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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

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FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA

TURMA - PDE/2013

Título: O aperfeiçoamento da leitura e da escrita por meio da produção de textos dos gêneros entrevista, biografia e autobiografia através de histórias familiares.

Autor Marta Maria Tomazi Battisti

Rua dos professores, 45.

[email protected]

Disciplina/Área (ingresso no PDE) Língua Portuguesa

Escola de Implementação do

Projeto e sua localização

Colégio Estadual do Campo Heitor Cavalcante de Alencar Furtado –

EFM.

Rua França, 603, Jotaesse

Município da escola Município de Tupãssi

Núcleo Regional de Educação Assis Chateaubriand

Professor Orientador Profa. Dra. Mariangela Garcia Lunardelli

Instituição de Ensino Superior Universidade do Oeste do Paraná – Unioeste

Relação Interdisciplinar

(indicar, caso haja, as diferentes

disciplinas compreendidas no

trabalho)

Resumo

(descrever a justificativa, objetivos

e metodologia utilizada. A

informação deverá conter no

máximo 1300 caracteres, ou 200

palavras, fonte Arial ou Times

New Roman, tamanho 12 e

espaçamento simples)

A proposta de trabalho para este Projeto de Intervenção Pedagógica

é construída com base nos princípios de aprendizagem em Língua

Portuguesa. O mesmo será desenvolvido no Colégio Estadual do

Campo Heitor Cavalcante de Alencar Furtado, no 9º ano do Ensino

Fundamental, por meio de um movimento dialético-dialógico

fundamentado em bases bakhtinianas. Acompanhando, observando

as dificuldades, falta de motivação, interesse e valorização dos

alunos pela escrita, também pensando na importância e influência

que a mesma exerce nas demais disciplinas e, por fim, percebendo

o gosto dos alunos por histórias verídicas, propõe-se um

aprofundamento teórico-metodológico no trabalho com a escrita em

que serão desenvolvidas diferentes estratégias para melhorar a

produção textual dos estudantes. O objetivo do trabalho é o

aprimoramento dos gêneros discursivos a partir da produção escrita

de memórias familiares. Com isso, pretende-se aperfeiçoar a leitura

e a escrita por meio de textos do gênero entrevista, biografia e

autobiografia nos quais será possível perceber as marcas

linguístico-enunciativas dos autores envolvidos. Do ponto de vista

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social, a produção escrita através de memórias permitirá o acesso e

a socialização das formas de vida da comunidade, possibilitando a

contextualização de diferentes momentos históricos por meio da

interação verbal.

Palavras-chave (3 a 5 palavras) gêneros discursivos; leitura; escrita; memórias

Formato do Material Didático Unidade didática

Público Alvo

(indicar o grupo para o qual o

material didático foi desenvolvido:

professores, alunos,

comunidade...)

9º ano – Ensino Fundamental

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APRESENTAÇÃO

A proposta elaborada nesta Unidade Didática está voltada ao cotidiano

escolar e ao aprimoramento dos gêneros discursivos a partir da produção

escrita de memórias familiares. É uma produção que resulta dos estudos

realizados no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) 2013, e visa

contribuir para a melhoria da qualidade do ensino, a partir de atividades de

reflexão, leitura e escrita por meio da produção de textos dos gêneros

entrevista, biografia e autobiografia nos quais será possível perceber as

marcas linguísticas e enunciativas dos autores envolvidos, permitindo o acesso

e a socialização das formas de vida da comunidade e possibilitando a

contextualização de diferentes momentos históricos por meio da interação

verbal. De acordo com Clara, Altenfelder e Almeida (2012), escrever se

aprende pondo-se em prática a escrita, escrevendo-se em todas as situações

possíveis. Assim sendo, o trabalho com a produção desses gêneros será

positivo se contribuir para a qualidade do processo de ensino e aprendizagem

em Língua Portuguesa.

As aulas serão desenvolvidas no Colégio Estadual do Campo Heitor

Cavalcante de Alencar Furtado, no período de fevereiro a julho de 2014, no 9º

ano do Ensino Fundamental, contando 32 aulas.

Toma-se como marco referencial epistemológico a teoria dialética do

conhecimento, tanto para a fundamentação metodológica e planejamento de

ensino como a ação docente-discente. De acordo com Lunardelli (2012),

apoiada em Gasparin (2003), o ponto de partida dessa metodologia não será a

escola, nem a sala de aula, mas sim a realidade em que o aluno está inserido.

Para tanto, a responsabilidade do professor e a do aluno tornam-se

fundamentais, pois juntos, como co-autores do processo ensino-aprendizagem,

vão descobrir os objetivos reais dos conteúdos propostos pela escola através

das três fases do método dialético de construção do conhecimento escolar:

prática, teoria, prática.

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Parte-se, portanto, da Prática Social Inicial, do conhecimento que os

educandos já possuem sobre o conteúdo pretendido; vivência cotidiana do

mesmo e os seus desafios: o que gostaria de aprender mais? Em seguida,

problematiza-se, discutem-se os principais problemas postos pela prática social

e pelo conteúdo com a proposição de mostrar a relevância de conhecer as

histórias dos familiares através de suas memórias e, para isso, propõe-se a

leitura de três fragmentos dos livros: Anicheto Battisti - Herói da II Guerra, O

Diário de Anne Frank e o Diário de Zlata. Propõe-se também assistir a e

comentar o filme Encontrando Forrester. O trabalho será instrumentalizado com

ações docentes e discentes por meio de entrevistas com bisavós, avós e pais

dos alunos que culminarão nas produções de textos dos gêneros biografias e

autobiografias. Em seguida, serão realizadas as reescritas dos textos em forma

de pequenas oficinas, até sua versão final.

Com isso, pretende-se atingir a Catarse, uma nova postura do aluno

diante do conteúdo estudado e a construção de nova compreensão da

realidade. Por fim, chega-se à Prática Social Final: tendo o conhecimento

teórico que fundamenta a sua realidade, o educando pode posicionar-se de

maneira diferente quanto à prática, pois ele vai entendê-la de outra maneira e

seu agir, a partir disso, passa a ter perspectiva de transformação da realidade,

ou seja, a construção de uma nova totalidade concreta.

REFERÊNCIAS:

CLARA, Regina Andrade; ALTENFELDER, Anna Helena; ALMEIDA, Neide. Se

bem me lembro... Caderno do professor: orientação para produção de texto.

São Paulo; Cenpec: Fundação Itaú, 2012. (Coleção Olimpíadas da Língua

Portuguesa).

GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica.

Campinas, SP: Autores Associados, 2003.

LUNARDELLI, Mariangela Garcia. Um Haicai para o estágio, um estágio

para o haicai: diálogos sobre o gênero discursivo e formação docente inicial.

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2012. 346 p. Tese (Doutorado em Estudos da Linguagem) Universidade

Estadual de Londrina, Londrina, 2012. P. 56-70.

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ETAPA 1 – PRÁTICA SOCIAL INICIAL (1 aula)

Nesta etapa do trabalho, parte-se do conhecimento que o aluno já

possui sobre o conteúdo pretendido; a vivência cotidiana frente a ele e os

desafios que se propõem. Também o que gostaria de aprender mais sobre as

questões levantadas.

Objetivo: Apresentar o projeto de Intervenção Pedagógica e seu

desenvolvimento.

Desenvolvimento: (uso de slides)

Acolher a direção do colégio, equipe pedagógica e alunos do 9º ano.

