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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: UM INSTRUMENTO PARA O PROCESSO
ENSINO- APRENDIZAGEM
Meire Terezinha Rampazzo Castilho1 Eliane Rose Maio2
RESUMO A avaliação da aprendizagem faz parte do processo educativo, devendo se fazer presente tanto como meio de diagnóstico, quanto como instrumento de investigação da prática pedagógica. Neste sentido percebe-se que a avaliação da aprendizagem é uma questão bastante desafiadora na escola, perpassando por todos os momentos do trabalho escolar. Desta forma, questiona-se como esta interfere na rotina da sala de aula, ou seja, no processo ensino-aprendizagem. Tomamos como análise os(as) educadores(as) do Colégio Estadual Helena Kolody - Ensino Médio e Profissional, no município de Terra Boa, Estado do Paraná. O presente trabalho buscou investigar as concepções avaliativas que permeiam o cotidiano escolar, conceitos, finalidades, instrumentos avaliativos e práticas sistematizadas pelos(as) educadores(as). A avaliação da aprendizagem será o centro de estudo, assim foram realizadas pesquisas bibliográficas, sobre as concepções de diferentes autores(as) sobre avaliação, grupos de estudos para aprofundamento teórico, coleta e análise de dados na escola objeto de pesquisa, para levantamento de dados acerca da prática vivenciada de avaliação. A intencionalidade da pesquisa foi a construção da relação: avaliação e qualidade educacional, portanto está também foi analisada sobre uma ação estratégica para alcançar a qualidade na educação.
Palavras-chave: avaliação; intervenção; ensino-aprendizagem.
1Graduada em Pedagogia pela Faculdade Ciências e Letras de Campo Mourão- FECILCAM. Pós-
graduada em Especialização em Educação, “Educar para a Cidadania - Ética e Gestão de Pessoas” pela Instituição UNIBEM e “Gestão Pública e Escolar” pela Instituição Faculdade de Ensino Superior Dom Bosco.
2 Professora Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá-UEM. Mestrado em
Psicologia pela Universidade Estadual Paulista-UNESP/Assis. Doutorado e Pós-Doutorado em Educação Escolar-UNESP/Araraquara. Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação PPE, UEM, Maringá, Paraná.
1 INTRODUÇÃO
A avaliação da aprendizagem é uma questão bastante desafiadora para
os(as) profissionais da educação, desta forma compreender a avaliação como parte
integrante da ação humana a partir do movimento histórico, permite-nos galgar este
desafio.
Desse modo, a avaliação da aprendizagem não pode ser entendida por si
mesma, mas num contexto mais amplo das relações sociais. Portanto, a pesquisa
remeteu-nos a analisar as concepções avaliativas e as transformações ao longo do
tempo que levaram a falta de compreensão da avaliação nos discursos dos(as)
professores(as).
Estudar a avaliação da aprendizagem dentro do âmbito escolar é uma
necessidade para a condução do processo ensino-aprendizagem, pois esta ainda
não é bem compreendida por professores(as) e equipes pedagógicas que
subsidiam o trabalho pedagógico, e isto implica em sérios problemas na escola,
como o fracasso escolar, abandono, reprovações e a sensação de insatisfação de
um trabalho pedagógico precário.
Este conjunto de fatores é facilmente observado nos Conselhos de Classe,
nos quais a falta da visão das concepções de avaliação, desarticulada dos critérios e
instrumentos avaliativos, resulta em grande número de reprovações ou aprovações
de analfabetos(as) funcionais. São relatos como estes proferidos por
professores(as), que ocorrem durante os Conselhos de Classes, ou mesmo no dia a
dia da escola, que denunciam este fato:
Comigo ninguém ficou, eu avalio tudo, comportamento, presença, trouxe o
material que eu pedi.
Não sei pra que fazer provas, o professor sabe quem sabe, quem não
sabe;
Pra esse aluno eu dou umas notinhas, ele é tão bonzinho.
Dei a mesma prova, e o(a) aluno(a) foi mal;
O(a) aluno(a) tirou zero na prova e eu fiz tudo;
O(a) aluno(a) não estudou para a prova;
Eu fiz tudo, mas ela não estuda, olha a prova.
Estes relatos têm demonstrado a baixa produtividade pedagógica dentro das
escolas, assim a partir desta realidade, foram investigadas algumas situações: Qual
a concepção dos(as) professores(as) sobre avaliação? A avaliação está servindo de
instrumento para melhoria do processo ensino-aprendizagem? Houve um
afrouxamento pedagógico? Qual a relação entre concepção e instrumentos
avaliativos? Quais critérios estão sendo utilizados para avaliar? Quais os
instrumentos utilizados em sala de aula? Como a avaliação interfere no processo
ensino-aprendizagem? Quais as estratégias para o enfrentamento deste problema?
