho intelectual, dando uma
dimensão intelectual ao trabalho produtivo e vice-versa,
possibilitando aos estudantes uma formação para atuar
democraticamente como cidadãos, na posição de
dirigentes ou de subordinados”.
Como essa finalidade está traduzida no
Planejamento anual do Curso?
Como essa finalidade está atendida no Plano de
Trabalho Docente?
Segundo Ciavatta, a Educação profissional,
enquanto formação humana busca garantir ao
adolescente, ao jovem e ao adulto trabalhador o direito a
uma formação completa para a leitura do mundo e para a
atuação como cidadão pertencente a um país, integrado
dignamente à sua sociedade política. Formação que,
neste sentido, supõe a compreensão das relações sociais
subjacentes a todos os fenômenos.
Como esse direito tem sido garantido em todos os
espaços escolares?
Tomar o trabalho como princípio educativo significa, em última instância, recorrer à teoria e à prática do trabalho como referências permanentes na organização do trabalho pedagógico: do planejamento (definição das concepções, do perfil, dos conhecimentos, das formas metodológicas, das disciplinas, dos processos de acompanhamento), à efetividade do currículo em ação, isto é, à materialização dessas intenções no cotidiano das salas de aula.
(Ribeiro, 2008, p. 99)
UNIDADE II – As definições prescritas para a Educação Profissional
pós Lei n.º 9.394/96.
“Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que, por não poder
ser neutra, minha prática exige de mim uma definição”.
Freire, 2010, p. 102
POLÍTICAS PÚBLICAS DE EXPANSÃO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL – DO
PLANFOR AO PROEP
A Lei nº 9.394, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN), sancionada em 20 de dezembro de 1996, consagra a Educação
Profissional e Tecnológica integrada ao último nível de escolarização, como uma das
modalidades do Ensino Médio, situando-a na confluência de dois dos direitos
fundamentais do cidadão: o direito à educação e o direito ao trabalho, consagrados
no art. 227 da Constituição Federal como direito à profissionalização, a ser garantido
com absoluta prioridade.
O capítulo da LDB sobre a Educação Profissional foi inicialmente
regulamentado pelo Decreto nº 2.208/97, de 17 de abril de 1997, principal
instrumento jurídico dessa reforma, no qual foram estabelecidos os objetivos, níveis
e modalidades da Educação Profissional no país e os mecanismos de articulação
desta com o ensino regular. Na sequência, a Câmara de Educação Básica (CEB) do
Conselho Nacional de Educação (CNE), elaboraram o Parecer CNE/CEB nº 16/99, e
nele baseada instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Profissional de Nível Técnico, regulamentada pela Resolução CNE/CEB nº 4/99.
Conforme Christophe:
Se o principal instrumento jurídico-normativo da Reforma da Educação Profissional é o Decreto 2208/97 (17/04/1997), as duas principais políticas públicas de intervenção no âmbito da educação e formação de trabalhadores no período mais recente tem sido o Programa de Expansão da Educação Profissional (PROEP) e o Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador (PLANFOR) desenvolvidos em uma articulação entre os Ministérios da Educação e do Trabalho. (CHRISTOPHE, 2005, p. 11)
O Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador – PLANFOR é a
implementação de uma política de formação de mão-de-obra em massa.
Segundo Cêa:
O PLANFOR foi elaborado como frente integrante das políticas públicas de emprego, articuladas ao programa do Seguro-desemprego, coordenadas pelo MTE e financiadas com recursos do FAT. Implementado efetivamente a partir de 1996, o Plano foi uma estratégia de qualificação em massa da força de trabalho, visando o desenvolvimento de competências e habilidades para a ampliação das condições de empregabilidade dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, o Plano se propôs a colaborar com a modernização das relações de trabalho e com a implementação de uma política pública nos marcos da nova configuração do Estado brasileiro. Essa dupla dimensão constitutiva do Plano na verdade se processou como uma só e apenas teoricamente pode ser dissociada. (CÊA, 2003, p.2).
Visando a abrangência total do país, este plano se sobrepõe à educação
profissional no âmbito escolar no intuito de criar um mercado nacional de formação
profissional. Diante disso, percebe-se que o PLANFOR tinha como objetivo a
valorização das experiências adquiridas no trabalho e uma formação que
conseguisse desenvolver habilidades e conhecimentos tornando-o um cidadão.
