os desafios da escola pÚblica paranaense na … · a leitura é relevante no processo de ensino e...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
Ficha para identificação da Produção Didático-Pedagógica
Título: A leitura a partir dos diferentes gêneros textuais
Autora Claudia Helena Maria dos Santos
Disciplina Língua Portuguesa
Escola de
Implementação do
Projeto
Colégio Estadual Castro Alves– Ensino Fundamental e Médio
Município Enéas Marques
Núcleo Regional
de Educação Francisco Beltrão
Professora
Orientadora Profª. Drª. Iara Aquino Henn
Instituição de
Ensino Superior UNIOESTE
Relação
Interdisciplinar Literatura e arte
Resumo
A leitura depois da oralidade é imprescindível ao sujeito que
deseja se aproximar e inserir-se no saber sistematizado e
acumulado pela humanidade e, também nas diversas esferas
de interação. A escola é um dos espaços onde se aprende e
compreende a importância da leitura, não só na vida escolar,
mas no desenvolvimento do educando como cidadão crítico,
capaz de atuar e intervir nas práticas sociais. Portanto, temos
como objetivo, analisar os diversos gêneros textuais, criando
condições pedagógicas para que os educandos se aproximem
e criem gosto pela prática da leitura, com o intuito de desafiar
a imaginação e a criatividade na busca e apropriação dos
conhecimentos. Além disso, pretende-se identificar os diversos
gêneros textuais que circulam socialmente; reconhecer as
peculiaridades de cada gênero discursivo; entender o caráter
dinâmico dos diversos gêneros discursivos; incentivar os
estudantes para leituras e pesquisas literárias; compreender
as relações que a leitura de textos estabelece com o cotidiano.
Para que os objetivos sejam atingidos usar-se-á metodologias
de pesquisas bibliográficas e literárias, atividades de leitura
individuais e em grupos dos Gêneros: contos, poemas e
romances.
Palavras-chave Leitura; Gêneros Discursivos; Conto; Poema; Romance.
Formato do
Material Didático Unidade Didática
Público Alvo Alunos da 3º Série – Ensino Médio
Apresentação
A leitura de mundo nasce da interação do ser humano entre seus pares e com
o meio social, pois, no decorrer da história, ele fez e fará leituras de tudo aquilo que
o cerca, atendendo, assim, suas necessidades básicas de comunicação e
organização, na sociedade em que vive. Mas a leitura que será nosso objeto de
estudo está intrínseca à escrita, pois essa é usada como auxílio à memória, a
organização do pensamento e do discurso.
A leitura é relevante no processo de ensino e aprendizagem do conhecimento
sistematizado. Para SILVA (1980, p.32) ―O acesso aos bens culturais, proporcionado
por uma educação democrática, pode muitas vezes significar o acesso aos veículos
onde esses bens se encontram registrados entre eles o livro. A leitura como
instrumento de acesso à cultura e aquisição de experiência.‖
Por perceber que os estudantes do Ensino Médio do Colégio Estadual Castro
Alves de Enéas Marques, necessitam de uma aproximação mais efetiva das práticas
de leitura, para que se tornem leitores conscientes, críticos e criativos durante sua
trajetória escolar e depois sejam capazes de se inserir na luta pela superação das
contradições da vida social é que se justifica este estudo de intervenção. Entende-se
que o princípio do ensino/aprendizagem, deve estar voltado para a formação de um
cidadão autônomo, capaz de interagir com a realidade em que vive e, para isso, o
educador precisa buscar estratégias que motivem o educando a se interessar pelas
práticas de leitura que se apresentam cada vez mais distantes do espaço escolar.
O aprendizado da leitura só pode se dar por meio da imersão na escrita, com a troca, a comunicação e a multiplicação das relações entre os escritos sociais e o mundo real. A decifração é ensinada num grupo homogêneo de crianças que, aos olhos do adulto, estão no mesmo estágio, ao passo que a aprendizagem da leitura exige que se leia num grupo formado por usuários da escrita com diferentes competências. (FOUCAMBERT, 1994, p.10)
A partir da minha prática de professora de Língua Portuguesa, percebo que
os educandos do Colégio Castro Alves não fogem à realidade brasileira; pouco
leem; raramente leem um livro inteiro; não têm o gosto pela leitura, por isso é que
pensamos esta atividade de pesquisa e intervenção. Nesse sentido, perguntamos:
como estimular os nossos estudantes para lerem em meio a tantas formas mais
rápidas e agradáveis de entretenimento? É possível ainda hoje ensinar e aprender a
ler? Como aproximar os estudantes das práticas de leitura e consequentemente da
escrita ou construir uma prática social de leitura? De que maneira a leitura contribui
para o desenvolvimento psico-intelecto-social do estudante?
Portanto a escolha do tema tem como foco a leitura de três gêneros textuais:
o conto, o poema e o romance. Optou-se pela Unidade Didática por ser um formato
de material didático que desenvolve um tema, aprofundando-o de forma teórica e
metodológica. O público alvo da Implementação do Projeto de Intervenção no
Colégio Estadual Castro Alves – Ensino Fundamental e Médio de Enéas Marques
são os estudantes da 3ª Série do Ensino Médio.
O propósito desse material de Intervenção Pedagógica é apresentar
atividades de leitura que proporcionem a aproximação dos estudantes com os
Contos: ―Uma vela para Dario‖ do Dalton Trevisan, ―A moça tecelã‖ da Marina
Colasanti; com os Poemas: ―Operário em construção‖ do Vinícius de Moraes,
―Construção‖ do Chico Buarque; e o Romance: ―A hora da estrela‖ da Clarice
Lispector. Esses textos são produções significativas da literatura brasileira, permitirá
dinâmicas reflexivas para a compreensão das informações implícitas nos mesmos.
Segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008, p.53) ―O
aprimoramento da competência linguística do aluno acontecerá com maior
propriedade se lhe for dado conhecer, nas práticas de leitura, escrita e oralidade, o
caráter dinâmico dos gêneros discursivos.‖ E devido a essa característica peculiar
de dinamicidade dos gêneros, estudaremos três gêneros principais que serão
permeados por muitos outros. Pode-se observar a importância dos gêneros do
discurso também no linguista russo Bakhtin,
A riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é integral o repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica um determinado campo. (BAKHTIN, 2003, p.262)
Neste sentido, a pluralidade de gêneros existentes e em circulação em
espaços públicos e formais, certamente, favorecerá a plena participação dos
educandos no mundo da leitura, oralidade e escrita. Por isso, esse material foi
elaborado a partir de diferentes gêneros, para ser trabalhado no 1º semestre de
2014, com o objetivo de aproximar os educandos da prática social da leitura. Há,
nessa Unidade Didática, atividades que contemplam a leitura de contos, poemas e
romances, os quais abordam temas pertinentes e do interesse dos jovens leitores,
como também geram reflexões acerca de situações cotidianas, presentes na
sociedade atual.
As atividades de leitura, interpretação e compreensão dos textos
apresentados, a gincana com exercícios sobre os contos, o estudo da biografia dos
autores, as explicações e sugestões de aprofundamento serão exploradas, a fim de
garantir, aos educandos, momentos de leitura, debate e reflexão.
Atividade I: Roda de conversa com os estudantes a respeito de leitura. Como eles
percebem a leitura, que posição assumem quando o assunto é leitura.
Você gosta de ler?
Você leu algum livro em 2013? Quantos?
Você tem alguma dificuldade quando lê?
Onde obtém os livros para sua leitura?
Que livro você mais gostou de ter lido até hoje? Por quê?
Que tipos de livros você prefere: Romance, aventura, fantasia, terror,
comédia, biografias, policial, ficção científica?
Quais são as maiores barreiras para sua frequência na leitura?
Você costuma comprar livros? Onde?
Já leu algum livro por meio eletrônico (computadores, celulares, e-books,
etc)? Quantos?
Você lê revistas? Qual (is)?
Você acredita que a leitura seja importante para a sua formação pessoal?
O que você sabe sobre Gêneros Textuais?
UNIDADE I
Trabalhando com Contos
Conteúdo: Uma vela para Dario e A moça tecelã
Dentre os diversos gêneros do discurso estudar-se-á: o conto, o romance e
o poema. O Conto para Kaufman e Rodríguez (1995) é um relato em prosa de fatos
fictícios. Apresenta três momentos diferentes: inicia com um estado de equilíbrio;
segue com a intervenção de um conflito, que dá espaço para uma série de
episódios; encerra com a resolução desse conflito que permite no final a
recuperação do equilíbrio perdido.
O estudioso Alcântara Machado (2003) compreende que o conto é uma
narrativa curta. Não faz rodeios: vai direto ao assunto. No conto tudo é importante:
cada palavra é uma pista. Em uma descrição as informações são valiosas, tudo está
cheio de significados. Para Cereja (2009) o conto tem origens antigas. Está ligado
ao desejo do ser humano de ouvir e contar histórias. Nasce nas narrativas orais dos
antigos povos nas noites de luar, passa pelas narrativas dos bardos gregos e
romanos, pelas lendas orientais, pelas parábolas bíblicas, pelas novelas medievais
italianas, pelas fábulas francesas e chega até nós, em livros, como o conhecemos
hoje.
Por ser o conto um tipo de texto em que geralmente há poucos personagens,
a narrativa não é tão extensa, tem atraído os olhares dos leitores que buscam
leituras mais rápidas. E para o deleite dos leitores vorazes nós temos grandes
contistas começando por Machado de Assis, Guimarães Rosa, Dalton Trevisan,
Ruben Fonseca, Moacyr Scliar, Marina Colasanti, Lygia Fagundes Telles entre
tantos outros.
Atividade II: Depois do debate, analisar-se-á o conto ―Uma vela para Dario‖ do
contista paranaense Dalton Trevisan, autor de narrativas curtíssimas, contundentes,
centradas em personagens anônimas com as quais projeta a náusea do cotidiano. O
trabalho será iniciado com leitura silenciosa.
Uma Vela para Dario
Dalton Trevisan
Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou
a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela
escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de
chuva, e descansou na pedra o cachimbo.
Dois ou três passantes rodearam-no e
indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca,
moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor
gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.
Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora
na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de
bigode pediu aos outros que se afastassem e o
deixassem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a
gravata e a cinta. Quando lhe retiraram os sapatos,
Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no
canto da boca.
Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta
dos pés, embora não o pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma
porta à outra, as crianças foram despertadas e de pijama acudiram à janela. O
senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do
cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-chuva ou
cachimbo ao seu lado.
A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo. Um grupo o
arrastou para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protestou o
motorista: quem pagaria a corrida? Concordaram chamar a ambulância. Dario
conduzido de volta e recostado á parede - não tinha os sapatos nem o alfinete de
pérola na gravata.
A importância da leitura
silenciosa
A leitura silenciosa se dá por ser mais eficaz e cerca de três vezes mais rápida do que a leitura em voz alta. Ela também oportuniza o encontro dos interlocutores: autor e leitor, cujo objeto é o texto. Nesse contato do leitor com o texto, por meio da leitura silenciosa, surge uma estreita relação de cumplicidade, ao mesmo tempo ativa a compreensão do que se lê.
Alguém informou da farmácia na outra rua. Não carregaram Dario além da
esquina; a farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado
na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobriu o rosto, sem que fizesse
um gesto para espantá-las.
Ocupado o café próximo pelas pessoas que vieram apreciar o incidente e,
agora, comendo e bebendo, gozavam as delicias da noite. Dario ficou torto como o
deixaram, no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso.
Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os papéis, retirados - com vários
objetos - de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficaram sabendo do
nome, idade; sinal de nascença. O endereço na carteira era de outra cidade.
Registrou-se correria de mais de duzentos curiosos que, a essa hora,
ocupavam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investiu a multidão.
Várias pessoas tropeçaram no corpo de Dario, que foi pisoteado dezessete vezes.
