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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA: CONTRIBUIÇÕES DA LÍNGUA INGLESA E DAS NOVAS TECNOLOGIAS DE
COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO.
AUTORA: ROBERTA VIVIANI RODRIGUES DE ALMEIDA1
ORIENTADORA: RAQUEL GAMERO2
RESUMO: De acordo com experiências de professores, a prática do ensino de LEM tem se tornado
um obstáculo devido a inúmeras razões, entre elas: grande número de alunos por turma, desmotivação em aprender, sistema de avaliação por notas, falta de materiais didáticos adequados, uso escasso de novas tecnologias, entre outros (MICCOLI, 2006). Nessa perspectiva as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM) reforçam a ideia de que a função da disciplina de língua inglesa vai muito além do conhecimento linguístico, do ensinar um idioma estrangeiro, ao contrário, deve estar voltada a “cumprir outros compromissos com os educandos”, como o de “contribuir para a formação de indivíduos como parte de suas preocupações educacionais.” (BRASIL, 2006, p. 91). Com base nestes dados e experiências pessoais, surge a necessidade de um trabalho voltado à cidadania, onde o aluno, por intermédio das aulas de língua inglesa e do auxílio dos recursos tecnológicos, poderá ampliar seus conhecimentos e perceber a importância da obtenção de uma nova postura para o resgate da valorização pessoal e coletiva, contribuindo para a formação de um cidadão com condições de ser incluso no processo de globalização de forma mais crítica e consciente de suas atitudes perante a sociedade (BRASIL, 2006). PALAVRAS–CHAVE: Língua Inglesa. Novas Tecnologias. Cidadania. Idoso.
ABSTRACT: According to the experiences of teachers, teaching practice of LEM has become an
obstacle due to many reasons, including: large number of students per class, motivation to learn, evaluation system for notes, lack of adequate didactic materials, use scarce of new technologies, among others (MICCOLI, 2006). In this perspective the Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM) reinforce the idea that the role of the discipline of English language goes far beyond linguistic knowledge, of teaching a foreign language, on the contrary, should be directed to "fulfill other commitments with the students” as "to contribute to the education of individuals as part of their educational concerns". (BRAZIL, 2006, p. 91). Based on these data and personal experiences, the need for a work aimed to citizenship, where the student can enhance their knowledge and realize the importance of obtaining a new position arises to the rescue of personal development and collective, through the English language classes and support of technological resources, contributing to the formation of a citizen to be included in the process of globalization with more critical and aware of their attitudes towards society (BRAZIL, 2006) form process. KEY-WORDS: English language. New Technology. Citizenship. Elder People.
INTRODUÇÃO
O ensino de Língua Inglesa (LI) vem demonstrando sua importância no
desenvolvimento da humanidade, importância essa que tem sido amplamente
expandida por meio dos recursos tecnológicos. No entanto, a instituição escolar
1 Professora do Colégio Estadual Floriano Landgraf. de Santo Antonio do Paraíso - Paraná e pós-graduada em
Didática e Metodologia do Ensino, pela Universidade Norte do Paraná - UNOPAR . E-mail [email protected] 2 Professora da Universidade Estadual de Londrina e da Universidade Estadual do Norte do Paraná – Campus
Cornélio Procópio, graduada em Letras pela Universidade Estadual de Londrina – UEL, especialista em Metodologia do Ensino Superior pela UNOPAR, doutoranda em Estudos da Linguagem na Universidade Estadual de Londrina na linha de Formação de Professores de Língua Inglesa e mestre pelo mesmo programa. E-mail: [email protected]
parece estar à margem de toda esta modernização, sendo necessária a tomada de
uma nova postura dos profissionais da educação para que, primeiramente, se
conscientizem e, posteriormente, busquem a conscientização dos alunos sobre o
uso efetivo das novas tecnologias, evidenciando assim, a contribuição da LI e das
novas tecnologias para a construção de cidadãos mais humanizados e conscientes
de seu papel na sociedade.
