o fim do trÁfico de escravos africanos e … · gináveis.3 destes 12 milhões de escravizados, o...

23

Upload: letuyen

Post on 02-Oct-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres
Page 2: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E A CRISE DO SISTEMA ES-

CRAVISTA BRASILEIRO (1850-1888).

Autora: Isabel Cristina da Glória Matheus Bicário 1

Orientador: Ricardo Tadeu Caires Silva2

RESUMO: Este texto tem como objetivo discutir o fim do tráfico de escravos africa-nos para o Brasil e sua importância para a crise do sistema escravista brasileiro. Por mais de trezentos anos o tráfico de escravos se constituiu a mola mestra do sistema escravista e a sua supressão definitiva só aconteceu após quase meio século de pressões, lutas e negociações entre governos, traficantes e senhores de escravos. Buscaremos problematizar quais foram os fatores internos e externos que contribuí-ram para o fechamento do tráfico internacional de escravos para o Brasil; além de avaliar o quanto a sua supressão definitiva afetou os destinos da escravidão nas di-ferentes regiões do país. Com o fim do “infame comércio”, o governo brasileiro e a sociedade escravista em geral foram obrigados a adotar estratégias que encami-nhassem a questão servil de forma a manter a continuidade das relações de domi-nação dos escravos e seus descendentes sem desorganizar o sistema produtivo, assentado na agricultura agroexportadora. Por sua vez, os escravos procuraram lu-tar para manter a política de alforrias e os direitos conquistados na dura negociação com seus senhores. As ações pedagógicas decorrentes dos estudos realizados fo-ram desenvolvidas no Colégio Estadual Dr. Duílio Trevisani Beltrão, junto aos alunos da turma do 1° ano de História do Ensino Médio. PALAVRAS CHAVE: tráfico africano; escravidão; Brasil; políticas de alforria; escra-vo.

1 Professora de História do Ensino Médio da Rede Estadual de Ensino do Paraná na cidade Tamboa-

ra- Pr. 2 Doutor em História pela UFPR. Professor do curso de História da Unespar - Campus de Paranavaí.

Page 3: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

Introdução

Este artigo é parte das atividades do Programa de Desenvolvimento Educa-

cional do Paraná – PDE, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED), e

tem por finalidade problematizar o fim do tráfico de escravos africanos para o Brasil

e sua importância para a crise do sistema escravista brasileiro (1850-1888). Confor-

me afirma Marcus Rediker,

No decurso de quase quatrocentos anos de tráfico de escravos, entre o fim do século XV e o fim do século XIX, 12, 4 milhões de pessoas foram embarcadas em navios negreiros e transportadas pela chama-da Passagem do Meio, cruzando o Atlântico rumo a centenas de pontos de distribuição espalhados ao longo de milhares de quilôme-tros. Durante o terrível trajeto, 1,8 milhão delas morreram e tiveram seus corpos lançados ao mar, para proveito dos tubarões que segui-am os navios. A maior parte dos 10, 6 milhões que sobreviveram foi despejada nas entranhas sangrentas de um sistema de plantation assassino, ao qual esses cativos resistiram de todas as formas ima-gináveis.3

Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-

ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres e crianças de diferentes idades e

etnias.4 Aqui, mesmo contra suas vontades, estes indivíduos exerceram as mais va-

riadas atividades produtivas; dando uma decisiva contribuição para a edificação da

sociedade brasileira nos aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais.

As vicissitudes do tráfico de escravizados africanos

O tráfico de escravos constituiu-se uma das práticas mais cruéis da humani-

dade. Isto porque a violência, em suas diversas formas, estava presente em todas

as etapas de sua realização; desde a captura em terras africanas, passando pelo

3 Rediker, Marcus. O navio negreiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p.12-13.

4 Para um balanço das principais estimativas do tráfico para o Brasil ver Rodrigues, Jaime. De Costa

a Costa. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 28; Florentino, Manolo Garcia. Em Costas Ne-gras: Uma História do Tráfico Atlântico de Escravos entre a África e o Rio de Janeiro (sécs. XVIII-XIX). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Page 4: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

transporte pelo interior do continente até o litoral, até a longa travessia rumo à Amé-

rica.

O martírio dos africanos começava ainda no interior do continente, onde ocor-

riam as violentas guerras de aprisionamento. Segundo Robert Conrad,

Reduzida recentemente à escravidão, a vítima frequentemente era marcada a fogo e colocada em ferros. Se capturada por uma expedi-ção em campo de batalha, ele ou ela poderia ser presa pelo pesco a um libambo, pesada corrente de ferro descrita como capaz de confi-nar uma centena de pessoas e com uma meia polegada de espessu-ra. Dessa maneira, começava uma jornada que poderia durar até oito meses. (CONRAD: 1985, p.51).

Muitos não sobreviviam às longas e penosas caminhadas e acabavam pade-

cendo no percurso. Acorrentados, os escravizados eram transportados por longas

distâncias até o litoral africano, onde eram abrigados em barracões ou cercados. Ao

chegarem às feitorais, os sobreviventes geralmente eram cuidados e alimentados

para suportar a travessia do oceano atlântico rumo ao Brasil e outras partes do

mundo. O passo seguinte era a reunião de um grande número de cativos e o seu

embarque nos tumbeiros, como também eram conhecidos os navios negreiros, pelo

fato de ser grande o número de mortes.

De acordo com os historiadores Wlamyra Albuquerque e Walter Fraga Filho,

o número de cativos embarcados em cada navio dependia da capa-cidade de suas instalações. Nos séculos XVI e XVII, uma caravela portuguesa era capaz de transportar cerca de 500cativos e um pe-queno bergantim podia transportar até 200. No século XIX, os trafi-cantes utilizaram os navios a vapor, o que reduziu o tempo das via-gens. Nos últimos anos do tráfico, a média de escravos transporta-dos por navio era de 350. (ALBUQUERQUE e FRAGA FILHO: 2007, p.48).

Por sua vez, a travessia para o Brasil também era marcada por horrores e vio-

lências. Em muitas ocasiões faltavam alimentos e geralmente os cativos eram ali-

mentados apenas o suficiente para que permanecessem vivos, mesmo que enfra-

quecidos pela fome e pela sede e deprimidos diante do absoluto horror da situação

em que se encontravam (REIS; GOMES; CARVALHO: 2011, p. 101).

Page 5: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

Por isso, com muita frequência as doenças atingiam mortalmente os mais de-

bilitados. Conforme nos conta Marcus Rediker, a doença e a morte eram elementos

centrais na experiência a bordo do navio negreiro.

