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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA: A APRENDIZAGEM ATRAVÉS DE
PROCESSOS DIDÁTICOS DE NORMAS, FALA E ESCRITA.
Autor: Moacir Marchi Furtado1
Orientadora Profª. Daniela De Maman2
RESUMO
O texto aborda a temática da aprendizagem da língua portuguesa no contexto educativo, sob o viés da norma culta da língua falada e escrita. Deste modo, o objetivo norteador do estudo é compreender a utilização da língua portuguesa, como fonte de interação no contexto escolar e com a sociedade e, também como geradora de significados nos diferentes contextos de uso. Para tanto, foi realizada a análise dos pressupostos teóricos da área de estudo, os quais apontam os caminhos para propor processos de ensino, com o intuito de trabalhar a partir dos problemas na fala e na escrita dos nossos educandos. Ao tentarmos justificar a necessidade do foco do estudo aqui proposto, expomos primeiramente a concepção norteadora da pesquisa, a qual parte do pressuposto de que o aprendizado da gramática ocorre durante o desenvolvimento fonético em, quanto mais entendemos as possibilidades de uso da língua, mais nos aproximamos da qualidade comunicativa estabelecida como norma padrão. Desta forma, o ensino da gramática normativa deve ser trabalhada, não como um fim em si mesma, mas como um instrumento para a construção do conhecimento linguístico, como uma ferramenta para propiciar a interação. Palavras – chave: Língua portuguesa, gramática, escrita
1- INTRODUÇÃO
1Professor de Língua Portuguesa da Rede Estadual de Educação, Colégio Estadual Doze de
Novembro – Ensino Médio e profissional do Município de Realeza . 2Docente na Unioeste – Campus de Francisco Beltrão/PR. Orientadora no Programa de
Desenvolvimento Educacional/PDE.
O processo de ensino da Língua Portuguesa caracteriza-se pelo estudo das
múltiplas linguagens, seus múltiplos impactos discursivos e sociais. Em função
disso, comunicação e interação com diversas linguagens são competências que
devem ser desenvolvidas ao longo da vida, e o período escolar é vital para essa
ampliação, principalmente no que se refere à linguagem escrita na norma padrão.
Deste modo, segundo, Bortoni-Ricardo (2004):
Cada um de nós adota comportamentos muito semelhantes ao das pessoas com quem convivemos em nossa rede social. Por isso, sabemos que a rede social de um indivíduo, constituída pelas pessoas com quem esse indivíduo interage nos diversos domínios sociais, também é um fator determinante das características de seu repertório sociolinguístico. Além da rede social, com que o indivíduo efetivamente interage, devemos considerar também o seu grupo de referências, pessoas com quem esse indivíduo não interage fisicamente ou por meios de recursos como internet, telefone, etc., mas tem como modelo para sua conduta (p. 49).
É possível afirmar que apesar de convivermos cotidianamente com os
avanços tecnológicos, e, por conseguinte interpretarmos suas linguagens, as quais,
na atualidade constituem condições para convivermos em sociedade demonstramos
dificuldade em conseguir usar corretamente a escrita e a ortografia, principalmente
pelas novas gerações, que escrevem de uma maneira diferente, criando novas
palavras para comunicar-se pelas mídias modernas, também que muitos adultos e
crianças, embora alfabetizados, não são letrados, uma vez que não conseguem
compreender e interpretar aquilo que leram e isso faz com que esses indivíduos
encontrem dificuldades e limitações no seu cotidiano. Por isso, a leitura constitui-se
como fonte importante, para a compreensão e aquisição do conhecimento mais
amplo e completo.
O objetivo deste estudo que possibilitou a escrita deste texto, caracteriza-se
pela intencionalidades dos autores de buscar a compreensão sobre a utilização da
língua portuguesa como fonte de interação no contexto escolar com a sociedade e,
também como geradora de significação e construtora da própria integridade que se
adapta aos diferentes contextos de uso. Assim, reconhecer as especificidades da
realidade na escrita dos alunos do Ensino Médio; propondo atividades de leitura e
escrita dos gêneros textuais, criando a consciência fonológica e ortográfica nos
alunos; Identificando as dificuldades demonstradas pelos alunos frequentadores da
modalidade do Ensino Médio no uso da língua padrão na comunicação escrita;
registrando a língua e praticar sua transposição para a língua escrita culta em seu
uso cotidiano.
