os desafios da escola pÚblica paranaense na … · constitui-se em estratégia pelos africanos...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A COMUNIDADE AFRODESCENDENTE QUILOMBOLA DO FEIXO NO MUNICÍPIO DA LAPA-PR, E A INCLUSÃO OFICIAL DA LEI 10.639/2003 NOS CURRÍCULOS ESCOLARES
Sandra Mara Flizicosk 1 Cláudia Novaes Deina2
RESUMO Este artigo aborda a história, a tradição e o conhecimento dos descendentes africanos no Brasil e a sua relevância para nossa história, a partir da analise do processo de formação das Comunidades Quilombolas do País, em especial à Comunidade Quilombola do Feixo no Município da Lapa – Paraná. Além disso, busca valorizar a identidade negra e faz uma reflexão crítica sobre a inclusão e a obrigatoriedade da Lei nº 10.639/2003 nos currículos escolares, destacando sua relevância na sala de aula, mostrando que a cultura dos afro descendentes tem grande importância no processo de formação histórica do país, desse modo a Comunidade Remanescente do Feixo foi um exemplo efetivo que propiciou aos alunos participantes do trabalho o reconhecimento da influência dos hábitos e costumes dos afro descendentes como referencial para a sua formação histórica. Palavras-chave: Quilombola do Feixo, Resistência, Tradição, Valorização, Reconhecimento, Lei nº 10.639/2003.
1 Professora da Rede Estadual de Ensino do Paraná – Integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional
(PDE-2013). Graduada em História pela Universidade do Oeste Paulista. Pós-graduada em Interdisciplinaridade na Escola, pela Faculdades Integradas Espírita. Lotada no Colégio Estadual do Campo Rui Barbosa, na cidade de Agudos do Sul/PR. 2 Orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, Professora de Geografia da Universidade
Federal Tecnológica do Paraná - UTFPR, Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Bahia – UFBA.
1. INTRODUÇÃO
A formação de quilombos em todas as colônias e países do Novo Mundo
constitui-se em estratégia pelos africanos escravizados que ansiavam por liberdade
e assim, instituíram alternativas ao sistema escravista hegemônico, então, vigente. O
princípio subjacente à formação de quilombo constitui-se na busca de lugares de
difícil acesso que propiciassem o estabelecimento de barreiras estruturais, que tanto
podiam ser naturais quanto sociais. Partido desse princípio o projeto procurou
despertar nos alunos um maior interesse sobre a cultura, a maneira de viver dos
povos afro brasileiros, um novo conceito sobre os costumes dos afro descentes a
partir do contato que tiveram com os habitantes da comunidade quilombola do Feixo,
o qual ocorreu numa visita técnica realizada na fase da implementação do projeto.
Essa visita possibilitou aos discentes a aquisição de uma experiência que serviu
para consolidar uma nova maneira de ver o mundo, na qual será necessária uma
maior reflexão sobre o preconceito racial, cultural e social. Nesse contexto, foi
possível aos alunos adquirir referências sobre a questão do afro descendentes a
partir do conhecimento da realidade dessa população no Brasil, tendo com exemplo
a comunidade do Feixo, a qual vive numa situação socioeconômica a margem da
sociedade brasileira, apesar de ter contribuído no processo histórico de formação da
mesma.
Considerando que o Brasil é um país étnico cultural com priorização da
cultura eurocêntrica em detrimento da herança histórica indígena e africana, as
quais foram obscurecidas durante séculos da nossa história, no entanto no presente
há um movimento no sentido de resgatar a nossa verdadeira identidade cultural.
Deste modo, procuramos mostrar a uma pequena comunidade escolar que os
agrupamentos humanos quilombolas pretendiam impedir o contato do mundo branco
e escravista com o mundo negro vivendo em liberdade, para assim poderem sem
medo preservar suas culturas. O Brasil é a segunda nação negra do mundo com um
contingente de aproximadamente 97 milhões de pessoas de origem africana (censo
de 2010) e os resquícios do passado escravocrata se encontram evidentes nas
práticas do preconceito e da discriminação para com estes, assim como para outros
grupos sociais.
