os desafios da escola pÚblica paranaense na ......palavras-chave: dicotomia; arranjos espaciais;...

13
Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

Upload: others

Post on 13-Aug-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA ......Palavras-chave: Dicotomia; Arranjos Espaciais; Unidades de Paisagem; Entorno Es-colar; Circuitos Superior e Inferior. INTRODUÇÃO

Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Page 2: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA ......Palavras-chave: Dicotomia; Arranjos Espaciais; Unidades de Paisagem; Entorno Es-colar; Circuitos Superior e Inferior. INTRODUÇÃO

A Ruptura da Dicotomia entre a Geografia Física e Humana: o Entorno Escolar

e suas Unidades de Paisagem na construção dos Arranjos Espaciais

Autor: Antonio Timóteo da Silva GervasiOrientadora: Ângela Massumi Katuta

RESUMO

O presente artigo tem por objetivo mostrar como a dicotomia historicamente construída na ciência ge-ográfica pode ser rompida a partir do estudo do entorno escolar, tendo como base os conceitos deunidades de paisagem e arranjos espaciais do bairro Jardim Araçá, em Paranaguá-Paraná, trabalha-dos durante o programa PDE. A ausência de um material didático específico para auxiliar na com-preensão por parte dos educandos desse assunto, partindo do seu espaço vivido, do entorno da es-cola, me incentivou a elaborar um projeto e, posteriormente, uma Unidade Didática, com aulas decampo para coleta de informações por meio de entrevistas com moradores antigos e fotorreportagem,desenhos simples do bairro, classificação das unidades de paisagem, edição e seleção das fotospara, finalmente elaborar leituras e análises das mesmas. Na sequência, ocorreu o terceiro períodode formação, conhecido como GTR (Grupo de trabalho em Rede), no qual foram angariadas grandescontribuições ao projeto por parte dos professores cursistas participantes, indicando a relevância des-te projeto para as escolas públicas do Paraná. Finalmente, ocorreu a implementação do projeto naescola que tratou da “Ruptura da dicotomia entre a geografia física e humana: o entorno escolar esuas unidades de paisagem na construção dos arranjos espaciais”, por meio do qual os educandospuderam trabalhar com a unidade didática, que objetivava que eles compreendessem os arranjos es-paciais do entorno escolar, o que evidenciou a possibilidade de ruptura com a dicotomia da geografiafísica e humana por meio deste trabalho. Buscou-se a compreensão de que essas mudanças estãoassociadas a um conjunto de fatores, sobretudo os de ordem física, econômica, social e política. Aparticipação dos educandos foi de grande valia para ampliar os conhecimentos sobre o espaço locale também para o próprio professor PDE que verificou a possibilidade de ruptura com a dicotomia dageografia física e humana por meio dos trabalhos realizados ao longo da formação.

Palavras-chave: Dicotomia; Arranjos Espaciais; Unidades de Paisagem; Entorno Es-colar; Circuitos Superior e Inferior.

INTRODUÇÃO

Neste artigo apresento o trabalho desenvolvido no projeto intitulado “A Ruptu-

ra da Dicotomia entre a Geografia Física e Humana: o Entorno Escolar e suas Uni-

dades de Paisagem na Construção dos Arranjos Espaciais”, ao longo de nossa for-

mação como professor do PDE 2013 (Programa de Desenvolvimento Educacional

da Secretaria de Educação do Estado do Paraná). Esse tema foi escolhido em fun-

ção da necessidade de um material didático inédito que contribuísse e auxiliasse na

compreensão dos educandos sobre a dicotomia historicamente construída na ciên-

cia geográfica e a tentativa de ruptura com a mesma, a partir do estudo do espaço

local vivido e percebido por todos. O que me motivou a desenvolvê-lo e, consequen-

temente, a unidade didática referente ao tema foi a observação ao longo dos anos

Page 3: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA ......Palavras-chave: Dicotomia; Arranjos Espaciais; Unidades de Paisagem; Entorno Es-colar; Circuitos Superior e Inferior. INTRODUÇÃO