O PROEP teve início em 1997 numa iniciativa do MEC em parceria com o
Ministério do Trabalho e Emprego tendo como objetivo, num primeiro momento, a
transformação e reforma de unidades existentes bem como a construção de novas
unidades totalizando o financiamento de 250 projetos de Centros de Educação
tecnológica.
Sob a coordenação do Ministério da Educação – MEC esse programa
objetivava o reordenamento estrutural e operacional do ensino técnico-profissional,
separando-o da educação escolar ofertada nas instituições públicas estaduais e
sendo ofertado apenas nas instituições federais. Com o Decreto nº. 2.208/97, a
materialidade à reforma da Educação Profissional, veio com a criação do
PROEP/MEC que se constituiu no principal instrumento da reforma, mediante a
disponibilidade de recursos da ordem de 500 milhões de dólares para o período
1997-2003, oriundos de dotações orçamentárias do Governo Federal: 25% do
Ministério da Educação; 25% do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT do
Ministério do Trabalho e Emprego e 50% financiado pelo Banco Interamericano de
Desenvolvimento - BID.
Nessa perspectiva, 60% dos recursos seriam destinados para projetos do
“segmento comunitário”, no qual se incluíam as iniciativas privadas: empresas
educacionais ou não; associações patronais dos campos industrial, agrícola e de
serviço; o sistema S (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI, Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC, Serviço Nacional de Aprendizagem
Rural – SENAR e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte – SENAT),
Organizações Não Governamentais - ONGs e instituições escolares da esfera
municipal. Os 40% restantes seriam destinados às instituições públicas da rede
federal e das redes estaduais.
A Portaria MEC nº. 1.005/97 implementou o programa de Reforma da
Educação Profissional, na segunda metade dos anos de 1990, quando se
estabeleceu uma nova configuração para a Educação Profissional, com expressiva
repercussão nos sistemas federal e estadual de ensino
As consequências dessa reforma levaram a: fragmentação do sistema
nacional de educação; desmonte da rede pública e, em decorrência disso; expansão
da oferta de Educação Profissional pela esfera privada e submissão da educação à
lógica e às práticas do mundo dos negócios.
Nesse período, houve uma redução da oferta de Ensino Médio nos Centros
Federais de Educação Tecnológica - CEFET, e nas escolas técnicas federais ao
nível de 50% da oferta de 1997 (Portaria n. 646, Art. 3.º, Caput) e implantaram
cursos modulares, na forma de organização curricular sequencial ou concomitante
(Art. 5.º, Caput). Estabeleceu-se, também, a possibilidade de oferta de curso
profissionalizante para a formação de tecnólogos no ensino superior, educação
profissional “(...) correspondente a cursos de nível superior na área tecnológica,
destinados a egressos do ensino médio e técnico”. (Art. 3.º, III).
Embora a Educação Profissional tenha ganhado um capítulo específico na
LDB, capítulo III, art. 39 (Brasil, 1996), os mecanismos de articulação nele previstos
foram frágeis para garantir a superação da dicotomia histórica que marcava o Ensino
Médio entre a formação das elites e dos que ingressam precocemente no mundo do
trabalho.
Essa reforma da Educação Profissional, com base nos argumentos da
expansão, diversificação e flexibilização da oferta, visava à constituição de um
sistema de formação específico e a promoção de modalidades educativas
substitutas ou alternativas à Educação Básica e superior, acentuando a dualidade
estrutural e a segmentação social da educação nacional.
A oferta da educação técnica e tecnológica resultou em distorções na função
pública educacional trazendo uma situação de ambiguidade em virtude das
instituições reduzirem sua oferta de educação regular e gratuita e incrementarem
sua ação em cursos e atividades extraordinárias e pagas.
A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO PARANÁ
Nesse contexto, em 1996, com a instituição do Programa Expansão, Melhoria
e Inovação do Ensino Médio (PROEM) que objetivava um aumento na eficiência, na
eficácia e equidade no Ensino Médio da rede pública através da reestruturação do
Ensino Médio, ofertando a educação geral e cessando os cursos profissionalizantes
na Rede Estadual de Educação do Paraná. Foram desativados 1080 ofertas de
cursos profissionalizantes existentes até então. Como consequência, a longo e
médio prazo, remeteu-se à iniciativa privada a formação profissional técnica de nível
médio, inclusive com o uso dos espaços das próprias escolas públicas.
