os desafios da escola pÚblica paranaense na … · para joan scott é fundamental que os estudos...

50
Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

Upload: nguyenanh

Post on 14-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

Page 2: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Secretaria de Estado da Educação do Paraná

Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de União da Vitória

Programa de Desenvolvimento Educacional

UNIDADE DIDÁTICA

História e Gênero

Comportamentos Femininos entre o Passado e o Presente:

Vivência das Mulheres na Época Colonial: mudanças e permanências.

Autoria

Rosangela Bankersen

Orientação

Kelly Cristina B. Viana

União da Vitória 2013

Page 3: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO

PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA

TURMA -PDE/2013

Título: Comportamentos femininos entre o passado e o presente: vivência

das mulheres na época colonial, mudanças e permanências.

Autor Rosângela Bankersen Michels.

Disciplina/Área (ingresso no

PDE)

História

Escola de Implementação do

Projeto e sua localização

Colégio Estadual Barão do Cerro Azul

Ensino Fundamental, Médio, Normal e

Profissional.

Av. Interventor Manoel Ribas, 238

Cruz Machado – Pr

CEP: 84620-000

Município da escola

Cruz Machado

Núcleo Regional de Educação União da Vitória

Professor Orientador

Ms. Kelly Cristina B. Viana

Instituição de Ensino Superior

Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e

Letras de União da Vitória - Pr

Resumo

A presente Unidade Didática tem como

objetivo trabalhar a questão de gênero,

voltada para a história das mulheres,

iniciando com uma discussão sobre as

relações de gênero na atualidade e partindo

deste principio, analisar e debater os

comportamentos femininos, bem como as

formas como eram tratadas as mulheres no

período colonial brasileiro nos séculos XVII

Page 4: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

e XVIII, para que, possamos compreender

os avanços obtidos pelas mulheres nos dias

atuais, bem como refletir sobre as

mudanças, permanências e o que ainda

temos a conquistar. Esta produção será

desenvolvida com alunos do 2º Ano de

Formação de Docentes e pretende-se

possibilitar a discussão a respeito das

relações de gênero na atualidade, para que

realmente possamos pensar uma questão

de igualdade entre homens e mulheres,

uma vez que, lamentavelmente a violência,

a discriminação e os preconceitos ainda

estão presentes e muito fortes em nossa

sociedade.

Palavras-chave (3 a 5 palavras)

Brasil Colônia. Mulheres. Gênero.

Contemporaneidade.

Formato do Material Didático

Unidade Didática

Público Alvo 2º ano do curso de Formação de Docentes

Apresentação

A presente Unidade Didática visa cumprir uma das atividades obrigatórias do

Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), que é uma formação continuada

e tem por objetivo dar suporte teórico e prático. Tal programa se preocupa em tornar

este um aprendizado importante e significativo, direcionado para estudantes do 2º

ano do curso de Formação de Docentes do Colégio Estadual Barão do Cerro Azul,

sendo elaborado a partir das Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, visando

proporcionar aos alunos condições para que estes possam debater e discutir

assuntos relacionados à questão de gênero, mais especificamente o papel das

mulheres em nossa sociedade atual, bem como conhecer os comportamentos

Page 5: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

femininos e as formas como eram tratadas as mulheres no período colonial

brasileiro. Pretendemos focar nossa pesquisa em questões como sexualidade,

casamento, honra, divórcio e maternidade, sendo que, para tanto centraremos nossa

análise nos séculos XVII e XVIII, por entendermos que neste período as instituições

sociais já estavam consolidadas nas principais capitanias do Brasil.

A contribuição deste estudo que privilegia aspectos comportamentais da

mulher no passado é de grande importância, pois, é a partir das práticas acima

descritas que encontramos condições mais reveladoras sobre as vivências femininas

na colônia, para que desta forma, possamos compreender os avanços obtidos pelas

mulheres nos dias atuais, bem como, discutirmos as mudanças, permanências e o

que ainda temos a conquistar.

O objetivo principal desta implementação vai de encontro à necessidade de um

trabalho que aborde a questão de Gênero, para que possamos ter em nossas

escolas conteúdos que privilegiem em seus currículos o princípio da igualdade.

Entretanto, para que este trabalho ganhe consistência é preciso que estejamos

dispostos a buscar aperfeiçoamento e qualificação sobre a temática de Gênero,

pesquisando, lendo e buscando novas maneiras para que esta discussão esteja

presente no cotidiano dos alunos, a fim de minimizar o preconceito contra a mulher e

o machismo existente em nossa sociedade.

Por isso o trabalho da escola é de suma importância, pois apesar dos avanços,

a história narrada nas escolas ainda é masculina. Os fatos são apresentados por

todos na sociedade como se houvesse uma preponderância absoluta, uma

supremacia definitiva dos homens sobre as mulheres. Neste contexto, a educação

escolar é essencial na luta que se trava pela promoção da igualdade de

oportunidades e no enfrentamento dos preconceitos e das discriminações.

Esta Unidade Didática está organizada em dois momentos. O primeiro

momento apresenta uma discussão e atividades voltadas à questão de gênero na

atualidade, pretendemos primeiramente conceituar o que é gênero para em seguida

buscar a conscientização dos alunos acerca de sua atuação, levando essa questão

de igualdade humana para nossos educandos.

O segundo momento está voltado a propostas de atividades pedagógicas

relacionadas ao período colonial Brasileiro no que diz respeito a comportamentos

relacionados às mulheres neste período, para que possamos refletir o dia a dia da

mulher no Brasil colonial e o caráter de submissão a que eram submetidas.

Page 6: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

UNIDADE DIDÁTICA

Trabalhando Gênero

Observando a importância que a pesquisa de gênero tem na historiografia brasileira e compreendendo que as mulheres têm um papel de destaque na sociedade contemporânea, o ensino e aprendizagem destas questões são fundamentais para o enriquecimento pessoal do aluno e principalmente para a leitura e compreensão do mundo, além de ser de suma importância para sua vivência, enquanto cidadão crítico, pensante e participativo, em uma sociedade que vive em constantes mudanças, pois, pensar e discutir a questão de gênero é indispensável para o nosso dia a dia.

Fonte: http://agendacultural-bmqs.blogspot.com.br

Sendo assim, este primeiro momento da Unidade Didática estará

voltado a atividades relacionadas à questão de gênero.

Page 7: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Caro professor!

Para a realização de um bom trabalho a respeito da questão de gênero

em sala de aula, é preciso antes conhecer muito bem e nos aprofundarmos

neste assunto. Para tanto, sugerimos alguns sites, sítios, livros e artigos que

abordam este tema:

ADELMAN, Miriam: SILVESTRIN, Celsi Bronstrup. Gênero Plural: Coletânea.

Curitiba: UFPR, 2002.

CADERNOS PAGU. O gênero na História: a categoria da diferença na escrita

da História. Debate Scott, Tilly e Varikas. Cadernos Pagu (3) 1994. 11-84

FILHO, Amílcar Torrão. Uma questão de gênero: onde o masculino e o

feminino se cruzam. Caderno Pagu (24) – janeiro-junho de 2005,

JAGGAR, Alison M.; BORDO, Susan R. Gênero, Corpo, Conhecimento. Rio

de Janeiro: Record: Rosa dos Ventos, 1997.

LOURO, Guacira Lopes. (org) O corpo educado. Pedagogias da sexualidade.

Belo Horizonte: Autêntica 2000. Capitulo 1, “Pedagogias da sexualidade”.

PEDRO, Joana Maria; WOLFF, Cristina Scheibe; VEIGA, Ana Maria.

Resistências, Gênero e Feminismos contra as ditaduras no Cone Sul.

Florianópolis: Mulheres, 2011.

PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. São Paulo: Contexto,

2007.

PERROT, Michelle. “Escrever uma história das mulheres: relato de uma

experiência.” Cadernos Pagu, (4) 1995. 9-28

SCOTT, Joan. “El problema de la invisibilidad”. In ESCANDÓN, Carmen

Page 8: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Ramos (Org.) Género y Historia. Mexico: Universidad Antónoma

Metropolitana, 1992.

SCOTT, Joan. Gênero uma categoria útil de Análise Histórica. In:

Educação e Realidade 20(2)jul/dez, 1995.

SILVA, Carla Fernanda da; KRAEMER, Celso (Org.). Corpos Plurais:

experiências possíveis. Blumenau: Liquidificador. 2012.

STEARNS, Peter N. História das Relações de Gênero. São Paulo: Contexto,

2010.

Sítios:

Biblioteca Virtual da Mulher.

Instituto de Estudos de Gêneros

Revistas Estudos feministas

Núcleo de Estudos de Gênero Pagu

Acesse também:

http://www.pagu.unicamp.br/node/39

https://periodicos.ufsc.br/index.pho/ref

Blogs Feministas:

blogueirasfeministas.com

colectivofeminista.blogspot.com

Page 9: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

escrevalolaescreva.blogspot.com

feministactual.wordpress.com

feministassemfronteiras.blogspot.com

gengibrelilas.blogspot.com

mariafro.com

machismomata.wordpress.com

ATIVIDADE

PRODUÇÃO DE RELATO PESSOAL

Inicialmente, será solicitada aos alunos e alunas uma produção de texto

a respeito do que eles compreendem por Gênero, a partir do conhecimento

prévio deles, para que desta forma os alunos e alunas possam expor suas

ideias sobre o tema a ser trabalhado.