Apesar dos esforços dos comerciantes, capitães, médicos, todos com um interesse material direto na saúde e na sobrevivência de seus escravos, a doença e mortalidade assolavam as embarcações, ainda que a percentagem das mortes tenham declinado no curso do século XVIII. (REDIKER: 2011, p.280).

Segundo Herbert Klein,

As mortes nas travessias tinham várias causas. Os maiores agentes eram as desordens gastrointestinais, frequentemente relacionadas com a qualidade de alimento e de água disponíveis na viagem. Sur-tos de desinteria eram comuns e a "bloody flux", como era chamada, às vezes irrompia com proporções epidêmicas. A crescente vulnera-bilidade dos escravos à desinteria aumentava tanto as taxas de con-taminação dos estoques quanto as de morte. A desinteria era res-ponsável pela maioria das mortes e era a doença mais comum em todas as viagens. (KLEIN: 1989, p.13).

Aqueles que conseguiam sobreviver à Passagem do Meio, como também era

conhecida a travessia atlântica - que durava aproximadamente de trinta a quarenta

dias - desembarcavam em diferentes portos do litoral brasileiro, principalmente no

Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Fortaleza, São Luís e Belém, dentre outros. Dali,

eles seguiam para barracões, onde eram alimentados e tratados em suas moléstias,

e depois eram vendidos em mercados públicos ou casas comerciais. Seus preços

variavam conforme a idade, a etnia, o sexo e o estado físico.

Em muitos casos, os escravizados tinham que iniciar mais uma dura viagem

rumo ao interior do Brasil, onde trabalhariam nas fazendas de café, cana de açúcar

e outras tantas atividades produtivas gerando a riquezas de seus senhores. A histo-

riadora Kátia Mattoso assinala que,

o desenvolvimento do tráfico interiorano levou os comerciantes a construir, ao longo das grandes estradas do tráfico, alojamentos des-tinados às paradas e ao necessário repouso dos escravos a serem vendidos na cidade mais próxima: na etapa final da viagem, esses abrigos servem também à recuperação física da mercadoria, e em torno deles se vão criando pequenas aldeias que podem, gradual-mente, transformar-se em arruados mais ou menos importantes. (MATTOSO: 1990, p.67).

Page 6: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

De acordo com os estudiosos do tema, os principais grupos negros trazidos

para o Brasil foram os bantos e os sudaneses. Por sua vez,

os escravos novos eram geralmente do sexo masculino, entre 10 e 30 anos de idade, a maioria na faixa dos 20. A mão de obra dos ho-mens jovens era mais valorizada no mercado brasileiro. Os senhores preferiam comprar homens em idade de produzir, e os africanos que controlavam o mercado do tráfico na África deliberadamente reduzi-am a oferta de mulheres e de crianças com menos de 10 anos aos traficantes brasileiros. Mulheres e crianças eram mais valorizadas no mercado interno africano. A maioria dos estudos sobre o tráfico mos-tra que havia desequilíbrio constante de pelo menos dois homens pa-ra cada mulher. (ALBUQUERQUE e FRAGA FILHO: 2007, p.52).

Segundo afirma Jaime Rodrigues, enquanto o tráfico permitiu a multiplicação

da riqueza e enquanto o controle social sobre a mão de obra foi tão eficiente quanto

era possível, os traficantes gozavam de elevado conceito social. Não raro, eles figu-

ravam entre as pessoas mais ilustres da sociedade brasileira. Contudo,

com a proibição do comércio de escravos e a repressão mais acen-tuada, os traficantes começaram a vivenciar um processo marcado por dois aspectos principais: de um lado, a transformação de sua i-magem social, passando de comerciantes ricos e influentes a piratas vorazes e indignos de se manterem no país; de outro, os traficantes tentaram, nem sempre com êxito, manter o comércio de africanos, lançando mão de diversos artifícios."(RODRIGUES: 2000, p.127-128).

Mas o que ocasionou o fim do tráfico de escravos para o Brasil? Quais os fa-

tores que contribuíram para a sua extinção? O que nos diz a historiografia sobre o

assunto?

A historiografia e o fim do tráfico de escravos para o Brasil

Segundo o historiador Herbert Klein, apesar de sua importância central na his-

tória econômica e social do imperialismo ocidental, de seu papel fundamental na his-

tória da América e de seu profundo impacto sobre a sociedade africana, o tráfico de

escravos do Atlântico permaneceu por muito tempo como uma das áreas menos es-

Page 7: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

tudadas na moderna historiografia.5 Entretanto, nas últimas décadas a temática do

tráfico mereceu importantes estudos, de modo que dispomos de excelentes traba-

lhos sobre sua dinâmica.6

As primeiras tentativas de se acabar com o fim do tráfico de escravos para o

Brasil datam do período colonial, quando do contexto da transferência da família real

para a Colônia. Pressionado pelas tropas napoleônicas, que estavam prestes a in-

vadir Portugal, D. João VI recorreu ao apoio dos ingleses para transferir a sede do

Império para os trópicos e assim evitar a derrota para Napoleão. Em troca de tal au-

xílio, o governo britânico conseguiu não só a assinatura de vários tratados comerci-

ais que lhe davam enormes vantagens econômicas como também a promessa de

que o tráfico africano seria gradualmente suprimido. O resultado destes tratados não

foi a redução ou limitação do tráfico e sim um súbito surto no seu volume que levou

a uma cruzada de quarenta anos da Grã-Bretanha contra o comércio de escravos no

Brasil.7

A independência política do Brasil, em 1822, propiciou novas condições para

que a Grã-Bretanha voltasse a reivindicar o fim do infame “comércio”, Assim, em

troca do reconhecimento da independência e do empréstimo fornecido ao Brasil para

indenizar Portugal, a Grã-Bretanha obtinha a consolidação de uma posição econô-

mica altamente privilegiada, juntamente com o compromisso, do governo brasileiro,

de abolir o tráfico de escravos a partir de 1830. Para firmar o acordo e por fim na

velha questão o governo brasileiro tratou de formular uma lei. Em 07 de novembro

de 1831, foi promulgada a lei proibindo o tráfico, de autoria do senador Caldeira

Brant, marquês de Barbacena. A lei declarava em seu artigo primeiro, que os africa-

nos que chegaram ao Brasil após a mesma eram livres Estipulava ainda que os cul-

pados pela importação de escravos seriam punidos conforme o Código Criminal

(1830) pelo crime de reduzir pessoa livre à escravidão e impunha multas de 200 mil

réis por cada escravo importado ilegalmente, mais o custo de seu embarque de volta

à África.8

5 Klein, Herbert S. Novas interpretações do tráfico de escravos do Atlântico. Rev. Historia USP. São

Paulo:1989, n.120, p.3. 6 Ver por exemplo, Rodrigues, Jaime. De Costa a Costa: Escravos, Marinheiros e Intermediários do

Tráfico Negreiro de Angola ao Rio de Janeiro (1780-1860). São Paulo: Companhia das Letras, 2005. 7 Conrad, Robert. Tumbeiros: o tráfico de escravos para o Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1986.