Financiado com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID,
este programa tornou-se um “verdadeiro laboratório para criação e experimentação
de alternativas para o Ensino Técnico” por sua concordância com as orientações dos
organismos internacionais (FERRETTI, 1997, p. 12).
Como resultado à aplicação dos programas anteriormente citados, tanto em
âmbito federal (PROEP/MEC) quanto estadual, como o Programa de Expansão,
Melhoria e Inovação do Ensino Médio no Paraná (PROEM/SEED), o Paraná de
acordo com o censo escolar de 2002, apresentava um precário quadro de oferta da
Educação Profissional, do ponto de vista quantitativo, representado pelo número de
matrículas, 13.423 matriculas.
Dependência Administrativa Total de Matrícula
Estadual 4.710
Federal 571
Municipal 337
Particular 7.805
Tabela 1 -Fragmento - Matricula Inicial no Paraná - Série Histórica: 2000 a 2012. FONTE: Censo Escolar
No período de 2003 a 2006, no que se refere às primeiras iniciativas de
execução da política para a Educação Profissional, houve a retomada da oferta da
Educação Profissional, pelo estado, com a criação do Departamento de Educação
Profissional - DEP após o encerramento das atividades da PARANATEC - Agência
para o Desenvolvimento da Educação Profissional1, criada nos anos 1990 e que
apesar de denúncias de irregularidade permaneceu até o ano de 2002, gerenciando
a Educação Profissional no Estado.
Diante dessas mudanças, houve a possibilidade de reassumir, no âmbito da
educação pública estadual, a gestão administrativa e pedagógica necessária para
afirmar o compromisso com a educação profissional pública de qualidade. Contudo,
a realidade encontrada foi preocupante. Havia uma oferta de cursos diminuta,
considerando o número de estabelecimentos, sobressaiam os cursos das seguintes
áreas:
Áreas do Cursos Quantidade no Paraná
Agropecuária 13
Formação de Professores 14
Industrial 04
Serviços 20
Obs.: Apenas os cursos da área de serviços não eram ofertados nos Centros de Estaduais de Educação Profissional (CEEP), sendo possível observa-los nas mais diversas regiões do estado. Tabela 2 - Comparativo das áreas dos cursos ofertados no Paraná na Educação Profissional.
Constatou-se por meio de depoimentos de técnicos da Secretaria de Estado
da Educação do Paraná - SEED/PR que os cursos da área agropecuária e de
formação de professores mantiveram-se em atividade pela persistência de diretores,
docentes, técnicos e funcionários de algumas escolas, os quais não aderiram ao
PROEM, o que significou não receberem apoio financeiro para melhorar os
estabelecimentos de ensino.
Ao priorizar essa retomada de modalidade de oferta, a política estadual para a
Educação Profissional teve início com a realização de diagnóstico acerca das reais
necessidades de expansão, considerando as tendências socioeconômicas das
regiões do Estado e do provimento de recursos materiais e humanos, trabalho ainda
1 Conferir em Viriato, E. A organização e a gestão de um centro estadual de educação profissional.
http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT09-2764--Int.pdf.
hoje desenvolvido sob a minha responsabilidade, como pedagoga do Departamento
de Educação e Trabalho da SEED/PR.
A política de retomada da oferta da Educação Profissional tinha como meta a
expansão e reestruturação curricular; a instituição de quadro próprio de professores
para essa modalidade; a formação continuada do seu quadro docente e técnico; a
melhoria da estrutura física e material dos estabelecimentos e sua manutenção sem
a cobrança de taxas de qualquer natureza.
Nessa direção, destacavam-se como estratégias indispensáveis para a
melhoria da formação dos alunos na concepção assumida, o apoio ao
desenvolvimento das atividades pedagógicas de currículo e ensino. Foram
oportunizados momentos de discussão, reflexão e tomada de decisões que
demarcaram e publicizaram a concepção de organização curricular integrada em
encontros e reuniões realizados no processo de reestruturação e elaboração das
novas propostas curriculares, que foram sistematizadas em 2003 e 2004.
