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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

A INTERTEXTUALIDADE E A PRÁTICA DE LEITURA EM SALA DE AULA: ESTUDO DOS CONTOS DE 23 HISTÓRIAS DE UM

VIAJANTE DE MARINA COLASANTI

Rosymar Pires de Oliveira1

Maria Carolina de Godoy2

Resumo

Este artigo reflete sobre a leitura na escola através das teorias da recepção e da intertextualidade que visam um ensino de leitura que aproxima professores e alunos na construção do conhecimento com base na obra 23 Histórias de um Viajante de Marina Colasanti Sobretudo ressalta a importância do aperfeiçoamento do professor com relação aos textos trabalhados em sala de aula, especialmente o conto, gênero textual intrigante e motivador que possibilita ao leitor o desenvolvimento da criticidade e o gosto pela leitura. Assim sendo, ao observar as dificuldades dos alunos do ensino fundamental em interpretar textos literários, oportunizamos aos alunos do 9º ano do Colégio Estadual Professor Anésio Alves de Azevedo a participação em oficinas de leitura dos contos que integram a obra de Marina Colasanti: 23 histórias de um viajante “Com sua grandíssima fome”; “Conto Moldura”; “Com certeza tenho amor”, “A cidade dos cinco ciprestes”; “De torre em torre”; “Do seu coração partido”; “Poça de Sangue em campo de neve” e “São os cabelos das mulheres” Utilizando-se de atividades com base nas teorias da intertextualidade e da recepção, com vista em verificar se reconhecem os intertextos presentes através das narrativas propostas: “João e Maria”; “As mil e uma noites”; “O Corvo”; “Barba Azul”, “Rapunzel”; “Cinderela” e a história bíblica “Sansão e Dalila”.

Palavras-chave: leitura; escola; intertextualidade; estética da recepção; 23 histórias de um viajante

Introdução

O presente artigo tem como objetivo apresentar a sistematização das

atividades desenvolvidas no âmbito do Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE), da secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED/PR)

durante os anos de 2014 e 2015, vinculado ao Departamento de Letras da

Universidade Estadual de Londrina (UEL).

1 Graduada em Letras- Anglo Portuguesas pela FAFIJAN, Pós-Graduada em Leitura e Produção Textual pela FAFIMAN e professora PDE 2014/2015 2 Artigo apresentado à Universidade Estadual de Londrina(UNEL) e à Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED-PR) para o Programa de Formação Continuada intitulado Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), sob a orientação da Profª. Drª Maria Carolina de Godoy

O tema escolhido para os estudos foi: a intertextualidade presente na

obra 23 Histórias de um Viajante de Marina Colasanti como proposta pedagógica

de Língua Portuguesa. Este estudo motivou-se pela constatação de que o ensino

de leitura na escola tem sido objeto constante de estudo e discussões entre

professores, estudiosos e pesquisadores, por ser este um dos instrumentos

fundamentais para inserir o discente/leitor na sociedade, que precisa realizar

constantes atividades de interação com textos, pressupondo ações concretas e

responsivas diante daquilo que lê.

Os resultados sobre leitura no Brasil em todos os níveis educacionais

demonstram que o trabalho realizado na escola está aquém do que se espera,

na verdade uma tarefa árdua para nós professores pelo fato de concorrermos

com as leituras velozes e superficiais entra as quais a tecnologia se sobressai.

Porém, entende-se que ler não é apenas decodificar sons e letras, vai muito,

além disso, é acionar os conhecimentos adquiridos na escola e as experiências

de mundo para interpretar o texto.

Os textos apresentados na escola precisam ser bem selecionados pelo

professor para que a aula de leitura não se torne uma atividade difícil e

improdutiva, faz-se necessário definir objetivos, planejar estratégias para que ao

ler um texto o leitor possa reconhecer informações, sentindo-o, enfrentando-o,

enfim posicionando-se sobre a sua estrutura semântica.

Uma ferramenta desafiadora com o trabalho de leitura na escola é o texto

literário, por apresentar uma linguagem plurissignificativa, exigindo um leitor

mais informado que tenha um repertório ou memória cultural e literária para

identificar os textos superpostos (SANT’ANA, 2007) determinante para a

constituição do processo intertextual de compreensão do texto. (KOCH;

BENTES; CAVALCANTE, 2008 p.128)

Sendo assim, ao observar as dificuldades dos alunos do 9º ano do

Ensino Fundamental em realizar a intertextualidade em textos literários, optou-

se por estudar e aplicar as teorias da intertextualidade e da recepção que visam

proporcionar ao leitor as condições necessárias para construir o conhecimento

conjuntamente com o professor, fazendo-se crítico, fator essencial para desvelar

as apropriações de linguagens de que se serve a literatura. Por isso

consideramos relevante a escolha da obra 23 histórias de um viajante da autora

Marina Colasanti, cuja narrativa cheia de simbolismos, mistérios, conta que um

cavaleiro chega a um castelo onde penetra os domínios de um príncipe

misterioso isolado do mundo por altas muralhas e ali começa a narrar as

histórias, como uma espécie de Sherazade (princesa que se casa com um rei

cujo costume é de matar a esposa após a primeira noite de núpcias, usa como

meio de salvação contar histórias que o encantam. Passadas mil e uma noites o

rei descobre-se apaixonado por ela e livra-a da morte), assim também na obra

de Colasanti o cavaleiro viajante ao narrar as 23 histórias proporciona ao príncipe

a descoberta de uma nova realidade, um mundo além das muralhas aguça sua

curiosidade “como se soubesse o que ia em seu coração”. Dessa forma, o livro

pode ser lido como uma série de contos ou como um romance unido pelo fio sutil

que liga todas as histórias e as projeta muito além das fronteiras do possível.