O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá-lo — os bolsos
vazios. Restava a aliança de ouro na mão esquerda, que ele próprio quando vivo -
só podia destacar umedecida com sabonete. Ficou decidido que o caso era com o
rabecão.
A última boca repetiu — Ele morreu, ele morreu. A gente começou a se
dispersar. Dario levara duas horas para morrer, ninguém acreditou que estivesse no
fim. Agora, aos que podiam vê-lo, tinha todo o ar de um defunto.
Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça.
Cruzou as suas mãos no peito. Não pôde fechar os olhos nem a boca, onde a
espuma tinha desaparecido. Apenas um homem morto e a multidão se espalhou, as
mesas do café ficaram vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para
descansar os cotovelos.
Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do
cadáver. Parecia morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela
chuva.
Fecharam-se uma a uma as janelas e, três horas depois, lá estava Dario à
espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó, e o dedo sem a aliança.
A vela tinha queimado até a metade e apagou-se às primeiras gotas da chuva, que
voltava cair.
Disponível em http://www.releituras.com/daltontrevisan_dario.asp. Acesso em
Out/2013
2.1 Atividades de leitura e conversa sobre o gênero textual.
( Os estudantes serão questionados oralmente, sobre quais conhecimentos
eles possuem a respeito de gêneros.
Qual é o gênero do texto lido?
Que outros contos vocês conhecem?
Quem tem ideia de quais seriam os principais contistas brasileiros?
2.2: Atividades de Interpretação
A análise das questões será feita de forma coletiva para que os alunos tenham
oportunidade de manifestar-se oralmente e fazerem inferências a respeito do texto,
podendo relacionar esse com outros textos que conheçam ou até mesmo histórias
reais que tenham conhecimento.
1. Qual é o veículo onde circula o texto?
2. Quem seria o Dario, por que ele não tem sobrenome?
3. Quais os temas que o texto trata?
4. De onde viria Dario? Morava naquela cidade? Ou seria de outro lugar?
5. As tragédias individuais exercem fascínio sobre várias pessoas. Isso se
caracteriza apenas como curiosidade ou as pessoas tem interesse em ajudar.
Como você se comportaria se fosse um passante na história de Dario?
6. Como se apresenta a linguagem do conto?
7. Qual era a condição econômica de Dario?
8. Quais foram as personagens que se mostraram solidárias e que gestos
realizaram?
9. As ações do menino e do senhor piedoso demonstram que tipos de
sentimentos e isso é comum a todos os seres humanos?
10. Quem são os exploradores de Dario?
“O que não me contam eu escuto atrás das portas.”
Dalton Trevisan
11. Como os transeuntes poderiam ter evitado a morte de Dario?
2.3 Na sequência os estudantes serão orientados para fazer uma pesquisa, na
internet, sobre o contista paranaense Dalton Trevisan.
Dalton Trevisan
BIOGRAFIA
Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-2/dalton-trevisan-
literatura-brasileira-biografia-634364.shtml. Acesso em: Outubro/2013.
Atividade III: analisar-se-á o conto A moça tecelã de Marina Colasanti, um texto que
está mais para a literatura fantástica.
A Moça Tecelã
Marina Colasanti
Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das
beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia
passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã
desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete
que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava
na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na
penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos
rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e
espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para
que o sol voltasse a acalmar a natureza.
“Os seres humanos frequentemente dizem uma coisa e pensam
outra, fingem ser o que não são, simulam suas intenções.”
Marina Colasanti
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes
pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de
escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha,
suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu
fio de escuridão, dormia tranquila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha,
e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca
conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam
companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto
barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de
entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de
pluma, e foi entrando em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que
teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos,
logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a
não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo,
agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios
verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer
resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e
pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para
chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e
entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da
lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para
ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a
porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de
luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer
era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior
que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como
seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com
novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre,
sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao
contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu
tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois
desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente
se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e,
espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o
desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as
pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado
chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara.
E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu
na linha do horizonte.
COLASANTI, Marina. Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento, Global Editora ,
Rio de Janeiro, 2000.
“A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por
incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta
sede.”
Carlos Drummond de Andrade
Marina Colasanti
Disponível em:http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm? fuseaction =biografias_texto&cd_verbete=5241 (Acesso outubro/13)
Atividades de interpretação
“O amor não é louco. Sabe muito bem o que faz, e nunca, nunca
age sem motivo. Loucos somos nós, que insistimos em querer
entendê-lo no plano da razão.”
Marina Colasanti
BIOGRAFIA
1. O conto é um texto curto que pertence ao grupo dos gêneros narrativos ficcionais
e se caracteriza por apresentar apenas um conflito, poucas personagens, poucas
ações e tempo e espaço reduzido.
a. O texto ―A moça tecelã‖ e um conto ficcional? Explique por quê.
b. No conto assim como em outros textos narrativos, o narrador pode ser narrador-
observador ou narrador-personagem. Que tipo de narrador o conto ― A moça tecelã‖
apresenta. Comprove sua resposta com elementos do texto.
c. Quais são as personagens envolvidas na história?
d. Levante hipóteses: Qual é o tempo de duração dos fatos relatados no conto?
2. Nos gêneros narrativos, a sequência de fatos que matem entre si uma relação de
causa e efeito constitui o enredo, cujo sentido e progressão são decorrentes do
emprego do tempo verbais no pretérito.
a. Observe esse trecho do texto: ―Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol
chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.‖
b. O pretérito imperfeito, nesse caso, indica uma ação passada não concluída,
enfocando sua duração, ou indica uma ação que se repetia no passado? Justifique.
3. Retire do texto outras palavras e expressões que indicam que as ações da
personagem principal, se repetiam no passado.
4. A progressão da narrativa se faz, principalmente, pelos verbos no pretérito
perfeito. Transcreva (ou aponte) um parágrafo do texto que comprove essa
afirmação.