Nessa perspectiva as Orientações Curriculares para o Ensino Médio
(doravante OCEM) reforça a ideia de que a função da disciplina de LI vai muito além
do conhecimento linguístico, do ensinar um idioma estrangeiro, ao contrário, deve
estar voltada a “cumprir outros compromissos com os educandos” como o de
“contribuir para a formação de indivíduos como parte de suas preocupações
educacionais.” (BRASIL, 2006, p. 91)
O tema abordado neste trabalho é a cidadania voltada para a conscientização
do papel das pessoas em relação ao idoso na sociedade e sua valorização. Para
que as aulas sejam trabalhadas com dinamicidade e atinjam os objetivos propostos,
os textos escolhidos possuem autenticidade focando situações reais de
comunicação, demonstrando o uso da linguagem em contextos diversos e a
intenção de cada discurso utilizado nos meios de comunicação, favorecendo assim,
a criação da criticidade do aluno diante da função social da língua e de seu uso.
Este trabalho tem como finalidade criar um espaço, tanto no meio virtual como
presencial, para o exercício da cidadania, com foco no desenvolvimento da
consciência crítica e da ação social consciente em relação às atitudes para com os
idosos.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O papel da escola e as potencialidades motivadoras das TICs em sala de aula
De acordo com as DCEs a escola é a instituição responsável pela boa
formação da população brasileira, devendo assim, estar focada no ato de disseminar
conhecimentos formalizados.
“[...] a função da escola pública paranaense é ensinar, dar acesso ao
conhecimento, para que todos, especialmente os alunos das classes
menos favorecidas, possam ter um projeto de futuro que vislumbre
trabalho, cidadania e uma vida digna”. (PARANÁ, 2008, p.7)
Nessa lógica de formação do aluno, o tema cidadania vem sendo
apresentado como uma visão ampliada e heterogênea, se comparada à visão
tradicional de formação. Para as DCEs (PARANÁ, 2008), o ensino de LI deve levar o
aluno a analisar questões sociais-políticas e econômicas, como também, as suas
implicações, desenvolvendo “uma consciência crítica a respeito do papel das línguas
na sociedade” (PARANÁ, 2008, p.55). A esse respeito, nas OCEM:
“[...] entende-se que “ser cidadão” envolve a compreensão sobre que
posição/lugar uma pessoa (o aluno, o cidadão) ocupa na sociedade.
Ou seja, de que lugar ele fala na sociedade? Por que essa é a sua
posição? Como veio parar ali? Ele quer estar nela? Quer mudá-la?
Quer sair dela? Essa posição o inclui ou o exclui de quê?” (BRASIL,
2006, p.91)
No entanto, no dia a dia de sala de aula, os docentes se deparam com
situações que interferem negativamente em sua prática pedagógica, dificultando
assim, a obtenção da aprendizagem esperada e necessária ao aluno. Um desses
fatores refere-se à desmotivação crescente entre os alunos, característica não só
das escolas públicas, como também de escolas particulares, conforme aponta a
pesquisa realizada por Miccoli (2007). Segunda a autora, professores de escolas
particulares e públicas constatam que alunos com maior faixa etária apresentam
menor interesse nas aulas de LI, quando comparados aos alunos com faixa etária
menor. Esses dados direcionam o professor a algumas indagações diante de sua
prática pedagógica. A saber
“Até que ponto não será a maneira como se conduz o ensino de LI e
a forma como se trata o estudante em sala de aula que fazem com
que este perca sua motivação para a aprendizagem? Até que ponto
será que o professor dá oportunidade ao estudante de se afirmar
como aprendiz?” (MICCOLI, 2007, p.63)
É consenso que a educação brasileira necessita, constantemente, de
mudanças embasadas em reflexões criticas, tendo como ponto de referência as
necessidades da sociedade atual. A esse respeito Miccoli (2007, p.54) defende que
“(e)m pleno século XXI é absurdo ainda não termos ultrapassado a concepção de
língua como um sistema estrutural que precisa ser aprendido como um
conhecimento sem aplicação”
Concorde com a posição de Vigotski, que para que haja uma comunicação
eficaz por meio do discurso, é necessária uma elaboração mais detalhada e
combinada das palavras, pois a compreensão do discurso apenas se dá se houver o
entendimento do pensamento. (2001, p. 101, 106). Para tanto, é necessário que se
mude de perspectiva de linguagem, não sendo possível manter o ensino de línguas
descontextualizado e fragmentado, como na proposta tradicional.
