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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

RELATO DE EXPERIÊNCIA DO PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA

Marli Maribel Scarpari1 Ireni Marilene Zago Figueiredo2

RESUMO: Este artigo apresenta o resultado das atividades realizadas por meio do Projeto de Intervenção Pedagógica no Colégio Estadual XIV de Novembro, no município de Cascavel – PR, vinculado a linha de estudo Gestão Democrática da Escola Pública, do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/PR, turma 2013-2014. Objetivou-se, com o projeto, a ampliação da participação coletiva da comunidade escolar na tomada de decisões, resgatando a importância das Instâncias Colegiadas da Escola como órgãos representativos. As ações realizadas, por meio de palestras, debates, exposição de filmes, produções escritas e painéis, envolveram os alunos, professores, pais e/ou responsáveis, pedagogos e gestores da escola. Concluiu-se, por meio do trabalho realizado, que a Gestão Escolar Democrática demanda, dentre outras questões, a necessidade de melhorar a gestão das informações na escola e o fortalecimento das Instâncias Colegiadas. Palavras-Chave: Gestão Escolar Democrática. Instâncias Colegiadas. Participação.

O Projeto de Intervenção Pedagógica Gestão Escolar Democrática: uma

construção coletiva3 objetivou fortalecer a Gestão Escolar Democrática no Colégio

XIV de Novembro, do município de Cascavel – Paraná. Para tanto, os seis

encontros4 realizados para a sua implementação, por meio de palestras, debates,

exposição de filmes, produções escritas e painéis que envolveram alunos,

professores, pais e/ou responsáveis, pedagogos e gestores da escola,

contemplaram o estudo dos pressupostos teórico-metodológicos da Gestão Escolar

Democrática, com destaque para a importância das Instâncias Colegiadas como

órgãos representativos.

1 Professora do Colégio Estadual XIV de Novembro, graduada em Educação Física, pela FACIMAR - Faculdade de Ciências Humanas de Marechal Cândido Rondon, professora PDE 2013/2014, da UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Cascavel – PR. 2 Professora do Curso de Pedagogia e do Mestrado em Educação da UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Cascavel – PR. Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Política Educacional e Social (GEPPES). 3 O projeto foi postado no Sacir, na página do PDE, em novembro de 2013. Para implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica foi elaborado a produção do material didático. Destaca-se, na produção do material didático, o planejamento coletivo, ou seja, a interação com os Professores do PDE/PR, turma 2013/2014: Mocimar de Souza, Luciana Paulista, José Armando Pelleti e Maristela Dias de Miranda, os quais serão destacados no decorrer do artigo. 4 Foram realizados seis encontros, de aproximadamente três horas de trabalho, no período de 06/02/2014 a 27/05/2014. Destaca-se que devido ao adiamento do início da implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, o cronograma de trabalho foi redefinido, bem como as atividades. Nesse sentido, não foi possível a realização do teatro com os alunos, funcionários e professores.

2 Sustentou-se, nos encontros, que a Gestão Escolar Democrática não é uma

tarefa fácil, mas que precisa ser cotidianamente construída. A Gestão Escolar

Democrática implica na participação coletiva de toda a comunidade escolar, tais

como os alunos, os professores, os pedagogos, os funcionários, os pais, a

comunidade do entorno da escola e os gestores escolares. Nesse sentido, a

participação

[...] só será efetiva se os agentes que compõem a comunidade escolar conhecerem as leis que a regem, as políticas governamentais propostas para a educação, as concepções que norteiam essas políticas e, principalmente, se estiverem engajados na defesa de uma escola democrática que tenha entre seus objetivos a construção de um projeto de transformação do sistema autoritário vigente (OLIVEIRA; MORAES; DOURADO, s/d, p. 10).

Ao conceber que a Gestão Escolar Democrática pressupõe a implementação

de mecanismos que estimulem a participação coletiva na tomada de decisões, deve-

se considerar “[...] a transparência de processos e de atos” (CURY, 2005, p. 205),

sendo que “[...] um dos requisitos básicos e preliminares para aquele que se

disponha a promovê-la é estar convencido da relevância e da necessidade dessa

participação, de modo a não desistir diante das primeiras dificuldades” (PARO, 2004,

p. 16).