5. No texto, ―A moça tecelã‖, predomina a linguagem conotativa ou figurada.
a. Que figura de linguagem ocorre nos fragmentos abaixo:
―leve, a chuva vinha cumprimentá-la da janela.‖; ―[...] o vento e o frio brigavam com
as folhas [...]‖
b. Esse tipo de linguagem, figurada, seria adequado a um repórter anunciar o tempo
meteorológico? Por quê?
6. Localize e transcreva do texto o trecho em que o narrador afirma que a moça foi
ficando mais velha, empregando para isso linguagem figurada.
7. Explique, com suas palavras o que você entende a partir do trecho ― Tecer era
tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.‖
8. O que se pode inferir sobre o marido da tecelã, nessa fala:
a) ―Por que ter casa, se podemos ter um palácio?‖
b) Que sentimento do marido levou a moça tecelã a livrar-se dele? Como ela fez
isso? O que, na sua opinião, a fez tomar esta decisão? O que lhe faltava?
9. A tecelã idealiza o marido perfeito e transforma-o numa figura concreta com sua
habilidade mágica.
a. Transcreva do texto a passagem do texto em que o narrador descreve o
companheiro da tecelã.
b. Qual a finalidade dessa descrição na narrativa?
10. A tecelã ao tecer o seu destino, faz escolhas e as concretiza. Ao se decepcionar
com suas escolhas ela as destece. O que atitude de destecer o marido revela da
tecelã, em relação ao comportamento da mulher , principalmente no casamento?
Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=9931
(Acesso em Outubro /2013)
Atividade IV
Os estudantes serão divididos em dois grupos competindo entre si. A gincana
será feita de forma oral, eles não poderão se utilizar dos textos para responderem as
questões.
GINCANA
“Uma vela para Dario‖
1) O texto lido é:
A) de mistério (B) fantástico (C) de tragédia (D) de aventura
2) O texto ―Uma vela para Dario‖ é classificado como:
(A) notícia (B) reportagem (C) crônica (D) conto
3) O texto aborda:
(A) a descontração dos habitantes de um bairro de uma cidade grande.
(B) comportamento solidário das pessoas com relação a quem elas não conhecem.
(C) a rapidez com que o homem é transformado em objeto.
(D) a demora do socorro médico prestado a um indigente.
4) Quais temáticas são abordadas no texto?
(A) compaixão, solidariedade e vulgarização da morte.
(B) indiferença, oportunismo e banalização da morte.
(C) amor ao próximo, oportunismo, roubalheira.
(D) banalização da morte, compaixão e insensibilidade.
5) Qual a alternativa que expressa somente índices caracterizadores da classe
social do personagem?
(A) Sentar no chão, usar gravata.
(B) Ser famoso, ter carteira com documentos.
(C) Usar alfinete de pérola na gravata, fumar cachimbo.
(D) Passar próximo a uma peixaria, portar guarda-chuva.
6) Em que período do dia os fatos aconteceram?
(A) ao amanhecer (B) logo após o café da manhã (C) à tarde (D) à noite
7) As pessoas que passavam pelo local onde Dario estava, perceberam que ele não
estava bem. Ao ser indagado sobre seu estado de saúde, quais foram os gestos de
Dario.
(A) Abriu a boca, moveu os lábios e não disse nada.
(B) Apagou o cachimbo, deitou no asfalto e pediu socorro.
(C) Deitou na calçada, fechou o guarda-chuva e chorou.
(D) Abriu a boca, disse que não estava bem e deitou na calçada.
8) Qual dessas passagens denota que Dario começa a perder o controle de seus
atos:
(A) ―...vinha apressado...‖ (B) ―...dobrou a esquina...‖
(C) ―...diminuiu o passa até parar...‖ (D) ―... foi escorregando por ela, de costas...‖
9) Houve um acentuado movimento no café, graças a:
(A) compaixão humana (B) bisbilhotice humana
(C) solidariedade humana (D) irritação humana
10) ―Registra-se correria de uns duzentos curiosos, que, a essa hora, ocupam toda a
rua e as calçadas‖ A expressão ―duzentos curiosos‖ foi usada no sentido figurado,
ou seja, não significa que havia realmente duzentas pessoas perto de Dario.O
exagero no número de pessoas que se aproximam de Dario revela algo sobre o
comportamento delas, que é:
(A) o amor ao próximo (B) a curiosidade (C) o luto (D) a revolta
11) Qual dos trechos demonstra gesto de solidariedade para com Dario.
(A) ― Um grupo o arrastou para o táxi da esquina‖.
(B) ―A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo‖.
(C) ―O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque‖.
(D)‖Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça‖.
12 ) Em: ―A última boca repete ─ Ele morreu, ele morreu.‖ e ―A gente começa a se
dispersar.‖ demonstram que:
(A) os moradores que estavam à janela poderiam voltar aos seus afazeres.
(B) as pessoas perderam o interesse em Dario tão logo viram que ele havia morrido.
(C) o local em que Dario se encontrava precisava ser liberado para a aproximação
da polícia.
(D) os curiosos, respeitando o sofrimento alheio, deixam Dario sozinho.
13) ―Ficou decidido que o caso era com o rabecão.‖ Nesse contexto, a palavra
destacada quer dizer:
(A) capitão da polícia (B) agente funerário (C) carro fúnebre (D) médico
legista
14) Alguns insetos pousaram sobre Dario que estava inerte e jogado
displicentemente na frente da peixaria. Que insetos eram:
(A) abelhas (B) moscas (C) mosquitos (D) baratas
15) Dario foi largado em frente a peixaria por duas razões:
(A) estava chovendo e a peixaria estava fechada.
(B) já estava morto e não tinha parentes.
(C) não tinha documentos e havia muitas pessoas na calçada.
(D) era pesado e a farmácia era longe.
16) O carro da polícia chegou ao local onde Dario estava, porém o guarda não pode
identificá-lo, porque Dario estava:
(A) machucado (B) morto (C) sem documentos (D)sem acompanhante
17) A causa da morte de Dario foi:
(A) pneumonia (B) ataque (C) atropelamento (D) assassinato
18) Qual das opções abaixo mostra que a atitude das pessoas em relação a Dario
deixa de ser curiosidade e passa, mesmo que involuntária, a ser agressão física?