Para o corpus de análise selecionamos o gênero conto, por ser uma

narrativa curta que é muito apreciada por autores e leitores (GANCHO, 2011)

que além de provocar o leitor é uma verdadeira máquina de criar interesse

(GOTLIB apud CORTAZAR, 2006, p.37). Sendo assim, esse gênero textual tem

o poder de encantar os alunos nessa faixa etária que embora acostumados a

tecnologia apreciam a contação de histórias curtas e intrigantes como os contos

cujos temas aproximam-se da realidade atual. Além de expandir sua forma de

compreensão do mundo, permite-lhes apreciar esteticamente o texto literário.

Escutar histórias é o início da aprendizagem para ser um bom leitor, tendo um caminho absolutamente infinito de descobertas. Os contos conseguem deixar fluir o imaginário e levar o aluno/ leitor a ter curiosidade, uma possibilidade de descobrir o mundo colossal dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivem e atravessam, de um jeito ou de outro.

Os contos elencados: “Com sua grandíssima fome”; “Conto Moldura”;

“Com certeza tenho amor”; “A cidade dos cinco ciprestes”; “De torre em torre”;”

Do seu coração partido”; “Poça de Sangue em campo de neve” e “São os cabelos

das mulheres” compõem a obra 23 histórias de um viajante de Marina Colasanti,

autora contemporânea que reflete em seus livros fatos do cotidiano, o amor, a

arte, os problemas sociais brasileiros, sempre com aguçada sensibilidade,

tornando a leitura de seus contos muito apreciadas pelos jovens leitores.

(COELHO, 1983). Verifica-se também o que afirma Piglia (2004, p.98)” um conto

sempre conta duas histórias”, perpassa por outros textos e sua escrita percorre

gerações valendo-se de uma linguagem universal, que fala a todos sem restrição

possibilitando ao leitor fazer uma viagem de auto-descoberta e de valorização

do outro. Realiza ainda o que Sant’Ana (2007) denomina de apropriação

parodística, subversão original de um texto já escrito, valendo-se dos contos

tradicionais, sua escrita inova e estabelece uma relação entre o tempo

contemporâneo e o mito.

Muitas vezes a leitura literária provoca um estranhamento no leitor,

confrontando o novo com seus conhecimentos prévios, essenciais para

interpretar coerentemente o texto, ampliando a sua maneira de ver e analisar o

mundo. No entanto, a prática pedagógica exige a mediação do professor nesse

processo, a partir do planejamento das atividades de leitura, promovendo a

autonomia do aluno em fazer suas próprias descobertas, aproximando-o do

universo literário.

O conto contemporâneo inserido nesse universo é um gênero textual que

exige a participação de um leitor bem informado, pois difere dos contos

tradicionais, embora mantendo sua estrutura, tem uma força crítica e tenta não

reproduzir, mas produzir algo diferente (SANT’ANA, 2007, p.49), como os contos

de Marina Colasanti presentes no contexto escolar, seja na leitura prazerosa de

suas obras, nos livros didáticos, nos concursos de vestibulares ou nas avaliações

de Língua Portuguesa.

Partindo desse princípio, surgiu uma inquietação: As leituras dos alunos

do Ensino Fundamental da rede pública são suficientes para a compreensão e

interpretação dos contos colasantianos?

Assim sendo, tivemos como objetivo geral: oportunizar aos alunos do 9º

ano do Colégio Estadual Professor Anésio Alves de Azevedo a participação em

oficinas de leitura dos contos que integram a obra de Marina Colasanti: 23

histórias de um viajante: “Com sua grandíssima fome”; Conto Moldura; “Com

certeza tenho amor” “A cidade dos cinco ciprestes”; “De torre em torre”; “Do seu

coração partido”; “Poça de Sangue em campo de neve” e “São os cabelos das

mulheres”. Utilizando-se de atividades com base nas teorias da Intertextualidade

e da Recepção, com vista em verificar se reconhecem os intertextos presentes

através das narrativas propostas: “João e Maria”;” As mil e uma noites”; “O

Corvo”; ‘Barba Azul”, “Rapunzel”; “Cinderela” e a história bíblica “Sansão e

Dalila”.

1. As teorias da intertextualidade, da recepção e a formação do leitor

O início dos estudos se desenvolveu com leituras para a elaboração do

projeto de intervenção pedagógica, observando que o discurso atual nos

documentos oficiais na área da educação como as Diretrizes Curriculares do

Estado do Paraná em Língua Portuguesa é de que a tarefa de formar leitores

supõe conhecimento teórico, trabalho permanente e acompanhamento contínuo

por parte dos professores nas atividades de leitura feitas em sala de aula, visto

que não basta formar leitores, é preciso bons leitores capazes de ir além de uma

leitura superficial do texto, ler as entrelinhas e expandir sua compreensão de

mundo.

Muitos teóricos concordam que o texto literário é um instrumento

riquíssimo de contribuição para formar alunos/leitores proficientes, porque

diferente de textos informativos, este possibilita a entrega ao prazer, ao lúdico, a

formulação de perguntas antes jamais pensadas, dinamizando assim o

aprendizado contínuo e proveitoso.

