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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

A fotografia como ferramenta mediadora no processo

ensino/aprendizagem da língua inglesa com os alunos do 6º ano

Helena Hoffmann Dardaque1

Ana Josefina Ferrari2

RESUMO

O presente artigo trata do relato das experiências vivenciadas em sala de aula a partir daimplementação das ações propostas no projeto de intervenção e material didático elaborados duranteo Programa de Desenvolvimento Educacional3 (doravante PDE) 2013. O Projeto de Intervenção doprograma tinha como principal objetivo utilizar a fotografia como ponto de partida para trabalhar aintegração das práticas de leitura, escrita, oralidade e compreensão oral em língua inglesa, comalunos do 6º ano do ensino fundamental. Para tal foi produzido um caderno didático/pedagógico queenvolvesse essas práticas e que despertasse o interesse do educando pelo gênero textual proposto,a fotografia. O referido material foi aplicado de forma a se adequar aos anseios e expectativas doseducandos com foco na aprendizagem da língua inglesa. No decorrer da sua Implementação4

percebeu-se que o gênero fotografia foi bem aceito pelos estudantes uma vez que já faz parte do seucotidiano. Isso contribuiu para o desenvolvimento satisfatório das atividades apresentadas aosdiscentes, envolvendo-os e produzindo resultados muito positivos na aprendizagem dos conteúdospropostos.

PALAVRAS-CHAVE: Língua inglesa, gênero textual, fotografia, ensino fundamental.

1 INTRODUÇÃO

A partir do questionamento sobre como fazer com que os estudantes do 6º

ano tivessem uma maior aproximação com a língua inglesa, propôs-se a ideia de se

utilizar como recurso o gênero textual fotografia pelo fato de já fazer parte do

cotidiano da grande maioria dos educandos e, a partir deste gênero, desenvolver

atividades didático/pedagógicas em LEM.

A maioria dos alunos possui aparelhos celulares com câmera fotográfica e

fazem uso desse recurso para materializar o que avaliam ser importante no

momento em que tiram o retrato. A partir delas são criados álbuns virtuais e também

1 Professora PDE, Licenciada em Letras Português e Inglês, Especialista em Língua Portuguesa daEducação Básica e Educação a Distância. Vinculada ao Colégio Estadual General Carneiro, Lapa-PR.2 Professora Orientadora, Pós-doutoranda em Linguística. Vinculada ao Departamento de LínguaEspanhola da Universidade Federal do Paraná, setor Litoral.3 Programa de Política Pública do Governo do Estado do Paraná que objetiva proporcionar aosprofessores da rede pública estadual subsídios teórico-metodológicos para o desenvolvimento deações educacionais sistematizadas e que resultem em redimensionamento de sua prática. 4 Uma das etapas do Programa PDE em que o docente aplica, com o público alvo, a produçãodidático-pedagógica produzida durante o curso.

postadas em redes sociais.

Essas mídias sociais são facilmente acessadas por muitas pessoas,

principalmente adolescentes, que as utilizam como um meio de comunicação e

interação com outros usuários e, através deles, trocam informações, ideias,

compartilham fotos, mensagens, vídeos, enfim, proporcionam um intercâmbio entre

sujeitos e isso é uma fonte de conhecimento que pode contribuir muito no processo

de ensino/aprendizagem de língua inglesa.

Um aspecto que deve ser observado no contexto da utilização de fotografia é

a sua importância para o letramento visual, que segundo Yenawine (1997) e

Riesland (2006), “pode ser definido como a habilidade de entender e produzir

mensagens visuais, capacidade esta que gera benefícios a professores e alunos.”

Preocupou-se também com a análise crítica do que se retrata por meio da

fotografia, da sua valorização como resgate de lembranças e memórias do passado,

que irão ser reinterpretadas no momento presente e do cuidado que se deve tomar

com a postagem e divulgação de fotografias nas redes sociais.

Os principais objetivos que se pretenderam atingir na elaboração do material

didático e implementação do projeto foram:

- Possibilitar a aproximação dos estudantes do 6º ano com a língua inglesa,

a partir da exploração ( oral e escrita ) de fotografias tiradas pelos próprios alunos;

- Desenvolver atividades relacionadas a alguns conteúdos do 6º ano do

ensino fundamental a partir das fotografias tiradas por eles;

- Ressignificar a prática do idioma e reinterpretar fatos utilizando a língua

inglesa.