Neste sentido, a proposta em pesquisar e estudar a avaliação no âmbito
escolar se dá pelo fato de querer compreender que a avaliação perpassa por todos
os momentos do trabalho escolar e esta tem uma finalidade relevante, pois “[...]
avaliar é analisar a prática pedagógica de todos os envolvidos, com o objetivo de
corrigir rumos e repensar situações para que a aprendizagem ocorra” (PARANÁ,
2009, p.4).
A avaliação da aprendizagem faz parte da função social da escola, logo é
necessário que ela reflita sobre suas concepções, encaminhamentos, com a
finalidade de promover a aprendizagem aos(às) estudantes.
Desta forma a investigação no campo da Avaliação da Aprendizagem buscou
aprofundar estudos teórico-metodológicos sobre a avaliação, com os(as)
Professores(as) e Equipe Pedagógica do Colégio Estadual Helena Kolody – Ensino
Médio e Profissional.
2 CONCEPÇÕES SOBRE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
Com a finalidade de se avançar os estudos em relação à compreensão da
Avaliação da Aprendizagem é que se buscou neste referencial teórico-conceitual
apresentar algumas reflexões baseadas em autores(as) que tratam do tema
avaliação da aprendizagem escolar.
Partindo do pressuposto da concepção de pessoa como ser histórico e social,
que necessita produzir continuamente sua própria existência e para isso faz uso da
natureza, a transforma, instaurando desta forma o trabalho. O trabalho é que ao
longo do tempo vai construindo e modificando a história da humanidade (SAVIANI,
2005).
Contudo, é preciso ter explícito que o trabalho referenciado não é qualquer
atividade, mas sim uma ação com uma finalidade mentalmente idealizada, tendo
uma intencionalidade, dando início assim a um mundo humano, ou mundo da
culturadefinindo a pessoa concreta, histórica, os modos de produção da existência,
os aspectos do conhecimento e o princípio educativo (SAVIANI, 2005).
Na concepção de Paro (2003. p.35, destaque nosso)
[...] os homens [e mulheres] produzem conhecimentos, instrumentos, técnicas, valores, crenças, comportamentos, tudo enfim que se configura na cultura humana. A apropriação dessa cultura pelos indivíduos é que se constitui a educação.
Desta maneira podemos definir a educação como algo que é passada pelas
gerações, constituindo assim de um modo de saberes e aprendizagens construídos
pelos(as) homens e mulheres.
Para Saviani, (2003, p.12) “[...] educação é fenômeno próprio dos seres
humanos, significa afirmar que ela é, ao mesmo tempo, uma exigência do e para o
processo de trabalho, bem como é ela própria, um processo de trabalho”. Desta
forma, a educação é um processo de dimensão histórica, por representar a própria
história individual do ser humano e da sociedade em evolução. Neste sentido, pode-
se compreender a educação como um processo de trabalho não-material, que
significa a formação de ideias, conceitos, valores, símbolos, atitudes, ou seja, a
produção do saber, que produz os bens materiais, e para tanto a pessoa precisa
planejar, antecipar suas ações, antecipando mentalmente os objetivos reais
(MORAES, 2008).
A partir desta reflexão pode-se dizer que toda ação (trabalho) é um ato
educativo e intencional, logo, pressupõe-se que neste processo a pessoa avalia se
suas ações estão de acordo com o plano inicial e realiza modificações para atingir
seu objetivo anteposto.
Desse modo, o ato de avaliar é um ato histórico, conforme expressa Moraes
(2008, p.18, destaque nosso), “[...] à medida que o homem [mulher] realiza sua
ação, avalia, constantemente, se os objetivos estão sendo atingidos, mediada por
interesses e condições históricas.” Como vimos, o ato de avaliar faz parte da
natureza humana, as pessoas avaliam, comparam, medem suas ações de acordo
com aquilo no qual considera essencial à sua existência.
Assim como afirma Paro, (2013, p.34), “[...] avaliação, que, assim, se mostra
ao mesmo tempo como algo específico do ser humano e como processo
imprescindível à realização do projeto de existência histórica do mesmo”. Desta
forma, pensar que as avaliações que ocorrem no dia a dia, ou no âmbito escolar não
decorrem de dimensões amplas do ser humano, é pensar na educação de forma
ingênua.
Para o senso comum a avaliação é simplesmente um conjunto de
procedimentos, regras e técnicas para medir algo estático e pontual, contudo a
avaliação está presente de forma explícita e implícita em todas as ações do homem
e da mulher, isto porque de forma automática as pessoas criam correções para as
falhas das suas ações no próprio processo de realização da atividade (MORAES,
2008).