Nos estudos de teoria literária, algumas das perspectivas mais

abordadas estão em torno da estética da recepção e da intertextualidade. Para

os autores Barros e Fiorin (2003, p.4) a intertextualidade na obra do teórico da

linguagem russo Mikhail Bakhtin, é antes de tudo interna das vozes que falam e

polemizam no texto, nele reproduzindo com outros textos.

Tudo que é dito, tudo que é expresso por um falante, por um enunciador, não pertence só a ele, em todo discurso são percebidas vozes, às vezes infinitamente distantes, anônimas, quase impessoais, quase imperceptíveis, assim como as vozes próximas que ecoam no momento da fala. (BARROS, FIORIN, 2003, p.14)

No entanto, para que o aluno/leitor reconheça as vozes presentes no

texto é imprescindível a mediação do professor articulando caminhos,

estratégias no processo de leitura em sala de aula, constatando que esta dá

sentido à vida, não apenas nas práticas cotidianas, mas como ferramenta para

ler e interpretar a realidade.

Os estudiosos Koch; Bentes; Cavalcante (2008) esclarecem o que a

crítica literária francesa Julia Kristeva responsável pelo conceito de

intertextualidade na década de 60 explicita, que qualquer texto se constrói como

um mosaico de citações, é a absorção e transformação de um outro texto (p.60),

ou seja, para interpretar um texto é fundamental propiciar ao leitor a oportunidade

de outras leituras associadas ao que o professor deseja trabalhar, garantindo-

lhe autonomia em fazer posteriormente suas próprias descobertas.

O mosaico citado por Kristeva (p.60) só pode ser compreendido pelo

leitor através da sua complexidade de experiência de vida em consonância com

sua experiência literária, delegando ao professor o papel determinante de

converter o desconhecido, descontextualizado e visto muitas vezes como

utilitário e funcional em um processo de criação impulsionadora de novas

reflexões.

Segundo Barros e Fiorin (2003, p.32):

a interdiscursividade é o processo em que se incorporam percursos temáticos e/ou figurativos, temas e/ou figuras de um discurso em outro. Tal interdiscursividade só é assimilada num texto literário pelo leitor a partir do momento em que o subjetivo, subentendido sejam esclarecidos por meio do diálogo com outros textos pertinentes a ele.

Já a estética da recepção é concebida pelos teóricos alemães da Escola

de Constança como uma concretização pertinente a estrutura da obra, tanto no

momento da produção, como no da sua leitura (AGUIAR; BORDINI, 1993, p.82).

Surge das considerações teóricas do alemão Hans Robert Jauss ao criticar

publicamente o modo pela qual a teoria literária abordava a história da literatura,

considerando os métodos tradicionais de ensino, e propondo reflexões sobre

eles.

A crítica do teórico à história da literatura pauta-se no fato de que, em

sua forma habitual, a teoria literária elenca as obras de acordo com tendências

gerais; ora abordando-as individualmente em seqüência cronológica, ora

“seguindo a cronologia dos grandes autores e apreciando-os conforme o

esquema de vida e obra”. (JAUSS apud COSTA, 2011, p.2). Discordando dessas

concepções teóricas, mas, ao mesmo tempo, apropriando-se de suas

contribuições, Costa (2011, p.3) diz que Jauss compreende a relação entre

literatura e leitor baseando-se no caráter estético e histórico da mesma. O

estético, para o autor, pode ser comprovado por meio da comparação com outras

leituras; o valor histórico, através da compreensão da recepção de uma obra a

partir de sua publicação, assim como pela recepção do público ao longo do

tempo.

O caráter estético envolve participação e apropriação, uma vez que,

diante da obra literária, o leitor percebe sua atividade criativa de recepção. A

experiência estética consiste em que o leitor sinta e saiba que “seu horizonte

individual, moldado à luz da sociedade de seu tempo, mede-se com o horizonte

da obra e que, desse encontro, lhe advém maior conhecimento do mundo e de

si próprio”. (AGUIAR apud COSTA, 2011, p.6) A experiência estética, portanto,

concebe prazer e conhecimento; e, por meio do diálogo entre leitor e texto, a

criação literária age sobre um público oferecendo modelos de comportamento e,

ao mesmo tempo, emancipando-o.

Para Aguiar e Bordini (1993,p.84), “uma obra é perene enquanto

consegue continuar contribuindo para o alargamento de expectativas de

sucessivas épocas”. Dessa maneira, a partir do horizonte de expectativas do

aluno/leitor, o professor organiza atividades de leitura oral e escrita a fim de que

o mesmo promova o debate com o texto, com os outros interlocutores e até com

o próprio docente, fazendo-o romper com seu horizonte de expectativa e

consequentemente sua ampliação.

Tanto a intertextualidade como a estética da recepção destacam o papel

do leitor e sua importância na construção de sentido de um texto, não é

concebível na atualidade desvinculá-lo dessa atuação, pois inserido em um

contexto histórico este tem o poder de intervir e transformar o meio. Pensando

nisso é que elegemos essas teorias, o gênero conto e a obra 23 histórias de um

viajante da autora Marina Colasanti para o desenvolvimento e aplicação do

projeto de intervenção pedagógica, da qual iremos discorrer em seguida.

2. O Gênero Conto

Desde as sociedades primitivas até a contemporaneidade as pessoas

trocam ideias, contam casos, transmitem conhecimento, narram histórias,

dialogam, e embora o processo tecnológico tenha mudado esse modo de

comunicação distanciando as relações interpessoais a sua essência continua

vigorosa e necessária através dos séculos.

