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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

O Uso do tefenone celular nas aulas de Educação Física

Edna de Souza da Silva Martins1 Wesley Luiz Delconti2

RESUMO: As tecnologias de informação e comunicação (TIC's) estão influenciando as relações sociais, sobretudo no que se refere à integração dessas tecnologias nos processos educacionais na atualidade. Nesse sentido, o presente artigo teve como enfoque propor o uso do telefone celular como ferramenta pedagógica no processo de ensino-aprendizagem nas aulas de Educação Física. A partir de uma fundamentação teórica sobre mídia-educação, procurou-se compreender o telefone celular e seus dispositivos como mais uma possibilidade de recurso didático, contemplando diferentes práticas educativas, como a criação de vídeos, de imagens e na criação de grupos de estudos virtuais. Os estudos viabilizaram a construção de um projeto pedagógico, cuja metodologia foi aplicada junto aos alunos do ensino fundamental do Colégio Professor Caio Mario Moreira, na cidade de Cianorte-Pr. Dentre os resultados alcançados destaca-se a criação de um documentário elaborado pelos alunos sobre a temática “atividade física e saúde”, que foi explorado enquanto conteúdo da disciplina e ao mesmo tempo como recurso pedagógico. Conclui-se ser possível aprimorar o trabalho docente na sala de aula e além dela, através da utilização dos aparatos tecnológicos como ferramenta pedagógica. Para tanto, é necessário uma formação continuada que capacite os professores sobre as possibilidades de uso dessas tecnologias para atender as mudanças na forma como o conhecimento se constrói nos dias de hoje.

PALAVRAS-CHAVE: Celular. Educação Física. Ensino-aprendizagem. TIC’s

ABSTRACT: This current research focused on propose the use of cellphone as a pedagogical tool

on teaching-learning at the physical education classes. From the the theoretical analysis about the concept and characteristics of the CIT's (Communication and Information Technologies) and the way that it is influencing the current social relations, we look for understand the integration of these technologies in educational process. We introduced so the cellphone and its devices as a new didactic resource possibility, looking on different educational practices for video, image and virtual study group creation for the elaboration of a documentary about physical activities with students from elementary school of Professor Caio Mario Moreira School. The study concluded that it is possible to improve the docent work in the teaching and learning process into classroom and outside it using technological tools as a pedagogical tool, and also concluded that the continuous formation is a commitment that the teachers should accept so it occurs the comprehension of the use possibilities for this technologies to understand the changes in the way how the knowledge is built currently. KEYWORD: Cellphone. Physical Education. Teaching-learning. CIT's

INTRODUÇÃO

Atualmente encontramos um impasse em grande parte dos ambientes de sala

de aula: alunos que no seu dia a dia interagem com as tecnologias móveis e o uso

da internet e professores que tem seu ensino baseado em práticas pedagógicas

convencionais. Diante dessa realidade é importante buscar formas de utilizar as

1 Professora de Educação Física da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná. Graduada em

Educação Física pela UEM. Aluna pelo Programa de Desenvolvimento Educacional –PDE. e-mail: [email protected]

2 Professor do Colegiado de Educação Física da UNESPAR/Campus de Paranavaí.

tecnologias de informação e comunicação (TIC's) em prol da educação de modo a

potencializar as metodologias de ensino.

Brito e Purificação (2003) ressaltam que a escola não pode ficar à margem do

desenvolvimento das novas tecnologias, pois estas atingem o modo e as formas de

vida da sociedade. Há a necessidade de os educadores se lançarem a uma

incorporação crítica das renovações de caráter pedagógico com a finalidade de

gerar mudanças que não sejam simples expressões da modernidade.

Parece provável que, com o tempo, os educadores terão que se habituar ao

uso do celular no cotidiano escolar, já que este dispositivo faz parte da vida dos

educandos. De acordo com Moura (2009), essa resistência ao uso do celular na sala

de aula seria originária de um choque entre o conjunto das instituições e a geração

nascida em meio as tecnologias digitais.

Surge então a necessidade de indagar como a tecnologia móvel pode

contribuir para melhorar a aprendizagem em determinados contextos,

compreendendo que entende-se por tecnologia móvel a forma de acessar recursos

computacionais e a internet por meio de dispositivos móveis, tais como, celulares,

smartphones, iPhone, iPod, iPad, notebooks, smartpads, dentre outros.