Vem ocorrendo um longo processo de resignificação da cultura do negro,
com a aprovação da Lei nº 10.639/2003, a qual coloca a obrigatoriedade de
trabalhar conteúdos referentes da temática "História e Cultura Afro-Brasileira",
porém o processo de conscientização e mesmo assimilação não ocorre tão rápido.
Acreditamos que seria necessário intensificar esse trabalho junto aos alunos da
Rede Pública de Ensino.
Nelson Mandela, o grande exemplo na luta pelo reconhecimento do direito à
igualdade, dizia:
Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião, para odiar as pessoas precisam aprender, e elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto, a bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta.(MANDELA, s.d.).
2. CONSIDERAÇÕES ACERCA DO TEMA
A historiografia eurocêntrica que predominou por séculos contribuiu para a
manutenção de certos conceitos que colocavam alguns grupos humanos em
condições de superioridade em detrimento de outros, considerados como inferiores,
tornando a prática do racismo uma realidade velada pelo mito da democracia racial.
Observando a letra da música Lavagem Cerebral, do cantor Gabriel
Pensador, 1993:
[…] branco no Brasil é difícil, porque no Brasil somos todos mestiços/ Se você discorda,/ então olhe para trás/ Olhe a nossa história/ Os nossos ancestrais/ O Brasil colonial não era igual a Portugal/ A raiz do meu país era multirracial/ Tinha índio, branco, amarelo, preto/ Nascemos da mistura, então por que o preconceito?
Percebe-se que, apesar da consciência da miscigenação na formação do
povo e da cultura brasileira não se concebe a igualdade entre esses diferentes
grupos. Por muito tempo acreditou-se que o Brasil vivia uma democracia racial o que
contribuía para que o racismo e as práticas discriminatórias se tornassem invisíveis,
entretanto, hoje, tem-se a consciência de que isso não passa de um mito e que,
portanto, a igualdade para os negros implica em uma luta contínua por direitos.
Neste sentido, procuramos mostrar para os alunos da comunidade escolar de
Agudos do sul o conhecimento sobre a etnia afro brasileira, uma vez que os mesmos
apresentavam vago conhecimento sobre comunidades Quilombolas, explicado pela
predominância a cultura branca européia na região. A atividade de intercambio com
a Escola Rural Municipal Dirceu Batista da Luz, no município da Lapa fez com que
os alunos conhecessem um pouco a realidade da Comunidade Remanescente
Quilombola do Feixo ( figura 1), pois nas cartas os alunos contaram sobre o seu dia-
a-dia e puderam conhecer também o cotidiano da comunidade, sendo esse o
primeiro contato direto com uma comunidade remanescente quilombola. Uma tarefa
que resultou numa nova forma de olhar o negro, a partir de sua participação ativa no
processo histórico de formação do nosso país.
Figura 1 - Localização geográfica da Comunidade Quilombola do Feixo no Estado do Paraná
Fonte: Instituto de Terras, Cartografia e Geociências – ITCG, 2009.
3. IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NA
ESCOLA
Os debates em sala de aula, sobre a relevância da Lei nº 10.639/2003, que
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo
oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-
Brasileira", possibilitaram aos alunos a compreensão de que o cumprimento da lei
será o caminho para uma maior justiça social. Além disso, a saída de campo
oportunizou aos alunos um conhecimento através da atividade prática, no qual
puderam vivenciar e analisar a cultura e o modo de viver da Comunidade
Remanescente do Feixo identificando traços comuns da cultura brasileira. Chamou a
atenção dos alunos a maneira e o jeito cultural de viver dos quilombolas, no entanto
isso não pode afastar essas comunidades do povo brasileiro, pois existe uma única
identidade nacional.
Durante o intercambio cultural entre os estudantes do Colégio Estadual Rui
Barbosa em Agudos do Sul e da Escola Rural Municipal Dirceu Batista da Luz
próxima a comunidade do Feixo houve uma troca de correspondências entre eles,
das quais me chamaram a atenção as correspondências abaixo.