Segundo Gotlib (2006) a tradição de narrar histórias antecede à escrita

possivelmente 4000 anos antes de Cristo como os primeiros contos – os contos

egípcios- para alguns os mais antigos, que vão evoluindo da transmissão oral

para o registro escrito a partir do século XIV. Desse período até os dias atuais,

a autora ressalta ainda em sua obra, Teoria do conto (2006) que o percurso

traçado pelo conto tornou-o cada vez mais um gênero narrativo muito difundido

e aceito. O conto é a forma narrativa em prosa, de menor extensão. Entre suas

principais características estão a concisão, a precisão, a densidade, a unidade

de efeito ou impressão total – da qual falava Poe (GOTLIB, 2006 p. 34) o conto

precisa causar um efeito singular de excitação e emotividade. Ao escritor de

contos dá-se o nome de contista.

Embora as características dos contos tradicionais como os contos de

fadas sempre terminam em final feliz, os contos contemporâneos se diferem

quanto aos temas, personagens, desfechos, mas sua estrutura continua a

mesma encantando leitores de todos os tempos.

[...]porque um conto em última análise se move nesse plano do homem onde a vida e a expressão escrita dessa vida travam uma batalha fraternal, se me permite o termo; e o resultado dessa batalha é o próprio conto. Algo assim como um tremor de água dentro de um cristal, uma fugacidade numa permanência. (GOTLIB apud CORTAZAR, 2004, p.153)

Essa batalha entre a vida e a expressão escrita de que nos fala Cortázar

em (CRONÓPIO, 2004) presente nos contos, está bem representada na

modernidade por Marina Colasanti, seus contos são constantemente

trabalhados na escola, nos livros didáticos, nas avaliações de Português, nos

projetos de leitura, nas provas de vestibulares de muitas universidades do país.

A autora inova ao transgredir e subverter os contos tradicionais seja na

linguagem, nos temas, nos desfechos e consegue com sua técnica atrair cada

vez mais leitores. Por isso é importante explanar sobre sua relevância no meio

educacional e o interesse em estudar mais detalhadamente sua obra 23 histórias

de um viajante a qual foi aplicada com os alunos do 9º ano do Ensino

Fundamental.

3. Um pouco sobre Marina Colasanti

Segundo o blog “O mundo de Marina Colasanti” dedicado à autora ela

nasceu em 26 de setembro de 1937 em Asmara (Eritreia) Etiópia. Viveu sua

infância na África, depois seguiu para a Itália onde morou 11 anos. Chegou ao

Brasil em 1948 juntamente com sua família e radicou-se no Rio de Janeiro,onde

reside até hoje. Construiu uma carreira sólida e de sucesso, na TV, nos jornais

e revistas, além de publicar vários livros de poemas, contos, crônicas e histórias

infantis. É casada com o escritor Afonso Romano de Sant’Anna. (2007, p. 01)

Viajando pelo Brasil e por outros países, realiza diversos cursos e

conferências. Encontra-se em sua obra sucessos de venda e de público como

Nada na manga, A morada do ser, Doze reis e a moça no labirinto do vento, O

lobo e o carneiro no sonho da menina, Um amigo para sempre, Intimidade

pública, Entre a espada e a rosa, Contos de amor rasgados, direcionados ao

público, bem como a obra 23 histórias de um viajante. (SANT´ANA, 2007, p.01)

Colasanti constrói suas narrativas com simbolismos e elementos

mitológicos, estabelece, em seus contos, uma relação também com a oralidade

e a “brevidade”, que fora explicitada por Edgar Allan Poe, excelente contista que

através de suas obras aflorava os sentimentos humanos.

O conto contemporâneo criado por Colasanti encaixa-se no que explica

Santana (2008) ocorre um deslocamento, estranhamento, desvio, o objeto é

colocado numa situação diferente fora do seu uso. O “artista” está querendo

desarrumar, inverter, interromper a normalidade cotidiana e chamar a atenção

para alguma coisa. Exatamente assim podemos conceituar sua obra, a autora é

uma artista cujas histórias transmitem mais do que belas mensagens, remetem

para reflexões acerca do momento histórico ao qual pertencemos, chama a

atenção para temas atuais como a morte, o amor, o ódio, a angústia, o medo,

entre outros.

Marina Colasanti escreve especialmente para o público jovem, embora

sua leitura possa ser feita em todas as idades e continuar encantando. Mas para

adentrar na profundidade de seus contos e interpretá-los, é fundamental um

trabalho minucioso entre leitor e texto, pois se exige conhecimento prévio dos

intertextos presentes. A roupagem nova dada pela autora só pode ser

compreendida numa segunda ou terceira leitura. É justamente nesse contexto

que surgiu a indagação: será que o aluno/leitor do 9ºano do Ensino Fundamental

tem leituras suficientes para interpretar os contos colasantianos? É, portanto por

meio dessa inquietação que explanaremos agora sobre a obra escolhida para o

projeto de intervenção pedagógica: 23 histórias de um viajante.