CONHECENDO O PROJETO

Após a atividade sobre o conhecimento prévio dos alunos e alunas, será

realizada uma explanação dos objetivos que se pretende alcançar com este

Page 10: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

trabalho. Neste sentido, realizaremos uma apresentação em slides do projeto e suas

imbricações, para que desta maneira, possamos avançar no debate, reflexão e

compreensão da temática a ser desenvolvida.

DISCUTINDO GÊNERO

Segundo Jean Scott (2005) gênero é “um elemento constitutivo de relações

sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é um

primeiro modo de dar significado às relações de poder”. (p. 134)

Por essa definição autora argumenta em sua obra Uma questão de gênero:

onde o masculino e o feminino se cruzam (2005), que o conceito de gênero acaba

sendo importado a partir da gramática passando a ser utilizado como determinismo

biológico e definindo a questão do feminino e do masculino, referindo-se à

organização social e o caráter cultural das relações entre os sexos.

“o gênero se preocupa com a consolidação de um discurso que constrói uma identidade do feminino e do masculino que encarcera homens e mulheres em seus limites, aos quais a história deve libertar” (SCOTT, 1995, p.136)

Neste sentido, a autora passa a discutir o sentido e o uso dado ao gênero

como caráter de distinção e não somente uma mera palavra a ser mencionada,

fazendo uma critica ao uso desta terminologia sem os devidos conhecimentos

acadêmicos. Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações

sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão das instituições

sociais como família, religião, reprodução, etc. Para a autora pensar sobre gênero é

questionar o porquê das relações entre homens e mulheres estarem construídas

como estão, como funcionam e como podem se transformar.

É a partir destes contextos que o debate sobre gênero pode se configurar

enquanto campo de articulação do poder, pois os conceitos de gênero estruturam e

moldam a organização de toda a vida social, influenciando as concepções, as

construções, e a legitimação do próprio poder, no qual somente uma ruptura da

ordem social política e econômica podem realmente mudar os paradigmas

existentes quanto às transformações estruturais numa sociedade voltada para

possibilidades mais igualitárias nas relações entre homens, mulheres e suas

interrelações.

Page 11: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Neste pressuposto, ao pensarmos sobre o estudo de gênero se faz

necessário uma compreensão, desde sua origem, assim como os estudos desta

temática pela historiografia brasileira.

Ilze Zirbel em seu artigo “Gênero e estudos Feministas no Brasil” (2012) faz

uma análise sobre o início dos estudos de gênero. Neste sentido, ao falarmos em

conceito de gênero temos que ter em mente que um longo caminho foi percorrido,

envolvendo diversas gerações de mulheres que buscavam compreender as causas

de sua condição de inferioridade na sociedade. Este processo só foi possível em

meados do século XIX, na Europa, mediante dois acontecimentos ocorridos

concomitantemente: o surgimento de um movimento identificado como feminista e

em consequência deste a entrada de mulheres nas Universidades.

Como resultado destes acontecimentos acima mencionados, o feminismo

tornou-se um movimento político e social que buscava ações e reflexões da

sociedade em que se encontrava, comprometido em lutar contra injustiças sociais, a

inferioridade relacionada às mulheres e os enfrentamentos que ocorreram durante

estes processos.

No que se refere às universidades, a discussão sobre gênero se deram a

partir de 1960, quando foram criados grupos organizados para pensar e pesquisar

teorias e práticas feministas. Com isso, nos anos de 1970, os estudos feministas já

se encontravam bem organizados, com um grande número de participantes de

diversas áreas, expandindo os debates relacionados ao conceito de gênero.

No Brasil, segundo Zirbel (2012) estes debates iniciaram nos anos de 1980. O

movimento feminista no Brasil se formou em meio à modernização da sociedade que

buscava questionar decisões no campo da política que aumentava as diferenças

hierárquicas e as desigualdades sociais, discutindo as relações de poder, a

opressão de uns indivíduos sobre outros, buscando propor uma mudança no meio

social, político e ideológico da sociedade. Foi neste momento que o conceito de

gênero passou a ser usado, pois anteriormente, durante a ditadura militar, o

movimento feminista se imbricava com outros movimentos de resistência lutando por

causas sociais e pelos direitos das mulheres, ou seja, existia, mas, a luta contra a

ditadura necessitava pensar ações coletivas e não pontuais. As universidades,

institutos e fundações também fizeram parte do movimento feminista no Brasil,

almejando tornar mais visível o papel da mulher na sociedade, desta forma

Page 12: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

denunciando as desigualdades, a opressão e incentivando a valorização das

funções desempenhadas por elas.

Entretanto, foi preciso convencer o meio acadêmico da importância e

legitimidade de se pesquisar sobre a história das mulheres. Apesar destas

dificuldades, os estudos feministas começaram a organizar suas bases.

Segundo ZIrbel (2012) nas Associações Nacionais de Pesquisa e Pós-graduação

aconteceram muitos encontros nas décadas de 1970 e 1980. Estudos sobre a

mulher também foram sendo incorporados gradativamente nas Fundações e

Institutos destinados ao estudo da situação brasileira, naquele momento histórico.

Muitas feministas também mantinham contato com outros centros de pesquisa nos

Estados Unidos, na Europa e na América Latina, para que desta maneira houvesse

uma troca de informações através de textos, e possíveis direcionamentos teóricos

existentes.

A partir destes movimentos e do fim da ditadura, criaram-se grupos de

mulheres para discutir temas essenciais sobre a relação de gênero, ao mesmo

tempo em que, aumentaram–se os debates nos meios acadêmicos e em outras

esferas da sociedade.

Estas questões vão de encontro ao pensamento de Michelle Perrot (2007):

O momento, agora, é de fazer com que um público mais amplo tenha acesso às descobertas dos historiadores. A história precisa sair das universidades e ganhar as ruas. A História das mulheres deve ser discutida nos salões de beleza, nos almoços de família, nas mesas de bar, nos ambientes de trabalho: deve estar presente nas escolas, nas TVs e rádios brasileiros, no judiciário e no legislativo, assim como na elaboração de políticas públicas. (PERROT,2007, p.11)

Pensando nesta questão, podemos perceber que, a respeito das

problematizações que envolvem as questões de gênero, ainda temos muito que

avançar e debater, uma vez que as diferenças de gênero estão presentes em nossa

sociedade e cabe a nós educadores e educadoras, formadores e formadoras de

opinião trabalharmos estas questões, pois apesar dos avanços, ainda existe muita

invisibilidade deste tema no ambiente escolar.

Page 13: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

TEXTO 1

O Movimento Feminista O conceito de gênero possui uma enorme amplitude de usos e se faz

presente em várias áreas da produção teórica, quer seja nas ciências naturais,

quer seja nas ciências humanas e sociais. A sociedade comumente determina

as diferenças de gênero baseadas na construção cultural de que o homem,

por ser superior,"fala por", engloba, e representa a mulher. Este modelo social

é bidimensional, ou seja, a relação hierárquica é composta de dois níveis, o

superior representado pelo homem e o inferior representado pela mulher.

A representação das mulheres como sujeitos inferiores é fortemente

difundida em diversos tempos históricos. No período de 1950 e 1960 a mulher

esteve na esfera do lar e o homem na rua. Nesta época a mulher era vista

como se, biologicamente, fosse contemplada com habilidades de forno e

fogão. A rainha do lar se consolida não apenas como estereótipo de filmes

hollywoodianos, mas na educação. Existiam diferenças nos currículos das

escolas femininas e masculinas; as meninas aprendiam corte e costura, e

poderiam ser, no máximo, professoras. O magistério seria o limite para as

ambições profissionais das mulheres.

Esse dualismo (casa e rua) iria ser rompido com o movimento feminista

que foi idealizado nos anos 1960 concomitantemente ao movimento “hippie” e

a contracultura. A pílula anticoncepcional permitiu à mulher o controle sobre

Caro professor!

Sobre este tema também se encontra disponível no

portal Dia a Dia Educação os textos “O Movimento

Feminista” e “O Feminismo no Brasil” os quais também nos

darão suporte para a compreensão e o debate sobre o

estudo de gênero. A seguir, realizar uma leitura comentada

dos textos citados acima.

Page 14: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

seu corpo, e num mundo pré-AIDS, o amor livre tornou-se uma prática

libertadora. Inicialmente nos EUA e Europa, as revolucionárias não apenas

queimaram roupas íntimas como também se inseriram nos circuitos culturais

das universidades. A partir desses debates, se iniciou uma revolução dentro

dos setores das ciências humanas. Áreas como filosofia, sociologia e história

criaram departamentos exclusivos para discussões sobre as questões de

gênero. Assim, o feminismo revolucionário passou das fogueiras de sutiãs e

das passeatas às cadeiras das universidades com os “estudo de gênero”. Hoje

o feminismo pode se definir como uma teoria política que se baseia na análise

das relações entre os sexos, bem como na prática da luta pela libertação das

mulheres. Para algumas feministas, a contradição entre os sexos é básica,

atravessando todas as demais contradições: como as de classes sociais, de

raças e de povos.

Fonte: http://www.sociologia.seed.pr.gov.br.

TEXTO 2

O Feminismo no Brasil

No Brasil, o feminismo se manifesta tardiamente, apesar das primeiras

duas décadas do século XX serem palco de uma breve emergência do

movimento caracterizado, principalmente, nas greves de 1917, na Semana de

Arte Moderna de 1922 e, nesse mesmo ano, na fundação do Partido

Comunista do Brasil.