Quando a avaliação é tomada como ciência passa a ser um instrumento a
serviço da pessoa e da educação, alimentando permanentemente as decisões e
superando os problemas encontrados.
[...] avaliação é um processo abrangente da existência humana, que implica uma reflexão crítica sobre a prática, no sentido de captar seus avanços, suas resistências, suas dificuldades e possibilitar uma tomada de decisão sobre o que fazer para superar os obstáculos (VASCONCELLOS, 2006, p.43).
Dessas afirmações pode-se afirmar a importância da avaliação como
apontamento de caminhos a serem percorridos no trabalho humano e educativo. Tal
como refere Luckesi (2005, p.28), “[...] a avaliação não se dá nem se dará num vazio
conceitual, mas sim dimensionada por um modelo teórico de mundo e de educação,
traduzido em prática pedagógica”. A avaliação, neste sentido faz parte de todo
processo educativo, a partir das concepções de homens e mulheres, de sociedade e
de mundo.
O fato é que, não dá para realizar uma verdadeira avaliação sem ter
conhecimento das concepções teóricas da educação. O que se almeja alcançar?
Que pessoa se quer formar? Que escola é pretendida quer? Que sociedade se quer
ter?
Assim essa pesquisa pretende aprofundar alguns conceitos sobre as
concepções da avaliação da aprendizagem, como instrumento do processo ensino-
aprendizagem, visto que a avaliação ainda não é bem compreendida, ou seja, está a
serviço da classificação, seleção, exclusão ou ao afrouxamento da qualidade da
educação.
Para a compreensão referente a estas divergências faz-se necessário
reportar-se à história da educação e suas concepções educativas, para entender os
caminhos percorridos pela avaliação até os dias atuais.
Para Arapiraca (1972), as concepções podem ser enumeradas em:
Pedagogia Liberal ou tendências não críticas, compostas pela Pedagogia
Tradicional, Escola Nova, Tecnicista. Pedagogia Progressista ou tendências críticas
abrangendo a Pedagogia Crítico-reprodutivista, Libertadora; Libertária e Pedagogia
Histórico-crítica.
As tendências de educação historicamente construídas demandam-se de
concepções de sociedade, de educação, de pessoa, de cultura, de conhecimento,
logo de avaliação, assim compreendê-las permite analisar o porquê de determinadas
práticas pedagógicas, e a serviço do que, e de quem estão.
Para melhor compreensão serão caracterizadas de forma geral e sucinta, as
Pedagogias acima mencionadas, não abordando as especificidades de cada
tendência, mas com foco voltado ao tema em discussão. Verifica-se que na
Pedagogia Liberal ou tendências não críticas, a visão de pessoa a ser formada era
aquela que corresponde aos padrões exigidos pela sociedade, reforçando a ideia de
falsa igualdade social, por meio de um discurso de esforço pessoal e capacidades
individuais, sendo assim a avaliação era simplesmente a reprodução não crítica do
conhecimento, segregando os(as) fortes dos(as) fracos(as) (WIPPEL, 2014).
Dentro do enfoque da Pedagogia Progressista ou tendência crítica, em
sentido amplo são caracterizadas pelo sentido crítico como concebem a educação,
tendo uma visão de pessoa a partir da ambiência social, como um ser pensante e
crítico por meio dos conteúdos curriculares. Nestas correntes as pessoas não serão
moldadas para ocupar funções preestabelecidas nas estruturas da sociedade, mas
sim serão agentes para intervir na sociedade por meio de sua emancipação. Deste
modo a avaliação ganha um enfoque diferente, ou seja, um aspecto acentuado na
humanização dos homens, no respeito as singularidades e na produção critica da
sociedade (LIBÂNEO, 2006).
É interessante observar que as tendências pedagógicas remetem a perceber
que, a pessoa que se quer formar, perpassa pela forma de se avaliar, sendo assim é
fundamental os(as) professores(as) terem explícitas as concepções teóricas,
filosóficas e metodológicas.
O que se pode observar atualmente é uma forte tendência da Pedagogia
Histórico-Crítica, que conforme Moraes (2008, p.29),
busca compreender a educação no movimento histórico. Considera a sociedade capitalista em transição e entende que a escola, ao mesmo tempo em que reproduz as relações sociais, abre caminhos para uma
possível transformação da sociedade.
Essa Pedagogia procura entender as questões educacionais, a partir de
realidade local, passa a ver os conteúdos como prioridades e a valorizar os
conhecimentos construídos historicamente pela humanidade (LIBÂNEO, 2006).