Nessa perspectiva, Bakhtin (1988 apud PARANÁ, 2008) afirma que “as
relações sociais ganham sentido pela palavra e a sua existência se concretiza no
contexto da enunciação” e que a mesma “está sempre carregada de um conteúdo
ou de um sentido ideológico ou vivencial”. Deste modo, o uso de diversos discursos
em situações concretas possibilitará aos alunos partir de suas experiências pessoais
para que, por meio da interatividade com os demais colegas, professores,
conteúdos, ferramentas metodológicas, reconheça no conhecimento científico seu
direito de inserção e construção crítica humanizada da sociedade.
Neste viés, a educação escolar não pode manter-se situada à margem das
inovações, considerando que o letramento digital possibilita o diálogo do sujeito a
outras culturas sem que necessite abandonar seus valores. (MATURANA, 1999
apud BRASIL 2006). A escola tem como papel estar em constante reformulação
evitando permanecer fundamentada em concepções de ensino ultrapassadas,
alienando-se do mundo real e dos novos conhecimentos necessários a todo cidadão
para que o mesmo possa garantir uma vida digna e de qualidade. A esse respeito,
Morin (2003, p.16) advoga que “(a) reforma do ensino deve levar à reforma do
pensamento, e a reforma do pensamento deve levar à reforma do ensino”.
Conclui-se, portanto, que, o grande desafio dos educadores e da sociedade
no geral está em deixar de priorizar o acúmulo de informações e passar a dispor
delas para a reorganização dos saberes, ampliando a compreensão do sentido real
do conhecimento. Entende-se então, que o ser humano apenas se torna capaz de
mudar as relações sociais por meio da compreensão intelectual, de
intersubjetividades, ou seja, de experiências de identificação, em comum com o
outro. (MORIN, 2003, p.93)
Visando a importância de transformações significativas ao ensino e
aprendizagem de LI, que inclua o aluno no mundo globalizado, vale ressaltar a
necessidade de estudos sistemáticos do uso das TICs na educação básica, pois se
trata de um recurso eficiente e inovador que vem ao encontro dos anseios
educacionais para a melhoria das aulas de LI. (BRASIL, 2006).
Com a vinda da computação e da internet a comunicação escrita e falada tem
sofrido alterações relevantes, colaborando assim, para uma comunicação verbal
mais dinâmica e interativa. Portanto, não há mais possibilidades de manter a escola
distante dos recursos tecnológicos, compreendendo que, os mesmos são
instrumentos facilitadores do processo de ensino aprendizagem.
Nessa visão, Moita Lopes esclarece que:
“[...] vivemos num mundo multisemiótico, cujos textos extrapolam a
letra, ou seja, um mundo de cores, sons, imagens e design que
constroem significados em textos orais/escritos e hipertextos.” [...]
“isso vem ao encontro da linguagem específica usada na
comunicação mediada pelo computador.” (PARANÁ, 2008, P.59)
Professores que usam novas metodologias, de acordo com Miccoli (2007)
apesar das dificuldades, obtêm melhores resultados. A autora defende ainda que:
“Oferecer ao professor alternativas para encorajar aqueles que
sabem mais a ter um papel que colabore para o desenvolvimento de
colegas com dificuldades e motivar os estudantes que precisam de
mais tempo para avançar pode ser uma iniciativa que mudará a
dinâmica em sala de aula e a postura do professor frente a uma
turma heterogênea” (MICCOLI, 2007, p.76)
Ao pensar essas alternativas para lidar com as heterogeneidades existentes no contexto
escolar, pensa-se na proposta de trabalho de ensino de línguas contextualizado e com foco no
desenvolvimento do aluno cidadão, objetivando ampliar sua capacidade de relacionar-se e de
participar ativamente não só em sua comunidade local, mas também, com outros conhecimentos e
em outras comunidades. (PARANÁ, 2008, p. 57). De acordo com Buzato, o surgimento da
internet contribuiu para ampliar e ressignificar a linguagem e seu uso. A língua passa
a ser compreendida como fonte de inclusão social do sujeito, que passa a ter
condições financeiras quanto ao acesso e consumo de textos diversos,
proporcionando a ele direito de igualdade na participação pública. (BUZATO, 2009,
p. 08)
Por este viés, a linguagem se torna instrumento complexo, dinâmico e
essencial ao sujeito, por meio dela o indivíduo tem oportunidades de experimentar
práticas de leitura e escrita na tela, diferentemente, das práticas de leitura e escrita
no papel ofertada na instituição escolar.
