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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7Cadernos PDE
II
- PARANÁ
GOVERNO DO ESTADO
FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO DA
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
Titulo: Usos políticos da memória e usos públicos da História: monumentos e a aprendizagem histórica de jovens do Ensino Médio
Autor: Alecsandro Danelon Vieira
Disciplina/Área: História
Escola de implementação do Projeto e sua localização:
Colégio Estadual São Cristóvão-Ensino fundamental, médio e profissionalizante. Rua: Paulo Scherner, 380- Vila Palmira.
Município da escola: São José dos Pinhais
NRE: Área metropolitana sul
Professor orientador: Maria Auxiliadora Schmidt
Instit.de Ensino Superior Universidade Federal do Paraná
Relação interdisciplinar:
Resumo: O trabalho apresenta investigação realizada na perspectiva da Educação Histórica e do Programa de Desenvolvimento Educacional-PDE, com o intuito de utilizar monumentos, nas aulas de História, possibilitando o Aprendizado Histórico de jovens do Ensino Médio. O objetivo é mostrar como ocorrem os usos políticos da memória e os usos públicos da História partindo da análise de monumentos no entorno do colégio, na cidade e região, como fontes históricas; permitindo a apropriação de ideias históricas. Os monumentos possibilitam uma interpretação histórica estetizada, representando na maioria das vezes, uma visão etnocêntrica que reclama a memória de grupos que são invisibilizados e que necessitam ter suas histórias narradas, como superação de traumas históricos acumulados por gerações. O estudo aprofunda ideias de homenagem, simbolização e comemoração presentes nos monumentos, sob a ótica da Educação Histórica, evidenciando como o passado se relaciona com o presente, perspectivando o futuro e apresentado por narrativas históricas.
Palavras-chave: Monumentos; Usos políticos da memória; Usos públicos
da história; Aprendizagem Histórica; Educação Histórica.
Formato do Material Didático
Unidade Didática
Público Alvo
Estudantes do 2º ano do Ensino Médio
1- APRESENTAÇÃO
A proposta da Produção Didático Pedagógica está vinculada ao Programa de
Desenvolvimento Educacional- PDE. O trabalho está fundamentado na linha de
pesquisa da Educação Histórica, a qual tem por objetivo o ensino e aprendizagem
dos jovens estudantes, com sentido e significado na relação presente-passado e
futuro. A finalidade desta proposta é possibilitar o debate sobre os usos públicos da
História e usos políticos da memória. O intuito é a análise de monumentos no
entorno escola, do município e região, trazendo a contribuição destes monumentos
para as aulas de história. Quando se fala em monumento e remete-se a documento,
poderíamos recorrer ao autor Le Goff (2003), para uma compreensão mais exata
acerca destes termos. Segundo este autor, os monumentos podem ser vistos como
documentos. Os monumentos se reportam à memória, devendo ser realizadas as
perguntas a ele, a fim de que sejam evidenciadas como este monumento, pode se
tornar um instrumento de poder e quais as formas de sua perpetuação. Aí, tem-se o
monumento como documento, que pode ser narrado pela história, cabendo ao
historiador selecionar e transformá-lo em documento. Neste sentido, os
monumentos podem ser importantes fontes históricas que contribuem com os
aspectos cognitivos do ensino de história, para a formação da consciência histórica
de jovens.
Para verificar se existem carências de orientação temporal na aprendizagem
histórica dos jovens estudantes, acerca dos monumentos, levantou-se a seguinte
problemática: de que forma ocorre a aprendizagem histórica dos estudantes sobre
os usos públicos da História e dos usos políticos da memória a partir dos
monumentos?
Com a intenção de investigar esta questão inicial, defini como objetivo geral
para este trabalho:
_ Pesquisar a relação entre monumentos e aprendizagem de jovens tendo como
base o debate de usos públicos da História e usos políticos da memória.
A fim de começar a averiguar e examinar o uso do monumento com os
estudantes elenquei alguns objetivos específicos para esta pesquisa:
_ Investigar a relação entre o trabalho com monumentos e aprendizagem histórica
dos jovens.
_ Compreender a formação histórica dos jovens.
_ Debater os usos públicos da História e usos políticos da memória na criação e
contribuição dos monumentos.
_ Relacionar os usos públicos da História e usos políticos da memória com a
aprendizagem histórica.
Com a finalidade de organizar a pesquisa e o material para a construção da
Unidade Didática e posteriormente sua implementação, resolvi escolher como
público alvo, os jovens estudantes do 2º ano do Ensino Médio. A proposta poderá
ser aplicada com qualquer turma, uma vez que contempla uma metodologia
específica para o uso do monumento.
2- MATERIAL DIDÁTICO E SUA CONSTRUÇÃO
O primeiro momento consistiu em uma pesquisa sobre a utilização dos
monumentos como fonte histórica. Os autores utilizados são: Le Goff, Rüsen,
Schmidt, Cainelli, Peter Lee, Ashby e Barca, por tratar-se de referências nesta área
de estudo. A análise e fundamentação teórica auxiliaram a construção e aplicação
de um questionário para verificação de conhecimentos prévios de estudantes do 2º
ano do Ensino Médio, sobre o que entendem por monumentos, em Colégio da
região metropolitana de Curitiba. Os resultados desta análise a aplicação serão
mostrados no decorrer deste trabalho.
O segundo momento contou com a categorização das respostas do
questionário que os alunos participaram. O referido questionário apresentava cinco
questões básicas, nas quais, os estudantes deveriam expor respostas que tratavam
do monumento como: conhecimento, exemplos de monumentos na localidade,
histórias sobre os monumentos e justificativa sobre a possibilidade de se estudar
história por meio dos monumentos de sua cidade ou região.
A partir das respostas, o próximo passo foi procurar monumentos e contextos
históricos que possibilitassem evidenciar os usos públicos da história e usos
políticos da memória. Também foi escolhido um documento relacionado a um dos
monumentos da cidade referente ao conteúdo substantivo imigração: “Carta de
imigrantes poloneses ao prefeito da época” (São José dos Pinhais/PR); sobre as
péssimas condições das vias de acesso a colônia em que esses imigrantes
encontravam-se trabalhando.
Na sequência foram fotografados alguns monumentos da cidade e região,
separando-os por categorias de análise como: homenagem, comemoração e
simbolização. Essas categorias de análise permitem aprofundar reflexões sobre os
usos públicos da história e uso político da memória, por meio de atividades
elaboradas para os estudantes, levando em consideração suas carências de
orientação temporal. Como o trabalho foi desenvolvido para ser aplicado a
estudantes do ensino médio, por meio do PDE, demanda que este seja lido pelos
professores e colaboradores no GTR-Grupo de trabalho em rede, ofertado pela
SEED_PR, com a finalidade de formação continuada aos professores da rede
pública estadual. Então, acabei separando para o professor alguns instrumentos de
investigação e observações que possibilitam a coleta de dados e informações sobre
a Aprendizagem Histórica dos jovens, que após sua interpretação e categorização
serão utilizados como parte do artigo final. Os procedimentos a seguir, revelam os
passos e os resultados alcançados em cada etapa do processo.