Figura 2 - Atividade de intercambio entre os alunos do Colégio Estadual do Campo Rui Barbosa e os
alunos da Escola Rural Municipal Dirceu Batista da Luz, no município da Lapa/PR.
Fonte: Intercâmbio Cultural, Maio/2014.
Figura 3 - Atividade de intercambio entre os alunos do Colégio Estadual do Campo Rui Barbosa e os
alunos da Escola Rural Municipal Dirceu Batista da Luz, no município da Lapa/PR.
Fonte: Intercâmbio Cultural, maio/ 2014.
O objetivo do intercâmbio cultural (figuras 2 e 3) foi promover uma
aproximação prévia dos alunos com a comunidade do Feixo, assim sendo as cartas
possibilitaram esse contato antes da saída de campo e, também serviram para
aguçar a curiosidade de ambos os lados.
O trabalho procurou desenvolver nos alunos do Colégio Rui Barbosa, um
senso crítico, um diferente pensar da história dos afro brasileiros, uma vez que na
comunidade escolar, encontrava-se, uma certa resistência ao conhecimento da
história dos afro descendentes, devido a pouca atenção dada ao conhecimento da
história Africana pelo próprio currículo escolar, possivelmente justificada pela
tamanha influência da cultura eurocêntrica na região. Fatos, que ao longo do
trabalho desenvolvido passaram a ser questionados pelos alunos, os quais
repensaram essas histórias com uma visão diferenciada para a própria historia local
e, para a formação da história nacional, pois ficando surpresos ao perceberem que
dentre as ações do dia-a-dia muitas delas são de influência da cultura afro brasileira
ou Africana. Mesmo, sendo uma região de traços eurocêntricos podemos encontrar
usos e costumes de tradição africana no modo de viver das pessoas e na culinária
onde se encontra os maiores traços culturais dos afro brasileiros. Assim, despertou-
se nos alunos um conhecimento e uma experiência voltada a reconhecer que todas
as etnias que compõe nosso país são consideradas relevantes e, que os sujeitos
históricos independente de sua cultura devem ser respeitados e inseridos na
formação étnica cultural do país.
A atividade de campo (visita) realizada foi importante, porque os alunos
fizeram perguntas sobre a cultura africana diretamente a uma família moradora da
comunidade do Feixo, descendente afro, em especial do seu Juvenal Pedroso
morador mais antigo da região, ali ele constituiu sua família e todos os seus
descendentes moram no mesmo espaço. Deste modo, os alunos puderam analisar
as diferenças entre a forma de organização espacial, ouviram histórias que
consideraram diferentes até mesmo tristes como a do trabalho forçado e mal
remunerado na época. Conheceram os netos de seu Juvenal, alunos com quem
desenvolveram a atividade de intercâmbio, como por exemplo, com o neto Jeilson,
conversaram e contaram sobre o dia-a-dia na escola e em casa, surpreenderam-se
quando souberam que os alunos do Feixo passam o dia todo na escola, também
gostaram de saber que a Padroeira Imaculada Conceição da comunidade também é
a mesma, de Agudos do Sul.
A visita técnica também, proporcionou a prática da troca de culturas, os
alunos levaram produtos típicos da região de Agudos do Sul e seus descendentes, e
receberam produtos da cultura afro, uma experiência inesquecível e analisaram as
diferenças com relação ao desenvolvimento escolar, fizeram questionamentos sobre
o que os jovens do Feixo esperam do futuro profissional e escolar, concluíram que
há necessidade de uma resignificação histórica cultural para quebrar os
paradigmas existentes, pois o preconceito se alimenta na ignorância de tudo o que é
diferente e desconhecido.