A transformação da escola pública passa necessariamente pela

transformação na gestão escolar. “E a transformação dessa escola passa

necessariamente por sua apropriação por parte das camadas trabalhadoras. É

nesse sentido que precisam ser transformados o sistema de autoridade e a

distribuição do próprio trabalho no interior da escola” (PARO, 2004, p.10). Não se

trata de colocar a escola numa posição de redentora, mas de fortalecer a Gestão

Escolar Democrática como estratégia fundamental aos gestores e educadores

(CURY, 2005, p. 205).

No processo de construção da Gestão Escolar Democrática é fundamental o

fortalecimento das Instâncias Colegiadas e a articulação com os objetivos expressos

no Projeto Político- Pedagógico (PPP). Como Instâncias Colegiadas do Colégio XIV

de Novembro tem-se: a Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMF), o

Grêmio Estudantil, o Conselho Escolar e o Conselho de Classe, os quais constituem

espaços fundamentais para a tomada de decisões coletivas, bem como para a

3 implementação do PPP. As Instâncias Colegiadas da Escola contribuem

efetivamente na proposição de ações para o enfrentamento dos problemas

diagnosticados, pois “agir praticamente significa utilizar o poder intelectual frente as

tarefas da vida, seja na escola, seja na sociedade” (LIBÂNEO, 1994, p. 144).

Os encontros realizados, para implementação do Projeto de Intervenção

Pedagógica contemplaram, conforme mencionamos, palestras, debates, exposição

de filmes, produções escritas e painéis e envolveram alunos, professores, pais e/ou

responsáveis, pedagogos e gestores da escola.

O primeiro encontro foi dedicado a concepção de Gestão Escolar

Democrática iniciando com algumas questões norteadoras: O que é gestão? O que

é gestão escolar? O que define uma Gestão Escolar Democrática? A Gestão Escolar

Democrática pode contribuir com a qualidade da educação escolar? Tendo por base

as questões e a fundamentação teórica do Projeto de Intervenção Pedagógica,

procedeu-se a exposição dialogada do texto “Educação e participação: princípios

que fundamentam a gestão democrática”5. Como síntese deste encontro obteve-se

as seguintes considerações:

As pessoas ainda tem muita dificuldade em compreender o que é gestão escolar, confundindo-a como “centralização do poder nas mãos de uma pessoa”;

Devido a dinâmica do cotidiano e horários de trabalho, a comunidade sente dificuldade em participar das reuniões e encontros dos órgãos colegiados da escola;

A democratização das ações da escola contribui para que os indivíduos tenham uma formação integral, crítica e estejam mais seguros para a vida em sociedade.

É preciso romper com ideias reducionistas que colocam que participar da gestão é apenas ter direito de “votar e ser votado”.

Ainda não se tem claro dentro da escola a definição de papeis de alunos, gestores, professores, funcionários, pedagogos, pais e responsáveis no processo de gestão escolar.

É fundamental esclarecer que na gestão escolar democrática, toda a comunidade escolar possui direitos e deveres que devem ser respeitados e cumpridos (Síntese da 1ª Oficina, 2014).

A síntese foi exposta, em cartazes, no saguão da escola, tendo em vista

socializar o conhecimento produzido no encontro. A construção da autonomia da

escola passa, necessariamente, pela construção coletiva da Gestão Escolar

Democrática, a qual possibilita formar um indivíduo crítico, participativo, criativo, com

5 Texto elaborado para subsidiar o debate. Parte das reflexões está sistematizada neste artigo.

4 condições de lutar pela democratização da educação, sendo fundamental “elevar o

indivíduo ao domínio de instrumentos culturais, intelectuais, profissionais e políticos”

(RODRIGUES, 1987, p. 43 apud OLIVEIRA; MORAES; DOURADO, s/d, p. 10).

Assim, dando continuidade a fundamentação teórico-metodológica sobre a

concepção de Gestão Escolar Democrática, realizou-se quatro palestras. Na

primeira palestra “O papel do Conselho Escolar na Gestão Escolar Democrática”6

trabalhou-se, a partir do Regimento Escolar do Colégio XIV de Novembro, 2013, a

Instância Colegiada Conselho Escolar. Utilizou-se os Cadernos do Programa

Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares, do Ministério da Educação e

Cultura - MEC7.