2.1- CONHECIMENTOS PRÉVIOS DOS JOVENS ESTUDANTES
O primeiro contato com os estudantes, foi a partir de uma aplicação de
questionário investigativo, com o intuito de conhecer as ideias prévias dos jovens
estudantes sobre os monumentos. Este procedimento baseou-se em trabalho
desenvolvido pela pesquisadora e Drª Isabel Barca, da Universidade do Minho em
Portugal, denominado como aula-oficina. O instrumento para o estudo exploratório
foi aplicado a uma turma de vinte estudantes do 2º ano do Ensino Médio, para
verificar os conteúdos substantivos relacionados aos monumentos. Por conteúdos
substantivos podem-se entender aqueles relacionados aos conteúdos da história,
como por exemplo: Revolução Francesa, Nazismo, Independência do Brasil, etc.
Foram realizadas cinco perguntas: o que entendiam sobre monumentos, se
conheciam a história ou fato ligado a estas fontes monumentais e quais dos
monumentos presentes no município, região, estado ou do país tinham
conhecimento. Foi aplicado um questionário com as seguintes perguntas:
QUESTIONÁRIO
a) O que você entende por monumento?
b) Se você conhece algum monumento, cite exemplos e por que você considera que
eles são monumentos?
c) Existem monumentos no município que você mora? Quantos?
d) Você conhece a história de algum monumento? Saberia contar o porquê de sua
criação?
e) Você acredita que é possível estudar a História a partir de um monumento ou
não? Justifique sua resposta.
Sobre a primeira questão, das vinte respostas obtidas, o resultado encontra-se na
tabela abaixo:
O que você entende por monumentos?
Número de
Estudantes
Respostas dadas pelos estudantes
8
São construções, prédios ou estruturas construídas, que podem
ser antigas ou modernas, que não pode ser destruídas e que são
criadas para homenagear, simbolizar ou comemorar grandes
propósitos ou ideias, possuindo significados e um porquê de sua
existência e história; geralmente conhecido por toda a população.
7
São esculturas, quadro, obras antigas, estátuas, uma criação do
homem, uma arte, espaço com memórias e coisas antigas
capazes de contar sua própria história, para; homenagear
determinada pessoa, algo que possui valor histórico, que
representa a história dos povos ou que o homem fez de diferente
para o mundo, personagens de grande importância no decorrer da
História e uma cultura do passado.
5
São representações: de uma pessoa, imagem em estado sólido,
um símbolo representativo ou algo histórico referente à
homenagem ou a memória de algo histórico, feito marcante de
uma pessoa que foi homenageada, imagem histórica marcada de
geração em geração, algo ligado à história.
Total Palavras de maior recorrência nas respostas
20
Homenagem, comemoração, simbolização, propósito, memória,
conhecimento, valor histórico, expressão, ideias e representação.
Quanto à segunda pergunta, por parte dos jovens obteve-se as seguintes
respostas:
Se você conhece algum monumento, cite exemplos e por que você considera
que eles são monumentos?
Estudantes Respostas
6 São catedrais, praças, lugares, pois lembra nome de pessoas, culto
a um “Ser supremo” e história de um povo.
1 Museu, pois guardam coisas antigas que servem para o estudo da
História.
1 A estátua de “Carlos Drummond de Andrade” no Rio de Janeiro e a
praça do “Homem Nu” em Curitiba.
1 O “Portal de São José dos Pinhais” e a “Casa Japonesa” devido à
homenagem aos japoneses.
3 O “Cristo Redentor” no Rio de Janeiro por ser um marco da cidade.
1 A “Estátua da Liberdade” dos EUA, por guardar valor histórico.
4 As “Pirâmides”, por serem túmulos que guardam a história de um
povo e por ser uma estrutura que já não se usa mais.
1 Praças de Curitiba como: Tiradentes, Osório, Carlos Gomes e Rui
Barbosa.
2 Não souberam dizer os nomes, mas apontaram que os
monumentos guardam a história local e são pontos de referência.
Total Palavras de maior recorrência nas respostas
20 Catedrais, praças, lugares, museu, estátua, portal, pirâmides.
No tocante à terceira pergunta, obtiveram-se as seguintes respostas:
Existem monumentos no município que você mora? Quantos?
Estudantes Respostas
3 As catedrais: de Curitiba/PR e de São José dos Pinhais
(região metropolitana de Curitiba).
14 Não souberam dizer o nome dos monumentos, porém afirmam que
eles existem, mas não sabem ao certo quantos há.
3 Os portais de São José dos Pinhais/PR e mural da praça do “Verbo
Divino” situado no mesmo município.
Total Palavras de maior recorrência nas respostas
20 Catedrais (Curitiba, São José dos Pinhais e região metropolitana),
portais de São José dos Pinhais e mural da praça do Verbo Divino.
Quanto à quarta pergunta, as respostas foram as seguintes:
Você conhece a história de algum monumento? Saberia contar o porquê de
sua criação?
Estudantes Respostas
15 Não souberam responder.
4 A história das pirâmides.
1 O acervo do museu municipal.
Total Palavras de maior recorrência nas respostas
20 Pirâmides e acervo do museu municipal.
Em relação à quinta pergunta, segue o quadro abaixo:
Você acredita que é possível estudar a História a partir de um
monumento ou não? Justifique sua resposta.
Estudantes Respostas
20 Foram unânimes, ou seja, afirmam ser possível aprender história
partindo do estudo de monumentos.
Das respostas dadas pelos estudantes, quanto à primeira pergunta do
questionário, descrevo abaixo os principais argumentos que contribuem com a
pesquisa sob a forma de conhecimentos prévios, revelando os três principais pontos
de investigação sobre o tema monumento, ressaltando-o como: homenagem, símbolo
e comemoração. A identidade dos jovens que participaram do questionário foi
preservada para fins de pesquisa, utilizando-se desta forma de pseudônimos para
classificá-los. A seguir apresento as respostas dos jovens no quadro abaixo:
ESTUDANTE HOMENAGEM
Juvenal Como representação de homenagem e em
memória a algo histórico.
Josefina Obras criadas para relatar algum fato
histórico muito importante, e para
homenagear determinada pessoa por seus
feitos.
Jorgina Um monumento é uma grande construção,
uma obra criada por um artista muito
talentoso, para homenagear ou expressão
de alguma ideia. (...) Ainda pouco foi criado
uma obra de homenagem à cultura
japonesa, quem for conhecer provavelmente
irá aprender algo sobre o Japão lá.
