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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
INTERVENÇÃO COM EXERCÍCIOS FÍSICOS E ORIENTAÇÃO
NUTRICIONAL SOBRE O ÍNDICE DE MASSA CORPORAL E NÍVEL
DE ATIVIDADE FÍSICA EM ADOLESCENTES ESCOLARES: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Maria Cristina Armacolo Rocha1 Karina Elaine de Souza Silva2
Resumo: A obesidade caracteriza-se como uma doença complexa, de causas múltiplas, com prevalência mundial crescente, considerada um dos principais problemas de saúde pública, atingindo altas taxas de prevalência em adolescentes. O objetivo do estudo foi avaliar a ocorrência de sobrepeso e obesidade em adolescentes de uma escola do município de Cambé/PR e o impacto de aulas de Educação Física nos hábitos de atividade física e de alimentação. Foram desenvolvidas 30 aulas de educação física, com o intuito de estimular hábitos alimentares saudáveis e a adoção da prática regular de atividade física, que poderiam, ser incorporadas ao dia a dia desses escolares e impactar sua qualidade de vida. As variáveis avaliadas foram peso, estatura, índice de massa corporal (IMC) e nível de atividade física. A intervenção ocorreu no ano de 2014, com 31 alunos do 9º ano do Ensino Fundamental. Foram realizadas avaliações pré e pós-intervenção, aulas teóricas, práticas e palestras. De acordo com os resultados, 68% dos escolares encontram-se com peso normal; 16% sobrepeso e 16% obesos. Em relação ao nível de atividade física, 61% são pouco ativos; 10%, ativos; e 21% muito ativos. Conclui-se que 32% dos escolares encontravam-se acima do peso e 31% são muito ou moderadamente ativos, o que evidencia o papel fundamental que a Educação Física escolar pode desenvolver no sentido de conscientizar o escolar sobre a importância de atividade física contínua e de uma alimentação saudável para a preservação da saúde, pois é na infância e na adolescência que se moldam os hábitos e se pode formar indivíduos multiplicadores de conhecimento.
Palavras-chave: Obesidade; sobrepeso; escolares; composição corporal; estado nutricional
1. Introdução
Nas últimas décadas, a transição nutricional, que se caracteriza pela
prevalência da redução de valores nutricionais, tem causado aumento excessivo do
peso, especialmente, em crianças e adolescentes de todos os níveis
socioeconômicos, em países desenvolvidos e em desenvolvimento (SILVA, 2011;
FISBERG, 2004)
Além disso, os avanços científicos e tecnológicos associados à comodidade
da vida moderna têm levado a população a reduzir, de forma significativa, os níveis
habituais de atividade física (MENDONÇA; ANJOS, 2004), o que tem contribuído
para a ocorrência e o agravamento de muitas doenças crônico-degenerativas.
1Professora da rede estadual de Educação do Paraná, participante do PDE/2013 2Doutora em Educação Física pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Professora orientadora PDE/2013.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem, hoje, no
mundo, mais de um bilhão de pessoas com excesso de peso e por volta de
trezentos milhões de adultos com problemas como a obesidade, além disso, cerca
de 60% da população mundial, em breve, irá ter algum distúrbio de saúde ligado à
obesidade (OMS, 2010). O índice é alarmante e tem crescido constantemente,
desse modo, a obesidade tem sido vista como o mais importante distúrbio
relacionado à nutrição nos países ricos.
O excesso de peso corporal, mais especificamente, o excesso de gordura
corporal, vem sendo considerado um dos principais problemas de saúde pública,
devido ao rápido aumento de suas taxas de prevalência e de sua estreita relação
com a alta taxa de morbidade e mortalidade (OLIVEIRA, 2003; FISBERG, 1995).
A obesidade é um importante determinante da doença cardiovascular
associado, constantemente, ao desenvolvimento de fatores de risco como: pressão
alta, colesterol e triglicerídeos plasmáticos elevados, doenças da vesícula biliar,
propensão ao diabetes, câncer e alterações endócrinas (BOUCHARD, 2003). Além
disso, a gordura corporal pode também aumentar a suscetibilidade a uma variedade
de disfunções metabólicas e crônico-degenerativas, como lesões inflamatórias,
alterações pulmonares, entre outras (GUEDES; GUEDES, 1998).
