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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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JOGOS E BRINCADEIRAS NA FORMAÇÃO DAS CULTURAS AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA: integração e valorização da

história

Adriana Leite Persiguelo

Profº. Drº. Rogério Ivano

Resumo

Este artigo surgiu em função da Intervenção Pedagógica junto à disciplina de História, tendo público alvo alunos do 6º ano do Ensino Fundamental do período vespertino do Colégio Estadual "Basílio de Lucca," Ibiporã – PR / turma 2014. A temática foram jogos e brincadeiras africanas e afro-brasileiras como caminhos para estimular a integração e a socialização entre os discentes e o meio escolar. O objetivo foi o estabelecimento de relações proximais, em que os vínculos afetivos de amizade, reciprocidade, cooperação, respeito e observância das regras fossem firmados, levando-os a valorizar as diversidades étnicas e culturais. A história pessoal do aluno foi o ponto de partida, para gradativamente ampliar os domínios e levando-os a generalizações da História e suas diversidades culturais. A partir das respectivas origens, o intuito foi de desvelar as identidades pessoais e sociais, levando-os a “conhecerem-se, valorizarem-se”, e posteriormente reconhecerem os valores da cultura do “outro” e suas contribuições. Versamos sobre contextos de espaço/tempo, presente e passado, África e Brasil, os processos históricos e culturais do povo africano e afro-brasileiro, exploramos conceitos de História, memória, identidade, cultura, patrimônio, valores, etnias, lúdico, jogos, brincadeiras e símbolos. A observação das leis 10.639/03 e 11.645/08 foram realizadas especialmente com jogos e brincadeiras africanas e afro-brasileiras, sendo caracterizadas suas origens, intencionalidades, representações simbólicas, articulando os alunos para a confecção de tabuleiros e aproximação das novas tecnologias. Conclui-se que alguns alunos desconheciam suas origens, não valorizando fontes históricas pessoais e esta intervenção contribuiu para valorização da própria história e também do outro, da cultura africana e afro-brasileira.

Palavras - chave: Jogos. História. Cultura. Africana. Afro-brasileira.

Graduada em História pela Universidade Estadual de Londrina-Pr (1994), pós-graduação em Gestão, administração e supervisão escolar, na instituição Universidade Norte do Paraná (2004), integrante do programa de desenvolvimento educacional da Seed – Pr (PDE 2013/2014), professora regente lotada no Colégio Estadual "Basílio de Lucca" - Ensino Fundamental e Médio - Ibiporã - Pr, (vespertino) e também profª. da rede municipal de Educação de Londrina, na escola Profª. “Áurea Alvim Toffoli” (matutino), séries iniciais do Ensino Fundamental I. Email: [email protected]

Graduado em História pela Universidade Estadual de Londrina (1993), mestrado (2000) e

doutorado (2005) em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Atualmente professor adjunto da Universidade Estadual de Londrina. Possui experiência na área de História, com ênfase em Teoria da História, atuando principalmente nos seguintes temas: historiografia, teoria, memória e cultura. Email: [email protected]

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Introdução

A promulgação da Lei 9394/96, posteriormente alterada pela

10.639/2003 e 11.645/2008, foi uma conquista da sociedade brasileira que,

organizadamente, através de muitas lutas e discussões, conseguiu a

aprovação do seu teor. O documento contempla as normativas sobre a

obrigatoriedade do ensino e história e cultura afro-brasileira e indígena,

expressa na seguinte redação:

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.

§ 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

§ 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e História brasileira.

Não basta apenas a regulamentação da lei, mas se faz necessário o

comprometimento das instituições educacionais e dos seus docentes em

articularem a organização dos currículos disciplinares, das propostas

pedagógicas que venham contemplar e viabilizar estratégias de ensino e

aprendizagem. Nesse caso, é necessário propor atividades que estimulem os

alunos a conhecer, valorizar e a identificar as principais contribuições da cultura

africana e afro-brasileiras, assim como o da cultura indígena.

A proposição desta intervenção pedagógica foi o jogo. Segundo

Huizinga (2000, p.6), o jogo é uma como forma específica de atividade, uma

“forma significante” dotada de importante função social.