Segundo Buzato
[...] existe a necessidade de se pesquisar, e talvez de se fomentar através de agências, tais como a escola, toda uma gama de letramentos (digitais) e de concepções sobre inclusão (digital) que permanecem abertas, em trânsito e não capturáveis pelos grandes discursos [...] (BUZATO 2009, p.32)
Para Buzato (2009, p.12) “não há apenas letramentos diferentes em
diferentes contextos, mas também que cada letramento e cada contexto é
fundamentalmente heterogêneo, mutável e conectado a outros (i.e. dialógico)”.
Mediante a tal constatação, o uso das TIC é ferramenta potente capaz de
estabelecer conexões entre os vários tipos de letramento, exercendo assim, função
importante na formação de um sujeito crítico, globalizado, dotado de capacidades
necessárias ao mundo contemporâneo.
Com a evolução dos meios tecnológicos por intermédio das novas
tecnologias, a linguagem escrita e oral, está sendo inserida de forma gradativa e
constante na vida pessoal e profissional das pessoas, quebrando alguns paradigmas
a respeito da substituição da língua escrita por outras modalidades, reforçando a
idéia de que a escrita dificilmente se tornará defasada como meio de comunicação já
que “a internet e todos os gêneros a ela ligados são eventos textuais
fundamentalmente baseados na escrita”, pois “na internet a escrita continua
essencial apesar da integração de imagens e som” (MARCUSCHI, 2004, p. 6-7).
A esse respeito, o autor afirma que
“Podemos dizer que os gêneros textuais são frutos de complexas
relações entre um meio, um uso e a linguagem. [...] o meio eletrônico
oferece peculiaridades específicas para usos sociais, culturais e
comunicativos que não se oferecem nas relações interpessoais face
a face” (MARCUSCHI, 2004, p.6-7)
Essa relação interativa com a linguagem por meio dos gêneros em ambientes
virtuais introduz “um caráter inovador no contexto das relações entre fala - escrita”
(MARCUSCHI, 2004, p.16). Isso se dá pela possibilidade de inserções de imagens e
sons (fotos, músicas, vozes, etc.) que tem por finalidade dinamizar e intensificar o
processo de comunicação com maior descontração e informalidade (MARCUSCHI,
2004).
Desta forma, o desafio do professor está em propor aos alunos múltiplas
atividades em contextos variados de produção, possibilitando que os mesmos se
apropriem de conhecimentos (noções, técnicas, instrumentos) necessários para que
desenvolvam suas capacidades colaborando para a expressão oral e escrita em
situações diversificadas de comunicação. (DOLZ, J. et al., 2004, p.96)
O ensino de LI dentro desta proposta pautou-se por um trabalho voltado à
exploração discursiva de gêneros textuais, buscando “alargar a compreensão dos
diversos usos da linguagem, bem como a ativação de procedimentos interpretativos
alternativos no processo de construção de significados possíveis pelo leitor”.
(PARANÁ, 2008, p.58)
Para facilitar a aquisição da competência linguística é necessário que o foco
esteja nos gêneros a serem estudados, os mesmos devem estar organizados e ser
parte de um agrupamento, contribuindo assim, na elaboração de uma sequência
didática e no posicionamento melhor da prática docente diante do objeto a ser
estudado e do objetivo a ser adquirido.
Com base na proposta de Dolz, Noverraz e Scheneuwly (2004, p.97) o
procedimento “Sequência Didática” tem “a finalidade de ajudar o aluno a dominar
melhor um gênero de texto” [...] e “escrever ou falar de uma maneira mais adequada
numa dada situação de comunicação”. O trabalho ora apresentado buscou explorar,
por meio de adaptações desse procedimento, as capacidades de linguagem.