Acredita-se que as novas tecnologias no ambiente educacional e nas aulas de

Educação Física, principalmente com o uso do celular, disponibilizam e possibilitam

a interação dos alunos com a construção e análise do conhecimento, permitindo que

os escolares do ensino fundamental compreendam melhor os conteúdos da

disciplina.

Nesse sentido, o presente artigo, que faz parte do Programa de

Desenvolvimento da Educação – PDE (2014-2015), oferecido pela Secretaria da

Educação do Paraná aos professores da rede estadual, teve como objetivo propor o

uso do telefone celular como ferramenta pedagógica no processo de ensino-

aprendizagem nas aulas de Educação Física.

Para tanto, em um primeiro momento apresenta-se a fundamentação teórica,

realizada a partir do estudo e compreensão sobre conceitos e características das

TIC's (Tecnologias de informação e comunicação). Propõe-se a defesa de práticas

pedagógicas auxiliadas por recursos tecnológicos dando ênfase ao aparelho celular.

Lembrando que nos últimos anos a utilização do aparelho celular tem geralmente

criado polêmicas, restrições e até proibições para o seu uso nos espaços escolares.

Deste modo pretendeu-se desmistificar o alegado prejuízo dos celulares para o

desenvolvimento das aulas.

Em um segundo momento é apresentado um relato sobre o projeto aplicado

pela professora PDE junto aos alunos do ensino fundamental do Colégio Professor

Caio Mario Moreira, na cidade de Cianorte-Pr. O projeto teve um respaldo

metodológico que buscou explorar diversas possibilidades pedagógicas de utilização

do aparelho celular nas aulas de Educação Física. O trabalho culminou na criação

de um documentário elaborado pelos alunos sobre a temática “atividade física e

saúde”, que foi explorado enquanto conteúdo da disciplina e ao mesmo tempo como

recurso pedagógico.

Cada passo na elaboração do documentário permitiu a construção do

conhecimento, pois proporcionou a interação uns com os outros, alunos-alunos,

professor-aluno através da criação de grupo de estudo virtual amparado pelo

WhatsApp e o Facebook. Estes canais de comunicação permitiram que os escolares

do ensino fundamental compreendessem melhor os conteúdos da disciplina

revelando e ampliando suas percepções além do espaço escolar.

1 O APARELHO CELULAR COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA: SUBSÍDIO

TEÓRICO

1.1 As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC'S)

Com o avanço tecnológico e seu constante desenvolvimento surgiram

modernos meios de telecomunicação que estão mudando as atuais formas de tempo

e espaço, levando a constantes e rápidas transformações nas formas de

comunicação e informação. Essas tecnologias de informação e comunicação são

denominadas TIC's.

Martinez (2004, p.96) define as tecnologias da informação e comunicação

como o “[...] conjunto de tecnologias microeletrônicas, informáticas e de

telecomunicações que permitem a aquisição, produção, armazenamento,

processamento e transmissão de dados na forma de imagem, vídeo, texto ou áudio”.

Para simplificar o conceito, o autor chama de novas tecnologias da informação e da

comunicação as tecnologias de redes informáticas, os dispositivos que interagem

com elas e seus recursos.

As TIC's tem influenciado no modo de viver da sociedade em todos os

aspectos sejam eles sociais, econômicos, políticos e educacionais. Muitos estudos,

entre eles, Bianchi e Hatje (2007), Bévort e Belloni (2009), Mateus e Brito (2011),

Moura (2009), Prensky (2010), Tedesco (2004), reportam sobre a importância do

uso das TIC's no ambiente educacional.

Dentre as TIC's percebemos uma grande atração pelas tecnologias móveis

conectadas a internet (celulares, smartphones, notebooks, tablets, iPad e outros)

principalmente com o uso dos celulares pela geração mais nova que diariamente os

usam com grande destreza para se comunicar e se conectar as redes sociais. Os

smartphones, que são celulares com tecnologias mais avançadas, estão alterando

as possibilidades de comunicação e informação no dia a dia das pessoas. Isso tem

mudado o modo como elas se comunicam, afetando as relações e a subjetividade

das mesmas (MOURA, 2009).