Expor de maneira simples o problema que gerou a proposta para este Projeto

de Intervenção Pedagógica. As questões com a produção escrita envolvem

toda a escola nas respectivas disciplinas, pois, para dominar os conhecimentos

científicos, ler, interpretar e escrever é essencial. Quando isso não ocorre,

podem-se observar vários problemas como no levantamento realizado no

Colégio Estadual do Campo Heitor Cavalcante de Alencar Furtado, através de

alguns indicadores que avaliam o desempenho dos alunos como a Prova Brasil

e o IDEB, cujos resultados constam na tabela abaixo:

DESEMPENHO DA ESCOLA ESTADUAL DO CAMPO HEITOR CAVALCANTE DE ALENCAR FURTADO NA PROVA BRASIL-9º ANO.

ANO MÉDIA

2009 242,58

2011 258,0

IDEB

OBSERVADO

METAS

PROJETADAS

ANO NOTA ANO NOTAS

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2009 4.8 2013 5.1

2011 4.8 2015 5.4

2021 6.0

Fonte: http://sistemasprovabrasil2.inep.gov.br.06\06\2012

O Plano de Desenvolvimento estabelece como metas que, até 2022, o

IDEB do Brasil para os anos iniciais seja 6,0.

Observou-se também o Relatório de Acompanhamento Bimestral do 9º

ano nos anos anteriores, constatando-se que, em 2011 e 2012, entre 16

alunos, 10 obtiveram em Língua Portuguesa notas que oscilaram em 41 a 60.

Dessa forma, foi elaborado este Projeto de Intervenção Pedagógica,

que visa aos seguintes objetivos:

Objetivo Geral: Aperfeiçoar a leitura e a escrita por meio da produção

de textos dos gêneros entrevista, biografia e autobiografia através de histórias

familiares.

Objetivos específicos:

1- A partir do conhecimento do gênero entrevista, entrevistar

familiares para conhecer suas memórias.

2- Ler fragmentos de memórias para perceber as

características do texto proposto.

3- Reconhecer as especificidades da narrativa e os conectivos

que darão sentido ao texto.

4- Produzir, a partir das memórias, textos nos gêneros

biografia e autobiografia.

Cronograma das ações:

Nº PERÍODO AÇÃO

1 Fevereiro

2014

ETAPA 1: Prática Social Inicial do Conteúdo (1 aula)

Apresentar para alunos, Equipe Pedagógica e Direção, a proposta desta Produção Didático-

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Pedagógica.

2 Fevereiro e março

2014

ETAPA 2: Problematização (5 aulas)

Assistir ao filme Encontrando Forrester, ler e comentar os livros de memórias: Anicheto Battisti - Herói da II Guerra, O Diário de Anne Frank e o Diário de Zlata.

3 Março, abril e maio

2014

ETAPA 3: Instrumentalização (6 aulas em cada oficina).

Nesta etapa, serão feitas entrevistas e biografias dos bisavós, avós, pais e, por fim, autobiografia. Ocorrerá em quatro pequenas oficinas.

4 Maio e junho

2014

ETAPA 4: Catarse (3 aulas)

Encerramento com leitura, exposição e coletânea das biografias e autobiografias.

5 Junho

2014

ETAPA 5: Prática Social Final.

Essa etapa compreende as novas atitudes e competências esperadas dos alunos.

Proposta: Enviar a coletânea para a biblioteca da escola, município, jornais locais e regionais. Aqui outro plano de trabalho com produção de memórias pode ser pensado.

6 Fevereiro a junho

2014

AVALIAÇÃO: Deve atender as várias etapas do projeto e às suas dimensões e objetivos.

Atividades:

Propor um momento de questionamentos e opiniões onde direção,

equipe pedagógica e alunos possam, com a mediação do professor(a), expor

sobre suas dificuldades quanto à produção escrita e à importância da mesma

para a aquisição do conhecimento científico nas demais disciplinas e nas

relações sociais.

Incentivar para que a maioria possa falar, isso ajudará durante o

desenvolvimento do trabalho.

Agradecimentos e encerramento da aula.

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REFERÊNCIAS:

Desempenho da Escola Estadual do Campo Heitor Cavalcante de Alencar

Furtado. Disponível em: http://sistemasprovabrasil2.inep.gov.br. Acesso em

06/06/2012.

PARANÁ. RELATÓRIO DE ACOMPANHAMENTO BIMESTRAL: Turma B.

Colégio Estadual do Campo Heitor Cavalcante de Alencar Furtado, 2012.

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ETAPA 2: PROBLEMATIZAÇÃO (5 aulas)

Processo de busca e de investigação com o objetivo de solucionar os

problemas elencados. É o momento em que a prática social é posta em

questão, através de análise e questionamento, levando em consideração o

conteúdo a ser trabalhado. Essa etapa será dividida em dois momentos: o

primeiro momento refere-se ao filme escolhido e o segundo momento é

dedicado à leitura de fragmentos de memórias.

Momento 1 - FILME: ENCONTRANDO FORRESTER1

Conteúdo: Filme Encontrando Forrester.

Objetivo: Refletir como a escrita pode melhorar e mudar a vida do cidadão.

Desenvolvimento: Organização do ambiente e acomodações para os alunos e

equipe pedagógica assistirem ao filme.

Atividades:

1) Apresentar informações sobre o filme Encontrando Forrester, com uso de

slides:

O filme aborda o conflito de um jovem de 16 anos, negro e morador do

Bronx, em Nova York, que tem o dom da escrita, mas esconde isso de todos e

deixa sobressair o seu talento para o basquete, pois assim é bem aceito pelos

colegas. O enredo mostra ao telespectador que escrever não é apenas como

muitos pensam, somente uma fonte de inspiração, ou que nascemos com este

dom. Mas que é, na verdade, um processo que exige muita dedicação, esforço,

técnica e treinamento.

Também apresenta como os conflitos gerados pelos preconceitos racial

e social, como as duras críticas podem bloquear um autor. Jamal Wallace, ao

ingressar na escola de Manhattan, através de uma bolsa graças às suas notas

1 A palavra Forrester é encontrada também como Forester.

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da escola antiga e à habilidade no basquete, passa a sofrer preconceito tanto

pelos alunos quanto pelo professor de Literatura que acreditava que seus

trabalhos fossem plagiados.

No bairro onde mora e joga com amigos, o rapaz encontra Willian

Forrester (romancista premiado, interpretado por Sean Connery); desenvolve-

se entre eles, além da amizade, a troca de ensinamentos da arte de escrever e

de lições de vida que ajudam o rapaz na realização de seu sonho de ser

escritor e ultrapassar as barreiras do preconceito e da discriminação. Através

da escrita, Wallace passa a expressar seus sentimentos e compreender seu

meio social onde as relações eram difíceis.

Fonte: www.educartebrazil.blogspot.com. Acesso em 25/08/2013.

2) Expor, através de slides, algumas questões norteadoras relacionadas ao

filme:

- Como o preconceito sofrido por Jamal interferiu em sua vida?

- Quais aspectos positivos a escrita traz para a vida da personagem?

- Em que aspectos a escola ou o professor pode prejudicar o processo

de escrita dos alunos?

3) Após assistir ao filme, retomar as questões anteriores contextualizando com

a realidade da escola.

REFERÊNCIA:

Encontrando Forrester. Direção: Gus Van Sant, Roteiro: Mike Rich. EUA,

2000, 136 min, color. Elenco: Sean Connery, F. Murray Abraham, Anna

Paquim, Robert Brown, Michael Nouri, April Grace, Matt Damon, Busta

Rhymes.

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Momento 2 - LEITURA E ORALIDADE

Conteúdo: leitura de fragmentos dos livros “Herói da II Guerra”, “O Diário de

Anne Frank” e o “Diário de Zlata”.

Objetivo: Entender as especificidades dos textos e contextualizar diferentes

realidades da guerra.