Conforme descreve o Caderno 5, do Programa Nacional de Fortalecimento

dos Conselhos Escolares do MEC, “[...] a democratização da educação implica a

garantia de processos de progressiva autonomia da escola e de efetiva participação

dos diferentes segmentos que compõem a comunidade local” (BRASIL, 2004, p.13).

Neste sentido, conforme esclarece o documento:

[...] ao pensar a lógica e as dinâmicas de participação nas instituições escolares, é fundamental repensar os processos de decisão e deliberação, a organização e as condições de trabalho, os objetivos e as prioridades da instituição, a autonomia e a identidade escolar e, fundamentalmente, o papel dos diferentes atores sociais, bem como as estratégias para a implementação de processos coletivos de decisão, especialmente do Conselho Escolar. Nesse cenário, pensar a articulação entre a democratização da gestão, a autonomia e os Conselhos Escolares é fundamental. Isso quer dizer que a lógica centralizadora que, comumente, constitui o dia-a-dia das escolas precisa ser revista. Para que esse quadro seja repensado, destacamos alguns processos a serem articulados sem prejuízo de outros: a participação, a autonomia, os processos de escolha dos dirigentes e os Conselhos Escolares (BRASIL, 2004, p. 14).

Considerando estes pressupostos, a figura a seguir descreve a articulação

entre os processos da escola para o fortalecimento do Conselho Escolar para o

processo de Gestão Democrática.

6 Proferida pelo Professor Mocimar de Souza, PDE 2013/2014, do Colégio Estadual Padre Carmelo Perrone, de Cascavel – PR. 7 São ao todo doze cadernos que tratam sobre o fortalecimento dos Conselhos Escolares e da Gestão Escolar Democrática, os quais encontram-se disponibilizados no site do MEC, sendo possível acessá-los pelo link: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol.

5

Fonte: BRASIL, 2004, p. 14.

Após a palestra, por meio de slides, foram apresentados os principais artigos

do Estatuto do Conselho Escolar do Colégio Estadual XIV de Novembro. A seguir, os

participantes responderam a seguinte questão: Em que sentido o Conselho Escolar

contribui para democratizar a Gestão Escolar?

A partir da síntese dos documentos trabalhados e do debate, os

participantes expuseram que o Conselho Escolar tem um papel muito importante no

processo de construção da Gestão Escolar Democrática. Apontaram que o Conselho

Escolar congrega as demais Instâncias Colegiadas da Escola e suas ações são

fundamentais para o processo educativo, visto que contribui para a criação,

implementação e avaliação do Projeto Político-Pedagógico. Neste sentido, destaca-

se que a Gestão Escolar Democrática constitui-se como um ato político que exige a

participação da comunidade escolar na tomada de decisões coletivas.

Assim, o fortalecimento das Instâncias Colegiadas se torna fundamental no

processo de representatividade da comunidade escolar, contribuindo para que seus

participantes, gradativamente, apropriem-se de conhecimentos necessários para a

participação em outras esferas sociais. No desempenho de sua função social a

escola se constitui “um espaço de sociabilidade e de socialização do conhecimento

produzido, indispensável na formação e inserção dos indivíduos nas relações

sociais” (BRASIL, 2004, p. 33).

Conforme descreve a figura a seguir, a Decisão Partilhada é um processo

em construção e que compreende um conjunto de ações.

6

Fonte: BRASIL, 2004, p. 29.

Dando continuidade as ações do Projeto de Intervenção Pedagógica, o

terceiro encontro propiciou a discussão sobre a atividade do gestor e a participação

das Instâncias Colegiadas na Gestão Escolar Democrática.

A participação de fato é uma prática política e, por natureza, democrática. Visão esta que, na escola, exige obrigatoriamente a mudança do papel do diretor. Primeiramente, quanto à fragmentação do seu trabalho, entre administrativo e pedagógico e, em seguida, a mudança de postura no que diz respeito à centralização das tomadas de decisão, corporativismo e autoritarismo, além de seu caráter exclusivamente gerencialista. A superação destas características na direção de uma escola não é simplesmente, utilização de termos diferentes no discurso, é assumir um projeto de gestão, interligado com projeto de educação, de sociedade, de homem, de mundo (TAQUES et. al., 2010, p. 25).

Neste sentido, neste encontrou se ressaltou a importância do diretor no

processo de construção da Gestão Escolar Democrática. Suas ações articulam-se

nos âmbitos administrativo, pedagógico e financeiro e necessitam do conhecimento

da realidade escolar.