- Atribuir significados às imagens retratadas nas fotos, resgatando memórias

e possibilitando a reflexão sobre a importância do que se registra naquele momento

e o que se eterniza pela fotografia.

- Entender o presente pela experiência e dos conhecimentos que os alunos

trazem de fora da escola e que poderão ser utilizados durante as aulas de inglês.

Outro fator que foi levado em conta é que a utilização deste gênero textual

ainda não é explorada de modo mais aprofundado em sala de aula ou como um

instrumento motivacional para que os estudantes possam produzir conhecimento a

partir dela, principalmente nas aulas de língua inglesa e daí a importância de poder

aplicá-la com este propósito.

2 Os Gêneros textuais como conteúdo básico no ensino de Línguas

Ao longo da história do ensino de línguas no Brasil, várias concepções

curriculares nortearam o processo de aquisição da língua. Ao longo dos anos de

2004 e 2008, foram construídas, no Estado do Paraná, as Diretrizes Curriculares da

Educação Básica da Língua Estrangeira Moderna (doravante DCE-LEM) tendo como

referencial teórico a Abordagem Comunicativa, com uma concepção de língua

discursiva, a ser desenvolvida partindo do trabalho com diferentes gêneros textuais,

a partir da visão bakhtiniana.

As DCE-LEM corroboram com a proposta do filósofo, deixando claro que:

A proposta adotada nestas Diretrizes se baseia na corrente sociológica enas teorias do Círculo de Bakhtin, que concebem a língua como discurso.Busca-se, dessa forma, estabelecer os objetivos de ensino de uma LínguaEstrangeira Moderna e resgatar a função social e educacional destadisciplina na Educação Básica. (DCE-LEM, 2008, p. 53)

Relacionando-se com a concepção de Bakhtin de que toda a manifestação

linguística se dá como discurso, Marcuschi afirma que: “Todas as nossas

manifestações verbais mediante a língua se dão como textos e não como elementos

linguísticos isolados. Esses textos são enunciados no plano das ações sociais

situadas e históricas.” (2012, p. 20). Portanto, a importância dos gêneros não se

revela somente no estudo da língua, mas sim em outras atividades sociais de nosso

cotidiano, pois é através da linguagem que produzimos conhecimento e interagimos

com o mundo.

A partir dos gêneros textuais em sala de aula, busca-se, também, superar a

ideia de que o objetivo de ensinar Língua Estrangeira na escola é apenas ensinar o

aspecto linguístico mas que seja também uma maneira do aprendiz compreender a

diversidade cultural, social, linguística e que a partir dela possa construir

conhecimento.

Para isso as DCE-LEM propõem que:

(...) a aula de Língua Estrangeira Moderna constitua um espaço para que oaluno reconheça e compreenda a diversidade linguística e cultural, de modoque se envolva discursivamente e perceba possibilidades de construção designificados em relação ao mundo em que vive. Espera-se que o alunocompreenda que os significados são sociais e historicamente construídos e,portanto, passíveis de transformação na prática social. (DCE-LEM, 2008, p.53)

Evidencia-se, então que, para a construção do conhecimento de uma língua,

em todos os seus aspectos sociais e linguísticos, torna-se imprescindível o trabalho

com os gêneros textuais, uma vez que isso repercute na formação do processo

comunicativo dos alunos, não somente na aprendizagem da língua materna ou

língua estrangeira, mas nas demais disciplinas.

O contato com os diversos gêneros de texto possibilita ao indivíduo

reconhecer os discursos, perceber as ideologias daquele gênero, sua

intencionalidade, seu objetivo e isso implica na produção de um conhecimento mais

amplo e aprofundado no que diz respeito ao ensino de língua, seja ela materna ou

estrangeira.

Bentes, pesquisadora da área de linguística, explicita essa ideia quando

menciona que:

O domínio dos diferentes gêneros pode auxiliar o aluno a ser o legítimo“dono” de sua fala, ou seja, pode levar o aluno a ocupar, com maiorconsciência, os diferentes lugares a partir dos quais pode falar e escrever.Além disso, o aluno, a partir de um trabalho com diferentes gênerostextuais, poderá tanto exercitar a reprodução dos gêneros, como tambémpoderá reinventá-los por meio do exercício de práticas de linguagemsignificativas proporcionadas na/pela escola, durante as atividades deensino/aprendizagem de língua portuguesa e de outras disciplinas.(BENTES, 2012, p. 105).