Para saber mais:

Segundo o Dicionário UNESP do Português Contemporâneo (2011, p.

906), MEMÓRIA é “a faculdade de reter ideias, impressões imagens ou

conhecimentos adquiridos anteriormente”. No mesmo dicionário, encontramos

que MEMÓRIAS são “relatos em que alguém conta sua própria vida ou fatos

que vivenciou ou presenciou”. Ou ainda “o passado histórico, que deve ser

retido por alguma forma de documentação”.

Fragmento 01:

Tínhamos agora, novamente, a tarefa de limpar as minas que o inimigo

semeara por toda a região. Meu pelotão foi dividido em dois. Meu grupo ficou

no acampamento onde se reuniram os outros pelotões e nós passamos aos

soldados as instruções sobre como identificar um terreno minado evitando, com

isso, que pisassem sobre as bombas. A preocupação era impedir que mais

soldados fossem mutilados pelas explosões.

O segundo grupo, de cinco soldados, acompanhado de nosso

sargento, seguiu de jipe até a estrada além da ponte, a fim de retirar as minas.

Depois de algum tempo de trabalho, várias minas retiradas e dispostas

cuidadosamente no jipe, ao fechar a caixa que as condicionava, alguém bateu

a tampa com muita força: uma mina ativada caiu sobre as outras e deu-se uma

terrível explosão. Nada sobrou do jipe. Os quatro companheiros do meu

pelotão foram mortos, restando vivo somente o sargento que, no momento, se

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encontrava afastado. Mesmo para homens treinados, dispostos a enfrentar os

piores riscos, foi uma cena pavorosa. O comando interrompeu o trabalho por

algum tempo. Depois da tragédia, o sargento e eu fomos concluir o serviço na

estrada. Tarefa duríssima, pois nas árvores ainda havia restos dos nossos

companheiros. Nunca consegui esquecer aquilo.

BATTISTI, Marta Maria Tomazi. Anicheto Battisti - Herói da II Guerra.

Maringá: Massoni, 2008. p. 36.

Contexto: O PRACINHA Anicheto Battisti lutou na II Guerra Mundial ao

lado dos aliados contra o Regime Nazista de Hitler. Embarcou a 22 de

setembro de 1944 no navio General Meighs com destino à Itália, onde

permaneceu por um ano no pelotão de minas exercendo a função de

SAPADOR (atividade que consistia em desmontar as bombas), trabalho que

exigia coragem, determinação e sangue frio. É uma história verídica relatada

pelo soldado aos 87 anos à sua nora e professora, Marta Maria Tomazi Battisti,

em 2007.

Fragmento 02:

SEGUNDA-FEIRA, 26 DE JULHO DE 1943.

Querida Kitty

Ontem foi um dia muito tumultuado, e ainda estamos nervosos. Na

verdade, você pode se perguntar se há ao menos um dia que se passe sem

algum tipo de agitação.

A primeira sirene de alarme tocou de manhã, enquanto ainda

estávamos tomando café, mas não ligamos, porque só significava que os

aviões estavam atravessando o litoral. Tive uma dor de cabeça terrível, por isso

me deitei durante uma hora depois do desjejum e fui para o escritório por volta

das duas. Às duas e meia Margot havia terminado seu trabalho de escritório e

estava arrumando as coisas quando as sirenes começaram a uivar. Por isso

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nós duas corremos escada acima. Foi bem na hora, porque cinco minutos

depois os canhões troavam tão alto que fomos para o corredor. A casa tremia e

as bombas continuavam caindo. Eu estava agarrada com minha sacola de

fuga, mais por querer segurar alguma coisa do que porque queria fugir. Sei que

não podemos sair daqui, mas, se tivermos que fazer isso, nos avistarem na rua

seria tão perigoso quanto sermos apanhados num ataque aéreo. Depois de

meia hora o ruído dos motores desapareceu e a casa recomeçou a zumbir de

atividade. Peter saiu de seu posto de vigia no sótão da frente, Dussel continuou

no escritório da frente, a Sra. Van Daan sentia-se mais segura no escritório

particular, o Sr. Van Daan ficou vigiando no sótão pequeno, e nós, que

estávamos no patamar, nos espalhamos para ver as colunas de fumaça

subindo do porto. Em pouco tempo o cheiro de fumaça estava em toda a parte,

e lá fora parecia que a cidade permanecia envolvida numa névoa espessa.

Um grande incêndio assim não é uma visão agradável, mas felizmente,

para nós, o bombardeio havia terminado, e voltamos às nossas tarefas. Assim

que começou o jantar, soou outro alarme antiaéreo. A comida estava boa, mas

perdi o apetite no momento em que ouvi a sirene. No entanto, nada aconteceu,

e 45 minutos depois ouvimos o toque dizendo que o perigo passara. Depois de

os pratos serem lavados, outro alarme antiaéreo, tiros de canhões e enxame

de aviões. Ah, meu Deus, duas vezes num dia, pensamos. Isso é demais. De

pouco adiantou, porque mais uma vez as bombas choveram, dessa vez do

outro lado da cidade. De acordo com os noticiários ingleses, o aeroporto

Schiphol fora bombardeado. Os aviões mergulhavam e subiam, o ar zumbia

com o barulho dos motores. Foi muito assustador, e o tempo todo eu ficava

pensando: “Lá vem ela, é essa”.

FRANK, Anne. O Diário de Anne Frank: edição integral. Tradução de Ivanir

Alves Calado. 34. ed. Rio de Janeiro: Record, 2012.

Contexto: Anne Frank, uma garota judia de 13 anos, relata em um diário

suas memórias da II Guerra a partir do momento em que os nazistas invadem a

Holanda. Sua família foge de Amsterdã e se refugiam em um sótão que passa

a ser chamado por ela de “Anexo Secreto”, conseguem esconder-se durante

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dois anos até serem delatados a Gestapo e levados a Campos de

Concentração.

Fragmento 03:

Segunda-feira, 15 de março de 1993.

Dear Mimmy,

Fiquei doente de novo. Estou com dor de garganta, espirro, tusso. E a

primavera está chegando. A segunda primavera de guerra. Sei por causa do

calendário, pois a primavera é uma coisa que eu não vejo, que não dá para ver

porque não sinto. Só vejo uns pobres infelizes que continuam arrastando água

e outros ainda mais infelizes, homens jovens, sem um dos braços ou uma das

pernas. São os que tiveram a sorte - ou o azar - de não serem mortos.

Não há mais árvores que a primavera desperta, não há mais pássaros,

a guerra destruiu tudo. Não há mais gorjeios primaveris. Não restam nem os

pombos, símbolo de Sarajevo. Não há mais gritaria de criança, não há mais

brincadeiras. As crianças não parecem mais crianças. Tiraram a infância delas,

e sem infância não há criança. Tenho a impressão de que Sarajevo está

morrendo lentamente, desaparecendo. É a vida que está desaparecendo.

Então, como eu poderia sentir a primavera, ela que desperta a vida, se aqui

não existe mais vida, se aqui tudo parece morto?

Estou triste de novo, Mimmy. Mas você deve saber que é cada vez

mais frequente eu estar triste. Fico triste quando penso, e preciso pensar.

Sua Zlata.

FILIPOVIC, Zlata. O Diário de Zlata: a vida de uma menina na guerra.

Tradução de Antonio de Macedo Soares e Heloisa Jahn. São Paulo:

Companhia das Letras, 1994.

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Contexto: Zlata Filipovic relata em seu diário, que ela nomeia de

Mimmy, suas memórias antes e durante a guerra em Sarajevo (Bósnia), em

1992, cidade que ela amava e que aos poucos vai sendo destruída e, junto

com a cidade, todos os seus sonhos de criança desmoronam.