(A) ― Largaram-no em frente à peixaria.‖
(B) ― Tropeçam em Dario que foi pisoteado dezessete vezes.‖
(C) ― Colocaram somente a metade de seu corpo dentro do táxi, quando o motorista
protestou.‖
(D) ― Dario foi recostado à parede sem os sapatos e o alfinete de pérola na gravata.‖
19) Após apreciar o incidente a multidão se dispersou. Por quê?
(A) Os botequins fecharam.
(B) Começou a chover.
(C) Levaram Dario para ser velado.
(D) Dario era apenas um homem morto.
20) A vela colocada ao lado do cadáver pelo menino de cor e descalço simboliza:
(A) que alguém reconhece a dignidade humana de Dario.
(B) que já estava escuro, sem iluminação.
(C) que naquele bairro faltava luz elétrica.
(D) que era necessário aquecer Dario
A MOÇA TECELÃ
1) No texto ―A Moça Tecelã‖, de Marina Colasanti, a personagem principal usa o seu
tear para:
(A) Tecer tudo o que a sua imaginação permitir.
(B) Expressar suas mágoas, através das cores das linhas.
(C) Recuperar o tempo perdido empregado nos afazeres domésticos.
(D) Atender a um pedido de sua mãe.
2) Dentre as características abaixo, qual delas não pertence ao rapaz?
(A) emplumado chapéu
(B) barba
(C) sapatos engraxados
(D) corpo curvado
3) O que a moça tecelã não era:
(A) criativa (B) submissa (C) autônoma (D) dependente
4) No trecho ―E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, [...]
corpo aprumado, sapato engraxado‖ os adjetivos selecionados caracterizam um
homem:
(A) educado (B) vaidoso (C) mau (D) tímido
5) Qual dos trechos comprova que a moça gostava do que fazia.
(A) ―Nada lhe faltava.‖
(B) ―Afinal o palácio ficou pronto.‖
(C) ―Tecer era tudo o que queria fazer.‖
(D) ―E logo sentava-se ao tear‖
6) Em ―Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das
beiradas da noite.‖ Qual das palavras não é sinônimo de beirada.
(A) margem (B) arredor (C) extremidade (D)centro
7) Quando a moça percebeu que era importante dividir com alguém seu tempo?
(A) Quando percebeu que o vento e o frio brigavam com as folhas.
(B) Quando percebeu que estava só.
(C) Quando percebeu que precisava de ajuda para tecer seu castelo.
(D) Quando percebeu que a neve caía e ela não tinha tempo para chamar o sol.
8) Após fazer parte da vida da mulher, qual foi a primeira exigência do marido?
(A) a construção de uma casa maior e melhor.
(B) a estrebaria e os cavalos.
(C) cofres cheios de moedas.
(D) palácio com muitos criados.
9) Qual era o maior desejo do marido da moça tecelã?
(A) ter muitos filhos.
(B) vender os tapetes produzidos pela mulher
(C) ser plenamente feliz ao lado da esposa.
(D) obter bens materiais, fruto do tear da esposa.
10) Em ―Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido‖. O verbo em
destaque está no:
(A) presente do indicativo (B) pretérito perfeito do indicativo
(C) pretérito imperfeito do indicativo (D) futuro do presente do indicativo
Unidade II - POEMA
Conteúdo: O operário em construção e Construção
O poema é o texto literário que exige a sensibilidade do leitor, que ele disponibilize
suas emoções para então fazer a leitura, é um texto mais para sentir do que para
refletir. O poema mexe com o ―espírito‖, a imaginação e a sensibilidade do leitor.
Para Kaufman e Rodríguez (1995) o poema é geralmente escrito em versos, com
distribuição espacial muito particular: as linhas curtas e os agrupamentos em
estrofes dão importância aos espaços em branco, o texto surge das páginas com
uma silhueta especial que nos introduz nos misteriosos labirintos da linguagem
figurada. O poema pede uma leitura em voz alta, para captar o ritmo dos versos. Ele
também expressa os sentimentos, as emoções do poeta ou sua versão da realidade
para criar atmosferas de mistério e surrealismo.
Como afirma Abaurre (2010), no início, os poemas líricos eram cantados,
acompanhados pela lira, um instrumento musical de cordas. A separação entre
poesia e música só aconteceu depois da invenção da imprensa, no século XV,
quando a cultura escrita passou a prevalecer sobre a oral. A autora ainda
complementa que na obra lírica um sujeito que chamamos eu lírico exprime suas
emoções que são todas as experiências psíquicas: sejam os mais profundos
sentimentos e sensações, as mais variadas reflexões e concepções de mundo.
Segundo Cereja e Magalhães (2009, p. 49) o poema ― é um gênero textual
que se constrói não apenas com ideias e sentimentos, mas também por meio do
emprego do verso e de seu recursos musicais __ a sonoridade e o ritmo das
palavras __ e de palavras com sentido figurado.‖
As Diretrizes Curriculares da
Educação Básica trazem algumas
orientações a respeito do gênero poema.
Por exemplo, a motivação que o professor
fizer antes de apresentar o poema tanto
pode despertar o gosto pelo poema ou a
falta de interesse pelo mesmo; a leitura
expressiva do poema é também um
instrumento eficaz para aguçar a
sensibilidade do educando.
Na perspectiva do poema dar-se-á
ênfase aos poemas com temas sociais, que
têm como centro o homem, mais
precisamente o operário, tanto no texto de
Vinicius de Moraes ―Operário em
construção‖ quanto no de Chico Buarque
―Construção‖, apesar de terem sido escritos
em décadas diferentes, ambos sinalizam
para a insensatez da sociedade deixando de
lado os valores essenciais do ser humano.
Há poemas em que
desconsiderar a leitura do ritmo
significa comprometer a
interpretação e a compreensão,
assim como há poemas em que
este recurso não é tão relevante.