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As grandes atividades arquetípicas da sociedade humana são, desde início, marcadas pelo jogo. Como por exemplo, no caso da linguagem, esse primeiro e supremo instrumento que o homem forjou a fim de poder comunicar, ensinar e comandar. [...] Por detrás de toda expressão abstrata se oculta uma metáfora, e toda metáfora é um jogo de palavras. Assim, ao dar expressão à vida, o homem cria um outro mundo, um mundo poético, ao lado do da natureza. (HUIZINGA,2000, p. 70)

Sociedade, cultura e o jogo

No início do projeto, tivemos como ponto de partida a história dos

discentes, levando-os a refletir sobre sua identidade, grau de pertencimento a

grupos, especialmente familiar e social, para que gradativamente,

ampliássemos os domínios, levando-os a generalizações globais, ora

específicas da História, versando sobre contextos espaço/tempo, presente e

passado, ora sobre os processos históricos e culturais do povo Africano e afro-

brasileiros.

Buscamos observar as leis 10.639/03 e 11.645/2008 valorizando

aspectos significativos para nossos alunos, isto é, envolvendo-os nos jogos e

brincadeiras de matriz africana e afro-brasileira. A disciplina de História buscou

compreender suas origens, intencionalidades, representações, simbologias,

articulando quando necessário a confecção de materiais, como tabuleiros e

peças. Buscamos a utilização de recursos materiais recicláveis, na medida do

possível, pensando em contribuir para a sustentabilidade do planeta e

estimulando a criatividade visual e simbólica. Também foi disponibilizado o uso

de computadores que se achavam disponíveis no laboratório do colégio, para

que os alunos interagissem com jogos de origem africana de forma online, ou

seja, por intermédio da tecnologia.

A metodologia empregada nesta intervenção foram aulas expositivas,

com apoio em slides, vídeos, imagens, livros literários, a prática de pesquisa e

leitura de textos informativos, históricos e conceituais sobre a cultura da África,

africanos e cultura afro-brasileira. Também foi desenvolvida a construção

individual e familiar dos materiais destinados aos jogos, em especial dos

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tabuleiros, desenvolvendo a criatividade, a arte visual e as relações de

memória e ludicidade.

Nada mais oportuno que referendar o trecho da Declaração Universal

dos Direitos da Criança, promulgada em 20 de novembro de 1959, que já

destacava no princípio nº 7 que a criança “deve ter ampla oportunidade para

brincar e divertir-se, visando os propósitos mesmos da sua educação; a

sociedade e as autoridades públicas deverão empenhar-se na promoção e no

gozo deste direito.” Também evidencia o direito da criança a brincar o Artigo

227 da Constituição Federal (1988) e o Estatuto da Criança e do Adolescente

(1990) no Artigo 16 IV.

A partir de KRAMER (2007, p.15) sabemos que:

(...) numa sociedade desigual, as crianças desempenham, nos diversos contextos, papéis diferentes (…) e é preciso considerar a diversidade de aspectos sociais, culturais e políticos. No Brasil, as nações indígenas, suas línguas e seus costumes; a escravidão das populações negras; a opressão e a pobreza de expressiva parte da população; o colonialismo e o imperialismo que deixaram marcas diferenciadas no processo de socialização de crianças e adultos.

Portanto, cabe também às instituições educacionais e seus docentes

oportunizarem ambientes escolares que contemplem, acolham e integrem as

diversidades culturais, sócias e políticas da sociedade brasileira. Uma forma de

realizar esses objetivos é estimular as crianças e jovens a conhecerem sua

história e também a do outro, respeitando suas peculiaridades, tirando o

máximo de proveito das contribuições culturais, das várias etnias e infâncias

que existem no contexto da diversidade social e econômica do país. Tudo isso

pode ser observado a partir do jogo, que é tanto da condição humana quanto

da história de cada lugar.

A ideia de jogo como valor educativo, como objeto de estudo da ciência

e pedagogia teve sua gênese nos séculos XVII e XVIII. O filósofo Jean Jacques

Rousseau, em sua obra “Emilio, ou da Educação” (1762), foi o primeiro a

afirmar que o jogo transcende o aspecto do simples entretenimento, da

diversão. Ele remete a uma implicação de caráter mais abrangente, envolvendo

conotações políticas, morais, que colaboram para a educação do ser humano

em sua plenitude e que, portanto, a prática de jogos deve ser iniciada

precocemente, ainda na infância.

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Atividades realizadas na execução do projeto

Inicialmente foi apresentado à comunidade escolar o projeto de

intervenção que realizaríamos no colégio, sua fundamentação e atividades a

serem implementadas. O mesmo foi bem acolhido e apoiado pelos respectivos

membros: direção, supervisão, docentes, alunos e pais.

