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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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INVESTIGAÇÃO SOBRE A EDUCAÇÃO ALIMENTAR DE ADOLESCENTES: ENFOQUE EM AÇÚCAR E ALIMENTOS PROCESSADOS

Autora: Juliana Ugolini 1

Orientadora: Lourdes Aparecida Della Justina 2

Resumo

Essa pesquisa teve como objetivo investigar os hábitos alimentares de estudantes do Ensino Fundamental da Rede Pública Estadual do Paraná e, por meio da elaboração e aplicação de uma unidade didática, contribuir para a reeducação alimentar dos envolvidos, incentivando­os à redução do consumo de açúcar e alimentos processados, melhorando sua qualidade de vida e evitando futuras doenças. Por se tratar de pesquisa com cunho quantiqualitativo, investigou sobre hábitos saudáveis, quanto à alimentação e descanso (dormir) necessários, influência da mídia na escolha dos alimentos, entendimento de que o açúcar simples se encontra embutido nos alimentos e classificado como carboidrato e a necessidade da ingestão de água para o funcionamento adequado do organismo. Durante o desenvolvimento da unidade didática, os dados foram coletados em três momentos: mediante questionário inicial, ficha de observação dos educandos envolvidos no projeto e síntese final. Ainda foram desenvolvidos cartazes, paródias e charges. Os resultados indicaram que houve, por meio da pesquisa, reconstrução do conhecimento acerca do consumo de açúcar e da importância de manter uma alimentação equilibrada.

Palavras­chave: Açúcar; Adolescentes; Hábitos alimentares.

1 Introdução

1 Professora de ciências da rede estadual da educação do Paraná, cursando PDE ­ 2013. 2 Professora Doutora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

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Parte­se da hipótese de que a ingesta de alimentos gordurosos e açucarados

pode influenciar na disposição das pessoas, uma vez que, o alimento é tido como fonte

de energia “combustível” para as atividades diárias, podendo prejudicar o interesse e o

rendimento escolar, deixando os educandos sonolentos, irritados ou, ainda, agitados.

A quantidade ideal de consumo do açúcar ainda é controversa. O Brasil não

possui estimativas seguras, mas calcula­se, com base em dados da Companhia

Nacional de Abastecimento, órgão vinculado ao Ministério da Agricultura, algo em torno

de 150 gramas por dia ou 30 colheres de chá (YARAK, 2012).

Na maioria dos rótulos de alimentos industrializados, existe apenas uma

recomendação do consumo total de carboidratos que, ao ser metabolizado pelo

organismo, transforma­se em glicose. É aí que mora o perigo, pois não se tem certeza

quanto à quantidade de açúcar que ingerida, porém, pode­se perceber que é muito

maior do que o organismo necessita e de forma completamente desregrada. Assim,

esse artigo apresenta as conclusões do desenvolvimento de um projeto no qual se

buscou informações mais concretas sobre a alimentação, o excesso de açúcar e a sua

influência na aprendizagem e na saúde dos educandos e como a mídia pode

influenciá­los nesse processo. Buscou­se proporcionar orientações baseadas em

especialistas na área de nutrição, para que comecem a desenvolver uma vida mais

saudável, tenham mais disposição para o estudo e atividades que exijam concentração

e, ainda, possam influenciar nos hábitos de seus familiares, disseminando os

conhecimentos adquiridos.

Segundo dados de estudo feito por pesquisadores da Universidade de São

Paulo e da Faculdade de Medicina da Universidade do ABC, com adolescentes, foi

constatado o consumo médio de cerca de 26 quilos de açúcar por ano em refrigerantes

e sucos prontos, 45% a mais que o limite aceitável, que é de 18 quilos anuais

(BASSET, 2013).

Esse aumento exagerado no consumo de açúcar acarreta possíveis problemas

de saúde, como o desenvolvimento de diabetes, sobrepeso e obesidade. A mídia pode

ter relevante papel na influência sobre o que os adolescentes consomem, mostrando

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apenas o lado bom e bonito dos alimentos industrializados. Escondendo o excesso de

açúcar com a ideia de que é rico em ferro, vitaminas e minerais. São expostos

desenhos de frutas maravilhosas nas embalagens, dando a ilusão de que é saudável.

“As propagandas que costumam ver na televisão já bastam para indicar o caminho

para as ‘delícias’ que podem encontrar nas prateleiras do mercado mais próximo”

(SALGADO, 2005, p.16). Ainda, para Valle e Euclydes (2007), poucos segundos de

comerciais sobre produtos alimentícios pode influenciar na escolha das crianças.