A falta de políticas públicas ou o desconhecimento pelas Comunidades
Quilombolas dos projetos que podem beneficiá-las e, como acessá-los, dificultam a
sustentabilidade destes grupos em seus locais tradicionais, é o caso da Comunidade
Remanescente Quilombola do Feixo no Município da Lapa, que para manterem suas
raízes afro brasileiras lutaram com esforços e trabalho para receberem uma porção
de terra da família Braga. Como exemplo, a família de seu Juvenal Pedroso que
para poderem permanecer na terra continuaram trabalhando para a família Braga,
mas cada um sabia qual era o seu pedaço de terra. O senhor Juvenal relata que
neste local anteriormente só moravam os negros afro brasileiros e, que hoje não é
mais assim, com o passar do tempo as terras foram ficando poucas por causa da
ocupação por imigrantes europeus, no passado não era assim, pois viviam somente
negros na região. Os mais antigos comentam que se um negro não pudesse
trabalhar ficava com fome, e o dono achava que estava com preguiça, não existiam
horários de trabalho, se o dono quisesse amanheciam e anoiteciam trabalhando.
Neste contexto, outro relato importante foi o de Dona Ana Maria e seu irmão Dórico,
os quais relatam que fizeram permutas de terras, mas não sabem se as terras que
trocaram eram maiores ou menores do que as que receberam, pois não têm os
documentos de propriedade, apenas a posse das mesmas.
Todos os moradores da comunidade do Feixo vivem em casas simples (figura
4), mas com dignidade e podendo expressarem seu modo de viver africano. Os
quilombolas da comunidade ( figura 5), cultivam principalmente plantas medicinais,
mandioca e abóbora. Contam com os cuidados de uma benzedeira e de uma
parteira, e os jovens em idade escolar estudam na Escola Rural municipal Dirceu
Batista da Luz (figura 6). Os quilombolas que trabalham se deslocam para os
municípios vizinhos, levando uma vida ativa hoje, mas sem esquecerem as suas
verdadeiras raízes. A comunidade do Feixo é um exemplo bem próximo de lutas e
de referências culturais dos negros na formação da sociedade nacional.
Figura 4 – Primeiras moradias da Comunidade do Feixo, no município da Lapa/PR.
Fonte: Pesquisa de Campo, Junho de 2014.
Figura 5 – Entrada da Comunidade do Feixo, no município da Lapa/PR.
Fonte: Pesquisa de Campo, junho de 2014.
Figura 6 – Escola Rural Municipal Dirceu Batista da Luz na Comunidade do Feixo, no município da
Lapa/PR.
Fonte: Pesquisa de Campo, Junho de 2014.
A presença da cultura e de muitas influências africanas e indígenas na
sociedade brasileira é bastante abrangente. Pensar na sociedade brasileira é pensar
na sua formação, reconhecendo a participação ativa dos povos africanos e
indígenas em todo processo de desenvolvimento. Assim a aplicação da Lei n
10.639/2003 determina a inclusão do ensino da cultura Afro e Indígena nas escolas,
como forma de reparação, devido à contribuição dos mesmos na formação da
cultura brasileira. Nesse sentido, faz se necessário promover discussões sobre as
diferentes matrizes culturais que contribuíram para a formação do povo brasileiro, o
que poderá facilitar a construção do exercício da cidadania em nosso país.
A inserção da cultura africana nos currículos escolares, assim como a
aprendizagem das comunidades quilombolas do Estado do Paraná é de grande
importância para desenvolver um sentimento de igualdade e auto-estima dos nossos
alunos afro-descendentes, assim como o reconhecimento de inúmeros fatores
culturais desenvolvidos no nosso cotidiano que são fatores de origem africana. Hoje
os nossos currículos escolares, assim como os nossos livros didáticos ainda trazem
uma visão eurocêntrica e preconceituosa em relação aos negros africanos. Nossos
alunos necessitam reconhecer ou identificar a contribuição desses povos para a
construção da identidade, dos costumes e cultura do povo brasileiro.
Sendo assim é de grande importância trabalhar e fazer com que os nossos
alunos reconheçam as comunidades quilombolas e remanescente do nosso Estado.
Saber como funcionavam esses quilombos e para que serviam? E quais as formas
de resistência contra a escravidão foram desenvolvidas por esses povos? De que
forma a aprendizagem e o conhecimento a partir da implementação da lei nº
10.639/2003 nas escolas estão contribuindo para que se desenvolva uma sociedade
mais justa e igualitária no Brasil?