Podemos, assim, determinar o nível de letramento de um indivíduo, pela
capacidade de entender e reconhecer as variedades de textos escritos. Freire (1989)
diz que na verdade, o domínio sobre os signos linguísticos escritos, mesmo pela
criança alfabetizada, pressupõe uma experiência social que a precede – a da
“leitura” de mundo, que chamamos de letramento. O domínio ortográfico do aluno
dará mais autonomia para lidar com a língua escrita em diferentes situações de
comunicação.
Para tanto, é fundamental entender a funcionalidade da língua escrita,
para que cada um possa viver e atuar de forma plena no meio em que vive,
tornando-se um cidadão consciente, crítico e conhecedor de seus direitos e
deveres em uma sociedade, uma vez que o aluno não é um mero receptor de
conhecimentos, mas sim um agente transformador que está constantemente
interagindo com o meio do qual faz parte, analisando-o e buscando compreender
a realidade em que está inserido.
Ao elaborarmos o projeto de ensino que possibilitou a intervenção na prática
pedagógica de sala de aula, inicialmente nosso olhar deteve-se no contexto escolar
e a partir da observação e reflexão sobre o contexto de atuação profissional,
elaborou o seguinte questionamento: Seria possível identificar/ mapear causas das
dificuldades demonstradas pelos alunos em relação à adequação da linguagem, aos
diferentes contextos de uso em suas comunicações, principalmente na linguagem
escrita, de modo a apresentar alternativas didáticas?
Ao realizarmos este projeto de pesquisa/ensino, pretendemos desenvolver
uma atividade de pesquisa sobre as diferentes variedades linguísticas presentes na
comunidade, resgatando a história e a cultura dos diferentes grupos presentes. Este
resgate será desenvolvido através de uma proposta didática que utilizará vídeos,
texto de humor, músicas e diferentes materiais, como textos com poesias, narrativas,
e outros, pretende-se levar o aluno a desenvolver a consciência linguística sobre os
diferentes falares presentes na sua comunidade. Esse é o ponto de partida para
sensibilizar o público estudante e, até mesmo docente sobre a necessidade de
aprendizagem da língua padrão, que em determinadas situações de comunicação
exigem domínio por parte do cidadão.
Desta forma, nos propomos a elaborar uma proposta didático-pedagógica
para ser implementada no Colégio Estadual Doze de Novembro, Ensino Médio e
Profissional, uma proposta que faça a diferença no trabalho com a gramática de
forma reflexiva, interativa e contextualizada, partindo do conhecimento do aluno e
suas produções para um aprendizado maior para que este se qualifique,
compreenda a língua a partir de sua fase heterogênea e socialmente determinada.
2- DESENOLVIMENTO
ENSINO E APRENDIZAGEM
A concepção sobre o processo de ensino e aprendizagem no qual nos
pautamos, é aquela que se preocupa com o aprendizado do aluno e que neste
processo aponta que o professor deve preocupar-se em fazer a transmissão do
conhecimento linguístico e dos diferentes gêneros textuais. “O trabalho
pedagógico proposto para as práticas de linguagem está fundamentado nos
pressupostos teóricos de alguns estudiosos, que entendem a linguagem como
interação” (PARANÁ, 2006).
Nesse sentido, a escola está sendo entendida como um espaço no qual se
produz o conhecimento e tem por objetivo propiciar uma formação intelectual,
cognitiva e política, por meio de pesquisas, leituras, estudos que favoreçam o
respeito às diferentes falas e aos saberes próprios da cultura do educando,
preparando-o para produção de seu próprio texto, oral ou escrito, adequado às
exigências dos diversos contextos sociais (PARANÁ, 2006).
Afirma Antunes (2003), que as razões sociais são urgentes que justificam
o empenho da escola por um ensino da linguagem, pois, cada vez é mais útil e
contextualmente significativo. Sabe-se, portanto, quanto à incompetência atribuída
à escola está ligada a conflitos com a linguagem, afligindo a seletividade, a
manutenção da estrutura de classes e a reprodução da força de trabalho, que
incondicionalmente, decorrem também dessa incompetência e dessas distorções.