Segundo Tojjo (1999), os comerciais de televisão incitam as crianças a

consumirem alimentos e sucos, principalmente industrializados, cujo valor nutritivo é

baixo. Esses possuem grande quantidade de calorias e que caracteristicamente

contém muita gordura, açúcar, colesterol e sódio e quase não fornecem nutrientes.

Os adolescentes, com frequência, pegam seu prato e vão à frente da televisão.

Enquanto comem, assistem propagandas de alimentos muito calóricos e nada

nutritivos. O teor das propagandas veiculadas em horários de programas para

adolescentes é, quase sempre, de 53% de lanches e refrigerantes (MELLO et al, 2004).

A beleza e envolvimento do comercial podem instigá­los a consumir ou ao menos

provar o produto. Observando esse fato, optou­se por investigar os hábitos alimentares

de estudantes do ensino fundamental e analisar se o desenvolvimento de uma unidade

didática pode contribuir para a reeducação alimentar destes, reduzindo o consumo de

açúcar e alimentos processados, melhorando, assim, a qualidade de vida.

Diante da problemática da alimentação inadequada e da certeza de que a

adolescência é um período de intensas transformações e mudanças, a qual carece de

uma atenção especial quanto à nutrição em função do aumento da necessidade de

energia, foi que a professora pesquisadora autora deste trabalho decidiu realizar este

estudo sobre os hábitos alimentares dos educandos do Colégio Padre Carmelo

Perrone em Cascavel/PR, questionando como a educação escolar pode colaborar

nesse processo. Segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná,

O método científico fortemente marcado e utilizado como estratégia de investigação no ensino de ciências cedeu espaço para aproximações entre

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ciência e sociedade, com vistas a correlacionar a investigação científica a aspectos políticos, econômicos e culturais. Nesse sentido, em termos práticos, o currículo escolar valorizou conteúdos científicos mais próximos do cotidiano, no sentido de identificar problemas e propor soluções (PARANÁ, 2008, p.55).

Um desses conteúdos mencionados passa pela questão da alimentação. “A

importância de uma boa alimentação, mesmo entre adolescentes que nunca

apreciaram saladas ou legumes, pode ser cultivada por meio de uma relação paciente

entre pais e filhos” (SALGADO, 2005, p.16).Assim, é muito importante o papel dos pais

e também da escola no desenvolvimento de uma alimentação saudável. Porém, ao

observar os alunos pesquisados, percebeu­se que os pais não têm influenciado de

forma adequada os filhos, como por exemplo: estabelecendo horários e local adequado

para as refeições, incentivando o consumo de alimentos saudáveis, preparados em

casa, e evitando produtos industrializados. Estas práticas são de suma importância

para a saúde e o desenvolvimento dos adolescentes.

Na adolescência, podem­se identificar hábitos de consumo ocasionados por

motivos psicológicos, influência de amigos, rebeldia, busca de autonomia e identidade,

hábito de comer fora de casa. Esses hábitos alimentares podem influenciar, na saúde e

na escolha posterior dos alimentos.

Pode­se citar como consequências de má alimentação (consumo exagerado de

lanches, frituras, refrigerantes e açúcar): excesso de peso, colesterol elevado,

triglicerídeos, cáries, hiperatividade infantil, diabetes, entre outras. Para Gambardella:

Os adolescentes tendem a viver o momento atual, não dando importância às consequências de seus hábitos alimentares, que podem ser prejudiciais. Sabe­se que hábitos alimentares inadequados na infância e adolescência podem ser fatores de risco para doenças crônicas e obesidade (GAMBARDELLA et al., 1999, p.56).

Os adolescentes estão perdendo, e/ou não se habituaram a beber água. Na

sua rotina diária, só se inclui refrigerantes e sucos açucarados, na maioria das vezes

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ou preferencialmente os de cola, a preferida entre a grande maioria, pois são poucos

que a rejeitam.

Além de não ingerir água para hidratar e ajudar na digestão e eliminação de

resíduos do organismo, o excesso de açúcar embutido nos alimentos industrializados e

principalmente nos refrigerantes pode causar diversos prejuízos ao ser humano em

desenvolvimento, causando doenças antes observadas somente em adultos, como

pressão alta, diabetes e obesidade. Alguns problemas relacionados à aprendizagem

também podem estar relacionados ao consumo exagerado de açúcar e falta de

nutrientes necessários ao desenvolvimento. Nesse sentido, investigou­se o caso da má

alimentação de forma interdisciplinar.