Na contramão dessa situação de exclusão e preconceito vivenciada por
negros e seus descendentes, encontram-se as políticas de Ação Afirmativa que
visam corrigir e reparar as práticas excludentes historicamente construídas ao longo
dos séculos e que foram responsáveis pela perda da identidade destes.
Dentre as ações afirmativas encontram-se a Lei nº 10.639/2003, que busca a
valorização da história e da cultura africana, afro-brasileira com o objetivo de
proporcionar no meio escolar uma educação multicultural e pluriétnica, que perceba
a presença desses grupos humanos na história local e compreenda que a sua
importância na formação da cultura regional, são pressupostos necessários para a
construção de uma educação que considera tanto o contexto local como o global e
que por isso, cotidianamente, despoja-se dos preconceitos e busca a construção de
uma sociedade mais justa e igualitária dando-lhes o valor que lhes é de direito.
O resgate da memória coletiva e da história da comunidade negra não interessa apenas aos alunos de ascendência negra. (...) Além disso, essa memória não pertence somente aos negros. Ela pertence a todos, tendo em vista que a cultura da qual nos alimentamos cotidianamente é fruto de todos os segmentos étnicos que, apesar das condições desiguais nas quais se desenvolvem, contribuíram cada um de seu modo na formação da riqueza econômica e social e da identidade nacional. (MUNANGA, 2005, p.16).
Sendo assim, a reescrita da história do Brasil se faz urgente no sentido de
garantir a todos os grupos humanos que formaram o povo brasileiro de fato, serem
contemplados como agentes históricos atuantes na sociedade expressando sua
cultura sem restrições.
Nesse sentido, o estudo de conteúdos referentes à História e Cultura Afro
Brasileira será ministrado no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas
áreas de educação artística, de literatura e história brasileira como dispõe a
instituição da Lei n 10.639/2003, nos níveis fundamentais e médios.
A demanda da comunidade afro-brasileira por reconhecimento, valorização e afirmação de direitos, no que diz respeito à educação, passou a ser particularmente apoiada com a promulgação da Lei 10639/2003, que alterou
a Lei 9394/1996, estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro brasileira e africanas. (PARANÁ, p. 19, 2005).
Para tanto é necessário o cumprimento da lei, não só incluindo no calendário
escolar a temática, mas em todo currículo escolar, visando não somente ler sobre o
assunto, mas participar do processo de construção da nossa história e, perceber o
quanto da herança africana faz parte do nosso dia-a-dia. A aprovação da lei na
esfera federal sobre essa temática foi sem dúvida uma vitória, graças à pressão
exercida pelos movimentos sociais, que ao longo do tempo vem lutando para que a
sociedade brasileira adquira uma consciência, em relação a toda e qualquer forma
de descriminação, preconceito e violência étnica cultural. A Historiografia tradicional
e o próprio currículo escolar trataram por algum tempo indevidamente ao ignorar a
participação africana em nossa formação. Não há, sem dúvida como recuperar
nossa africanidade, sem conhecer a própria História da África, desnudos de
preconceitos etnocêntricos.
Não podemos, a despeito da exigência da Lei, sair repassando nas nossas salas de aula informações equivocadas, ou tratar o tema de uma maneira folclorizada e idealizada. Este é um grande temor: repetir modelos para fazer com que estes conteúdos curriculares fiquem parecidos com os que já trabalhávamos ao tratarmos da História e das contribuições culturais comumente estudadas é um caminho fácil e perigosíssimo. São temas diferentes e sua abordagem necessariamente deve ser diferenciada. (LIMA, 2004, p. 86).
Dessa forma, o cumprimento da Lei n 10.639/2003 em todas as etapas do
processo educativo seja de forma contextualizada e interdisciplinar busca o
reconhecimento e a valorização do povo negro, permitido assim uma construção
da identidade nacional, a qual reflete os anseios da comunidade afro brasileira por
políticas de reconhecimento cultural - a identidade de um povo construída por meio
de sua memória. A necessidade de uma educação antirracista pautada no
reconhecimento das diferenças, e no respeito aos vários sujeitos formadores da
sociedade brasileira.