Portanto, é de suma importância que os gêneros textuais sejam trabalhados

em seus múltiplos aspectos, considerando que os mesmos fazem parte do nosso

cotidiano e estão intrinsecamente ligados com a nossa maneira de interagir e

produzir significados a partir deles.

Este trabalho com gêneros de textos também é defendido pelas

pesquisadoras da área de linguagens, Cristovão e Nascimento (2012),

pesquisadoras da área, quando alegam que:

(...) o domínio dos gêneros se constitui como instrumento que possibilita aosagentes produtores e leitores uma melhor relação com os textos, pois, aocompreender como utilizar um texto pertencente a determinado gênero,pressupõe-se que esses agentes poderão agir com a linguagem de formamais eficaz, mesmo diante de textos pertencentes a gêneros até entãodesconhecidos. (CRISTOVÃO e NASCIMENTO, 2012, p. 43)

Confirmando a importância do ensino de língua a partir do uso dos variados

gêneros, proporcionando a relação entre textos que envolvem o produtor e o leitor,

as DCE-LEM expõem que:

O trabalho com a Língua Estrangeira Moderna fundamenta-se nadiversidade de gêneros textuais e busca alargar a compreensão dosdiversos usos da linguagem, bem como a ativação de procedimentosinterpretativos alternativos no processo de construção de significadospossíveis pelo leitor. (DCE-LEM, 2008, p. 58)

Dentre as centenas de gêneros de texto, algumas estão mais próximas dos

alunos no seu uso cotidiano e a grande maioria está presente nas formas oral e

escrita em praticamente todas as esferas sociais de comunicação a que têm acesso

diário. Esse fator proporciona ao estudante uma compreensão mais profunda e

abrangente do uso da língua, fazendo com que ele internalize-a de forma mais

concreta e natural.

Como afirma Marcuschi:

(...) o trabalho com gêneros textuais é uma extraordinária oportunidade dese lidar com a língua em seus mais diversos usos autênticos no dia-a-dia(...) E há muitos gêneros produzidos de maneira sistemática e com grandeincidência na vida diária, merecedores de nossa atenção. (MARCUSCHI,2007, p. 35)

Dentro desta ideia abordada pelo autor e pensando nos diversos gêneros

textuais, um dos que apresenta possibilidades de uso em sala de aula devido ao seu

constante uso é a Fotografia. Os educandos diariamente a utilizam como forma de

diversão e isso pode ser aproveitado pelo professor na motivação do aluno e no

ensino de língua inglesa.

3 A fotografia como recurso didático-pedagógico na aula de língua inglesa

Levando em conta a proximidade e a incidência do uso da fotografia na vida

diária do educando, propôs-se a sua utilização como ferramenta principal na

mediação do processo de ensino/aprendizagem da língua inglesa.

Todo professor tem convicção de que imagens ajudam a aprendizagem,quer seja como recurso para prender a atenção dos alunos, quer seja comoportador de informação complementar ao texto verbal. (DIONÍSIO, 2012,p.149)

O uso de imagens é frequentemente utilizado na escola, seja pela presença

no livro didático, exposição de cartazes, decoração da sala de aula, produção de

trabalhos artísticos como a pintura, etc. Entretanto, não se reflete sobre a verdadeira

importância de se atribuir significados a estas imagens, muitas vezes sendo tratadas

meramente como atividades realizadas para se obter nota nas disciplinas. Em

concordância com este ponto, pode-se citar Belmiro que afirma que:

O uso das imagens nos livros didáticos sofre uma tremenda redução desuas possibilidades interpretativas, pela adaptação a uma configuraçãoanalítica que aponta para um modo de compreensão próprio de um objetode estudo que é a linguagem verbal. A subordinação a um padrão conceitualque não lhes é próprio faz as imagens se ajustarem a uma lógica textual deprodução de sentidos linear, argumentativa e unívoca. (BELMIRO, 2000,p.16)

Ao refletir sobre isso, posso afirmar que muitos professores também fazem o

uso de imagens com caráter descritivo, sendo que poderiam abordá-las de modo

mais aprofundado e significativo para o educando, dentro e fora da sala de aula. O

registro de uma imagem deve proporcionar um olhar além da simples representação,

deve trazer um significado mais concreto e profundo do que se retratou nela.