Atividades:

A proposta aqui é, após a leitura dos textos, abrir um canal de

discussões e contextualizações com o objetivo de refletir diferentes realidades

da II Guerra, nos fragmentos 1 e 2, e a Guerra em Sarajevo, no fragmento 3, e

perceber como uma memória pode ser contada. Mediar a oralidade,

possibilitando que todos possam comentar estes acontecimentos que fizeram

parte de momentos sociais importantes da história da humanidade.

O trabalho com leitura e escrita envolve o meio social. Clara, Altenfelder

e Almeida (2012) declaram que um cidadão que não domina essas duas

habilidades está condenado ao fracasso.

Ler e contextualizar os registros possibilitará aos alunos perceberem as

especificidades das memórias que são relatadas pelo narrador personagem de

cada texto. Lembrar-lhes que, como nos textos lidos, nós e nossos familiares

também temos episódios de vida para lembrar e relatar, alguns deles são

marcantes e merecem ser registrados.

PROFESSOR, para encerrar esse momento, pergunte aos alunos se

eles conhecem ou já leram livros de memórias, apresente os livros de onde

foram retirados os fragmentos e dê outras sugestões de leituras. Tente ajudá-

los, faça uma visita à biblioteca da sua escola ou leve livros e exponha na sala,

selecione fragmentos para serem lidos antes das aulas seguintes. Assim, o

trabalho torna-se mais agradável.

Sugestões para leitura:

- A menina que fez a América, de Ilka Brunhilde Laurito;

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- A menina que descobriu o Brasil, de Ilka Brunhilde Laurito;

- O menino no espelho, de Fernando Sabino;

- Por parte de pai, de Bartolomeu Campos Queirós;

- Transplante de menina, de Tatiana Belinky.

REFERÊNCIAS:

BATTISTI, Marta Maria Tomazi. Anicheto Battisti Herói da II Guerra.

Maringá: Massoni, 2008. p. 36.

BORBA, Francisco S. Dicionário Unesp do Português Contemporâneo.

Curitiba: Piá, 2011.

FILIPOVIC, Zlata. O Diário de Zlata: a vida de uma menina na guerra.

Tradução de Antonio de Macedo Soares e Heloisa Jahn. São Paulo:

Companhia das Letras, 1994.

FRANK, Anne. O Diário de Anne Frank: edição integral. Tradução de Ivanir

Alves Calado. 34. ed. Rio de Janeiro: Record, 2012.

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ETAPA 3 – INSTRUMENTALIZAÇÃO (6 aulas em cada oficina)

Processo de busca e de investigação com o objetivo de solucionar os

problemas elencados. É o momento em que a prática social é colocada em

questão, através de análise e questionamentos, levando em consideração o

conteúdo a ser trabalhado. Nesta etapa, serão realizadas as entrevistas e as

biografias dos bisavós, avós, pais e também as autobiografias, que

acontecerão em 4 pequenas oficinas.

Organizando a sequência do trabalho:

Este é o momento de começar a organizar a 1ª entrevista. Selecionar

os idosos que podem vir até a escola. Pelo fato da idade avançada e eventuais

problemas de saúde, o número de participantes pode ser baixo, mas basta a

presença de um ou dois bisavós que o trabalho acontece. Dividir as tarefas

com os alunos para fazer os convites, organizar esse momento da melhor

maneira e de acordo com a realidade de sua escola.

Caracterizando o gênero entrevista

Segundo o Dicionário Unesp do Português Contemporâneo (2011, p.

509), ENTREVISTA é “questionário para levantamento de dados”. No mesmo

dicionário, encontramos que ENTREVISTADO é “que responde a perguntas de

entrevistadores”. E que ENTREVISTADOR é “quem faz entrevista”. E ainda

que ENTREVISTAR é “fazer perguntas ou ouvir opiniões; fazer entrevista”.

Atividade: Leitura e oralidade

O objetivo, com a leitura da entrevista, exposta abaixo, é fazer com que

os alunos percebam que entrevistar alguém é algo possível e agradável; com

essa atividade, eles vão se familiarizar quanto às características do gênero:

tipos de perguntas, posição coerente do enunciador, ética e respeito com o

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entrevistado, linguagem acessível, etc. Isso vai facilitar o trabalho no momento

das entrevistas com os familiares, dando maior segurança para realizá-las.

Exemplo de entrevista: Trecho da entrevista com o cantor João Bosco, da

dupla João Bosco e Vinícius:

Qual o seu maior orgulho? Poder oferecer uma vida melhor e mais digna pra

minha família

Qual seu defeito? Falar demais

Qual foi seu maior mico? Cair do palco durante o show

Sua ideia de felicidade? Constituir Família e Continuar cantando pro resto da

vida.

Qual sua palavra favorita? Bondade

Qual palavra mais detesta? Falsidade

Do que mais tem medo? Traição

Qual música poderia ser trilha sonora de sua vida? Tocando em Frente (Renato

Teixeira e Almir Sater)

Qual é o lema de sua vida? Humildade e Simplicidade é Autoridade em

Qualquer Lugar.

Qual é amor de sua vida? Minha Família

Qual sua maior realização? Conseguir chegar onde cheguei sem passar por

cima de ninguém.

FONTE: http://www.jbev.com.br/index.php/biografia. Acesso em 25/11/2013.

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Oficina 1 – BIOGRAFIA DOS BISAVÓS

De acordo com o Dicionário Unesp do Português Contemporâneo

(2011, p. 986), OFICINA é “lugar onde se elabora, fabrica ou conserta”.

Encontramos ainda no mesmo dicionário que OFICINA é “escola para

aprendizes de ofício ou arte, seção de ensinamentos; aula prática”.

Momento 1 - Entrevista

Objetivo: Entrevistar os bisavós sobre sua história pessoal, seguindo o roteiro

de questionamentos.

Para iniciar a conversa:

Organizar o ambiente para que os visitantes sintam-se confortáveis e

acolhidos, explicar que o trabalho será desenvolvido através do roteiro de

perguntas para facilitar e abranger vários temas dando oportunidade para todos

falarem.

Diga ao grupo que essa atividade de recontar a história de alguém é a

chave do trabalho, pedir que ouçam e anotem tudo o que puderem. Chame

atenção para perceberem, durante a conversa, os momentos em que serão

relatados sobre os costumes, hábitos, paisagens, formas de pensar, de agir, de

se alimentar e vestir. Diga que os relatos orais e escritos serão o foco do

trabalho durante as aulas.

Roteiro: (sugestão)

- Pedir que digam seus nomes, idade, cidade de origem, quantos anos vivem

nesta cidade, etc...

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- Na sequência, indagar-lhes sobre sua infância e de como eram as

brincadeiras se as crianças tinham tempo para brincar.

- Que falem sobre a escola onde estudaram, como elas eram, se as

oportunidades eram as mesmas de hoje.

- A adolescência e juventude, como eram os relacionamentos com os pais,

namoro, divertimento, religião, trabalho, alimentação e vestuário.

- O que diriam para os adolescentes de hoje?

O roteiro poderá ser adaptado de acordo com a realidade e a

necessidade no momento do trabalho, o professor é o mediador.

REFERÊNCIA:

BORBA, Francisco S. Dicionário Unesp do Português Contemporâneo.

Curitiba: Piá, 2012.

Momento 2 – Escrita dos textos

Objetivo: Produzir texto do gênero biografia após o relato dos entrevistados,

observando suas características.

Caracterizando o gênero:

O Dicionário Unesp do Português Contemporâneo (2011, P. 182) diz

que BIOGRAFIA é “texto que descreve a vida pública e particular de pessoas “.