das mudanças urbano/espaciais, especialmente nas áreas próximas aos mangue-

zais e isso despertou em mim o interesse pelo estudo. Como professor de geografia

sempre verificava a ausência de produções didáticas que auxiliassem na compreen-

são por parte dos educandos sobre as transformações urbano/espaciais locais em

suas particularidades, partindo do seu espaço vivido como o entorno do colégio. Ao

mesmo tempo, pretendia contribuir por meio dos meus estudos com a ruptura da di-

cotomia da geografia fisica e humana com a construção de um material di-

dático-pedagógico para uma educação de qualidade, em todas as escolas públicas

do Paraná. Assim, o problema focado foi a ausência de um material didático inédito

para a pesquisa e trabalho docente e, ao mesmo tempo, verificar quais materiais se-

riam mais adequados para instigar e auxiliar os educandos a compreenderem as

transformações urbano/espaciais do entorno do colégio, em especial do bairro do

Jardim Araçá, nos últimos anos. Comecei o trabalho buscando autores que tratas-

sem do referido tema. Um dos referenciais importantes naquele momento foram as

Diretrizes Curriculares da Educação Básica da Secretaria de Estado da Educação

do Paraná (PARANÁ, 2008, p. 70), pois o tema atende o que está disposto neste do-

cumento, nos conteúdos estruturantes intitulado A Dimensão Econômica do Espaço

Geográfico, no qual está indicada a “[...]importância de se analisar para entender

como se constitui o espaço geográfico”. Neste sentido, Moreira (2007, p. 62) afirma

que o

[...]processo formador do espaço geográfico é o mesmo da formação econô-mico-social. Por isso, tem por estrutura e leis de movimento a própria estru-tura de leis de movimento da formação econômico-social. Podemos, comisso, doravante designar o que até agora chamamos de organização do es-paço por formação espacial, ou formação socioespacial, como propôs San-tos (1978).

Também fui auxiliado por várias leituras de Milton Santos, que defende que

“[...] a sociedade é entendida como totalidade social [...]”(Santos, 1985, p. 123). Por-

tanto, para que se compreenda a produção social é necessário ir além da aparência,

dos aspectos visíveis, é preciso compreender como os determinantes políticos, cul-

turais e econômicos se constituem na essência social e produzem as transforma-

ções espaciais.

Ao mesmo tempo, elaborei um questionário para pesquisa de campo por meio

da qual fui verificar junto aos moradores do bairro do entorno da escola o que sabi-

am sobre as transformações urbanas em Paranaguá nos últimos cinquenta anos.

Page 4: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA ......Palavras-chave: Dicotomia; Arranjos Espaciais; Unidades de Paisagem; Entorno Es-colar; Circuitos Superior e Inferior. INTRODUÇÃO

Além disso, verifiquei também o que eles possuíam de materiais fotográficos deste

período. Somado a isso, fotografei a área de estudo ao longo de diferentes pontos

onde ocorreram as transformações mais intensas. Concluída essa parte do projeto,

passei a produzir o material, optando por elaborar uma Unidade Didática composta

das seguintes atividades: aulas de campo, noções de cartografia, texto sobre o pro-

cesso de ocupação urbana, depoimentos de moradores e fotografias da área para

aprofundamento da temática. Na elaboração destas atividades, utilizei as leituras

que tratam das referidas metodologias, como as “Diretrizes Curriculares da Educa-

ção Básica da Secretaria de Estado da Educação do Paraná” (2008), "A Cartografia

das Unidades de Paisagem: questões metodológicas", de Martinelli & Pedrotti

(2001), "Paisagem e Geografia Física Global: esboço metodológico", de G. Bertrand

(1972), “O Brasil frente aos Arranjos Espaciais do Século XXI", de Ângela M. Katuta

& William R. Da Silva (2007), “Analise da Dinâmica Espacial da Ocupação Antrópica

em Paranaguá/Paraná (1952-1996)” de Sony Cortese Caneparo (1999), “A natureza

do espaço, técnica e tempo, razão e emoção”, de Milton Santos (1996) e "Espaço e

Método" (1985), também do mesmo autor.