Na perspectiva histórico-crítica, a avaliação não é vista como algo punitivo,
classificatória e excludente, mas sim de forma diagnóstica, contínua e cumulativa,
subsidiando o(a) professor(a) em seu trabalho. Esta não se resume a simples
técnicas, procedimentos, mas respalda-se na consciência do senso crítico em suas
relações interpessoais e sociais (LIBÂNEO, 2006; SAVIANI 2005).
Nesse sentido, alguns(as) autores(as), dentre eles Luckesi (2005), Demo
(2004), Vasconcelos (1993), debruçaram-se para a pesquisa da avaliação da
aprendizagem, a partir da perspectiva histórico-crítica, contribuindo assim para um
repensar acerca da avaliação.
Assim, Luckesi (2005, p.33) apresenta a caracterização da avaliação como
forma de qualidade do objeto avaliado. Esta é explicada em etapas:
1º Juízo de valor, o que significa uma afirmação qualitativa, sobre um dado objeto, a partir de critérios preestabelecidos [...]. O objeto avaliado será tanto mais satisfatório quanto mais se aproximar do ideal estabelecido, e menos satisfatório quanto mais distante estiver da definição ideal, como protótipo ou estágio de um processo. 2º caracteres relevantes da realidade, (do objeto da avaliação), portanto o julgamento, apesar de qualitativo, não será inteiramente subjetivo. O juízo emergirá dos indicadores da realidade que delimitam a qualidade efetivamente esperada do objeto. São os sinais do objeto que eliciam o juízo. 3º tomada de decisão, o julgamento de valor, por sua constituição mesma, desemboca num posicionamento de não-indiferença, o que significa obrigatoriamente uma tomada de posição sobre o objeto avaliado, e, uma tomada de decisão quando se trata de um processo, como é o caso da aprendizagem.
Sendo assim é no contexto destes três elementos que se configura a
compreensão constitutiva da avaliação, porém no meio escolar estas etapas não se
completam, ou seja, é realizada a classificação e não o julgamento de valor
(diagnóstica), logo são atribuídosos símbolos, conceitos, números expressando a
aprendizagem e encerra-se aí o ato de avaliar.
Praticada desta forma, o ato de avaliar não serve de pausa para pensar a
prática pedagógica e retomá-la, ou melhor, dizendo a prática vira algo „engessado‟,
estático, um ponto definitivo de chegada, a avaliação assim posta, tem única e
exclusiva a função de classificar.
Continuando, Luckesi, (2005, p. 35) afirma que “[...] a função classificatória
subtrai da prática da avaliação aquilo que lhe é constitutivo: a obrigatoriedade da
tomada de decisão quanto á ação, quando ela está avaliando uma ação.” Para a não
descaracterização da avaliação da aprendizagem o(a) professor(a) deve considerar
o elemento de tomada de decisão, apresentado por Luckesi (2005), pois este de
fato, recorre a mudança do processo ensino-aprendizagem.
Dando continuidade à reflexão de Luckesi (2005, p. 42), ressalta que
[...] o primeiro passo que nos parece fundamental para redimensionar os caminhos da prática da avaliação é assumir um posicionamento pedagógico claro e explícito. Claro e explícito de tal modo que possa orientar diuturnamente a prática pedagógica, no planejamento, na execução e na avaliação.
Tais afirmações vêm ao encontro com Libâneo (1994, p. 202) que aponta “a
avaliação como um termômetro dos esforços do professor. Ao analisar os resultados
do rendimento escolar dos alunos, obtém informações sobre o seu próprio trabalho”.
Acordando com esta idéia, Vasconcelos (1993, p.70) refere-se à avaliação
como
o que se espera de uma avaliação numa perspectiva transformadora é que os seus resultados constituam parte de um diagnóstico e que, a partir dessa análise da realidade, sejam tomadas decisões sobre o que fazer para superar os problemas constatados: perceber a necessidade do aluno e intervir na realidade para a ajudar a superá-la.
Os pontos de vista dos autores pesquisados em relação à concepção da
avaliação e sua finalidade, não divergem, apenas apontam paradigmas para a real
compreensão do processo avaliativo. O fato é que não dá para avaliar sem ter
conhecimento das concepções teóricas sobre avaliação, como desarticular a
avaliação de seu papel fundamental que é dar indicativos para o processo ensino-
aprendizagem (DEMO, 2004).
Nesse sentido, a avaliação deve ser elemento constante de reflexão nas
instituições de ensino, pois o que se constata é uma divergência entre os(as)
educadores(as), como, avaliar é dar nota, avaliar é dar provas, avaliar é observar as
condutas sociais (comportamento) do(a) educando(a), que finalizam no ato da nota.