Segundo Antunes (2003):
Sabemos que a educação escolar é um processo social, com nítida e incontestável função política, com desdobramentos sérios e decisivos para o desenvolvimento global das pessoas e da sociedade. Sentimos na pele que não dá para tolerar uma escola que, por vezes, nem sequer alfabetiza ou que, alfabetizando não forma leitores nem pessoas capazes de expressar-se por escrito, coerente e relevantemente, para, assumindo a palavra, serem autores de uma nova ordem das coisas. É, pois, um ato de cidadania, de civilidade da maior pertinência, que aceitemos, ativamente e com determinação, o desafio de rever e de reorientar a nossa prática de ensino da língua (p. 36-37).
Seguindo o pensamento de Antunes (2003), a realidade das escolas
brasileiras, está neste patamar mesmo, formando alunos não leitores, eles
decodificam as palavras, mas sem uma coerência e coesão. Suas produções são
pobres de conhecimento, sem falar de erros gravíssimos na escrita. E o desafio de
rever essa prática deve acontecer imediatamente, quem sabe assim, poderemos
formar leitores conscientes e críticos, que possam expressas suas ideias
corretamente da palavra oral e escrita.
As Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua Portuguesa (2008)
requerem novos posicionamentos em relação às práticas de ensino.
Considerando o percurso histórico da disciplina de Língua Portuguesa na Educação Básica brasileira, e confrontando esse percurso com a situação de analfabetismo funcional, de dificuldade de leitura compreensiva e produção de textos apresentada pelos alunos – segundo os resultados de avaliações em larga escala e, mesmo, de pesquisas acadêmicas – as Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua Portuguesa requerem, neste momento histórico, novos posicionamentos em relação às práticas de ensino; seja pela discussão crítica dessas práticas, seja pelo envolvimento direto dos professores na construção de alternativas (p. 47- 48).
Essas considerações resultaram nas DCE(s), numa proposta que enfatiza
a língua viva e dialógica. Esta ênfase traduz-se na adoção das práticas de
linguagem como ponto central do trabalho pedagógico, sendo mais amplamente
explicitado quando se abordar o Conteúdo Estruturante da disciplina (PARANÁ,
2008, p. 48). De acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua
Portuguesa:
Para alcançar tal objetivo, é importante pensar sobre a metodologia. Se o trabalho com a Língua deve considerar as práticas linguísticas que o aluno traz ao ingressar na escola, é preciso que, a partir disso, seja trabalhada a inclusão dos saberes necessários ao uso da norma padrão e acesso aos conhecimentos para os multiletramentos, a fim de constituírem ferramentas básicas no aprimoramento das aptidões linguísticas dos estudantes (p. 48).
Entendemos que a postura do docente em sala de aula, o educador em si,
precisa propor um processo de reflexão sobre o processo de aprendizagem,
conciliar os paradigmas e as tendências da educação com as mudanças atuais na
educação, com a diversidade cultural, econômica ou social, e a partir deste contexto,
iniciar o processo de construção de sua ação pedagógica, com a utilização de novas
metodologias e modelos educacionais.
No trabalho docente deve ter o educador como facilitador e mediador do
processo ensino-aprendizagem, ter visão e ação focadas numa atividade profissional
ativa, contribuindo para a melhoria do ensino. Mas, segundo Antunes (2003):
Não pode haver uma prática eficiente sem fundamentação num corpo de princípios teóricos e sólidos e objetivos. Não tenho dúvidas: se nossa prática de professores se afasta do ideal é porque nos falta, entre outras muitas condições, um aprofundamento teórico acerca de como funciona o fenômeno linguagem humana (p. 40).
Precisamos nos conscientizar que o educador deve interagir com a
comunidade escolar, para adquirir seu próprio conhecimento e tomando para si a
responsabilidade de aprender, pois a ação pedagógica não acontece apenas em
sala de aula. Convém ainda que o professor converta cada momento da avaliação
num tempo de reflexão, de pesquisa, ou seja, de ensino e aprendizagem, de
reorientação do saber anteriormente adquirido. Conforme cita Antunes (2003): Sem
o ranço das atitudes puramente “corretivas”, de “caça” aos erros”, como se o
professor só tivesse olhos para enxergar “o que não está certo”. (p.158).