Assim, acredita-se que o diagnóstico precoce do sobrepeso e da obesidade
pode contribuir para o estabelecimento de políticas públicas de intervenção e de
redução destes índices, e que a conscientização sobre a importância da prática de
atividade física e de uma boa alimentação é fundamental para a minimização de tal
situação.
Desse modo, é fundamental a participação da escola, especialmente, do
professor de educação física, que, segundo Guedes e Guedes (1998), mais do que
qualquer outro profissional da área da saúde, ocupa posição privilegiada para
desenvolver ações que estimulem um estilo de vida ativo e uma alimentação
saudável na infância e adolescência, hábitos que, provavelmente, permanecerão na
vida adulta. Neste contexto, este estudo teve como base a seguinte questão: Qual é
o nível de ocorrência de sobrepeso e de obesidade em adolescentes de uma escola
do município de Cambé/PR, e qual é o impacto de aulas de Educação Física sobre
os hábitos de atividade física e de alimentação desses escolares?
Para responder a essa questão, este estudo teve, como objetivos:
diagnosticar a ocorrência de sobrepeso e obesidade em adolescentes de uma turma
do 9º ano de uma escola do município de Cambé/PR; investigar a prática, ou não, de
atividade física por parte dos mesmos; conscientizar e estimular a prática regular de
atividades físicas diversificadas e o hábito de uma alimentação saudável; e verificar
o efeito de 16 semanas de intervenção com exercícios físicos e orientação
nutricional sobre o índice de massa corporal dos adolescentes em estudo.
Acredita-se que a educação física, como disciplina escolar, pode oportunizar,
por meio de um contato próximo com os alunos, uma vivência positiva em relação à
prática de atividades físicas e à alimentação adequada (ARAÚJO, BRITO e SILVA,
2010; NAHAS, 2010). Para tanto, o professor de educação física deve fazer as
intervenções necessárias, no sentido de orientar sobre alternativas saudáveis de
alimentação e sobre a prática regular de atividade física, de modo a tornar esta
disciplina relevante na prevenção e controle da obesidade em crianças e
adolescentes no ambiente escolar.
2. Metodologia
2.1 Amostra
Este projeto foi desenvolvido com uma turma de 31 alunos (22 do sexo
masculino e 9 do sexo feminino) do 9º ano do Ensino Fundamental, do período
matutino, do Colégio Estadual Maestro Andréa Nuzzi – Ensino Fundamental e
Médio, do município de Cambé/PR, selecionada intencionalmente.
2.2 Avaliação antropométrica
Para a mensuração da massa corporal, foi utilizada uma balança digital com
precisão de 200 Kg e divisões de 50 g. A balança foi apoiada sobre uma superfície
plana, lisa e firme, e os alunos subiram sem calçados, com roupas leves, sem portar
objetos pesados e ficaram imóveis para uma melhor precisão.
Para a mensuração da estatura, foi utilizado um estadiômetro de alumínio
transportável. Os alunos ficaram em posição ereta, com braços pendentes e as
mãos espalmadas sobre as coxas, os calcanhares unidos, cabeça ajustada ao plano
Frankfurt e calcanhares, ombros e nádegas encostados na haste do estadiômetro,
com escala de 1,00 a 2,00 m e precisão de 0,1cm.
2.3 Estado Nutricional
A avaliação do estado nutricional foi feita com base no cálculo do IMC, obtida
pela aplicação da fórmula: peso (Kg) dividido pela altura (m) ao quadrado.
Para a classificação do estado nutricional, foi utilizada a Classificação de IMC
para adolescente, proposta por Cole et al. (2000):
2.4 Nível de Atividade Física Habitual
Para a avaliação do nível de atividade física habitual, foi utilizado o
recordatório de gasto energético diário desenvolvido por Bouchard et al. (1983). A
partir de instruções prévias, os alunos preencheram o diário de atividade física, onde
foram registradas, a cada 15 minutos, as atividades diárias predominantes, durante
um período de três dias (dois dias da semana e um dia do final de semana), o que
permitiu estimar o gasto energético pela média dos três dias do recordatório (cada
dia é dividido em 96 períodos de 15 minutos).