Nesse período tem grande destaque Patrícia Rehder Galvão, de apelido

Pagú. Escritora, jornalista e militante do Partido Comunista defendia a

participação ativa da mulher na sociedade e na política - e foi à primeira

brasileira do século 20 a ser presa política.

Em 1932 as mulheres conquistam o direito de votar no Brasil, mas é

também neste período que os padrões normativos da ideologia da

domesticidade se constituem como ponto comum no meio social. Neste

contexto Nisia Floresta e Berta Lutz são consideradas as pioneiras do

feminismo no Brasil. Lutz fundou a Federação do Progresso Feminino que

lutava pelo direito ao voto e pelo direito da mulher trabalhar sem o

Page 15: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

consentimento do marido. Cabe ressaltar que o Brasil se organizou desde

1500 numa estrutura patriarcal, onde as filhas mulheres saiam da dominação

do pai para passarem à dominação de seu marido.

Bertha Maria Julia Lutz se destaca pela luta por mudanças na legislação

trabalhista com relação ao trabalho feminino e infantil, e até mesmo a

igualdade salarial. Foi eleita deputada Federal e em 1937, com o golpe do

Estado Novo, perdeu o mandato.

Apesar desses acontecimentos é entre os anos 30 e 60 que assistimos

à emergência de um expressivo movimento feminista, questionador não só da

opressão machista, mas dos códigos da sexualidade feminina e dos modelos

de comportamento impostos pela sociedade de consumo. No contexto de um

processo de modernização acelerado, promovido pela ditadura militar e

conhecido como “milagre econômico”, em que se desestabilizavam os vínculos

tradicionais estabelecidos entre indivíduos e grupos e a estrutura da família

nuclear, as mulheres entraram maciçamente no mercado de trabalho e

voltaram a proclamar o direito à cidadania, denunciando as múltiplas formas

da dominação patriarcal.

Nesse período, em que a figura do homem estava presente tanto no

poder institucional quanto na resistência, emerge o “feminismo organizado”

como movimento de mulheres das camadas médias, na maioria

intelectualizadas, que buscavam novas formas de expressão da

individualidade. Um grande avanço, sob muitos aspectos, foi a Lei do Divórcio.

Antes da promulgação desta lei, não havia nada mais depreciativo para uma

mulher do que ser desquitada. Socialmente, a mulher separada era mal vista,

tida como péssima companhia, culpada por não ter conseguido manter o

casamento. O tema da separação era espinhoso até mesmo na ficção.

Novelas e seriados passavam pelo crivo da censura imposta pela ditadura e

temas como divórcio e anticoncepcionais eram censurados. Outros temas

também eram considerados subversivos, tais como: orgasmo, aborto, câncer

de mama e a importância do autoexame. Na contramão da ideologia vigente

vem a Revista Nova e o seriado Malu Mulher, com o papel de registrar as

mudanças ocorridas na sociedade e nas relações familiares.

Assim, iniciou-se um movimento de recusa radical dos padrões sexuais

Page 16: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

e do modelo de feminilidade vigente. Mais do que nunca, as feministas

questionaram o conceito de mulher que as afirmavam enquanto sombra do

homem e que lhes dava o direito à existência apenas como apêndice de uma

relação, no público ou no privado.

A música também teve participação nesse processo. O Movimento

Tropicalista cantava o amor livre e Chico Buarque cantava a separação. Leila

Diniz teve importante papel na história do movimento feminista, pois, ainda

que não engajada, colaborou com suas atitudes e com suas palavras, e em

uma época de repressão sexual declarou: “Transo de manhã, de tarde e de

noite”, e mais: “Você pode muito bem amar uma pessoa e ir para a cama com

outra. Já aconteceu comigo”.

Sem dúvida, são muitas as conquistas feitas pelos feminismos em todos

os campos da vida social, ao longo dessas décadas, especialmente no que se

refere à aceitação das mulheres no mercado de trabalho e ao seu

reconhecimento profissional.

No entanto, não há como negar o fato de que todas as conquistas

arduamente ganhas ao longo dessas últimas décadas não estão consolidadas.

Ao contrário, são continuamente ameaçadas por pressões machistas, pelo

mercado de consumo e pelo conservadorismo desenfreado.

Fonte: http://www.sociologia.seed.pr.gov.br.

ATIVIDADE

Após a leitura e discussão dos textos os alunos deverão responder as

seguintes questões:

1- Qual a ideia central sobre a questão de gênero segundo Joan Scott?

2- Por que Joan Scott escreve sobre ser preciso uma ruptura na da ordem

social política e econômica para realmente acontecer uma mudança na

questão entre homens e mulheres?

3- Com base no artigo da Ilse Zirbel elabore uma linha do tempo da história

Page 17: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

das mulheres a partir do surgimento dos movimentos feministas, destacando

os principais acontecimentos.

4- Com base no texto defina o termo gênero.

5- Reflita sobre a visão “mulheres com habilidades para forno e fogão”.

6-Quais mudanças começaram a ocorrer na vida das mulheres a partir dos

anos de 1960?

7- Na atualidade como podemos definir a questão de gênero?

8- Qual a importância de Pagu para a história das mulheres?

9- Analise e escreva como o Movimento Feminista se manifestou no Brasil

tanto culturalmente como socialmente.

10- Como você percebe em nosso município o papel da mulher?

ATIVIDADE

ANÁLISE DE TIRAS CÔMICAS

Percebemos em nossa sociedade que o preconceito contra as mulheres

e o machismo está presente no dia a dia, muitas vezes como algo natural, pois

são culturalmente construídos. Podemos perceber isso nas tirinhas abaixo:

Atividade 1: Primeiramente faremos uma análise e uma discussão

acerca dos enunciados presentes nas tiras cômicas.

Atividade 2: Os alunos e alunas produzirão tiras cômicas que abordem

situações relacionadas ao preconceito contra as mulheres e ao machismo,

diariamente percebidas na sociedade.

Page 18: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Vamos analisar:

TIRA 1

Preconceito contra mulher

TIRA 2

Page 19: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Tira 3

Disponível em: escrevalolaescreva.blogspot.com

Caro professor!

Para que ocorra um enriquecimento de nossas

aulas se faz necessário o uso de imagens, pois desta

maneira nossos alunos e alunas podem aprender o mesmo

contexto de formas variadas, uma vez que o trabalho com

imagens também deve possibilitar análises e discussões

sejam no contexto social, temporal e espacial em que foi

produzida. Para que desta forma, possamos perceber seus

significados e sua finalidade tanto para a época e para a

sociedade em que foi produzida, como em outros

contextos históricos.

Page 20: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Neste momento será passado aos alunos um vídeo a respeito do movimento

feminista, bem como várias visões sobre o papel da mulher na sociedade atual.

Vídeo:

Movimento feminista: Conheça algumas conquistas do movimento feminista ao

longo dos séculos XX e XXI.

Fonte: www,editorasaraiva.com.br

TRABALHANDO COM VÍDEO

Page 21: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Caro professor! O objetivo a ser alcançado com a análise deste vídeo é refletir e

debater sobre o estágio atual de organização e luta das mulheres, bem

como as transformações e os avanços conquistados ao longo da

História, juntamente com a visão e depoimentos das pessoas sobre esta

temática.

Neste sentido, ressaltamos a importância do uso da linguagem

fílmica, pois o cinema enquanto método de abordagem e apropriação do

conhecimento torna-se uma ferramenta de acesso ao conhecimento e

mais uma alternativa para melhorar o trabalho do professor em sala de

aula, podendo despertar no aluno outro tipo de relação no que diz

respeito ao processo ensino aprendizagem, uma vez que, além de

ampliar o conhecimento, estimulará o aluno a pensar e a questionar a

história a partir do filme, podendo desta maneira, apresentar aos nossos

alunos e alunas outra forma de aprendizagem.

Outra sugestão para discutir os papéis de gênero é o filme

“ACORDA RAIMUNDO, ACORDA”.

Duração: 15’46”

Origem: Brasil

Produção/ distribuição: Ibase Video- Iser Videoi

Ano: 1990

Cor: Colorido

Elenco: Paulo Betti, Eliane Giardini, Zezé Mota e José Maier.

Sinopse: Produzido pela ONG Ibase (WWW,ibase.org.br) o vídeo apresenta a

vida de uma família operaria dos anos de 1980 em que os papéis sociais de

homem e mulher são invertidos. Por meio dessa inversão, são explicadas

desigualdades, situações de violência e ausência de igualdades de direitos.

Page 22: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

ATIVIDADES

ATIVIDADE 1:

PRODUÇÃO TEXTUAL

A partir do vídeo sobre os movimentos feministas, os alunos vão

construir um texto de até duas laudas abordando questões como:

FEMINISMO

PRECONCEITO

MOVIMENTOS FEMINISTAS

MACHISMO

ATIVIDADE 2:

PESQUISA

Nesta atividade os alunos e alunas vão fazer uma pesquisa em casa

sobre o dia 08 de maio para ser entregue e debatido na aula seguinte.

ATIVIDADE 3:

ELABORAÇÃO DE UM MURAL

Agora é hora dos alunos e alunas produzirem um mural com imagens e

textos que abordem a questão de gênero e expor nos ambientes de trânsito da

escola.

Para a produção deste mural dividiremos a sala em dois grupos, sendo

que o primeiro grupo irá pensar sobre as profissões hoje exercidas por

homens, mas que eram realizadas por mulheres e o segundo grupo pensará

sobre profissões hoje exercidas por mulheres, mas que no passado eram

feitas somente por homens. Como exemplo para os alunos e alunas se

inspirarem temos as duas imagens abaixo:

Page 23: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

http://www.historia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/uploads/1/763mulheroperaria.

