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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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DISTRITO DO CAMPINHOS: A TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO COMO ESTRATÉGIA PARA O PROCESSO DE ENSINO - APRENDIZAGEM DE

GEOGRAFIA

Autora: Profª Claudenice Regina Nunes 1 Orientadora: Profª Drª Carla Holanda da Silva2

Resumo

O artigo, como última etapa do Programa de Desenvolvimento Educacional do

Estado do Paraná (PDE), tem como objetivo apresentar o resgate e entendimento do

processo de modificação do espaço junto aos alunos do 7º ano do Ensino

Fundamental do Colégio Estadual do Campo Professora Margarida Flanklin

Gonçalves, município de Ibaiti/PR. O mesmo teve como cenário o Distrito do

Campinhos, no município de Ibaiti, Paraná. Local onde transformações sociais e

econômicas intensas tem determinado a dinâmica da natureza, sua alteração pelo

emprego de tecnologias da exploração e produção e, também, pela modernização

da agricultura. Neste sentido, as atividades elaboradas por meio da Produção

Didática e da intervenção com os alunos, possibilitaram a pesquisa e elaboração de

materiais que demonstraram a transformação do Distrito do Campinhos desde o seu

surgimento até os dias de hoje, gerando a compreensão desse processo para a

apropriação do local como seu lugar. Com base em metodologia de pesquisa

bibliográfica para levantamento do referencial teórico e na pesquisa-ação, isto é,

uma pesquisa qualitativa em que o ensino e investigação pedagógica caminham

juntos, adequou-se a proposta de analisar, descrever e entender as interrelações do

espaço, seus elementos naturais e sociais, exigindo o conhecimento do espaço de

vivência de cada um. A fim de oferecer subsídios para compreender o mundo da

melhor forma possível, determinado pela Geografia. Nesse contexto, resultou que o

conhecimento do espaço de vivência e sua história local são importantes e

necessários para a valorização do espaço em que vive.

1 Professora participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), da Secretaria de

Estado de Educação do Paraná – edição 2013/2014. Leciona a disciplina de Geografia no Colégio Estadual do Campo Professora Margarida Franklin Gonçalves – Ibaiti - PR. E-mail: [email protected] 2 Professora do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual do Norte do Paraná –

UENP – Campus de Cornélio Procópio – PR. E-mail: [email protected]

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Palavras-Chave: Ensino de Geografia; Espaço Geográfico; Espaço Local; Geografia Crítica.

Introdução

O presente artigo, objetiva expor os resultados das atividades que foram

implementadas com os alunos do 7º ano do ensino fundamental, tendo em vista que

as mesmas foram planejadas no decorrer do ano de 2013, durante os meses de

julho a novembro. Na elaboração da Unidade Didática foram priorizadas atividades

elaboradas com o intuito de se explorar ao máximo a participação e o envolvimento

do aluno para que o mesmo percebesse, compreendesse e interagisse com seu

espaço de vivência.

Diante disso, desenvolveram-se diversas e diferentes práticas pedagógicas e

ações para a sistematização do conhecimento por parte dos alunos e como

contribuição aos docentes como alternativa e possibilidade de atuação que venham

auxiliar no processo educativo.

Sendo assim, o artigo está organizado em seções, sendo que na primeira

seção apresenta-se uma breve reflexão sobre a Geografia Acadêmica e Escolar. A

fim de que seja possível compreender que, existe a preocupação em formar alunos

cidadãos ativos e participativos, desenvolvendo neles criticidade, autonomia e

criatividade diante dos problemas encontrados no seu cotidiano e no seu espaço.

Na segunda seção traz-se a descrição do Distrito do Campinhos, no município

de Ibaiti, Paraná, como lócus desse estudo.

Na terceira seção aborda-se o resultado das análises e práticas pedagógicas,

que envolveram pesquisa na internet, práticas de campo, entrevistas e elaboração

de materiais confeccionados tais como: Cartazes, pesquisas, textos, mapas,

maquetes, painéis, para exposição final, em cumprimento das atividades propostas

durante o processo de Implementação Pedagógica no Colégio Estadual do Campo

Professora Margarida Franklin Gonçalves, no município de Ibaiti/PR.

Na sequência, apresenta-se um breve relato das sínteses elaboradas pelos

professores cursistas inscritos no Grupo de Trabalho em Rede (GTR). Por fim

pontua-se as considerações finais da pesquisa.

Breves reflexões acerca da Geografia Acadêmica e Escolar

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Imannuel Kant foi o personagem que mais marcou os rumos da Geografia,

sendo que sua contribuição está no fato de seu pensamento buscar recolocar o

Homem no debate e no pensamento filosófico. Segundo Moreira (2008), a Geografia

que chega a Kant é um conjunto de informações e conhecimentos advindos de

inúmeras descrições de viagens e compêndios sobre as características de diferentes

partes do mundo.