O aparelho de celular na atualidade tornou-se um dispositivo que oferece

vários recursos e ferramentas tecnológicas convertendo-se em um aparelho

multimídia. Através dele é possível tirar fotos, filmar, ouvir música, gravar voz, enviar

mensagens, ouvir rádio, TV, jogar, tudo isso conectado à internet. As mídias, desse

modo, dão suporte às TIC's realizando o acesso às informações e todas as demais

formas de articulação comunicativa em todo o lugar e a qualquer hora. As

tecnologias de comunicação e informação invadem o cotidiano das pessoas que se

interagem com elas.

Com a internet, também disponível nos aparelhos celulares, tornou-se possível

o acesso às redes sociais e programas de comunicação instantânea como o SMS, O

Facebook e o WhatsApp a qualquer momento. O volume de informações, cada vez

mais acelerado, se multiplica e é cada vez mais complicada a tarefa de filtrar tais

informações.

Diante desse processo a escola deve ser a via para educar os alunos ao uso

das mídias que estes dispositivos oferecem para que de fato estes pudessem ser

um meio de aprendizagem e conhecimento.

Para que o uso das TIC's no processo educativo se faça de modo reflexivo

Bevórt e Belloni (2009) preconizam o conceito estabelecido atualmente de Mídia-

Educação que é entendido como contraponto educativo/formativo à cultura criada e

veiculada pelos meios de comunicação e tecnologias. Nesse estudo, as autoras

assentam a importância da discussão sobre as mídias quando nos referimos à

Educação por meio de tecnologias.

Assim, integrar as tecnologias de informação e comunicação (TIC's) e a mídia

nos processos educacionais, desenvolvendo sua apropriação e produção crítica e

criativa, tem sido considerado condição de cidadania e direito das pessoas para

essas autoras.

Bianchi e Hatje (2007, p. 293-94) explicam que uma das principais

características envolvendo as TIC's na educação é a descentralização do poder de

comunicação em sala de aula que antes, era centrado na figura do educador e que

“[...] o uso das TIC's, quando bem conduzido, pode promover a interação entre

professores e alunos, intercâmbio de informações e experiências, agindo como uma

'janela para o mundo', isto é, permite que o educando conquiste outros espaços”.

Belloni (2001) ressalta que para se educar nos novos tempos é importante

fazer reflexões sobre as linguagens propiciadas pelas TIC's e pela mídia em três

dimensões educativas que seriam: educar para a mídia, educar com a mídia, e

educar através da mídia. A primeira refere-se a utilizar a mídia como objeto de

estudo e temática de reflexão das práticas educativas e usá-las de forma crítica. A

segunda é de se utilizar a mídia como ferramenta pedagógica contribuindo para a

modernização do ensino, e a terceira dimensão refere-se à produção de mídia no

contexto educativo, como forma de sistematização de conhecimentos, utilização de

novas linguagens (especialmente a digital), e apropriação dos processos de

produção de informação/comunicação.

1.2 A Mediação do Professor

Para atender essa nova demanda social, as transformações também devem

acontecer dentro do espaço escolar. Percebe-se que sempre que o ser humano se

depara com uma nova realidade ou algo novo é difícil se adaptar. No contexto

educativo não é diferente, pois a atualidade requer dos professores situações que

demandam mudanças, principalmente em suas metodologias.

Amorim e Miskulin (2010, p.227) em parte de seus estudos fazem uma

reflexão sobre gerenciamento de mudanças:

Muitas vezes, a mudança é vista como inevitável e desconfortável, em especial em um mundo onde a complexidade das transições é cada vez maior. Por isso, as pessoas tendem a pensar primeiro no que irão perder, o que as leva a sentirem-se sozinhas e com a impressão de ter perdido a capacidade de gerenciar os acontecimentos, fato este que pode estar relacionado ao diferente nível de preparação de cada um. ( AMORIM ; MISKULIN, 2010, p. 227).

Porém é importante para o professor estar vinculado ao contexto social em

que o aluno está inserido. Isto nos leva a pensar que dominar somente os saberes

específicos sobre a sua área de atuação não é mais suficiente ao educador para

atender as necessidades dos educandos. Contudo não quer dizer que o professor

precise saber tudo, mas isso implica em conhecer e usar outras áreas afins bem

como outros recursos pedagógicos.

Prensky (2012) explica as diferenças culturais entre os sujeitos que cresceram

na era digital e aqueles que viveram em momentos anteriores a essa era. O autor

reconhece que os jovens que estão nas nossas escolas mudaram radicalmente os

seus hábitos e comportamentos e o sistema educacional continua a usar modelos

tradicionais, sem uma adaptação às mudanças sociais ocorridas. Os “nativos

digitais”, como ele os denominou, nunca conheceram um mundo sem internet,

celular, computadores, diferentemente dos “imigrantes digitais”, geração nascida

antes da utilização massiva da internet.