A partir daí, propostas foram elaboradas com a participação de professores
dos cursos da Educação Profissional, diretores, coordenadores e equipe pedagógica
dos Núcleos Regionais de Educação - NRE, sob coordenação do Departamento de
Educação e Trabalho – DET/SEED, posteriormente encaminhadas ao Conselho
Estadual de Educação e aprovadas em dezembro de 2003, pelo Parecer n.º
1.095/03.
Nesse período, o Conselho Estadual de Educação do Paraná – CEE-PR,
também aprovou o Plano de Expansão dos cursos de Educação Profissional, pelo
Parecer n.º 1.028/03 CEE-PR, que previa a expansão de oferta dos cursos para o
ano de 2004. Essas duas medidas legais foram importantes para o processo de
consolidação da política de retomada da oferta da Educação Profissional pela Rede
Pública Estadual do Paraná.
Instituir os cursos técnicos com currículo integrado ao Ensino Médio resultou
do acompanhamento das discussões que originaram a revogação do Decreto n.º
2.208/97, uma vez que as sete minutas divulgadas no período que antecedeu a
promulgação do Decreto n.º 5.154/04, de 23 de julho de 2004, tinham em vista a
retomada dessa possibilidade, prevista na LDB e estimulada pela Secretaria de
Educação Profissional e Tecnológica - SETEC/MEC.
A promulgação do Decreto 5.154/04 conferiu a necessária legalidade à
política curricular criada na Rede Estadual de Educação Profissional de Nível Médio,
em todas as formas de oferta instituídas, contribuindo para a política de expansão
que levou em conta, também, a reestruturação curricular dos cursos da Educação
Profissional no intuito de favorecer a formação do cidadão/aluno/trabalhador, que
precisava de acesso aos saberes técnicos e tecnológicos requeridos pela
contemporaneidade.
É com base nessa legislação que se mantém as diretrizes e propostas
curriculares numa perspectiva da oferta pública da Educação Profissional Técnica de
Nível Médio, enfatizando o trabalho, a cultura, a ciência e a tecnologia, como
princípios fundantes da organização curricular integrada ao Ensino Médio, levando
em conta a necessária articulação entre as diferentes dimensões do trabalho na
formação profissional do cidadão/aluno já prevista na legislação pós Lei 9394/96.
É preciso compreender que o Decreto aprovado expressa as disputas e lutas
internas no plano estrutural e conjuntural da própria sociedade, fruto da correlação
de forças sociais. De acordo com Frigotto, Ciavatta e Ramos,
O Decreto nº 5.154/2004 tenta restabelecer as condições jurídicas, políticas e institucionais que se queria assegurar na disputa da LDB na década de 80. Daqui por diante, dependendo do sentido em que se desenvolva a disputa política e teórica, o „desempate‟ entre as forças progressistas e conservadoras poderá conduzir para a superação do dualismo na educação brasileira ou consolidá-la definitivamente (2005, p. 37-38).
Em 2004, teve início no Estado do Paraná, os cursos de Educação
Profissional Técnica de Nível Médio, com organização curricular integrada ao Ensino
Médio estavam divididos da seguinte forma:
Setor / Área Quantidade
Setor Primário (Agropecuária e Florestal) 15
Setor Secundário (Eletromecânica e Química) 05
Setor Terciário (Área da Comunicação, Artes, Informática, Administração da Confecção e Meio Ambiente)
06
Modalidade Normal (Formação de Docentes) 45 Tabela 3 - Panorama da Educação Profissional no Paraná em 2004.
Em âmbito nacional, a Resolução do CNE/CEB n.º 3/2008 que teve como
base o Parecer CNE/CEB n.º 11/2008, dispõe sobre a instituição do Catálogo
Nacional de Cursos Técnicos de Nível Médio, cujo art. 3º determina que os cursos
nele contidos sejam organizados por eixos tecnológicos definidores de um projeto
pedagógico que contemple as trajetórias dos itinerários formativos e que estabeleça
exigências profissionais que direcionem a ação educativa das instituições e dos
sistemas de ensino na oferta da Educação Profissional Técnica de Nível Médio.
A Lei Federal n.º 12.513/2011 instituiu o Programa Nacional de Acesso ao
Ensino Técnico e Emprego - PRONATEC, com a finalidade de ampliar a oferta de
Educação Profissional e Tecnológica aos trabalhadores brasileiros.