Para cada período, foi utilizada uma escala de atividades realizadas que
variou de 1 a 9, sendo que 1 corresponde a atividades de menor gasto calórico,
como as horas de sono e o descanso na cama, e 9, a atividades de elevado custo
calórico, como o trabalho manual intenso e esportes competitivos.
2.5 Intervenção
Foi elaborada uma Unidade Didática, cujo período de aplicação foi de 4
meses, totalizando 30 horas-aula, com uma frequência de duas aulas semanais,
com duração de 50 minutos cada, que teve início no mês fevereiro e término em
junho de 2014.
Foram intercaladas aulas práticas com palestras sobre a importância da
atividade física e da alimentação balanceada e a apresentação do Filme “Muito Além
do Peso”, que discorre sobre obesidade, alimentação incorreta e sedentarismo.
As aulas práticas mostraram-se diversificadas, com caminhada, corrida, jogos
recreativos dinâmicos, circuito, ginástica com exercícios de alta intensidade, aula de
Jiu-Jitsu, Badmington, visando o gasto energético no período de aplicação do
projeto.
Também foi realizado um passeio na academia do bairro, onde os alunos
puderam conhecer o funcionamento de uma aula de exercícios resistidos e os
equipamentos empregados.
Foram confeccionados cartazes pelos alunos, contendo informações sobre
alimentação saudável e sobre a importância da prática regular de atividade física,
para exposição na semana cultural do Colégio.
Como etapa final, foram refeitas as seguintes atividades: aplicação do
questionário para análise do nível de atividade física, bem como, avaliação do peso,
da estatura e do índice de massa corporal, após as 16 semanas de intervenção.
2.6 Análise dos Dados
Foi empregada estatística descritiva, com valores de média, desvio padrão e
distribuição de frequencia percentual. Para a comparação dos resultados do IMC e
da média dos escores apresentados pela escala Lickert, equivalentes às respostas
das questões do questionário antes e após o período de intervenção, foi empregado
o teste t de Student e Wilcoxon, com nível de significância de p<0,05.
3. Resultados e discussão
O projeto foi desenvolvido entre os meses de fevereiro e junho de 2014. No
mês de junho, houve o evento da Copa do Mundo, o que acabou por prejudicar, em
parte, o desenvolvimento da intervenção pedagógica, devido às dispensas de aula
por causa dos jogos do Brasil.
A primeira ação a ser implementada foi a socialização do projeto com as
equipes administrativa e pedagógica da escola, para que todos compreendessem o
objetivo do mesmo, ou seja, estimular hábitos saudáveis de alimentação e atividade
física, para que estes sejam incorporados ao dia a dia dos alunos.
A segunda etapa compreendeu a socialização do projeto com os alunos e
responsáveis, momento em que foi entregue o termo de consentimento livre e
esclarecido aos responsáveis pelos alunos que participariam do mesmo.
Nesta reunião, foram explanadas as ações que seriam desenvolvidas no
decorrer do período de implementação, e os pais mostraram-se bastante
entusiasmados com o projeto, pois, segundo eles, este poderia ser um reforço no
sentido de estimular os adolescentes e se alimentarem de forma correta e
aumentarem o nível de atividade física.
A terceira ação compreendeu três etapas: aplicação do questionário para
levantar o nível habitual de atividade física; avaliação antropométrica do peso e da
estatura; e cálculo do IMC e análise do estado nutricional.
Os alunos responderam o questionário, informando seus dados pessoais e
seus hábitos de atividade física. Em um primeiro momento, leram todas as
questões junto com o professor e responderam as que tinham certeza sobre a
resposta. Ficou combinado que, se surgisse alguma dúvida, poderiam pedir ajuda ao
professor durante a semana. No fim de semana, os alunos levaram o questionário
para casa para terminar de respondê-lo.
A quarta etapa consistiu em uma palestra proferida pela professora autora do projeto
com o objetivo de transmitir aos alunos informações e conceitos referentes à atividade física.
