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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

Ficha para identificação do Artigo Final Professor PDE/2013

Título: Haicai como incentivo à leitura e escrita

Autor: Ivair Alberto Borges

Disciplina/Área: Língua Portuguesa

Escola de Implementação e sua localização:

Colégio Estadual do Campo Olídia Rocha

Poema/Nova Tebas

Município da escola: Nova Tebas PR

Núcleo Regional de Educação: Pitanga

Professor Orientador: Luciana Fracasse

Instituição de Ensino Superior: UNICENTRO

Resumo: O presente artigo resulta da análise e reflexão

acerca dos resultados com o Projeto de

Intervenção Pedagógica, intitulado: Haicai como

incentivo à leitura e escrita, aplicado no 1º ano do

Ensino Médio, período noturno, do Colégio

Estadual do Campo Olídia Rocha EFM, em

Poema, distrito de Nova Tebas, no ano de 2014.

Trata-se de uma proposta para incentivar os

alunos a buscarem a leitura e o conhecimento por

meio de textos literários, especificamente o haicai,

poema de origem japonesa, constituído por três

versos, tradicionalmente composto por cinco, sete

e cinco sílabas. Esta forma poética tende a

despertar nos leitores a percepção, a

concentração, a reflexão mediante a expressão

escrita.

Palavras-chave: Leitura, Escrita, Poesia.

Público: Alunos do 1º ano do Ensino Médio noturno

A PRÁTICA DE LEITURA E ESCRITA PARA OS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO: O

USO DO HAICAI COMO INCENTIVO

Autor: Ivair Alberto Borges 1

Orientadora: Prof.ª Doutora Luciana Fracasse 2

RESUMO

Este artigo resulta da necessidade de mostrar alternativas possíveis para estimular o gosto pela leitura e a escrita por meio de práticas significativas de leitura e produção textual. Tornar significativas para os alunos as práticas de leitura e escrita é hoje um dos maiores desafios enfrentados pela educação escolar, principalmente na disciplina de Língua Portuguesa, quando nos deparamos rotineiramente com o desinteresse dos nossos alunos pela leitura e, consequentemente, pela escrita. Para isso, se elaborou uma pesquisa bibliográfica com autores especialistas no assunto em diversas fontes de consulta, tais como, obras, artigos e publicações na internet, tendo os resultados favoráveis à aplicação do modelo didático com que se interveio em aula para demonstrar que este permite que, por fim, os alunos associem a criatividade em língua e literatura a uma criatividade global ou uma cultura criativa que envolva seu desenvolvimento integral como pessoas. Atrelado a isto, optou-se pelo uso do haicai, que, pelo fato de ser uma forma fixa de poesia, contribui também para o desenvolvimento da disciplina e a ampliação do poder de percepção e concentração necessários para se escrever com arte usando a escrita como meio de expressão pessoal.

PALAVRAS CHAVE: Escrita. Leitura. Haicai.

1. INTRODUÇÃO

O interesse e relevância do tema radicam na necessidade dos professores

em adquirir modelos e estratégias didáticas, por conta de sua licenciatura para

formação contínua, que o levem a conceber a criatividade nas aulas de língua e

literatura como um mecanismo eficiente para o desenvolvimento pessoal e social, o

desenvolvimento integral da pessoa em todas as dimensões (cognitiva, afetiva e

efetiva), como parte de uma cultura criativa global que possa ser transportada para

dentro de suas aula. Portanto, o problema que se observa é, conceitualmente, que

os alunos não associam a criatividade na língua e literatura, em aula, como um

mecanismo vinculado a uma cultura criativa global, uma cultura na qual se fomenta e

potência o desenvolvimento integral da pessoa.

1 Professor PDE

2 Professor orientador PDE

O conteúdo didático da matéria literatura correspondente ao grupo onde se

interveio para este trabalho com pretensão de observar e conseguir a melhora, não

busca, exclusivamente, que o docente do Ensino Medio aprenda como ensinar

literatura aos alunos. Nesse sentido, também há um desafio em andamento na

prática destes princípios que, acima de qualquer outra coisa, pretendem englobar a

leitura e todos seus arredores a um quadro de bem-estar acessível para todos, para

que aprendam a manter um contato gratificante e criativo com a literatura.