As anteriores Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional,
elaboradas em outro momento histórico, foram revistas devido as transformações no
mundo do trabalho, as mudanças no eixo das relações entre trabalho e educação
que tiveram reflexos diretos nas formas de organização da Educação Profissional e
Tecnológica. A definição de novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Profissional Técnica de Nível Médio, pela Resolução n.º 06/2012, de 20
de setembro de 2012, obrigatórias a partir do início do ano letivo de 2013, foi uma
necessidade.
Nessas novas diretrizes, a concepção educacional, no âmbito da educação
profissional, busca desmistificar a pretensa correspondência de habilitação
profissional e emprego ou oportunidades de trabalho, uma vez que se observa uma
mudança efetiva na natureza do trabalho e do conhecimento científico, na qual a
incorporação dos saberes das diferentes práticas sociais está ganhando maior
importância a cada novo dia.
Como definição de novas políticas públicas para a Educação Profissional as
diretrizes contemplam “a oferta mais flexível de cursos e programas objetivamente
destinados à profissionalização dos trabalhadores de acordo com itinerários
formativos que lhes possibilitem contínuo e articulado aproveitamento de estudos e
de conhecimentos, saberes e competências profissionais constituídas.
Também, segundo essas novas diretrizes, a escolha do local para
implantação de escola técnica, os cursos a serem ofertados e a construção de seus
currículos deve ter em conta os arranjos locais, os dados socioeconômicos,
ambientais e culturais e as potencialidades de desenvolvimento local. A vinculação
com o desenvolvimento local e o território exige outras propostas de organização da
produção, como, por exemplo, as fundadas nos princípios da Economia Solidária,
considerando os modos de produção cooperativos, associados e familiares como
uma alternativa real para muitas comunidades.
Neste contexto, a educação para a vida, em sentido lato, poderá propiciar aos
trabalhadores o desenvolvimento de conhecimentos, saberes e competências que
os habilitem efetivamente para analisar, questionar e entender os fatos do dia a dia
com mais propriedade, dotando-os, também, de capacidade investigativa diante da
vida, de forma mais criativa e crítica, tornando-os mais aptos para identificar
necessidades e oportunidades de melhorias para si, suas famílias e a sociedade na
qual vivem e atuam como cidadãos”. (BRASIL, 2012, p. 2).
Assim sendo, a oferta da Educação Profissional pública no estado do Paraná,
assenta-se nas dimensões da formação humana: trabalho, ciência, tecnologia e
cultura. Explicitada nas diretrizes nos seguintes termos:
a) Trabalho - como ação inerente do homem na transformação da natureza e
na mediação do processo de produção da sua existência.
b) Ciência - entendida como conhecimentos produzidos e sistematizados pela
humanidade, visando a compreensão e transformação da natureza e da
sociedade.
c) Tecnologia - como uma extensão das capacidades humanas para a
mediação entre conhecimento científico e produção.
d) Cultura - como conjunto de valores éticos e estéticos da sociedade,
resultante da produção de materiais, símbolos, representações e
significados.
O trabalho como princípio educativo e a pesquisa como princípio pedagógico
são definidos pela legislação educacional brasileira como bases da organização e
desenvolvimento curricular de qualquer nível e modalidade de ensino, incluindo o
currículo da Educação Profissional Técnica de Nível Médio e é nessa direção que foi
pensada a reflexão a seguir e em que estão assentadas as propostas das unidades
seguintes deste Caderno Temático.
“A finalidade da educação não deve ser a formação “para”; seja “para o
mercado de trabalho” ou “para a vida”. É formação pelo trabalho e na vida”
(Ramos, 2008, p. 73)
De que forma as dimensões definidas legalmente para a Educação
Profissional Técnica de Nível Médio estão contempladas no PPP e PPC de
sua escola?
Quais pontos são relevantes numa educação que visa a formação integral
(sujeitos autônomos e emancipados) tendo os aspectos científicos,
tecnológicos, humanísticos e culturais como sua base?
Como podemos efetivar, no cotidiano escolar, a finalidade da educação acima
citada por Ramos?
UNIDADE III – Currículo Integrado
O consenso a ser construído é a luta prioritária pelo ensino médio universal, na perspectiva da escola unitária, omnilateral, tecnológica ou politécnica como direito social e subjetivo. Um ensino que não separa e sim integra numa totalidade concreta, as dimensões humanísticas, técnicas, culturais e políticas e que também não estabelece dicotomia entre os conhecimentos gerais e específicos.