8 Silva, Ricardo Tadeu Caires. Silva, Caminhos e descaminhos da abolição: escravos, senhores e

direitos nas últimas décadas da escravidão (1850-1888). Tese de Doutorado. Curitiba, Pr: UFPR, 2007, p.87.

Page 8: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

Contudo, a aprovação da lei de 1831 não significou a abolição do tráfico, pois

a sociedade brasileira ainda apoiava firmemente a escravidão. A economia cafeeira

dependia cada vez mais do braço escravo. Além disso, a continuidade do tráfico es-

tava intimamente associada aos interesses capitalistas que lucravam com a existên-

cia de tal atividade comercial. Mas o que talvez tenha mais contribuído para a sua

manutenção era a situação de instabilidade política do período regencial, pois o am-

biente liberal experimentado no período impediu que medidas mais energéticas fos-

sem tomadas para a punição aos traficantes – o que, na prática, legitimava a conti-

nuidade do tráfico. Assim, ao invés de coibir o tráfico, o que se viu foi o seu incre-

mento. Os ingleses, contudo, nunca deixaram de cobrar o cumprimento da lei de

1831 e dos demais acordos anteriormente celebrados e volta e meia apreendiam

navios negreiros brasileiros gerando sérios atritos diplomáticos. Após duas décadas

de vistas grossas, de uma tática de solidariedade aos traficantes de escravos e com

um mercado relativamente abastecido, o governo brasileiro finalmente resolveu agir.

A aprovação da lei Eusébio de Queiroz, em 1850, finalmente viria a encerrar

um comércio que durou mais de três séculos e foi responsável pelo transporte de

cerca de 5 milhões de africanos para o Brasil.

De fato, a historiografia clássica sobre a temática do tráfico atlântico aponta

a intervenção inglesa (externa) como o principal fator de contenção do tráfico de es-

cravos para o Brasil. Tal tese é representada clássico estudo de Leslie Bethell, para

quem,

além das considerações de ordem moral, a Grã-Bretanha tinha for-tes razões econômicas para adotar tal política. Privados os planta-dores de açúcar das Antilhas Britânicas do seu suprimento regular de mão de obra barata, era importante que os seus rivais, princi-palmente Cuba e o Brasil, que já gozavam de muitas vantagens so-bre eles, ficassem colocados no mesmo pé, pelo menos nesse pon-to. E, se o continente africano ia se transformando num mercado para produtos manufaturados e numa fonte de matérias primas (a-lém de ser “civilizado” e “cristianizado”), como muitos, na Grã-Bretanha, esperavam, era essencial que se fizessem todos os es-forços para precipitar a total destruição do tráfico.9

9 Bethell, Leslie. A abolição do tráfico de escravos no Brasil: a Grã-Bretanha, o Brasil e a questão do

tráfico de escravos, 1807-1869. (trad. port.) São Paulo/Rio de Janeiro, Edusp/Expressão e Cultura, 1976, p. 08.

Page 9: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

Na verdade faltava aos ingleses maiores poderes para intervir diretamente no

litoral brasileiro, de onde os barcos negreiros, travestidos com bandeiras de outras

nacionalidades, zarpavam livremente rumo à África para depois retornarem carrega-

dos de escravos a bordo. As autoridades britânicas e principalmente os oficiais da

marinha tinham plena consciência disso e constantemente se queixavam que só

uma intervenção mais direta no litoral brasileiro seria capaz de por fim ao tráfico. O

Parlamento britânico só acedeu a esta estratégia em agosto de 1845, ao aprovar o

Bill Aberdeen. Por esse decreto unilateral o governo inglês concedia a seus próprios

navios o direito de capturar os navios brasileiros que tomassem parte no tráfico afri-

cano de escravos, mesmo que isso ocorresse em águas brasileiras. A base para

esta decisão estava presumivelmente ancorada no tratado de 1826, que em seu ar-

tigo primeiro declarava que o tráfico de cativos era pirataria e que a marinha britâni-

ca tinha todo o direito de aprisionar e julgar os navios equipados para o tráfico onde

quer que estivessem.

Mas a aprovação do Bill Aberdeen não provocou a diminuição do tráfico, pelo

menos imediatamente. Como ocorrido nas proibições anteriores, o que se viu foi um

fabuloso incremento do número de escravos traficados. Diante da certeza cada vez

maior de que o tráfico estava com os dias contados, os traficantes incrementaram

suas transações e em razão disso em média cinquenta mil escravos entravam a ca-

da ano nos portos brasileiros entre os anos de 1845 e 1850.10 Novamente o que se

viu foi a importação maciça de homens, mulheres e crianças africanas, abarrotando

os mercados escravistas em todo o país.

Foi então que os ingleses decidiram radicalizar as ações até então efetua-

das, pondo em práticas as ameaças de invasão aos portos brasileiros. Segundo E-

mília Viotti da Costa, a partir de então

navios nacionais, com carga nacional, tripulação nacional, que se dedicavam à navegação costeira eram apreendidos sem nenhuma consideração e enviados para Santa Helena, mesmo que não fos-sem encontrados sinais evidentes de traficância de escravos. De 1849 a 1851 foram tomadas, condenadas e destruídas pelo cruzeiro inglês, na forma do citado Bill, 90 embarcações suspeitas de tráfi-co.11

10

Costa, Emília Viotti da. Da senzala à colônia. 3ª ed. São Paulo: Editora da Unesp, 1998. p. 134. 11

Costa, Emília Viotti da. Da senzala à colônia. 3ª ed. São Paulo: Editora da Unesp, 1998, p. 82.