Os objetivos alcançados através destas atividades foram a identificação, por

parte dos educandos, das transformações urbanas que ocorreram na área de estudo

ao longo das últimas décadas e por pesquisa de elementos explicativos destas mes-

mas, tais como unidades da paisagem, arranjos espaciais e circuitos da economia.

Entenderam que essas mudanças, a partir da compreensão dos locais onde ocorre-

ram as transformações mais marcantes, estão associadas a um conjunto de fatores,

sobretudo os de ordem econômica, sociocultural e política. Os resultados obtidos fo-

ram contemplados através da compreensão e conhecimento por parte dos educan-

dos sobre o referido assunto do estudo tratado.

A CONSTRUÇÃO DO TRABALHO

Para a construção e desenvolvimento de todo o trabalho, fizemos uso de di-

versos recursos, dentre os quais as leituras de vários autores que tratam do assunto

da dicotomia na ciência geográfica, que muito contribuíram na fundamentação teóri -

ca necessária.

Atualmente, tem sido um árduo trabalho ensinar geografia, frente aos desafios

contemporâneos enfrentados. Por isso, ao longo de todo o processo, privilegiamos o

local onde o educando vive e mora, que se constitui de fundamental importância.

Page 5: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA ......Palavras-chave: Dicotomia; Arranjos Espaciais; Unidades de Paisagem; Entorno Es-colar; Circuitos Superior e Inferior. INTRODUÇÃO

Acreditamos que o cotidiano do aluno deva dialogar com o conteúdo escolar para

que o ensino ganhe significado e para que o mesmo consiga compreender os luga-

res que habita.

A análise acerca do ensino da geografia começa pela compreensão do seu

objeto de estudo. Muitos foram os objetos da geografia antes de se ter algum con-

senso, sempre relativo, em torno da ideia de que o espaço geográfico é o foco da

análise. Entretanto, a expressão espaço geográfico, bem como os conceitos básicos

da geografia – lugar, paisagem, região, território, natureza, sociedade – não se auto-

explicam. Ao contrário, são termos que exigem esclarecimentos, pois, a depender do

fundamento teórico a que se vinculam, refletem posições filosóficas, políticas e vi-

sões de mundo distintas.

Para Lefebvre (1974), o objeto de estudo da Geografia é o espaço geográfico,

entendido como o espaço produzido e apropriado pela sociedade. Já, para Santos

(1966), o espaço geográfico é composto pela inter-relação entre sistema de objetos

– naturais, culturais e técnicos – e sistema de ações – relações sociais, culturais, po-

líticas e econômicas. O ensino da Geografia deve assumir o quadro conceitual das

abordagens críticas dessa disciplina, que propõem a análise dos conflitos e contradi-

ções sociais, econômicas, culturais e políticas, constitutivas dos arranjos espaciais.

De acordo com Moreira (2007), a geografia é historicamente definida como

ciência. Seu tema tem sido o conhecimento, aqui e ali se ocupando do problema da

existência, mas sempre confundido com o tema da sobrevivência.

Segundo Santos (1985, p. 51):

Há uma relação entre a sociedade e um conjunto de formas materiais e cul-turais. O espaço pode ser entendido como um produto social em permanen-te transformação, ou seja, sempre que a sociedade sofre mudança, as for-mas (objetos geográficos) assumem novas funções. Novos elementos, no-vas técnicas são incorporados à paisagem e ao espaço, demonstrando a di-nâmica social. Os objetos construídos sobre o espaço são datados e vão in-corporando novas tecnologias e novas formas de produzir.

A significação do conhecimento deve ser fundamental para a sua construção.

De acordo com Moreira & Masini (2011), a aprendizagem significativa é, antes de

tudo, um conjunto de relações entre conhecimentos e os processos através dos

quais um novo conhecimento se relaciona de maneira não arbitrária e não literal à

Page 6: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA ......Palavras-chave: Dicotomia; Arranjos Espaciais; Unidades de Paisagem; Entorno Es-colar; Circuitos Superior e Inferior. INTRODUÇÃO

estrutura cognitiva do aprendiz. Toda aprendizagem significativa dá ênfase ao que o

educando já sabe.