Concebe­se que “a interdisciplinaridade é uma questão epistemológica e está

na abordagem teórica e conceitual dada ao conteúdo em estudo, concretizando–se na

articulação das disciplinas cujos conceitos, teorias e práticas enriquecem a

compreensão desse conteúdo.” (PARANÁ, 2008, p.29). Alguns problemas

relacionados à aprendizagem também podem estar relacionados ao consumo

exagerado de açúcar e falta de nutrientes necessários ao desenvolvimento.

O processo de ensino e aprendizagem deve ocorrer com a mediação do

professor também em relação à promoção da saúde e bem estar dos educandos.

Sendo assim, Brasil (2008), considera:

[...] a importância da escola como espaço de produção de saúde, auto­estima, comportamentos e habilidades para a vida de seus alunos, funcionários e comunidade, ou seja, como sendo o espaço propício à formação de hábitos alimentares saudáveis e à construção da cidadania (BRASIL, 2008, p.5).

E ainda:

[...] reconhecendo que a alimentação é uma parte vital da cultura de um indivíduo e levar em conta as práticas, costumes e tradições exige algumas medidas que possibilitem manter, adaptar ou fortalecer a diversidade e hábitos saudáveis de consumo e de preparação de alimentos, garantindo que as mudanças na

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disponibilidade e acesso aos alimentos não afete negativamente a composição da dieta e do consumo alimentar, o aproveitamento do valor nutritivo dos alimentos e a educação e informação para evitar o consumo excessivo e desequilibrado de alimentos que podem levar à má­nutrição, à obesidade e às doenças degenerativas e haja promoção da alimentação adequada e saudável (BRASIL, 2008, p.7).

A escola se configura como espaço privilegiado para ações de promoção da

alimentação saudável, em virtude de seu potencial para produzir impacto sobre a

saúde, autoestima, comportamentos e desenvolvimento de habilidades para a vida de

todos os membros da comunidade escolar: alunos, professores, pais, merendeiros,

responsáveis pelo fornecimento de refeições e/ou lanches e funcionários. Exerce

grande influência na formação de crianças e adolescentes e constitui, portanto, espaço

de grande relevância para a promoção da saúde, principalmente na constituição do

conhecimento do cidadão crítico, estimulando à autonomia, ao exercício dos direitos e

deveres, às habilidades com opção por atitudes mais saudáveis e ao controle das suas

condições de saúde e qualidade de vida (BRASIL, 2008).

Nesse panorama, utilizou­se do espaço escolar para incentivar os educandos a

desenvolverem hábitos saudáveis, restringindo o uso e o consumo excessivo de açúcar

e gordura e estimulando a ingesta de frutas, verduras e legumes mediante o

desenvolvimento de uma proposta didático­pedagógica que envolveu diferentes

recursos didáticos sobre o tema abordado: paródia, charge, história em quadrinhos,

laboratório de informática (multimeios) e vídeos.

A promoção de uma alimentação adequada no âmbito escolar parte de uma

visão integral, interdisciplinar do ser humano, que considera as pessoas em seu

contexto familiar, comunitário e social. A alimentação e o desenvolvimento de hábitos

saudáveis são recursos educacionais versáteis e têm o potencial de reunir toda a

comunidade escolar, incluindo as famílias, em torno de uma discussão prática e

motivadora (PINHEIRO et al., 2006).

Por isso, os educandos envolvidos têm o papel de disseminadores, envolvendo

colegas, pais e toda a comunidade escolar no processo de ingerir menos açúcar,

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criando hábitos de alimentação saudáveis e prevenindo doenças futuras.

Há que considerar ainda, outro fator: o uso da mídia por professores e alunos,

pois o mesmo ajuda a propagar oportunidades e estimula­os a aproveitar o máximo de

seus talentos naturais, desenvolvendo o aprendizado. Acredita­se que as práticas que

têm por objetivo ampliar interações entre as pessoas devem refletir na qualidade de

vida de cada indivíduo. Por isso, o computador auxiliou como instrumento pedagógico

para dar suporte a essa pesquisa e sanar algumas dúvidas dos educandos, auxiliando

no processo de construção do conhecimento.