Foi utilizado o data show como recurso auxiliar. A palestra foi de fácil compreensão e os
alunos tiveram uma participação muito ativa, com perguntas e contribuições de exemplos
que conheciam ou vivenciavam sobre alguma das questões abordadas. Após a palestra, foi
aplicado um questionário para levantar os conhecimentos internalizados.
A seguir, foram aferidos o peso e a altura dos alunos, para o cálculo do IMC e
análise do estado nutricional. Em relação ao cálculo do IMC, foi apresentado aos
alunos como fazer o cálculo. Com os dados em mãos, eles mesmos calculavam,
chegavam ao resultado e o analisavam com base na tabela de classificação
adaptada de Cole et al. (2000).
A prática foi bem aceita e assimilada, os alunos ficaram bastante
entusiasmados por conseguirem calcular seu próprio IMC e o comparavam com o
dos colegas. Esse entusiasmo é bastante natural, pois estavam lidando com dados
da própria realidade. Ficou evidente a falta de conhecimento corporal que cada um
tem de si próprio, o que gerou discussões acerca do assunto.
A partir desse momento, deu-se início à parte prática do projeto, A atividade
dessa etapa foi uma caminhada com os alunos fora do ambiente escolar, com
cálculo da zona alvo de treinamento. Após as explicações de como mensurar a FC
(frequência cardíaca) no punho e do cálculo da zona alvo de treinamento, os alunos
calcularam sua frequência cardíaca em repouso. Em seguida, realizamos uma
caminhada no centro esportivo ao lado da escola, com duração de 40 minutos. Os
batimentos cardíacos foram verificados a cada 10 minutos. Cada aluno procurou
ajustar a caminhada conforme o cálculo de zona alvo individual.
Nessa atividade, apesar de alguns terem dificuldade para mensurar a FC,
houve participação ativa tanto dos meninos quanto das meninas, principalmente, por
esta ter sido desenvolvida fora do ambiente escolar. Cabe acrescentar, ainda,
conforme observado, cotidianamente, nas aulas de Educação Física, que, de
maneira geral, as meninas apresentam menos disposição para participar das
atividades propostas do que os meninos.
A sexta etapa compreendeu uma palestra sobre hábitos alimentares
saudáveis, proferida pelo professor de ciências da escola, em que foram explorados
temas como: a importância de uma alimentação de qualidade e
alimentos/nutrientes/alimentação balanceada. Após a palestra, foi realizada uma
discussão com os alunos e aplicado um questionário para avaliar a compreensão
dos mesmos. Pude avaliar que a maioria alunos desconhecia muitas das questões
apresentadas, ou seja, noções de proporção, variedade e consumo de alimentos
saudáveis.
A seguir, foram realizadas atividades diversificadas de alta intensidade com o
objetivo de induzir a uma melhoria do sistema cardiorrespiratório. Nesta atividade,
levei mais tempo para explicar e organizar a mesma do que para realizá-la. Os
próprios alunos me ajudaram com o material e na organização das estações.
Observei que alguns alunos 'enrolavam' para fazer as atividades e apresentavam
resistência em participar.
A ação seguinte foi assistir ao filme Muito além do peso, o que propiciou
uma discussão sobre a qualidade da alimentação das crianças e sobre os efeitos da
publicidade do mercado de alimentos dirigida a elas, que acaba por contribuir no
desencadeamento da obesidade nesse público. O objetivo desta atividade foi
sensibilizar os alunos sobre os problemas que a obesidade pode ocasionar. Os
alunos fizeram muitas colocações como: o consumo de muito lanche, inclusive, a
troca refeições por lanches e refrigerantes, as dietas radicais e a falta de informação
dos pais sobre uma alimentação saudável. Muitos apontaram, inclusive, a
necessidade de os pais assistirem ao filme para contribuir no processo de
readequação nos hábitos alimentares da família. Um aluno que estava acima do
peso falou que ia parar de comer lanche e passaria a jantar durante a
implementação.
A atividade seguinte, uma corrida, foi, talvez, a mais apreciada de todas pelos
alunos, pois houve uma competição entre meninas x meninas: meninas x meninos.