Para ressaltar a importância do diretor no processo de construção da Gestão

Escolar Democrática foi apresentado fragmentos do filme “Escritores da Liberdade”,

7 de Richard La Gravenese8. O filme é baseado em uma história real e retrata os

desafios de uma professora num contexto socioeconômico problemático. O filme

propicia

[...] uma reflexão sobre desigualdades nas classes sociais, racismo, desestrutura familiar, intolerância ao que é diferente, a funcionalidade de políticas públicas, exclusão social, entre outros, em termos de prevenção à violência. O filme faz pensar sobre a escola como fator de proteção e como meio de implementar política de prevenção à violência, seja para pessoas que sofrem ou que fazem uso da violência (BENEDITO, 2012, s/p.).

Foi, enfatizado, também, a função do diretor na escola, tendo como

referência o Regimento Escolar do Colégio XIV de Novembro:

A direção escolar é composta pelo diretor e diretor auxiliar, escolhidos democraticamente entre os componentes da comunidade escolar, conforme legislação em vigor. A função de diretor, como responsável pela efetivação da gestão democrática, é a de assegurar o alcance dos objetivos educacionais definidos no Projeto Político-Pedagógico do estabelecimento de ensino (REGIMENTO ESCOLAR, Colégio XIV de Novembro, 2013, p.15).

A palestra Instâncias colegiadas e a função do gestor na Escola Pública9

contribui para refletir que o diretor “não estará sozinho nem para decidir nem para

agir” e sua legitimidade se dá nos processos de participação efetiva (TAQUES et. al.,

2010, p. 25).

A quarta palestra Autoritarismo, Autoridade, Gestão Escolar Democrática e

Participativa10 iniciou com o documentário Da Servidão Moderna11 instigando a

reflexão sobre as dificuldades enfrentadas no sistema capitalista e na educação

escolar.

Sobre a participação da comunidade na gestão da escola e a dupla

contradição que vive o diretor da escola na atualidade destacou-se: 8 Título Original do Filme: Freedom Writers. Elenco: Hilary Swank, Patrick Dempsey, Scott Glenn, Imelda Staunton, April L. Hernandez. Direção: Richard La Gravenese. Gênero: Drama. Estréia: 2007. Fonte: http://interfilmes.com/filme_16856_Escritores.da.Liberdade-28Freedom.Writers%29.html. 9 Proferida pela Professora Luciana Paulista da Silva, PDE 2013/2014, do Colégio Estadual Marilis Faria Pirotelli, de Cascavel – PR. 10 Proferida pelo Professor José Armando Pelleti, PDE 2013/2014, do Ceebja Professora Joaquina Mattos Branco, Cascavel – PR. 11 Disponível em: www.youtube.com

8

Não é possível falar das estratégias para se transformar o sistema de autoridade no interior da escola, em direção a uma efetiva participação de seus diversos setores, sem levar em conta a dupla contradição que vive o diretor da escola hoje. [...] por um lado, é considerado a autoridade máxima no interior da escola, e isso, pretensamente, lhe daria um grande poder e autonomia [...] por outro lado, ele acaba se constituindo, de fato, em virtude de sua condição de responsável pelo cumprimento da Lei e da Ordem na escola, em mero preposto do Estado (PARO, 2004, p.11).

Fundamentalmente, na Gestão Escolar Democrática, é importante distinguir

“autonomia” e “autoritarismo”. Ao passo que a autonomia implica em assumir papeis

conscientes e responsáveis com o processo educativo, o autoritarismo reside na

falta de diálogo entre a comunidade escolar e na tomada de decisões arbitrárias por

parte de gestores que, em muitos casos, contrariam os interesses da própria

comunidade. Pois, “conferir autonomia à escola deve consistir em conferir poder e

condições concretas para que ela alcance objetivos educacionais articulados com os

interesses das camadas trabalhadoras” (PARO, 2004, p. 11).