1.1 Informática na Educação

O uso da informática por professores e alunos pode ajudar a propagar

oportunidades e estimula­os a aproveitar o máximo de seus talentos naturais,

desenvolvendo o aprendizado. Práticas que têm por objetivo ampliar interações entre

as pessoas devem refletir na qualidade de vida de cada indivíduo. O computador pode

servir como instrumento pedagógico para dar suporte ao professor em sala de aula,

auxiliando no processo de construção do conhecimento.

A simples utilização do computador no ensino não garante o sucesso da

aprendizagem. Mas, para que ocorra o aprendizado, o planejamento deve visar

métodos de ensino que aproveitem suas potencialidades. Não basta o professor levar

o aluno ao laboratório de informática, é necessário elaborar atividades que estimulem o

aprendizado e desenvolvam o interesse dos educandos pelo assunto estudado.

Percebe­se que a educação não consegue acompanhar a velocidade das

novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICS). Há um excesso de

informações disponíveis e é necessário saber procurar, produzir e lidar com esta

informação, o mais importante é saber enfrentar o novo. Para que isso se torne

possível é necessário: “Saber questionar, pesquisar, para dar conta de contextos e

referências não­sabidas, reinterpretar o que já conhecemos, aprender dos outros sem

se submeter” (DEMO, 2001, p.49).

A tecnologia inserida na educação, seja na forma de vídeo, rádio, cinema ou

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informática, contribui, com certeza para o aprendizado e o professor se torna orientador

e os educandos continuam necessitando de um guia do conhecimento.

Com a utilização do computador na educação é possível ao professor e à escola dinamizarem o processo de ensino­aprendizagem com aulas mais criativas, mais motivadoras e que despertem, nos alunos, a curiosidade e o desejo de aprender, conhecer e fazer descobertas. A dimensão da informática na educação não está, portanto, restrita a informatização da parte administrativa da escola ou ao ensino da informática para os alunos (BRASIL, 2007, p.38).

É indispensável a cooperação e o trabalho em equipe para que os projetos sejam

desenvolvidos, os problemas detectados e resolvidos, os recursos necessários

viabilizados, e o laboratório de informática possa funcionar realmente como um apoio

pedagógico no processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, pretendeu­se

explorar o laboratório de informática de um colégio público de Cascavel/PR, para

pesquisas e construção do conhecimento sobre alimentação saudável e o excesso de

açúcar, pois quando o aluno cria algo, soluciona um problema, sente­se valorizado e

dedicando­se a pesquisa para construir seu conhecimento, a aprendizagem se torna

mais significativa.

A internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta se o professor proporcionar um clima de confiança, abertura, cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia, o que facilita o processo de ensino­aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor ao estabelecer relações de confiança com seus alunos por meio do equilíbrio, competência e simpatia com que atua. O aluno desenvolve a aprendizagem cooperativa, a pesquisa em grupo, a troca de resultados (MORAN, 1998, p.128).

Todavia não se deve ficar com medo de tantas opções tecnológicas e pensar

que possam substituir o professor, mas sim, fazer uso como estratégias de ensino para

facilitar o trabalho de educador e melhorar o aprendizado, envolvendo o educando

cada vez mais. Afinal, a interdisciplinaridade pode ser concretizada com o bom uso dos

recursos das tecnologias da informação e comunicação.

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2 Desenvolvimento metodológico

Um encaminhamento metodológico que ajudou no desenvolvimento da

consciência de uma alimentação saudável, reduzindo teores de açúcar e melhorando

os hábitos dos adolescentes da referida escola foi a metodologia de ensino

denominada de Ilha de Racionalidade. Conforme Fourez et al. (1997) uma Ilha de

Racionalidade designa uma representação teórica apropriada de um contexto,

permitindo comunicar e agir sobre o assunto.

Ao desenvolver uma Ilha de Racionalidade surgem questões específicas

ligadas a determinado conhecimento científico que poderão ser respondidas ou não,

conforme o caso. Estas questões abertas são denominadas de caixas­pretas. O

contexto e os objetos do projeto orientam a abertura ou não das caixas­pretas. Uma

caixa­preta aberta significa a obtenção de modelos que possam relacionar os fatos

conhecidos, gerando explicações. Nesse contexto, uma ilha de racionalidade ancora­se

na construção de modelos, visando à solução de problemas de interesse a partir do

cotidiano dos indivíduos (NEHRING et al., 2002).