A partir daí iniciamos o trabalho buscando conhecer um pouco da

história dos pais de nossos alunos, estimulando-os a escrever sua história de

vida e também de que maneira brincavam infância, resgatando os registros

deste período.

Os alunos, por sua vez, foram acolhidos e estimulados a desenvolverem

e responderem por escrito um roteiro de apresentação e dinamicamente, expô-

lo oralmente ao grupo disposto em círculo, onde revelaram as respectivas

origens, com o intuito de enfatizar a identidade pessoal, suas raízes sociais e

étnicas, levando-os a “conhecer-se, respeitar-se e valorizar-se, identificando as

semelhanças e diferenças sociais, culturais”. Por outro lado, também foi

almejado o reconhecimento dos valores culturais do “outro” e suas principais

contribuições. Para efetivação desta perspectiva, foi necessário trabalhar

conceitos como o de História, memória, identidade, cultura, patrimônio, valores,

etnias, lúdico, jogos, brincadeiras e símbolos.

Para conhecermos os alunos e determos um número maior de

informações sobre os mesmos, elencamos um roteiro de questões que

estimularam a produção textual. Nestes textos, percebemos que as

dificuldades centrais dos alunos foram a definição de sua origem étnica e a

memória sobre os fatos marcantes de sua vida. Muitos não conheciam sua

ascendência, e essa foi a oportunidade que tiveram para buscar tais

informações junto aos familiares e responsáveis. Da mesma maneira, para

auxiliar a percepção dos alunos sobre fatos importantes que ocorreram em sua

vida, os mesmos tiveram que elaborar uma linha do tempo, desde o

nascimento até os dias atuais.

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Com intuito de diagnosticar o que os alunos conheciam sobre o

continente Africano, foram realizados registros individuais sobre o que sabiam.

Percebemos que os alunos reconheciam os muitos estereótipos que identificam

a região, afirmando na grande maioria que se tratava de um continente com

condições humanas precárias, envolta pela fome, falta d’água, com pouca

produtividade, conflitos tribais e uma história relacionada à escravidão e à

exploração colonial, esse lado retratado em muitos jornais, documentários,

filmes e até mesmo nos livros didáticos.

Para melhor compreender os africanos, estudamos sobre o olhar da

ciência histórica e antropológica, ou seja, a África como berço da humanidade,

a evolução dos hominídeos, a ocupação territorial dos demais continentes a

partir daquela região. Para este estudo foi utilizado o livro didático do referido

ano. Também foi apresentado aos alunos um vídeo evidenciando outros

aspectos da África, como suas riquezas minerais, turísticas, fauna e flora,

diversidades culturais (língua, vestimenta, costumes, hábitos), promovendo a

reelaboração de novas percepções e olhares sobre o continente africano e sua

população.

Na sequência, trabalhamos leitura e interpretação textual sobre dados

geográficos e socioeconômicos sobre a África atual. Foi mostrado aos alunos a

importância de reconhecer valores (respeito, generosidade, partilha)

fundamentais para a vivência em sociedade, ficando em evidência que, apesar

de todas as dificuldades vivenciadas pela maioria do povo africano, eles são

solidários uns para com os outros.

Ensinamos aos alunos a brincadeira “Terra e Mar”. Esta é de caráter

coletivo, originário de Moçambique e faz parte do folclore, da tradição oral

transmitida de geração a geração, e que se espalhou pelo mundo. A

brincadeira promoveu a socialização das crianças, levando-as a observar as

regras do jogo, introduzindo-as ao contexto dos jogos e brincadeiras de origem

africanas e afro-brasileiras. Posteriormente, levou-as a identificar alguns

aspectos de semelhança com as brincadeiras praticadas por elas mesmas,

aqui em nosso país, como o “Morto-vivo”, entre outras.

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Quando indagados sobre os conceitos de História, Memória, Identidade,

Etnias, Fontes Históricas, Patrimônio e Cultura, os alunos já possuíam um certo

conhecimento a respeito, verbalizando-os. Mas apresentamos os conceitos

cientificamente elaborados, contribuindo para com o reconhecimento e

percepção da importância do conhecimento produzido e acumulado pela

pesquisa e reflexão.