Neste sentido, romper com os processos antidemocráticos e autoritários da

gestão escolar, implica o conhecimento dos condicionantes materiais, institucionais e

ideológicos do autoritarismo, a saber:

[...] os condicionantes materiais do autoritarismo na escola [...] são demais conhecidos pelas pessoas que trabalham na rede pública de ensino, as péssimas condições de trabalho aí predominantes, que vão desde a precariedade do prédio escolar e dos equipamentos, passando por classes abarrotadas, com múltiplos períodos de funcionamento e falta de recursos didáticos [...] até o baixo salário do pessoal. [...] os condicionantes de ordem institucional estão, sem dúvida nenhuma, entre aqueles que mais dificultam o estabelecimento de relações democráticas e, em consequência, a participação da comunidade na gestão escolar. A escola pública, como acontece em geral com as instituições num sociedade autoritária, é organizada com vistas a relações verticais, de mando e submissão [...] os condicionantes ideológicos [...] dizem respeito a todas as concepções e crenças, sedimentadas historicamente na personalidade de cada indivíduo, que movem práticas e comportamentos violadores da autonomia do outro (PARO, 2004, p. 22-25. Grifos nossos).

Esses condicionantes e os entraves deles decorrentes incidem diretamente

nas ações dos gestores escolares, limitando o processo de Gestão Escolar

Democrática. Apesar disso, “a luta pela participação coletiva e pela superação dos

9 condicionantes deve compor um só processo, de modo que os avanços em um dos

campos levem a avanços no outro, de forma contínua e interdependente” (PARO,

2004, p. 27).

No encontro que envolveu o Grêmio Estudantil, realizado no Laboratório de

Informática, foi possível acessar o site da escola. Coletivamente foram apontados

meios para melhoria da comunicação na escola, tais como o uso mais efetivo do e-

mail e do site da escola, a organização do mural na sala dos professores e a

produção de um painel informativo no saguão da escola. Também foi discutido o

papel do Grêmio Estudantil para o processo de implementação da Gestão Escolar

Democrática. Destacaram-se, nessa direção, as atividades esportivas e culturais que

incentivam a participação da comunidade escolar no processo educativo.

O Grêmio Estudantil é o órgão máximo de representação dos estudantes do estabelecimento de ensino, com o objetivo de defender os interesses individuais e coletivos dos alunos, incentivando a cultura literária, artística e desportiva de seus membros. [...] é regido por Estatuto próprio, aprovado e homologado em Assembleia Geral, convocada especificamente para este fim (REGIMENTO ESCOLAR, Colégio XIV de Novembro, 2013, p.18).

Conforme afirma Veiga (1998, p.120):

[...] a organização estudantil é a instância onde se cultiva gradativamente o interesse do aluno, para além da sala de aula. A consciência dos direitos individuais vem acoplada à ideia de que estes se conquistam numa participação social e solidária. Numa escola onde a auto-organização dos alunos não seja uma prática, as oportunidades de êxito ficam minimizadas.

Neste sentido, ao acentuar a importância do Grêmio Estudantil na escola, os

participantes constataram que os alunos têm muito a contribuir com o processo de

construção da Gestão Escolar Democrática, pois têm condições de indicar as

necessidades e as possíveis estratégias de ação.

A função pedagógica do Grêmio é tão importante quanto a política. [...] as ações pedagógicas desenvolvidas pelo Grêmio estão relacionadas à melhoria da vida escolar, do rendimento escolar, da vida social, política e econômica na sociedade. O que o aluno aprende e vivencia dentro da escola deve servir para melhorar a vida da comunidade onde ele vive. O ponto de partida para as ações do Grêmio são as concepções que sustentam o Projeto Político-

10

Pedagógico da escola. Apropriando-se delas, é necessário conhecimento dos aspectos contextuais que cercam o cotidiano escolar. É de fundamental importância a coerência das ações do Grêmio com o PPP, bem como os possíveis âmbitos de sua atuação, sem perder de vista o seu papel e sem competir ou secundarizar o papel das outras Instâncias Colegiadas, dos educadores ou mesmo do Estado (MARTINS, s/d., p.15).

Dessa forma, o encontro possibilitou reafirmar a importância do Grêmio

Estudantil para ampliação dos espaços coletivos de participação de seus alunos. O

Grêmio Estudantil é uma Instância Colegiada que colabora para o processo de

construção da Gestão Escolar Democrática. Destacou-se, nesse sentido, que a

função social da escola pública no processo de democratização da educação não se

restringe a garantia de acesso à escola. É preciso, dentre outras questões, criar

condições para que os alunos, além do acesso, tenham efetiva possibilidade de

permanência e de sucesso, de participação efetiva. A construção coletiva da Gestão

Escolar Democrática torna-se, portanto, um imperativo aos processos de

democratização da educação. “O reconhecimento da importância do trabalho

coletivo demonstra compreensão da totalidade que compõe a comunidade escolar”

(MARTINS, s.d., p.17).