Linguagem oral e escrita e suas concepções
Neste momento do nosso trabalho escrito, buscamos analisar os
principais autores, os quais nos apontam os caminhos para sanar os problemas na
escrita dos nossos educandos. Deste modo, Pereira Júnior (2010), afirma que:
Embora relativas à enunciação oral, hesitações do gênero mostram
que, na base de nossa angústia com a escrita das palavras, há um
abismo entre o que se diz e o modo como escrevemos o que se diz.
Para especialistas, nossos mais comuns erros de ortografia são de
natureza diversa dos causados pela adoção do novo acordo
ortográfico. Muito além do curto-circuito entre os hábitos aprendido e
as mudanças da lei, as debilidades de nossa formação cobram seu
preço (p.39).
A língua tanto falada quanto a escrita é heterogênea, variável e está
sempre em reconstrução, mesmo ela sendo um sistema gramatical pertencente a
um grupo de indivíduos, não pode ser imutável, pois é um processo, um fazer
permanente e nunca concluído. Sendo assim, a língua portuguesa designa um
conjunto de variedades que se distribuem de acordo com a região, época, classe
social e as mais diversas situações. Então para Bortoni-Ricardo (2004):
na sala de aula, como em qualquer outro domínio social,
encontramos grande variação no uso da língua, mesmo na
linguagem da professora que, por exercer um papel social de
ascendência sobre seus alunos, está submetida a regras mais
rigorosas no seu comportamento verbal e não verbal. O que estamos
querendo dizer é que, em todos os domínios sociais, há regras que
determinam as ações que ali são realizadas. Essas regras podem
estar documentadas e registradas, como nos casos de um tribunal do
júri ou de um culto religioso ou podem ser apenas parte da tradição
cultural não documentada. Em um ou outro caso, porém, sempre
haverá variação de linguagem nos domínios sociais. O grau dessa
variação será maior em alguns domínios do que em outros. Por
exemplo, no domínio do lar ou das atividades de lazer, observamos
mais variação linguística do que na escola ou na igreja. Mas em
todos eles há variação, porque a variação é inerente à própria
comunidade linguística (p.25).
A língua, desta maneira configura-se como uma atividade social, um
trabalho produzido por todos os falantes, cada vez que eles interagem por meio da
fala ou da escrita. Todo falante possui sua língua materna na sua comunidade,
como, em particular uma variedade linguística em todos os níveis de outras formas
de falar: formal ou informal, aprendida por outro falante dessa mesma língua, assim
identificada como diferentes dialetos. Apontamos para o fato de que existem
variedades linguísticas, tanto quanto, existem grupos sociais que compõem uma
comunidade de fala. Sendo assim, o professor pode instigar junto ao aluno o seu
conhecimento sobre a língua, para um ensino contextualizado da língua portuguesa.
A interlocução é o ponto de partida para o trabalho com o texto, e os conteúdos
gramaticais devem ser estudados de acordo com sua temática, pois a gramática
normativa, e em especial a reflexiva é importante no processo de ensino da Língua
Portuguesa. De acordo com as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa (DCEs,
2008):
O aperfeiçoamento da escrita se faz a partir da produção de
diferentes gêneros, por meio de experiências sociais, tanto singular
quanto coletivamente vividas. O que se sugere, sobretudo, é a noção
de uma escrita como formadora de subjetividades, podendo ter um
papel de resistência aos valores prescritos socialmente. A
possibilidade da criação, no exercício desta prática, permite ao
educando ampliar o próprio conceito de gênero discursivo. É preciso
que o aluno se envolva com os textos que produz e assuma a autoria
do que escreve, visto que ele é um sujeito que tem o que dizer.
Quando escreve, ele diz de si, de sua leitura de mundo (p. 56).
Deste modo, podemos afirmar que um dos primordiais objetivos do ensino
de uma língua para pessoas falantes, deve possibilitar ao estudante o domínio
efetivo e consistente das habilidades de leitura e escrita, audição e oralidade, ou
seja, a escola deve formar os alunos capacitados como leitores e que possam
produzir qualquer tipo de texto, usando a modalidade oral. Porém, esse objetivo não
será alcançado sem uma prática, ou seja, ler e escrever devem ser atividades
essenciais da língua. Uma vez que ler e escrever, são momentos que se abrem
portas para o mundo interior para nele o indivíduo mergulhar.