De todo o estudo inicial, neste artigo, só se apresenta uma parte, centrada na

valoração da proposta de intervenção didática em aula: uma oficina de leitura e

escrita criativa. Ao procurar desenvolver a competencia comunicativa dos

estudantes no horizonte de qualquer proposta de estímulo da leitura e escrita em

aula, se busca, em especial, o estímulo da criatividade que leve a um

desenvolvimento pessoal íntegro (social, afetivo, cultural, crítico) e a contemplá-la

como sinônimo de um entusiasmo vital e profissional aos educadores em questão. É

por isso que, entre as tarefas que a proposta inclui, se contempla uma aproximação

agradável, estimulante e inovadora fazendo uso da via poética e da necessária

descoberta da leitura do referido gênero haicai, tão afastado da leitura por prazer da

maior parte dos estudantes, em contraposição à propensão a uma abordagem mais

especializada, normativa e funcional da mesma. Portanto, garantem-se o fomento da

leitura e da escrita inventiva, criativa, sem a restrição de propor-nos, previamente, se

o que resulta é ou não literatura, o que levaria a outro debate. Garante-se, em suma,

o vínculo entre a literatura e o conhecimento da língua.

2. HAICAI COMO INCENTIVO E PRÁTICA DA LEITURA

De acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais da Educação Básica para

o ensino de Língua Portuguesa (PARANÁ, 2006), as práticas de escrita na escola

devem considerar o aluno como um sujeito que tem o que dizer, portanto, é

necessário que as práticas de escrita sejam significativas, para que “o aluno se

envolva com os textos que produz e assuma a autoria do que escreve, visto que ele

é um sujeito que tem o que dizer” (PARANÁ, 2006, p. 56).

As Diretrizes de Língua Portuguesa ainda salientam que “a produção escrita

possibilita que o sujeito se posicione, tenha voz em seu texto, interagindo com as

práticas de linguagem da sociedade” (PARANÁ, 2006, p. 56).

Dada a relevância da compreensão dos mecanismos e competências do uso

da escrita na sociedade contemporânea, se faz necessário que a escola possibilite

ao aluno contato com bons textos escritos, assim como com as particularidades e

especificidades dos mais variados gêneros textuais para que, se apropriando da

competência de expressar-se bem por escrito, o aluno possa ampliar a sua visão e

conhecimento de mundo.

Porém, é notório que, antes de escrever bem, o aluno precisa ler. E ler bons

textos, pois a leitura de textos de qualidade, coerentes e coesos, pode contribuir de

modo positivo e eficaz para o desenvolvimento da escrita, porque ao entrar em

contato com textos bem redigidos, o aluno terá mais facilidade para compreender os

componentes que fazem um texto ser considerado bom.

A leitura é uma atividade tão importante que sua relevância extrapola muito o

âmbito escolar, alcançando as esferas sociais ligadas à cultura, política, história,

religião entre outras.

De acordo com Ezequiel Theodoro da Silva (2005,p.24),

a prática de leitura é um princípio de cidadania, ou seja, o leitor cidadão, pelas diferentes práticas de leitura, pode ficar sabendo quais são suas obrigações e também pode defender os seus direitos, além de ficar aberto às conquistas de outros direitos necessários para uma sociedade justa, democrática e feliz.

Desse modo, tendo em vista a importância da leitura para o desenvolvimento

da escrita e a necessidade dessas duas práticas, leitura e escrita, para a vida em

sociedade, principalmente no atual momento histórico em que vivemos, no qual o

conhecimento e as informações estão ao alcance de todos que dominem, com

competência, o ler e o escrever, a escola enfrenta o desafio de propor práticas de

leitura e escrita que tenham significado para os alunos, a fim de contribuir para que

realmente se apropriem desses saberes básicos tão fundamentais para a vida

moderna.