Essas informações e conhecimentos foram reunidos e organizados formando

um vasto acervo das descrições e dos relatos de viagens pelas várias partes do

planeta. Por meio desses registros coletados e sistematizados foi possível traçar

porções do espaço com o auxílio das paisagens do globo terrestre, constituindo

assim, apenas conhecimento de cunho informativo, sem priorizar a reflexão sobre o

espaço.

Andrade enfatiza que definiu- se durante muitos anos a Geografia como a

“ciência que faz a descrição da superfície da Terra”, como se a simples descrição

constituísse uma atividade científica ( ANDRADE, p.13).

Assim, a geografia define como objeto de estudo a relação homem natureza e

adquire status de ciência, no entanto “durante um longo tempo a Geografia caiu num

ostracismo,perdendo espaço no meio científico”( MOREIRA, 2008 apud CASSAB,

s/d, p.1).

A Geografia transformou seu percurso indo em direção à institucionalização

como disciplina. Passou por várias etapas até chegar à Geografia Crítica, dentre

elas a enciclopédica, clássica, tradicional e, ao modo como hoje é desenvolvida nas

escolas de Ensino Fundamental nas séries finais, como histórico crítica.

A partir da segunda metade da década de 1970, os geógrafos passaram a ter

preocupação maior com a problemática social, considerando que o desenvolvimento

industrial passou a exercer grande impacto sobre a natureza e a sociedade,

degradando e dilapidando os recursos naturais ( ANDRADE, 1992, p.116).

A situação tornou-se grave nos países desenvolvidos e muito pior nos países

subdesenvolvidos, assim, diante de tal situação, os cientistas em geral e os

geógrafos não poderiam ficar parados como meros expectadores. Todos deveriam

estar comprometidos com os interesses da sociedade.

Nesse contexto, Vesentini (2004, p. 223) traz uma reflexão sobre a Geografia

tradicional e a importância da Geografia crítica, explicando a criticidade da geografia

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no sentido de compreendê-la “comprometida com a justiça social, com a correção

das desigualdades socioeconômicas e das disparidades regionais”, visto que até os

anos 70 era neutra sem ater-se aos problemas sociais.

Essas transformações têm como embasamento os questionamentos ao

papel assumido pela Geografia clássica e pela Geografia moderna, que eram o de

esclarecer e legitimar as ideologias principais. A partir desse momento, os

estudiosos propuseram uma reflexão acerca dos aspectos sociais, políticos e

econômicos do espaço geográfico, passando a almejar uma sociedade igualitária,

fazendo, então, intervenções no meio social, em busca de mais qualidade de vida

para as comunidades.

A Geografia crítica enfatiza como material de estudo o espaço geográfico,

como afirma Santos “ O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e

também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não

considerados isoladamente, mas como quadro único no qual a história se dá”. (

Santos, 1996, p. 51).

Dessa maneira, cada ser humano percebe a realidade a partir do contexto

apresentado, constatando que é necessário atuar como agente transformador do

seu meio, para reverter situações sociais desfavoráveis, contribuindo para uma

sociedade mais justa.

No que se refere à Geografia Escolar, não deve ser apenas aquela em que o

professor transmite os conteúdos acadêmicos, como reprodutor apenas de

conteúdos, sem a preocupação de torna-los significativos. Trabalhar em parceria

com os alunos como um modo de transformar as aulas tradicionais em atividades

espaciais por meios de práticas e das reflexões sobre as diferentes possibilidades e

abordagens do uso da geografia.

A geografia escolar tem por finalidade “selecionar e organizar os conteúdos

básicos que possibilitem a formação da consciência espacial, o desenvolvimento do

raciocínio geográfico, além de contribuírem para a inclusão social e o exercício de

uma cidadania ativa”. ( Filizola, 2009, p. 31 ).

No atual contexto, não cabe mais ao professor, ser um mero reprodutor dos

conteúdos, e sim exercer sua autonomia, capacidade crítica e imaginação criativa

para apropriar-se dos conteúdos básicos, atuar como promotor do processo de

aprendizagem, trabalhar em parceria com seus alunos na busca e seleção de

informações; no levantamento e na resolução de situações-problema, para o

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desenvolvimento do raciocínio geográfico e, finalmente, no desenvolvimento dos

conteúdos significativos, objetivando a formar cidadãos críticos e que exerça sua

cidadania de fato. .

Logo, a Geografia crítica vem ao encontro da Geografia escolar, por meio da

importância atribuída à vivência dos educandos, tendo como papel fundamental, a

preparação de um ser humano responsável e preocupado com seu contexto social.

Portanto, existe a preocupação em formar alunos cidadãos ativos e

participativos, desenvolvendo neles criticidade, autonomia e criatividade diante dos

problemas encontrados no seu cotidiano e no seu espaço.

Todavia, é função da escola e do professor de geografia enfrentar o desafio

de instrumentalizar o educando para uma leitura crítica e reflexiva sobre o mundo,

capacitando-o para analisar, refletir, criticar, argumentar, reivindicar, de modo que se

identifique e se vincule em seu espaço, tendo uma participação política que resulte

em benefícios para coletividade.