ESTUDANTE HOMENAGEM
Gertrudes Monumentos são grandes construções
públicas, ou não, podendo ser antigas ou
modernas e que, normalmente, são criados
com um grande propósito. (...) Os principais
lugares que me vem à mente quando o
assunto é monumento são as catedrais
mundo a fora e os lugares criados para
homenagear, ou servir algum ser supremo.
Geórgia Monumento é um feito que, quando uma
pessoa na sua época fez um grande ato
para a sociedade e para seu país ou cidade,
fica marcada na história e com passar dos
anos, é feito um monumento em
homenagem a esta pessoa.(...) Se um
monumento foi feito, claro que deve existir
história sobre a pessoa homenageada,
vários papéis, e até mesmo pessoas ainda
vivas que lembraram e testemunharam este
dia, hoje, velhos.
Germano A maioria dos monumentos, se não todos,
carregam a história de vitória ou derrota, e
são homenageados, ficando marcados
como monumentos históricos.
ALUNO SÍMBOLO – COMEMORAÇÃO
Margarida Um símbolo representativo.
Madalena É uma estrutura construída por motivos
simbólicos ou comemorativos.
É possível verificar nas tabelas que a carência de orientação apresentada
pelos estudantes em relação aos monumentos são de três naturezas: Homenagem,
Comemoração e Simbolização. Isto demonstra que a partir daí é que o professor
deverá trabalhar o uso público da história e o uso político da memória.
2.2- USOS PÚBLICOS DA HISTÓRIA E USOS POLÍTICOS DA MEMÓRIA
Muitos dos monumentos estudados privilegiavam a memória de alguns
grupos em detrimento de outros, como exemplo: o parque Tingui, que o nome
refere-se a uma tribo indígena, porém não faz alusão à memória indígena ao
percorrer este espaço, mas apresenta o Memorial Ucraniano em homenagem a
cultura europeia, tanto na organização espacial do parque quanto em suas
edificações. Esta é uma característica etnocêntrica dominante na cidade e região.
O que ocorre em Curitiba e região é um reflexo do que se percebe também no
restante do país, pois a historiografia do século XIX, que gestou os usos públicos na
história brasileira, criou formas para legitimar os governos do Brasil: Colônia, Império
e República. Desta forma, atribuindo notoriedade a alguns personagens e grupos,
exaltando seus feitos heroicos e memorização de seus atos, são criadas
homenagens, comemorações e símbolos, para perpetuar suas memórias.
Como exemplos, temos: uso do calendário cívico perpetuando o uso político
da memória; a mudança de nomes de praças (em Curitiba, a praça que se chamava
D. Pedro I no período Imperial é denominada praça Tiradentes após a Proclamação
da República, para exaltar o herói que lutou pela independência). A derrubada de
símbolos que representavam a antiga ordem estabelecida, como ocorreu também
em Curitiba após a Independência do Brasil, momento em que o Pelourinho que
representava o poder de Portugal, foi derrubado por populares que eram favoráveis
à nova Monarquia, entre outros fatos.
Nas fotos dos monumentos que simbolizam fatos ou feitos percebemos
elementos de estratégia política da memória que revelam vestígios do passado no
presente, perspectivando o futuro. Fazer as devidas perguntas com o intuito de
perceber quais são as negações de sentido histórico e quais grupos históricos têm
suas memórias invisibilizadas constituem a forma de superar traumas históricos.
Contudo, devemos ter a atitude de narrar a história de sujeitos que também
contribuíram com a construção deste país, para escrevermos uma história mais
justa, com menos preconceitos, para diminuir os recalques geracionais históricos.
Desta forma, narrar é conferir visibilidade a muitas camadas sociais que tiveram
suas vozes caladas, melhorando a autonomia de seus descendentes de se
representarem histórica e esteticamente pela cultura histórica. Neste sentido, se a
cultura histórica pode ser narrada, conferindo visibilidade, ela conduz sempre a uma
aprendizagem histórica.
2.3- AS NARRATIVAS HISTÓRICAS E A APRENDIZAGEM HISTÓRICA
A aprendizagem histórica decorre quando há significado e sentido para o
estudante. E por meio dela que a consciência histórica se expressa, como algo que
é imanente ao sujeito que vive em sociedade, imerso em uma cultura histórica,
formando a sua identidade histórica. O educando ao chegar à escola traz consigo
esta consciência histórica, que já começou a ser formada em espaços diferentes do
meio escolar como: na família, comunidade, bairro, e outras instituições. Isto confere
dizer, que o ser humano traz consigo informações e conhecimentos advindos de sua
relação com o mundo, expressos de várias maneiras que se constituem em
conceitos históricos.
Os conceitos históricos, seguindo esta lógica, são formados nas pessoas a
partir das carências de orientação temporal em busca de um sentido histórico. A ida
ao passado é orientada pelo sentido de responder tais carências, gerando um
movimento de ir até a ciência histórica e depois retorna a vida prática do sujeito com
respostas para sanar tais carências. Desta forma, o passado torna-se presente,
transformando-se em História, como afirma Rüsen em sua teoria. Mas, qual é o
sentido do passado?
Conferir sentido ao passado é narrá-lo, ou seja, é ir além da experiência,
partindo da subjetividade e intersubjetividade rumo a critérios mais objetivos. Desta
forma, é possível narrar a História como busca de um passado com veracidade.
Contudo, é necessário ir além da experiência do sujeito, matizando a experiência
histórica com plausibilidade, utilizando critérios racionais, menos ficcionais e
preconceitos ao narrar o passado. A inter-relação entre a narrativa histórica,
memória e consciência histórica, permite ao narrar, o pensamento sobre si mesmo e
sobre o outro no tempo.
Neste sentido, a interpretação cultural do tempo se dá pelo ato de narrar. Esta
prática é antropologicamente universal, ou seja, está presente na cultura humana e
acessa o uso da memória e identidade histórica dos múltiplos sujeitos. Isto é, o
sujeito aprende História quando aprende a narrar historicamente. Segundo Peter
Lee, quando se narra, usa-se “os melhores argumentos em relação ao passado”
cuidando para que este não seja “adulterado”. Esta forma de abordar o passado
qualitativamente não significa confiná-lo à racionalidade histórica, mas ao contrário,
permite respostas multiperspectivadas em relação ao presente gerando perspectivas
de futuro.
A narrativa fundamenta-se em evidências, para ter em si critérios de
fundamentabilidade, por meio da pertinência empírica. Não é no senso comum e na
tradição, mas na busca da plausibilidade dos melhores argumentos históricos.
Lembrando que, só a constituição de sentido histórico não é suficiente à narrativa
histórica, porque narrar de forma complexa além da plausibilidade, necessita da
criticidade também. Estes três elementos: plausibilidade, fundamentabilidade e
criticidade têm que ser pertinentes e articulados com a argumentação racional, em
relação ao movimento temporal, garantindo a constituição de racionalidade e de auto
entendimento no sujeito, gerando os componentes necessários para a
aprendizagem histórica.