Também foi realizada uma atividade extraclasse: uma visita orientada ao

Museu Histórico do Café da cidade de Ibiporã – Pr, com o intuito de conhecer a

história local e relacionando-a com a cultura africana, a origem do café e

aproveitando para observar se o momento da infância foi abordado e exposto

no museu. Os alunos concluíram que o foco principal da exposição é o trabalho

e suas representações rurais, relacionados com o ato de plantar, colher e todo

o processo produtivo da cultura cafeeira, observando que as crianças

colonizadoras de Ibiporã possuíam poucos registros, e estes estavam

associados aos pais desempenhando o trabalho, nos terreiros, dessecando os

grãos de café, etc. No museu não encontramos nenhuma fonte histórica que

evidenciasse elementos lúdicos relacionados com a infância.

Após a visita ao museu foi solicitado aos alunos que trouxessem para a

aula seguinte fotos, objetos, brinquedos que possuíssem algum significado,

importância para sua história pessoal, de sua infância. A maioria dos alunos

apresentou fotos de sua infância e brinquedos recentes, esclarecendo que os

objetos, roupas e brinquedos mais antigos, foram descartados.

A grande maioria dos alunos não possuía registros materiais de sua

infância, pois os pais deixaram de realizá-los ora por questões financeiras, ora

por não possuírem recursos (máquina fotográfica, celular), ou pela não

valorização dessa forma de registro dessas ações, contando apenas com a

memória.

Contudo, concluímos que o registro e o acervo de memórias foram

voluntariamente deixados de lado, recebendo pouca importância pela grande

maioria das famílias, pois estas vivem inseridas no mundo capitalista,

consumista, onde se valoriza o hoje, o novo, e não o passado, desprezando o

antigo, descartando-o frequentemente.

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Foi apresentado aos alunos o processo de colonização do Norte do

Paraná e a influência da cultura cafeeira, ressaltando a importância das fontes

documentais para que chegássemos a este conhecimento, verbalizando e

assistindo vídeos sobre a correlação da origem do café com a cultura africana.

As contribuições das várias etnias na consolidação da cultura brasileira

foram evidenciadas por meio de literatura, textos informativos de caráter

históricos, para que os alunos conseguissem compreender o processo de

inserção dos africanos em nosso país e as relações estabelecidas, podendo

perceber o quanto os africanos foram explorados, maltratados, levando-os a

deixarem de lado a sua própria cultura. Mas sabemos que, apesar de toda

opressão, esta etnia resistiu bravamente, mantendo suas raízes, recriando

costumes e valores que influenciaram a cultura brasileira.

Após o processo transcorrido, buscando conhecimentos teóricos sobre

as várias etnias e suas principais contribuições para a colonização da nação

brasileira, foi realizado um recorte, de aspecto cultural, da origem africana e

afro-brasileira no que tange a forma de brincar e jogar especialmente os jogos

Mancala e o Yoté.

Foi apresentado aos alunos vídeos e textos informativos sobre o jogo de

tabuleiro Mancala e o Yoté, sua respectivas origens africana, as diferentes

denominações, graus de dificuldades do jogo, formas de jogar em diferentes

contextos, etc. Posteriormente os alunos construíram os tabuleiros em casa,

com a ajuda da família. Com o conhecimento das regras, ensinaram e

praticaram os jogos com seus familiares, trouxeram em sala de aula os relatos

de como foi a experiência, evidenciando que foi prazeroso o ato de

confeccionar e jogar, mas que requer uma prática constante, para que as

regras sejam fixadas.

Os alunos trouxeram os tabuleiros devidamente confeccionados e

decorados com cores, bandeiras de países, símbolos que representam o

continente africano, sua cultura, mostrando a diversidade, criatividade.

Foi possível articular parceria com o professor de Educação Física, que

reforçou as regras, formas e atos de jogar.

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Em sala de aula os alunos vivenciaram os jogos, desafiando seus

colegas a jogarem, colocando em prática todos os conhecimentos apreendidos,

estabelecendo relações com a cultura africana e afro-brasileira no que se diz

respeito ao plantio, colheita e partilha dos alimentos, especialmente no jogo

Mancala.

O conhecimento apreendido em sala de aula deve ser reelaborado e

repassado a terceiros, fazendo com que a cultura africana seja rememorada,

lembrada e perpetuada com o passar dos tempos, para que este processo de

intervenção seja desenvolvido a médio e longo prazo, abrangendo o cotidiano

escolar e familiar dos alunos.