O Distrito do Campinhos: texto e contexto para uma prática escolar

O Distrito do Campinhos pertence ao município de Ibaiti no Estado do Paraná,

localizado na região Norte Pioneiro.

Segundo consta no Projeto Político Pedagógico (2012) do Colégio Estadual

do Campo Professora Margarida Franklin Gonçalves, o povoado teve início no ano

de 1924, a partir da construção de uma estação de trem na localidade. A referida

estação foi inaugurada somente no ano de 1940, intitulada com o nome de Arthur

Bernardes, com a finalidade de escoar o carvão mineral produzido no município.

Ainda na década de 1940, houve a construção de uma capela em terras que

foram doadas pela família Araújo colaborando para o desenvolvimento do povoado

(IBAITI, 2012).

Já na década de 50, em dezembro de 1958, foi estabelecida na localidade

uma escola de Ensino Primário denominada Escola Isolada da Fazenda Carolina,

conforme consta em ata de matrículas das primeiras turmas, em que documenta um

exame admissional para o ano letivo seguinte (IBAITI, 2012 ).

Ainda de acordo com o citado Projeto Político Pedagógico (IBAITI, 2012),

consta em documentos oriundos do Poder Executivo Municipal de Ibaiti, a aprovação

da planta do Loteamento do Povoado de Campinhos, pelo então prefeito em

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exercício Sr. Antônio Rocha da Silveira, datado do dia 22 de maio de 1971. No ano

seguinte, o mesmo Prefeito torna legal o Loteamento do Patrimônio de Campinhos.

E em 1993, o Prefeito Sr. Francisco Pereira Goulart aprova o Projeto de Lei e cria o

Distrito Administrativo de Campinhos (IBAITI, 2012).

De acordo com dados divulgados pela Revista Jubileu de Ouro, Ibaiti 50 Anos

(1997, p. 15), a atividade carvoeira não era a principal atividade do município, pois

não era a “[...] atividade principal para Ibaiti (nesse período Barra Bonita), porém, a

exploração carbonífera foi muito importante porque obrigou a construção da Estação

Ferroviária Arthur Bernardes, ideal para o escoamento de produtos da época”.

Na década de 1970, com a desativação da estação de trem devido a baixa na

produção de carvão mineral, houve uma reorganização em torno das atividades

produtivas e o distrito se envolve, então, com a produção de café até o ano de 1975,

conforme registro na Revista Jubileu de Ouro, Ibaiti 50 anos (IBAITI, 1997, p. 15).

Como consequência da geada de 1975, ocorreu a decadência da cultura do

café e os produtores concentraram seus investimentos na produção de álcool. A

primeira concessão de alvará para o funcionamento de usinas de álcool na região de

Campinho data de 1987 para a firma Destilaria de Álcool Ibaiti LTDA - DAIL,

estabelecida com o ramo de destilaria de Álcool, conforme consta no livro de

registros de Alvará de Licença nº 081/R/87, livro nº 004, registrada na página 117,

em 04 de fevereiro de 1987 (PARANÁ, 1987).

Desde então, a vida econômica e social do Distrito esteve ligada às atividades

da usina de cana-de-açúcar e alterna momentos de prosperidade e investimentos

com outros de estagnação e êxodo.

Assim, a partir da década de 1960, o Distrito do Campinhos passou por

diversas formas de exploração do espaço que vem modificando a paisagem e o

modo de viver naquela região. O solo esgotado pelo cultivo da cana-de-açúcar já

não produz como antes.

De acordo com o Projeto Político Pedagógico (IBAITI, 2012) do Colégio

Estadual Margarida Franklin Gonçalves, no ano de 2012 a produção da DAIL era de

120.000 litros de álcool por dia e empregava principalmente as pessoas do bairro.

Porém, a usina DAIL S/A, ano a ano, diminui sua produção deixando grande parte

dos trabalhadores da comunidade desempregados e que, sem perspectivas, são

obrigados a deixar a localidade em busca de melhores oportunidades.

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De acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), realizada em 2010, atualmente o Distrito do Campinhos, é composto por

uma população de 2.630 habitantes, sendo 1.384 homens e 1.246 mulheres.

No que se refere aos Programas Sociais em exercício, a comunidade é

contemplada com o Programa Federal, Bolsa Família, atendendo em média 60

(sessenta) famílias e o Programa Estadual Leite das Crianças sendo que a média de

litros distribuídos por dia foi de 83 L/d em 2008, 69L/d em 2010 e em 2012 a média

foi de 52 L/d conforme informado, respectivamente, pela Prefeitura Municipal de

Ibaiti e pelo Núcleo Regional de Educação de Ibaiti (IBAITI, 2012).

O Distrito também é atendido pela Instituição Pastoral da Criança, pelo Centro

de Convivência Infanto-Juvenil Marcos Justino que oferta atendimento para noventa

e três crianças e adolescentes, em idade de cinco anos aos dezessete anos e onze

meses, filhos das famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família que estão

passando por situação de vulnerabilidade social, financeira, emocional e/ou

psicológica. Possui ainda Associação de Moradores do Bairro (IBAITI, 2012).