A avaliação não é tomada como um instrumento a serviço do processo
ensino-aprendizagem, com isto a qualidade do ensino fica comprometida, ou seja,
aprovações sem rendimento acadêmico dos „mínimos necessários‟, que Luckesi
(2005, p.44) chama para a reflexão “[...] a avaliação deverá verificar a aprendizagem
não a partir dos mínimos possíveis, mas sim a partir dos mínimos necessários”.
Ainda sobre esta questão encontram-se altos índices de reprovações e a
baixa produtividade escolar, assim conforme Paro, (2003, p.158), “é preciso procurar
no funcionamento de toda a escola e do sistema as causas geradoras desse
fracasso, bem como as medidas estruturais que precisam ser tomadas”. Portanto, a
avaliação exige dos(as) educadores(as) ir além, buscar fundamentação teórica que
auxiliem na compreensão da educação e do processo ensino-aprendizagem.
Deste modo, a avaliação deve ser processual, objetivando melhorar o
desempenho dos(as) alunos(as) e não somente como simples conferência do que se
sabe partir de um resultado (nota). A intencionalidade é conhecer o que os(as)
alunos(as) sabem, quando sabem e quanto falta para chegar aos objetivos
propostos.
A partir desta perspectiva de intencionalidade do trabalho avaliativo, é que
algumas escolas, com orientações da Secretaria de Estado da Educação, utilizam as
Fichas do Pré-Conselho. Estas são planejadas e elaboradas pelas instituições de
ensino com a finalidade de intervenção pedagógica durante o processo ensino-
aprendizagem. Nestas fichas os(as) professores(as) durante meados dos semestres,
fazem o registro qualitativo e quantitativo dos(as) alunos(as), para o intermédio da
Equipe Pedagógica, ou seja o Pré-Conselho, é uma estratégia de acompanhamento
do rendimento satisfatório acadêmico dos(as) alunos(as).
No Regimento Escolar do Colégio Estadual Helena Kolody – Ensino Médio e
Profissional (2010), escola objeto desta pesquisa, em seu Adendo Regimental de
Acréscimo e Alteração nº 05 prevê:
104-B- Em meados de cada semestre haverá um Pré-Conselho, que acontecerá em duas ou três semanas antes do Conselho de Classe parcial, e ao final do semestre deverá acontecer o Conselho de Classe Final. 104-C-O Pré-Conselho e o Conselho de Classe parcial, terão como objetivos a busca de melhoria do processo ensino-aprendizagem, a fim de
obter uma visão ampla do todo, como do trabalho preventivo que interferem neste processo. Parágrafo Único- estes Conselhos terão caráter de sondagem e de intervenções pedagógicas necessárias ao corpo discente e docente. 104D-Haverá um formulário próprio para o Pré-Conselho, que deverá ser preenchido pelos docentes onde serão registrados aspecto quanto ao desempenho, participação, assiduidade e disciplina, bem como observações que se fizerem necessárias.
Assim disposto e compreendido o Pré-Conselho faz-se necessário ver a
avaliação, a partir de sua base legal, na qual legitima o trabalho. Sobre isso tem-se a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-Lei nº9394/96 (BRASIL, 1996), que
em seu artigo 12 diz que as instituições de ensino, dentre outras, têm a incumbência
de: V – prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento. Em seu
artigo 13, diz que os(as) docentes incumbir-se-ão de: III – zelar pela aprendizagem
dos alunos;
A Deliberação nº07/99 do Conselho Estadual de Educação (PARANÁ, 1999,
p.1, 2), em seus os artigos 2º e 6º prevê que:
Art. 2º Os critérios de avaliação, de responsabilidade dos estabelecimentos de ensino, devem constar do Regimento Escolar, obedecida a legislação existente.
Parágrafo Único - Os critérios de avaliação do aproveitamento escolar serão elaborados em consonância com a organização curricular do estabelecimento de ensino.
Art. 6.° - Para que a avaliação cumpra sua finalidade educativa, deverá ser contínua, permanente e cumulativa.
§ 1.° - A avaliação deverá obedecer à ordenação e à seqüência do ensino e da aprendizagem, bem como à orientação do currículo.
§2.° - Na avaliação deverão ser considerados os resultados obtidos durante o período letivo, num processo contínuo cujo resultado final venha a incorporá-los, expressando a totalidade do aproveitamento escolar, tomado na sua melhor forma.
No Caderno de Subsídios para Elaboração do Regimento Escolar na Seção X
Da Avaliação da Aprendizagem, da Recuperação de Estudos e da Promoção
(Curitiba/SEED, 2010, p.63), a avaliação é contemplada como uma prática intrínseca
do processo ensino-aprendizagem, como traz os artigos mencionados abaixo.