Page 10: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

Diante dessa nova realidade, e

completamente humilhados pelas incursões britânicas nos portos do Império e a captura e destruição de navios negreiros brasileiros até mesmo em águas territoriais brasileiras, enfrentando ameaças à navegação legal do Império, com conflitos militares e mesmo um bloqueio nos portos brasileiros, o governo do Império foi obrigado, em julho de 1850, a ceder ante as exigências britânicas em troca da promessa de suspender os ataques navais.12

Foi diante desse clima de “tensão internacional e de comoção interna” que

as autoridades brasileiras apressaram-se em tomar medidas capazes de pôr fim ao

tráfico e ao mesmo tempo garantir a soberania do país ante os constantes desagra-

vos da marinha britânica. Após duas décadas de vistas grossas e de tácita solidarie-

dade aos traficantes de escravos e como um mercado relativamente abastecido, o

governo brasileiro finalmente resolveu agir, fazendo aprovar a lei Eusébio de Quei-

roz, em 04 de setembro de 1850.

Concebida de modo a dotar o estado imperial de meios para executar a lei

de 7 de novembro de 1831, a nova lei declarava em seu artigo 1o que

As embarcações brasileiras encontradas em qualquer parte, e as es-trangeiras encontradas nos portos, enseadas, ancoradouros ou ma-res territoriais do Brasil, tendo a seu bordo escravos, cuja importa-ção é proibida pela lei de 7 de novembro de 1831, ou havendo-os desembarcado, serão apreendidas pelas autoridades, ou pelos na-vios de guerra brasileiros, e consideradas importadoras de escra-vos.13

Contudo, mais recentemente alguns autores têm chamado a atenção para a

importância de outros fatores, notadamente aqueles ligados aos acontecimentos in-

ternos, como causas importantes no referido processo de fechamento do tráfico.

O historiador Sidney Chalhoub, por exemplo, embora não negue que as

pressões britânicas foram decisivas para que o governo brasileiro tivesse a vontade

política de dar fim ao tráfico, faz questão de ressaltar o temor que as autoridades

12

Conrad, Robert. Tumbeiros: o tráfico de escravos para o Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 34. 13

Ver Coleção das Leis do Império do Brasil (1852). “Lei Eusébio de Queiroz”, n° 581, de 4 de se-tembro de 1850, Tomo II, parte I, pp. 203-205. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1852.

Page 11: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

policiais e políticas da Corte sentiram diante da alta concentração de africanos no

seio da população escrava fluminense.14 Já o historiador norteamericano Dale Gra-

den vai ainda mais longe ao defender que a resistência dos escravos e os temores

que geravam na classe dos senhores foram fatores muito importantes na rápida mu-

dança da maré política para uma posição favorável à extinção do tráfico. Aliadas às

fortes epidemias que assolaram as principais cidades brasileiras como o Rio de Ja-

neiro e Salvador entre 1848 e 1855, as ações dos escravos - da qual a revolta dos

Malês foi a mais expressiva - impuseram às elites um constante medo de subleva-

ções da ordem, levando finalmente que estas adotassem uma postura firme na re-

pressão aos traficantes. Segundo Dale Graden, a resistência dos escravos prosse-

guiu em todo o império entre 1851 e 1855, impedindo que o tráfico recrudescesse.15

Quem também reforça o peso dos “fatores internos” na supressão do “infa-

me comércio” é Jaime Rodrigues. Questionando o fim do tráfico como parte integran-

te de um projeto consensual de abolição gradual da escravatura no Brasil, Rodrigues

procura evidenciar a diversidade das propostas elaboradas pelos parlamentares

brasileiros com vistas a resolver esta importante questão e defende que a ideia de

abolição definitiva do tráfico ocorreu não em função de um plano premeditado pelas

elites, mas porque diversas motivações concorreram para a sua efetivação, tais co-

mo:

a maior coesão das parcelas da elite política; o esgotamento do pro-jeto de construção do mercado de mão de obra, baseado exclusi-vamente no escravo como alicerce da produção; o vínculo estreito entre "corrupção dos costumes" e escravidão; a manutenção do di-reito sobre a propriedade existente; a pressão inglesa e a necessi-dade de garantir a soberania perante ela (RODRIGUES: 2000, p.118).

Assim como faz Dale Graden, Jaime Rodrigues também ressalta o crescente

medo das ações coletivas dos escravos contra o cativeiro. Sendo assim, conclui o

autor, a conjuntura de 1850 mostrou bastante favorável para que a proibição do trá-

fico surtisse efeito e o acirramento das pressões inglesas a partir do Bill Aberdeen

14

Ver Chalhoub, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, pp. 186-198. 15

Graden, Dale T. “Uma lei… até de segurança pública”: resistência escrava, tensões sociais e o fim do tráfico internacional de escravos para o Brasil (1835-1856)”. Estudos afro-asiáticos (30), 1996, pp. 113-149.

Page 12: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

serviu para aglutinar as propostas dos deputados e senadores brasileiros em torno

de uma solução adequada para a honra, os interesses senhoriais e a dignidade na-

cional.

As análises de Sidney Chalhoub, Dale Graden, Jaime Rodrigues e outros

autores têm o mérito de chamar a atenção para importantes aspectos da sociedade

brasileira em fins da primeira metade do século XIX, sobretudo no que se refere às

tensões sociais. Um destes aspectos diz respeito ao medo da africanização do Brasil

ganhou maior força no século XIX. Segundo Rodrigues, os escravos africanos co-

meçaram a ser temidos não mais apenas como indivíduos, mas também como sujei-

to coletivo, um tipo de medo agravado após os acontecimentos no Haiti, em

1794.(Rodrigues: 200, p.50).

Mas embora estas tentem matizar o peso das pressões inglesas para o fe-

chamento do tráfico atlântico, não há como negar que a ação da Inglaterra foi de-

terminante para o fim do comércio de seres humanos através do atlântico.16 Nesse

sentido, há que se destacar a força argumentativa do estudo de Leslie Bethell:

não há duvida, porém de que foi a súbita extensão, em junho e ju-lho, das operações antitráfico da esquadra britânica em águas e portos brasileiros que, provocando uma crise política no Brasil, le-vou diretamente à aprovação de uma nova lei antitráfico e ao seu cumprimento. É perder tempo especular quando ou, mesmo, se es-sa lei teria sido aprovada – muito menos posta em vigor -, caso a Grã-Bretanha não tivesse intervindo decisivamente nesse momento crítico. No mínimo, pode-se dizer que a ação naval britânica acele-rou grandemente, se é que não precipitou sozinha, os derradeiros e bem sucedidos esforços do Brasil para suprimir o tráfico negreiro.17

Por detrás das pressões britânicas, estava a consciência da forte dependên-

cia do escravismo brasileiro em relação à importação de africanos. Sem esta, a es-

cravidão com força preponderante de trabalho no Brasil estaria com os seus dias

contados. Segundo o próprio Bethell, o corte no fornecimento farto de escravos ba-

ratos, oriundos da África, iria produzir uma séria falta de braços no Brasil e desferir

grande golpe no sistema escravista. Para Robert Conrad, não era segredo, por e-

16

Para uma crítica sobre a valorização excessiva das ações escravas como fator determinante para o fim do tráfico africano ver Needell, Jeffrey D. “The abolition of the brazilian trade in 1850: Historiogra-phy, Slave Agency and Statesmanship”. In: Journal of Latin American Studies, Vol. 33, n°4 (Nov., 2001), pp. 681-711. 17

Ver Bethell, Leslie. A abolição do tráfico..., op. cit., p. 343.