Outra atividade muito apreciada foi a aula experimental de JiuJitsu, com um
professor especializado, cujo objetivo foi proporcionar aos alunos uma prática
diferente. Os alunos gostaram muito da aula e participaram ativamente. Em seguida,
foram realizadas atividades recreativas dinâmicas, cuja finalidade foi proporcionar
aos alunos uma forma de se exercitarem e se divertirem ao mesmo tempo. Nesta
atividade, os alunos participaram com muito entusiasmo e se divertiram bastante.
A próxima atividade foi uma aula de dança com ritmos variados. No início, os
alunos ficaram inibidos, retraídos, mas, aos poucos, foram se soltando e agindo com
naturalidade. Eles perceberam que, por meio da dança, é possível adquirir
conhecimento corporal, realizar uma atividade física, socializar-se, cooperar e,
ainda, se divertir. Eles se interessaram tanto que se mobilizaram e acabaram
ensaiando fora dos horários de aula.
Além disso, com o objetivo de proporcionar aos alunos a vivência de um
esporte diferente, foi proposto o Badmington, por ser um esporte desconhecido na
escola. Primeiramente, passei um vídeo aos alunos que apresentava o jogo e suas
regras. Em seguida, confeccionamos as raquetes e utilizamos as petecas da escola.
Algumas regras tiveram que ser adaptadas a realidade da escola, como altura da
rede, tamanho da quadra, mas foi uma atividade muito apreciada pelos alunos.
Os alunos visitaram, também, uma academia do bairro, onde o profissional
responsável apresentou os aparelhos voltados à prática de musculação e a função
de cada um. Em seguida, os alunos fizeram uma aula de Axé com uma professora
da academia do bairro, e todos participaram ativamente.
Após todas essas atividades, em sala de aula, os alunos confeccionaram
cartazes sobre o tema em questão e expuseram os mesmos para motivar o restante
da escola a aderir aos bons hábitos visando à melhoria da saúde. Em seguida, foi
feita a reaplicação do questionário, para a comparação dos dados, e nova
mensuração do peso e da estatura para novo cálculo do IMC (Índice de Massa
Corporal), para análise de possíveis mudanças em relação aos resultados
anteriores.
Como finalização, estava previsto um passeio ciclístico, entretanto, como o
objetivo era a participação de toda a escola, não foi possível contar com o apoio e a
segurança de policiais, pois a atividade seria realizada na rua, a administração da
escola achou por bem cancelar a mesma.
Como conclusão da intervenção, foi realizada uma autoavaliação juntamente
com os alunos. Este foi um momento de reflexões e discussões, pois os alunos
relataram a importância do que aprenderam para sua vida cotidiana.
Pelo relato dos alunos, pude observar que houve divergências entre o que
afirmaram e a resposta do questionário sobre o nível de atividade física, pois muitos
relataram ter incluído – após a intervenção realizada - prática de esporte e
atividades como a caminhada e corridas, além da prática de passeios e esportes nos
finais de semana com maior frequência.
A seguir, são apresentadas as tabelas com os resultados das características
dos alunos participantes da pesquisa.
A tabela 1 apresenta os valores médios, no que diz respeito ao peso, estatura
e Índice de Massa Corporal (IMC), antes e depois da aplicação do projeto de
Intervenção Pedagógica.
Tabela 1 – Média das características gerais da amostra
Pré Pós Pré Pós
Peso (kg) 60,04 61,49 52,33 54,42
Estatura (cm) 1,64 1,66 1,59 1,61
IMC (kg/m2) 22,39 22,36 20,32 20,83
Masculino
(n=22)
Feminino
(n=9)Variáveis
Para o grupo das meninas, foi observada diferença significativa na estatura
(p<0,05) e para os meninos no peso e na estatura.
Em relação à estatura, a variação, nos dois grupos, foi de 2 cm, entre a pré e
a pós-intervenção (4 meses), o que é esperado, pois os jovens nesta idade estão em
fase de crescimento (ABREU e RODRIGUES, 2005). Essa variação da altura média
pode, de certo modo, estar relacionada também ao aumento de peso constatado.