PARANÁ (2008) esclarece que:
É tarefa de a escola possibilitar que seus alunos participem de diferentes práticas sociais que utilizem a leitura, a escrita e a
oralidade, com a finalidade de inseri-los nas diversas esferas de interação Neste sentido, observa-se que a escola tem que promover diferentes práticas sociais aos alunos, de modo que todos eles participem ativamente. Contudo, “se a escola desconsiderar esse papel, o sujeito ficará à margem dos novos letramentos, não conseguindo se constituir no âmbito de uma sociedade letrada (p. 48).
Quando partimos do pressuposto de que as variedades linguísticas
existem, fazem parte do cotidiano dos alunos e está presentes no contexto escolar,
entendemos que é possível desenvolver este trabalho, desta forma, preocupamo-
nos agora com sua aplicabilidade no que se refere, de forma coerente, a
comunicação que pode ser definida como arte de transmitir informações, ideias e
atitudes, pois ela consiste em estimular um ou vários sentidos do destinatário
principalmente a visão e a audição. Uma mensagem pode assumir significados
diferentes. Aprender significado é: refletir, imaginar e criar coisas novas.
Estudar uma língua pode apresentar variantes geográficas, sociais que
determinam variedades de linguagem. Essas diferenças ocorrem na linguagem
oral/escrita ou em textos escritos em que se tem a intenção de reproduzir a
característica do falar de determinados indivíduos ou grupos sociais. Existem muitas
modalidades de falantes: o padrão culto da linguagem, regionalismo, gírias e traços
coloquiais. O padrão culto sempre esteve vinculado, ou até mesmo pertence à
linguagem científica e a jornalística, técnica oficial e outras.
A proposta deste trabalho está fundamentada em estudo sobre as
variedades linguísticas, e experiências vividas em pesquisas, livros, vídeos e,
também em histórias contadas. Deste modo a partir dos pressupostos teóricos de
Freire (1996) entendemos que a partir de uma abordagem metodológica que
considere a experiência cotidiana social dos alunos e, também da iniciativa didática
dos professores em interagir com os educandos com dinâmicas, tais como a
exploração de ideias. Assim cabe à escola incentivar iniciativas, que visem trabalhar
a construção do conhecimento a partir do prévio dos alunos e assim conduzindo-os
para o domínio também da língua culta, já que esta é língua de prestígio para a
ascensão social, porém sem desprezar os demais tipos de linguagens.
Processo de Intervenção
Ao elaborarmos o projeto de ensino, pretendíamos propor o
desenvolvimento de atividades didático-pedagógicas sobre as diferentes
variedades linguísticas presentes na comunidade, resgatando a história e a cultura
dos diferentes grupos existentes. Este olhar a tradição linguística de um
determinado público foi possível através de uma proposta didática, que utilizará
vídeos, texto de humor, músicas e diferentes materiais, como textos com poesias,
narrativas, e outros, pretende-se levar o aluno a desenvolver a consciência
linguística sobre os mais diversos falares presentes na sua comunidade. Esse foi
ponto de partida para sensibilizar o público estudante e, até mesmo docente,
sobre a necessidade de aprendizagem da língua padrão, que em determinadas
situações de comunicação exigem domínio por parte do cidadão.
A partir da defesa sobre a necessidade da realização de práticas
pedagógicas envolvendo a oralidade, com o intuito de possibilitar aos alunos do 2º
ano do Ensino Médio o exercício da fala em público, utilizando a variedade
linguística adequada à situação e, desta forma, qualificando, também o processo de
escrita, é que se delinearam estratégias de ação, para serem implementadas na
prática pedagógica, inicialmente através de pesquisa bibliográfica, a qual consiste
em estudos, análise e discussão segundo a literatura da área e, posteriormente da
aplicação da pesquisa de campo de cunho pesquisa ação, sendo esta última
desenvolvida a partir da observação e intervenção dos estudos PDE no contexto
escolar, durante o processo de implementação, a partir da sugestão de atividades
didático-pedagógicas, para serem realizadas nas aulas de Língua Portuguesa no 2º
ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Doze de Novembro- Ensino Médio e
Profissional.