Em função disso, Prensky (2012) salienta que a internet, as tecnologias

móveis e as mensagens instantâneas fazem parte integral das vidas destes nativos

digitais e pode-se acrescentar à sua fala, as redes sociais. Prensky aconselha os

professores a aproveitarem a evolução e avanço da tecnologia móvel para utilizar o

celular na escola como uma ferramenta de ensino. Porém, diz ele, que somente o

fato de introduzir novas tecnologias na sala de aula não melhora o aprendizado

automaticamente, porque a tecnologia dá apoio à pedagogia, e não vice-versa.

Deste modo o ambiente de estudo que se utiliza das TIC's pode auxiliar no

desenvolvimento cognitivo do aluno desde que o trabalho do professor e a ação

educativa não perca seu foco principal.

Moura (2009, p.53) faz uma conotação sobre o uso da tecnologia como

recurso pedagógico e explica que as coisas dividem-se entre: “[...] quem sabe o que

fazer com a rede, para quê utilizá-la e quem não sabe (não é apenas uma questão

de tecnologia, mas de conteúdos). É fundamental que os professores tenham

formação para o uso das tecnologias digitais com propósitos pedagógicos”.

No entanto, é inegável que o uso do celular hoje se constitui como um recurso

riquíssimo de informação e mídia que, se bem utilizado no contexto escolar, pode

tornar-se um grande aliado para desenvolver práticas educativas mais atualizadas.

Afinal, sempre foi muito comum a falta de recursos tecnológicos nas escolas,

principalmente nas escolas públicas.

As possibilidades de uso das TIC's são diversas. Dependendo do

conhecimento do professor e de sua criatividade, pode-se multiplicar o já elevado

número de alternativas de aplicação. Porém é necessário salientar a necessidade

constante de formação do professor e que este assuma o compromisso dessa

formação continuada para aprimorar o trabalho docente diante das possibilidades do

uso da web e de reconhecer de que forma esta influencia as transformações sociais

e poder compreender as mudanças na forma como se constrói hoje, o

conhecimento.

1.3 O Dispositivo Móvel nas aulas de Educação Física

Através dessas reflexões é difícil acreditar que não se encontre nenhuma

oportunidade de aprendizagem por intermédio dos celulares em contexto educativo.

Mesmo sendo de forma tênue seria possível achar meios através de suas variadas

funções, aplicativos de imagem, som, vídeo e comunicação instantânea.

A Educação Física é uma disciplina que possui um amplo conteúdo formado

pelas diversas manifestações corporais criadas pelo ser humano ao longo da

história. São eles os jogos, brincadeiras, danças, esportes, ginásticas e lutas. Estas

manifestações se circunscrevem dentro do conceito de Cultura Corporal (SOARES

et al, 1992). Para transmitir esses conteúdos na escola o uso das tecnologias se

torna um aliado neste processo.

Mateus e Brito (2011) em seu trabalho dizem que se cada aluno pudesse ter

em sala de aula um kit contendo câmera fotográfica, câmera de vídeo, gravador de

som, um reprodutor de som e um aparelho para navegar na internet e se o professor

utilizasse este kit como recurso pedagógico iria parecer um sonho, mas esta

realidade existe pois os celulares possuem tudo isso em um único dispositivo.

Para Bevórt e Belloni (2009, p.1083) as mídias geram novos modos de

produzir e difundir conhecimentos:

Também é preciso ressaltar que as mídias são importantes e sofisticados dispositivos técnicos de comunicação que atuam em muitas esferas da vida social, não apenas com funções efetivas de controle social (político, ideológico...), mas também gerando novos modos de perceber a realidade, de aprender, de produzir e difundir conhecimentos e informações. São, portanto, extremamente importantes na vida das novas gerações, funcionando como instituições de socialização, uma espécie de “escola paralela”[...] (BEVÓRT ; BELLONI, 2009, 1083, grifo do autor).