Além disso, não basta discutir a construção da Gestão Escolar Democrática

apenas com professores, alunos, pedagogos e gestores. O papel da família no

processo de democratização da educação é fundamental, já que a implementação

da Gestão Escolar Democrática não se faz sem a participação de toda a

comunidade escolar. Por isso, a sexta ação consistiu na palestra O papel da família

na educação escolar12.

A exposição sobre a importância da família no processo de democratização

da educação escolar iniciou com apresentação de um vídeo O papel da família e o

papel da escola13, de Marcos Meier14 visando refletir a perda da autoridade por parte

dos pais, a qual tende a dificultar a interação entre os indivíduos em espaços

sociais, como a escola, o trabalho, etc.

Compartilhando desta mesma ideia Paro (2007, p. 3) argumenta que:

12 Proferida pela professora Maristela Dias de Miranda, PDE 2013/2014, do Colégio Estadual Mário Quintana, de Cascavel – PR. 13 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=CaKXB64gnEc>. 14 Professor de Matemática, Psicólogo e Mestre em Educação. Comentarista em rádio e TV a respeito de educação, relacionamentos e desenvolvimento da inteligência. Autor dos livros: “O caso das 7 portas”, “Sapatos e Letras”, “Mediação da aprendizagem”, “Aprendendo a incluir e incluindo para aprender”. Fonte: http://www.marcosmeier.com.br.

11

[...] a escola que toma como objeto de preocupação levar o aluno a querer aprender precisa ter presente a continuidade entre educação familiar e a escolar, buscando formas de conseguir a adesão da família para sua tarefa de desenvolver nos educandos atitudes positivas e duradouras com relação ao aprender e ao estudar. Grande parte do trabalho do professor é facilitada quando o estudante já vem para a escola predisposto para o estudo e quando, em casa, ele dispõe da companhia de quem, convencido da importância da escolaridade, o estimule a esforçar-se ao máximo para aprender.

Além disso, a professora apontou que na atualidade existem várias formas

de organização familiar, a qual nem sempre corresponde a pai, mãe e filhos, como

no passado. Mesmo assim, a autoridade da família sobre os filhos é muito

importante para a sua integração na vida em sociedade. Partindo deste mesmo

pressuposto Romanelli (2005, p. 76) destaca que:

No Brasil, as pesquisas sobre famílias têm apontado uma diversidade em sua organização no que diz respeito tanto à sua composição, como às formas de sociabilidade que são exercidas dentro da mesma. As relações de autoridade e poder, por sua vez têm uma função ordenadora na rotina doméstica definindo posições hierárquicas entre pais e filhos, direitos e deveres específicos. Ainda para a sociabilidade doméstica está a relação afetiva entre os membros de uma família, as quais variam de acordo com a idade, gênero e a qualidade das relações entre eles.

A autoridade dos pais influencia em como os filhos irão interagir na escola.

Também ressaltou, a partir de Parolim (2003), que a família e a escola desejam

preparar as crianças para o mundo, todavia,

[...] a família tem suas particularidades que a diferenciam da escola, e suas necessidades que a aproximam dessa mesma instituição. A escola tem sua metodologia e filosofia para educar uma criança, no entanto ela necessita da família para concretizar o seu projeto educativo (PAROLIM, 2003, p. 99).

Além disso, acentuou a necessidade de se propor ações para aproximar a

família da ação educativa da escola, principalmente no que tange a melhoria da

comunicação entre escola-família e o fortalecimento de mecanismos de participação

da família, como é o caso das Instâncias Colegiadas. Dentre as atividades para

fomentar a maior participação da família destacam-se: atividades culturais, como a

12 Feiras de Ciências, saraus de poesia, atividades esportivas, atividades de leitura,

clube de mães, atividades de aprendizagem de artesanato, bazar, gincanas,

palestras, grupos de estudos, dia da família na escola, entre outras.

Um dos desafios enfatizados pela durante a palestra O papel da família na

educação escolar foi o de enfrentar a “[...] prática de trazer os pais para a escola

somente quando o aluno apresenta problemas de indisciplina e/ou aprendizagem”.