Justifica-se que nos artigos ora postos, não há uma ordem numérica, em função de
ser uma orientação, na qual cada Instituição de Ensino deverá seguir e assim
adequar ao seu Regimento Interno, numerando cada Artigo.
Art.... A avaliação é uma prática pedagógica intrínseca ao processo ensino e aprendizagem, com a função de diagnosticar o nível de apropriação do conhecimento pelo aluno.
Art.... A avaliação é contínua, cumulativa e processual, devendo refletir o desenvolvimento global do aluno e considerar as características individuais deste no conjunto dos componentes curriculares cursados, com preponderância dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos.
Também no Parecer nº12/97 do Conselho Nacional de Educação (BRASIL,
1997, p.2), traz que “[...] estudo e avaliação devem caminhar juntos, como é sabido
onde esta – a avaliação – é o instrumento indispensável, para permitir se constate
em que medida os objetivos colimados foram alcançados.” Com base nestas
considerações históricas, conceituais e legais o trabalho pedagógico fica mais claro
e a avaliação do processo ensino-aprendizagem passa a ser entendida como
questão metodológica, de responsabilidade do(a) professor(a), é determinada pela
perspectiva de investigar para intervir.
Neste sentido, pensando que a função social da escola é “promover o acesso
aos conhecimentos produzidos pela humanidade a fim de possibilitar ao educando
condições de emancipação humana” (CURITIBA/SEED, 2008, p.1), é imprescindível
que o coletivo escolar reflita sobre o que é educação, as concepções avaliativas e os
encaminhamentos que devem ser dados ao processo educativo, procurando assim
efetivar a aprendizagem aos(às) estudantes.
Nessa perspectiva é preciso compreender que a avaliação faz parte do
processo educativo devendo se fazer presente, tanto como meio de diagnóstico do
processo ensino-aprendizagem quanto como instrumento regulador da prática
pedagógica.
Para cumprir essa função a avaliação deve possibilitar o trabalho com o novo,
numa dimensão transformadora que envolva o ensino e a aprendizagem, orientando
as possibilidades e encaminhamentos, levando a mudança de práticas insuficientes,
apontando novos caminhos.
A partir dos apontamentos conceituais sobre a avaliação da aprendizagem
serão descritos a seguir os encaminhamentos metodológicos, de acordo com etapas
de implementação.
3 ABORDAGEM METODOLÓGICA
Este projeto foi realizado no Colégio Estadual Helena Kolody – Ensino
Médio e Profissional, município de Terra Boa, Estado do Paraná, com os(as)
professores(as), Equipe Pedagógica e Comunidade Escolar durante o 1º Semestre
do ano de 2015.
Para a realização do Projeto de Intervenção Pedagógica – Avaliação da
aprendizagem: um instrumento para o processo ensino-aprendizagem foram
utilizados trabalhos diversificados, visando alcançar os objetivos propostos.
Sendo assim, com base nos estudos e pesquisas desenvolvidos durante a
revisão da literatura e fundamentação teórica que tratou o tema em questão foram
organizadas as seguintes estratégias de ações:
1º Encontro - Análise dos índices de Aprovação, Reprovação e Aprovação
pelo Conselho de Classe do Colégio Estadual Helena Kolody-EMP.
2º Encontro - Tese: Avaliação: Uma ação inerente à atividade humana.
3º Encontro - Artigo: Enfrentar o fracasso escolar? Garantir o acesso ao
conhecimento sistematizado?
4º Encontro - Texto: A escola brasileira em face de um dualismo perverso:
Escola do conhecimento para os ricos, Escola do acolhimento social para
os pobres.
5º Encontro - Texto: Avaliação Educacional escolar: para além do
autoritarismo.
6º Encontro - Concepção e Organização da Avaliação no Contexto da
Concepção de Educação: instrumentos, critérios e relações existentes no
processo de ensino e aprendizagem.
7º Encontro - Texto: Avaliação e recuperação: aspectos legais e
metodológicos.
8º Encontro: Oficina de Avaliação
9º Encontro - Texto Avaliação e Avaliação escolar na perspectiva da
Teoria Histórico-Cultural.
10º Encontro - Elaboração de Textos –Os(as) participantes apresentarão
textos relativos a pesquisas sobre avaliação escolar, após os estudos
anteriores.
Os encontros acima descritos foram divididos em 10 (dez) etapas, totalizando
40 horas de estudos e pesquisas, que se relacionam entre si, para uma melhor
compreensão da avaliação.