Os tabuleiros construídos pelos alunos foram doados para o colégio,

para que demais alunos consigam aprender e vivenciar em outros momentos e

espaços os jogos de origem africana, contando com o auxilio dos alunos que

participaram deste projeto de intervenção.

Com o propósito de utilizar a internet como ferramenta educacional e

aproximar os alunos às novas tecnologias, utilizamos o laboratório de

informática do colégio para algumas aulas práticas, onde foram orientados

alguns sites que ofertam a possibilidade de vivência dos jogos Mancala e Yoté

online. Posteriormente, em sala de aula, levantamos as principais diferenças e

dificuldades no ato de jogar. No laboratório cada aluno jogava enfrentando a

simulação do computador. Raramente o aluno tinha possibilidade de vencer, já

no jogo de tabuleiro havia socialização entre os jogadores, criando uma

parceria entre os mesmos, simulação de estratégias de jogo, repercutindo na

alternância dos ganhadores, deixando assim o jogo mais dinâmico e atrativo.

Após o desenvolvimento do projeto, os alunos foram desafiados a se

auto-avaliarem, assim como também as dinâmicas, os conteúdos trabalhados e

os resultados alcançados.

Conclui-se que a maioria dos alunos obtive grande aproveitamento em

todo o processo, pois se identificaram como sujeitos da sua própria história,

resgatando os seus patrimônios históricos pessoais, contando com o

envolvimento familiar.

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Os alunos tiveram a oportunidade de refletir sobre os conhecimentos a

respeito do continente africano, da cultura africana e afro-brasileira, e ampliá-

los, evidenciando aspectos positivos.

Memórias e registros das atividades desenvolvidas durante o processo

de intervenção pedagógica.

Figura 1- “Baú de Memórias”. Acervo pessoal dos alunos, 6º ano.

Fonte: Adriana, 2014.

Figura 2- Brincadeira “Terra e Mar”- Origem: Moçambique.

Fonte: Adriana, 2014.

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Figura 3 - Tabuleiro e vivência do jogo Mancala, 6º ano.

Fonte: Adriana, 2014.

Figura 4- Tabuleiro e vivência do jogo Yoté, 6º ano.

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Fonte: Adriana, 2014.

Figura 5 - Laboratório de informática - vivência dos jogos Mancala e Yoté online.

Fonte: Adriana, 2014.

Considerações finais

O projeto de intervenção pedagógica através de jogos e brincadeiras da

cultura africana e afro-brasileiras serviu de ferramenta para desenvolver

abordagens mais humanísticas, proximais entre discentes e docentes,

estimulando a socialização e integração através de atividades lúdicas

prazerosas, o que fez com que os laços afetivos, de amizade, confiança,

respeito, se firmassem, consolidassem, o que em muito colaborou para

alcançarmos o objetivo maior, essencial da educação, o conhecimento, o

saber, culturalmente produzido e acumulado pela humanidade.

A partir de brincadeiras lúdicas e jogos buscamos inserir o estudo da

História, partindo da história pessoal, desdobrando-a para a história global,

destacando a necessidade de preservar as fontes documentais, para

comprovar, compreender os processos históricos culturais da humanidade,

levando os discentes a valorizarem-se enquanto sujeitos, construtores e

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agentes de transformação social e cultural, preservando valores, costumes,

tradições culturais e históricas.

Além do que, oportunizamos no espaço escolar momentos para os

educandos, crianças e adolescentes, brincarem, divertirem-se, “apreender

brincando”. Transmitimos conhecimentos e propomos atividades que

estimularam relacionamentos interpessoais, coletivos e individuais, que

proporcionaram estreitamento de laços de amizade, companheirismo,

reciprocidade, partilha, paciência, atenção, concentração, valores como ética,

respeito e honestidade.

Referências

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico - Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília: Ministério da Educação, 2003.

BRASIL. Lei 10.639/2003. Brasília: Ministério da Educação, 2003.

BRASIL. Lei 11.645/2008. Brasília: Ministério da Educação, 2008.

HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. 4ª. ed. São Paulo: Perspectiva,2000.

KRAMER, S. A infância e sua singularidade. In: BEAUCHAMP, Jeanete et al. (orgs.) Ensino fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.

Ministério da Educação/ Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Orientações e ações para a Educação das Relações Étnico- Raciais. Brasília: SECAD, 2006.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou Da Educação. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004, 711p.