Disponível em: http://www.casarbem.com/page/58/

Page 24: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

ATIVIDADE FINAL

TRABALHANDO COM MÚSICA- MESA REDONDA

Como atividade final desta primeira parte e para que os alunos

compreendam que as questões de gênero estão presentes e dão suporte a

preconceitos e discriminações em todos os espaços da sociedade, vamos

selecionar e analisar músicas que retratem a mulher na sociedade

contemporânea, para que, após as devidas apreciações possamos nos reunir

em grupos para debatermos sobre o que cada canção busca retratar. Para

esta atividade estão selecionadas as seguintes músicas:

- Geni e o Zepelim;

Ao levarmos esta música para a reflexão de nossos alunos buscaremos despertar e perceber que ela é marcada pelo silêncio e submissão de Geni, na medida em que a sociedade exerce um papel de controle sobre o que deveria ser “normal”, no qual o sistema de regras e condutas que nos é imposto, impede que ela fale, pense aja e de sua opinião.

- Desconstruindo Amélia;

Através da letra desta música procurar mostrar qual papel a mulher representa em nossa sociedade dominada pelo machismo no qual cabe a mulher contestar a sua função de “serviçal do lar” e buscar novos caminhos e desafios mesmo que isto represente uma contestação da sociedade .

- Melo da Saveiro; - Que é isso novinha; Estas duas músicas podem ser analisadas a partir da sexualidade e do corpo feminino, no qual a mulher é retratada como um mero objeto sexual, desvalorizando e a inferiorizando perante o homem. Estas são músicas que frequentemente tocam nas baladas e na mídia, por isso da importância de percebermos estas letras, para que nossos alunos possam compreender que muito do que nós ouvimos acaba acentuando o machismo, o preconceito e o estereótipo da mulher que só precisa mostrar o seu corpo para viver socialmente.

Page 25: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Geni e o Zepelim Chico Buarque de Holanda

De tudo que é nego torto Do mangue e do cais do porto Ela já foi namorada O seu corpo é dos errantes Dos cegos, dos retirantes É de quem não tem mais nada Dá-se assim desde menina Na garagem, na cantina Atrás do tanque, no mato É a rainha dos detentos Das loucas, dos lazarentos Dos moleques do internato E também vai amiúde Com os velhinhos sem saúde E as viúvas sem porvir Ela é um poço de bondade E é por isso que a cidade Vive sempre a repetir Joga pedra na Geni (2x) Ela é feita pra apanhar Ela é boa de cuspir Ela dá pra qualquer um Maldita Geni Um dia surgiu, brilhante Entre as nuvens, flutuante Um enorme zepelim Pairou sobre os edifícios Abriu dois mil orifícios Com dois mil canhões assim A cidade apavorada Se quedou paralisada Pronta pra virar geleia Mas do zepelim gigante Desceu o seu comandante Dizendo - Mudei de ideia - Quando vi nesta cidade - Tanto horror e iniquidade - Resolvi tudo explodir - Mas posso evitar o drama - Se aquela formosa dama - Esta noite me servir Ela é feita pra apanhar Ela é boa de cuspir Ela dá pra qualquer um Maldita Geni Essa dama era Geni

Ela é feita pra apanhar Ela é boa de cuspir Ela dá pra qualquer um Maldita Geni Mas de fato, logo ela Tão coitada e tão singela Cativara o forasteiro O guerreiro tão vistoso Tão temido e poderoso Era dela, prisioneiro Acontece que a donzela - e isso era segredo dela Também tinha seus caprichos E a deitar com homem tão nobre Tão cheirando a brilho e a cobre Preferia amar com os bichos Ao ouvir tal heresia A cidade em romaria Foi beijar a sua mão O prefeito de joelhos O bispo de olhos vermelhos E o banqueiro com um milhão Vai com ele, vai Geni (2x) Você pode nos salvar Você vai nos redimir Você dá pra qualquer um Bendita Geni Foram tantos os pedidos Tão sinceros, tão sentidos Que ela dominou seu asco Nessa noite lancinante Entregou-se a tal amante Como quem dá-se ao carrasco Ele fez tanta sujeira Lambuzou-se a noite inteira Até ficar saciado E nem bem amanhecia Partiu numa nuvem fria Com seu zepelim prateado Num suspiro aliviado Ela se virou de lado E tentou até sorrir Mas logo raiou o dia E a cidade em cantoria Não deixou ela dormir

Page 26: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Mas não pode ser Geni

Joga pedra na Geni (2x)

Desconstruindo Amélia Pitty

Já é tarde, tudo está certo Cada coisa posta em seu lugar Filho dorme ela arruma o uniforme Tudo pronto pra quando despertar O ensejo a fez tão prendada Ela foi educada pra cuidar e servir De costume esquecia-se dela Sempre a última a sair...

Disfarça e segue em frente Todo dia até cansar Uooh! E eis que de repente ela resolve então mudar Vira a mesa Assume o jogo Faz questão de se cuidar Uooh! Nem serva, nem objeto Já não quer ser o outro Hoje ela é um também

A despeito de tanto mestrado Ganha menos que o namorado E não entende porque Tem talento de equilibrista Ela é muita se você quer saber Hoje aos 30 é melhor que aos 18 Nem Balzac poderia prever Depois do lar, do trabalho e dos filhos Ainda vai pra night ferver Disfarça e segue em frente Todo dia até cansar Uooh! E eis que de repente ela resolve então mudar Vira a mesa Assume o jogo Faz questão de se cuidar Uooh! Nem serva, nem objeto Já não quer ser o outro Hoje ela é um também Uuh (2x)

Melo da Saveiro Roberto Sales

Porque a sonzeira é bala (3x) A mulherada é mara Em cima da Saveiro Mulhera rebola, bebe, dança se descontrola bebe, beijo ficar com desejo quer mais cerveja vai até embaixo já mostra o pedaço da sua calcinha vem uma cerveja e elas tão louca e nós bem mais louco com água na boca Vamos pra Saveiro Já 'tamos' lá emcima Levanta o volume que a coisa tá boa Eu to me sentindo mais feliz do mundo dai chega a polícia e acaba com tudo! - Ai magrão, que barulheira é essa?!

O tumulto já passou, mas ninguém foi embora O seu guarda já vazou, mulherada 'vamos embora' Porque a sonzeira é bala A mulherada é mara Em cima da Saveiro Mulhera rebola, bebe, dança se Bebe, beijo ficar com desejo Quer mais cerveja vai até embaixo Já mostra o pedaço da sua calcinha Vem uma cerveja e elas tão louca E Nós bem mais louco com água na boca vamos pra Saveiro Já 'tamos' lá emcima Levanta o volume que a coisa tá boa

Page 27: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Baixa isso ai cara! - Tá bom seu guarda! já paramos.... - Fechou então, chega de barulho aqui na avenida hein meu, to indo.... O tumulto já passou, mas ninguém foi embora O seu guarda já vazou, mulherada 'vamos embora' Porque a sonzeira é bala A mulherada é mara Em cima da Saveiro Mulhera rebola, bebe, dança se descontrola Bebe, beijo ficar com desejo Quer mais cerveja vai até embaixo Já mostra o pedaço da sua calcinha Vem uma cerveja e elas tão louca E Nós bem mais louco com água na boca Vamos pra Saveiro Já 'tamos' lá emcima Levanta o volume que a coisa tá boa Eu to me sentindo mais feliz do mundo dai chega a polícia e acaba com tudo! - Poxa cara, denovo essa sonzeira ai? - Tá bom seu guarda, vamos parar tudo agora! - Olha, última vez, dá próxima vez eu chamo o guincho! descontrola

Eu to me sentindo mais feliz do mundo dai chega a polícia e acaba com tudo! - Eu avisei que ia chamar o guincho, pode levar a saveiro, pode rebocar a saveiro ai, pode levar, leva pra delegacia o que o seu guarda não sabe, nós demos pila pro guincheiro e a mulherada voltou, tudo pra cima da Saveiro Porque a sonzeira é bala A mulherada é mara Em cima da Saveiro Mulhera rebola, bebe, dança (em cima da saveiro) Bebe, beijo ficar com desejo Quer mais cerveja (em cima da saveiro) Já mostra o pedaço da sua calcinha Vem uma cerveja (em cima da saveiro) Até eu voltei pra beber com a mulherada Tô loco, Tô loco (em cima da saveiro) Levanta o volume que a coisa tá boa Eu to me sentindo mais feliz do mundo (em cima da saveiro) Em cima da saveiro - 'Tamu' junto, 'somo' tudo parceiro ai, brother Porque a sonzeira é bala Porque a sonzeira é bala....