Assim, o ensino de LI organizado com objetivos previamente definidos,
apresenta-se como meio de “promover a expansão da compreensão de mundo”
colaborando para “uma ampla dimensão social e política” (BRASIL, 2006, P.94) do
indivíduo, por meio das novas tecnologias de informação e comunicação.
METODOLOGIA
1. Descrição dos dados:
São analisados neste trabalho o material didático, produzido para a
intervenção pedagógica e os diários de classe, gerados em sala de aula, no período
de fevereiro a agosto de 2014, na cidade de Santo Antônio do Paraiso, região norte
do Paraná.
1.1. Material Didático
Os gêneros textuais selecionados para a elaboração deste material foram
distribuídos ao longo das cinco unidades visando abordar a linguagem em uma
perspectiva discursiva.
Esta forma de organização tem como propósito envolver, e ao mesmo tempo,
acrescentar informações aos alunos sobre a temática “Idoso e cidadania”,
contribuindo gradativamente para a formação de uma nova postura voltada para a
valorização das pessoas, principalmente, das pessoas idosas.
Os recursos tecnológicos estão presentes em diversos momentos neste
material por acreditar na sua potencialidade como ferramenta pedagógica.
1.2. O diário de classe
O diário de classe consta de relatos semanais que visam apresentar
detalhadamente a implementação de todo o material pedagógico elaborado bem
como os imprevistos surgidos neste momento, o ponto de vista reflexivo da
professora diante dos obstáculos, do desenvolvimento e participação dos alunos e
as alterações metodológicas realizadas quando necessárias.
1.3. Procedimentos de Análise dos dados
A metodologia de análise do material didático se respalda na avaliação da
pertinência da proposta didática para o contexto de intervenção, a fim de atingir os
objetivos estabelecidos.
Como metodologia de análise dos diários se pauta em um relato de
experiência reflexivo, em que são postos em perspectiva a descrição da intervenção
e o engajamento emocional gerado, em seguida são tecidas avaliações e análises
do processo, para então se determinar conclusões e/ou possíveis ações futuras.
1.4 Descrições dos participantes
Formada em Letras Anglo portuguesa pela FAFICOP (atual UENP) e pós
graduada em Didática e Metodologia de Ensino pela UNOPAR, a professora pde
Roberta Viviani Rodrigues de Almeida faz parte do Quadro Próprio do magistério do
Estado do Paraná, trabalha em escola pública há 20 anos e possui experiências
relevantes nesta área da educação.
Os alunos do período noturno do Colégio Estadual Floriano Landgraf.
pertencem a classe baixa e são carentes de conhecimento e cultura. São jovens
com baixo auto-estima sem muitas expectativas em relação ao seu futuro.
1.5. Descrição do contexto de intervenção
Por meio de pesquisas proporcionadas pelo curso PDE, foi elaborado um
caderno pedagógico propondo atividades diferenciadas utilizando ferramentas
tecnológicas com o intuito de renovar o ensino da linguagem buscando a
contextualização e interação dos textos estimulando o educando para aprender LI .
Tendo em vista a necessidade de se inserir práticas pedagógicas que
possibilitem aos alunos o engajamento em prática de leitura e escrita, bem como, a
vivência com multiletramentos e usos heterogêneos da linguagem, optou-se por
trabalhar com textos autênticos presentes em diversas esferas de circulação como:
cotidiana (exposição oral, relatos de experiências,) literária (autobiografia, letras de
música), midiática (e-mail, home page, vídeos, videoclipes, games do Jclic), jurídica
(declaração de direitos, estatutos, leis).