Segundo Freire (2011), “[...] a nossa capacidade de aprender, de que decorre

a de ensinar, sugere ou, mais do que isso, implica a nossa habilidade de aprender a

substantividade do objeto aprendido.”

A metodologia da pesquisa-ação, proposta por Thiollent (2007), fundamentou

todo o processo de aprendizagem do projeto PDE, com o intuito de aproximar dife-

rentes abordagens no estudo, entendimentos e ações sobre e com os fatos.

O mesmo Thiollent (1992, p. 114) nos diz:

O universo com o qual a pesquisa-ação dialoga é bastante amplo, o que in-fluencia na configuração de ações, existindo a necessidade de se conside-rar um contexto sociocultural em contínua mudança, em função da própriacomplexidade das relações sociais.

Toda a metologia adotada visa oferecer ferramentas para novas percepções,

análises, estabelecimento de estratégias e de ações em diferentes realidades, imer-

sa em uma rede de comunicação entre vários agentes que opinam, interagem, com-

prometem-se e relacionam-se através de falas entre um ou mais atores que partici-

pam e se norteiam por questões de como as ações devam ser orientadas.

Para falar da formação do bairro do entorno do colégio Maria de Lourdes Ro-

drigues Morozowski, buscamos auxílio em relatos de antigos moradores da localida-

de e nos arquivos da prefeitura municipal de Paranaguá que contribuíram na funda-

mentação teórica.

Segundo o que foi apurado, as origens do bairro do entorno estão relaciona-

das com o surgimento dos primeiros arruamentos estruturais de cerca de quatro dé-

cadas atrás, segundo a Secretaria Municipal de urbanismo. Tal fato verificou-se

apenas na parte alta do bairro Jardim Araçá do entorno do colégio. De acordo com

os moradores, a parte baixa ou manguezal antropizado, passou a ser ocupado há

cerca de 30 anos.

DESENVOLVIMENTO

Para a elaboração do Projeto de Intervenção Pedagógica e da Unidade Di-

dática sobre a ruptura da dicotomia na geografia, a partir da análise do bairro Jardim

Araçá, foi necessário o afastamento de um ano das atividades de sala de aula em

2013. Durante a Semana Pedagógica de fevereiro de 2014, apresentei a proposta

Page 7: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA ......Palavras-chave: Dicotomia; Arranjos Espaciais; Unidades de Paisagem; Entorno Es-colar; Circuitos Superior e Inferior. INTRODUÇÃO

do Projeto de Intervenção e da Unidade Didática, a serem aplicados a partir de mar-

ço do mesmo ano, a todos os membros da escola (professores, equipe pedagógica,

direção e funcionários). Ainda, no início do mês de março, apresentei as propostas

ao Conselho Escolar do colégio. De início, convidei educandos dos três nonos anos

em que lecionava (9º “G”, “H” e “I”), explicando-lhes que as atividades seriam no

contra-turno. Um total de 15 educandos dos nonos anos G e I aceitaram participar

da implementação. Para a nossa primeira atividade experimental, constante da Uni-

dade Didática, apareceram somente 07 educandos. Fomos, então, realizar uma re-

portagem fotográfica em pontos pré-determinados do bairro Jardim Araçá, definidos

como Parte Alta, Parte Baixa e Área de Transição. Nesse mesmo dia, os educandos

presentes tiveram de discutir a interrogação “O que estudei em geografia que existe

no meu bairro?” Tal atividade experimental durou cerca de quatro horas. Passada

uma semana, apareceram dez educandos e, então, começamos a analisar as fotos

tiradas por eles nos celulares e máquinas fotográficas e indagá-los sobre as percep-