Segundo Rildo Cosson (2012, p.30),

Na escola, a leitura literária tem a função de nos ajudar a ler melhor, não apenas porque possibilita a criação do hábito de leitura ou porque seja prazerosa, mas sim, e sobretudo, porque nos fornece, como nenhum outro tipo de leitura faz, os instrumentos necessários para conhecer e articular com proficiência o mundo feito linguagem.

Assim, na tentativa de lançar mão de alternativas capazes de motivar os

alunos para as práticas de leitura e, consequentemente, para a escrita é que se

propõe, neste projeto, o trabalho com a leitura de textos literários, especificamente

do texto poético. Isso porque a poesia é mais do que um gênero textual e sim uma

forma de expressão pessoal de sentimentos, emoções, pontos de vista, opiniões,

enfim, de ideias.

De acordo com Octavio Paz (1976, p.12):

A poesia pertence a todas as épocas: é a forma natural de expressão dos homens. Não há povos sem poesia, mas existem os que não têm prosa.Portanto, pode-se dizer que a prosa não é uma forma de expressão inerente à sociedade, enquanto que é inconcebível a existência de uma sociedade sem canções, mitos ou outras expressões poéticas.

Assim, por ser inerente à vida humana, a poesia é um tipo de texto que faz

parte do nosso cotidiano, pois nos acompanha desde a infância por meio das

canções de ninar cantadas por nossas mães e das brincadeiras de roda na escola.

Além disso, é possível notar que a poesia está fortemente presente também

na linguagem publicitária que chega até nós pelos meios de comunicação de massa.

A linguagem poética é, desse modo, muito explorada devido a sua grande aceitação,

pois mexe com os sentimentos e com a sensibilidade das pessoas.

Considerando, então, que a poesia é, ainda, um dos gêneros textuais mais

atrativos para os nossos alunos, o trabalho com o texto poético, proposto neste

projeto, pretende fazer com que o aluno leia mais, ao mesmo tempo em que passe a

conhecer melhor as características de um poema, para que, adquirindo o

conhecimento estrutural de um texto poético bem elaborado, possa se utilizar desse

espaço poético, o poema, para expressar o que pensa ou sente em relação ao lugar

onde vive, ou seja, o campo.

Ao entender, então, a escola como lugar privilegiado para a formação integral

do sujeito, é preciso também pensar o espaço escolar como responsável por mostrar

a esse sujeito a poesia que nos rodeia que está nas coisas, nas pessoas, na

natureza, enfim, em todo lugar.

Para tanto, considerando, especificamente, que os alunos que se pretende

motivar para as práticas de leitura e escrita são oriundos da zona rural e estudam

em uma escola do campo, chegou-se a conclusão de que o texto poético mais

adequado para essa situação é o haicai, pelo fato de que a presença de elementos

ligados à natureza pode contribuir de modo significativo para a formação identitária

do jovem do campo.

Segundo Couchoud, citado por Paulo Franchetti (2008, p.3):

O haicai é uma poesia japonesa em três versos, ou antes em três pequenas partes de frase, a primeira de cinco sílabas, a segunda de sete, a terceira de cinco: dezessete sílabas ao todo. É o mais elementar dos gêneros poéticos. [...] Um haicai não é comparável nem a um dístico grego ou latino, nem a um quarteto francês. Não é tampouco um "pensamento", nem um "dito espirituoso", nem um provérbio, nem um epigrama no sentido moderno, nem um epigrama no sentido antigo, isto é uma inscrição, mas um simples quadro em três pinceladas, uma vinheta, um esboço, às vezes um simples registro (touche), uma impressão.

Assim, ao se mostrar “um registro, uma impressão” do que é possível ver ou

sentir, um haicai pode se apresentar como uma forma de expressar o que o aluno

vê, pensa ou sente em relação ao local onde vive.