Page 13: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

xemplo, que a baixa taxa de natalidade e a alta mortalidade entre os escravos torna-

vam difíceis a manutenção ou expansão da força de trabalho de uma plantagem

sem o acesso a fontes estrangeiras.18 Sendo assim, o fim do comércio de almas pa-

ra o Brasil mudaria a dinâmica da escravidão num breve espaço de tempo.19

O fim do tráfico africano e o encaminhamento da abolição

Conforme foi afirmado anteriormente, o tráfico de escravos foi a mola propul-

sora do sistema escravista no Brasil. Devido à alta taxa de mortalidade dos escravos

bem como a prática da alforria, necessitava-se de novos cativos para ocupar o lugar

dos que se libertavam ou morriam. Portanto, era o tráfico que alimentava a crescen-

te procura pela mão de obra nas mais diversas atividades econômicas. Dessa forma,

sua abolição teve várias consequências. Desde então não havia como renovar a po-

pulação escrava. Logicamente, o número de africanos tendeu a diminuir enquanto o

número de crioulos (negros nascidos no Brasil) tendeu a crescer na população cati-

va. O preço dos cativos aumentou rapidamente depois de 1850 e isso teve como

consequência a concentração dos escravos em mãos de um número cada vez mais

reduzido de proprietários, geralmente os mais ricos. (ALBUQUERQUE e FRAGA FI-

LHO: 2007, p.54).

Com o fim do “infame comércio”, o governo brasileiro e a sociedade escravis-

ta em geral foram obrigados a adotar estratégias que encaminhassem a questão

servil de forma a manter a continuidade das relações de dominação dos escravos e

seus descendentes sem desorganizar o sistema produtivo, assentado na agricultura

agroexportadora. E isso foi feito através de lei que visavam libertar os escravos de

forma gradual, sempre seguindo a lógica de manterem no cativeiro os escravos em

idade produtiva, como se pode perceber do exame das leis do ventre Livre (1871)

que dentre outras importantes medidas libertava o ventre das escravas, e Sexagená-

rios (1885), que tornava livres os cativos com mais de sessenta anos. Mas antes da

adoção dessas medidas o Brasil viu florescer o tráfico interno, que era praticado en-

tre as províncias do norte do país, àquela altura menos prósperas economicamente;

e o sul, cuja economia baseada no café se expandia vertiginosamente. Por mais três

18

Ver Bethell, Leslie. A abolição do tráfico..., op. cit., p. 354; Conrad, Robert. Tumbeiros..., op. cit., p. 189. 19

Marquese, Rafael de Bivar. A dinâmica da escravidão no Brasil: resistência, tráfico negreiro e alfor-rias, séculos XVII a XIX. Novos Estudos - CEBRAP. Nº 74, 2006, pp. 107-123

Page 14: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

décadas, aproximadamente 200 mil escravizados tiveram seus laços familiares rom-

pidos e foram força e violentamente transferidos para outras paragens.

Quer seja no tráfico atlântico, quer seja no circuito do tráfico interno, os afri-

canos e seus descendentes tiveram de lutar para sobreviver contra a morte precoce,

para adaptar-se a senhores desconhecidos e a costumes estranhos, bem como para

buscar a tão sonhada liberdade. Eles também procuraram lutar para manter a políti-

ca de alforrias e os direitos conquistados nas duras negociações cotidianas com

seus senhores, tais como maior autonomia no trabalho, o direito ao pecúlio e a for-

mação de laços afetivos e familiares. Com isso, também imprimiram suas visões so-

bre a escravidão e contribuíram para aceleram o seu fim.

Elaboração e Implementação da proposta de intervenção na Escola

Após a revisão bibliográfica, tivemos a ideia de desenvolver uma Unidade

Didática abordando a temática do fim do tráfico de escravos africanos para o Brasil

e o seu impacto na desagregação do sistema escravista. Recorremos à História te-

mática justamente pelo fato de as Diretrizes Curriculares de História para o Ensi-

no Médio enfatizarem que “a organização do trabalho pedagógico por meio de te-

mas históricos possibilita ao professor ampliar a percepção dos estudantes sobre

um determinado contexto histórico, sua ação e relações de distinção entre passado

e presente” (Diretrizes Curriculares de História do estado do Paraná, 2008: p.76).

Adotamos como ponto de partida o Livro Didático Público de História [vários auto-

res. – Curitiba: SEED-PR, 2006], especialmente o capítulo referente às “Relações de

trabalho” da Unidade Temática I: Trabalho Escravo e trabalho livre. Buscamos abor-

dar a temática escolhida a partir da análise de diferentes fontes documentais –

documentos manuscritos, impressos, imagéticos e audiovisuais. Neste sentido, a

intenção do trabalho com documentos em sala de aula é de desenvolver a autono-

mia intelectual adequada, que permite ao aluno realizar análises críticas da socieda-

de por meio de uma consciência histórica (Bittencourt, 2004). Por fim cabe ressaltar

que o material foi estruturado a partir das leituras e reflexões dos autores da chama-

da nova história social da escravidão. Em comum, estes estudos têm como premissa

a necessidade de destacar que, malgrado as injustiças derivadas do sistema escra-

vista, os milhares de escravos africanos que aqui desembarcaram forçosamente e

Page 15: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

seus descendentes contribuíram significativamente para a prosperidade econômica

e cultural do Brasil (REIS e SILVA: 1989).

Após a realização das leituras, fichamentos e discussões nos encontros de o-

rientação, o projeto de intervenção e a preparação o material didático começaram a

ser estruturados. Nesse sentido, foram muito importantes as discussões promovidas

através do Grupo de Trabalho em Rede (GTR), que constituem uma das atividades

da Turma do PDE/2010 e caracteriza-se pela interação à distância entre o Professor

PDE e os demais professores da Rede Pública Estadual, cujo objetivo é a socializa-

ção e discussão das produções e atividades desenvolvidas. Orientei um grupo de 15

professores da rede atuantes na área de História - ensino fundamental e médio -,

que se inscreveram para participaram desse projeto que trabalhou de forma prática

e dinâmica a História e cultura-afro brasileira, tal como preconiza as Leis 10. 639/03

e 11.645/08 e também a Deliberação CEE-PR nº 04/06.