ções dos elementos da Geografia presentes nas imagens. Foi um trabalho cansativo

de mais de 4 horas, porém recompensador. Depois de duas semanas, um grupo de

11 educandos apareceram para o início da segunda atividade experimental, intitula-

da “leitura e interpretação do material fotográfico e montagem de um painel de análi-

se.” Tal atividade foi desenvolvida no laboratório de informática do colégio. Lá, os

educandos tiveram de selecionar as imagens que possuíam elementos em comum

com o que foi proposto (partes alta, baixa e de transição) e, em seguida montar um

painel com as fotos ou imagens em slides de exibição no projetor de multimídia do

colégio. Essa atividade levou 8 horas para ser realizada, o dobro do que havíamos

previsto inicialmente. No projetor multimídia do colégio, os educandos já começaram

a identificar claramente os elementos formadores do espaço em análise, tais como

as Unidades de Paisagem, o Entorno Escolar, os Arranjos Espaciais e os Circuitos

Superior e Inferior da economia. No fim do mês de abril, cerca de doze educandos

iniciaram a prática experimental 3 de construção coletiva dos conceitos já citados

anteriormente. Eles elaboraram questões sobre os conceitos trabalhados, sendo ori-

entados pelo professor nas respostas a tais conceitos. Para realizar tal atividade ex-

perimental, foram necessárias 8 horas, ou seja, dois encontros de quatro horas

cada, envolvendo imagens produzidas por eles, entrevistas e vídeos curtos. Tal ati -

vidade foi realizada no laboratório de informática. Finalmente, a última atividade, de-

nominada de “Sistematização dos estudos da produção didático-pedagógica”, foi re-

Page 8: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA ......Palavras-chave: Dicotomia; Arranjos Espaciais; Unidades de Paisagem; Entorno Es-colar; Circuitos Superior e Inferior. INTRODUÇÃO

alizada no laboratório de informática e envolveu a produção de vídeos curtos e sli-

des nos computadores do colégio, a partir das fotos produzidas e das filmagens nos

celulares. Toda a atividade envolveu três encontros de quatro horas cada um.

O projeto foi desenvolvido, como já dito anteriormente, no contra-turno onde

os educandos puderam desenvolver suas atividades, sob a supervisão do professor

pde, da equipe pedagógica do colégio e direção.

Paralelamente à aplicação do projeto no colégio, teve início o GTR (Grupo de

Trabalho em Rede) em meados do mês de março e que se encerrou no início do

mês de maio. Durante o GTR, pudemos refletir sobre a relevância do projeto e da

unidade didática para o aperfeiçoamento da prática escolar no ensino da Geografia.

A primeira temática do GTR discutiu o Projeto de Intervenção na escola intitulado “A

dicotomia entre a área física e humana na geografia: o entorno escolar e suas uni-

dades de paisagem na construção do espaço.” Nesta temática, o grupo de professo-

res participantes discutiram, questionaram e fizeram sugestões de aperfeiçoamento

do projeto proposto. Algumas intervenções contribuíram muito para o aperfeiçoa-

mento do projeto. O professor W. G. de M. afirmou que “a geografia como ciência

pode e deve ser uma só, embora didaticamente existam pseudas separações entre

os docentes devido à formação acadêmica.”

Já a professora A. T. de L. afirmou que os livros, os planos de trabalhos do-

centes e a formação continuada nos alertam para uma geografia mais integrada e

que olhando algumas apostilas de cursinho pré-vestibular a coisa fica feia com a

parte física separada da humana. Ainda na temática 01, o professor D. A. V. afirmou

que “sem dúvida que uma sociedade da totalidade só será construída se existir o

rompimento ou superação da dicotomia entre a geografia física e humana, sempre

lembrando que nosso espaço geográfico está em constante movimento e que a geo-

grafia não se resume apenas a estudar a parte física, mas fazendo um estudo do

todo, nunca esquecendo os aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais que

estão inseridos no contexto local.”