O fato de o haicai ser uma forma fixa de poesia, também irá favorecer o

desenvolvimento da disciplina e a ampliação da atenção, percepção, concentração e

a capacidade de sintetizar informações e ideias, necessárias para se escrever um

poema usando a linguagem poética como modo particular e subjetivo de expressão.

Faz-se necessário, ainda, destacar que, seguindo as orientações expressas

nas Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua Portuguesa (PARANÁ, 2006, p.72)

que sugerem que as atividades de leitura de um texto poético devem considerar o

seu valor estético e o seu conteúdo temático além de dialogar com os sentimentos

manifestos no poema, bem como as figuras de linguagem presentes nele e, ainda,

seus objetivos, o projeto privilegiará a leitura e a análise de haicais de Paulo

Leminski, como estratégia também de valorização da produção literária e poética de

um dos mais importantes poetas paranaenses.

O destaque e a preferência pela obra poética de Paulo Leminski se devem,

principalmente, ao fato de ter sido ele, segundo Régis Bonvincino (1999, p.9),

um dos poucos, na segunda metade deste século, retomando Oswald de Andrade e Mário de Andrade, a trabalhar de modo radical com a ideia de dissolução e de limite. Entre prosa e poesia; entre estamentos da cultura como erudito e popular; entre “areas” de conhecimento, como história e filosofia; entre informação e comunicação; entre legível e ilegível etc.

Feito esse recorte e tendo em vista que há diferentes formas de se definir e

caracterizar um haicai, é preciso também esclarecer que, para realização deste

trabalho, será considerado o formato de haicai praticado por Paulo Leminski, que

traduziu e escreveu poemas com um estilo próprio.

Segundo Olivia Yumi Nakaema (2011, p.255):

Diferentemente do haicai japonês da Escola de Bashô, o de Paulo Leminski possui forma breve não necessariamente correspondente a dezessete sílabas. Assim, quanto ao plano da expressão, há haicais de Leminski que possuem mais de três versos e versos com número de sílabas poéticas variadas. É possível também encontrar poemas com rimas, aliterações, assonâncias, entre outros recursos poéticos, bem como a presença de títulos. Com relação ao plano da expressão, nem sempre há nos poemas de Leminski o termo sazonal kigo ou o ideal zen budista de iluminação.

De acordo com o que foi acima exposto, explorar a multiplicidade de sentidos

e recursos do texto poético, especificamente do haicai, pode ser um dos caminhos

possíveis de ser trilhado dentro do ambiente escolar para motivar os alunos para a

leitura e também para o uso da escrita como espaço de expressão

2.1 O HAICAI E HEIDEGGER

Haicai é uma poesia que se volta claramente para fazer as coisas em busca

de sua essência intemporal e, em última instância, se pretende buscar, depois delas,

o sagrado que esconde. Remete a duas instâncias: ao que está aí e se pode ver (o

palpável) e o que está aí, mas escapa aos nossos sentidos (o invisível). Na Europa,

excessivamente introspectiva desde a filosofia grega, é com Kant que se propõe,

explicitamente pela primeira, vez o tema dos fenômenos e a realidade externa.

Dessa forma, este divide a realidade em fenômeno (o que se pode conhecer através

das representações internas) e númeno (“a coisa-em-si” o que não se pode

conhecer, o qual Heidegger (apud PAZ, 1984) denomina a essência.

O haicai diz o que se pode penetrar nessa realidade que Kant denomina

númeno e encontrar o que as coisas são em si mesmo. Até que não aparecesse a

fenomenologia por Husserl na Europa não se dá uma volta fazendo as coisas e com

isso ocorre um tipo de estética também voltada a estas áreas em um primeiro

momento (GUZZONI et al., 2012).

Como disciplina, ele não pode ser considerado um tipo de fenomenologia ao

estilo husserliano porque não se serve da razão para ir à origem das coisas, senão

que podíamos a denominar como um fenômeno poesia, já que é por meio da poesia

que se pode chegar às coisas sem sua mais alta essencialidade. Por poesia não

podemos entender à concepção platônica de poesias já que não se trata de imitar a

natureza em último termo (imitando se perde a essência do que se representa), mas,

sim, pela poesia pura se pode penetrar verdadeiramente nas coisas mediante uma

iluminação espontânea que não deve ser buscada.