A presença das várias etnias, a história da cultura afro brasileira e o estudo
das comunidades quilombolas como parte da história de resistência daqueles que
foram escravizados, mas que contribuíram para a formação do povo e da história
brasileira, poderá contribuir para a construção de uma nova concepção acerca
daqueles que até então eram vistos com desprezo, bem como possibilitará o resgate
da identidade de um grupo - requisito tão importante para a autoestima e para o
reconhecimento do negro no Brasil.
O Brasil é um país rico em diversidade cultural. Conseqüências de uma colonização construída por diversos povos que aqui se integraram trazendo juntamente com suas esperanças e planos, o seu patrimônio cultura. Nosso povo adotou essas culturas em sua bagagem cultural, na música, na religião, no modo de falar. Pode-se definir, em nível de Brasil, que a cultura que cerca seus habitantes é uma herança social provinda dos portugueses, italianos, espanhóis, índios e negros. (LIMA, 2012, p.3).
Sem dúvida, a presença dos negros na América portuguesa não apenas
possibilitou a construção de um processo histórico extremamente singular, como
também ressaltou especificidades culturais únicas na formação da sociedade
brasileira. A circulação entre culturas se dá por meio local, onde se valorizam as
ações e os sujeitos comuns de uma família ou comunidade e, cabe a escola a tarefa
de difundir e valorizar as relações culturais de todas as etnias.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se, que perceber a importância dos grupos étnicos na história local
e compreender a sua relevância na formação da cultura regional são pressupostos
necessários para a construção de uma educação que compreenda tanto o contexto
local como o global e, que por isso, será necessário abolir os preconceitos e buscar
a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Verifica-se, que é relevante para a história do país e para a educação a
valorização dos sujeitos e das formas de expressarem sua cultura, para a
construção de uma sociedade que respeite as diferenças culturais, independente da
origem étnica.
Consta-se que as comunidades quilombolas, a exemplo da comunidade do
Feixo no Estado do Paraná, procuraram se organizar economicamente e
socialmente, para manter sua autonomia e o seu modo de vida no Brasil
contemporâneo. No entanto, essas comunidades carecem de um maior apoio
estrutural pelo poder público vigente. Visto que, apesar da demarcação de suas
terras elas continuam abandonadas a própria sorte, pelo poder público.
Considera-se, que é preciso que haja um novo contar da história brasileira, no
qual as nossas escolas e professores estejam preparados para inserir nos nossos
currículos escolares, conforme o que dispõe a lei, o reconhecimento da influência
cultural africana no Brasil.
Conclui-se, que os objetivos propostos foram atingidos e, que esse trabalho
proporcionou uma análise crítica que poderá ser utilizada no processo ensino
aprendizagem, o qual poderá oferecer subsídios para repensar a história de
quinhentos anos de luta e resistência dos afro descendentes no Brasil, bem como
as lacunas existentes nos livros didáticos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 10.639, de 9 de Janeiro de 2003.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm>. Acesso
em: 05 mai.13.
BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações Etnicos-raciais e para o Ensino de História e Cultura
afro-brasileira e africana. Brasil: MEC, 2008
LIMA, Monica. A áfrica na sala de aula in: Revista Nossa Historia. Edição n°4.
Fundação Biblioteca Nacional, 2004.
LIMA, Miguel. A trajetória do negro e a importância da cultura afro. Disponível
em <
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/2010/Histo
ria/monografia/3lima_miguel_nonografia.pdf > Acesso em: 10 jun 13.
MANDELA, Nelson. Pensador uol. Disponível em: pensador.uol.com.br. Acesso em:
20 jun. 2013.
PARANÁ. SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO. Diretrizes Curriculares da
Educação Básica. 2008. Disponível em: <
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/diretrizes/dce_hist.pdf>.
Acesso em: 22 abr. 2013.
PAULA, F. M. de. Comunidade Remanescente do Feixo e da Restinga, dos afro-
descendentes da Lapa. Curitiba. Edição do Autor, 2007.
PENSADOR, Gabriel. Lavagem Cerebral. Sony Music. 1993. CD