Uma forma de se oportunizar esse olhar mais profundo na escola é pela

fotografia que, além de ser de fácil acesso aos estudantes, também proporciona um

pensar reflexivo sobre os fatos, indivíduos ou lugares nela retratados e que farão

parte das lembranças e memórias eternizadas naquele dado momento, contribuindo

para sua valorização histórica. Porém, não se deve focar somente este olhar ao

passado mas, também para o momento presente já que ele o altera e proporciona

aos alunos a interpretação, reinterpretação e ressignificação de alguns momentos,

pessoas e sentimentos sob outro ponto de vista ou outra forma de vê-los.

Outra característica importante da fotografia, que pode ser amplamente

explorada em sala de aula, é o fato de ser um texto não-verbal que apresenta

elementos intertextuais que poderão ser trabalhados sob múltiplos enfoques nas

diferentes disciplinas.

Na perspectiva de ensino atual, é fundamental que consideremos comoparte das características composicionais dos gêneros não apenas o textoverbal, mas também todos os elementos não verbais que o compõem.(LOPES-ROSSI, 2012, p. 75)

Anteriormente à era digital, a fotografia era uma forma de eternizar um

acontecimento importante ou que merecesse ser reproduzido, retratar pessoas com

a intenção de fazer documentos ou ainda para enviar a alguém especial, que por

sua vez, guardava-a como se fosse um objeto precioso. Os profissionais que se

encarregavam dessa técnica, eram estudiosos da área (chamados por vezes de

retratistas) e faziam-na de forma artística e minuciosa, representada pelo olhar do

fotógrafo, que eram atentos aos detalhes técnicos e com a sensibilidade inerente a

sua profissão.

Quem de nós não tem guardada uma fotografia de infância, tirada antes

mesmo de entendermos o mundo, ou dos nossos antepassados que não tivemos a

oportunidade de conhecer? Fotografias das festas de aniversário, casamento,

eventos na escola, lugares da cidade, flagrantes do cotidiano? E quanto prazer

sentimos ao abrirmos um álbum e através delas reviver aqueles momentos e

relembrar das pessoas e lugares ali retratados?

Nota-se que era agregado à fotografia um valor diferente do que se percebe

nos dias atuais, em que seu uso tornou-se acessível a qualquer pessoa,

independente faixa etária, sexo ou ocupação, pela facilidade em ser realizado.

Há alguns anos, a arte de fotografar era desempenhada somente por

profissionais que possuíam equipamentos e técnicas apropriadas para este fim. Era

um processo muito diferente do que se é hoje pois as máquinas ou câmeras

fotográficas eram aparelhos grandes, de alto custo em que as imagens deveriam ser

bem enquadradas e focalizadas e, de acordo com o ambiente ou iluminação

necessitava-se de um outro equipamento para se disparar o flash, que era

independente da câmara.

O processo de revelação também era minucioso. Existiam “chapas” para

serem reveladas e, nas máquinas portáteis, havia um rolo de filme, em que as poses

ficavam registradas e somente após o seu término eram reveladas, por isso não se

sabia como os retratos iriam ficar ou se não “queimariam”.

As etapas de revelação ocorriam em laboratórios específicos para esta

finalidade, através de um processo com vários componentes químicos que eram

pesados e calculados de forma precisa até se obter o produto final: a fotografia.

Fotografia esta que duraria por décadas e serviria para eternizar pessoas, fatos,

lugares, enfim, retrataria uma história sentida ou vivida, com todos os seus valores e

significados.

Pode-se comprovar essa importância dada a ela através do fotógrafo e

jornalista Recuero quando menciona que:

A imagem fotográfica passa a ser o “espelho do passado, porém com aimagem retida. É uma memória portátil e palpável, onde a imagempermanece de forma infinita e que pode ser acionada, toda vez que forrevista. (RECUERO, 2006)

Na era digital, as câmeras estão ao acesso da maioria das pessoas, seja

através de equipamento próprio ou de aparelhos celulares. O ato de fotografar

apresenta um outro foco, em que não se tem a preocupação com o valor intrínseco

da fotografia, procura-se apenas capturar imagens. Há uma grande facilidade em se

tirar fotos, apenas se focaliza, clica-se e vemos através da tela a imagem obtida.