Curiosamente, Heidegger (1979), em sua estética do originário, pensa

substancialmente o mesmo que Husserl, segundo Pádua (2005). Assim sendo, para

adentrarmos no ser e descobrir sua essência, devemos ir ao originário, ou seja, ao

pensamento anterior a Platão e à poesia. Com a filosofia a partir de Platão,

esqueceu-se a verdadeira pergunta pelo ser, o originário e o essencial e optou-se

pelo estudo do ente, o sensível e o mundano. Mas só com o mito e a poesia (e o

haicai representa a perfeição disso) se adentra na essência do ser e não com a

filosofia. Daí que seja tão radical sua crítica à metafísica.

O problema é que não podemos entender o apelo que faz Heidegger deste

pensamento sobre a poesia primitiva se não se entende sua ardente crítica à

metafísica tradicional, pela qual, antes de adentrarmos no tema da linguagem em

Heidegger, apresentam-se algumas explicações sobre em que consiste e por que

Heidegger critica tão duramente a metafísica.

Em dissonância e crítica contínua com a filosofia da subjetividade moderna

vamos ver como propõe, pois, Heidegger, a questão do ser em Carta sobre o

Humanismo. Em toda a obra revoluteia a contínua crítica que em toda sua carreira

estabelece: a metafísica tradicional durante sua história (desde Platão a Nietzsche)

equivocou-se na hora de elaborar e propor a pergunta fundamental da filosofia, a

questão do ser.

3. METODOLOGIA

Inicialmente, foi apresentado aos alunos um questionário investigativo para

identificar o que realmente os alunos sabiam sobre alguns aspectos relacionados à

literatura e à leitura, pois como o projeto seria aplicado no 1º ano do Ensino Médio

imaginou-se que eles ainda não tinham tido um grande contato com a literatura,

desta forma o questionário ajudou a trilhar alguns caminhos a serem seguidos. Por

meio deste, observou-se que a maioria dos alunos já possuiam algum conhecimento

em relação à literatura. O mesmo questionário foi aplicado no final da unidade para

observar os avanços alcançados pela turma, sendo possível constatar uma grande

evolução em relação à leitura e à escrita dos alunos. Após a atividade do

questionário, foi apresentado aos alunos alguns textos poéticos, para que eles

pudessem realizar a análise poética. Além da análise, foi realizada também a

montagem de poemas, onde pôde-se observar uma grande dificuldade por parte dos

alunos.

Para que os alunos pudessem entender melhor o universo literário se fez

necessária a abordagem de alguns temas como: Literatura no Brasil e no Paraná,

Haicai no Brasil e no Paraná e Haicai de Paulo Leminski. Para tanto, foram

realizadas algumas pesquisas na biblioteca e no laboratório de informática. Para que

os alunos pudessem ter um contato ainda maior com os haicais, foi realizada uma

atividade de construção de um marca página, contendo um haicai do poeta Paulo

Leminski, escolhido pelos próprios alunos, estes marca páginas foram doados para

alunos do ensino fundamental, como forma de incentivo à leitura.

Uma das atividades que mais chamou a atenção dos alunos foi a atividade de

número 16, que consistiu na realização de um passeio no entorno da comunidade

local. Munidos de câmeras fotográficas e celulares eles observaram a paisagem

como um todo e tiraram fotos de algumas coisas que mais lhes chamaram a

atenção, como por exemplo: árvores, casas, veículos, animais, objetos etc.

Terminado o passeio, alunos e professores retornaram para a sala de aula, onde

escolheram uma foto que mais lhes chamou a atenção para a produção do haicai.

Todos os haicais produzidos pelos alunos foram apresentados à comunidade

escolar durante o XVI Varal de Poesias do Colégio Estadual do Campo Olídia

Rocha.