Iniciamos o nosso GTR pelo fórum de apresentação. Nesta atividade, tivemos

a oportunidade de nos conhecermos, a partir da troca de informações como o nome,

a formação, o colégio, a cidade e o núcleo aonde cada um atuava. Esta etapa foi

muito importante para iniciarmos os nossos trabalhos e podermos interagir uns com

os outros. Na Temática 1 – (Projeto), realizamos um processo de aprofundamento

teórico. Aqui, apresentei o Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola com objeti-

vo promover entre os participantes deste GTR discussões e contribuições em rela-

ção ao tema estudado. No Fórum 1 os professores leram o projeto "O fim do tráfico

de escravos africanos para o Brasil e a crise do sistema escravista brasileiro (1850-

1888)" e procuraram refletir sobre qual o papel do tráfico para a reprodução do sis-

tema escravista brasileiro e como as sequelas do processo abolicionista se manifes-

tam nos dias atuais. No Diário Impressões sobre o projeto, os participantes procura-

ram refletir sobre: Qual a necessidade de rever o papel histórico desempenhado pe-

los escravos como poderosos agentes no processo de formação da sociedade brasi-

leira, superando antigas tendências historiográficas nas quais relegavam ao escravo

o papel de figurante, incapaz de interagir eficazmente no processo histórico? E qual

a contribuição de abordar a temática da escravidão na África e no Brasil para a edu-

cação pública paranaense?

Na Temática 2 (Produção- Didático Pedagógica) apresentei minha Produção

Didático-Pedagógica do PDE para que a mesma fosse lida, analisada, discutida. No

diário minhas considerações sobre a produção didático-pedagógica os professores

Page 16: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

refletiram sobre a relevância das atividades e ações propostas para a realidade de

sua escola e elaboraram um texto apresentando sugestões. Na Temática 3 – (Im-

plementação do Projeto) trabalhamos com a Implementação Pedagógica do Projeto

desenvolvido na escola ou local de trabalho. Foi muito importante socializar os a-

vanços e desafios enfrentados durante esta fase de Implementação Pedagógica.

Neste Fórum, relatei as experiências e os resultados observados no desenvolvimen-

to do meu Projeto na escola. E os participantes tiveram a tarefa de refletir e opinar

sobre os resultados que apresentei, trazendo contribuições para o debate. Este é um

momento foi muito importante para o desenvolvimento do meu trabalho no PDE.

As ações pedagógicas previstas no projeto foram desenvolvidas no Colégio

Estadual Dr. Duílio Trevisani Beltrão, junto aos alunos da turma do 1° ano de Histó-

ria do Ensino Médio, em contraturno no período da tarde, através do desenvolvimen-

to de 5 ações e 8 encontros de estudos, através de exposição, debate e elaboração

de das atividades sobre o tema, conforme se vê no cronograma abaixo:

1ª ação

20/07/2012:

Divulgação do Projeto no Colégio Estadual Dr. Duílio Trevisani Beltrão, durante for-

mação continuada para a Direção, Equipe Pedagógica, Professores e Funcionários,

objetivando o reconhecimento do mesmo por parte da comunidade escolar.

2ª ação

08/09/2012:

Divulgação do Projeto junto aos alunos do 1º A – Ensino Médio e abertura das ins-

crições para compor o grupo de estudos.

3ª ação:

15/09/12:

Socialização do Projeto aos alunos inscritos no grupo de estudos. Nesse dia compa-

receram 16 alunos no Colégio, no período das 15:30 às 16:30 horas, sendo que ini-

cialmente 21 alunos tinham dado o nome para participar do grupo de estudos e le-

vado uma ficha de inscrição e autorização para os pais assinarem. Foi realizada

uma técnica de integração e motivação e depois foi explicado aos alunos como seri-

am feitos os estudos. Os alunos se comprometeram em participar do projeto com

responsabilidade e demonstraram bastante interesse. Em seguida, foi decidido qual

Page 17: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

seria o melhor dia e horário para os estudos: quartas-feiras, no horário das 17:00 às

19:00 horas.

Os alunos faltosos justificaram por que não compareceram. Alguns alegaram que os

pais não permitiram participarem projeto no contraturno; outros disseram que iriam

participar de outros projetos PDE, que também seriam desenvolvidos na escola; e

outros ainda por motivo de estarem trabalhando ou fazendo cursos.

As maiores dificuldades encontradas na implementação foi exatamente a formação

do grupo de estudos. Por serem alunos de ensino Médio, os estudantes possuem

muitos compromissos, tais como cursos e trabalhos, sendo muito difícil conciliar um

horário em comum para todos. A solução foi um horário intermediário entre o perío-

do da tarde e da noite.

4ª ação:

De 21 de Setembro a 16 de Novembro de 2011:

Realização de encontros do grupo de estudos com a utilização do Material Didático

elaborado no formato de Unidade Didática. A ação foi planejada para ser desenvol-

vida em 8 encontros de estudos.

1º Encontro:

21/09/2011

Neste encontro foi realizada a introdução do assunto: O fim do tráfico de escravos e

a crise do sistema escravista brasileiro, chamando a atenção para o fato de que o

Brasil é o segundo país com maior população negra do mundo, perdendo apenas

para a Nigéria. Após os alunos assistiram o vídeo sobre o Poeta Castro Alves e ouvi-

ram a versão narrada do Poema Navio Negreiro, foi realizado um diálogo questio-

nando quais os sentimentos que tiveram ao ver as cenas. Alguns descreveram os

sentimentos de tristeza, dor, sofrimento, dó; outros descreveram medo, angústia,

raiva, solidão e também observaram presentes o preconceito e o racismo, a miséria

e muita desgraça. Comentamos as ideias centrais do poema, a visão que Castro

Alves tinha a respeito do tráfico e da escravidão, sobre a oposição do poema entre o

momento em que os escravos viviam felizes na África e o sofrimento do tráfico. Os

alunos anotaram as palavras desconhecidas encontradas no poema e pesquisaram

no laboratório de informática. Dando sequencia, em duplas, eles responderam as

atividades sobre o poema.