4. “23 histórias de um viajante”, um desafio ao jovem/leitor

A obra 23 histórias de um viajante, divide-se em duas partes. Um conto

moldura que narra a história de um cavaleiro-viajante que chega aos domínios

de um castelo pedindo passagem. Após conhecê-lo o príncipe encanta-se por

suas histórias e resolve juntamente com sua comitiva acompanhá-lo até os

limites de suas terras. Durante a viagem o cavaleiro-viajante personagem que

se aproxima da tradição oral, narra aos expectadores as 23 histórias que

integram a segunda parte do livro. A dissertação de mestrado da Universidade

Católica de São Paulo-PUC, de autoria de Vanessa de Bello Lins da Rocha, com

o título O conto contemporâneo de Marina Colasanti: estilhaços do maravilhoso

na viagem das 23 histórias (2010) ressalta que:

as histórias contêm elementos da tradição: príncipe, castelos, damas, mensageiros, ferreiros, carruagens. Tais histórias possibilitam ao príncipe descobrir um mundo novo, e as suas próprias terras sob um novo olhar. Os cavaleiros que o acompanham começam a refletir sobre suas vidas através da desordenada ordem das narrativas. O conto moldura traz a consciência de que a verdadeira felicidade está entre dois mundos: a realidade e o sonho. A entrada do leitor no texto é permitida a qualquer momento, porque não estabelece começo, meio,

fim. (ROCHA, 2010, p. 56) É importante destacar que embora a dissertação já citada tenha sido

utilizada para análise da obra em si, os contos elencados aqui diferem do

trabalho realizado pela autora e o que foi desenvolvido em sala de aula nesse

projeto de intervenção.

As narrativas são independentes, e parte do maravilhoso (contos de

fadas) para o real. Observa-se em todos os contos um fio condutor. A formação

de nossa personalidade se constrói de nossos desejos e com quem convivemos,

não se pode ser um fora do conjunto, a busca da felicidade e a sua trajetória está

carregada de sentimentos de medo, angústia, solidão, crises de insatisfação da

vida e o desejo de ser o outro. Os temas abordados pela autora assim

subdividem-se:

● A metamorfose diferente dos contos tradicionais, em que o sapo

vira príncipe, aqui ocorre de dentro para fora, homem que vira pedra, caçador

que vira raposa, pássaros que fazem ninhos num turbante de um príncipe, esses

e outros fatos estão nos contos: No aconchego de um turbante; Como cantam

as pedras; Na neve os caçadores e Quase tão leve. A construção da identidade,

a busca de si mesmo e a reintegração do homem com a terra. (ROCHA, 2010,

p.57)

● A viagem de autodescoberta não culminará num desfecho feliz. A

vida é uma trajetória marcada pelo modo que a conduzimos. Há um diálogo

franco com o leitor, entre o fazer poético e as angústias do nosso tempo: A morte

e o rei; A cidade dos cinco ciprestes; De muito procurar; No caminho inexistente

e O conto moldura. Tem-se a viagem não no sentido literal, mas há uma viagem

temporal, notada pelo tempo psicológico, que acompanha as transformações da

vida do homem contemporâneo que procura o amor, a felicidade muitas vezes

sem saber. (ROCHA, 2010, p.63)

● A desconstrução das fadas dos contos tradicionais são

representadas por personagens femininas, mulheres do tempo moderno com

sentimentos de bondade, generosidade e ao mesmo tempo perversas, reais que

choram, amam, sofrem, revoltam-se e agem como pessoas imperfeitas que são:

“Do seu coração partido”;” Quem me deu foi a manhã”; “Entre eles água e

mágoa”; “Com sua grandíssima fome”. (ROCHA, 2010, p.69)

● A construção da identidade, ou seja, a maneira de ser, pensar e

agir com as pessoas, com as situações, como nos demais contos, passa pela

dolorosa, mas edificante experiência de envelhecer, a insatisfação, a frustração,

o necessário crescimento diante das perdas incompreensíveis da vida: “Na sua

justa medida”; “Como se fosse’; “Quase tão leve”; ‘Um homem frente e verso’;

“Antes que chegue a manhã’. (ROCHA, data, p. 70)

● As personagens femininas têm posturas e atitudes bem diferentes

dos contos tradicionais que eram passivas e submissas. Nesses contos elas

escolhem o seu destino, lutam por seus direitos, pela sua felicidade,

protagonizam a sua história e persistem em vencer os preconceitos: ‘Poça de

Sangue em campo de neve”; “Rosas na cabeceira”; “De torre em torre’; “O riso

acima da porta’. (ROCHA, 2010, p.72)

Dessa forma uma obra tão rica em temas atuais, capazes de encantar o

jovem leitor, é que foi selecionada para a aplicação do projeto de intervenção

pedagógica, e de instigar a busca pela resposta a indagação feita anteriormente,

se esses mesmos alunos/leitores do 9º ano do Ensino Fundamental possuem

leituras suficientes para interpretar os contos colasantianos.

Contudo, na impossibilidade de trabalhar todos os contos, para a

realização das atividades de leitura e escrita em sala da aula, juntamente com

as teorias da recepção e da intertextualidade optou-se pelos contos: “Com sua

grandíssima fome”; “Com certeza tenho amor”; “A cidade dos cinco ciprestes’;

‘De torre em torre’; ‘Do seu coração partido’; ‘Poça de sangue em campo de

neve’; ‘São os cabelos das mulheres” e o Conto Moldura. Tais contos

apresentam os temas já mencionados e estabelecem intertextualidade com

outras histórias já conhecidas por grande parte dos leitores, sendo elas: “João e

Maria’; “Sherazade e as mil e uma noites’; “Rapunzel”; “Barba Azul’; “A Bela

Adormecida’;” Cinderela”;”Sansão e Dalila’ e “O Corvo”.

Com base nas considerações feitas até aqui, abordaremos a seguir a

metodologia, o resultado e as discussões pertinentes a aplicação do projeto, por

meio das teorias estudadas aos contos elencados, bem como a apresentação

de Marina Colasanti e sua relevância para a realização das atividades de leitura

e escrita com os alunos do 9º ano.