Essas mais recentes tecnologias móveis e sem fio além de oferecerem um

conjunto de possibilidades para a aprendizagem, ao estarem conectados à rede,

permitem trocar informações, compartilhar ideias, experiências, resolver dúvidas,

acessar uma vasta gama de recursos e materiais didáticos, incluindo texto, imagens,

áudio, vídeo, e-books, artigos, notícias online, conteúdos de blogs, microblogs e

jogos no exato momento em que se faz necessário. Porém as pessoas utilizam seu

celulares e smartphones mais como entretenimento. A escola deve propor usá-los

também para aprender em sala de aula e fora dela, em qualquer tempo e em

qualquer lugar.

Por causa do potencial de uso generalizado desses dispositivos móveis,

argumenta-se que o mobile learning ou m-learning (aprendizagem com mobilidade),

seja a próxima onda dentre os novos ambientes de aprendizagem (GRAZIOLA,

2009). Assim hoje o foco é a mobilidade, e, podemos dizer, em mobilidade dupla,

pois esta acontece tanto no movimento físico como no informacional.

Barros e Brito (2013) ressaltam que o homem sempre viveu em movimento e

que ele está em contínuo deslocamento geográfico. Para os autores, a comunicação

também é inerente ao homem e os dispositivos sem fio conectados à rede acabam

promovendo a mobilidade informacional. Santaella (2013) enfatiza que esta

mobilidade física do sujeito junto com a mobilidade informacional oferecida pela web,

provocando o acesso em qualquer tempo e em qualquer lugar, gera a

hipermobilidade. Relacionando à aprendizagem, cria-se uma nova concepção que

não se limita apenas a sala de aula promovendo a aprendizagem com mobilidade.

Assim, o professor de Educação Física também pode trazer o movimento para

sua aula deixando o ambiente educativo próximo ao contexto do aluno. No ato

pedagógico as aulas podem ser transformadas pelo senso de investigação e

pesquisa, e “[...] ampliar o conjunto de conhecimentos que não se esgotam nos

conteúdos, nas metodologias, nas práticas corporais e nas reflexões” (PARANÁ,

2008, p. 72).

Enfim, não se quer dizer que se deva excluir ou esquecer os outros métodos

educativos mas, incorporar as tecnologias para contribuir de modo diferencial,

criando estratégias de integração e tornando o processo educativo mais rico, ou

seja, o uso da tecnologia é um complemento e não um substituto das práticas

pedagógicas.

2 EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA DO USO DO APARELHO CELULAR

A partir das considerações teóricas feitas anteriormente, apresenta-se agora

os resultados da experiência prática de aplicação da proposta. O desenvolvimento

do projeto pedagógico ocorreu no Colégio Estadual Caio Mario Moreira– Ensino

Fundamental e Médio, na cidade Cianorte, com alunos da 9º Ano, do período

matutino.

Os conteúdos ministrados estiveram de acordo com as Diretrizes Curriculares

Estaduais da Disciplina de Educação Física (PARANÁ, 2008) e a intenção foi

oferecer métodos didático/pedagógicos como subsídios no ensino-aprendizagem. As

atividades foram desenvolvidas dentro e fora da sala de aula e também em

contraturno, perfazendo um total de 36 horas/aulas.

A intenção era que os alunos além de utilizarem seu dispositivo para

produzirem mídias fora do espaço escolar, como vídeos, fotos, também criassem

grupos virtuais da sala para trocarem informações entre os colegas e o professor,

por meio WhatsAp, do Facebook, das atividades desenvolvidas dentro e além da

sala.

Deste modo os educandos podiam fazer uma releitura do que aprenderam na

sala de modo presencial para fora dela virtualmente. O papel de professor mediador

teve uma importância significativa neste processo. No final os alunos produziram um

documentário com as informações apreendidas com o uso do dispositivo móvel e a

análise dos conteúdos aprendidos e debatidos que foi postado na rede social

YouTube.

A turma do 9º ano escolhida para a implementação do projeto era constituída

de trinta e dois alunos e foi dividida em quatro grupos para a realização das

atividades. No início dos estudos o professor verificou que, dos trinta e dois alunos

apenas dois não possuiam celular, e que dos trinta restantes, três não tinham celular

com tecnologia 3G (com acesso à internet), ou seja, 27 alunos da turma tinham

dispositivos aptos para a realização do trabalho.

Partindo desta análise foi estabelecido que no minimo três alunos do grupo

tivessem celular disponíveis com internet para serem os líderes e auxiliares do grupo

no caso de algum outro aluno tivesse dificuldade de acesso a internet. Após a

criação dos grupos, um dos alunos foi responsável para criar o Facebook da turma

e, em cada grupo, os líderes criariam o grupo no WhatsApp dando nome à eles.