Também na temática 1, o professor E. S. disse que “a dicotomia na geografia

é fruto dos diferentes enfoques que os geógrafos atribuem às suas pesquisas, e que

guardam relação com o ambiente político, econômico e social pelos quais os países

passam no período histórico nas quais as mesmas são desenvolvidas e que, por

isso que se desenvolveram diferentes tendências no âmago da geografia, priorizan-

Page 9: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA ......Palavras-chave: Dicotomia; Arranjos Espaciais; Unidades de Paisagem; Entorno Es-colar; Circuitos Superior e Inferior. INTRODUÇÃO

do mais aspectos físicos, como a escola russa ou alemã ou mais aspectos huma-

nos, como a escola francesa.”

Quando teve início a temática 02 que discutiu a “Produção Didático-Pedagó-

gica” produzida para ser aplicada no 1º semestre de 2014, vários professores cur-

sistas do GTR enriqueceram, elogiaram e sugeriram elementos novos para um bom

aproveitamento com os discentes. O professor F. C. N. de Paranaguá elogiou o fato

de se trabalhar o entorno do colégio como ponto de partida para o rompimento da

dicotomia na Geografia e salientou que os educandos envolvidos são residentes no

local, o que despertaria um maior interesse nos mesmos.

O professor N. N., destacou a boa estruturação da Produção Didática. Se-

gundo ele, a mesma apresentava objetivos claros e passíveis de serem alcançados

em qualquer realidade escolar. O professor A. F. R., comentou que os educandos, à

medida que avançavam nas várias séries, perderiam o interesse pela Geografia,

além de apresentarem uma ideia muito negativa de onde moravam e que a produ-

ção didática proposta contribuiria para uma desconstrução da paisagem imaginada

inicialmente e poderia desenvolver uma criticidade, por parte dos mesmos, sobre o

porquê de tal disposição espacial encontrada e, dessa forma, proporiam soluções

de melhora de tal realidade.

O professor R. P., cursista do GTR, ressaltou que talvez o conceito de lugar

poderia auxiliar na abordagem para a leitura do espaço como uno e múltiplo, já que

este conceito também tem sido retomado nos recentes debates teóricos, e torna-se

importante quando compreendido como uma construção única, singular, carregada

de simbolismo e que agregaria ideias e sentidos produzidos por todos os envolvi-

dos.

A professora C. I. S. M, afirmou que as atividades do projeto estavam todas

bem elaboradas, mas destacaria e utilizaria o interesse não só em resumir o entorno

da escola ou colégio, mas abrangeria uma área maior, indo além. Por exemplo, gos-

taria de saber mais sobre a população do lugar, qual é a atividade econômica que

geraria emprego à população, qual a origem das pessoas do entorno desse espaço

escolar. Disse também que faria uma entrevista com algum morador do lugar e que

usaria toda tecnologia disponível para que o trabalho ficasse completo.

A professora O. R. salientou que o interessante na proposta seria o fato dos

educandos terem a oportunidade de aprenderem inicialmente o que estaria próximo

através do concreto, a partir de suas vivências, valendo-se de suas experiências,

Page 10: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA ......Palavras-chave: Dicotomia; Arranjos Espaciais; Unidades de Paisagem; Entorno Es-colar; Circuitos Superior e Inferior. INTRODUÇÃO

através de situações didáticas de fácil acesso. A professora I. V., de Paranaguá, co-

laborou com a discussão afirmando que os educandos envolvidos se sentiriam

como “produtores do conhecimento” e não meros expectadores do mesmo.

A professora D. E. M., afirmou que a diversidade de propostas elencadas no

projeto possibilitariam uma participação mais efetiva por parte dos educandos, pois

as mesmas iriam desde a observação, incluindo a aula de campo, até ao local, uma

atividade bastante salutar, com coleta de dados e a sistematização dos referidos

elementos pesquisados, bem como o compartilhamento destes conhecimentos ad-

quiridos.

Quando iniciei a temática 03 “Vivenciando a Prática” tive muitas trocas inte-

ressantes com os cursistas do GTR. Abri a temática salientando a dificuldade de se

trabalhar no contraturno com os educandos dos 9º anos envolvidos. O professor M.