Frigotto, 2008, p. 30
A proposta de Currículo Integrado, segundo Frigotto (2008, p.5) “nessa
perspectiva de superação da dualidade teoria e prática, a teoria deixa de ser uma
abstração que idealiza o real, a práxis não se reduz à atividade prática ou ativismo e
à mera produção material, produção de objetos”
Com Ramos (2008) reitera-se que :
Não temos dúvidas de que há duas lutas que se complementam na realidade brasileira. Uma é a da educação, no sentido de uma reconstrução completa de suas concepções, de suas finalidades, a serem comprometidas com a classe trabalhadora. A finalidade da educação não deve ser a formação “para”; seja “para o mercado de trabalho” ou “para a vida”. É formação pelo trabalho e na vida. A outra luta é a questão do trabalho como necessidade e meio de produzir a existência. (RAMOS, 2008, p. 73).
Portanto, a busca por uma educação integral é uma luta coletiva, entendendo
a educação como educação integral e não apenas para o mercado de trabalho.
Para Ciavatta:
A ideia de formação integrada sugere superar o ser humano dividido historicamente pela divisão social do trabalho entre a ação de executar e a ação de pensar, dirigir ou planejar. Trata-se de superar a redução da preparação para o trabalho ao seu aspecto operacional, simplificado, escoimado dos conhecimentos que estão na sua gênese científico-tecnológica e na sua apropriação histórico-social. Como formação humana o que se busca é garantir ao adolescente, ao jovem e ao adulto trabalhador o direito a uma formação completa para a leitura do mundo e para a atuação como cidadão pertencente a um país, integrado dignamente a sua sociedade política. Formação que, neste sentido, supõe a compreensão das relações sociais subjacentes a todos os fenômenos. (CIAVATTA, 2010, p. 85).
Uma vez que na Educação Profissional de forma integrada a formação básica
e profissional ocorre na mesma instituição de ensino, num mesmo curso, com
matrícula e currículo únicos, entende-se que pela legislação, estaria embasada em
fundamentos filosóficos, epistemológicos e pedagógicos da concepção de escola
unitária e de educação politécnica e omnilateral, convergindo para a concepção de
currículo integrado, visando promover a formação integral do sujeito em múltiplas
dimensões e superar a dualidade estrutural da educação brasileira.
Nessa concepção, as disciplinas buscariam a apreensão dos conhecimentos
construídos em sua especificidade histórica e conceitual. Dessa forma, o currículo
teria relação entre partes e totalidade, organizando o conhecimento e
desenvolvendo o processo ensino-aprendizagem de maneira que os conceitos
apreendidos sejam um sistema de relações históricas e dialéticas constituindo uma
totalidade concreta.
Assim, os documentos legais definem que o currículo deva contemplar
formação geral, técnica e política, não reduzindo trabalho e cidadania apenas a
contextos imediatos e nem os separando como universos distintos. Concorda-se que
o conhecimento geral de um conceito está ligado às ciências como "leis gerais" que
explicam fenômenos e que um conceito específico configura-se pela apropriação de
um conceito geral com finalidades restritas a objetos, problemas ou situações de
interesse produtivo.
Segundo Angeli ( 2008):
A formação profissional será compreendida, muito mais do que as referências teóricas e da abrangência de conteúdo científico e profissional, como forma de desenvolver habilidades de pesquisa, de experimentação e utilização de ferramentas outorgadas pela inovações tecnológicas, enquanto compreensão da existência do trabalhador na sociedade capitalista. (ANGELI, 2008, p. 126).
Portanto, no currículo integrado nenhum conhecimento é só geral, uma vez
que está estruturado em objetivos de produção, nem só específico, porque todo
conceito produtivo deve ser formulado ou compreendido articulado com a ciência
básica. Conhecimentos gerais e conhecimentos profissionais constituem-se numa
unidade, sendo distintos somente na metodologia e finalidades construídas
historicamente.
A base legal da educação brasileira, nas dimensões - trabalho, ciência,
tecnologia e cultura, convertidos em contextos da formação específica - formam a
base unitária do ensino médio integrado à educação profissional. É na perspectiva
do trabalho como princípio educativo e como contexto econômico-produtivo que se
“Trabalho, ciência, tecnologia e cultura são categorias indissociáveis na
formação humana”.