Page 18: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

2º Encontro

28/09/2011:

No segundo encontro foi realizada a localização no tempo e no espaço do tema “O

fim do tráfico de escravos africanos para o Brasil e a crise do sistema escravista bra-

sileiro (1850-1888)”. Foi apresentado o conteúdo sobre as leis do tráfico e o mapa

sobre as rotas do tráfico e para finalizar os alunos confeccionaram um mapa mundi,

utilizando EVA, e com uma corda marcaram a rota dos escravos. Foi uma atividade

muito interessante, os alunos participaram demonstrando grande interesse.

3º Encontro

05/10/2011:

Neste encontro foi introduzido o conteúdo sobre: Quem eram os traficantes de es-

cravos? Foi realizado a exposição do conteúdo, diálogo e análise de imagens da

biografia de Francisco Félix de Sousa, considerado um dos maiores traficantes de

escravos da época. Os alunos se mostraram bastantes interessados na história do

traficante e fizeram muitas perguntas.

Depois, foi trabalhado o conteúdo sobre a escravidão africana. Iniciei passando um

vídeo com o trecho do filme Amistad, aonde Cinque, o personagem central, conta

sua história desde quando vivia na África até a captura e o cativeiro. Logo após foi

realizado um diálogo sobre o que caracteriza a escravidão de uma pessoa. Os alu-

nos levantaram hipóteses sobre o que significa a escravidão do ponto de vista do

escravizado e quais as diferenças que e existiam entre o escravo que vivia no local

onde nasceu e o escravo transformado em mercadoria e vendido em terra estrangei-

ra. Por último os alunos realizaram atividades sobre o que foi discutido através da

leitura e análise do documento 1: A escravidão na África.

4º Encontro

10/10/21011:

Continuando as atividades sobre o documento 1: A escravidão africana, os alunos

foram para o laboratório de informática aonde realizaram pesquisa na internet em

reportagens, artigos, jornais e revistas sobre a existência de trabalho escravo no

Brasil e as punições previstas em lei para quem utiliza a mão de obra escrava no

Brasil atualmente. Após as pesquisas, cada aluno apresentou para o grupo o que

pesquisou e por último responderam as atividades 3 e 4 do documento.

Page 19: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

5º Encontro

19/10/21011:

Foi realizado o estudo sobre o conteúdo a travessia atlântica, foi feito a exposição do

conteúdo, diálogo e análise de documentos e imagens que mostram o dramático

deslocamento forçado que por mais de três séculos, uniu para sempre o Brasil à Á-

frica. Os documentos contam detalhes das viagens desde o aprisionamento feito na

África, as longas distâncias que os escravos apresados eram obrigados a percorrer

ainda no interior africano, os portos de onde os navios saiam, as condições das em-

barcações, a duração das viagens, a alimentação, as doenças, a taxa de mortalida-

de, a faixa etária, a preferência pelos escravos do sexo masculino, o batismo, a

mercadoria jogada ao mar, os portos onde os sobreviventes desembarcavam no

Brasil, o mercado do Valongo no Rio de Janeiro.

Analisamos a gravura “Negros no porão do Navio”, de Rugendas, onde os africanos

são mostrados sendo transportados para o Brasil nos porões dos navios, onde se

achavam empilhados (observar as “prateleiras”), acorrentados e vigiados entre a

“mercadoria”. Muitos morriam antes de chegar ao destino como revela a ilustração.

O documento 2: Mercado na rua do Valongo, de Debret, retrata os africanos desem-

barcados no Brasil no mercado à espera de compradores. Dá para observar o efeito

do tráfico sobre os africanos analisando as péssimas condições físicas dos negros.

Por último foi exposto o conteúdo: os tipos de escravos e analisadas gravuras em

que o artista Debret retrata diferentes povos africanos que foram trazidos para o

Brasil.

6º Encontro

26/10/2011:

Após lerem os textos e analisarem as imagens e documentos que relatam como e-

ram as viagens nos navios negreiros, os alunos elaboraram em grupos um diário de

bordo, descrevendo uma viagem realizada em um tumbeiro.

Esta foi uma atividade realizada com bastante interesse pelos alunos. Eles escolhe-

ram o ponto de partida na África e o destino de chegada aqui no Brasil, analisando

novamente o mapa sobre as rotas e gostaram muito de imaginarem-se em funções

no navio como capitão, tripulação, escravos. E se aventuraram neste desafio de en-

Page 20: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

frentarem o mar. No final cada grupo apresentou com muito entusiasmo o seu diário

aos demais alunos.

7º Encontro

31/10/2011:

Por que o tráfico acabou em 1850? O conteúdo foi apresentado aos alunos através

de aula expositiva e diálogo e estes puderam constatar que em meados do século

XVIII a escravidão moderna começa a ser combatida por indivíduos que considera-

vam um crime contra a humanidade, dentre outros motivos. A Inglaterra foi a nação

que mais se empenhou no combate ao fim do tráfico e foi a partir da pressão britâni-

ca que em 4 de setembro de 1850 o governo aprovou a Lei Eusébio de Queiroz, que

proibia definitivamente o tráfico de escravos africanos para o Brasil. Assim, depois

de mais de trezentos anos chegava ao fim o comércio de almas.

Neste encontro também foi dialogado sobre a questão de que ainda nos dias de hoje

o tráfico de seres humanos é uma realidade e que a cada ano milhares de pessoas

são traficadas em todo o mundo. Contudo, as razões que motivam esse crime atu-

almente são bem diferentes das razões na época do tráfico de africanos. Em segui-

da foi realizada a leitura do texto: Conheça o perfil do tráfico de seres humanos no

Brasil e após diálogo os alunos responderam as atividades propostas.

O que motiva o tráfico de seres humanos nos dias de hoje?

Qual o perfil das pessoas traficadas?

Aponte semelhanças e diferenças entre o tráfico dos africanos e o tráfico humano

atual.

Qual a sua opinião sobre as atitudes tomadas pelo governo brasileiro para com-

bater o tráfico humano nos dias atuais? De sugestões de atitudes que você acha

que poderiam ser tomadas.

Existe na região em que você mora algum tipo de trabalho que se assemelhe as

situações citadas nas reportagens acima. Comente.

8º Encontro

09/11/2011 e 16/11/2011

Atividade a história vai ao cinema.

Na sala de vídeo os alunos foram reunidos para uma sessão de cinema. Assistiram

o filme Amistad, de Steven Spielberg. Baseado em fatos reais, o filme relata a histó-

Page 21: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

ria de um grupo de escravos africanos que se rebelam e se apoderam do controle do

navio que os transporta e tentam retornar à sua terra de origem. Reunidos em gru-

pos, os alunos descreveram e debateram suas percepções sobre o filme e dos fatos

históricos, seguindo para tanto um roteiro de questões.