A teorização proposta na ilha de racionalidade é quase sempre interdisciplinar,

pois é muito difícil propor uma solução a um problema concreto, engessado pelas

limitações e abstrações de uma disciplina particular (FOUREZ et al.,1997).

Para construir a Ilha de Racionalidade são propostas algumas etapas, de modo

a permitir que o trabalho vá sendo delimitado para que atinja sua finalidade. Embora

apresentadas de maneira linear, elas são flexíveis e abertas, em alguns casos podendo

ser suprimidas e/ou revisitadas, quantas vezes a equipe julgar necessário.

A equipe é também quem determina o tempo de cada uma delas, de acordo

com os objetivos, disponibilidades e necessidades. Elas servem como um esquema de

trabalho, de modo a evitar que ele se torne tão abrangente que não se consiga chegar

ao final.

Para construir uma Ilha de Racionalidade Fourez et al. (1997), propõem oito

etapas. A primeira delas foi um conjunto de perguntas por meio das quais se

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expressaram concepções iniciais a respeito do tema. É o ponto de partida da atividade,

o qual se denomina de clichê.

Desta maneira, na sequência, elaborou­se um panorama espontâneo,

levantando as dúvidas dos educandos. Depois disso, a equipe de especialistas ou

especialidades que seriam consultados, envolvendo as várias áreas do conhecimento.

No momento seguinte, passou­se à prática na observação de rótulos e pesquisas sobre

composição nutricional dos alimentos.

Partindo para o aprofundamento das questões, utilizou­se de especialistas na

área de alimentação para responder aos questionamentos dos educandos. Onde

aconteceram as palestras com nutricionistas.

Após todo esse trabalho, nos utilizamos da aula expositiva dialogada, para

evidenciar as necessidades nutricionais. Buscar o aprofundamento de algumas

questões sem consultar especialistas, já que há a possibilidade de nem todos os

especialistas estarem disponíveis. É um momento de autonomia da equipe e uma

etapa que se torna importante porque o grupo deverá tomar decisões com base em

suas opções. E por fim, elaborar uma síntese da “Ilha de Racionalidade” ­ produto final.

Os dados para analisar o desenvolvimento da Ilha de Racionalidade foram

coletados em três momentos. No primeiro momento, por meio de questionário de

múltipla escolha, envolvendo questões específicas ao dia a dia dos educandos, seus

hábitos alimentares e atividades desenvolvidas diariamente, onde se analisou as

refeições diárias, o consumo de frutas, vegetais, carboidratos simples (açúcar), ingesta

de água e refrigerantes.

No segundo momento, foram realizadas as atividades propostas na unidade

didática, em que os sujeitos envolvidos na pesquisa tiveram a oportunidade de ampliar

seus conhecimentos, analisar e comparar hábitos adquiridos, bem como, doenças

causadas pela alimentação desregrada.

No terceiro momento, os sujeitos escreveram uma síntese, relatando seus

conhecimentos adquiridos e mudanças que ocorreram acerca da reconstrução do

conhecimento.

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O tipo de abordagem desse projeto é de pesquisa quantitativo­qualitativa.

Segundo Flick (2009) a pesquisa e os métodos quantitativos são considerados o

primeiro e a pesquisa qualitativa, o segundo movimento objetivando o levantamento de

dados e interpretação dos mesmos fornecendo subsídios na tentativa de buscar

sensibilização ao problema da má alimentação e consumo excessivo de açúcar. A

coleta de dados através do questionário serviu como base para verificar os hábitos

alimentares dos educandos, se há uma ingesta excessiva de açúcar e se a mídia pode

influenciar nesse processo de alimentação. “Como se trata de adolescentes envolvidos

na pesquisa é necessário que pais ou responsáveis deem o seu consentimento para

que se possa entrevistá­los” (FLICK, 2009, p.55).

O estudo de caso tem por objetivo trazer uma visão da realidade, com base na

discussão, análise e busca de solução do problema em questão. Para Gil:

[...] o estudo de caso é muito frequente na pesquisa social, devido à sua relativa simplicidade e economia, já que pode ser realizado por único investigador, ou por um grupo pequeno e não requer a aplicação de técnicas de massa para coleta de dados, como ocorre nos levantamentos. A maior utilidade do estudo de caso é verificada nas pesquisas exploratórias. Por sua flexibilidade, é recomendável nas fases de uma investigação sobre temas complexos, para a construção de hipóteses ou reformulação do problema. Também se aplica com pertinência nas situações em que o objeto de estudo já é suficientemente conhecido a ponto de ser enquadrado em determinado tipo ideal (GIL, 2002, p. 140).