4. IMPLEMENTAÇÃO NA ESCOLA

Alguns haicais produzidos pelos alunos durante o PDE

HAICÃO

Sentado no meio da grama

O melhor amigo do homem

A espera do seu dono

Ilustração 1 - HAICÃO Autor: TIAGO ADÃO PORFIRIO - 1º ANO - IVAIR /PDE

SOL

Presente divino

Obra prima do senhor

Anuncia as manhãs

Ilustração 2 – SOL Autor: RÚBIA EDUARDA - 1º ANO - IVAIR/PDE

SAUDOSISMO

No vermelho da Ferrari

Força e lentidão

Saudosismo sem ostentação

Ilustração 3 – SAUDOSISMO Autor: MARCOS PAULO - 1º ANO - IVAIR/PDE

PERFUME

Acabou a espera

Sinto o perfume

Já chegou a primavera

Ilustração 4 – PERFUME Autor: Jozelina 1º ano – IVAIR/PDE

Marca página produzido pelos alunos durante o PDE

4.1 GTR

Um momento muito enriquecedor dessa experiência pedagógica foi a

realização do Grupo de Trabalho em Rede, pois possibilitou um contato direto com

meus colegas da área de Língua Portuguesa. Trocar ideias e experiências com

profissionais que lecionam língua materna foi importante para que eu me atualizasse

como docente.

Por ser uma modalidade de formação em Educação à Distância, o GTR

proporciona aos cursistas flexibilidade e autonomia na sua formação continuada. Os

conhecimentos socializados são resultado de um ano de pesquisas e muito estudo.

Aos professores/cursistas o trabalho desenvolvido é apresentado na forma de um

projeto de intervenção educacional, assim o professor PDE pode compartilhar novas

metodologias de ensino com os seus cursistas. Para tanto, são formados grupos de

educadores com disciplina comum de atuação e a interação entre o tutor (professor

PDE) e os demais docentes se dá num ambiente virtual de aprendizagem.

Nessa perspectiva, a formação promovida pelo Grupo de Trabalho em Rede

(GTR) oferece a oportunidade de desenvolvimento de autonomia do pensamento,

além de estimular a reflexão sobre a prática pedagógica. Como essa formação

continuada se dá por meio de atividades em grupo também promove a aproximação

no contexto de trabalho dos profissionais ao processo de formação, permitindo o

envolvimento de indivíduos que apresentem interesses em comum, visando atender

as necessidades dos sujeitos envolvidos. Desse modo, os grupos de estudo

proporcionam a investigação e a reflexão sobre o trabalho pedagógico e com isso a

elaboração e/ou reconstrução de saberes entre os profissionais envolvidos,

permitindo entre eles o crescimento profissional. Nos ambientes virtuais a

comunicação é um importante recurso no processamento das informações pelos

educandos, promovendo a construção de habilidades necessárias ao gerenciamento

e relacionamento das informações disponíveis para estudo nos ambientes virtuais.

A interação na Educação à Distância oportunizada pelo GTR ainda apresenta

a seguinte particularidade: a comunicação escrita é entendida como uma

formalização das ideias e pode ser utilizada pelos demais participantes do grupo

para a reflexão, o que contribui no enriquecimento nas trocas do curso, o mesmo,

porém, não ocorre num ambiente presencial, pois muitas ideias são comunicadas

por meio de gestos ou olhares que não contribuem para a formalização necessária à

apreensão do conhecimento.

Portanto, pode-se concluir que as ferramentas utilizadas na interação nos

ambientes virtuais do GTR promovem muito mais que a comunicação entre os

cursistas e cursista/tutor, são oportunidades de reflexão para os sujeitos envolvidos,

porque por meio da comunicação escrita devem expor suas opiniões,

entendimentos, dúvidas, contentamentos e descontentamentos no decorrer do

curso.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com Bosi (2000), um haicai deve ser claro, transparente, sem

duplos sentidos, sem interpretações, não admite a imaginação, é tão sensorial como

ver a queda de uma folha, ouvir o coaxar de uma rã ou o assovio do vento entre os

ramos de uma árvore.