Concluíram, então, que a família tem um papel muito importante. Na produção de

cartazes, como trabalho final, destacou-se a necessidade de implementação das

ações propostas no PPP da escola e, desse modo, da implementação da Gestão

Escolar Democrática.

No último encontro foi acessado, novamente, o site da escola, para apontar

os limites e as possibilidades de sua utilização para melhoria da gestão das

informações da escola. Os participantes também acessaram o site Dia a Dia

Educação, na parte Gestão de Recursos, para conhecer as verbas que são

destinadas para a escola e a sua aplicação.

Para finalizar foi realizada a avaliação do Projeto de Intervenção

Pedagógica. Os participantes colocaram a necessidade de continuidade do mesmo

nos próximos anos. Destacaram que a Gestão Escolar Democrática é um processo

contínuo de construção, ação-reflexão, que deriva do fomento da participação da

comunidade escolar nas ações tomadas pela escola.

Acentua-se, desse modo, que a participação da comunidade escolar nas

ações da escola fomenta o exercício da democracia e da autonomia, para espaços

sociais mais amplos que o da escola. Assim, “ao conferir autonomia à escola deve

consistir em conferir poder e condições concretas para que ela alcance os objetivos

educacionais articulados com os interesses das camadas trabalhadoras” (PARO,

2004, p. 11).

Foi possível vislumbrar, por meio do Projeto de Intervenção Pedagógica,

alguns encaminhamentos que contribuem com o processo de construção da Gestão

Escolar Democrática, dentre eles, a necessidade de melhorar a gestão das

informações na escola e o fortalecimento das Instâncias Colegiadas. Por fim,

ressalta-se que a construção da Gestão Escolar Democrática não é uma tarefa fácil,

mas tem fundamental importância no processo de democratização da educação. A

participação, portanto, é algo que também se aprende na escola e configura-se

como um desafio cotidiano a ser vencido.

13 REFERÊNCIAS BENEDITO, Caroline de Macedo. Sinopse do filme Escritores da Liberdade. Disponível em: http://www.laprev.ufscar.br/sinopse-filmes/escritores-da-liberdade. Acesso em: 06 de Nov. de 2014. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria da Educação Básica. Conselho Escolar, Gestão Democrática da Educação e Escolha de Diretores. In: Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares. Brasília – DF, 2004. CASCAVEL. Regimento Escolar. Colégio Estadual XIV de Novembro. Secretaria de Estado da Educação. Cascavel – PR: 2013. CURY, C. R. J. O Conselho Nacional de Educação. In: OLIVEIRA, M. (org.) Gestão educacional: novos olhares novas abordagens. Petrópolis: Vozes, 2005. FERREIRA, N. S. C. Solidariedade, profissionais da educação e gestão da educação: por outra globalização. Universidade Tuiuti do Paraná. [s/d/]. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. SP: Cortez, 1994.

MARTINS, Sandra Mara. O pedagogo e a organização de Grêmio Estudantil atuante política e pedagogicamente. Cascavel – PR. [s/d/]. OLIVEIRA; J. F. de; MORAES; K. N. de; DOURADO, L. F. D. Gestão escolar democrática: definições, princípios e mecanismos de implementação. Disponível em: <http://escoladegestores.mec.gov.br/site/4-sala_politica_gestao_escolar/pdf/ texto2_1.pdf>. [s/d/]. PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática, 2004. _____. Qualidade do ensino: a contribuição dos pais. São Paulo: Xamã, 2007. PAROLIM, Isabel. As dificuldades de aprendizagem e as relações familiares. Fortaleza, 2003. ROMANELLI, G. Autoridade e poder na família. In: Carvalho, M. C.B.A. Família contemporânea em debate. São Paulo: EDUC/Cortez, 2005. TAQUES, Mariana F.; CARVALHO, Paulla Helena S. de.; BONI, Ana Carolina S. Duarte; FANK, Elisane; LEUTZ, Marilda Alberton. O papel do pedagogo na gestão: possibilidades de mediação do currículo. In: Organização do Trabalho Pedagógico. Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED/PR. Curitiba: 2010. VEIGA, Zilah de Passos Alencastro. As Instâncias Colegiadas da Escola. In: Veiga, Ilma Passos Alencastro (org). Escola: Espaço do Projeto Político-Pedagógico. Campinas, SP: Papirus, 1998.