A proposição destas atividades seguiu a linha da pesquisa qualitativa em
educação, com a meta de propor e testar práticas pedagógicas diferenciadas das
atuais desenvolvidas cotidianamente em sala de aula. O temo diferenciada refere-se
ao fato, de que se busca com uma atitude de pesquisa, chegar a alternativas
didáticas para o processo de ensino e aprendizagem. Deste modo, as atividades
foram pensadas para serem distribuídas em momentos específicos de
aprendizagem, os quais são explicitados a seguir:
Metodologia
Esta proposta de trabalho é parte integrante do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE, realizado na Unioeste em 2013 e 2014. O
desenvolvimento desta proposta deu-se através das seguintes atividades:
Ocorreu no primeiro período de 2013, com levantamento bibliográfico para
fundamentação teórica do Planejamento de Intervenção, com definição do tema a
ser desenvolvido no Projeto de Intervenção Pedagógica e conclusão do mesmo.
Foi elaborada no segundo período de 2014, após estudos e pesquisas teórico-
metodológicas, iniciou-se a construção do material didático pedagógico a ser
utilizado na implementação do projeto segundo a sequência de estudos
apresentado no encaminhamento metodológico, com organização dos conteúdos
e recursos que foram utilizados.
No segundo período de 2013, esta etapa de estudo, possibilitou a
discussão da proposta de intervenção e avaliar o material didático produzido.
Foram apresentados aos alunos em sala de aula trechos de vídeos e textos, para
que eles pudessem fazer observações e identificar as semelhanças e diferenças
na linguagem; no primeiro momento realizar atividade de exploração da estrutura
textual e sua interpretação, realizar a análise linguística, para a aplicação do
conhecimento, produzirem textos com linguagens diversas, de modo a perceber e
explorar as variedades linguísticas, relacionando-as ao espaço geográfico, à
idade, ao sexo e à escolaridade. Trabalho de campo pesquisando os diferentes
falares na família, bairro e TV para ser discutido em sala de aula. No laboratório
de informática pesquisar as variedades linguísticas regionais para comparação
com a variedade existente entre os alunos.
Em um segundo momento a turma foi dividida em grupos e com base em
reflexões e discussões, a partir do texto em estudo, organizaremos dramatizações,
utilizando-se dos diversos falares com as experiências do convívio dos alunos. Por
exemplo: se fosse um médico, se fosse um prefeito, se fosse um professor, se
fosse um agricultor, se fosse uma diarista, se fosse um frentista...; na qual se
trabalhará a estrutura e marcas da oralidade e produção de textos narrativos,
posteriormente será organizado um espaço, nas aulas para eles narrarem suas
histórias.
No terceiro momento, aplicação do Conhecimento: Socialização da
atividade de “Pesquisa de Campo”, em que ocorreu a apresentação das atividades
elaboradas e sistematizadas pelos alunos do 2º ano no coletivo escolar,
englobando/contendo as variedades linguísticas regionais, as presentes no
cotidiano dos alunos e a contação das histórias produzidos para o coletivo escolar:
“O dia da narrativa”. Esta apresentação será sugerida através de dramatização
envolvendo a montagem de uma peça teatral. Após passaremos a confeccionar
uma coletânea das diversas atividades realizadas para ficarem como acervo da
biblioteca da escola.
Realizado um trabalho de pesquisa, com alunos, em jornais mais antigos,
nos atuais - inclusive na Internet - os diferentes tipos de reportagens, notícias,
charges, tirinhas, classificados, horóscopo, palavras cruzadas etc., pois houve
necessidade de comparação entre diferentes tipos textuais, de linguagem, de
escrita, de interpretação para a formação do leitor reflexivo e crítico, principal
objetivo do Projeto. Devem-se utilizar os “espaços” que a escola oferece, assim
como materiais e equipamentos.
O Debate foi realizado de forma que os alunos de cada grupo,
organizados pelo professor, apresentaram seus trabalhos já finalizados aos
colegas, professor(a) e convidados um relato das últimas leituras dos textos
jornalísticos, escolhidos pela equipe, um comentário através de texto crítico e
cartaz, amostra das notícias, reportagens, crônicas ou ponto de vista dos
redatores de um jornal, acompanhados de fotos.
3 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Segundo Antunes (2003), hoje na sala de aula, a escrita prevalece como
uma prática mecânica e a memorização pura e simples de regras ortográficas, e a
leitura está reduzida a momentos de exercícios e não está despertando prazer nos
alunos. O professor deve sugerir atividades para explorar corretamente a
oralidade, a escrita, a prática de leitura e também refletir sobre as regras
gramaticais.