Que é isso novinha Yago e Juliano

Quem sai na balada, Já viu reparou O que tem de novinha, Já fazendo amor Já domino Ela chega quietinha Cara de santinha Dj solta o som Ela já perde a linha Que isso novinha Parece brincadeira O que que ela faz Que isso novinha

Vai matar papai Meu coração não aguenta mais Chamou minha atenção Desceu até o chão Pra mim tudo aquilo, Tava mais que bão E ela me passa a mão Que isso novinha, que isso novinha Que isso novinha, que isso novinha Não dá essa reboladinha Que isso novinha, que isso novinha Que isso novinha, que isso novinha Essa menina ta na minha

Todas as letras estão disponíveis em http://letras.mus.br/

Page 28: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Podemos olhar pelo buraco da fechadura para ver como nossos antepassados se relacionavam? De fechaduras, não! Elas custavam muito caro e o Brasil na época da colonização, era pobre. Podemos, sim, enxergar através das frestas dos muros, das rachaduras das portas. Por ali se via que a noção de privacidade estava sendo “construída”, estava em gestação. É construída em meio a um ambiente de extrema precariedade e instabilidade. Em terras brasileiras, colonos tiveram que lutar, durante quase três séculos, contra o provisório: o material, o político e o econômico. “Viver em colônias” – como se dizia então – era o que faziam, Sobreviviam... (PRIORE, 2011, p 13.)

BRASIL COLÔNIA

Disponível emhttp://www.mundoeducacao.com.br/historiadobrasil/a-mulher-no-mundo-colonial.htm

Há diferentes maneiras de fazer história. O historiador pode listar exaustivamente nomes, datas, lugares: ou pode, sem esquecer o aspecto factual, buscar o lado humano dos acontecimentos.

Moacyr Scliar

Page 29: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Esta citação foi retirada da obra PRIORE, Mary Del. Histórias íntimas:

sexualidade e erotismo na história do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do Brasil,

2011, com o objetivo de analisar e comparar o que era ter privacidade no Brasil

colônia e o que é ter privacidade nos dias atuais.

Neste sentido, a noção de intimidade nos séculos XVI e XVII era

completamente diferente da nossa dos dias de hoje. A vida no Brasil Colônia era

regida por leis e condutas reguladas por leis imperativas. Atividades relacionadas à

sexualidade eram práticas que correspondiam a rituais estabelecidos pelo grupo

social no qual se estava inserido. Desta forma, as leis eram interiorizadas e o

sentido de coletividade sobrepunha-se ao de individualidade. (PRIORE, 2011, p13)

Partindo deste princípio que iniciamos o segundo momento desta unidade

didática, momento este em que serão analisados alguns aspectos comportamentais

da mulher no Brasil Colonial como sexualidade e honra maternidade, casamento e

divórcio, para assim podermos comparar com a situação atual, ou seja, as

permanências, as conquistas e os direitos hoje exercidos, para que tal análise nos

permita uma reflexão mais aprofundada a respeito destes temas no universo

escolar.

Caro professor!

Para a realização de um bom trabalho a respeito da sexualidade,

honra, casamento, divórcio e maternidade em sala de aula, é preciso

antes conhecer muito bem e nos aprofundarmos neste assunto. Para

tanto, sugerimos algumas referências que abordam este tema:

ALGRANTI, Leila Mezan. Honradas e Devotas: Mulheres da Colônia:

Condição Feminina nos Conventos e Recolhimentos do Sudeste do Brasil,

1750-1822. Rio de Janeiro: José Olympio; Brasília: Edunb, 1993.

ALMEIDA, Suely Creusa Cordeiro de. O Sexo devoto: normalização e

resistência feminina no Império Português XVI – XVIII. Recife: Editora

Universitária da UFRPE. 2005.

Page 30: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

ARAÚJO, Emanuel. O Teatro dos Vícios: Transgressão e Transigência na

sociedade urbana colonial. 3ª Ed.. Rio de Janeiro: José Olimpio, 2008.

BEAUVOIR, Simone de. O segundo Sexo. II A Experiência vivida. 2ª Edição.

São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1967.

CAULFIELD, Sueann. Em defesa da honra: Moralidade, Modernidade e

Nação no Rio de Janeiro (1918-1940). Campinas: Editora da UNICAMP, 2000.

CORREA, Mariza. Repensando a família patriarcal brasileira. In:

ARANTES, Antonio. Colchas de retalhos. Campinas: Ed. UNICAMP, 1993.

ESTEVES, Martha de Abreu. Meninas Perdidas: Os populares e o cotidiano

do amor no Rio de Janeiro da Belle Époque. Rio de Janeiro: Paz e Terra,

1989.

FIGUEIREDO, Luciano. Barrocas Famílias: Vida familiar em Minas Gerais no

séc. XVIII. São Paulo:Hucitec, 1997.

PEDRO, Joana Maria. Mulheres honestas e mulheres faladas: uma questão

de classe. Florianópolis: UFSC, 1994

PRIORE, Mary Del (org.). História das Mulheres no Brasil. 2ª Edição. São

Paulo: Contexto, 1997.

PRIORE, Mary Del. Ao Sul do Corpo: Condição Feminina, Maternidades e

Mentalidades no Brasil Colônia. 2ª Edição. Rio de Janeiro: José Olympio,

1995.

PRIORE, Mary Del. Mulheres no Brasil Colonial. 2ª Edição. São Paulo:

Contexto, 2003.

SAMARA, Eni de Mesquita. A família Brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1983.

Page 31: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

SCOTT, Joan. História das Mulheres. In: BURKE, Peter (org.). A Escrita da

História: Novas Perspectivas. São Paulo: Editora da Universidade Estadual

Paulista, 1992.

SMITH, Bonnie G. Gênero e História: homens, mulheres e a prática histórica.

Bauru: Edusc, 2003.

SOIHET, Rachel. História das Mulheres. In: CARDOSO, Ciro Flamarion;

VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da História: Ensaios de Teoria e

Metodologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997.

SOIHET, Rachel. Condição feminina e formas de violência: mulheres

pobres e ordem urbana, 1890-1920. Rio de Janeiro: Forense Universitária,

1989.

VAINFAS, Ronaldo. Casamento, Amor e Desejo no Ocidente Cristão. São

Paulo: Ática, 1992.

VAINFAS, Ronaldo. Trópico dos Pecados: Moral, sexualidade e Inquisição

no Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Campus, 1989.

Page 32: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Sobre este tema temos a historiadora Marilda Santana da Silva que em seu

livro “Dignidade e Transgressão: Mulheres no Tribunal Eclesiástico em Minas Gerais

(1748-1830)” (2001), procura fazer uma análise da atuação do tribunal eclesiástico

em Minas Gerais dos séculos XVIII e inicio do XIX em relação às infrações julgadas

neste tribunal no que diz a respeito à moral e à sexualidade feminina no período

analisado, trabalhando assim com a história das mulheres e da família no Brasil

Colônia e Império, e ao mesmo tempo buscando pensar sobre as questões de

gênero que norteiam nossa sociedade.

Sua pesquisa está fundamentada na análise das documentações do Juízo

Eclesiástico do bispado de Mariana, que segundo a historiadora, possibilitou fazer

um mapeamento dos delitos morais e religiosos praticados por alguns segmentos da

população mineira no período abordado. Através destes documentos foi possível

traçar um perfil dos motivos alegados pelas mulheres ao buscarem a justiça, como

por exemplo: os de divórcios, os esponsais, bem como os casos de concubinato,

adultério, sodomia, estupro e rapto.

Silva também analisa a prostituição no período colonial, como era vista e

julgada pelas autoridades, pois, apesar de condenada, a prostituição tinha sua

devida relevância na sociedade, enquanto preservadora da honra das demais

mulheres. Neste sentido,

A prostituição era um dos comportamentos que mais contrariavam o modelo cristão oficialmente proposto, mas apesar disso era vista como um mal necessário, assumindo uma certa importância na sociedade ibérica enquanto instituição preservadora da honra das demais mulheres, uma vez que o sexo com a prostituta era considerado lícito.(SILVA,2001,p.163)

A autora comenta que havia um intenso controle exercido pela Igreja com o

objetivo de orientar a atuação das mulheres em diversos contextos da sociedade

colonial de acordo com seus códigos e valores.

SEXUALIDADE E HONRA

Page 33: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Quanto ao casamento, cabia a mulher o pudor e a vergonha, pois os maridos

por serem naturalmente “menos inibidos”, não tinham essa função. Para a sociedade

colonial, quanto a moral e os bons costumes, a mulher que se entregasse ao homem

sem ser casada, ou que fosse adultera, estaria desonrada não só perante a

sociedade, como seria considerada uma pecadora, sobre a qual Deus a castigaria

por seus pecados.

Elas eram vistas por alguns, como um perigo que rondava os homens: maliciosas, inconstantes, gastadeiras, tagarelas e tolas – eis alguns dos atributos que eruditos eclesiásticos lhe conferiam. (SILVA, 2001, p.164).

Desta maneira, a honra da mulher estava diretamente ligada a sua

sexualidade, na qual ser virgem era essencial, sendo que para isso, pais, maridos e

a sociedade mantinham a mulher sob uma intensa vigilância, para que não ficassem

difamadas, pois a mulheres difamadas e desonradas não conseguiam encontrar

maridos.

Outra obra importantíssima para compreendermos a respeito do tema

sexualidade e honra no Brasil colonial é ''Honradas e Devotas: Mulheres da

Colônia''(1993), da historiadora Leila Mezan Algranti. Nesta obra a autora busca

fazer uma incursão da historiografia no campo das mentalidades, analisando as

condições femininas do Sudeste do Brasil entre 1750 a 1822, observadas a partir de

fontes eclesiásticas, arquivos, documentos oficiais e não oficiais, crônicas,

memórias, romances, correspondências, livros e artigos, mostrando o cotidiano das

mulheres na colônia, a fim de recuperar quem eram, como viviam e os motivos do

seu enclausuramento. Para tal análise, linha seu estudo em algumas instituições de

caráter religioso: os conventos da Ajuda e Santa Teresa no RJ, e os recolhimentos,

de Santa Teresa, da Luz ambos em São Paulo e Macaúbas em Minas Gerais.