O mesmo dicionário diz ainda que BIOGRAFIA é “conjunto de fatos vivenciados

por uma pessoa ao longo da existência; história de vida”.

Fundamentando:

Através dos relatos das memórias, será possível por meio de um

movimento dialético fundamentado em bases bakhtinianas, levar os alunos a

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se apropriarem da cultura e história de seus antepassados, a possibilidade de

recriá-las. Neste trabalho, os diversos gêneros se entrelaçarão e história e

memória serão utilizadas como domínios sociais de comunicação, na

representação, pelo discurso, de experiências vividas situadas no tempo e

espaço (DOLZ; SCHNEUWLY, 2004), que irão dialogar entre si através de

entrevistas e relatos, que acarretarão em enunciados concretos dos gêneros

biografia e autobiografia.

Elaborar um texto escrito é uma tarefa cujo sucesso não se completa, simplesmente, pela codificação das ideias ou das informações, através de sinais gráficos. Ou seja, produzir um texto escrito não é uma tarefa que implica apenas o ato de escrever. Não começa, portanto, quando tomamos nas mãos papel e lápis. Supõe-se, ao contrário, várias etapas, interdependentes e intercomplementares, que vão desde o planejamento, passando pela escrita propriamente, até o momento posterior da revisão e da reescrita. Cada etapa cumpre, assim, uma função específica, e a condição final do texto vai depender de como se respeitou cada uma destas funções. (ANTUNES, 2003, P.54).

Clara, Altenfelder e Almeida (2012) orientam que, numa situação de

produção de memórias, as histórias serão escritas e conhecidas por pessoas

que não as viveram. É isso que seus alunos irão fazer, ouvir os relatos e

escrevê-los. Ao registrar, podem optar por se colocar no lugar do entrevistado

(o que significa escrever o texto em primeira pessoa); ou ainda podem reportar-

se à narrativa do entrevistado (o que significa escrever o texto em terceira

pessoa).

Oralidade: É importante retomar com a turma a história que foi relatada

pontuando os momentos mais marcantes e não se esquecer de contextualizar

com a realidade dos alunos, percebendo as transformações ocorridas através

do tempo. Observar com isso os pontos positivos, negativos e o que é possível

aprender com essas histórias.

- Escolher qual dos relatos irá registrar.

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- Identificar e aprender a usar marcas linguísticas próprias da progressão e da

articulação textual.

Tarefa:

Ao término das discussões, pedir que os alunos escrevam o rascunho do

texto do gênero biografia em casa, o mesmo será retomado na aula seguinte. A

opção em escrever o texto em casa foi pensado para favorecer a sequência do

trabalho que será em forma de oficina.

REFERÊNCIAS:

ANTUNES, Irandé. Aula de português: Encontro e interação. São Paulo:

Parábola, 2003.

BORBA, Francisco S. Dicionário Unesp do Português Contemporâneo.

Curitiba: Piá, 2011.

CLARA, Regina Andrade; ALTENFELDER, Anna Helena; ALMEIDA, Neide. Se

bem me lembro... Caderno do professor: orientação para produção de texto.

São Paulo; Cenpec: Fundação Itaú, 2012. (Coleção Olimpíadas da Língua

Portuguesa).

DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY, Bernard. Gêneros e progressão em expressão

oral e escrita – elementos para reflexões sobre uma experiência suíça (franco –

fona). IN: SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim e colaboradores. Gêneros

orais e escritos na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004. p. 41-70.

Momento 3 – Leitura e reescrita dos textos

Objetivo: Trocar os textos em sala onde um colega lê o texto do outro

observando as características do gênero e fazendo a correção. Após, cada um

observa suas dificuldades e faz a versão definitiva.

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Organizando a oficina:

Com a devida autorização do aluno para o aprimoramento do seu texto,

antes da leitura dos mesmos, relembre com eles como é a organização de um

texto do gênero biografia já pensado até aqui. Para isso, faça algumas

anotações no quadro ou use slides (como preferir) para que, ao ler o texto do

colega, possa observar se o mesmo usou os critérios próprios do gênero

proposto. Recordar alguns pontos:

O narrador:

No caso de biografias teremos, normalmente, o narrador em primeira

pessoa isso revela que o narrador é também personagem que tem por

característica se apresentar com o pronome pessoal (eu). Pode também

ocorrer o uso do pronome da primeira pessoa do plural (nós) que, neste caso,

indicará uma ação ou sentimento do narrador com outras pessoas.

Atenção durante a leitura com a flexão verbal; ao trocar os pronomes de

3ª para a 1ª pessoa, o verbo será flexionado, sendo conjugado na 1ª pessoa.

Tomar o cuidado de manter a fidelidade dos fatos, situando o leitor no tempo e

espaço em que foram narrados.

Atividade:

Dar tempo para que todos leiam os textos e façam suas anotações

trocando com o maior número possível de colegas.

O objetivo dessa atividade é despertar nos alunos a responsabilidade, o

companheirismo, respeito pelo trabalho do outro e ajuda mútua. Crie um

ambiente agradável, faça a mediação para que isso ocorra e haja

aprendizagem no trabalho em grupo.

Essa primeira produção mostrará o que os alunos já sabem e dará pistas

para que o professor possa intervir e melhorar o processo de ensino e

aprendizagem, podendo solucionar os problemas de escrita da turma. Esse

momento é importante também para que eles, com a ajuda do professor,

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comprometam-se com sua própria escrita. Durante as oficinas, o objetivo é,

além de ensinar a produzir textos, também aperfeiçoar a escrita em seus

aspectos ortográficos e gramaticais, as contextualizações com os fatos

históricos narrados e a avaliação continuada durante o processo de trabalho.

É provável que, no decorrer do trabalho, dependendo das necessidades

do seu grupo de alunos, você deva acrescentar algumas atividades. Ao término

da leitura, cada aluno retoma o seu texto observando as anotações feitas pelos

colegas e professor e faz a versão definitiva.

OBS: Para facilitar a sequência dos trabalhos, organize uma pasta onde serão

recolhidos os textos. Eles serão utilizados para a exposição e o encerramento

do projeto.

REFERÊNCIA:

MAZZAROTO, Luiz Fernando. Manual Básico de redação e gramática

aplicada. Curitiba: Editora Educacional Brasileira S /A, 1989.

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Oficina 2 – BIOGRAFIA DOS AVÓS

Momento 1 – Entrevista

Objetivo: Entrevistar os avós sobre sua história pessoal, seguindo o roteiro de

questionamentos.

Para início de conversa:

Como já ocorreu na entrevista anterior, organizar com os alunos o

ambiente e fazer a acolhida dos avós. Apontamos para o fato da idade e as

questões de saúde que podem reduzir o número de participantes, mas mesmo

com poucos avós é possível realizar a entrevista. Relembrar alguns pontos

importantes para o desenvolvimento desta atividade como: a atenção aos fatos

que serão relatados, o foco do trabalho são os relatos orais e escritos, a

importância das anotações sobre hábitos, cultura, etc... Comentar com a turma

que pessoas da comunidade podem narrar fatos engraçados ou tristes e

também as reações que tiveram no momento desses acontecimentos. O que

importa é se essas lembranças foram significativas para os entrevistados e se

acrescentaram aprendizagens a quem as ouve.

Roteiro: (sugestão)

A sugestão agora é fazer um roteiro diferente do anterior; assim, as

histórias ficam mais enriquecidas. Para isso, podem perguntar-lhes se lembram

de algum fato marcante que interferiu significativamente em suas vidas e na

vida da comunidade.

Reforçando os fatos:

A oralidade é uma atividade propícia nesse momento da aula. Peça que

eles recontem brevemente os fatos que consideraram marcantes durante a

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entrevista, o que sentiram, se ficaram surpresos, as diferenças marcadas pelo

tempo passado e o presente, não se esquecendo de contextualizar.