Quanto ao IMC, a média, no grupo masculino, foi de 22,39 kg/m2 na pré-
intervenção e de 22,36 kg/m2 na pós, assim, houve uma diminuição de 0,03 kg/m2
em valores absolutos no índice de massa corporal. No grupo feminino ocorreu o
contrário, houve um aumento de 0,51 kg/m2 do IMC, entre os momentos pré e pós-
intervenção, contudo esta diferença não foi estatisticamente significativa.
A Tabela 2 apresenta, separadamente, a classificação em valores percentuais
da amostra em relação ao IMC, com base nos parâmetros estabelecidos pela
Organização Mundial da Saúde - OMS.
Tabela 2 – Distribuição de frequência percentual do índice de massa muscular (IMC) em normal, sobrepeso e obesidade, com base na O.M.S.
Frequência % Frequência % Frequência % Frequência %
Normal 13 59% 14 64% 7 78% 7 78%
Sobrepeso 4 18% 4 18% 1 11% 1 11%
Obesidade 5 23% 4 18% 1 11% 1 11%
22 100% 22 100% 9 100% 9 100%
Pré Pós
Feminino
(n=9)Variáveis
Masculino
(n=22)
Pré Pós
No grupo masculino, 13 alunos (59%) apresentavam peso normal na pré-
intervenção, passando para 14 (64%) na pós-intervenção; 4 (18%) estavam com
sobrepeso e continuaram assim na pós-intervenção; 5 (23%) foram classificados
como obesos, mas, na pós-intervenção, apenas 4 (18%) encontravam-se assim
classificados. Desse modo, 1 aluno migrou na faixa de classificação do IMC, ou seja,
deixou de ser considerado obeso, o que pode ser atribuído à alteração no nível
habitual de atividade física, ajuste na ingestão alimentar, crescimento físico e
relação ao peso ou mesmo a conscientização sobre a importância da atividade física
e da alimentação saudável (TRICHES e GIUGLIANI, 2005).
Entre as meninas, não houve alteração ao longo da aplicação do projeto, pois
os índices permaneceram os mesmos nos três tipos de classificação: normal, 7
alunas (78%); sobrepeso, 1 aluna (11%); e obesidade, 1 (11%). É importante
ressaltar que, entre as 9 adolescentes da amostra, a maioria (7) encontrava-se com
peso normal; no grupo masculino, de um total de 22, 14 estavam com o peso
normal, após a aplicação do projeto. Ao se comparar os dois grupos, observa-se que
36% dos meninos e 22% das meninas apresentavam peso além do normal após a
aplicação do projeto.
Ao se realizar uma comparação em valores absolutos da variável obesidade
em relação ao gênero, observou-se que o grupo masculino apresentou maior
frequencia de obesidade: 23% antes e 18% depois da aplicação do projeto;
enquanto que as meninas apresentaram 11% antes e na pós-avaliação.
Estudo realizado por Triches e Giugliani (2005), em escolas de um município
do Rio Grande do Sul, a partir do cruzamento das variáveis peso e gênero, levantou
que 7,4% dos meninos e 7,6% das meninas eram obesos, índices menores que os
encontrados por este estudo.
Resultados menores que os do presente estudo também foram observados
em escolares no estado de Santa Catarina, onde 15,9% apresentaram sobrepeso
entre alunas do sexo feminino e 14,9% entre os do sexo masculino; e 5,5% de
obesidade entre as meninas e 6,7%, entre os meninos (RICARDO, CALDEIRA E
CORSO, 2009).
Estes resultados, demonstram que os escolares de Cambé investigados,
apresentam altos valores de sobrepeso e obesidade, contudo, vale ressaltar que o
número de avaliados não pode ser considerado uma amostra representativa destes
escolares, uma vez que foi atendida apenas uma turma de um colégio do município.