Segundo Algranti (1993),

“Honradas e devotas, é assim que a sociedade espera que se comportem as mulheres no interior dos estabelecimentos de reclusão. O estudo da vida nessas instituições remete, portanto, a análise dos papeis sociais femininos, as imagens criadas pelas sociedades sobre as mulheres, bem como ao estudo das relações entre os sexos”. (ALGRANTI, 1993, p. 51)

Trata-se, portanto, de uma pesquisa, sobre a vida social feminina, no qual,

mulheres brancas, pardas, negras escravas, casadas, solteiras ou amasiadas, são

Page 34: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

vistas através dos olhares da sociedade colonial, resgatando o imaginário do

passado, definindo os modos de pensar, sentir e ''sobreviver'' no dia-a-dia da

colônia.

Segundo a autora, o estudo da condição de vida das mulheres no período

colonial percorre, sem dúvida, os limites entre o espaço público e o privado, e as

fronteiras estabelecidas por uma sociedade onde condição legal, econômica e

diferenciações raciais entre os atores sociais eram fatores extremamente

significativos, tornando sua obra uma referencia importante para um estudo da

condição feminina no período colonial. Neste sentido:

A contribuição destes estudos recentes para a história da mulher é indiscutivelmente, definitiva. E é a partir dos trabalhos sobre a família no período da escravidão, do sistema de casamento e das analises sobre as práticas cotidianas e sexuais, bem como do papel da maternidade, que se encontram as contribuições mais reveladoras sobre as mulheres da colônia.

(ALGRANTI, 1993, p.58)

Algranti, 1993 nos permite também fazer uma análise sobre a mulher

“honesta” e suas características que perduraram durante séculos onde a pureza, a

castidade e a fidelidade ao marido, eram indispensáveis, independente da classe

social que a mulher pertencesse. Neste sentido, a honra era um bem que as

mulheres possuíam e deveriam preservá-lo, pois “manter a honra significava, antes

de mais nada, manter as aparências.” (p.112)

Para a autora, a honra estava relacionada aos homens também, sendo que

um homem poderia ser desonrado se viessem a público atividades sexuais de sua

filha ou sua esposa, como por exemplo, a perda da virgindade antes do casamento e

para as mulheres casadas, o adultério, ou seja, a honra feminina era portanto, um

assunto que dizia respeito às mulheres, e aos homens.

Portanto, era um dever da mulher ser honrada, sendo que a mulher que

desonra o seu marido devia ser castigada, devido a todos os transtornos que ela

causou:

A fim de evitar surpresas desagradáveis, a mulher honrada, para D.

Francisco Manuel de Melo, no século XVII, é aquela que vive reclusa no

interior do lar, ocupada nos afazeres domésticos, distante do espaço

publico. Tutelada pelo marido, que lhe ministra – sempre em pequenas

doses – alguns prazeres e atenções, ela deve quando casada ser separada

do contato com a casa paterna, proibida de visitas frequentes, e viver

inteiramente para o esposo. Seus desejos e ambições devem ser

Page 35: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

fingidamente satisfeitos para que tenha a sensação de que os realizou. Com

um número restrito de criados e pouco dinheiro a disposição, a esposa ideal

deve governar a casa evitando intimidades até mesmo com aqueles que

vivem sob seu teto. Os contatos com o confessor, as idas a igreja, ou a

participação em festas devem ser dosadas. Nada de folguedos, de adornos

e modismo. Nada de risos e danças fora de casa, olhares galanterias.

(ALGRANTI, 1993, p.116)

Nestes termos, podemos concluir que a moral determinada pela sociedade

colonial no que se refere à honra feminina era muito importante, na medida em que

ela causava impressões nos outros, sendo que a mulher honrada era aquela que

não causava impressão alguma, uma vez que era invisível na sociedade.

ATIVIDADE

ENTREVISTA

Nesta atividade os alunos e alunas vão entrevistar mulheres da sua

família (ou não) que viveram em épocas diferentes. As perguntas serão

elaboradas pelos próprios alunos e alunas conforme a sua curiosidade e todas

direcionadas ao tema Sexualidade.

Após as entrevistas será feita uma apresentação e discussão em que

os alunos e alunas terão a oportunidade de expor o resultado de sua

entrevista, bem como fatos curiosos e interessantes conhecidos por eles,

ocorrendo desta forma uma troca de experiências e de conhecimentos sobre o

tema.

Caro professor!

Para esta atividade se faz necessário passarmos pela história oral, pois

se identifica como uma fonte de pesquisa na qual traz o imaginário e o

Page 36: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

cotidiano da sociedade em que vivemos além de lembranças do nosso

passado.

A História Oral é o registro da história de vida de sujeitos que, ao focar

suas memórias pessoais, estabelecem também uma visão mais sensível sobre

a trajetória do grupo social ao qual está inserida. Neste contexto, para MEIHY,

em seu Manual de História Oral, nos diz que a história oral “é um recurso

moderno usado para elaboração, arquivamento e estudos de documentos

referentes à vida social de pessoas. É sempre uma história do tempo

presente.” (MEIHY, 1996).

É interessante pedir a cada aluno que vai realizar a entrevista que peça

ao entrevistado que assine uma carta de cessão dos direitos da entrevista.

Abaixo segue os modelos:

Para a realização de um bom trabalho a respeito da história oral, é

preciso antes conhecer muito bem e nos aprofundarmos neste assunto. Para

tanto, sugerimos algumas referências que abordam este tema:

BITTENCOURT, Circe (org.). O saber histórico na sala de aula. 10ªed. São

Paulo: Contexto, 2005.

LE GOFF, Jacques. História e memória. 5ª Ed. Campinas, SP:Unicamp,

2003.

MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de História Oral. São Paulo: Loyola,

1996.

PRINS, Gwyn. História oral. In: BURKE, P.(org). São Paulo: Editora UNESP,

1992.

THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Tradução de Lólio

Lourenço. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

Page 37: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Ficha Técnica de Depoente de História Oral

Nome Completo do depoente: ______________________________________ Local de Nascimento: ____________________________________________ Nacionalidade:________________________ Estado Civil:_________________ Endereço Residencial:______________________________________nº:_____ Bairro:_____________________Cidade:___________________Estado______ CEP:_______________ Fone:__________________ e-mail:_______________ Profissão :_______________________________________________________ Grau de Instrução: Primário ( ) Secundário ( ) Superior ( ) Data do depoimento gravado:___________ Data da textualização:__________ Observações: __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_____________________________ Entrevistador:

CARTA DE CESSÃO Local:____________________,______ de______________ de ____________ Eu, ____________________________, RG nº_______________ , declaro para os devidos fins que cedo os direitos de meu depoimento gravado e da textualização final do mesmo, para serem usados integralmente ou em partes sem restrições de prazos ou citações, desde a presente data. Da mesma forma autorizo junto ao:___________________________________________ o acesso ao depoimento gravado e à textualização por parte da comunidade e pesquisadores habilitados para a pesquisa histórica bem como o uso de citações e reproduções dos mesmos. Abdicando de direitos meus e de meus descendentes, subscrevo a presente.

_______________________________________ Entrevistado:

Page 38: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Um estudo importante para a compreensão das mulheres no período colonial

é a obra “Ao Sul do Corpo - Condição Feminina, Maternidades e Mentalidades no

Brasil Colônia” (2009) da historiadora Mary Del Priore. Nesta pesquisa, ela busca

através de documentos manuscritos e fontes impressas entre os séculos XVI e XVII,

fazer uma análise que lhe permita traçar um panorama da condição feminina no

período colonial em diversas situações sociais relacionadas à maternidade, ao

matrimônio, ao corpo e a sexualidade. Questões estas, extremamente reguladas

tanto pela Igreja, quanto pela própria sociedade, pois qualquer função que

implicasse em poder, não podia ser de cunho feminino. Pois:

A construção de um juízo moral sobre a procriação, cuidadosamente realizada pela Igreja, contribuiu, portanto, para submeter e domesticar as populações femininas. Além de limitar seus papeis no interior da vida conjugal, o juízo moral sobre a procriação prestava-se ao projeto de colonização e povoamento das terras brasileiras. (PRIORE, 2009, p.175)

O processo de adestramento pelo qual as mulheres no período colonial

brasileiro passaram, estava ligado diretamente a dois instrumentos de atuação

vindos de Portugal. O primeiro instrumento faz referência aos padrões

comportamentais que a mulher deveria ter já o segundo instrumento refere-se a um

discurso provindo da medicina, sendo este muito utilizado para a domesticação da

mulher no que diz respeito ao funcionamento do corpo feminino. Este discurso

afirmava que a função natural do corpo feminino era apenas para a procriação, ou

seja, fora da maternidade a mulher estava fadada ao fracasso e a promiscuidade, ou

seja, de qualquer forma estava sempre excluída socialmente.

Desta forma, a maternidade era o refúgio onde às mulheres se protegiam da

opressão doméstica e sexual e do isolamento em que viviam na época colonial do

nosso país.