P. S. F. disse que estava trabalhando com seus educandos do Ceebja algumas pro-

postas práticas do projeto PDE, incluindo o conhecimento dos entornos de vivência

de cada um e que sentia que os resultados seriam bons.

O professor R. P., na presente temática disse que já tinha desenvolvido um

projeto voltado para o cotidiano dos educandos e que tal prática foi muito positiva

porque os envolvidos se sentiram parte do mesmo e que o projeto de intervenção

sugerido por mim tinha também essa característica. O professor E. S., salientou as

adaptações que o projeto pode abranger na sua aplicabilidade, sobretudo na ques-

tão do tempo e que tais eventos só enriquecem a busca pelo conhecimento.

A professora O. R., disse que para trabalhar com aulas de campo é preciso

tempo e planejamento para que dê certo. Afirmou que já trabalhou nesse sentido

também, realizando estudo com os educandos para detectar os problemas ambien-

tais no entorno da escola em que trabalhava e que os educandos fotografaram e

perceberam coisas que ela nem havia imaginado. O professor A. F. R., disse achar

muito importante começar por aquilo que os educandos já conhecem. Nesse senti-

do, é ideal começar pelo espaço cotidiano dos mesmos e que eles já possuem uma

curiosidade muito grande pela vizinhança. Disse também ser maravilhoso colocar os

educandos para descobrir aquilo que não está tão visível sobre o espaço local.

Por último, cito aqui também a contribuição da professora A. C. P., quando a

mesma afirmou o seguinte: “O crescente interesse dos educandos é algo que temos

acompanhado e sentimos que ao trabalharmos de forma "diferente" inicialmente

causa desconfiança, mas a partir do momento que eles percebem e reconhecem a

Page 11: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA ......Palavras-chave: Dicotomia; Arranjos Espaciais; Unidades de Paisagem; Entorno Es-colar; Circuitos Superior e Inferior. INTRODUÇÃO

proposta como algo interessante passam a dedicar-se e desempenhar papéis cada

vez mais significativos.

Como se vê, pelas contribuições dos professores cursistas do Gtr sobre a

ruptura da dicotomia na geografia, muitas riquezas podem e devem ser exploradas

por cada um dos agentes envolvidos como professores, educandos, direções e

equipes pedagógicas. Foi gratificante ser mediador e provocador de discussões que

levaram a um conhecimento mais concreto da ciência do espaço, a nossa querida

geografia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A materialização do Projeto “A Ruptura da Dicotomia na Geografia: o Entorno

Escolar e suas Unidades de Paisagem na Construção dos Arranjos Espaciais”, con-

tribuiu muito para o meu conhecimento sobre tal assunto, por meio do estudo de al-

guns conceitos-chave da geografia, dando ênfase ao entorno escolar. A bibiografia

utilizada sobre o referido assunto foram de grande ajuda no desenvolvimento do

projeto e na construção da proposta pedagógica. Durante o desenrolar do projeto

andei por vários pontos do entorno do colégio “Maria de Lourdes Rodrigues Moro-

zowski”, entrevistando moradores antigos das partes alta e baixa e da chamada

área de transição ou de Logística Portuária, que me apontaram subsídios funda-

mentais para o entendimento da realidade local e suas transformações ao longo do

tempo. Tudo isso se constituiu num período rico de conhecimentos e experiências

sem igual para mim. O período do GTR ou Grupo de Trabalho em Rede, onde de-

senvolvi o papel de tutor, também representou para mim um crescimento sem igual.

Durante o desenvolvimento das diversas temáticas, pude aprender um pouco

sobre o uso da tecnologia online e as novas visões dos cursistas sobre a educação

ligada à ciência geográfica. As reflexões e sugestões dos cursistas do GTR para o

projeto do PDE muito contribuíram para meu crescimento como professor pesquisa-

dor. Paralelamente, ocorria a implementação do projeto com o publico alvo (os edu-

candos), mediante a aplicação da Produção Didático Pedagógica, onde os objetivos

foram atingidos de modo concreto por eles, por meio das diversas atividades pro-

postas, tais como: fotorreportagem, entrevistas e montagem de painéis das unida-

des de paisagem. Acredito que esse momento da implementação foi o mais rico de

todos, porque os educandos puderam vivenciar a geografia do cotidiano, através do

Page 12: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA ......Palavras-chave: Dicotomia; Arranjos Espaciais; Unidades de Paisagem; Entorno Es-colar; Circuitos Superior e Inferior. INTRODUÇÃO

estudo da localidade em que moravam e, dessa forma, mudarem a visão que tinham

sobre o mesmo.