Devido à situação de desemprego que atingiu o Distrito, muitos moradores se

deslocaram para trabalhar no município de Joaquim Távora, na Empresa de Frangos

Pioneiro. Outros, principalmente homens, seguem para Ibaiti onde trabalham como

pedreiros ou servente de pedreiro. Algumas mulheres também vão para Ibaiti para

trabalhar como diaristas (IBAITI, 2012).

O Distrito do Campinhos conta com 1 (um) colégio estadual, uma escola

municipal, 1 (um) centro de educação infantil, 1 (um) ginásio de esporte, 1 (um)

posto de saúde, 1 (um) aeroporto, uma fábrica de tomate seco, 1 (um) cemitério, 5

(cinco) igrejas, 2 (duas) farmácias, 5 (cinco) mercados, 2 (duas) panificadoras, 5

(cinco) bares e uma destilaria de álcool.

A localidade possui serviço de água encanada, energia elétrica, rede

telefônica e coleta de lixo, no entanto não há ligação de rede de esgoto.

No que tange aos aspectos educacionais têm-se 3 (três) estabelecimentos

de ensino, sendo dois municipais e um estadual. O Centro Municipal de Educação

Infantil São Francisco de Assis atendeu, em 2013, cerca de 106 alunos.

A Escola Municipal João Severino Sales possuía, em 2013, 245 alunos

matriculados. Fazendo um comparativo com os anos anteriores: 2009 – 352

matrículas, 2010 – 350 matrículas, 2011 – 301 matrículas, 2012 – 260 matrículas

observa-se uma diminuição considerável e gradativa no número de alunos.

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Fato similar ocorreu no Colégio Estadual Professora Margarida Franklin

Gonçalves que, em 2009, contava com 403 matrículas e teve o número reduzido em

2013 para 384.

Esta situação identificada pelos índices de evasão escolar e transferências

nos relatórios escolares dos últimos cinco anos, pode ser compreendida através da

fala de Santos (1996, p. 67) que demonstra que é necessário entender o espaço

geográfico dentro da relação com o sujeito já que são interdependentes no processo

de espacialização. Assim, “a ação é o próprio homem. Só o homem tem ação,

porque só ele tem objetivo, finalidade. [...] não se restringem aos indivíduos,

incluindo, também, as empresas, as instituições” ( SANTOS, 1996, p. 67).

Consoante com o Projeto Político Pedagógico (IBAITI, 2012) do Colégio

Estadual Margarida Franklin Gonçalves, a comunidade escolar atendida pelo

estabelecimento é formada por adolescentes e adultos de nível sócio econômico

baixo, filhos de trabalhadores rurais, assentados, desempregados, comerciantes,

pequenos sitiantes. A maioria com pais semialfabetizados que frequentaram os

bancos escolares por pouco tempo. Muitos vêm para a escola se alimentar, alguns

são vítimas de violência, alcoolismo, drogas, prostituição e precisam da orientação

da escola para se tornarem cidadãos conscientes de seu papel na sociedade e

comunidade.

Outras informações mais atualizados do ano de 2013, foram adquiridas por

meio de conversa com um morador do Distrito que reside há 30 anos na localidade.

O mesmo atua como professor e comerciante. Este colaborou de maneira

expressiva com o levantamento de dados importantes, tais como segue relatado

abaixo:

a) Infraestrutura do bairro (pavimentação, rede de água e esgoto, água

canalizada, de energia elétrica, coleta de lixo): “ainda não se encontra um serviço de

qualidade pois não temos rede de esgoto, mas está melhorando”;

b) A respeito das famílias que estão se transferindo para outras cidades: “são

muitas famílias deixando nosso bairro, devido à falta de emprego, muitos alunos

estão deixando nossa escola, sendo que a maioria deles está se transferindo para o

interior do Estado de São Paulo”, fato atribuído à “falta de emprego”;

c) Moradia: existe um conjunto habitacional financiado pela Caixa Econômica

Federal, com o nome de “Conjunto Habitacional João Montalde, possui 94 casas

construídas em 1994, sendo algumas financiadas, mas a maioria já quitada”.

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Identificou-se que as casas pertencentes à Indústria DAIL (Destilaria de Álcool

Ibaiti LTDA ), que antes eram ocupadas por trabalhadores da Indústria DAIL, hoje

estão sem moradores diante “da atual situação financeira”;

d) A respeito de trabalho: “a maioria das pessoas se desloca para Ibaiti, a

maioria trabalha na Sudaty, Liberati e nas lavouras de café”; no que se refere ao

emprego na área comercial há oportunidade “mais são muito pouco”;

e) Com relação à manutenção financeira das famílias: “se mantém

trabalhando por dia e o marido está trabalhando fora”;

f) Com relação a lojas comerciais: “são 10 Bares e Lanchonetes, 9 Mercados,

1 Material de Construção, 3 Cabelereiros, 2 Padarias, 1 Posto de Combustível, 2

Restaurantes, 2 Lan Houser, 2 Farmácias, 2 Oficinas Mecânicas”.