Alguns autores, advogam que a prevalência de sobrepeso e obesidade, no
Brasil, encontra-se elevada, pois, de modo geral, conforme inúmeros estudos, em
cada 100 crianças/adolescentes, 21 estão com peso acima do normal, o que
constitui 1/5 dessa população. A presente pesquisa corrobora tais dados, pois, no
cômputo geral, 32% (16% sobrepeso e 16% obesidade) dos alunos encontravam-se
acima do peso após a aplicação do projeto, o que supera os índices do estudo
mencionado. Os autores atribuem esta situação à vida moderna, devido ao excesso
de conforto e ao tipo de alimentação consumido por crianças e jovens,
principalmente, entre os mais favorecidos economicamente, pois constataram maior
prevalência de peso acima do normal entre estudantes de escolas particulares.
(TRICHES e GIUGLIANI, 2005; RICARDO, CALDEIRA e CORSO, 2009).
Outro estudo, desenvolvido com estudantes de Feira de Sant'Ana, BA,
identificou 17% a 19% de sobrepeso e de 19% a 22% de obesidade, em alunos em
idades entre 5 e 9 anos (OLIVEIRA et al, 2003). Para os autores, a obesidade, ao
contrário de décadas atrás, já se apresenta em crianças pequenas e acaba por
acompanhar o indivíduo ao longo de sua vida. Segundo os autores (OLIVEIRA et al,
2003, P. 147/48), embora a obesidade exista "há muitos anos, apenas nas últimas
décadas tem se tornado epidêmica, devido, preponderantemente, às influências do
microambiente familiar e do macroambiente social, cultural, educativo e
socioeconômico”.
Estudo semelhante, desenvolvido por Lorenzetti et al (2010), com alunos da
mesma faixa etária, constatou a mesma situação. Conforme os autores
(LORENZETTI et al, 2010, p. 56), "apesar de o índice de massa corpórea (IMC)
médio da amostra estar dentro do padrão recomendado pela OMS (WHO, 2007),
26% dos alunos do gênero masculino encontravam-se com excesso de peso e, entre
as meninas, 12,5%." Além disso, como no presente estudo, os meninos
encontravam-se com maior índice de excesso de peso, em relação às meninas.
Rycers e Lói (2014) atribuem tais resultados entre crianças e adolescentes ao
sedentarismo e à alimentação incorreta muito comuns na vida moderna, o que tem
produzido não só indivíduos com sobrepeso ou obesos, mas doenças cardíacas
(8,2%), diabetes (10,1%) e óbitos (13,2%). Neste contexto, conforme os autores
(RYCERS e LÓI, 2014, p.3), é preciso que se reflita se a Educação Física escolar
"está preparando esse indivíduo a ter uma vida mais ativa agora e na idade adulta,
mudando a realidade em que ele vive e os hábitos nada saudáveis que a
modernidade produziu”.
O nível de atividade física habitual (NAFH) é apresentado na Tabela 3.
Tabela 3: Nível de atividade física habitual (NAFH) de escolares de ambos os sexos
Frequência % Frequência % Frequência % Frequência %
Leve 7 32% 13 59% 6 67% 6 67%
Moderado 7 32% 2 9% - 0% 1 11%
Vigoroso 8 36% 7 32% 3 33% 2 22%
22 100% 22 100% 9 100% 9 100%
Variáveis
Masculino
(n=22)
Feminino
(n=9)
Pré Pós Pré Pós
Dos 22 meninos pesquisados, 7 (32%) apontaram, na pré-intervenção,
realizar apenas atividades leves, enquanto que, na pós-avaliação, esse número
subiu para 13 (59%); 7 (32%) assinalaram a realização de atividade moderada (pré),
mas apenas 2 (9%) confirmaram essa alternativa na pós-intervenção; 8 (36%)
afirmaram a prática de atividades consideradas vigorosas na pré-intervenção, mas
apenas 7 (32%) confirmaram tal informação, após a aplicação do projeto. Assim,
observou-se que, ou houve uma mudança de hábitos ou, o que parece mais
provável, houve uma melhor avaliação sobre o tipo de atividade que praticavam,
devido às informações recebidas durante a aplicação do projeto, pois alguns alunos
poderiam considerar como intensas ou moderadas atividades que, na realidade, são
leves.