Trabalho: mediação de primeira ordem no processo de produção da
existência e objetivação da vida humana.
Ciência: parte do conhecimento melhor sistematizado e
deliberadamente expresso na forma de conceitos representativos das
relações determinadas e apreendidas na realidade considerada.
Tecnologia: mediação entre ciência e produção.
Cultura: articulação entre o conjunto de representações e
comportamentos e o processo dinâmico de socialização, constituído o
modo de vida de uma população determinada”.
(Garcia; Kuenzer, 2008 p.
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deve preparar o educando para o exercício profissional. É considerando a ciência e
a cultura como contextos de produção e de criação dos conhecimentos escolares e
profissionais, mediadas pela tecnologia, que se situa a reflexão a seguir.
Que orientações legais, nos documentos e literatura referenciada, sustentam
a proposição de uma base unitária do ensino médio integrado à educação
profissional?
De que forma estão sendo atendidas, no curso ofertado em seu colégio, as
dimensões indissociáveis na formação humana: Trabalho, ciência, tecnologia
e cultura?
Na elaboração do Plano de Trabalho Docente, quais ações traduzem a
abordagem do trabalho como princípio educativo, tendo as dimensões
indissociáveis da formação humana convertidas em contextos da formação
específica?
Ainda no Plano de Trabalho Docente, como se trabalha a ciência e a cultura,
mediadas pela tecnologia?
O Currículo Integrado objetiva a formação do sujeito em suas múltiplas
dimensões, onde conhecimentos gerais e conhecimentos profissionais
constituem-se numa unidade, sendo distintos somente na metodologia e
finalidades construídas historicamente. Como se dá essa integração de
currículo no seu colégio?
Como propiciar para que a formação profissional seja compreendida, muito
mais do que referências teóricas e de abrangência de conteúdo científico e
profissional?
Como desenvolver habilidades de pesquisa, de experimentação e utilização
de ferramentas outorgadas pelas inovações tecnológicas?
UNIDADE IV – Articulação entre disciplinas da Base Nacional
Comum e Disciplinas Específicas da Educação Profissional no
Curso Técnico Integrado
“Educação não transforma o mundo....
Educação muda pessoas...
Pessoas transformam o mundo”
Paulo Freire
Na defesa de projetos curriculares integrados, Santomé (1998, p.187) afirma
que a utilidade social do currículo está em permitir aos alunos e alunas compreender
a sociedade em que vivem, favorecendo, para tal, o desenvolvimento de aptidões,
tanto técnicas como sociais, que os ajudem em sua localização na comunidade de
forma autônoma, crítica e solidária.
A integração curricular, entre outras funções, possibilita:
a) Trabalhar conteúdos que são objetos de estudo em várias áreas do
conhecimento.
b) Pensar interdisciplinarmente, por meio de hábitos intelectuais que
considerem diferentes possibilidades e pontos de vista.
c) Visibilizar valores, ideologias e interesses presentes em todas as questões
sociais e culturais.
Muitos são os pontos abordados para que se efetive uma Educação
Profissional de qualidade. No que se refere ao currículo integrado, alguns dados são
relevantes e merecem ser abordados.
Tipos de Integração curricular:
a) Integração com Caráter Filosófico: relacionado com a concepção de formação
omnilateral, requer um processo que integre as dimensões do trabalho,
ciência, tecnologia e cultura, tendo o trabalho como princípio educativo.
b) Integração com Caráter Epistemológico: contempla os conhecimentos gerais
e específicos organizados no currículo. O trabalho, no sentido ontológico é
tido como a forma de transformação da natureza e da sociedade. Requer a
apreensão das teorias e conceitos das diversas ciências relacionadas como
mediadoras da práxis.
c) Integração com Caráter Político: o trabalho é entendido na dimensão histórica
e atual tendo como objetivo atender as necessidades imediatas do estudante
trabalhador. Está contemplado na oferta de formação técnica.
Entendemos por atitude interdisciplinar, uma atitude diante de alternativas para conhecer mais e melhor; atitude de espera ante os atos consumados, atitude de reciprocidade que impele à troca, que impele ao diálogo – ao diálogo com pares idênticos, com pares anônimos ou consigo mesmo – atitude de humildade diante da limitação do próprio saber, atitude de perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes, atitude de desafio – desafio perante o novo, desafio em redimensionar o velho – atitude de envolvimento e comprometimento com os projetos e com as pessoas neles envolvidas, atitude, pois, de compromisso em construir sempre da melhor forma possível, atitude de responsabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de revelação, de encontro, enfim, de vida. (FAZENDA, 1995, p.82).