Em conclusão à contribuição do respectivo morador expressa-se que não

houve muitas mudanças no bairro no decorrer de 10 anos observado por ele como

“não houve muita mudança, pois a construção de grande porte mesmo só uma

escola e um Ginásio de Esporte e pavimentação em 2 ou 3 ruas”.

Diante deste cenário, considera-se importante a análise do processo de

transformação do espaço no Distrito do Campinhos para que se estabeleça relação

entre o que acontece em escala local, regional e global. Além disso, a importância

da realização de um trabalho de resgate cultural de memória e patrimônio da

comunidade.

Encaminhamentos Metodológicos

É papel da escola instrumentalizar o aluno, para que o mesmo faça reflexões

de novas alternativas para sua comunidade, de modo que seja um sujeito

transformador, ativo e que esteja preparado para os desafios de uma sociedade

capitalista e em constante transformação social.

Diante disso reflete-se acerca do seguinte questionamento: é possível por

meio de análise e reflexões locais despertar em alunos do 7º ano do Ensino

Fundamental a compreensão de processos de transformação do espaço em escalas

regionais e globais e, simultaneamente, desenvolver e estimular a noção de

identidade e pertencimento em uma comunidade que, sofre as mazelas da

exploração do trabalho a ponto de torná-los reflexivos e preocupados em tentar

mudar a dura realidade em que vivem?

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Deste modo, a partir deste questionamento e retratando este processo em

sala de aula, espera-se que os alunos construam conceitos geográficos importantes

como espaço, território, paisagem e a lógica geográfica do capitalismo ao mesmo

tempo em que desenvolvam as noções de identidade e pertencimento. Tal processo

se realizará a partir do contexto em que eles estão inseridos construindo, assim, um

saber geográfico pautado por uma relação dialógica entre a realidade do aluno e o

conhecimento ofertado pela disciplina.

Com base no levantamento de dados secundários obtidos em fontes tais

como artigos, revistas, livros e sítios da internet e por meio da pesquisa qualitativa

que, conforme Demo (2003, p. 26) "[...] todas as pesquisas carecem de fundamento

teórico e metodológico e só têm a ganhar se puderem, além da estringência

categorial, apontar possibilidades de intervenção ou localização concreta". Propôs-

se a análise do processo de transformação do espaço no Distrito do Campinhos e,

por meio de abordagens estratégicas de alguns conteúdos pertinentes ao 7° ano do

Ensino Fundamental II, proporcionou-se o estabelecimento da relação entre o que

acontece em escala local, regional e global. Além disso, realizou-se um trabalho de

resgate cultural de memória e patrimônio da comunidade.

Neste sentido, esta pesquisa qualitativa, conforme descrito por Demo (2003,

p. 126) "mais do que o aprofundamento por análise, [...] busca o aprofundamento por

familiaridade, convivência, comunicação", é um tipo de abordagem em que se

interpretam os fatos, buscando uma solução ao problema colocado.

Quadros (2008, p. 32) enfatiza que a pesquisa qualitativa pode ter inúmeros

usos e dentre eles o de "apresentar contribuições no processo de mudança, criação

ou formulação de opiniões de determinado grupo" que é uma das possibilidades

neste trabalho, sendo, portanto, adequada à atividade de intervenção proposta.

Análise dos dados e resultados obtidos: relatos e discussão da intervenção na

escola

Diante da realidade do Distrito do Campinhos, observada pela pesquisa

elaborada a aplicação das atividades e estratégias de ensino aos alunos do 7º ano

do Ensino Fundamental buscou, de modo amplo, desenvolver noções de identidade

e pertencimento, permitindo a construção de uma relação proativa dos alunos para

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com a localidade em que vivem. E, a partir disto, promover ações e atitudes para

evitar o êxodo rural e o desenvolvimento do Distrito do Campinhos.

Com base nesse contexto, do estudo desta realidade, pretende-se despertar

a noção e a consciência que a exploração do trabalho e a lógica da produção estão

presentes em todos os lugares do mundo e, que em vez de transitar por várias

localidades atrás de subempregos, existe a viabilidade e a possibilidade de se fixar

em um determinado lugar e buscar, promover e lutar por melhores condições de

vida.

Neste sentido, Kimura (2010) aponta que a mobilização de estratégias

didáticas adequadas pode, mediante o conteúdo, desenvolver entre os alunos novas

percepções do próximo e do distante, do diferente e do semelhante.

Deste modo, além da reflexão sobre a realidade, é preciso implementar

metodologias de ensino que primem pelo aluno enquanto sujeito do conhecimento.

O ensino deve, portanto, pautar-se no contexto concreto em que vivem os

alunos, para a partir daí, instigar o pensar teórico e articular o conhecimento de

senso comum ao científico, construindo assim uma aprendizagem que partindo da

própria realidade do educando contribuirá para uma formação sólida e significativa.