5. Metodologia

A partir do problema identificado, do estudo teórico das duas teorias da

recepção e da intertextualidade, foi organizada uma forma de abordagem da

temática com os alunos do 9º ano B do Colégio Estadual Professor Anésio Alves

de Azevedo, município de Arapongas NRE Apucarana, onde ocorreu a

Intervenção Pedagógica, bem como com os professores de Português que

escolheram participar da formação continuada à distância, por meio do Grupo de

Trabalho em Rede (GTR). Logo, o Material Didático, na forma de caderno

pedagógico intitulado “23 histórias de um viajante: proposta interdiscursiva como

prática de leitura “, foi escrito explanando sobre as duas teorias, e foi utilizado

como material base na implementação do projeto no colégio e nos módulos do

GTR.

No colégio, após apresentar o projeto à direção e à equipe pedagógica,

foi solicitado um momento na semana pedagógica de fevereiro (de 04 a 05 de

fevereiro de 2015) para apresentação do projeto para todos os professores que

participavam da formação continuada.

No GTR a dinâmica foi um pouco alterada, em decorrência da natureza

do curso, à distância, sendo possível ampliar as discussões de cunho teórico

fundamentadas no Projeto de Intervenção Pedagógica: “23 histórias de um

viajante: proposta interdiscursiva como prática de leitura“. Já no caderno

pedagógico e na implementação do projeto no colégio realizou-se discussões

com os alunos a respeito do tema proposto através das sugestões de artigos

científicos dos professores participantes do GTR 2015.

Com base em estudos e objetivando a aplicação das atividades

organizadas no caderno pedagógico, com perspectivas de promover a melhoria

do ensino de leitura e escrita na escola pública, proporcionando a formação do

aluno/leitor como sujeito capaz de ler e interpretar um texto, associar ideias,

instigar a busca do conhecimento é que se organizaram as estratégias de ação

com a obra literária 23 histórias de um viajante sua autora Marina Colasanti e os

intertextos presentes nos contos elencados. Iniciamos as atividades com a

aplicação do método recepcional. Sabemos que o método recepcional é estranho

à escola brasileira como nos afirma as autoras Aguiar e Bordini em sua obra:

Literatura e formação do leitor: alternativas metodológicas (1993, p. 82), nessa

obra ressaltam que o método baseia-se nas teorias do alemão Hans Robert

Jauss que destaca o papel do leitor como fator essencial para a concretização da

leitura de um texto e na recepção que este realiza quando o lê.

É notório que por muito tempo houve uma preocupação apenas com o

autor ou com o texto em nossas escolas e nas aulas de Língua Portuguesa, mas

que os estudos modernos trazem ao centro da questão a atitude receptiva do

leitor. Chegou-se à conclusão através da teoria da estética da recepção que o

leitor possui horizontes de expectativas antes, durante e até mesmo depois do

processo de leitura, e que é possível utilizar esses horizontes para a construção

do conhecimento. A experiência estética consiste em que o leitor sinta e saiba

que “seu horizonte individual, moldado à luz da sociedade de seu tempo, mede-

se com o horizonte da obra e que, desse encontro, lhe advém maior

conhecimento do mundo e de si próprio”. (COSTA apud AGUIAR, 2011, p.6). A

experiência estética, portanto, concebe prazer e conhecimento; e, por meio do

diálogo entre leitor e texto, a criação literária age sobre um público oferecendo

modelos de comportamento e, ao mesmo tempo, emancipando-o.

O método abrange cinco etapas: a) determinação do horizonte de

expectativas; b) atendimento do horizonte de expectativas; c) ruptura do

horizonte de expectativas; d) questionamento do horizonte de expectativas; e)

ampliação do horizonte de expectativas. Para isso utilizamos as teorias da

intertextualidade e da recepção. As atividades foram em forma de oficinas, em

4h aulas cada uma com duração total de 32h aulas. Assim subdividas:

● 1ª oficina: Explanação do projeto de intervenção pedagógica aos

alunos do 9º ano B do Colégio Estadual Professor Anésio Alves de Azevedo, em

seguida uma sondagem através da discussão oral com os alunos e aplicação de

um questionário sobre o que sabem sobre o gênero conto.

● 2ª e 3ª oficinas: Explicação sobre o gênero conto e atividades de

leitura, oralidade e escrita dos contos: “João e Mar”;”Sherazade e as mil e uma

noites”; “Rapunzel”;” Barba Azul”; “A Bela Adormecida”, “Cinderela”, “O corvo”

(conto e poesia) e a história bíblica “Sansão e Dalila”. Bem como breve

comentário sobre seus autores.

● 4ª oficina: Estudo sobre a autora Marina Colasanti sua vida, obra e

importância para a literatura infanto-juvenil contemporânea.

● 5ª oficina: Apresentação da obra 23 histórias de um viajante;

● 6ª e 7ª oficina: Atividades de leitura, oralidade e escrita com os

contos selecionados da obra 23 histórias de um viajante: “Com sua grandíssima

fome”; “Com certeza tenho amor”; “A cidade dos cinco ciprestes”; “De torre em

torre”;” Do seu coração partido”; “Poça de sangue em campo de neve”; “São os

cabelos das mulheres” e o Conto Moldura que estabelecem intertextualidade

com as histórias: “João e Maria”; “Sherazade e as mil e uma noites”;” Rapunzel”;

“Barba Azul’; “A Bela Adormecida”; “Cinderela”; ‘Sansão e Dalila “e “O Corvo”;

● 8ª oficina: Os alunos produziram individualmente um conto,

escolhendo um dos temas abordados na obra 23 histórias de um viajante.