Confirmando esta constatação, Recuero afirma que:

Os avanços desta técnica e a sua integração foram de tais formasincorporadas à vida social, que o homem desde o seu nascimento até a suamorte vai se vendo cercado por imagens fotográficas e suas influênciasvisuais, icônicas e sígnicas. Fotografa-se tudo e todos. (RECUERO, 2006)

Porém, diferentemente de épocas passadas, em que as pessoas viam a

fotografia como algo significativo em suas vidas, onde eram retratados momentos,

pessoas, lugares especiais, que iriam ficar marcados para a posteridade, na

atualidade ela é simplesmente descartada, excluída ou substituída se não for do

gosto da pessoa que a observa, perdendo assim o valor que lhe é inerente.

A respeito desta questão, pode-se questionar se a escola não é um espaço

em que se pode proporcionar um olhar mais crítico e sensível sobre o modo de se

produzir imagens fotográficas. Ela tem o papel fundamental de difundir valores

culturais, cognitivos e sociais que possibilitem, além do aprendizado de conteúdos

programáticos, a reflexão dos educandos sobre a forma como veem o mundo e isso

pode partir das lentes de uma câmera fotográfica.

A riqueza que um estudo da imagem em livros didáticos pode trazer temcorrespondência nas atividades de leitura com textos, ao fazer emergir umleitor capaz de atingir diferentes posições de leitura (ou perspectivas/pontosde entrada. (BELMIRO, 2000, p. 22 apud ORLANDI, 1993, p. 101-117).

Esse papel primordial é retratado nas DCE- LEM quando afirma que:

(...) entende-se a escola como um espaço de confronto e diálogo entre osconhecimentos sistematizados e os conhecimentos do cotidiano popular.Essas são as fontes sócio-históricas do conhecimento em suacomplexidade. (DCE-LEM, 2008, p. 21)

Em vista disso, o professor deve propiciar atividades que envolvam o que é

do contato direto dos educandos, aproximando o conhecimento empírico com o

científico. Pensando nisso, é relevante que os docentes possam refletir sobre a

importância dos valores intrínsecos das imagens retratadas nas fotografias pois elas

são um material muito rico para se propor esse diálogo e pensar que através delas

também se pode produzir conhecimento.

A escola se apresenta como um espaço no qual é possível propiciar oconvívio e o diálogo entre o acervo de imagens pessoais, trazido peloseducadores e educandos, e as produções artísticas e culturais reconhecidasuniversalmente e pertencentes a diferentes culturas e épocas. (SOUZA,2002)

4 Experienciando a prática de sala de aula

Após a elaboração do material didático-pedagógico5 partiu-se para a

implementação em sala de aula. O projeto foi apresentado à equipe diretiva e

pedagógica da escola, que se propuseram a apoiar no que precisasse.

A turma escolhida para ser o objeto da implementação demonstrou interesse

pelo projeto que seria trabalhado em sala de aula e os educandos ficaram curiosos e

interessados pelas atividades que seriam propostas a eles, principalmente pelo fato

de que iriam tirar fotografia com suas próprias câmeras.

As atividades e exercícios contemplados nas unidades didáticas abordavam

as práticas de língua inglesa: escrita, leitura, fala e compreensão oral sobre os

temas tratados em cada uma delas.

A primeira unidade trabalhada em sala de aula foi denominada “English

Words” e pretendeu demonstrar aos discentes a grande influência e uso da língua

inglesa no nosso vocabulário diário ( nomes próprios, marcas, informática, roupas,

alimentação, música, tecnologia, jogos, etc). Através desta constatação propuseram-

5 Etapa do Programa PDE que objetiva propor atividades a serem desenvolvidas para se atingir osobjetivos elencados no Projeto de Intervenção.

se atividades e incentivou-se os alunos a fotografar estabelecimentos comerciais ou

outra fonte que apresentasse palavra(s) em língua inglesa. Posteriormente foram

expostas, através da TV multimídia, as imagens fotografadas e, os alunos que não

possuíam câmera fotográfica, fizeram uma pesquisa por palavras em língua inglesa

escritas em embalagens, objetos, camisetas e outros materiais e coladas no

caderno.

Neste capítulo os educandos participaram ativamente contribuindo com

palavras em língua inglesa que conheciam e que viam no seu dia-a-dia. Também

perceberam a grande quantidade de vocábulos neste idioma e sua influência no

nosso vocabulário.