Assim, pretende-se apresentar aqui uma proposta de ensino de Geografia

que analisando um espaço determinado abarque os pressupostos considerados

importantes pelas correntes do pensamento geográfico atual e que são expressos

pelas Diretrizes Curriculares de Geografia do Estado do Paraná (2008). De acordo

com o documento, é essencial entender as ações dos sujeitos que geram as

escolhas das localizações; os determinantes históricos, políticos, sociais, culturais e

econômicos de tais ações (PARANÁ, 2008). Sob esse ponto de vista, o método

dialético torna-se objeto da geografia.

Na sequência, apresenta-se o trabalho implementado com os alunos do 7º

ano do Ensino Fundamental na escola escolhida, dispondo os momentos

vivenciados, ou seja:

O primeiro momento de ação junto aos 14 alunos da turma escolhida (7º ano)

trabalhou-se atividade com a aplicação de oficinas de cartografia, em que se

articulou a leitura dos mapas com aprofundamento de informações.

Considerando tais aspectos, desenvolveu-se atividades nas quais os alunos

compreendessem o seu espaço de vivência, com o uso de slides (uso da TV pen

drive), em que se expôs os mapas de divisão política do Brasil e do Paraná,

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enfocando o município de Ibaiti e o Distrito do Campinhos. Essa atividade foi

elaborada na sala multiuso da escola. Em seguida, os alunos foram conduzidos à

sala de aula, momento em que cada um recebeu um atlas geográfico para observar,

comparar e localizar os espaços, para melhor assimilação do conteúdo proposto. Na

sequência, elaboraram uma atividade prática de recorte, pintura e colagem do mapa

do Paraná político (material confeccionado para exposição no resultado final da

implementação).

No aprofundamento do estudo cartográfico, utilizando mapas impressos,

digitais e aerofotogrametria, apresentou-se o vídeo “Oras Bolas”3, que chamou a

atenção dos alunos estimulando a troca de ideias sobre a aprendizagem

cartográfica. Dessa forma, buscou-se a ampliação e fixação dos conhecimentos

adquiridos da linguagem cartográfica.

Assim, complementando os trabalhos utilizou-se o laboratório de informática

para observação e análise de mapas digitais e fotografias aéreas, momento em que

os alunos fizeram a interação resultando na ampliação do conhecimento.

Na continuidade de estratégias de aprendizagem a ação com Leituras e

Produção de textos proporcionou a produção de um texto, sob orientação da

professora PDE, valorizando-se da apropriação do conhecimento prévio que os

alunos já possuíam em relação à paisagem natural e humanizada da localidade

onde vivem. Neste sentido, complementando a atividade, os alunos fizeram uma

análise crítica das transformações e do crescimento da cidade onde residem.

Na configuração de observação in lócus, propiciou-se saídas para estudo de

campo: Passeio pelo centro do Distrito realizado no dia 21/03/2014, visita à Estação

Ferroviária Arthur Bernardes no dia 04/04/2014 e Visita à Indústria DAIL no dia

30/05/2014.

Sendo assim, tais atividades se coadunam com a afirmação de Kimura (2010,

p. 110) quando explica que “[...] os pés na realidade concreta abre caminhos para o

pensar teórico em que os conceitos vão desenhando-se e ganhando amplitude e

consistência. O pensar enraizado na prática real,” que vai proporcionar a articulação

entre teoria e prática.

Para enfatizar a prática real, os 14 alunos, acompanhados pela professora

PDE, tiveram a oportunidade de conhecer uma área urbanizada da localidade,

3 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=AewiIY5jHy0.

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passeando pelo centro do Distrito, momentos em que os mesmos fizeram registros

por meio de desenhos, da escrita e fotográficos, dos estabelecimentos comerciais,

escolas, Igrejas, posto de saúde e locais de entretenimento. Finalizando o passeio

fez-se a visita ao aeroporto, para que conhecessem e comparassem a área rural e

urbana do Distrito. Nessas observações os alunos questionaram sobre a presença

da monocultura da cana-de-açúcar que está visivelmente presente em vários

espaços do Bairro.

Para Cavalcanti (1998), o pensar geográfico contribui para a

contextualização do aluno como cidadão do mundo em escala regional, nacional e

mundial. O conhecimento geográfico é essencial para a formação de cidadãos

atuantes na vida social, proporcionando o entendimento do espaço geográfico e sua

função nas práticas sociais.

Nesse aspecto, proporcionou-se uma visita à Estação Ferroviária Arthur

Bernardes, como uma das atividades de campo, pesquisa-ação, um momento

interdisciplinar e reflexivo. A contribuição da professora Célia Regina Colotário da

disciplina de História, contribuiu com dados importantes sobre a história local do

município, enriquecendo o momento de estudo.

Trajeto percorrido; embarque na escola, passando pela Fazenda São

Joaquim, pela Estação Ferroviária Arthur Bernardes. No retorno para o Colégio os

alunos tiveram a oportunidade de registrar todos os momentos com relatos escritos

e fotográficos.

Finalizando as atividades de campo, os alunos visitaram e conheceram a

Indústria DAIL (Destilaria de Álcool Ibaiti LTDA), realizaram a coleta de informações,

discussões e sistematizações de dados dos conhecimentos adquiridos sobre a

referida indústria. Observaram e constataram as relações entre a produção industrial

e os problemas sociais e ambientais que estão sendo enfrentados pela população

local.