Na elaboração do questionário, foram utilizadas questões de múltipla escolha e

também questões abertas, para obter informações para análise, tabulação e posterior

intervenção na sala de aula. O questionário é uma técnica de pesquisa muito utilizada e

importante nas atividades científicas e humanas por dar liberdade de respostas. E

ainda, com vantagem de permitir captação imediata e corrente da informação desejada.

Já a observação deve ser planejada cuidadosamente e com antecedência para se

definir o que quer observar (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). Participaram da pesquisa 78

educandos (A1­A78) do sétimo ano, período vespertino do Colégio Estadual Padre

Carmelo Perrone, no município de Cascavel, Paraná. Foram coletados dados em três

turmas: A, B e C, com questões referentes aos hábitos alimentares dos educandos,

sobre suas atividades diárias e consumo de alimentos industrializados e açucarados.

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3 Resultados e discussões

3.1 Primeiro momento ­ Questionário

Com relação à prática de hábitos alimentares saudáveis, analisando as

respostas emitidas à primeira questão, montou­se a Figura 1:

Figura 1 – Prática de hábitos saudáveis. Fonte: Dados do pesquisador, 2014.

Dos participantes, 45 disseram que sim, que possuem hábitos saudáveis e 33

apontaram não possuir tais hábitos. Porém, notou­se, em decorrência da resposta à

segunda questão, que os educandos não possuíam a exata noção do que era ter

“hábito saudável”. Nesta, perguntou­se se costumam comer frutas nos intervalos das

refeições ­ café e almoço. Dos alunos, 54 disseram que não consomem frutas

habitualmente e 24 disseram que sim, consomem frutas nos intervalos das refeições,

de acordo com a Figura 2. Pode–se observar que apesar de, na questão 1, julgarem ter

hábitos saudáveis, a maioria afirma não consumir frutas nos intervalos das refeições.

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Figura 2 – Ingesta de frutas durante os intervalos das refeições.

Fonte: Dados do pesquisador, 2014.

Na terceira questão foi perguntado a respeito dos refrigerantes durante as

refeições (Figura 3). Da amostra investigada, 40 afirmaram que não costumam beber

refrigerante durante as refeições e 38 responderam que suas refeições são

acompanhadas de refrigerantes todos os dias.

Figura 3 ­ Refeições são acompanhadas de refrigerante.

Fonte: Dados do pesquisador, 2014.

Foi, em seguida, perguntado se costumavam beber água durante o dia e qual a

quantidade. Conforme mostra a Figura 4, dos participantes, 4 afirmaram não beber

água, 14 bebem apenas 2 copos ao dia, 26 ingerem 4 copos ao dia e apenas 34 dizem

consumir 8 copos de água diariamente. Muitos não demonstraram reconhecer a

importância da ingesta de água para o bom funcionamento do organismo.

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Figura 4 – Consumo de água.

Fonte: Dados do pesquisador, 2014.

Prosseguindo com as perguntas, foi então questionado se os participantes

consumiam diariamente pirulitos, balas e chicletes. Dos alunos, 50 admitiram consumir

doces diariamente e 28, afirmaram que consomem com moderação, conforme

representado na Figura 5.

Figura 5 – Consumo diário de pirulitos, balas e chicletes.

Fonte: Dados do pesquisador, 2014.

Diante disso, pode­se verificar que a ingestão de açúcar é constante entre a

maioria dos participantes da pesquisa. Ao perguntar a respeito do tempo diário que

passam assistindo TV ou usando o computador, conforme exposto na Figura 6, as

respostas ficaram assim: 16 responderam 2 horas, 12 passam de 2 a 4 horas e 50

afirmaram passar mais de 4 horas.

Surpreendentemente, a grande maioria passa mais de 4 horas sentada,

jogando, navegando em redes sociais ou assistindo televisão, completamente

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sedentária.

Figura 6: Tempo diário vendo TV ou no computador. Fonte: Dados do pesquisador, 2014.

Quanto à observação do rótulo dos alimentos que consome, 58 afirmaram nem

ligar para as informações do rótulo, 8 olham algumas vezes e 12 assumiram que

observam, mas apenas a data de validade, não dando importância aos valores

nutricionais.

Figura 7­ Análise de rótulos dos alimentos que consome. Fonte: Dados do pesquisador, 2014.