Quero terminar dizendo que o Programa de Desenvolvimento Educacional

(PDE) foi um momento de crescimento profissional e pessoal sem igual, que envol-

veu aspectos culturais e tecnológicos nunca vivenciados por minha pessoa. Gosta-

ria de agradecer a todos, em especial, à minha família que esteve sempre ao meu

lado, à minha orientadora que teve toda a paciência do mundo comigo, à direção e

equipe pedagógica do meu colégio que sempre estiveram em minha companhia e

que se colocaram à disposição em todos os momentos difíceis. Meu muito obrigado

a todos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERTRAND, Georges. Paisagem e Geografia Física Global: esboço metodológi-

co. Caderno de Ciências da Terra. São Paulo: USP, 1972.

CANEPARO, Sony C. Manguezais de Paranaguá: uma análise da dinâmica espaci-

al da ocupação antrópica - 1952-1996. Curitiba, 1999. 289 p. Tese (Doutorado em

Meio Ambiente e Desenvolvimento) - Universidade Federal do Paraná.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educati-

va. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

KATUTA, Angela Massumi; DA SILVA, William Ribeiro. O Brasil Frente aos Arran-

jos Espaciais do Século XXI. Londrina: Humanidades, 2007.

KATUTA, Angela Massumi. O Estrangeiro no Mundo da Geografia. Tese.(Doutora-

do de Geografia). São Paulo: USP, 2004.

LEFEBVRE, Henry. A Produção do Espaço. Paris: Editora Anthropos, 1974.

MARTINELLI, Marcelo; PEDROTTI, F. A Cartografia das Unidades de Paisagem:

questões metodológicas. Revista do departamento de Geografia, n. 14, São Paulo,

DG-USP, 2001, p. 39-46.

MOREIRA, Marco Antonio; MASINI, Elcie F Salzano. Aprendizagem Significativa:

a teoria de David Ausubel. São Paulo: Centauro, 2011.

MOREIRA, Ruy. Pensar e Ser em Geografia: ensaios de história, epistemologia e

ontologia do espaço geográfico. São Paulo: Contexto, 2007.

____________. O Discurso do Avesso: para a crítica da geografia que se ensina.

São Paulo: Dois Pontos, 1987.

PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Geografia da Secreta-

ria de Estado da Educação. 2008.

Page 13: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA ......Palavras-chave: Dicotomia; Arranjos Espaciais; Unidades de Paisagem; Entorno Es-colar; Circuitos Superior e Inferior. INTRODUÇÃO

SANTOS, Milton. Espaço Dividido: Os dois circuitos da economia urbana. São

Paulo: Edusp, 1979.

____________. Espaço e Método. São Paulo: Nobel, 1985.

____________. A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São

Paulo: Hucitec, 1996.

SILVA, Silvana Cristina da. Circuitos Superior e Inferior: sinônimos para a econo-

mia formal e informal? Disponível em

<htpp://colunaterritorium.blogspot.com.br./2012/08/circuito-inferior-e-superior-sinoni-

mos_10.html>. Acesso em: 05 dez, 2013.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 15 ed. São Paulo: Cortez,

2007.

____________. Organização do trabalho intelectual e novas tecnologias do co-

nhecimento. Ciência da Informação, vol. 21, n. 02, Rio de Janeiro, maio/ago., 1992,

p. 110-114. Disponível em: <http://www.brapci.ufpr.br/documento.php?

dd0=0000002373&dd1=59b29. Acesso em: 29 ago. 2014.