Portanto, essas atividades consolidam que o processo de ensino e

aprendizagem em Geografia descreve o mundo, como ele se apresenta, com suas

histórias e suas circunstâncias, sendo essencial prover em sala de aula bases e

meios de apreensão da realidade, de modo que seja possível ao aluno construir a

compreensão do papel do espaço nas práticas sociais e destas na configuração

deste espaço.

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Agregando valores importantes da história local aos conhecimentos já

vivenciados pelos alunos, os mesmos participaram da elaboração de entrevistas

aplicadas aos moradores do Bairro do Campinhos. Na atividade seguinte o recurso

usado foi a fotografia, que auxiliou e facilitou para realização do trabalho proposto.

A utilização de fotografias como recurso pedagógico, é importante pois

“suscita e ressuscita sentimentos. Esta é uma qualidade inexorável da fotografia que

independe de seu tempo e do modo como foi produzida [...]” (FELIZARDO, 2007, p.

215).

A etapa seguinte, validou fotografia como um recurso ímpar, visto que aguçou

a curiosidade dos alunos, instigando-os a um exercício de análise, reflexão e resgate

sobre a localidade em estudo.

A referida atividade contou com a visita dos alunos pelo Bairro, coletaram

fotos antigas, conversaram com moradores, jovens e idosos, moradores mais

antigos e atuais da localidade. Nessa prática, os alunos entrevistaram, conversaram

e ouviram histórias relatadas. Destacou-se a entrevista de uma ex - moradora do

Bairro, Professora Luciane Andreia Garcia, 40 anos, filha de uma família tradicional

de agricultores, ex- vereadora do município de Ibaiti, órfã aos 13 anos de idade,

aluna e atleta na Escola Estadual João Severino Sales. Contribuiu com a narrativa

da sua história local, e mostrou detalhadamente através de fotos antigas e atuais, as

características do bairro, as transformações e permanências ocorridas na localidade.

Esse momento, foi enriquecedor contribuindo para que se compreenda que

há a possibilidade de enfrentamentos e superação dos desafios que estão presentes

no cotidiano dos jovens que vivem no meio rural. Demonstrando que é possível

melhorar a qualidade de vida, através do estudo, do trabalho, do esforço e do

querer.

Quanto à expectativa de aprendizagem essas atividades elaboradas e

vivenciadas pelos alunos foram favoráveis à apropriação de conhecimentos visto

que facilitou a compreensão da organização e das transformações sociais e

econômicas do espaço que os cerca. Observou-se, também, que o aluno

demonstrou-se mais confiante, seguro para fazer o enfrentamento das situações

adversas do dia a dia no mundo em que vive, valorizando a sua história local,

facilitando a formação da sua identidade como ser atuante e participativo do meio

social em que está inserido.

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Assim, é necessário treinar a percepção e a leitura de mundo que coloque os

alunos como sujeitos dentro deste processo de transformação para se apropriarem

de um instrumental que lhes seja útil de fato e que “[...] desenvolva raciocínios

geográficos que os levem à consciência espacial” ( FILIZOLA, 2009, p. 99 ).

Os momentos seguintes, em sala de aula, foram de registro por meio de

relatórios sobre as atividades vivenciadas extraclasse.

Finalizando a implementação, pode-se observar que houve um envolvimento

significativo dos alunos na realização do trabalho com maquetes. Essa prática

favoreceu a aprendizagem, levando-os ao entendimento de como o espaço do seu

Bairro era no passado, e como esse espaço está representado hoje, relacionando-o

aos fatores sociais, econômicos, culturais e ambientais. Nessa atividade

expressaram suas habilidades e criatividade com alegria e entusiasmo. Todos os

trabalhos com maquetes foram prazerosos, possibilitou a socialização e a interação

entre todos os participantes.

Na conclusão dos trabalhos realizados através de exposição á comunidade

escolar, os educandos sentiram-se valorizados pela apreciação de suas produções

durante o período de implementação do Projeto.

A comunidade escolar participou ativamente da visitação, realizada no dia

11/06/2014, no período vespertino.

O Colégio Margarida Flanklin Gonçalves, acolheu com presteza e carinho a

família, os educandos, os funcionários, enfim toda a comunidade escolar para

prestigiar, valorizar o evento PDE, integrando satisfatoriamente família e escola.

No decorrer da implementação as experiências adquiridas foram socializadas

com os educadores da disciplina de Geografia de diferentes escolas da rede

estadual do Paraná por meio do Grupo de Trabalho em rede (GTR), que será tratado

na sequência.