3.1 DESCRIÇÃO DAS ETAPAS
Os itens organizados abaixo descrevem, em detalhes, os procedimentos
metodológicos que foram aplicados em cada uma das etapas:
1º Encontro: Apresentação do Projeto de Intervenção aos cursistas: Dando
início ao Projeto, realizou-se uma explanação, de como seria organizado o Projeto
de Intervenção em cada uma das suas etapas, apresentando os objetivos
pretendidos. Assim a atividade foi executada, conforme a proposta, observando-se
que esta etapa inicial e introdutória instigou a curiosidade dos cursistas, motivando-
os a participação no curso.
2º Encontro Tese: Avaliação: Uma ação inerente à atividade humana.
A atividade contou com um aprofundamento teórico, a partir da concepção de
homem, trabalho e sociedade na linha da Pedagogia Histórico-Crítica, para que a
partir disto os(as) cursistas, compreendessem que a avaliação esta intrinsicamente
dentro deste contexto, ou seja é uma ação inerente ao homem e à mulher.
3º Encontro Artigo: Enfrentar o fracasso escolar? Garantir o acesso ao
conhecimento sistematizado? Neste sentido, foi desenvolvida a atividade 3, ou
seja os(as) cursistas tomaram conhecimento do artigo: Enfrentar o fracasso
escolar? Garantir o acesso ao conhecimento sistematizado? Artigo escrito pelas
professoras Doutoras Maria Terezinha Bellanda Galuch e Marta Sueli de Faria
Sforni. A reflexão buscou levar aos(às) cursistas a compreensão de que se a
condição de aprendiz é inerente ao homem e à mulher, o que justifica o fracasso
escolar? Em que sentido avalição contribui para este fracasso?
4º Encontro Texto: A escola brasileira em face de um dualismo perverso:
Escola do conhecimento para os ricos, Escola do acolhimento social para os
pobres. Esta atividade teve como foco a compreensão do papel da escola.
Enquanto professores(as), está se garantindo o acesso, permanência e qualidade de
educação a todos(as)? O texto permitiu uma reflexão mais profunda em face ao
dualismo perverso: Escola do conhecimento para os(as) ricos(as), Escola do
acolhimento social para os(as) pobres.
5º Encontro Texto: Avaliação Educacional escolar: para além do autoritarismo.
O artigo proposto nesta atividade foi especificamente sobre a avaliação da
aprendizagem: Avaliação Educacional Escolar: para além do autoritarismo (Luckesi).
Esta reflexão levou os(as) cursistas a entenderem que a avaliação é muito mais
amplo do que, simplesmente verificação de provas e testes. A leitura levou a uma
reflexão de que termo avaliar, “ ultrapassa a obtenção do objeto, indo para uma trilha
de ação.”
6º Encontro: Concepção e Organização da Avaliação no Contexto da
Concepção de Educação: instrumentos, critérios e relações existentes no
processo de ensino e aprendizagem. A atividade partiu de uma reflexão pautada
na concepção de avaliação e na sequência sobre osinstrumentos, critérios e
relações existentes no processo de ensino- aprendizagem. O foco da discussão
ocorreu em torno da realidade da escola.
7º Encontro: Texto: Avaliação e recuperação: aspectos legais e metodológicos.
Como todo trabalho pedagógico nas Instituições de Ensino, precisam ter um
respaldo legal e metodológico, a ideia deste artigo, foi justamente promover o
debate, bem como o conhecimento de como funcionaa avaliação e recuperação em
seus aspectos legais e metodológicos.
8º Encontro: Oficina de Avaliação: Com alguns conceitos apreendidos, tanto no
aspecto metodológico, como na legalidade, acerca da avalição, foi sugerido
nestaatividade uma oficina de avaliação (material produzido pela SEED). Nesta
etapa foi oportunizado aos cursistas o conhecimento de algumas técnicas de
avaliação.
9º Encontro: Texto Avaliação e Avaliação escolar na perspectiva da Teoria
Histórico-Cultural. O texto Avaliação Escolar na perspectiva da Teoria Histórico-
Cultural, foi muito positivo, pois levou olhar diferenciado sobre a importância da
avaliação como instrumento democrático de ensino.
10º Encontro – Elaboração de textos: Os/as participantes apresentaram textos
relativos a pesquisas sobre avaliação escolar, após os estudos anteriores. Esta
etapa foi a distância, onde os/as participantes apresentaram sínteses dos textos
relativos a pesquisas sobre a avaliação da aprendizagem.
4 CONSIDERAÇOES FINAIS
Este artigo teve o objetivo de responder, por meio de pesquisas e estudos
as seguintes questões problemas: Qual a concepção dos(as) professores(as) sobre
avaliação? A avaliação está servindo de instrumento para melhoria do processo
ensino-aprendizagem? Houve um afrouxamento pedagógico? Qual a relação entre
concepção e instrumentos avaliativos? Quais critérios estão sendo utilizados para
avaliar? Quais os instrumentos utilizados em sala de aula? Como a avaliação
interfere no processo ensino-aprendizagem? Quais as estratégias para o
enfrentamento deste problema?