A aprendizagem histórica ocorre quando o estudante apresenta na narrativa
uma constituição de sentido e percepção quanto à contingência e pertinência
empírica de aprender a interpretar a mudança no tempo. Como exemplo, na fonte
monumental, o estudante pode extrair da interpretação da fonte a orientação
temporal para o seu agir, isto é, partindo dos elementos de plausibilidade, criticidade
e fundamentabilidade, voltando-se para a percepção e constituição de sentido
histórico.
Este movimento que parte da investigação dos conhecimentos prévios dos
jovens e que vai até a ciência da História, conta com três pontos: método empírico,
formas de representações estéticas e produção de narrativas. Quanto à utilização
dos monumentos como representação estética do passado, na maioria das vezes,
são utilizados como uso público da História, ou como uso político da memória. Tanto
em um caso, como no outro, o interesse é percorrer o caminho da cultura histórica,
buscando na ciência da História, estímulos que levem os estudantes ao
desvelamento do mundo, criando condições para que seja feita a catarse da prática
social, apropriando-se da função narrativa e da “leitura histórica do mundo” ou
“literacia histórica” como designado por Peter Lee.
Como forma de aplicação do monumento, sugiro as
atividades que serão realizadas inicialmente para o professor se
fundamentar e posteriormente para o público alvo- os jovens
estudantes do Ensino Médio.
UMA FORMA DE LEITURA E INTERPRETAÇÃO A PARTIR DOS
MONUMENTOS- USO PÚBLICO DA HISTÓRIA E USO POLÍTICO DA MEMÓRIA
Professor, agora é a sua vez de iniciar um trabalho com monumentos. Leia os
procedimentos e mãos à obra.
ATIVIDADE PARA O PROFESSOR:
AULA VISITA A MONUMENTOS
1) Antes da visita aos monumentos, os jovens devem ser instruídos sobre: os
objetivos da verificação (quais elementos deverão ser observados in loco); o que são
monumentos; as regras, como exemplo, não tocar ou causar danos ao patrimônio;
elaborar um roteiro de visita com fotos e filmagens digitais, desde a saída até o
trajeto de volta, da visita mediada pelo professor. Sugestão: utilizar a Entrevista
Questionário Estruturado, que se encontra abaixo, adaptando a sua realidade
escolar.
2) Durante a visita, os jovens deverão constatar nos monumentos questões
provocadoras, bem como experimentar o passado no presente, levantando hipóteses
e interpretações. Quais questões os jovens podem enfocar ao se deparar com um
monumento?
3) De volta à escola, discuta os resultados da visita, construindo narrativas históricas
com os estudantes em forma de história em quadrinhos, paródias, teatro ou outra
estratégia que venha sendo aplicada e trabalhada com os jovens nas aulas. Não se
esquecer de expor os resultados das narrativas e do material digital colhido durante a
visitação em: painéis, e outros meios, para que todos tenham acesso.
(ADAPTADO, SCHMIDT E CAINELLI - AULA VISITA A MUSEUS, ENSINAR
HISTÓRIA, pp.157,158).
Como sugestão ao professor para viabilizar a coleta de
informações sobre os monumentos, abaixo se encontra um
modelo de entrevista oral estruturada que permite um estudo
mais aprofundado sobre o monumento escolhido, podendo
ser adaptado à sua realidade escolar.
FICHA DE ENTREVISTA ESTRUTURADA: MONUMENTO EM HOMENAGEM AO
PADRE PEDRO FUSS
Nome do entrevistado:
Data do nascimento:
Lugar onde mora:
Profissão:
Autorização para publicação das informações: sim ( ) não ( )
Data da entrevista:
Registro do texto:
1) Que motivos trouxeram Padre Pedro Fuss para a comunidade?
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2) Qual sua opinião sobre a educação?
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3) Quais foram suas contribuições para o município de São José dos Pinhais?
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4) Como seria o bairro hoje sem a presença do Padre Pedro Fuss?
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5) A comunidade pediu a homenagem ao Padre ou ela foi feita de maneira aleatória
por parte das autoridades municipais? Exponha seu ponto de vista.
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Tema: Usos públicos da histórica e usos políticos da memória: monumentos e a
aprendizagem de jovens estudantes do Ensino Médio
Público-alvo: Antigos moradores e profissionais residentes na localidade
Roteiro de entrevista: Escola Municipal Padre Pedro Fuss, Igreja São Cristóvão,
comércio local e Colégio São Cristóvão.
Nome do entrevistador:
Local da entrevista:
MONUMENTO DE HOMENAGEM
Prezado estudante, observe as fotos abaixo, elas mostram um monumento de
homenagem. Você saberia dizer quem é o homenageado e por quê?
Foto 1- Memorial Padre. Pedro Fuss
Fonte: VIEIRA, Alecsandro.D.,2014
Para Le Goff,
A palavra latina monumentum remete à raiz indo-europeia men, que exprime uma das funções essências do espírito (mens), a memória (memini). O verbo monere significa “fazer recordar”, de onde “avisar”, “iluminar”, “instruir”. O monumentum é um sinal do Passado ( LE GOFF, p 526).
Foto 2- Memorial Padre Pedro Fuss
Fonte: VIEIRA. Alecsandro D.,2014
Professor, como sugestão para o seu trabalho, leia o texto abaixo que irá
contextualizar a homenagem realizada pelo memorial.
Como sinal do passado, o monumento tem a função de memória. Entre os
antigos romanos, os monumentos eram representados como “obras comemorativas
de arquitetura ou escultura, arco de triunfo, coluna, troféu, pórtico, etc (LE GOFF, P
526); ou ainda como “um monumento funerário destinado a perpetuar a recordação
de uma pessoa no domínio em que a memória é particularmente valorizada: a morte”
(LE GOFF, p 526). De acordo com Le Goff, o monumento pode homenagear
personagens que ficaram marcados na memória do povo, pelos feitos e realizações.
Aprofundando sobre os usos públicos da História e usos políticos da memória,
serão apresentadas algumas imagens de monumentos de São José dos Pinhais/PR e
Curitiba/PR que evidenciam tais usos. Na primeira imagem observamos uma
homenagem realizada ao Padre Pedro Fuss com a inauguração da escola municipal
Padre Pedro Fuss, no entorno do colégio estadual São Cristóvão, no município de
São José dos Pinhais. A homenagem póstuma está referida também ao fundador do
colégio São Cristóvão, que iniciou suas atividades em quatro salas de aulas
construídas pela comunidade em terreno cedido nas dependências do terreno da
Igreja São Cristóvão, e que, por lá esteve e funcionou por vários anos.