A escola através do processo de ensino e aprendizagem, proporciona aos
alunos meios para desenvolver sua leitura, fazendo com que eles tenham
compreensão daquilo que estão lendo e que não apenas decodifiquem, mas que
reconheçam os elementos constitutivos do texto. Cabe ao professor ser o
mediador desse processo, trazendo para sala de aula estratégias de leitura, que
leve ao letramento crítico. Além disso, saber escrever bem é fundamental na
sociedade da informação e da comunicação como garantia de qualidade de
exercício de cidadania, tanto na comunicação falada, como na escrita. Por isso, a
relação entre essas linguagens não pode estar dividida, uma vez que uma
complementa a outra.
A participação dos alunos como sujeitos ativos no processo de ensino, que
caracterizou a implementação de atividades didático-pedagógicas nas práticas de
linguagem contribuiu para a sua apropriação, porém, é preciso ir além das vivências.
É necessário um trabalho progressivo e aprofundado com os gêneros textuais orais
e escrito, envolvendo situações, em que essa exploração faça sentido. Desta forma ,
sabemos que avaliar o aluno, devemos perceber se ele foi capaz de utilizar, de
modo correto, os recursos linguísticos próprios da estrutura de cada gênero.
4- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nosso intuito neste artigo foi possibilitar a análise teórica sobre o ensino
de Língua Portuguesa, e apresentar propostas didático-pedagógica, mediante a
implementação de atividades pedagógicas com vistas a possibilidade de trabalho
gramatical contextualizado, a partir de realidades diagnosticadas em salas de
aula. Acreditamos que o ensino de língua materna viabilizado na proposta dos
gêneros discursivos privilegia atividades de leitura, análise linguística e produção
de textos associadas às situações de enunciação e relacionadas às marcas
linguístico-enunciativas dos textos.
Do mesmo modo, entendemos que a melhoria na qualidade do ensino, em
especial das escolas públicas, se dá pelo caminho da formação continuada de
professores. O PDE, por ser um programa que propicia o afastamento do
profissional da educação de suas atividades práticas para o estudo e a reflexão, é
um grande passo na busca da qualidade em educação. Assim, entendemos que o
processo de formação continuada de professores é um caminho em direção ao
conhecimento porque somente a disponibilização de novas abordagens de ensino-
aprendizagem sem que o professor esteja familiarizado com os pressupostos
teóricos assumidos é uma medida insuficiente.
Para finalizar argumento que as aulas de Língua portuguesa devem
possibilitar aos alunos, a ampliação do uso das linguagens verbais e não-verbais,
através do contato com os mais variados tipos de texto e a produção de diferentes
tipos de textos. Procurando desenvolver a reflexão, a criatividade e a capacidade
argumentativa e garantindo a articulação entre o ato de falar a palavra e o ato de
escrevê-la. Levar o aluno a entender a estrutura da língua, a partir de uma
unidade privilegiada – o texto – dando preferência ao trabalho com questões
abertas e atividades de pesquisa, que exigem comparação e reflexão sobre
adequação e efeitos de sentido.
Portanto, a partir deste estudo tendo a prática pedagógica como objeto de
investigação e implementação de proposta didática afirmamos que ao nos
comunicarmos por meio de gêneros textuais, quanto mais gêneros dominarmos,
maior será nossa capacidade de comunicação, nosso desenvolvimento pessoal e
nossa capacidade de exercer a cidadania. Sabemos que tanto os adultos como as
crianças possuem uma vida plena de experiências e cabe a nós professores
incentivá-los, para que possam transformar o ato de escrever em uma tarefa
corriqueira e sem muitas dificuldades, uma vez que por meio de um processo
cooperativo entre aluno e professor, podemos desenvolver em nossos educandos
as habilidades de expressar suas opiniões, discutir, argumentar e assim, propiciar
a aquisição de novos conhecimentos.
5- REFERÊNCIAS
ANTUNES, Irandé, Aula de português: encontro & interação, 8ª edição, Parábola
editorial, São Paulo, 2003.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna. A
sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola, 2004.
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação, Diretrizes Curriculares da
Educação Básica do Estado do Paraná, Curitiba: SEED, 2008.
PEREIRA JÚNIOR, Luiz Carlos, O equilíbrio da grafia. In: Revista Língua
Portuguesa. Ano 4, p.39, maio 2010.