Há poemas em que a escolha
lexical é o que faz a diferença,
outros, ainda, em que a
pontuação é carregada de
significação. Há poemas em que
informações como as condições
de produção, o contexto
histórico-cultural fariam falta
para a sua compreensão, outros
nem tanto, o poema responde
por si só. Cabe ao professor,
portanto, observar quais
recursos de construção do
poema devem ser considerados
para a leitura e, como mediador
do processo, contribuir para
que os discentes sejam
capazes de identificá-los e,
sobretudo, permitir a eles que
efetivem, de fato a experiência
de ler o texto poético em toda a
sua gama de possibilidades. (
DCEs, 2008, p.76)
“Com as lágrimas do tempo e a cal do meu dia
eu fiz o cimento da minha poesia.”
Vinicius de Moraes
OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO
Vinicius de Moraes
E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos
os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:
- Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a
quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
- Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele
servirás.
Lucas, cap. V, vs. 5-8.
Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um
templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão -
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.
Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.
E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.
Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
- "Convençam-no" do contrário -
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.
Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!
Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.
Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!
- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.
Vinicius de Moraes: o grande
poetinha
Vinicius tem o fôlego dos românticos,
a espiritualidade dos simbolistas, a
perícia dos parnasianos (sem refugar
como estes, as sutilezas barrocas) e,
finalmente, homem bem do seu
tempo, a liberdade, a licença, o
esplêndido cinismo dos modernos.
Manuel Bandeira
“A poesia dos poetas que sofreram é doce e terna.
E a dos outros, dos que de nada foram privados, é
ardente, sofredora e rebelde”.
Vinicius de Moraes
VINICIUS DE MORAES
Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes, conhecido como Vinicius de
Moraes nasceu em 19 de outubro de 1913, no Rio de Janeiro, com ascendência
nobre e de dotes artísticos.
Com apenas 16 anos entrou para a Faculdade de Direito do Catete, onde
se formou em 1933, ano no qual teve seu primeiro livro publicado ―O caminho
para a distância‖. Durante o período de formação acadêmica firmou amizades
com vínculos boêmios e desde então, viveu uma vida ligada à boemia.
Após alguns anos foi estudar Literatura Inglesa na Universidade de Oxford,
no entanto, não chegou a se formar em razão do início da Segunda Guerra
Mundial. Ao retornar ao Brasil, morou em São Paulo, onde fez amizade com Mário
de Andrade, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade e também efetivou
o primeiro de seus nove casamentos. Logo após algumas atuações como
jornalista, cronista e crítico de cinema, ingressou na diplomacia em 1943. Por
causa da carreira diplomática, Vinicius de Morais viajou para Espanha, Uruguai,
França e Estados Unidos, contudo sem perder contato com o que acontecia na
cultura do Brasil.
É um dos fundadores do movimento revolucionário na música brasileira,
chamado de ―Bossa Nova‖, juntamente com Tom Jobim e João Gilberto. Com
essa nova empreitada no mundo da música, Vinicius de Moraes abandonou a
diplomacia e se tornou músico, compôs diversas letras e viajou através das
excursões musicais. Durante esse período viveu intensamente os altos e baixos
da vida boêmia, além de vários casamentos.
O início da obra de Vinicius de Moraes segue uma aliança com o Neo -
simbolismo, o qual traz uma renovação católica da década de 30, além de uma
reformulação do lado espiritual humano. Vários poemas do autor enquadram-se
nesta fase de temática bíblica. Porém, com o passar dos anos, as poesias foram
focando um erotismo que passava a entrar em contradição com a sua formação
religiosa.
Após essa fase de dicotomia entre prazer da carne e princípios cristãos,
infelicidade e felicidade, Vinicius de Moraes partiu para uma segunda fase
poética: a temática social e a visão de amor do poeta.
Vinicius de Moraes foi um poeta que marcou a literatura e a música, e até hoje é
relembrado, inclusive em nomes de avenidas, ruas, perfumes, etc.
Disponível em: http://www.brasilescola.com/literatura/vinicius-moraes.htm Acesso
em novembro/2013
Atividade I
Como atividade os alunos receberão individualmente o poema recortado em
estrofes e deverão montá-lo. Depois disso far-se-á uma discussão oral sobre o
poema, se ele ainda pode ser considerado contemporâneo, se a visão que temos
das relações entre operário e patrão é a mesma da época em que o poema foi
escrito. Na sequência receberão o poema/canção de Chico Buarque, após a
audição da canção os estudantes deverão traçar um paralelo da vida do operário
descrita no poema e na canção, e a vida do operário atual.
CONSTRUÇÃO
Chico Buarque
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
“A curiosidade é
mesmo feita do que já
se conhece com a
imaginação.”
Chico Buarque
“Por mais longa que seja a caminhada o mais
importante é dar o primeiro passo.”
Vinicius de Moraes
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
É importante observar que
todos os versos têm no seu
final palavras proparoxítonas,
também chamadas
esdrúxulas, pois são
vocábulos tradicionalmente
associados a um caráter
exótico, estranho.
―As pessoas têm
medo das
mudanças. Eu
tenho medo que as
coisas nunca
mudem.”