A partir da aplicação do questionário, observou­se a necessidade da realização

de um projeto voltado para a tomada de consciência, pois os alunos, na sua maioria,

não apresentavam real entendimento sobre o que era alimentação saudável e hábitos

adequados. Assim, percebendo­se a necessidade e o também interesse da turma, foi

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explicado cada item proposto no questionário de observação e a relação com doenças

que pode ser desenvolvida a partir dos maus hábitos alimentares. Notou­se que os

mesmos demonstravam algum conhecimento sobre o assunto e interesse em aprender

mais. Alguns até citaram exemplos de familiares com diabetes, pressão alta, entre

outras doenças, porém, não haviam relacionado esses problemas com a questão

alimentar.

3.2 Segundo momento – O desenvolvimento da unidade didática

No segundo momento, foram aplicadas atividades de pesquisa, leitura, práticas

entre outras, oportunizando­se a construção do conhecimento por meio do

desenvolvimento de cada atividade.

Os educandos demonstraram bastante interesse, principalmente na palestra

com nutricionistas e nas atividades práticas com rótulos. Após entenderem o que deve

conter de informação nutricional nos rótulos, ficaram espantados com a quantidade de

carboidratos simples como açúcares, gorduras e sódio que a maioria dos alimentos que

são consumidos em suas casas contém.

Ao estudar sobre os grupos alimentares e saber que todos devem fazer parte

da alimentação levou para casa uma tabela, onde anotaram suas refeições diárias por

uma semana, com a intenção de fiscalizar os hábitos pessoais e também da família. Ao

retornarem com as anotações, foram feitas análises das refeições diárias e foi sugerido

que propusessem mudanças, partindo­se do que cada um aprendeu e julgou

necessário para aquele momento, pois verificaram que não tinham hábitos saudáveis

como a maioria afirmou no início da pesquisa.

A partir da análise que realizaram, perceberam que precisavam alertar os pais

e participar das escolhas dos alimentos a serem adquiridos e dos cardápios da família.

Questionaram também o lanche distribuído no colégio, por ser, em grande parte,

industrializado (empacotados e enlatados). O lanche vendido na cantina, apesar de ser

assado, continha grande quantidade de bacon e o suco não era natural.

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Com os conhecimentos até então reconstruídos, deu­se início a produção de

paródias e histórias em quadrinhos com o objetivo de divulgar informações e

desenvolver a consciência entre os colegas que não estavam fazendo parte do projeto.

Os educandos se envolveram de tal forma que já estavam cobrando atitudes de seus

familiares e colegas ressaltando também a importância da prática de atividade física e

redução do tempo no computador e televisão.

3.3 Terceiro momento – Partilhando experiências

No terceiro momento, foi solicitado aos educandos que fizessem uma síntese,

descrevendo seus hábitos antes de participarem do projeto e depois de conhecerem

mais sobre alimentação e hábitos saudáveis, especificando o que de fato mudou em

sua rotina alimentar.

Dentre as colocações dos alunos, vale destacar os enunciados de A11, A23,

A37, A42, A69, que denotam a mudança de atitude em relação à sua prática alimentar:

Estou acordando mais cedo e tomando café da manhã, comendo menos doces e até almoçando no horário certo. (A11) Hoje eu até como frutas e um pouco de legume e verdura e manero no açúcar. (A23) Estou olhando o rótulo dos alimentos sempre que compro algo. Acho que essa pesquisa que participei mudou a minha saúde para melhor e pretendo seguir essas dicas para sempre. (A37) Eu era bem gordinho e agora já emagreci 5 Kg, troquei o refrigerante por sucos naturais, estou comendo legumes, verduras e frutas e praticando atividade física, diminui os carboidratos e minha família também está mais saudável. (A42) Agora vou dormir mais cedo. Acordo e tomo café da manhã, almoço e janto, não faço mais jejum porque depois que descobri que o que eu fazia era errado mudei minha alimentação para melhor. (A69) Antes estudar esse conteúdo eu tomava “coca cola” todos os dias. Agora troquei por água. (A7) Não fazia atividade física, agora jogo bola com meu primo e parei de ficar no computador. (A73) Eu tomava pouca água, comia muita porcaria e ficava acordada até tarde. Hoje estou tomando mais água, dormindo mais cedo e comendo frutas. (A9); Comecei a beber mais água e também a comer mais, quase nunca almoçava, agora almoço umas 3 vezes por semana. (A58) Eu não me importava se tinha sódio, se tinha proteína ou não, ou seja, não me importava com o que comia. Eu também não tomava água. Agora estou me cuidando mais, comendo melhor tomando mais água e não estou pulando