A contextualização e a interdisciplinaridade e o compromisso com a
transformação social se interrelacionam no currículo integrado, uma vez que
compreendem a abordagem dos conteúdos disciplinares tendo como referências as
vivências dos estudantes, tornando o aprendizado profissionalizante como uma
possibilidade a mais do currículo de projeto de vida do aluno.
Para Pistrak (2000) a dificuldade da ação interdisciplinar é que cada disciplina toma seus objetivos específicos como os mais importantes, ao invés de subordinar-se a um objetivo geral já que, na escola, cada ciência deve ser ensinada apenas como meio de conhecer e de transformar a realidade de acordo com os objetivos gerais da escola (PISTRAK, 2000, p. 119).
O docente deve ter compromisso com as ideias de formação integrada e de
transformação social e seu desempenho exige liderança intelectual, mediação do
processo ensino-aprendizagem, promovendo a problematização, orientando sobre o
compromisso social para a cidadania plena e sobre o compromisso técnico da sua
área específica do conhecimento, contribuindo para o desenvolvimento de todas as
potencialidades humanas, fortalecendo o princípio da formação humana em sua
totalidade.
Nesse sentido, Machado assim define o Currículo Integrado:
É a concepção e a experimentação de hipóteses de trabalho e de propostas de ação didática que tenham, como eixo, a abordagem relacional de
conteúdos tipificados estruturalmente como diferentes, considerando que esta diferenciação não pode, a rigor, ser tomada como absoluta ainda que haja especificidades que devem ser reconhecidas. Com relação ao objeto deste artigo, são os conteúdos classificados como gerais ou básicos e os conteúdos nomeados como profissionais ou tecnológicos. (MACHADO, 2009, p. 02).
Assim sendo, a organização dos conteúdos devem levar em conta a formação
em suas múltiplas capacidades, por meio de estratégias de ensino que favoreçam a
superação da visão fragmentária e linear da realidade, promovendo o ser humano
no sentido de instrumentalizá-lo quanto à essência da sociedade bem como sua
transformação.
Não se tem a intenção de apresentar modelos prontos, mas trazer
contribuições para reflexões que possibilitem uma retomada nas decisões rumo a
uma articulação curricular na Educação Profissional Técnica de Nível Médio.
A seleção e organização
dos conteúdos deve ocorrer
“a partir dos seguintes eixos,
separados para fins
didáticos, mas que deverão
ser tratados de forma
articulada:
• Conhecimentos científicos
e tecnológicos que estão
presentes no trabalho e nas
relações sociais, tratados
em suas dimensões
epistemológica e histórica.
• Conhecimentos sobre as
diferentes formas de
linguagem e comunicação
contemporânea, bem como
as que são próprias de cada
ciência.
• Conhecimentos sócio-
históricos, inclusive os
relativos às novas formas de
organização e gestão do
trabalho e da sociedade,
que permitam ao jovem
compreender as relações
sociais e produtivas, bem
como nelas intervir
enquanto sujeito individual e
coletivo”.
Kuenzer, 2000, p. 71
1) Quem participa da elaboração do Planejamento
Anual do Curso ofertado?
2) O planejamento é realizado separado por
disciplinas? Ou com a presença de todos os
professores?
3) Como é feita a articulação dos conteúdos
abordados no curso?
4) De que forma os itens abaixo tem sido
contemplados na proposta curricular desenvolvida
em sua escola:
Contextualização enquanto princípio
pedagógico;
Metodologia;
A pesquisa como princípio pedagógico;
Interdisciplinaridade e transdisciplinaridade.
5) Você considera que o caráter filosófico, epistemológico e político do currículo
integrado pode ser abordado no Plano de Trabalho Docente?
6) Os docentes da Educação Profissional são oriundos de diferentes campos
profissionais, no entanto, todos necessitam das contribuições da pedagogia
para sua atuação. Você concorda com esta afirmação? Todos os docentes da
Educação Profissional se reconhecem como professores?
7) Elenque as ações do Pedagogo e Coordenador de Curso que podem
contribuir com a atuação dos docentes da Educação Profissional.
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