Seguindo esta organização a professora trabalhou o projeto em três etapas:

Na 1ª etapa foi feito o esclarecimento aos alunos sobre o projeto de ação que

eles fariam parte, levando em conta as contribuições dos educandos e seus

celulares no início e durante as atividades; divisão dos alunos em grupos para a

realização das tarefas e pesquisas por temas; criação do Facebook da turma e de

grupos no WhatsApp promovendo canais de comunicação além de sala de aula

entre professor/aluno, aluno/aluno.

Para a 2ª etapa: aulas teóricas e práticas sobre os elementos articuladores

“Cultura Corporal e Saúde” e “Cultura Corporal e Mídia”, auxiliando o aluno a

encontrar sentido nos conteúdos apreendidos. Para tanto, solicitou-se as seguintes

ações: a) coletas de dados no bairro sobre os diversos recursos físicos e ambientais

para a prática de atividades físicas, utilizando-se de câmera que reproduz imagem e

vídeo do celular; b) realização de entrevistas com o uso do celular; c) troca de

informações com o auxílio do WhatsApp entre professor, alunos sobre o andamento

das atividades; d) uso do Facebook para postagens de tarefas aos alunos pelo

professor e postagens de links de pesquisa e vídeos a serem realizadas pelos

alunos oferecendo ajuda adequada ao processo de elaboração do conhecimento

além do espaço da sala de aula.

3º Etapa: seleção feita pelo grupo dos textos, imagens e vídeos através do

celular para a construção do documentário. Nesse momento procurou-se

estabelecer relações entre os conteúdos apreendidos e o documentário. Em seguida

foi realizada a filmagem (com o uso do celular) da narração do trabalho por cada

grupo. Com o uso de aplicativo de celular, fizeram a edição do documentário, que foi

inscrito no YouTube pela conta de e-mail da turma para a postagem do

documentário.

O trabalho evoluiu da seguinte forma: dentro de sala de aula tiveram aulas

com uso de recursos tecnológicos ( laboratório de informática, projetor, TV Pendrive)

com debate sobre o conteúdo e aulas práticas; geração de imagens dos locais

públicos destinados as atividades físicas e experîencias motoras nestes locais;

elaboração de questionários e criação de textos com trocas de informações via

WhatsAp; organização do documentário.

Além de sala de aula, os alunos tiveram tarefas a serem realizadas pelos

grupos sendo cada qual com sua responsabilidade semanal, bem como a troca de

informações pelo WhatsApp e Facebook. Para o documentário os grupos

formulavam questões referentes aos conteúdos debatidos em sala para realizarem

suas entrevistas, depois filmavam junto com o professor e, em aula, criaram o texto

e a sequência do documentário, elegendo alguém da equipe para gravar as falas.

Desta forma todos participavam e davam suas opiniões.

Esta última parte do processo foi relativamente lenta, pois os alunos

demonstraram muita dificuldade para se organizarem e tomarem decisões sem

interferência direta da professora, o que de certo modo, mostra o quanto estão

acostumados a receber tudo pronto ou pré-moldado. Muitas destas atividades foram

terminadas por eles em casa e posteriormente corrigida e melhorada pela

professora.

É preciso salientar que o documentário seguiu um roteiro pré-determinado

pela educadora. Esta já tinha em mente o que queria com o documentário e a sua

ordem de apresentação e edição. Porém, todo trabalho foi colocado de forma que

houvesse participação ativa dos alunos com suas ideias. Quando existia o impasse,

a professora conduzia a discussão de modo o trabalho fluir.

Para a edição do documentário foi proposto o programa Movie Maker, porém

os alunos enviaram as edições a partir de aplicativos próprios de seus celulares o

que facilitou o trabalho, deixando-o muito mais dinâmico e viável ao projeto com o

uso dos celulares e seus recursos.

Para a edição final um dos alunos apresentou a idéia de se fazer com um

aplicativo do seu celular, um Ifhone 5S, levando uma pequena amostra. A professora

também possui um dispositivo móvel igual e por unanimidade os alunos aceitaram

este aplicativo. Assim depois dos alunos enviarem suas entrevistas, imagens e falas

filmadas e editadas para que a educadora fizesse a edição final. Posteriormente um

aluno criou um canal no YouTube e postou o documentário que foi intitulado “Vida

Ativa” (DOCUMENTÁRIO, 2015).