As oficinas foram interativas, oferecendo ao aluno, o aperfeiçoamento e

melhoramento dos níveis de oralidade, leitura e escrita, por meio de filmes,

material impresso, vídeos, pesquisa no laboratório de informática, revistas, sobre

o tema desse projeto: A intertextualidade presente na obra 23 Histórias de um

Viajante de Marina Colasanti como proposta pedagógica de Língua Portuguesa.

Com a implementação deste projeto, verificou-se que os alunos do 9º

ano tornaram-se leitores das obras de Marina Colasanti, de outros contos e

autores, que foram capazes de ler as entrelinhas, os intertextos presentes,

desenvolveram o gosto pela leitura utilizando-a em situações de interpretação,

mas, sobretudo vivenciaram nas aulas de língua portuguesa participações que

possibilitaram estabelecer relações entre ações individuais e coletivas,

reconhecendo o papel do homem na sociedade, e a importância essencial da

leitura de um texto num nível mais profundo, fator essencial para a assimilação

do conhecimento, ampliação do seu horizonte de expectativas e construção da

cidadania.

6. Resultados e discussões

No Colégio Estadual Anésio Alves de Azevedo obteve-se a anuência e

apoio da direção e equipe pedagógica para o início da implementação do projeto,

em que se organizou uma apresentação expositiva aos professores na reunião

pedagógica do dia 5 de fevereiro de 2015, na qual se esclareceu sobre o projeto

e respostas às dúvidas pertinentes ao mesmo.

Logo que possível realizou-se a aplicação da 1ª oficina, expondo aos

alunos do 9º ano do Ensino Fundamental sobre o projeto de intervenção

pedagógica, as atividades que seriam realizadas e os objetivos a serem

alcançados.

Na atividade 1, houve a aplicação da primeira etapa do método

recepcional a determinação do horizonte de expectativas, dando sequência nas

atividades 2, 3 e 4.Os alunos foram receptivos em assistir uma parte do vídeo Os

fantásticos livros voadores do Senhor Morris Lessmore em que se discutiu o

momento que os livros voam, andam, transmitem emoções e sentimentos.

Realizou-se um amplo debate para ouvir as impressões dos alunos sobre o que

pensam a respeito da leitura, quais suas preferências leitoras, o que leem na

escola ou em casa, se frequentam a biblioteca, se consideram importante a

leitura de um livro e como a tecnologia consegue auxiliar nesse processo.

Verificou-se que 80% da sala prefere as leituras do computador ao objeto livro,

já os 20% leem durante o ano, todos os tipos de textos.

Foi entregue um questionário aos alunos com o intuito de que suas

respostas auxiliassem a conhecer o universo leitor ao longo de sua formação e

ao mesmo tempo levantar informações sobre o que guardavam na memória das

histórias ouvidas na infância por parte de professores ou familiares. Tanto o

debate como as respostas dadas no questionário permitiu chegar a alguns dados

significativos: dos 20 alunos do 9º ano B, 70% lembraram-se de histórias

contadas na infância seja do folclore brasileiro, seja dos contos de fadas ou

histórias afins. Já os 30% restante não se lembraram de nenhum conto de fada

narrado nem por seus responsáveis, nem por seus professores, apenas de

algumas histórias contadas por seus avós de cunho familiar e experiências

vivenciadas pelos mesmos.

A discussão sobre o gênero conto possibilitou uma pesquisa mais

aprofundada no laboratório de informática e facilitou a introdução da segunda

etapa do método recepcional com o atendimento do horizonte de expectativas

através da leitura dos contos “João e Maria”; “Sherazade e as mil e uma noites”;

“Rapunzel; Barba Azul”; “A Bela Adormecida’, “Cinderela”, “O corvo” (conto e

poesia) e a história bíblica “Sansão e Dalila”. Bem como breve comentário sobre

seus autores. A cada conto narrado, os alunos acionavam sua memória a longo

prazo e recordavam-se que em algum momento já haviam escutado esses

contos, com exceção do conto O corvo, que nenhum aluno se lembrou e o que

facilitou a aplicação da terceira etapa do método recepcional: a ruptura do

horizonte de expectativas., sendo a apresentação do poema através de uma

parte do vídeo, uma das atividades mais apreciadas por eles, pela construção

poética do autor Edgar Alan Poe, em que o suspense é um gênero muito

apreciado por alunos dessa faixa etária.

Já o trecho do filme João e Maria (2013), foi muito discutido pelos alunos

e acharam interessante as diferenças e semelhanças entre o filme e o conto

escrito, o que trouxe a quarta etapa do método recepcional: o questionamento

do horizonte de expectativas, as opiniões relativas ao que sabiam e o que

estavam aprendendo.

A introdução da quinta e última etapa, a ampliação do método

recepcional, iniciou-se com a entrevista acerca da vida da autora Marina

Colasanti e de seu universo literário ainda desconhecido dos alunos. Tanto a

entrevista quanto a pesquisa bibliográfica, a confecção de cartazes e a

exposição permitiu-lhes adentrar ao mundo de Marina Colasanti e suas obras.