Acervo Pessoal Acervo Pessoal

A segunda unidade chamava-se “Pictures” e através dela contemplaram-se

atividades que visavam descobrir o conhecimento dos alunos acerca da história da

fotografia, seu uso no passado e nos dias atuais, comparar as máquinas fotográficas

antigas e modernas, assim como a forma de revelação das fotos nas diferentes

épocas. Foram levadas até a sala de aula máquinas fotográficas antigas e expostas

para que os alunos pudessem apreciar e comparar com as câmeras modernas. Esse

momento atraiu muito a curiosidade das crianças, que ficaram entusiasmadas com a

tecnologia fotográfica da época e com a evolução da mesma atualmente.

Acervo Pessoal

Também questionados sobre a importância da fotografia para retratar fatos,

momentos e pessoas e qual a intenção desse ato. Foi explorado também o perigo

da exposição pessoal nas diversas redes sociais e as suas consequências, numa

forma de conscientizá-los sobre crimes cibernéticos e desrespeito com o outro.

Percebeu-se que a maioria das crianças tinha consciência sobre essa questão e em

sua maioria procura não expor-se em demasia em redes sociais.

Ainda nessa unidade foi apresentada à turma uma câmera fotográfica

Pinhole, seus componentes e funcionamento. Após essa apresentação e exploração

através de vídeos explicativos sobre a produção e funcionamento da Pinhole, ela foi

produzida em sala de aula pelos alunos, seguindo todas as etapas para sua

montagem.

Acervo Pessoal Acervo Pessoal

Após o carregamento da câmera Pinhole com papel fotográfico, pela

professora, os discentes tiraram uma fotografia em uma área do colégio e,

posteriormente, as mesmas foram reveladas em laboratório e expostas em mural na

sala de aula para apreciação. Os alunos empolgaram-se muito com esta unidade e

percebeu-se que o fato de poderem confeccionar sua própria câmera serviu como

incentivo para desenvolver as atividades orais e escritas por já terem prévio

conhecimento sobre o assunto.

Apesar de a maioria das fotografias não terem ficado com a imagem nítida

ou visível, as crianças não se frustraram com o resultado pois sabiam que é uma

técnica amadora de fotografia.

A próxima unidade “Places of the City” teve o intuito de familiarizar as

crianças com alguns lugares da cidade, apresentando o vocabulário e relacionando

aspectos positivos e negativos da cidade e lugares que gostavam de frequentar.

Esse tema, por ter uma grande proximidade com os alunos, foi de fácil abordagem e

interesse por parte deles. As práticas de língua inglesa trabalhadas na unidade

foram bem aceitas e desenvolvidas de maneira participativa e com grande êxito.

Para finalizar esse capítulo os alunos fotografaram o lugar da cidade de que

mais gostavam, as fotos coletadas, salvas em pendrive e apresentadas em sala de

aula, dizendo o nome do local em inglês.

A última unidade aplicada em sala de aula foi a que se referia à “Family” e as

crianças tiveram grande receptividade pelo tema e participaram de modo efetivo em

todas as atividades propostas na temática. Os exercícios desenvolvidos foram bem

assimilados e os educandos contribuíram com seus relatos de convivência familiar

ampliando seus conhecimentos a partir do conteúdo proposto.

Os educandos fotografaram ou trouxeram fotografias de seus familiares e foi

produzido um mural com elas. A partir das fotos foram indagados pelos colegas, em

língua inglesa, sobre quem eram aquelas pessoas e eles as apresentavam dizendo

em inglês o nome do membro da família. A oralidade dos alunos foi o foco principal

desta unidade.

Acervo Pessoal

Devido a alguns imprevistos e contratempos quanto à carga horária

disponível para a implementação do material didático na sala de aula, algumas

unidades não puderam ser contempladas no primeiro semestre do ano letivo (Flat

Stanley, Where are you from? ), sendo desenvolvidas e aplicadas posteriormente.

5 Compartilhando Experiências Docentes

O desenvolvimento do Grupo de Trabalho em Rede6 (doravante GTR),

durante o primeiro semestre de 2014, contribuiu muito para a implementação do

material didático em sala de aula pois as considerações dos professores foram de

suma importância na troca de experiências e sugestões para enriquecimento das

atividades desenvolvidas em classe.