Este projeto de implementação pedagógica foi aplicado em uma turma com
36 alunos do 1º ano do ensino médio noturno do Colégio Estadual Floriano Landgraf,
município de Santo Antonio do Paraíso. O desenvolvimento das atividades
propostas no material didático elaborado durante o 2º semestre do curso PDE, turma
2013, se deu nas 2 aulas semanais de LI, durante o primeiro e segundo bimestre do
ano de 2014.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS GERADOS NA INTERVENÇÃO
Inicialmente, com o intuito de conscientizar os alunos da importância de sua
participação nas aulas, foi feito um breve discurso informando-os sobre o trabalho
que seria realizado durante o primeiro semestre de 2014. Trabalho este, resultado
de uma longa e árdua pesquisa envolvendo a LI, o uso das novas tecnologias como
ferramenta metodológica de ensino e a temática “Idoso e cidadania”.
A temática abordada no projeto foi introduzida por meio do estudo da primeira
unidade do material didático nomeada “One day, you will be “old” too!.” A turma foi
motivada a refletir sobre a posição do idoso na sociedade hoje confrontando a
realidade de sua comunidade com a realidade mostrada em um vídeo. Os alunos
foram instigados a pesquisar mais sobre o assunto.
A unidade 2 “Have you ever thought what you will be doing 30 years from
now?” trata por meio do questionamento feito já no título e das atividades propostas,
sobre a posição atual do idoso na sociedade e mobiliza os alunos para a percepção
de que no futuro os idosos serão eles. Visando a maior interação dos alunos, foi
elaborada a tradução do Artigo 10 do Estatuto Internacional do Idoso, em forma de
atividades, para que - após lerem e discutirem o texto - esses alunos pudessem ter
um material para eventuais consultas facilitando a compreensão e resolução das
atividades seguintes. Esta atividade com a tradução foi feita em pares, em forma de
enumere.
“Foi a primeira vez que os senti participativos e concentrados. Nesta
turma há vários casos de alunos que são criados pelos avós. Muitos deles relataram situações de desrespeito para com os idosos em sua comunidade e até mesmo dentro da própria casa.” (DIÁRIO, 11 abr. 2014)
Alguns perceberam que o alicerce financeiro e psicológico de suas famílias
vem de seus avós, e que estes não têm recebido a valorização e reconhecimento
por parte da sociedade. Com o estudo dos direitos dos idosos e deveres da família
para com os mesmos, esses alunos puderam repensar suas vivências. Os
comentários e a reflexão sobre a lei apresentada os fizeram refletir melhor sobre a
importância deste relacionamento e compreender que uma família de verdade não
deve ser unida apenas pelos laços consanguíneos e sim pela troca de afeto,
respeito, consideração e cooperação entre seus membros.
As atividades com essa temática foram propostas com pequenos grupos
(quatro alunos) para a produção de um pôster envolvendo os conhecimentos
gerados. Foi utilizada uma lista (check list) como instrumento de intervenção,
contendo alguns elementos que deveriam ser abordados no pôster (instrumento que
foi retomado para a produção do pôster virtual). Houve um grande envolvimento da
turma durante esta etapa da implementação, proporcionando bons resultados de
aprendizagem e motivação.
Outra atividade significativa foi à exploração da música. O trabalho com este
gênero já me proporcionou grandes satisfações em diversas turmas. Entretanto, ao
explorar a música “Keep holding on” de Avril Lavigne com os alunos do 1º ano do
ensino médio pode-se perceber que esse tipo de atividade vem perdendo espaço
em termos de motivação, uma vez que eles já estão em contato com essas
tecnologias no seu dia a dia.
Em relação à intervenção dessa unidade, é possível perceber o engajamento
emocional da professora regente ao perceber que a unidade não trouxe os
resultados esperados:
“Confesso que me decepcionei bastante. Pensei que ouviria um forte coro cantado pelos alunos, porém estavam (a maioria) intimidados, sem vontade e alguns como o Anderson e o Cristian demonstraram estar desconfortáveis com a situação. Há alguns anos, mesmo usando apenas
um CD, o resultado parece que era melhor. Os alunos demonstravam gosto, interesse e até mesmo alegria, entusiasmo quando lhes propunha
este tipo de atividade. Já hoje, mesmo lhes entregando a letra impressa, mostrando trailer do filme Eragon com a música, o recurso de poder acompanhar a letra por slides e variar as atividades de listening, senti que não consegui lhes impressionar como eu gostaria. A participação não foi
como eu tinha planejado. Fazer o quê? Paciência.” (DIÁRIO, 09 mai. 2014))
Em seguida, como preparo para a Unidade 3 – “Glogster Production
Instructions”, foi marcado um encontro em horário oposto ao da aula com 10 alunos
da turma no laboratório de informática do colégio a fim de orientá-los para exercer o
papel de monitores colaborando com a aprendizagem da turma, tendo em vista que
a turma é grande (36 alunos) e nem todos os computadores funcionam.