Preparando para a escrita:

Propor a leitura de um fragmento de memória, para isso podem-se

utilizar os livros já propostos no início desta unidade ou os textos “Os

automóveis invadem a cidade” e “Parecida, mas diferente”, de Zélia Gattai.

A leitura ajuda a melhorar o repertório dos alunos, faça cópias dos

textos explicando que se trata de uma memória, procure identificar início, meio,

fim e como o texto foi organizado; encontrar trecho que situa o leitor no tempo

e no espaço em que as lembranças se desenrolaram. Essas atividades vão

ajudá-los para a próxima produção.

REFERÊNCIA:

Gattai, Zélia. Anarquistas Graças a Deus. 11ª ed. Rio de Janeiro: Record,

1986.

Momento 2 – Escrita dos textos

Objetivo: Produzir, após a entrevista, texto do gênero biografia.

É importante retomar com a turma as especificidades do gênero já

trabalhadas na oficina anterior.

Aproveite para reforçar os pontos em que eles demonstraram ter

dificuldades quanto à organização do texto.

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Contextualizando: As histórias contadas pelos avós vão relatar fatos

marcantes ocorridos no passado envolvendo a comunidade local. Questione os

alunos sobre esses fatos que provavelmente envolvem suas vidas no presente

como: construções de igrejas, escolas, clubes, criação e emancipação política

da cidade, participação em conselhos, diretorias, APMF, etc... É importante que

os alunos percebam como as pessoas mais velhas com suas experiências

anteriores ajudaram na melhoria da vida da comunidade. O objetivo é criar

consciência e respeito ao idoso.

O uso de recursos linguísticos em biografia:

Ao ouvir os relatos e escrevê-los, é importante observar que alguns

recursos linguísticos são comuns na caracterização desse gênero. Trata-se das

figuras de linguagem. Os mesmos podem ser observados nos fragmentos

abaixo, do conto “O Lavador de Pedra”, de Manoel de Barros (CLARA;

ALTENFELDER; ALMEIDA, 2012).

a) “Meu avô ganhou o desnome de Lavador de Pedras”.

Trata-se de um NEOLOGISMO, a criação de uma nova palavra com

o prefixo des, o autor cria um outro nome, desnome, com sentido de

negação ao nome de batismo.

b) “Dali ele via os meninos rodando arcos de barril ao modo que

bicicletas. Via os meninos em cavalos-de-pau correndo ao modo que

montados em ema”.

Aqui é tratada a COMPARAÇÃO, estabelece uma relação de

semelhança entre elementos, neste recurso os elementos usados

podem ser: parece, que nem, qual, ao modo que, como, etc...

c) “[...] e não vou deixar que tuas maluquices o infelicitem.”

Afigura aqui é a METONÍMIA, quando é usado um pormenor de uma

pessoa no lugar da própria pessoa, ou seja, uma caracterização que

a represente (tuas maluquices).

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d) “[...] na esperança de que ela se imbuísse da necessidade de

atendê-lo [...].” Trata-se da METÁFORA, comparação indireta, sem a

presença do termo comparativo, na troca de “se convencesse” por

“se imbuísse”.

e) “[...] tirava um bolo de dinheiro do bolso e nos mandava comprar

umas coisitas de ler”. Essa afirmação exagerada (bolo de dinheiro) é

a HIPÉRBOLE.

f) “Passar bem, senhor doutor”. Essa maneira de dizer sugere que a

personagem deseja o contrário do que diz. Esse recurso é a IRONIA.

REFERÊNCIA:

CLARA, Regina Andrade; ALTENFELDER, Anna Helena; ALMEIDA, Neide. Se

bem me lembro... Caderno do professor: orientação para produção de

textos. São Paulo: Cenpec; Fundação Itaú, 2012. (Coleção Olimpíada de

Língua Portuguesa)

Tarefa: Ao término das orientações sobre o gênero, recomendar que os alunos

façam o rascunho do texto e tragam pronto para a oficina de leitura e refacção

para a próxima aula.

Momento 3 – Leitura e reescrita dos textos

Objetivo: Trocar os textos em sala onde um colega lê o texto do outro

observando as características do gênero e fazendo a correção. Após, cada um

observa suas dificuldades e faz a versão definitiva.

Fundamentando:

De acordo com Antunes (2003, p. 54), dois momentos importantes

envolvem a produção escrita do texto. No primeiro, são as várias etapas que

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orientam o aluno para a produção: planejamento, delimitação do tema,

objetivos, escolha do gênero e a produção escrita. O segundo é o da reescrita,

o refazer textual deve ser uma atividade fundamental à adequação do gênero

proposto às exigências circunstanciais de sua produção. Ela deve valorizar,

antes, o esforço daquele que escreve, desconfia, rasga e reescreve.

Retomar pontos importantes já observados que podem colaborar com

esta oficina como: narrador, uso dos pronomes, a flexão verbal, fidelidade aos

fatos, uso de alguns recursos linguísticos e as dificuldades observadas na 1ª

produção.

Leitura: Os alunos já sabem o processo, oriente-os para que leiam com calma

e atenção o maior número possível de textos e faça as anotações sempre

observando as características citadas anteriormente. Lembre-lhes das

responsabilidades desse trabalho e da aprendizagem que o mesmo está

proporcionando. Lembre-se, professor, de sempre criar um ambiente agradável

e de companheirismo. Ao término da leitura, cada aluno, com seu texto em

mãos, observa as anotações feitas pelos colegas e pelo professor(a), fazendo

a versão definitiva.

Releitura: Propor aos alunos que, após a correção, leiam novamente o texto

para perceberem o efeito que a refacção proporcionou, tanto na estrutura como

no sentido.

REFERÊNCIA:

ANTUNES, Irandé. Aula de português: Encontro e interação. São Paulo:

Parábola, 2003.

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Momento 4 – Organização do mural no ambiente escolar

Objetivo: Apresentar o painel para fixar os textos produzidos e digitados

oportunizando a leitura dos mesmos por toda a comunidade escolar.

Organizar com a direção e equipe pedagógica o mural onde os textos

serão afixados.

Levar os alunos ao laboratório de informática para digitar e imprimir os

dois textos produzidos e fixá-los no mural.

Essa atividade oportunizará que todos os alunos, professores,

funcionários, pais que visitam a escola possam ler e conhecer as histórias

relatadas pelas pessoas da comunidade valorizando o trabalho da turma.

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Oficina 3 – BIOGRAFIA DOS PAIS

Momento 1 – Entrevista

Objetivo: Entrevistar os pais sobre sua história pessoal, seguindo roteiro de

questionamento.

Esta entrevista terá para os alunos maior importância e pode

proporcionar-lhes muita emoção. Neste momento, eles vão conhecer fatos

importantes da vida de seus pais talvez seja a primeira vez que vão ouvi-los.

Você, professor (a), esteja preparado (a) para mediar este momento,

acolhendo aos pais e alunos, explicando o objetivo da entrevista e como é

importante os filhos conhecerem as histórias de vida de seus pais porque elas

estão diretamente relacionadas à vida deles. Diferente das outras oficinas, aqui

o esforço deverá ser para que todos os pais ou mães possam participar.

Aqueles que não vierem para a escola, a sugestão é que a entrevista seja

realizada em casa. Assim, nenhum aluno fica sem produzir a história de seus

pais.

Roteiro (sugestão):

- Pedir que os pais se apresentem.

- Na sequência, indagar-lhes sobre: infância, adolescência e juventude.

- Se casados, como se conheceram, a história do namoro, noivado e

casamento.