Segundo Priore:

A mãe era, nesse período, graças a diversas injunções históricas

que abordo no presente trabalho, a única responsável pelo nascimento,

sobrevivência, saúde e educação dos seus filhos, o que não ocorre em

nossa sociedade contemporânea, em que tais tarefas são divididas com os

MATERNIDADE

Page 39: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

pais, a professora e o médico, e as mulheres permitem-se exercer vários

papeis sociais diferentes. (PRIORE,2009,p.17)

Segundo Priore (2009) no que diz respeito à maternidade, o que se observou,

ao longo do processo de colonização, foi à acirrada imposição da Igreja, pelo

matrimonio configurando-se em um adestramento de muitas mulheres na figura de

mãe, pois para o estado seu corpo servia apenas para a procriação, bastando ter

apenas um marido para realizarem tal tarefa social.

A autora também enfatiza o estereótipo da “santa mãezinha”, mãe protetora,

que se preocupa como os filhos, com o marido e com o lar, mãe, honrada, ou seja,

uma imagem perfeita da mulher-mãe que se difundiu no Brasil colonial, ideias estas

afirmadas e sustentadas pela Igreja Católica, que foi construída como forma de

adestramento feminino e está presente até os dias atuais.

Cabia à medicina dar caução a igreja, a fim de disciplinar as mulheres para

o ato da procriação. Apenas vazio de prazeres físicos o corpo feminino se

mostraria dentro da normalidade pretendida pela medicina, e assim oco, se

revelaria, útil e fecundo. Apenas como mãe, a mulher revelaria um corpo e

uma alma saudáveis, sendo sua missão atender o projeto fisiológico moral

dos médicos e a perspectiva sacramental da Igreja. (PRIORE,2009,p.27)

Priore (2009) analisa ainda o relevante papel desempenhado pela Igreja e

Estado na domesticação da mulher neste período, cuja preocupação com o

comportamento feminino estava sempre adequada aos propósitos da Igreja, que

pregava que o corpo feminino atendia apenas ao ato da procriação, sendo impróprio

para os prazeres físicos.

O desconhecimento anatômico, a ignorância fisiológica, as fantasias sobre o corpo feminino permitiam que a ciência médica construísse ao longo da modernidade um saber masculino e um discurso de desconfiança sobre este objeto. A misoginia do período empurrava as mulheres para um território onde o controle do médico, do pai e do marido seria inelutável; aquele da maternidade. A concepção e a gravidez apareciam ai como remédio para todos os achaques femininos, e o homem ganhava assim um lugar essencial na saúde da mulher, uma vez que dele dependia a procriação. (PRIORE, 2009,p. 164)

Podemos perceber desta forma que toda a vida da mulher estava baseada na

maternidade, acentuando o ideal materno como único exemplo de educação e da

propagação de bons costumes sociais, costumes estes impostos para que a mulher

fizesse seu papel atribuído pela sociedade da época.

Page 40: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

A partir destes apontamentos, podemos perceber que a maternidade foi o

elemento que definiu os parâmetros sociais das mulheres na Colônia, sendo uma

forma de identificar seu papel frente a sociedade, independente da classe social em

que estava inserida.

ATIVIDADE

REFLEXÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL

Após a leitura e discussão do texto da autora Mary Del Priore a respeito

da maternidade pedir para os alunos refletirem sobre as mudanças ocorridas no

que diz respeito à maternidade fazendo um paralelo entre o período colonial e

como a maternidade é vista hoje, produzindo um texto sobre o tema.

A respeito do casamento, a historiadora Maria Beatriz Nizza da Silva, no seu

estudo sobre o “Sistema de Casamento no Brasil Colonial” (1984), faz uma análise a

respeito do sistema de normas que conduziam à prática do matrimônio durante o

período colonial. Para essa pesquisa a autora se baseia em arquivos, relatos, fontes

manuscritas referentes à Capitania de São Paulo e fontes impressas da Metrópole e

da Colônia1.

A autora inicialmente analisa as práticas matrimoniais indígenas, mostrando

como foi à atuação dos jesuítas para a instauração do matrimônio católico entre os

povos indígenas. Em seguida, discute todas as práticas que estão presentes no

CASAMENTO E DIVÓRCIO

Page 41: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

casamento, como por exemplo: o antes, quem escolhia o cônjuge, quais princípios

norteavam esta escolha, quais virtudes eram necessárias na mulher para essa

escolha, quais formas de casamentos existiam, o concubinato, a vida conjugal, a

gravidez, o parto, a honra da mulher casada, assim como o adultério e os processos

de divórcios. Segundo Maria Beatriz Nizza da Silva (1984)

Silva comenta que o matrimônio era para sempre, estabelecido a partir da

doutrina da Igreja católica sendo usada como principal argumento a favor de uma

escolha do futuro cônjuge. Esse princípio norteava-se na igualdade, podendo haver

disparidade etária, mas, não era uma prática comum, podendo ser mal vistos no

Brasil colonial.

Este princípio de igualdade, segundo a autora, era baseado na razão, sem

levar em conta a paixão e a atração física:

A escolha do cônjuge era norteada, no período colonial, pelo

principio de igualdade no que se refere à idade, condição e saúde, e

também por aquilo que poderíamos denominar principio da racionalidade,

que evidentemente marginalizava a paixão ou a atração física. O que

permeia, contudo, todo este discurso, quer erudito, quer popular, é uma

flagrante assimetria: falar muito da decisão do homem na escolha da futura

mulher, mas nada se diz daquilo que seria a contrapartida, ou seja, a

escolha por parte da mulher. Essa assimetria por si só revela que não cabia

a ela a decisão. Ela não escolhia, era escolhida. (SILVA, 1984, p.70)

No que se refere à forma como os casamentos eram realizados Silva (1984),

ressalta que a idade mínima para poder se casar era de 14 anos para os meninos e

12 para as meninas, com algumas exceções, mas sempre com uma autorização

especial, passada pelo bispo ou pela Igreja. Quanto ao casamento de uma filha

menor sem o consentimento do pai, a mesma perderia o direito a herança. Em se

tratando dos viúvos que pretendiam se casar pela segunda vez exigia-se o atestado

de óbito da primeira mulher ou do primeiro marido.

Para o casamento poder ser celebrado era preciso além de outros papeis,

uma certidão de batismo que provasse ou justificasse o fato, pois muitos párocos

não registravam como deveriam, e isto levava a um entrave burocrático. Estes

entraves eram frequentes e aumentavam conforme as distâncias das localidades.

Page 42: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Outro entrave que a autora destaca em sua obra era a respeito dos

obstáculos que impediam a celebração dos casamentos, vão de encontro à vadiação

dos homens e a exigências da burocracia eclesiástica.

Vemos assim, que contrair matrimônio representava, para amplas camadas da população, sobretudo negros e pardos forros, mas também brancos pobres, uma despesa e um trabalho tal como papeis que a maioria preferia viver em concubinato estável, constituindo família e vivendo como marido e mulher. (SILVA, 1984, p55)

A importância desta obra reside no fato de que seu objeto de estudo vai de

encontro ao modo como as pessoas agiam e como deviam agir, além de verificar

que apesar dos avanços, muitas das práticas associadas aquele momento histórico

ainda se fazem presentes na sociedade atual.

Dentro desta análise podemos citar o livro “Dignidade e Transgressão:

Mulheres no Tribunal Eclesiástico em Minas Gerais (1748-1830)” (2001) a autora

Marilda Santana da Silva nos mostra que a Igreja buscou direcionar-se como órgão

fiscalizador do sacramento do casamento, observando principalmente a elite

colonial, na qual as mulheres eram obrigadas a se casar, sendo que muitas vezes

não havia o afeto dos maridos, pois eram casamentos arranjados e impostos pelos

pais, tios, irmãos ou tutores.

Segundo SILVA, (2001) as mulheres suportavam os desafetos e agressões

dos maridos e que nem sempre recorreram ao divórcio como meio de por fim aos

seus sofrimentos, no qual, podemos perceber que as esposas pediam o divórcio

quando não havia mais “lugar para esperança” ou quando se viam em eminente

perigo.

ATIVIDADE

ANÁLISE DE DOCUMENTOS/PROCESSOS DE DIVÓRCIO.

Atividade 1: Nesta atividade a turma será dividida em grupos, cada grupo

analisará um documento relacionado ao período colonial brasileiro.

Atividade 2: Depois das análises feitas, cada grupo montará uma peça teatral

baseada no documento que analisou. No momento da apresentação da peça, o

Page 43: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

grupo deverá expor a análise realizada, finalizando a atividade com a

apresentação da peça teatral.

Os documentos utilizados nesta atividade foram retirados do livro: Marilda

Santana da Silva livro “Dignidade e Transgressão: Mulheres no Tribunal Eclesiástico

em Minas Gerais (1748-1830)” (2001)

Nesta obra a historiadora Marilda Santana da Silva procura fazer uma análise

da atuação do tribunal eclesiástico em Minas Gerais dos séculos XVIII e inicio do

XIX em relação às infrações julgadas neste tribunal no que diz a respeito à moral e à

sexualidade feminina. Esta pesquisa analisa documentações do Juízo Eclesiástico

do bispado de Mariana, que segundo a historiadora, possibilitou fazer um

mapeamento dos delitos morais e religiosos praticados por alguns segmentos da

população mineira no período abordado, ao mesmo tempo foi possível traçar um

perfil dos motivos alegados pelas mulheres ao buscarem a justiça nestes tribunais.

Abaixo analisaremos alguns destes documentos:

Documentos 1 e 2 : tratam de pedidos de divórcio de mulheres com

alegações de sevícias.Toda ação de divórcio com esta alegação se iniciava com

uma petição deste tipo:

Documento 1

P. Por Via de um Libelo Cível de divórcio diz a autora contra o seu

marido F. que A. é casada a face da Igreja com o réu F., há (tantos) anos, e

que durante este período, sempre serviu, tratou e obedeceu como era de seu

dever de esposa.