Alguns problemas foram identificados nesse processo: a) apenas duas alunas
compareceram, b) o sistema utilizado na rede estadual é o Paraná Digital e não
permitiu a utilização da plataforma Glogster, pois esta é uma rede social. Assim, as
alunas assistiram ao tutorial sobre como trabalhar com esta ferramenta e receberam
instruções para que pudessem tentar elaborar o seu glog em casa.
Como estratégia de superação dos empecilhos encontrados, houve a
proposta de assistir ao tutorial em sala, com o auxílio da TV multimídia. Os alunos
foram instruídos e motivados a produzirem o pôster virtual contemplando o tema
“idoso e cidadania” em suas casas ou em outros ambientes públicos do município
como Biblioteca Municipal, CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), etc.
Veja as impressões da professora diante deste desafio
“O fato de estarem interessados em realizar as atividades era muito importante e gratificante para mim, por isso nem me importei com os “contratempos” que surgiram. Aproveitei o entusiasmo dos educandos para ensiná-los quanto à utilização e dinamicidade do Glogster como meio eficiente para divulgar os seus trabalhos escolares ou até mesmo atividades pessoais.” (DIÁRIO, 16 mai. 2014)
A sociedade hoje vive em um processo intenso, constante e veloz quanto ao
desenvolvimento tecnológico. É de conhecimento de todos os educadores a
importância da inserção das TIC no espaço escolar como ferramenta pedagógica
colaborativa na inclusão digital dos alunos. Muitos profissionais têm assumido seus
receios e buscado soluções para suas angústias por meio de cursos nesta área a
fim de utilizá-los como recurso metodológico eficaz no processo ensino-
aprendizagem.
No entanto, a escola, hoje, não tem estrutura para a prática de alguns
letramentos digitais. Existe um descaso muito grande quanto à manutenção dos
aparelhos do laboratório de informática e da disponibilização de internet de
qualidade. Ainda há muitas mudanças a serem feitas para que a escola possa
garantir o avanço na qualidade de ensino e atuar em prol da socialização do saber.
O momento para a socialização dos glogs produzidos pelos alunos era uma
das etapas importantes do Projeto de Implementação, pois seria o espaço
apropriado para que eles pudessem se expressar colocando seu ponto de vista
diante da temática abordada (Elder People) e também para que a professora os
orientasse para correções necessárias e até mesmo os elogiasse diante da turma.
Devido a dificuldade encontrada no momento de utilizar o Glogster no
laboratório da escola, a professora teve a iniciativa de entrar em contato com a
SEED por meio de uma solicitação informando-lhes da necessidade de liberação do
sistema tecnológico da escola para que pudesse implementar o projeto do PDE.
Infelizmente, o pedido não foi atendido.
A solução foi salvar as imagens e comentários postados pela professora
(online) em printscreen em um notebook e projetá-los em sala com o auxílio do
datashow. A professora usou de questionamentos para promover a interação dos
grupos quanto as produções expostas.
Veja a seguir exemplos de trabalhos desenvolvidos a partir dessa proposta:
Imagem 1: Glogster 1
Fonte:http://www.glogster.com/robertaviv/poster-glog-by-henrique-e-emanuel/g-
6jvkv7lguvs0unidipvgrk5
Imagem 2: Glogster 2
Fonte:http://www.glogster.com/robertaviv/poster-glog-by-robertaviv/g-6jvn1shpomk3eosn5p6q6ot
Imagem 3: Glogster 3
Fonte: http://www.glogster.com/robertaviv/cristian-e-eduardo/g-6jv4s3habdtqhj3ik78dckd
Por meio das imagens acima se conclui que os glogs foram bem produzidos,
alguns se sobressaem diante de outros, mas cada um tem o seu valor. É possível
perceber a dedicação das equipes no momento de produção a partir das escolhas
dos recursos empregados: imagens, vídeos, textos, música, símbolos e até mesmo a
preocupação com a disposição dos itens no espaço.