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nenhuma refeição. (A8)

Ao analisar os enunciados percebe­se a disseminação das informações para

outras pessoas, como familiares:

Avisei aos meus pais que a boa alimentação não é só de frutas e verduras é comer um pouco de cada coisa e tomar bastante água. (A27) Algumas coisas eu não mudei, mas a alimentação mudou bastante. Minha mãe está fazendo comida com menos gordura e eu comendo menos bolacha doce. (A13) Estou tentando passar para minha família o que aprendi. (A65) Claro que todos gostam de doces, balas, guloseimas e eu também como. Mas eu evito comer muito. (A50) Comia muito doce, mas aprendi que muito açúcar pode causar diabete e mudei o jeito de comer, estou comendo frutas. (A16)

Destacaram­se nas falas também que houve reconstrução do conhecimento

acerca da alimentação saudável, como nos exemplos de enunciados apresentados na

sequência.

Aprendi que alimentação saudável não é só comer frutas e verduras, mas comer um pouco de tudo para nos dar energia, e evitar alimentos gordurosos que em excesso são prejudiciais. (A33) Aprendi que alimentos industrializados, sal e açúcar em excesso fazem mal. (A18) Depois da palestra percebi que realmente doces em excesso podem prejudicar muita coisa, como os dentes. (A19)

A síntese final foi de suma importância para os educandos participantes da

pesquisa, pois puderam expressar o que aprenderam e demonstrar os “erros

alimentares” que vinham cometendo, assim como, seus familiares, reconstruindo um

novo conceito sobre a maneira saudável de se alimentar.

4 Considerações finais e discussão dos resultados

Pela presente pesquisa foi possível perceber, no primeiro momento, que não

somente o consumo excessivo de açúcar é preocupante, mas também a forma

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inadequada, completamente desregrada de se alimentar. Muitos dormem e acordam

tarde, não fazem dejejum, “pulando” a principal refeição do dia. Consomem poucas

frutas e, como passam muito tempo em frente ao computador e/ou televisão, optam

pelo mais prático: biscoitos doces, salgadinhos e refrigerantes. Podemos observar que

o consumo excessivo de refrigerantes em substituição a água é bastante preocupante

e que toda a família compartilha tal prática. Para Gambardella (1999, p.56), “a família é

a primeira instituição que tem ação sobre os hábitos do indivíduo. É responsável pela

compra e preparo dos alimentos em casa, transmitindo seus hábitos alimentares às

crianças”.

A partir do segundo momento do trabalho, com o desenvolvimento das

atividades, propostas na unidade didática, pesquisas e palestras, começaram a

perceber uma preocupação maior com relação ao que consumiam. Reduziram a

quantidade de balas durante o período da tarde e, na etapa final, houve relatos de

mudanças de atitudes, nas quais, percebeu­se que a reconstrução do conhecimento

aconteceu de forma gradativa. A aplicação desse projeto teve a participação efetiva

dos educandos e interesse em todas as atividades desenvolvidas e a metodologia de

Ilha de Racionalidade foi importante para a construção do conhecimento a cada etapa

desenvolvida.

Ressaltando a importância da família no processo de desenvolvimento de

hábitos alimentares saudáveis, Moura afirma que:

A família é responsável pela formação do comportamento alimentar da criança por meio da aprendizagem social, tendo os pais o papel de primeiros educadores nutricionais. O contexto social adquire um papel preponderante no processo de aprendizagem, principalmente nas estratégias que os pais utilizam para a criança alimentar­se ou para aprender a comer alimentos específicos. Estas estratégias podem apresentar estímulos tanto adequados quanto inadequados na definição das preferências alimentares da criança. (MOURA, 2010, p.120).

Neste sentido, faz­se necessário que se dê continuidade em casa ao trabalho

iniciado na escola, pois os pais são fundamentais no desenvolvimento dos hábitos

alimentares dos seus filhos e que apesar de a escola estar informando e alertando para

que os educandos participem das escolhas dos alimentos, quem prepara e oferece os

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alimentos desde cedo são os pais. Mesmo assim, muitos deixaram claro que estão

“puxando a orelha” dos pais e disseminando o que aprenderam.

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