Desta forma, visando analisar os resultados nos aspectos positivos, bem
como nas fragilidades, queinfluenciam diretamente no processo ensino-
aprendizagem no quesito avaliação, consideramos que, os objetivos propostos
foram alcançados, ou seja, houve uma análise profunda sobre a avaliação da
aprendizagem.
A discussão e reflexão promovidas nos encontros pré-estabelecidos, foram de
fundamental importância, para compreender questões básicas do conceber e do
fazer da avaliação.
A avaliação é imprescindível porque diferente da visão mais tradicional,
esta deve servir para a análise das aprendizagens, deve ser um processo
permanente e de diagnóstico da situação, com participação de todos os envolvidos,
ou seja aluno/professor.
Neste sentido ao propor este trabalho que discute a avaliação da
aprendizagem não busquei uma solução para a questão, mas sim caminhos
possíveis para trabalhar o processo de avaliação, de maneira consciente e coerente
dentro das Instituições de Ensino.
[...] avaliar é analisar a prática pedagógica de todos os envolvidos, com o objetivo de corrigir rumos e repensar situações para que a aprendizagem ocorra. Ao avaliar a aprendizagem dos alunos está se avaliando a prática dos professores, a gestão e o currículo escolar, bem como o próprio sistema de ensino como um todo. (Eu acompanho a avaliação do(a) meu(a) filho(a). E você? (PARANÁ, 2009, p.7).
De acordo com cada encontro foi proposto uma leitura reflexiva diferente, que
levou a discussões orais e escritas, acerca da avaliação.
Percebeu-se durante a aplicabilidade do projeto que, com a retomada acerca
da concepção de avaliação, numa linha histórica, foi possível perceber quais
tendências pedagógicas embasam o processo de construção de práticas avaliativas
na escola, ou seja, temos muitas heranças da escola tradicional.
Com isso, constata-se que, a avaliação não está promovendo o processo
ensino-aprendizagem, mas está sendo considerado um procedimento a parte, para
cumprir regras, programas e normas no sistema educativo.
No que se refere a concepção de avaliação e a relação dos instrumentos
avaliativos, percebe-se que, apesar dos discursos enaltecerem uma avaliação
emancipatória, os instrumentos são elaborados a partir de uma visão tradicional.
Neste sentido as leituras que foram sendo propostas no decorrer dos
encontros visaram uma reflexão de que é possível definir uma avaliação menos
tradicional, excludente e seletiva, para isso, é fundamental que os professores
conheçam a concepção de avaliação, e que esta é parte integrante do processo
ensino-aprendizagem.
Um obstáculo cristalizado na escola é a resistência de alguns profissionais em
relação a teoria, estes não veem relação com a prática, preocupante também é a
dificuldade em desmontar a construção da prática ameaçadora nota/reprovação.
Neste sentido, foi necessário um trabalho intenso de estímulos, com a
intencionalidade de transformar uma situação arraigada na escola, na qual vinha
apontando para a baixa produtividade pedagógica.
As etapas gradativamente foram sendo implementadas, contribuindo desta
forma, para a mudança de práticas sistematizadas em relação a avaliação da
aprendizagem.
Apesar das dificuldades apontadas, em relação a avaliação vivenciada na
escola, observou-se que ao longo dos estudos, algumas mudanças foram ocorrendo
entre elas, a busca frequente dos professores junto a pesquisadora, sobre como
elaborar um instrumento avaliativo, se os critérios correspondem a prática avaliativa,
entre outras.
Um fato apontado a partir dos estudos/implementação foi a necessidade de
ser revista a organização dos Conselhos de Classes, visto que estes vêm
acontecendo com uma reflexão acerca apenas de notas aritméticas. Esta
necessidade surgiu com uma nova visão de como se dá o processo ensino-
aprendizagem, e que a avaliação esta intrinsicamente ligada a este.
Acredito que este estudo contribuiu para avanços teórico-metodológicos
acerca da avaliação, ajudando a repensarmos nossas práticas educativas, não
temendo inovações e assim afirmar que é possível dar sim um olhar diferente sobre
a avaliação da aprendizagem.
Constata-se então que, a reflexão da ação pedagógica assim como a busca de
fundamentação teórica e prática devem ser uma constante no trabalho dos(as)
professores(as), para que o mesmo possa redimensionar a sua atuação na busca da
melhoria do processo ensino- aprendizagem.
5 REFERÊNCIAS
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