5ª ação

25/11/2011:

Avaliação e Socialização do Projeto através da apresentação dos trabalhos produzi-

dos pelos alunos, para levar ao conhecimento de toda a comunidade escolar o resul-

tado do projeto desenvolvido.

Considerações Finais

O tráfico de escravos africanos foi o aspecto mais terrível da escravidão mo-

derna, pois provocou a escravização e a morte de milhões de pessoas no continente

africano bem como fora dele. O Brasil tomou parte nesse triste episódio e por mais

de trezentos anos o tráfico de escravos se constituiu a mola mestra do sistema es-

cravista brasileiro. A sua supressão definitiva só aconteceu após quase meio século

de pressões, lutas e negociações entre governos, traficantes e senhores de escra-

vos.

Com o fim do “infame comércio”, o governo brasileiro e a sociedade escravis-

ta em geral foram obrigados a adotar estratégias que encaminhassem a questão

servil de forma a manter a continuidade das relações de dominação dos escravos e

seus descendentes sem desorganizar o sistema produtivo, assentado na agricultura

agroexportadora. Por sua vez, os escravos procuraram lutar para manter a política

de alforrias e os direitos conquistados na dura negociação com seus senhores. Des-

sa luta de classe adveio a abolição do sistema escravista no Brasil, em 1888.

Após a realização das atividades propostas na Unidade Temática, esperamos

que os alunos tenham refletido criticamente sobre as marcas da escravidão na soci-

edade brasileira bem como tenham se percebido como sujeitos ativos na construção

de práticas sociais que valorizem o multiculturalismo e o respeito à diversidade cultu-

ral existente em nosso pais.

Page 22: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

Agradecimentos

Ao longo do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) 2010, partici-

pamos de diversas atividades e em todas elas tivemos a oportunidade de estabele-

cer novos vínculos de trabalho e de parceria e ao mesmo tempo reforçar os velhos

laços de amizade e de convívio acadêmico. Sendo assim, agradeço a toda minha

família, especialmente ao meu filho Rafael e meu esposo Celso, que compreende-

ram as ausências da mãe e esposa, e a minha irmã Célia, que em muitos momentos

se dedicou a cuidar do meu filho, para que eu pudesse concluir o curso.

Agradeço, de maneira especial, ao meu orientador Prof. Dr. Ricardo Tadeu

Caires Silva, por ter acolhido minha intenção de pesquisa, com competência, inte-

resse e dedicação e por ter contribuído com sua significativa orientação para que

minhas atividades no PDE adquirissem a qualidade teórica e cientifica exigida pelo

Programa.

Agradeço as amigas Gislane e Lucelma, pelo convívio durante todas as via-

gens e estudos, pelos incentivos dados e pelas horas agradáveis que passamos jun-

tos.

A todos os alunos e professores envolvidos na elaboração e desenvolvimento

das atividades do projeto, meus agradecimentos.

Por fim, meus agradecimentos à Prof.ª Nilva de Oliveira Brito dos Santos –

coordenadora do PDE na FAFIPA, e Prof.ª Maria Ilda Tanaka, coordenadora do PDE

no NRE de Paranavaí, pela preciosa atenção, compromisso e gentileza que tiveram

não só comigo, mas certamente com todos os professores PDE.

Page 23: O FIM DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS E … · gináveis.3 Destes 12 milhões de escravizados, o Brasil recebeu quase a metade, ou se-ja, mais de cinco milhões de homens, mulheres

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, Wlamyra; FRAGA FILHO, Walter. Uma História do Negro no Bra-sil. Salvador/. Brasília: CEAO-UFBA/Fundação Cultural Palmares, 2006. ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul séculos XVI e XVII. São Paulo: Cia. das Letras, 2000. BETHELL, Leslie. A abolição do tráfico de escravos no Brasil: a Grã-Bretanha, o Brasil e a questão do tráfico de escravos, 1807-1869. (trad. port.) São Paulo/Rio de Janeiro, Edusp/Expressão e Cultura, 1976. CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da es-cravidão na Corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. CONRAD, Robert E. Tumbeiros. O tráfico de escravos para o Brasil. (trad.port.) São Paulo, Brasiliense, 1985. FLORENTINO, Manolo Garcia. Em Costas Negras: Uma História do Tráfico Atlântico de Escravos entre a África e o Rio de Janeiro (sécs. XVIII-XIX). Rio de Janeiro, Ar-quivo Nacional, 1995. GRADEN, Dale T. “Uma lei… até de segurança pública”: resistência escrava, ten-sões sociais e o fim do tráfico internacional de escravos para o Brasil (1835-1856)”. Estudos afro-asiáticos (30), 1996, pp. 113-149 HORNE, Gerald. O sul mais distante. Os Estados Unidos, o Brasil e o tráfico de es-cravos africanos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. KLEIN, Herbert S. Novas interpretações do tráfico de escravos do Atlântico. Rev. hist. [online]. 1989, n.120, pp. 3-25. MARQUESE, Rafael de Bivar. A dinâmica da escravidão no Brasil: resistência, tráfi-co negreiro e alforrias, séculos XVII a XIX. Novos Estudos - CEBRAP. Nº 74, 2006, pp. 107-123 MATTOSO, Kátia de Queirós. Ser escravo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2001. PARANÁ, Secretaria de Estado Da Educação. Diretrizes Curriculares Estaduais para o Ensino de História. Disponível em: HTTP:// www.diadiaeducacao.pr.gov.br. Aces-sado em 21 de agosto de 2010. REIS, João José; Gomes, Flávio dos Santos; Carvalho, Marcus J. M. de. O alufá Ru-fino: tráfico, escravidão e liberdade no Atlântico negro (c. 1822- c.1853). São Paulo: Companhia das Letras, 2010. REIS, João J. e SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. REDIKER, Marcus. O navio negreiro. Uma história humana. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. RODRIGUES, Jaime. De Costa a Costa: Escravos, Marinheiros e Intermediários do Tráfico Negreiro de Angola ao Rio de Janeiro (1780-1860). São Paulo: Companhia das Letras, 2005. ________________. O infame comércio. Propostas e experiências no final do tráfico de africanos para o Brasil (1800-1850). Campinas, SP: Unicamp/Cecult, 2000. SILVA, Ricardo Tadeu Caires. Silva, Caminhos e descaminhos da abolição: escra-vos, senhores e direitos nas últimas décadas da escravidão (1850-1888). Tese de Doutorado. Curitiba, Pr: UFPR, 2007.