- Se solteiros, que relatem sua história.

- Que falem sobre trabalho, desafios encontrados e como foram superados.

- E o que esperam para o futuro de seus filhos.

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O roteiro poderá ser adaptado de acordo com sua realidade e

necessidade no momento do trabalho, você é o mediador.

Oralidade: Após ouvir os relatos, faça intervenções para que todos participem,

podendo comentar sobre o que mais emocionou e sempre contextualizando o

passado com o presente, pontos positivos e negativos. O importante é que isso

traga conhecimento e crescimento pessoal tanto para alunos quanto aos pais e

professores.

Na atualidade, trabalhar com a educação de adolescentes é um grande

desafio. Em Língua Portuguesa, nas práticas de oralidade, leitura e escrita, as

dificuldades são atribuídas, principalmente, à artificialidade com que estes três

eixos são trabalhados. Isso acarreta grandes problemas como desinteresse e

baixo rendimento dos alunos. Buscam-se, nesta proposta, alternativas de

trabalho que propiciem maior interação entre os envolvidos no processo

educativo e a melhoria no relacionamento interpessoal. Quanto aos valores e à

afetividade que envolvem o trabalho didático, podemos observar:

Não creio na amorosidade entre mulheres e homens, entre os seres humanos, se não nos tornamos capazes de amar o mundo. A ecologia ganha uma importância fundamental neste fim de século. Ela tem de estar presente em qualquer prática educativa de caráter radical, crítico ou libertador. Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Se a nossa opção é progressiva, se estamos a favor da vida e não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa opção. Encarná-la, diminuindo assim a distância entre o que fizemos e o que fazemos. Desrespeitando os fracos, enganando os incautos, ofendendo a vida, explorando os outros, discriminando o índio, o negro, a mulher, não estarei ajudando meus filhos a ser sérios, justos e amorosos da vida e dos outros. (FREIRE, 2000, p. 67).

O autor faz um alerta sobre educação de adolescentes enfatizando a

necessidade de compreender que ela tem papel central no que diz respeito aos

valores e às ações dos seres humanos na sociedade. Lembra ainda que, se

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quisermos, através da educação, construir um mundo melhor, será preciso

antes ensinar o amor. Amor ao outro, à natureza, respeitar o diferente e ajudar

a formar pessoas que vão contribuir para um mundo melhor.

REFERÊNCIA:

FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: Cartas pedagógicas e outros

escritos. São Paulo: Unesp, 2000.

Momento 2 – Escrita dos textos

Objetivo: Produzir textos do gênero biografia relatando a história de vida dos

pais.

Fundamentando: É preciso considerar que, ao escrever, usamos normas e o

conhecimento gramatical: “Quando alguém é capaz de falar uma língua é então

capaz de usar, apropriadamente, as regras (fonológicas, morfológicas,

sintáticas e semânticas)” (ANTUNES, 2003, p. 85). A autora, em outro

momento, ressalta que, independentemente do prestígio social ou nível de

desenvolvimento tanto econômico quanto cultural em que é falada, “não existe

língua sem gramática”. Antunes (2003, p. 85) orienta também que é importante

esclarecer as diferenças entre regras de gramática, nomenclaturas e

classificações. Segundo ela, as regras orientam o uso das unidades da língua.

São normas. Sobre as normas gramaticais, podemos ver no texto abaixo:

Dessa forma, são regras, por exemplo, a descrição de como empregar os pronomes; de como usar as flexões verbais para indicar diferenças de tempo e de modo; de como estabelecer relações semânticas entre partes do texto (relações de causa, de tempo, de comparação, de oposição etc...) de quando e como usar o artigo indefinido e o definido; de quando e de como garantir complementação do verbo ou de outras palavras; de como expressar exatamente o que se quer pelo

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uso da palavra adequada, no lugar certo, na posição certa. (ANTUNES, 2003, p. 86)

É importante que, no decorrer do trabalho, os alunos percebam a

necessidade de compreender as especificidades do gênero proposto. A

proposta deste trabalho é que o aluno, a partir do conhecimento que já tem,

amplie sua produção, tendo como ponto de partida as memórias alheias e a

partir disso produza os textos dos gêneros entrevista, biografia e autobiografia

possibilitando ao mesmo melhor participação social.

Organizando a produção escrita:

Relembrar com os alunos as orientações das produções anteriores,

mostrando ainda que, na produção de memórias, os autores usam os verbos

para marcar um tempo passado. E os essenciais deste gênero são: pretérito

perfeito e pretérito imperfeito.

É importante explicar aos alunos a diferença entre os tempos verbais do

passado:

- O PRETÉRITO PERFEITO: Indica uma ação pontual e refere-se a um fato já

concluído em época passada como: cheguei, comecei, trabalhei, etc...

- O PRETÉRITO IMPERFEITO: Indica ação habitual no tempo passado, fato

cotidiano, mas ainda não concluído e que se repete muitas vezes como:

dissesse, estivesse, etc...

Aproveite o momento e explique também os modos indicativo e

subjuntivo.

- MODO INDICATIVO: Quando um fato está previsto ou prestes a ocorrer e se

o autor quer marcar a certeza do fato ou retratar situações consideradas reais

por parta de quem fala. É o que com certeza vai acontecer com os relatos

previstos para a produção proposta nesta unidade.

- MODO SUBJUNTIVO: Quando o autor retrata situações possíveis, narrando

uma ação hipotética.

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Para uma melhor compreensão dos alunos, propor a leitura de outros

fragmentos dos livros sugeridos na etapa 2 desta unidade, onde será possível

perceber o uso dos verbos no passado.

Tarefa: Ao término das orientações sobre o gênero, recomendar que produzam

o texto em casa, facilitando para a oficina de leitura e refacção na aula

seguinte.

REFERÊNCIAS:

MAZZAROTTO, Luiz Fernando. Manual Básico de Redação e Gramática

Aplicada. Editora Educacional Brasileira S/A. Curitiba – Pr. 1989.

ANTUNES, Irandé. Aula de português: Encontro e interação. São Paulo:

Parábola, 2003.

Momento 3 – Leitura e reescrita dos textos

Objetivo: Ler o texto do colega fazendo as observações sobre o gênero.

Reescrever a versão definitiva.

Revisão e reescrita: O produto final desta oficina será o texto no gênero

biografia tendo como base a entrevista dos pais. Para aprimorá-lo, pedir a

devida autorização do aluno autor do texto para fazer a leitura, observação e

correção do mesmo. O desafio aqui é, mais uma vez, orientá-los para que,

durante a oficina, vá observando os pontos já trabalhados sobre memórias e o

gênero biografia. Quando for preciso, esclareça dúvidas, aponte as questões

que eles não conseguiram identificar e as possíveis soluções. Atente para o

uso da análise linguística feita até aqui.

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Após a reescrita, peça que comparem os dois textos e mostre-lhes como

um texto pode ganhar em qualidade depois de ser revisto.

Uso do painel:

Agendar com o laboratório de informática para digitar, imprimir e afixar

mais um texto no painel já organizado no ambiente escolar, valorizando o

trabalho da turma.

OBS.: Atente para o fato de algum aluno não querer expor seu texto;

caso isso ocorra, o ideal é respeitá-lo em sua individualidade. O importante é

que ele acompanhe o processo de produção oral e escrita.

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Oficina 4 – AUTOBIOGRAFIA

Momento 1 – Pesquisa

Objetivo: Resgatar com os pais a história pessoal com entrevista e álbum de

fotos.

Caracterizando o gênero:

De acordo com o Dicionário Unesp do Português Contemporâneo

(2011, p. 176), AUTOBIOGRAFIA é “biografia de alguém contada ou escrita por

ele mesmo, em forma de memória, ou narrativa ou romance”.