Chico Buarque
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
Disponível em: http://www.letras.com.br/#!chico-buarque/construcao (Acesso em: Novembro/2013)
Atividades II: Depois da atividade I, os estudantes serão orientados a fazer
uma produção textual de vinte linhas, utilizando-se do paralelo que traçaram
anteriormente, dando sugestões do que poderia ser melhorado na vida do
operário de hoje. Tema: ―O operário do Vinicius e Chico e o operário atualmente.‖
DICAS ESSENCIAIS PARA FAZER UMA REDAÇÃO:
Delimitar o assunto para abordar o tema;
Usar língua culta padrão;
Assumir uma posição diante o tema e defendê-lo com argumentos
coerentes;
Não copiar trechos da coletânea de textos. Ao aproveitar alguma ideia ou
informação apresentada, sintetizá-la, usando suas próprias palavras;
O domínio e o conhecimento da língua portuguesa são importantes;
O vocabulário deve ser simples e adequado ao tipo de texto;
É recomendado seu texto ter 3 parágrafos: Introdução, Defesa da Tese e
Conclusão;
Deve ser usar conectivos para ligar o texto, usando preposições, pronomes
relativos, as conjunções coordenativas e subordinativas. Manter
paralelismo sintático e evite repetir palavras usando palavras que sejam
sinônimos;
A articulação entre as ideias e entre as orações mantém coesão e a
coerência;
A progressão temática é a necessária manutenção de um elemento
linguístico dado ao acréscimo de novas informações sobre o dado, e evite
repetir informações, sempre acrescente mais informações;
Disponível em: http://www.grupoescolar.com/pesquisa/dicas-de-redacao--
producao-de-texto.html ( Acesso novembro/2013)
CHICO BUARQUE
Francisco Buarque de Hollanda (Rio de Janeiro RJ 1944). Compositor,
letrista, romancista e dramaturgo. Filho do historiador Sérgio Buarque de Holand
(1902 - 1982) e da pianista amadora Maria Amélia Cesário Alvim. Em 1963,
ingressa na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
(FAU/USP), mas larga o curso após três anos. Pouco tempo depois de ter
publicado suas primeiras crônicas em um jornal de escola, estreia nos palcos em
1964, na carreira que o consagra como um dos maiores músicos da história da
música popular brasileira (MPB). Em 1965, conhece Gilberto Gil e Caetano
Veloso, dois dos principais nomes da música brasileira com quem colabora. A
esses nomes somam-se outros como Antonio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes,
Edu Lobo e Nara Leão. Sua canção A Banda vence o 2º Festival de Música
Popular Brasileira no ano de 1966, ao lado de Disparada, de Theo de Barros e
Geraldo Vandré. Nesse ano lança seu primeiro LP, Chico Buarque de Hollanda, e
volta a morar no Rio de Janeiro. Ele também atua como dramaturgo e compositor
de músicas para teatro, cinema e televisão e escreve, em 1967, a peça Roda
Viva, marco cultural da resistência ao regime militar. Em 1978, participa da
fundação do Centro Brasil Democrático (Cebrade), com seu pai e o arquiteto
Oscar Niemeyer (1907 - 2012), entre outros, numa tentativa de formalizar uma
oposição ao governo militar. Entre 1983 e 1984 participa ativamente da campanha
pelas diretas já, episódio que ilustra sua atuação como intelectual público. Sua
estreia no romance, gênero literário a que se dedica mais intensamente, acontece
em 1991, com Estorvo. Desde então, o artista divide-se entre projetos musicais e
literários e entre suas residências no Rio de Janeiro e na Europa.
BIOGRAFIA
Disponível em:
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm?fuseaction=
biografias_texto&cd_verbete=5105 (Acesso em: Novembro/2013)
Unidade III – Romance
O romance de acordo com Kaufman e Rodríguez (1995, p. 22) ―semelhante
ao conto, mas tem mais personagens, maior número de complicações, passagens
mais extensas com descrições e diálogos‖ , segundo as autoras as personagens
adquirem uma definição mais acabada, e as ações secundárias podem ter tal
importância que terminam por converter-se em textos ou unidades narrativas
independentes. O romance é uma forma literária do gênero narrativo que
apresenta uma história completa, com temporalidade, ambientação e
personagens claramente definidos. Surgiu na idade média, tendo em Dom
Quixote, de Cervantes, sua principal representação. No Novo Dicionário Aurélio
da Língua Portuguesa o verbete romance apresenta a seguinte definição:
―Descrição longa das ações e sentimentos de personagens fictícios, numa
transposição da vida para o plano artístico‖.
Para Araújo (2010) o romance é a narração mais conhecida, além de ser a
preferida entre os leitores. A estrutura da narrativa é complexa, já que não
acomoda apenas um núcleo, mas várias tramas se desencadeiam durante a
narração da história principal.
Para aproximar este gênero dos estudantes da 3ª série do Ensino Médio,
apresentaremos o romance ―A hora da estrela‖ de Clarice Lispector, este que foi o
último romance publicado em vida pela escritora. A obra traz um escritor que se
debate com a ideia de escrever um romance com uma protagonista medíocre,
com fatos pobres.
ATIVIDADE l
Aos estudantes será proposta a leitura do romance, cada aluno receberá
um exemplar, que deverá ser lido alternadamente na escola e extraclasse. Na
sequência há um breve resumo deste romance.
A HORA DA ESTRELA
Macabéa (Maca) foi criada por uma tia beata, após a morte dos pais
quando tinha dois anos de idade. Acumula em seu corpo franzino a herança do
sertão, ou seja, todas as formas de repressão cultural, o que a deixa alheia de si e
da sociedade. Segundo o narrador, ela nunca se deu conta de que vivia numa
sociedade técnica onde ela era um parafuso dispensável.
Ignorava até mesmo porque se deslocara de Alagoas até o Rio de Janeiro,
onde passou a viver com mais quatro colegas na Rua do Acre. Macabéa trabalha
como datilógrafa numa firma de representantes de roldanas, que fica na Rua do
Lavradio. Tem por hábito ouvir a Rádio Relógio, especializada em dizer as horas
e divulgar anúncios, talvez identificando com o apresentador a escassez de
linguagem que a converte num ser totalmente inverossímil no mundo em que
procura sobreviver. Tinha como alvo de admiração a atriz norte-americana Marilyn
Monroe, o símbolo social inculcado pelas superproduções de Hollywood na
década de 1950.
Macabéa recebe de seu chefe, Raimundo Silveira, o aviso de que será
despedida por incompetência. Como Macabéa aceita o fato com enorme
humildade, o chefe se compadece e resolve não despedi-la imediatamente.
Seu namorado, Olímpico de Jesus, era nordestino também. Por não ter
nada que ajudasse Olímpico a progredir, ela o perde para Glória, que possuía
atrativos materiais que ele ambicionava.