Mas consciente do que não só emana destas belas imagens mas pode

também ser produzido diante de uma realidade feia ou desagradavel, produzindo-se

um impacto emocional, pode também ser motivo de um haicai.

O haicai não é literatura; não o é, ao menos, na forma em que se entende em

nossa cultura, pois um texto qualificado como tal se caracteriza especialmente

porque nele se produz uma manipulação da língua com a finalidade de criar beleza,

que muitos defendem é aí radica sua essência, e mediante isso se consegue a

finalidade que tais textos perseguem, a saber, a surpresa, a alienação no leitor. No

caso dos haicais essa alienação consegue-se mediante o procedimento contrário,

pela falta absoluta de retórica. Trata-se de uma forma livre de recursos poéticos mas

estrita no que respeita à estrutura.

Não obstante, desde princípios do século XX vieram aparecendo diferentes

escolas orientais que defendem a possibilidade de inovar ou introduzir modificações

que afetam tanto o conteúdo como a forma. Podemos citar, como exemplo, a escola

Shinkeiko que rompe totalmente com a ortodoxia dentro do haicai preconizando a

liberdade de composição ao introduzir um quarto verso que proporciona maior

capacidade explicativa.

Mas a questão de que se o haicai deve manter sua essência e ajustar-se aos

preceitos que os grandes mestres estabeleceram ou se deve se adaptar aos tempos

e evoluir com eles é espinhosa e, suficientemente, extensa como para escrever

outro artigo.

6. REFERÊNCIAS

BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

BRASIL. Ministério da Educação. Coletânea de textos – Programa de formação de professores alfabetizadores. Brasília, 2001.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: Ministério da Educação - Secretaria de Educação Média e tecnológica, 1998.

COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. 2. ed.,2ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2012.

FRANCHETTI, Paulo. Notas sobre a história do haicai no Brasil. In: Revista de Letras. São Paulo: UNESP, n. 34, 1994, p. 197-213.

______. O haicai no Brasil. Alea: Estudos Neolatinos, v. 10, n. 2, 2008, p. 256-269.

GUZZONI, Ute et al. O Admirável e a Filosofia. O Percevejo Online, v. 3, n. 2, 2012.

HEIDEGGER, M. Heidegger. Col. Os Pensadores. Trad. de E. Stein. São Paulo; Abril Cultural, 1979.

LEMINSKI, Paulo. Envie meu dicionário: cartas e alguma crítica–Paulo Leminski e Régis Bonvicino. Organização: Régis Bonvicino. São Paulo: Ed, v. 34, 1999.

______. Melhores poemas de Paulo Leminski. 3 ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

NAKAEMA, Olivia Yumi. Haicais de Paulo Leminski: Uma Abordagem Semiótica. Cadernos de Pesquisa na Graduação em Letras. v. 1, n.1, jan-jun, 2011. p. 252-260.

PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica – DCE. Educação do Campo. Secretaria de estado da Educação do Paraná. Departamento de Educação Básica. Curitiba, 2008.

______. Diretrizes Curriculares da Educação Básica – DCE. Língua Portuguesa. Secretaria de estado da Educação do Paraná. Departamento de Educação Básica. Curitiba, 2008.

PÁDUA, Ligia Teresa Saramago. A “Topologia do ser”: lugar, espaço e linguagem no pensamento de Martin Heidegger / Ligia Teresa Saramago Pádua ; orientador: Paulo Cesar Duque-Estrada ; coorientadora: Márcia Cristina Ferreira Gonçalves. – Rio de Janeiro : PUC-Rio, Departamento de Filosofia, 2005.

PAZ, O. Os filhos do barro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

PAZ, Octavio. Signos em rotação. 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 1976.

_____. Signos em rotação. 3 ed. São Paulo: Perspectiva, 2009.

SILVA, Ezequiel Theodoro da. O Ato de Ler: Fundamentos Psicológicos para uma Nova Pedagogia da Leitura. São Paulo: Cortez Editora, 2002.