Paralelamente a esse estudo, houve um trabalho de colaboração de um grupo

de professores da rede pública de ensino que participaram do Grupo de Trabalho

em Rede (GTR) e que, de forma virtual, deram sua contribuição. Dentro os principais

pontos ressaltados é importante destacar:

1. Fizeram uma análise do projeto de implementação na escola e da

implementação do projeto pedagógico e sua relevância na Educação,

considerando o tema, a problematização, a descrição do objeto de estudo, a

fundamentação teórica e o encaminhamento metodológico.

2. Avaliaram a proposta de intervenção pedagógica bem como sua pertinência

quanto ao plano de trabalho apresentado. Além disso, cada participante

encaminhou sua proposta de implementação de acordo com sua realidade

escolar.

3. Participaram, também, quanto à viabilidade da proposta de aplicação em

outras realidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O professor que integra a tecnologia em sua prática implica coragem a uma

nova concepção de educação que se faz em um ambiente desfiador onde o

professor não é mais o centro, mas o mediador do processo ensino-aprendizagem.

Com as ações da implementação deu-se a oportunidade ao aluno de explorar

o celular, suas mídias, seus aplicativos e as redes sociais como meios para construir

o seu conhecimento e ampliar suas perspectivas em relação às novas tecnologias

que o cerca.

Para Fantin apud Pires, Lazzarotti Filho e Lisbôa (2012. p.59 ), dentro da

perspectiva da práxis Mídia-Educação o professor deveria desenvolver habilidades e

competências que objetivam: “1) adotar a comunicação como modo e espaço de

educação; 2) utilizar a mídia como material e ferramenta de intervenção educativa;

3) valorizar o fazer como oportunidade de aprendizagem; 4) utilizar a desconstrução

e ressignificação de mensagens (...); 5) formar o pensamento crítico”.

Na prática, percebemos o alcance que o grupo de estudos criado no

WhatsApp atingiu, dando oportunidades aos alunos trocarem informações,

sugestões e ideias em qualquer tempo e espaço e compor o documentário com

sucesso.

O documentário foi uma atividade importante para a fixação dos conteúdos e

uma maneira dos alunos utilizarem seus celulares de forma abrangente e

pedagógica e que garantiu à eles a apropriação da matéria aplicada e debatida em

sala de aula e além dela através do grupo de estudo virtual e também de construir o

pensamento crítico em relação as mídias que os cercam.

Através da experiência pedagógica e com as reflexões dos cursistas do GTR,

conclui-se que o educador deve utilizar os recursos tecnológicos como material

didático e como conteúdo de aprendizagem, e que a compreensão das

possibilidades do uso da web e da forma como ela influencia as transformações

sociais pode nos fazer pensar nas mudanças na forma de como se constrói hoje, o

conhecimento.

A formação continuada é um compromisso que os professores devem

assumir, aprimorando o trabalho docente no processo de ensino e de aprendizagem

na sala de aula para que ocorra o entendimento das expectativas sobre o uso

dessas tecnologias para este fim. Sem esta capacitação fica difícil o entendimento

do seu uso de modo amplo, pois é importante saber porque e para que usar e não

apenas como usar.

Considerando a Mídia-Educação que nos fundamentou em parte deste

trabalho, Bevórt e Belloni (2009) relatam que esse campo é relativamente novo

existindo algumas dificuldades para sua consolidação. Dentre essas dificuldades

está a pouca importância dada na formação inicial e continuada de profissionais da

educação.

Deste modo percebemos que é possível o emprego do celular porém deve

haver investimentos em políticas públicas que possibilitem tanto investimentos em

ferramentas tecnológicas na escola, bem como capacitação aos professores no uso

destas tecnologias para que não sejam mais um recurso pedagógico sem conexão

com o aprimoramento dos conteúdos mas como auxilio na formação do pensamento

crítico dos educandos.

Sabemos que este estudo não se esgota aqui e espera-se que as

experiências apresentadas contribuam para o desenvolvendo de uma nova

percepção entre os educadores sobre o uso do celular devendo ir além do consumo

de mídias e auxiliando em aprendizagens significativas abrindo caminhos para

novas pesquisas e experiências com os dispositivos móveis em sala de aula.

REFERÊNCIAS:

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