No grupo feminino, os índices apresentaram pouca variação: 6 (67%)
apontaram a prática de atividades leves na pré e na pós-intervenção; nenhuma
apontou a prática de atividade moderada na pré-intervenção, mas, na pós, 1 (11%)
afirmou tal prática; 3 (33%) afirmaram desenvolver atividade vigorosa na pré-
intervenção, mas apenas 2 (22%) confirmaram após a finalização do projeto. Como
ocorreu no grupo masculino, acredita-se que, entre as meninas, também pode ter
havido uma conscientização sobre as características de cada nível de atividades, o
que as levou a se encaixarem corretamente.
Entre as meninas, houve pouca alteração ao longo da aplicação do projeto: 6
alunas (67%) apontaram a prática de atividades leves na pré e na pós-intervenção;
nenhuma afirmou a prática de atividade moderada na pré, mas 1 apontou a
realização desse nível de atividade na pós-intervenção; 3 afirmaram desenvolver
atividade vigorosa na pré-intervenção, mas apenas 2 (22%) confirmaram tal
informação após a aplicação do projeto. Como ocorreu no grupo masculino, entre as
meninas, também pode ter havido maior conscientização sobre as reais
características de cada nível de atividade física, como resultado das aulas teóricas e
práticas, assim, conseguiram encaixar-se adequadamente.
Em relação ao nível de atividade física habitual (NAFH) analisado através do
questionário recordatório 24 horas respondido pelos alunos, ao se realizar uma
avaliação geral, observou-se que houve, entre os alunos, uma melhor classificação
das atividades que praticavam, pois 61% conseguiram identificar que desenvolviam
atividades leves; 10%, moderadas; e 29%, vigorosas, após a aplicação do projeto, o
que já é algo importante. Assim, se, na pré-avaliação, apenas 13 (7 meninos e 6
meninas que corresponde a 42%) apontaram realizar atividades leves, esse número
subiu para 19 (61%), no cômputo geral, desse modo, pode-se afirmar que também
houve um bom nível de conscientização após as aulas, apesar das diferenças não
terem sido estatisticamente significativas.
Um estudo semelhante, realizado com estudantes de um CEEBJA (Pascotto e
Teixeira, 2012), observou que 10% dos alunos que se classificaram, inicialmente,
como inativos, passaram a desenvolver atividades leves/moderadas após a
intervenção pedagógica. Além disso, o estudo constatou que a porcentagem de
alunos que se consideravam muito ativos passou de 24% para 26%.
A tabela 4 apresenta a comparação entre o IMC e o NAFH de escolares do
sexo masculino e feminino. De acordo com a análise estatística, não foram
encontradas diferenças significativas entre os gêneros.
Tabela 4 - Médias de IMC e NAFH nos momentos (pré e pós; masculino, feminino e geral).
Pré Pós Pré Pós Pré Pós
Média Média Média Média Média Média
IMC 22,39 22,36 20,32 20,83 21,79 21,91
NAFH 1,93 1,83 1,66 1,65 1,85 1,77
Variáveis
Masculino Feminino Geral
4. Considerações finais
Com base nos resultados levantados e nos parâmetros estabelecidos pela
OMS, o presente estudo constatou a ocorrência de sobrepeso e obesidade entre os
alunos avaliados, além de baixo índice médio de atividade física, fatores bastante
relacionados e também apontados por vários estudos nesse sentido. Tal fenômeno
confirma, que o sedentarismo propiciado pela vida moderna traz consequências
danosas à saúde.
Por outro lado, identificou-se que, embora o IMC médio da amostra esteja
dentro dos parâmetros estabelecidos pela OMS, 32% dos estudantes encontravam-
se acima do peso.
Assim, é preciso que se entenda a disciplina Educação Física, no âmbito
escolar, como uma importante ferramenta para a conscientização da importância de
uma atividade física contínua e de uma alimentação saudável para a preservação da
saúde ao longo da vida.
Considerando que é na infância e na adolescência que se desenvolvem os
hábitos para toda a vida, é fundamental que a Educação Física assuma seu papel
na formação de indivíduos ativos e conscientes de sua responsabilidade sobre a
própria saúde.
5. Referências
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