Com a formação das turmas do ensino fundamental houve demanda e pedido
feito à prefeitura municipal na época, de um espaço maior que comportasse a escola
Padre Pedro Fuss, em regime municipal com ensino de 1ª a 4ª séries e o colégio
estadual São Cristóvão com turmas 5ª a 8ª séries, convivendo em dualidade
administrativa no mesmo prédio, que como consta, foi construído em parceria entre o
município e comunidade local. Por vários anos as duas instâncias administrativas
conviveram no mesmo espaço em terreno cedido pela prefeitura municipal, até que
uma nova demanda por vagas, exigiu o desmembramento das duas instituições de
ensino, passando a escola Padre Pedro Fuss a funcionar em novo endereço, nas
proximidades da Igreja, após a construção do novo prédio pelo município. Depois de
longo processo sócio, político e administrativo, conduzido por profissionais da área de
educação ligadas aos dois estabelecimentos educacionais e comunidade.
História e política de modo algum são duas esferas claramente
separadas uma da outra, cada uma delas seguindo uma lógica e
uma racionalidade bem próprias, mas são mediadas uma pela
outra e se intercalam uma na outra. A plausibilidade das
orientações políticas e a capacidade de persuasão das noções
históricas não são concebíveis como independentes uma da outra
( RÜSEN, p 127).
ATIVIDADE PARA O ALUNO:
Caro(a) estudante: após esse breve histórico da construção e formação das
duas instituições de ensino, Escola Municipal Padre Pedro Fuss e Colégio São
Cristóvão, analise as fotos e procure levantar dados e evidências que deixem claros
quais usos públicos da história e usos políticos da memória estão presentes no
monumento em homenagem ao Padre Pedro Fuss. Fundamente sua pesquisa com
as informações da entrevista estruturada, que foi realizada junto aos moradores dos
arredores do colégio e profissionais, que participaram do processo histórico de
formação das instâncias educacionais já mencionadas no texto acima. Após a coleta
de informações, produza uma narrativa histórica explicando como se dá o uso político
da memória e o uso público da história em monumento de homenagem ao Padre
Pedro Fuss, a um colega que more distante do município de São José dos Pinhais.
ATIVIDADE PARA O PROFESSOR:
Professor: você neste momento pode solicitar uma oficina de construção de
narrativas e exposição de todo o material que foi produzido durante a visita ao
monumento de homenagem. Exponha fotos, vídeos, relatos e narrativas históricas
produzidas pelos estudantes. Não se esqueça de expor também a síntese dos usos
públicos da história e usos políticos da memória, relacionado ao monumento, para a
turma.
MONUMENTOS COMEMORATIVOS
Prezado (a) estudante, observe as fotos abaixo, elas mostram monumentos
comemorativos, você saberia dizer ao que eles se referem?
Foto 3 - Placa comemorativa Largo do Expedicionário
Fonte: VIEIRA, Alecsandro D., 2014
Placa comemorativa dos 50 anos da força expedicionária brasileira (1945-
1995) inaugurando o Largo do Expedicionário, localizado em frente ao museu
municipal Atílio Rocco no município de São José dos Pinhais/PR.
Os monumentos são lugares de memória e meios de memória que
visam manter desperta a memoração de indivíduos ou eventos,
porque estes são tidos como dignos de identificaçâo e passíveis de
consenso. Por conseguinte, a história da recepção de monumentos
se presta para reconstruir de modo especialmente instrutivo a
mudança histórica dos paradigmas e das identidades culturais;
basta pensar na história da recepção dos monumentos nacionais de
cunho heroico do século XIX, que foram sobrecarregados com um
teor simbólico monumental e com a função de promover a
identidade cultural ( RÜSEN, p 177 ).
Foto 4 - Largo do Expedicionário
Fonte: VIEIRA, Alecsandro D., 2014
Foto 5 - Memorial Largo do Expedicionário
Fonte: VIEIRA. Alecsandro D., 2014
Cravadas nas pedras, em frente ao museu municipal, encontram-se placas
comemorativas, alusivas aos 50 anos da participação de expedicionários são-
joseenses na Segunda Guerra Mundial.
Foto 6 - Poema Homenagem I
Fonte: VIEIRA. Alecsandro D., 2014
POEMA HOMENAGEM I
Aos expedicionários são-joseenses da Segunda Grande Guerra: 1939-1945
Pássaros VERDES e AMARELOS,
Eles foram e voltaram.
Pássaros VERDES e AMARELOS,
Foram e não voltaram.
E todos voltaram.
Ai, meus pássaros soldados brasileiros
E de São José dos Pinhais:
Descobriram os ares e os mares
E se foram e se foram.
Olhos abertos
Que nada mais viam.
Um derradeiro pensamento muito longe, muito vago:
estradas; campos; o pai, a mãe, os irmãos,
a namorada amorosa.
O sangue ficou.
Mas, todos voltaram:
Voltaram de asas quebradas,
De asas cortadas,
De vida cortada,
Mas, todos voltaram.
LEOPOLDO SCHERNER
Foto 7- Poema Homenagem II
Fonte: VIEIRA. Alecsandro D., 2014
POEMA HOMENAGEM II
O chão de Pistóia arde
Há cinquenta anos
Foram rosas plantadas de sangue
Há cinquenta anos
Sob as chagas da serpente
_ O desígno totêmico da paz
Aqui no largo
Um livro brota
Corpóreo, violáceo
Aqui ou na Europa
Os quintais da existência
Têm as mesmas coisas:
Folha secas
Pedras seculares
Cacos de vidros
Estilhaços de nascer e partir
Um mar de eterno ronco
Densa vida
Densos todos
EULÁLIA MARIA RADTKE
Caro (a) estudante, após análise das fotos, leia o texto abaixo:
Segundo Jacques Le Goff (LE GOFF, p 526), na tradição do antigo Senado
romano, existiam decretos escritos alusivos aos atos comemorativos (referentes a
datas comemorativas). Atualmente, é comum encontrarmos placas comemorativas,
em praças ou prédios públicos, alusivas à comemoração de algum feito ou fato,
consistindo na representação estetizada do passado por meio das estratégias
políticas da memória, que podem se apresentar de várias formas, tais como:
celebrações cívicas, homenagens e auto-homenagens de governos, semióforos,
legitimação governamental, discursos de felicitações, entre outras; revelando formas
de constituição de sentido histórico que circulam na vida prática, negando alguns
sentidos e reforçando outros. Observe a foto de outro monumento comemorativo:
Foto 8 - Comemoração dos 300 anos de Curitiba
Fonte: VIEIRA. Alecsandro D., 2014
Na inscrição da placa abaixo, referente à comemoração dos 300 anos de
Curitiba, que consiste em exemplo de semióforo, alguns dos elementos das
estratégias políticas da memória estão presentes:
Nesta data, o Presidente da República Portuguesa Mário Soares marcou, com sua
presença, o encerramento das comemorações do ano 300 de Curitiba. O Marco
Zero, símbolo D’El Rey de Portugal, simboliza a força da Matriz portuguesa na
formação nacional e na fundação de Curitiba.