Os critérios pré-estabelecidos foram cumpridos: há ilustração do tema,
produção textual (conselho) mostrando o papel da sociedade na vida o idosos,
pensamento reflexivo sobra a vida e seu valor humano, música de fundo,
criatividade na organização das idéias, vídeo abordando aspectos relevantes sobre
a temática e uso apropriado da linguagem escrita (should, could, must, etc).
Mesmo analisando-os estaticamente (sem movimento) os posters virtuais
produzidos, a mensagem consegue ser transmitida. Há sintonia, coerência entre a
linguagem verbal e não verbal empregada. Todos os cartazes deixam transparecer
a necessidade de restabelecer valores aos idosos, atentando aos cuidados
necessários, principalmente no tratamento pessoal, das pessoas desta faixa etária
reforçando a importância de enxergá-los como cidadãos experientes e fonte de
sabedoria.
Para que o trabalho pudesse ser finalizado com qualidade os alunos foram
orientados a fazer algumas correções de língua, posição de imagens, quadro de textos, vídeos, etc.
Veja algumas intervenções postadas:
Para finalizar a implementação, outra ferramenta tecnológica empregada na
intervenção foi o “JCLIC”- aplicativo que tem por objetivo colaborar com o professor
para que o mesmo produza seus próprios jogos e atividades interativas como
palavras cruzadas, quebra-cabeça, preencha lacunas com múltipla escolha, jogo da
memória entre outros. Este recurso foi utilizado para a avaliação final contribuindo
não só para a verificação do vocabulário aprendido, mas também como revisão e
conscientização de todo o processo percorrido na implementação pedagógica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inclusão digital nas escolas públicas ainda é um desafio para a educação
paranaense, pois são inúmeros os problemas encontrados no momento de
implementação. Por meio desta pesquisa e de acordo com a minha experiência e
também com as de outros colegas participantes do programa GTR, a infraestrutura
tecnológica nas escolas públicas está defasada comparada ao momento histórico
em que vivemos. Há falta e demora de manutenção dos aparelhos e dificuldades de
acesso à internet de qualidade.
Este fato tem contribuído na desmotivação do professor quanto ao uso de
metodologias aliadas a tecnologia, pois dedica seu tempo e esforço mental no
preparo de aulas usando estes recursos, porém se sente frustrado e insatisfeito
quando chega a sala de aula e não consegue utilizar de sua metodologia de apoio.
No entanto, é inegável, a eficiência e dinamicidade do uso das TIC como
recurso facilitador da aprendizagem. Por meio destas ferramentas, os alunos se
envolvem, se interagem, encontram motivação e significação para o estudo dos
conteúdos escolares conseguindo associá-los a sua prática cotidiana
compreendendo melhor a importância de seu papel de cidadão na sociedade.
Constatação esta feita por mim no momento da produção dos glogs, elaborados
pelos alunos mesmo sem o apoio do laboratório de informática do colégio. Mesmo
diante de obstáculos e imprevistos os estudantes alvo deste projeto de intervenção
conseguiram obter os conhecimentos propostos alterando sua visão diante dos
idosos e obtendo uma postura mais crítica e consciente de suas ações perante a
sociedade (BRASIL, 2006).
A ferramenta Glogster e muitas outras ligadas às novas tecnologias serão, em
um futuro próximo, grandes aliadas para a transformação do quadro da educação
brasileira, mas o sucesso deste processo depende bem mais do que
comprometimento e autonomia dos educadores. É necessária emergência no
investimento, boa administração, manutenção contínua dos aparelhos e softwares
por parte dos governantes para que aconteça, de fato, uma educação de qualidade
capaz de promover transformações sociais em prol do desenvolvimento e melhoria e
vida do cidadão.
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REFERÊNCIAS
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códigos e suas tecnologias: conhecimentos de línguas estrangeiras. Brasília: Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica, 2006. 239 p.
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