P. Que ha (tantos) anos, o dito seu marido não a trata como sua

companheira e igual (os motivos).

P. que por vezes a tem seviciado e faltado ao necessário alimento para

a sua subsistência.

P. Que a diferença do réu para com A. é tal, que ela vive abandonada,

sem recursos, e sempre receosa de ser maltratada pelo réu. (SILVA, 2001, p

84)

Page 44: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Documento 3: trata de um manual eclesiástico do Padre Manuel Tavares da

Silva. Este documento nos trás informações a respeito de como deveria agir a

mulher requerente do divórcio.

Documento 3

[...] a mulher casada como o dito seu marido, e este esquecendo dos

deveres; que lhe impôs de casado, a maltrata e persegue não só com palavras

injuriosas e infamantes, como mediante ameaças de espancá-la, e tirar-lhe a

própria vida. A suplicante (mulher) pode requeres que mande proceder a um

sumário de sevícias, e mande deposita-la na casa de sua madrinha com suas

joias, roupas e criados que a sirvam. A suplicante fica assim, encarregada de

nomear as testemunhas para o andamento do processo. (SILVA, 2001, p 81)

Documento 2

Dizia Joaquina da Silva Gages que seu marido, o capitão José da Silva

Amorim,

[...] esquecendo-se dos ditames da religião como praticavam as mulheres

honradas, pelo contrario a maltratava com palavras injuriosas sem razão ao

tratar amizade ilícita com uma parda de nome Perpétua com quem ofendia a fé

conjugal tendo-a publicamente e desperdiçando com ela os bens do casal.

(SILVA, 2001, p 102)

Page 45: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Documento 4 : pertence a Úrsula Porciúncula, a qual procurou o Juizado

Eclesiástico mineiro em 29 de julho de 1751 denunciando os maus tratos do marido.

Para um aprofundamento sobre o tema casamento no Brasil colonial será

assistindo e trabalhado o filme:

Documento 4

Sendo casada legitimamente com o réu seu marido tratava-o

com fidelidade e amor, como costumam as mulheres honradas, ele

pelo contrario, que esquecido das leis do matrimonio, tem vivido

dissolutamente concubinado com varias mulheres, e ultimamente,

anda concubinado com Joana Gomes bastarda, com quem chegou a

tanto escândalo, que com ela foi culpado, neste juízo.Mostra-se

também, que por este motivo tratava mal a esposa, que há anos não

lhe dá cousa alguma para e, e vestido [...] e que há anos não faz vida

marital com ela, estando vivendo em uma roça com a dita Joana,

com quem foi denunciado[...] (SILVA, 2001, p 88 )

TRABALHANDO COM VÍDEO

Page 46: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

DESMUNDO

Informações sobre o filme.

Título original: Desmundo

Lançamento: 2003, Brasil

Direção: Alain Fresnot

Atores: Simone Spoladore, Osmar Prado, Berta Zemei, Beatriz Segall.

Duração: 100 min

Gênero: Drama

Baseado no romance de Ana Miranda, o filme “Desmundo” de Alain

Fresnot (2003), retrata a sociedade colonial brasileira, por volta do ano de 1570

.Neste periodo da história do Brasil os negros eram “coisas” , os índios era

selvagens a serem “domesticados”; e as mulheres, eram apenas objetos com a

finalidade de servir ao seu marido, em todos os sentidos.

O filme conta a história de uma jovem portuguesa, órfã, juntamente com

outras,mandada para a América portuguesa colonial do século XVI, com o

objetivo de desposarem os colonos. O filme explora várias questões acerca do

contexto da época como linguagem, religiosidade, sexualidade, obediência e

fidelidade, os quais serão enfocados, principalmente, na narrativa da

personagem Oribela, uma das órfãs que são trazidas de Portugal. Tais mulheres

não escolhiam se desejavam se casar ; tão pouco com quem se casariam.

Oribela e as demais órfãs são levadas para um lugar onde são oferecidas

a seus pretendentes por uma intermediaria. A personagem principal, Simone

Page 47: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Spoladore, que se mostra muito religiosa, apresenta-se muito contrariada com a

situação em que se encontra .Através dessa personagem nos deparamos com o

universo da existência feminina, da religiosidade, do amor, da sexualidade.

Todos esses sentimentos estão arraigados na personalidade dela e nos permite

conhecer as estruturas mentais construídas culturalmente à época, uma vez que

a sua voz ecoa outras tantas vozes, que por sua vez reproduzem os discursos

normativos e impositivos da época, seja da igreja, seja da sociedade patriarcal.

Em Desmundo, a linguagem tem papel representativo nos discursos que

aparecem na história. Ela revela as posturas impositivas, audaciosas,

resignadas, reveladoras que acontece à época. Para isso recorre-se ao léxico,

com o uso de palavras dicionarizado, como no caso de Oribela, para revelar a

situação “sem norte” em que a personagem se encontra.

Atividade: Após o filme será feita uma análise historiográfica destacando os

pontos principais do filme juntamente com uma discussão acerca do enredo do

filme e em seguida os alunos e alunas produzirão um texto critico registrando

apontamentos que acharem relevantes.

Caro professor!

O objetivo a ser alcançado com a análise deste filme é refletir e debater

sobre o papel da mulher na sociedade colonial brasileira no que diz respeito ao

casamento nesta época. Neste sentido ressaltamos a importância do uso da

linguagem fílmica, pois o cinema enquanto método de abordagem e apropriação

do conhecimento torna-se uma ferramenta de acesso ao conhecimento e mais

uma alternativa para melhorar o trabalho do professor em sala de aula, podendo

despertar no aluno outro tipo de relação no que diz respeito ao processo ensino

aprendizagem, uma vez que, além de ampliar o conhecimento, estimulara o

aluno a pensar e questionar a história, a partir do filme, podendo desta maneira

levar aos nossos alunos outra forma de aprendizagem.

Em nossas aulas podemos utilizar qualquer gênero cinematográfico,

como documentário, filme histórico ou ficcional, desde que os mesmos tenham

Page 48: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

objetivos pedagógicos bem definidos.

Para a realização de um bom trabalho sobre o gênero cinematográfico

em sala de aula, é preciso antes conhecer muito bem e nos aprofundarmos

neste assunto. Para tanto, sugerimos algumas referências que abordam este

tema:

ARAÚJO, Inácio. Cinema: o mundo em movimento. Scipione, 1995.

FERRO, Marc. Cinema e História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

MORAN, José Manuel. O vídeo na sala de aula. Revista Comunicação &

Educação. São Paulo, n.2. jan/abr 1995.

NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo:

Contexto, 2005.

ROCHA, Antônio P. O Filme: um Recurso Didático no Ensino de História? In:

Lições com o Cinema. São Paulo: FDE, 1994.

ATIVIDADE

APROFUNDANDO O CONHECIMENTO

Após as leituras, discussões e atividades realizadas

nesta unidade será solicitado aos alunos e alunas uma reflexão juntamente

com uma produção textual que sistematize os conhecimentos adquiridos no

que se refere ao papel, a trajetória e avanços conquistados pelas mulheres ao

longo da história, bem como ações cotidianas que visem diminuir o machismo

em nossa sociedade.

Page 49: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

ATIVIDADE FINAL

JORNAL

Como atividade final desta Unidade os alunos produzirão um jornal

correspondente ao período colonial do Brasil.

Para esta atividade a turma será dividida em duplas, cada dupla

pesquisará um aspecto relevante sobre as mulheres neste período.

Os jornais serão expostos em locais da própria escola.

Os aspectos que serão pesquisados e colocados no jornal estão

relacionados a:

Política;

Sociedade;

Moda;

Anúncios;

Culinária;

Maquiagem;

Cultura;

Page 50: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para Joan Scott é fundamental que os estudos sobre as relações sociais entre homens e mulheres não fiquem somente na questão

Referências Bibliográficas:

ALGRANTI, Leila Mezan. Honradas e devotas: Mulheres da Colônia: condição

feminina nos conventos e recolhimentos do Sudeste do Brasil, 1750-1822. Rio de

Janeiro: José Olympio, 1993.

MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de História Oral. São Paulo: Loyola, 1996.

PARANÁ. Diretrizes curriculares Estaduais para o Ensino de História. SEED-

Curitiba, PR. 2008.

PRIORE, Mary Del. Ao sul do corpo: Condição feminina, maternidades e

mentalidades no Brasil Colônia. 2ª edição São Paulo: UNESP, 2009.

PRIORE, Mary Del. Histórias íntimas: sexualidade e erotismo na história do Brasil.

São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2011.

PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. São Paulo: Contexto, 2007.

SILVA, Marilda Santana Da. Dignidade e transgressão: mulheres no Tribunal

Eclesiástico em Minas Gerais (1748-1830). São Paulo: FAPESP, 2001.

SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Sistema de Casamento no Brasil Colonial. São

Paulo: EDUSP, 1984.

SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. In: Educação e

Realidade 20(2) jul/dez pp71-99

ZIRBEL, Ilze. Gênero e estudos Feministas no Brasil. In: SILVA, Carla Fernanda da;

KRAEMER, Celso (Org.). Corpos Plurais: experiências possíveis. Blumenau:

Liquidificador. 2012. pp. 15 a 68.