Todos os cursistas enfatizaram a importância de se atrelar a tecnologia

(fotografia), que é acessível aos alunos, como ferramenta pedagógica para o

aprendizado de uma língua, especialmente a inglesa, que está inserida no nosso

cotidiano e faz parte da vivência do povo brasileiro.

Outro aspecto relevante mencionado pelos professores participantes foi

sobre a conscientização dos educandos no uso adequado das imagens capturadas

pelas câmeras fotográficas devido ao perigo da exposição da vida privada das

pessoas. Esse tema foi amplamente discutido em sala de aula durante a

implementação e certamente serviu para que os alunos refletissem sobre ele de

forma mais aprofundada e consciente, contribuindo para que possam aplicar na sua

6 Atividade do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, que se caracteriza pela interação virtual entre os Professores PDE e os demais professores da Rede Pública Estadual.

vida diária.

Em alguns temas como família e nacionalidades, expuseram que a

valorização dos antepassados, a origem e a história da família é primordial para a

formação individual de cada um dos alunos, sendo importante este resgate em todas

as disciplinas do currículo e que através dela se torna possível conhecer melhor a

realidade familiar do aluno, contribuindo para um novo olhar sobre sua pessoa e seu

aprendizado.

A análise do projeto e do material didático-pedagógico, pelos docentes,

trouxe um grande incentivo para que a sua implementação ocorresse de acordo com

a realidade dos alunos e de suas condições sociais e familiares, assim como meio

de despertar seu interesse pelos conteúdos, através da fotografia. Os participantes

deram sugestões de atividades que complementassem o material e ponderaram de

maneira participativa, consciente e enriquecedora.

Alguns cursistas expressaram interesse na utilização do material proposto

em suas aulas, como incentivo e auxílio na falta de motivação dos alunos e também

como recurso didático de apoio no desenvolvimento dos conteúdos contemplados na

produção didático-pedagógica.

6 Considerações Finais

Todo o processo de desenvolvimento do PDE ( elaboração do projeto,

produção do material didático, implementação em sala de aula, tutoria do GTR e

produção do artigo final ) pelo professor é uma experiência única que objetiva o

aprimoramento e embasamento teórico-prático para instigar a reflexão e habilitar o

professor a reinventar, ver novas possibilidades e agir dentro da escola e/ou sala de

aula de modo a qualificar o processo ensino/aprendizagem do educando, motivando-

o e efetivando-o de maneira concreta.

Buscou-se uma maneira de se propiciar essa motivação através de alguma

ferramenta pedagógica que fosse do interesse do aluno e que ele a utilizasse de

forma educativa e que proporcionasse sua aprendizagem escolar.

A escolha da fotografia como instrumento motivador e mediador da

aprendizagem da língua inglesa no 6º ano, proposto no projeto de intervenção e na

produção didático-pedagógica, contribuiu para que o estudante interagisse com a

língua promovendo a interação, motivando-os a usar uma ferramenta que está em

suas mãos, que pertence ao seu uso diário, para que houvesse a apropriação do

conhecimento de forma dirigida, organizada e direcionada pelo professor.

Além da exploração da câmera fotográfica como recurso didático tornou-se

possível a ressignificação e um novo olhar do aluno sobre a fotografia, sua

importância como modo de se retratar a realidade e possibilidade de aprendizagem.

Ele foi quem produziu o material a ser construído e utilizado em sala de aula com a

intermediação do professor. Foi a sistematização do ensino através de algo

realmente concreto para ele.

Todas as contribuições dos colegas professores/educadores que

participaram deste projeto de pesquisa tiveram papel fundamental no processo de

desenvolvimento e aplicabilidade em sala de aula, fomentando discussões,

interagindo positivamente e colaborando para que o projeto se efetivasse de

maneira concreta e que fornecesse novas ideias e possibilidades de integração

entre o aluno e a aprendizagem da língua inglesa na turma em que foi aplicado.

Certamente este recurso pedagógico não se esgota nem finaliza com as

atividades deste material e cabe a cada professor construir, adaptar, aprimorar e

enriquecê-lo a sua maneira, de acordo com sua realidade e a do seu aprendiz.

O ensino de uma língua estrangeira requer esforço, criatividade e reflete-se

no futuro educacional e pessoal do aluno, daí sua importância como disciplina

curricular.

Referências Bibliográficas

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