Nesta produção, o aluno vai entrevistar os pais sobre sua história

pessoal; além disso, a sugestão é também manusear e olhar o álbum de fotos

desde o seu nascimento e compartilhar com os colegas e o professor (a) em

sala. O objetivo é o enriquecimento de detalhes e a valorização pessoal de

cada um. Nesse momento, a mediação do professor fará toda a diferença,

conduzindo a aula de modo que haja interação e respeito entre todos os

envolvidos.

Exemplo de autobiografia:

Meu nome é Maria Tereza Ditós. Nasci no dia 24 de Dezembro de 1930,

venho de uma família de 9 irmãos, meus pais, Frederico Ditós e Maria Martins,

casaram-se na Itália e de lá vieram para o Brasil junto com milhares de

imigrantes que queriam primeiro fugir da guerra e depois fazer a América. Isso

significava melhorar de vida.

No Brasil, minha família sempre trabalhou de empregados nas fazendas

de café, primeiro no Estado de São Paulo, e mais tarde no Paraná. Assim,

meus pais criaram a mim e aos meus irmãos. Com o passar do tempo e com

muito trabalho, eles compraram um pequeno sítio, mas não era suficiente para

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o sustento da família. Então tínhamos que continuar colhendo café para os

outros. Com o dinheiro, eram comprados tecidos, agulhas e linhas; eu e minhas

irmãs íamos fazendo o nosso enxoval à noite depois do trabalho da roça.

Conheci meu marido num sítio vizinho do nosso, casei e tive 5 filhos. Meu

esposo e dois filhos já estão com Deus. Hoje tenho 83 anos, moro com uma de

minhas filhas, tenho 10 netos e duas bisnetas. Elas são um sonho que eu

nunca imaginei ter.

(Autobiografia de Maria Tereza Ditós, transcrita por Marta Maria Tomazi Battisti)

ATIVIDADE: Leitura e Oralidade

Ler com a turma a autobiografia de dona Maria Tereza para que

observem como é possível escrever sobre si mesmo. A atividade lhes dará

segurança para produzir sua própria história.

O uso dos pronomes em autobiografia:

Atentar para o uso dos PRONOMES PESSOAIS em autobiografia, em

que normalmente o narrador é também personagem, e neste caso pode

apresentar-se com os pronomes (eu, me, nos, etc.). indicando a pessoa

gramatical e substituindo um substantivo. Também o uso dos PRONOMES

POSSESSIVOS (meu, sua, minha, nosso, etc.) acompanham um substantivo

para determinar seu sentido.

Momento 2 – Escrita dos textos

Essa produção é especial e envolve a individualidade do aluno. O que

se espera até aqui é que muito se tenha avançado quanto à produção escrita;

esse momento será só dele, com a revisão do professor que pode ajudá-lo nas

dúvidas as quais, com certeza, ainda vão surgir.

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Momento 3 – Leitura dos textos

Após a correção do texto pelo professor e a refacção do mesmo pelo

aluno, a sugestão é que ele faça em voz alta a leitura de sua história pessoal

para a turma. Novamente, professor, faz-se necessária a sua mediação,

orientando e criando ambiente propício onde todos entendam o objetivo do

trabalho e participem sem constrangimentos. Com certeza, será um momento

emotivo, divertido e estará criando laços de carinho e amizade entre todos os

participantes.

Fundamentando:

A leitura é uma atividade que deve ser feita em duas vias, ou seja, não

desvinculada das condições em que o texto foi escrito. Entre a leitura e a

escrita existe uma relação de interdependência e de intercomplementariedade

e também as atividades de escrita sempre deveriam ser transformadas em

atividades de leitura. Com isso, o aluno tem a oportunidade de vivenciar essa

dimensão percebendo a interdependência existente entre estas duas atividades

(ANTUNES, 2003).

Quando se trata de leitura na escola, o professor deve convencer o

aluno das vantagens que ler proporciona ao cidadão e ajudá-lo a construir uma

ideia positiva sobre a leitura e dos poderes que ela pode conferir-lhe. Também

que cada momento de leitura seja explicitado ao aluno e porque ele está sendo

convocado a ler aquele texto, qual é o objetivo. Assim, ajudá-lo a despertar o

interesse para essa atividade.

A atividade de leitura deve ser espontânea, pois ele vai se expor. Caso

alguém não queira, deve ser respeitado.

Organizar no laboratório momento propício para digitar e imprimir o texto

do gênero autobiografia e expô-lo no painel com o aval do autor.

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REFERÊNCIAS:

ANTUNES, Irandé. Aula de português: Encontro e interação. São Paulo:

Parábola, 2003.

BORBA, Francisco S. Dicionário Unesp do Português Contemporâneo.

Curitiba: Piá, 2011.

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ETAPA 4 – CATARSE (3 aulas)

Espera-se, nesta etapa, uma nova postura do aluno diante do conteúdo

estudado. E construção de uma outra compreensão da realidade. A catarse é

manifestada pelo evento da coletânea de textos.

COLETÂNEA DOS TEXTOS E ENCERRAMENTO DO PROJETO

Objetivo: Organizar coletânea dos textos para a biblioteca.

Atividade:

As histórias relatadas nas entrevistas trazem memórias da cidade. Para

valorizar o trabalho, é hora de organizar a coletânea dos textos como um livro.

Peça ajuda dos alunos para a criação de uma capa, pois os textos já foram

digitados no decorrer do trabalho.

Organize uma cerimônia especial para o lançamento da coletânea,

convide os pais, os entrevistados e toda a escola, se isso for possível. Este é o

momento em que bisavós, avós, pais e alunos vão ouvir suas histórias.

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ETAPA 5 – PRÁTICA SOCIAL FINAL

Nesta etapa, esperam-se as novas atitudes e competências dos alunos.

INTENÇÕES E PROPOSTAS:

Enviar um exemplar da coletânea para a biblioteca municipal, um para a

biblioteca da escola, jornais locais e regionais. Aqui outro plano de trabalho

com produção dos gêneros entrevista, biografia e autobiografia por meio de

histórias familiares pode ser pensado.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Mudar é difícil, mas é possível” (FREIRE, 200, p. 98). As mudanças só

podem ser concretizadas através de uma educação que se preocupa em

formar o jovem em sua totalidade. Isso é possível através das ações que se

realizam dentro do processo ensino-aprendizagem. É preciso dar suporte para

que as mesmas se concretizem. Trabalhar com os gêneros discursivos

entrevista, biografia e autobiografia através de histórias familiares abre um

canal de discussões, leituras e contextualizações com o objetivo de refletir a

realidade envolvendo o meio social. Para Bakhtin/Voloshinov (1999), as

palavras, ao serem usadas, trazem a ideologia de quem a utiliza e, assim,

servem para as pessoas se relacionarem em todos os setores numa constante

interação: “a palavra é uma espécie de ponte entre mim e os outros” (1999, p

119). Ao utilizar as palavras, os seres humanos interagem com o mundo.

O trabalho visa à melhoria da produção escrita, ao entendimento das

mudanças trazidas pelo tempo e ao respeito pelos antepassados. Com o

término do projeto, a proposta não se encerra, ela será de fortalecer o trabalho

com produção escrita envolvendo toda a escola e, assim, melhorar o processo

de ensino-aprendizagem em Língua Portuguesa e nas demais disciplinas.

REFERÊNCIA:

BAKHTIN, Mikhail M. (VOLOSHINOV, Valentin N.) Marxismo e Filosofia da

Linguagem. Tradução de Míchel Lahud e Yara Frateschi. 9. ed. São Paulo:

Hucitec, 1999.