29 de Março de 1994
Rafael Greca de Macedo
Prefeito
ATIVIDADE PARA O ALUNO:
Caro(a) estudante: após análise das fotos apresentadas, tanto do Marco Zero em
Curitiba, quanto do Largo do Expedicionário em São José dos Pinhais, procure
analisar qual é a ideia de comemoração que visa ser perpetuada na história dessas
cidades. Após a análise procure responder quais possíveis usos da memória política
estão envolvidos? Qual uso público da história está sendo evidenciado e por quê?
Quais elementos das estratégias políticas da memória estão presentes? Utilize
pesquisa da internet e visualize o contexto e quais sentidos históricos estão sendo
perpetuados em relação aos monumentos comemorativos acima mencionados.
Procure ao final da pesquisa, comparar os resultados obtidos, com as opiniões de
colegas, familiares e professores, expondo em painel na sala de aula, o resultado
final do seu trabalho.
ATIVIDADE PARA O PROFESSOR:
Professor: você neste momento pode solicitar uma oficina de construção de
narrativas e exposição de todo o material que foi produzido durante a visita ao
monumento de comemoração. Exponha fotos, vídeos, relatos e narrativas históricas
produzidas pelos estudantes. Não se esqueça de expor também a síntese dos usos
públicos da história e usos políticos da memória, relacionado ao monumento, para a
turma. Como sugestão, poderá utilizar o quadro síntese abaixo de investigação
sobre monumentos, estatuaria e toponímia. (Conforme Schmidt e Cainelli,2010)
Sugestão ao professor:
Logo abaixo se encontra um modelo de investigação simplificado que pode ser
utilizado pelo professor, perfeitamente adaptado à sua realidade e para servir para a
visita “in loco”, com o intuito de recolher dados empíricos.
INVESTIGAÇÃO SOBRE MONUMENTOS, ESTATUARIA E TOPONÍMIA
1) Monumento:
2) Roteiro para visita:
3) Ficha de trabalho: ficha de entrevista seguindo modelo de Questionário Estruturado.
4) Selecionar materiais a respeito do local:
5) Realizar fotos, gravar ou anotar entrevistas com algumas pessoas.
6) Apresentar por grupos de estudantes, PowerPoint, utilizando fotos, relatórios e filmagens, com produção de narrativas históricas para finalizar.
Estas sugestões foram elaboradas com base no trabalho de SCHMIDT e CAINELLI, 2010, p.144.
Observações importantes:
Antes de realizar a visitação levantar pesquisa bibliográfica para explicação
prévia aos estudantes, sobre o monumento a ser visitado; selecionar o público-alvo,
ou seja, escolher os entrevistados com antecedência; pedir aos estudantes para
ouvir e anotar com paciência e respeito às respostas dos entrevistados; elaborar o
roteiro e testá-lo antecipadamente, corrigindo o que for necessário; filmar e gravar o
trajeto e as respostas dos entrevistados; recolher os dados pesquisados, organizá-
los e elaborar reflexão baseada em sua análise e divulgar os resultados das
entrevistas por meio de atividades, como exemplo: produção de texto ou narrativas
históricas; exposição em mural; realização de vídeo; apresentações de estudantes
entre outras).Fonte: Adaptado de SCHMIDT e CAINELLI; (IN; PARA ENSINAR
HISTÓRIA, pp.165 e 166).
MONUMENTOS SIMBÓLICOS
Caro (a) estudante, observe as fotos abaixo, elas mostram um monumento
simbólico. Você saberia dizer qual o significado desses símbolos e o porquê de suas
escolhas como monumentos?
Foto 9 - Marco Zero de Curitiba
Fonte: VIEIRA. Alecsandro D., 2014
Foto10 - Painel Trajetória - RONEY ERTHAL
Fonte: Vieira, Alecsandro D., 2014
ATIVIDADE PARA O PROFESSOR:
Poucos monumentos tratam sobre a visibilidade de certos povos e etnias na
construção do país. Isso não ocorre só em Curitiba ou região, mas é fruto da
historiografia do século XIX, como já foi mencionado neste trabalho, que tinha o
intuito de representar o país como progressista e nos rumos da modernidade e que,
caberia ao homem ocidental trazer a civilização para lugares que se encontravam em
atraso. O painel acima pode ser explorado pelo professor utilizando a metodologia
proposta por VIEIRA, 2013 em sua produção sobre o uso da iconografia pictórica
como fonte. Embora o painel não seja uma iconografia pictórica em tela, a pintura
realizada no azulejo, não deixa de ser uma representação de um fato histórico. Neste
sentido, a autora propõe em seu trabalho como o professor pode encaminhar para
que a fonte pictórica seja devidamente explorada, trazendo argumentação e
contextualização da imagem nas aulas de história. No caso acima, pode ser utilizado
uma adaptação, seguindo os seguintes passos:
a) Quem é o autor do painel? O que ele quer representar? Explique.
b) Qual fonte histórica que utiliza para representar os fatos históricos?
c) O painel pode ser considerado como uma imagem canonizada?
d) Compare o painel acima com outros documentos e separe com seus alunos
semelhanças e diferenças apontadas. Represente os dados encontrados em um
grande painel a ser debatido em sala com seus estudantes.
Foto 11 - Memorial Largo da Carioca
Fonte: VIEIRA. Alecsandro D., 2014
Prezado estudante, leia o texto abaixo selecionado o uso público da história e usos políticos da memória:
Saiba mais
Memorial da Carioca retrata São José dos Pinhais no século XIX
Publicado em 31 de julho de 2014 às 18:35
A Prefeitura Municipal de São José dos Pinhais, através da Secretaria de
Cultura (SEMUC), instalou o Memorial da Carioca, que foi desenvolvido pelo artista
Roney Wilmar Erthal.
A “Bica da Carioca”, como era conhecida antigamente, era o fundo de um
vale onde escravos que eram libertados passavam a residir no local. Próximo dali,
havia a casa da Nhá Dita, além de outras 11 residências que faziam bailes e
preparavam doces para animar os moradores.
A fonte era o único local do centro da cidade que fornecia água, portanto,
incluindo as freiras do Colégio São José (atual Shopping São José), usavam a bica
para lavar roupas e realizar outras atividades do dia a dia.
A história da Bica da Carioca é tão antiga que, em 1862, consta em um
documento expedido pela Câmara Municipal de São José dos Pinhais, a solicitação de
reparação da mesma. O local ficou conhecido por este nome, pois este tipo de bica
era no Rio de Janeiro.
Atualmente o local abriga a Capela Mortuária, o Serviço Funerário Municipal e
o Fórum Eleitoral. O Memorial da Carioca está localizado na Rua Voluntários da Pátria
– Centro, atrás do Shopping São José.