A experiência do GTR: contribuições dos professores cursistas

Uma das práticas exigidas no curso de formação continuada PDE, foi o GTR (

Grupo de Trabalho em Rede), sob a tutoria da Professora PDE, que se realizou no

primeiro semestre do ano de 2014. O referido trabalho foi importantíssimo, visto que

houve a participação de 13 alunos concluintes. Os professores inscritos da disciplina

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de geografia, residiam em várias cidades do estado do Paraná, fator que contribuiu

de forma favorável para a troca de experiências e práticas pedagógicas

diferenciadas. A temática proposta propiciou a socialização e interação do projeto de

intervenção pedagógica aos cursistas: Distrito do Campinhos: A transformação do

Espaço Como Estratégia para o Processo de Ensino – Aprendizagem de Geografia

e as atividades contidas na Unidade Didática, material produzido tendo por

finalidade auxiliar de forma clara e objetiva o professor em sua prática pedagógica.

Os cursistas realizaram as tarefas, por meio de fóruns e diários. No fórum

ocorreu a participação ativa dos professores, interagiram trocando informações

referente aos trabalhos pedagógicos. Através de debates sobre a prática diária em

sala de aula, relevante ao tema em questão.

No diário discutiram algumas questões, como a necessidade do ensino de

uma geografia crítica e reflexiva, trabalhando o espaço local.

Compartilharam resultados das experiências aplicadas no dia a dia da prática

escolar do ensino de geografia. O diário foi tarefa importante, pois possibilitou à

Professora Tutora e ao professor cursista uma discussão sobre a temática, com

sugestões, intervenções e argumentações, proporcionando os ajustes necessários

de acordo com a realidade de cada escola.

Os docentes elogiaram, mencionando que a proposta de trabalho é possível e

viável para aplicabilidade nas escolas públicas em que atuam, por apresentar uma

metodologia atrativa e motivadora.

Em relação às atividades propostas na Unidade Didática, observou-se que as

práticas de estudo de campo, foram as que mais despertaram a atenção e o

interesse dos cursistas, tendo em vista que os professores que compartilharam suas

Experiências de estudo de campo, concordaram com a professora tutora que a

forma contextualizada de abordar os conteúdos proporciona um aprendizado sólido

e significativo.

Nessas atividades desenvolvidas percebeu-se o envolvimento dos

professores com as atividades que foram propostas para o ensino de Geografia na

rede estadual do Paraná, resultando na ampliação de conhecimentos além de

auxílio ao crescimento pessoal e profissional.

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Considerações Finais

Conclui-se que as atividades de implementação aplicadas junto aos 14 alunos

do 7º ano do Colégio Estadual Margarida Franklin Gonçalves oportunizou a

compreensão de que eles fazem parte de uma comunidade, que apesar dos

diversos problemas de ordem social, política, econômica e ambiental, aprenderam a

refletir sobre tais realidades.

Para tanto, proporcionou-se a visão desta realidade para a construção de

conhecimentos que possibilitaram uma aprendizagem não somente de conteúdos

acadêmicos, mas também de participação como cidadãos deste espaço, priorizando

transformações que resultem na formação de pessoas ativas na comunidade.

Com base na experiência descrita de implementação da proposta, reitera-se a

convicção de que a Geografia deve acontecer no cotidiano dos alunos levando-os à

percepção da realidade, estudando-a com base em oficinas de cartografia, leitura de

imagens e fotografias, produção de textos e relatórios de visita in locus,

conhecimento de histórias locais, entrevistas, pesquisa de dados e comparação dos

mesmos com a realidade vivenciada.

Desse modo, diante de uma comunidade como a do Distrito do Campinhos é

necessário um processo de ensino de Geografia que considere a perspectiva local-

global e favoreça, então, o desenvolvimento de esquemas de compreensão flexíveis

para reconhecer, independente da distância espacial ou temporal, relações e

situações que se repetem no bojo da exploração capitalista.

Assim, valendo-se de uma abordagem em escala local, partindo de

referenciais familiares ao aluno para proporcionar raciocínios e associações com

outras realidades a fim de possibilitar que ele perceba e entenda que todos fazem

parte de um só espaço geográfico foi propiciado no decorrer da implementação o

reconhecimento das peculiaridades que envolvem o processo de ocupação do seu

espaço.

Considerando o objetivo proposto para as atividades na etapa de

implementação de proporcionar aos alunos da escola e turma trabalhada os

esquemas de compreensão que os permitam relacionar a realidade local com os

processos de transformação do espaço regionais e globais, por meio da reflexão

sobre os fatores que incidiram sobre o processo de transformação do espaço do

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Distrito do Campinhos, pode-se concluir que a experiência foi favorável à aquisição

de conhecimentos teóricos e de vivência na prática da realidade em que vivem.

As atividades desenvolvidas dentro do contexto concreto em que vivem os

alunos instigaram-os ao pensar teórico, articulando o conhecimento de senso

comum ao científico, construindo assim uma aprendizagem que partiu de sua própria

realidade contribuindo para uma formação sólida e significativa.

A experiência de atuação como professora-pesquisadora permitiu o

desenvolvimento de um olhar mais reflexivo sobre o ensino realizado.

Assim, esse assunto despontou como tema de investigação futura, a ser

empreendida mesmo que informalmente, pela reflexão sobre a prática pedagógica

no cotidiano da sala de aula.

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