Glória, com certo sentimento de culpa por ter roubado o namorado da
colega, sugere a Macabéa que vá a uma cartomante, sua conhecida. Para isso,
empresta-lhe dinheiro e diz-lhe que a mulher, Madame Carlota, era tão boa, que
poderia até indicar-lhe o jeito de arranjar outro namorado. Macabéa vai então à
cartomante, que, primeiro, lhe faz confidências sobre seu passado de prostituta;
depois, após constatar que a nordestina era muito infeliz, prediz-lhe um futuro
maravilhoso, já que ela deveria casar-se com um belo homem loiro e rico - Hans -
que lhe daria muito luxo e amor.
Macabéa sai da casa de Madame Carlota 'grávida de futuro', encantada
com a felicidade que a cartomante lhe garantira e que ela já começava a sentir.
Então, logo ao descer a calçada para atravessar a rua, é atropelada por um
luxuoso Mercedes amarelo. Esta é a hora da estrela de cinema, onde ela vai ser
"tão grande como um cavalo morto".
Ao ser atropelada, Macabéa descobre a sua essência: ―Hoje, pensou ela,
hoje é o primeiro dia de minha vida: nasci‖. Há uma situação paradoxal: ela só
nasce, ou seja, só chega a ter consciência de si mesma, na hora de sua morte.
Por isso antes de morrer repete sem cessar: ―Eu sou, eu sou, eu sou, eu sou‖.
Por ter definido a sua existência é que Macabéa pronuncia uma frase que
nenhum dos transeuntes entende: ―Quanto ao futuro.‖ (...) ―Nesta hora exata
Macabéa sente um fundo enjôo de estômago e quase vomitou, queria vomitar o
que não é corpo, vomitar algo luminoso. Estrela de mil pontas.‖
Com ela morre também o narrador, identificado com a escrita do romance
que se acaba.
Disponível em: http://portale7.blogspot.com.br/2013/07/a-hora-da-estrela-de-clarice-lispector.html (Acesso em Novembro/2013)
―A feiura é o meu estandarte de guerra.
Eu amo o feio com um amor de igual para igual.‖
Clarice Lispector
CLARICE LISPECTOR
Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, mas seus pais imigraram para o Brasil
pouco depois. Chegou a Maceió com dois meses de idade, com seus pais e duas
irmãs. Em 1924 a família mudou-se para o Recife, e Clarice passou a freqüentar o
grupo escolar João Barbalho. Aos oito anos, perdeu a mãe. Três anos depois,
transferiu-se com seu pai e suas irmãs para o Rio de Janeiro.
Em 1939 Clarice Lispector ingressou na faculdade de direito, formando-se
em 1943. Trabalhou como redatora para a Agência Nacional e como jornalista no
jornal "A Noite". Casou-se em 1943 com o diplomata Maury Gurgel Valente, com
quem viveria muitos anos fora do Brasil. O casal teve dois filhos, Pedro e Paulo,
este último afilhado do escritor Érico Veríssimo.
Seu primeiro romance foi publicado em 1944, "Perto do Coração
Selvagem". No ano seguinte a escritora ganhou o Prêmio Graça Aranha, da
Academia Brasileira de Letras. Dois anos depois publicou "O Lustre".
Em 1954 saiu a primeira edição francesa de "Perto do Coração Selvagem",
com capa ilustrada por Henri Matisse. Em 1956, Clarice Lispector escreveu o
romance "A Maçã no Escuro" e começou a colaborar com a Revista Senhor,
publicando contos.
A VISÃO DE CLARICE
Clarice
Veio de um mistério, partiu para outro.
Ficamos sem saber a essência do mistério. Ou o mistério não era essencial, Era Clarice viajando nele. Era Clarice bulindo no fundo mais fundo, Onde a palavra parece encontrar Sua razão de ser, e retratar o homem.
Carlos Drummond de Andrade
BIOGRAFIA
Separada de seu marido, radicou-se no Rio de Janeiro. Em 1960 publicou
seu primeiro livro de contos, "Laços de Família", seguido de "A Legião
Estrangeira" e de "A Paixão Segundo G. H.", considerado um marco na literatura
brasileira.
Em 1967 Clarice Lispector feriu-se gravemente num incêndio em sua casa,
provocado por um cigarro. Sua carreira literária prosseguiu com os contos infantis
de "A Mulher que matou os Peixes", "Uma Aprendizagem ou O Livro dos
Prazeres" e "Felicidade Clandestina".
Nos anos 1970 Clarice Lispector ainda publicou "Água Viva", "A Imitação
da Rosa", "Via Crucis do Corpo" e "Onde Estivestes de Noite?". Reconhecida pelo
público e pela crítica, em 1976 recebeu o prêmio da Fundação Cultural do Distrito
Federal, pelo conjunto de sua obra.
No ano seguinte publicou "A Hora da Estrela", seu último romance, que foi
adaptado para o cinema, em 1985.
Clarice Lispector morreu de câncer, na véspera de seu aniversário de 57
anos.
Disponível em: http://educacao.uol.com.br/biografias/clarice-lispector.jhtm (Acesso em
Novembro/ 2013)
ATIVIDADE II
―Corro perigo Como toda pessoa que vive E a única coisa que me espera É exatamente o inesperado.‖
Clarice Lispector
Depois da leitura, far-se-á uma roda de conversa para verificar os pontos
altos do romance.
Para finalizar as atividades os estudantes serão orientados a
desenvolverem uma estratégia de apresentar o romance ―A hora da Estrela‖ em
gravações de audiovisual para posteriormente apresentarem aos colegas em
vídeo, pode-se se chamar também de curta metragem, eles poderão se utilizar de
filmadoras, celulares, tablets, recursos que possibilitem filmagens e também a
edição das imagens posteriormente no computador. O curta metragem será
apresentado para os demais estudantes do Ensino Médio.
AVALIAÇÃO
A avaliação das atividades ocorrerá num processo contínuo e se dará na
medida em que os estudantes demonstrarem interesse e participação no
desenvolvimento dos trabalhos. Será avaliada também pela reflexão a partir dos
textos, a participação na gincana, à produção escrita e o vídeo. Espera-se que os
educandos sintam-se motivados a ultrapassarem os seus horizontes, buscando
novas leituras e ampliando, assim sua visão de mundo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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