Acesso pelo site: http://www.sjp.pr.gov.br/memorial-da-carioca-retrata-sao-jose-dos-pinhais-seculo-
xix/ Acesso em 31/10/14 às 14:54.
Professor, leia o texto abaixo:
Nas praças, nas proximidades da escola e na cidade podemos fazer leituras
históricas do mundo partindo de patrimônios e monumentos que carregam consigo
indícios do passado fora do ambiente escolar. Estes monumentos muitas vezes
esquecido pelo professor podem consistir em importantes elos entre presente e
passado. Para as professoras pesquisadoras em Educação, Maria Auxiliadora
Schmidt e Marlene Cainelli, “no cotidiano das cidades que se apresenta a
possibilidade de ensinar a leitura do mundo a partir das representações construídas
como patrimônios e monumentos” (2010, p.153). Conforme destacado pelas autoras,
esta leitura do mundo pode ser realizada fora do ambiente escolar.
Em Peter Lee também é possível fazer a leitura do mundo historicamente por
meio do conceito de Literacia Histórica. O autor propõe “uma agenda de pesquisas
que une o trabalho passado com novas indagações” (LEE, p.148). Essas indagações
devem ser feitas no presente para compreender como se estruturam algumas ideias
do passado e de que forma, por exemplo, os monumentos podem contribuir com essa
agenda de pesquisas.
Para Jacques Lee Goff, tanto o monumento quanto o documento possibilitam a
escrita científica da História, pois participam da memória coletiva. Segundo o
historiador, os monumentos transformam-se em documentos, no momento em que
“seja constatada de que maneira foi produzido e de que forma ele torna-se um
instrumento de poder” (LEE GOFF, p 525). Saber quais as circunstâncias envolvidas
na construção de um determinado monumento e qual memória que ele irá perpetuar,
talvez seja mais importante saber o que de fato que ele quer representar.
ATIVIDADE PARA O ALUNO:
Caro estudante: após análise das fotos do Marco Zero de Curitiba, Painel
Trajetória do autor Roney Erthal e Memorial Largo da Carioca, além da leitura do
quadro Saiba mais, que contextualiza a construção do Memorial, procure levantar
dados na internet, evidências que deixem claros quais usos públicos da história e
usos políticos da memória estão presentes nos monumentos simbólicos relacionando
ao motivo de suas construções. Fundamente sua pesquisa com outras informações
realizada junto aos moradores, parentes e profissionais do colégio dos arredores do
colégio. Após a coleta de informações, produza uma narrativa histórica explicando
como se dá o uso político da memória e o uso público da história em monumento
simbólico e sua relação com a história local e geral. Divulgue sua narrativa por meio
de um jornal falado.
ATIVIDADE PARA O PROFESSOR:
Professor: você neste momento pode realizar um jornal falado para divulgar
a produção de narrativas históricas que foram produzidas durante a análise das fotos,
pesquisa na internet e entrevista com moradores, parentes e profissionais do colégio.
Exponha fotos, vídeos, relatos e narrativas históricas produzidas pelos estudantes.
Não se esqueça de expor também a síntese dos usos públicos da história e usos
políticos da memória, relacionado aos monumentos, para a turma.
Leitura de apoio para o professor: Compreendendo monumentos simbólicos
Os monumentos podem funcionar como vestígios do passado deixados pela
humanidade e podem ser transformados em fontes históricas. Segundo a
pesquisadora Rosalyn Ashby, o trabalho com fontes históricas revelam evidências do
passado, sendo que “as fontes tem valor reconhecido com evidência para tipos
específicos de afirmações” (ASHBY,p.155). Para obter essas afirmações é necessário
fazer os devidos questionamentos aos monumentos, para que estes revelem
evidências sobre o passado. Como aconteceu? Porque aconteceu? Por que foi
apresentado desta forma e não de outra? Portanto, os questionamentos podem tornar
o monumento em documento histórico, contribuindo para o conhecimento cumulativo
sobre o passado.
Foto12- Roda de Moinho
Fonte: VIEIRA, Alecsandro D., 2014
ATIVIDADE PARA O ALUNO:
Como observamos na foto acima, há evidências históricas de grupos de
trabalhadores, que existiram no passado e que não eram lembrados pelas
autoridades municipais. Hoje, a memória destes grupos é lembrada de forma
folclorizada, como cultura a ser memorizada pela população atual. Qual será a etnia
responsável pela construção desta roda de pedra? Qual sua relação com o
município? Como eram tratados pelas autoridades em sua época? Como são
tratados na atualidade? Analise a foto e o documento abaixo, faça uma pesquisa de
investigação sobre o documento e produza uma narrativa histórica sobre os
resultados obtidos.
Agora que todos já sabem trabalhar o monumento, vamos relacioná-lo com o
documento escrito.Um exemplo de trabalho com documento pode ser visto a partir de
uma carta, neste caso reporta-se a uma correspondência escrita pelos colonos ao
prefeito do município de São José dos Pinhais no ano de 1888. Esta carta encontra-
se no acervo do museu Atílio Rocco no mesmo município.Trabalhando o documento:
Carta de Colonos Poloneses ao Prefeito
“Nóis poveros Moradores da Colonia Ipetor Carvalho pesse vossa Cinoria.
Nois temos um Pontte gebrado que não çe poden pasar mais de Caroças.
Pontte e de um Gomprimentos 5 metros de gomprido e 4 Metros de Arttura. neste
lugar não temos Maderas de Cerne por esto nois pessemos a Vossa Cinoria de dar a
nois um Concelio. Como çe poder fazem estta Pontte de passar esta Pontte temos
33 Moradores. I eo tam bem não poder fazer esta ponte qom Povvo estta Pontte
Leve mais de 4 dias de Cerviço e Preçisa çe de Planchão e Pregos e da ondi çe tira
a dinehro para vazer esta Pontte.
Saude e Frentidade cinor Norbertho. Cinor me manda uma Cartta. Como çe
poder fosser estta Pontte. çe não pode çe fazer pello Augusto Fiscal. Augusto Fiscal
poder venier na Colonia e pode valiar a Pontte gomo çe Fazer esta lavara”.
(Inspetor João Zamski. Colônia Murici e Inspetor Carvalho, 1888. Acervo do Museu
Municipal, in: São José dos Pinhais: uma História para ser ensinada, p.60).
A partir da leitura utilize a ficha abaixo para interpretação do documento.