Desse modo foi com grande entusiasmo que os alunos receberam a obra

23 histórias de um viajante, fazendo inferências sobre o título, bem como dos

títulos das 23 histórias, atividade que motivou o debate, a troca de opiniões e o

levantamento de hipóteses. A leitura dos 7 contos elencados:” Com sua

grandíssima fome”;” Com certeza tenho amor”; “A cidade dos cinco ciprestes”;

“De torre em torre”; “Do seu coração partido”; “Poça de sangue em campo de

neve”; “São os cabelos das mulheres” e o Conto Moldura que estabelecem

intertextualidade com as histórias trabalhadas na unidade 1, e as atividades de

oralidade, compreensão e interpretação. Os alunos não encontraram maiores

dificuldades para responder os exercícios escritos o que possibilitou responder

à problemática abordada: os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental da rede

pública têm leituras suficientes para reconhecer os intertextos presentes nos

contos colasantianos?

Constatou-se que sim, porque a cada conto apresentado, os alunos

reconheciam os intertextos presentes através das respostas dadas por eles,

porém os mesmos disseram que isso só foi possível devido as atividades prévias

de leitura.

Sendo assim é correto afirmar que a mediação do professor e a

organização das atividades antecipadamente, é imprescindível para a formação

do leitor proficiente, capaz de interpretar corretamente não só os contos

colasantianos, mas qualquer gênero textual.

No que se refere à produção final, todos os alunos aplicaram o que

aprenderam na construção do conto, introduzindo os elementos que o compõem

e os temas propostos nos sete contos trabalhados. A produção textual feita pelos

alunos gerou outras histórias interessantes em que umas deram sequência à

viagem do príncipe fora das muralhas do castelo, vencendo o medo de ir além.

Outras abordaram assuntos variados com os temas oferecidos.

Dentre as histórias produzidas por eles e apresentadas em sala,

apresentamos aqui, após correção conjuntamente com o aluno, o texto que mais

se aproximou dos contos trabalhados no projeto de intervenção pedagógica, da

obra 23 histórias de um viajante da autora Marina Colasanti e que agradou a

todos.

Modelo 1

A primeira experiência

Passaram-se alguns dias após o viajante ter saído do reino do jovem príncipe e algo havia mudado em seu interior, já não era mais o mesmo. Decidiu encarar seu medo e saiu sozinho de seu reino, cheio de expectativas.

Com isso aconteceu sua primeira experiência longe do castelo! Depois de muito tempo cavalgando e muito cansado, entrou em uma

densa floresta. Nela ouviu um canto diferente, era um pássaro exótico, cujas penas coloridas encantariam a qualquer viajante que por ali passasse.

Aproximou-se do pássaro e para sua surpresa, este iniciou uma conversa, em que contou-lhe sobre uma bruxa que habitava as redondezas e que um feitiço havia lhe lançado, sendo ela uma linda fada, agora vivia solitária como um pássaro naquela floresta.

O príncipe emocionado lembrou-se da história da Bela Adormecida e pensou:

--“Será que se eu lhe der um beijo, consigo desfazer o feitiço?” Pensando nisso aproximou-se do pássaro e beijou-lhe, porém

imediatamente o príncipe caiu em sono profundo. Ao acordar, constatou que o pássaro havia desaparecido.

Triste e desapontado decidiu voltar ao seu castelo. Lá decidiu convocar todos os cavaleiros do reino e pedir que desbravassem suas terras e encontrassem um pássaro exótico de canto maravilhoso que havia conquistado seu coração, bem como também uma bruxa má que rondava seu castelo.

Em seguida obedecendo ao príncipe, os cavaleiros partiram... Aluno do 9º B do Colégio Estadual Anésio Alves de Azevedo.

7. Considerações Finais

O que se propôs nesse artigo foram reflexões acerca do ensino de leitura

na escola e sua importância na formação do leitor proficiente, bem como a busca

de respostas para a problemática levantada: os alunos do Ensino Fundamental

da rede pública têm leituras suficientes para reconhecer os intertextos presentes

nos contos colasantianos?

A escolha da obra 23 histórias de um viajante de Marina Colasanti em

consonância com as teorias da recepção e da intertextualidade foram pertinentes

para realizar atividades de oralidade, leitura e escrita com os contos

selecionados: Com sua grandíssima fome; Com certeza tenho amor; A cidade

dos cinco ciprestes; De torre em torre; Do seu coração partido; Poça de sangue

em campo de neve; São os cabelos das mulheres e o Conto Moldura que

estabelecem intertextualidade com as histórias: João e Maria; Sherazade e as

mil e uma noites; Rapunzel; Barba Azul; A Bela Adormecida; Cinderela; Sansão

e Dalila e O Corvo, cujo público alvo foram os alunos do 9º B do Colégio Estadual

Anésio Alves de Azevedo, do município de Arapongas, NRE Apucarana, com o

intuito de responder a questão abordada.

Observou-se que os contos elencados para a investigação possibilitam

ao professor reavaliar sua prática em sala de aula, especialmente da aula de

leitura e oportuniza a organização de atividades que aproxima professores e

alunos na troca de experiências e no aprofundamento do estudo de um texto

literário como um conto, gênero que apresenta uma linguagem que exige um

leitor mais experiente. Sobretudo verificou-se que ao organizar atividades

prévias de leitura e o conhecimento das teorias da recepção e da

intertextualidade por parte do professor, os alunos leitores não só reconhecem

os intertextos presentes nos contos colasantianos como adquirem novos

conhecimentos.

Portanto recomenda-se o trabalho de leitura em sala de aula com os

textos literários, especialmente os contos de Marina Colasanti, por serem mais

atraentes e por envolverem os alunos na recepção e leitura dos mesmos.

REFERÊNCIAS

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SITES

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http://www.portaleducacao.com.br/educacao/artigos/30152/a-importancia-da-leitura-dos-contos-de-fadas-na-educacao-infantil