QUADRO-SÍNTESE DA IDENTIFICAÇÃO E EXPLICAÇÃO DO DOCUMENTO
1. Identificação do documento:
1.1. Determinar a origem do documento:
a) Referências de onde e quando o documento foi encontrado:
b) Data de sua produção:
c) Forma de reprodução e divulgação (fotocópia, internet, livro, etc.):
d) Natureza do documento:
_ oficial ( );
_ exprime ponto de vista ou gosto ( );
_ descreve a realidade ( );
_ religioso ( );
_outras classificações ( ).
e) Autor do documento:
_autor conhecido ( );
_autor não conhecido ( );
_ individual ( );
_ coletivo( ).
f) Datação do documento: enumeração de datas provenientes do próprio documento
( ); data de difusão do documento ( ); data de nosso conhecimento do documento( ).
g) Pontos importantes do documento:
Enumeração de elementos que identifiquem a forma e o conteúdo do documento:
_ Principais ideias:
_ Palavras-chave:
_ Fórmulas:
_ Expressões:
2. Explicação do documento:
a) O documento procura expor a verdade?
b) O documento pretende atingir um grupo de pessoas em particular?
c) Com quais objetivos foi produzido o documento?
d) Como o documento apresenta a realidade? Por quê?
e) O que é realçado no documento?
f) Quais as relações dos dados com o lugar de onde o documento está falando?
g) Quais intenções essa(s) relação (ões) revela(m)?
h) Há correspondência entre as datas de produção e de difusão do documento?
i) Quais eventos importantes ocorrem quando o documento foi produzido ou
publicado?
j) Quais palavras explicam melhor o documento?
l) Quais conhecimentos permitem compreender melhor o sentido do documento?
Adaptado de SCHMIDT E CAINELLI, 2010,pp.122 e 123.
3- ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS
Por meio das aulas anteriormente trabalhadas com os estudantes do Ensino
Médio, e com o entendimento dos usos públicos da história e usos políticos da
memória, a proposta das atividades será:
1) Apresentação de um monumento de homenagem (imagem de um fundador da
escola canonizado como santo pelos fiéis da Paróquia) para que o estudante realize
uma pesquisa oral com moradores da região local, onde eles possam entrevistar
pessoas de mais idade para verificar como ocorreu a fundação da escola e de que
forma as pessoas veem a figura representada no monumento e como ocorrem estas
narrativas por parte dos jovens estudantes.
2) Após a verificação, coleta de dados, confronto de histórias e versões históricas, os
estudantes serão direcionados a separar o que é o uso público da história e o uso
político da memória. Isto se fará mediante explicação prévia do professor sobre estes
conceitos; posteriormente os jovens poderão construir um painel, ou uma
apresentação em power- point ou outra forma de narrativa que demonstre a sua
aprendizagem histórica acerca do tema estudado.
3) Na sequência desse estudo, será realizando uma visita ao museu municipal,
localizado no centro de São José dos Pinhais. Com esta visita pretende-se analisar
placas de homenagem em monumentos, situado no largo em frente do museu,
revelando as questões etnocêntricas sobre os povos que são geralmente lembrados e
investigar as questões sobre os que são esquecidos.
4) A partir da visita e das observações in loco, será realizado a confrontação entre o
documento escrito: carta de imigrantes poloneses ao prefeito, com o intuito de
desmistificar o passado. Se hoje estes povos são lembrados, no passado foram
ignorados.
5) Quanto aos povos invisibilizados na construção do município, há evidências de sua
importância em alguns painéis de artista local, que é um dos símbolos da cidade,
onde a ideia principal é fazer com que os jovens estudantes analisem as imagens
iconográficas (que podem ser feitas a partir do trabalho com imagens pictóricas de
VIEIRA, Jucilmara - PDE 2012). Com a análise dos painéis, busca-se que o estudante
consiga compreender e interpretar o que as imagens tendem a dizer e o que a história
revela por trás destas imagens.
6) Como etapa final, os jovens já compreendendo o que é monumento, sua
importância, seus usos político e público, sua intencionalidade, legitimação e,
portanto, encontram-se aptos a construir um monumento que ficará como registro na
escola. Este monumento pode ser feito de várias formas: com material sucata,
cimento, virtual ou maquete. O professor auxiliará para que os estudantes tenham os
recursos necessários para a elaboração e confecção do mesmo, haja visto, que
deverá ficar como eternizado fazendo parte da história.
7) As atividades serão finalizadas com narrativas históricas de meta-cognição sobre
todos os monumentos analisados e documento sobre o conteúdo substantivo
imigração.
O êxito do aprendizado histórico também pode ser
medido pela medida com que o passado manifesto
nesses materiais e conteúdos adquire, na consciência
das alunas e dos alunos, a vitalidade que lhe cabe como
história ( RÜSEN, p 189).
REFERÊNCIAS
GOFF, Jacques Le. História e memória. Campinas, SP: Unicamp, 2003.
LOBO, Andréa Maria Carneiro; Schmidt, Maria Auxiliadora M.S. São José dos
Pinhais uma História para ser ensinada. São José dos Pinhais, Ed. Amaro,1996.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de História.
Curitiba: SEED,2008.
RÜSEN, Jörn. Cultura faz sentido: orientações entre o ontem e o amanhã.
Tradução de Nélio Schneider. Petropólis, RJ: Vozes, 2014, p 127-177-189.
RÜSEN, Jörn. Que es la cultura histórica?: Reflexiones sobre una nueva
manera de abordar la historia. Tradução: F. Sánchez Costa e Ib Schumacher.
Original em: FÜSSMANN, K.; GRÜTTER, H.T.; RÜSEN, J. (eds). Historiche
Faszination, GeschichtsKultur Heute. Keulen, Weimar and Wenen: Böhlau, 1994,
p.2-3.
RÜSEN, Jörn. Aprendizagem histórica. Fundamentos e Paradigmas. Curitiba: W&A
Editores, 2012.
SCHMIDT, Maria Auxiliadora; BARCA, Isabel; MARTINS, Estêvão de Rezende. Jörn
Rüsen e o ensino de história. Curitiba: Ed. UFPR,2010.
SCHMIDT, Maria Auxiliadora & BRAGA, Tânia Garcia. Manuais Escolares e
Significância histórica de jovens alunos sobre a América Latina. Curitiba, 2012
(Texto em fase de publicação).
SCHMIDT, M.A & CAINELLI, M. Ensinar História. São Paulo: Scipione, 2004.
SCHMIDT, Maria Auxiliadora; GARCIA, Tania Maria F. Braga. A formação da
consciência histórica de alunos e professores e o cotidiano em aulas de
história. Campinas: Cad. Cedes, 2005.
VIEIRA, Jucilmara Luiza Loos. A possibilidade de utilização da iconografia
pictórica (pintura como fonte) como recurso para o ensino de história e sua
representação a partir da percepção estética, na perspectiva da educação
histórica. Curitiba,PDE-SEED_PR,2012.
REFERÊNCIAS ILUSTRATIVAS
VIEIRA, Alecsandro Danelon. Fotos de 1 a 12 – acervo particular do autor. São
José dos Pinhais, 2014.