trabalho imaterial e intenso na saúde

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65 Trabalho, Educação e Saúde, v. 4 n. 1, p. 65-91, 2006 ARTIGO ARTICLE Rsmo A relação entre condições de trabalho e saúde constitui o objeto deste artigo. O cres- cente grau de intensidade imposto ao trabalho contemporâneo provoca sérios danos à saúde dos trabalhadores. O artigo acresce ao estudo a ótica da imaterialidade, que fornece base para a hipó- tese de que a transição para atividades imateriais intensificadas está criando um perfil próprio de problemas de saúde para os trabalhadores. A análise empírica é realizada com o auxílio de dados provenientes de levantamento efetuado junto a 825 trabalhadores assalariados do Dis- trito Federal, Brasil. A análise das informações conduz à conclusão de que existem dois perfis diferenciados de problemas de saúde: o primeiro exemplificado pelas respostas dos trabalhadores da construção civil, protótipo do trabalho mate- rial; o segundo pelas respostas dos trabalhadores de telefonia, um ramo de atividades imateriais recentemente privatizado no Brasil e submetido ao rigor da competição internacional. Se a inten- sificação do trabalho material atinge primordial- mente o físico do trabalhador, como nos casos dos inúmeros acidentes de trabalho, a intensifi- cação nas atividades imateriais também conduz a problemas de saúde, mas com um perfil dife- renciado, centrado mais em aspectos cognitivos, emotivos, relacionais e sociais da pessoa do tra- balhador e do grupo a que pertence. Plvrs-chv trabalho; intensidade; imateriali- dade; saúde; perfil de problemas de saúde. INTENSIDADE E IMATERIALIDADE DO TRABALHO E SAÚDE INTENSITY AND IMMATERIALITY IN LABOR AND HEALTH Sadi Dal Rosso 1 Abstrct This article is about the interrelation between labor conditions and health. The grow- ing intensity of labor causes serious damages to the health of the worker. The concept of im- material labor provides proper ground for the hypothesis that the intensification of immaterial activities has created a new category of health problems for workers. An empirical analysis was conducted on data from 825 surveyed workers in the Federal District area, in Brazil. The analy- sis showed the existence of two different health problems: the first illustrated by construction workers, the best example of a material worker, and, the second, by phone-company workers, performing a recently privatized immaterial activity that was exposed to the severity of in- ternational competition. The intensification of material labor primarily affects the body of the worker – i.e. the uncountable cases of work ac- cidents – and immaterial labor causes problems with unique characteristics involving cognitive, emotional, relational and social aspects of the worker and the groups that he/she belongs to. Kywords labor; intensity; immateriality; health; characteristics of health problems.

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Saúde e trabalho

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    Trabalho, Educao e Sade, v. 4 n. 1, p. 65-91, 2006

    artigo article

    resumo A relao entre condies de trabalho e sade constitui o objeto deste artigo. O cres-cente grau de intensidade imposto ao trabalho contemporneo provoca srios danos sade dos trabalhadores. O artigo acresce ao estudo a tica da imaterialidade, que fornece base para a hip-tese de que a transio para atividades imateriais intensificadas est criando um perfil prprio de problemas de sade para os trabalhadores. A anlise emprica realizada com o auxlio de dados provenientes de levantamento efetuado junto a 825 trabalhadores assalariados do Dis-trito Federal, Brasil. A anlise das informaes conduz concluso de que existem dois perfis diferenciados de problemas de sade: o primeiro exemplificado pelas respostas dos trabalhadores da construo civil, prottipo do trabalho mate-rial; o segundo pelas respostas dos trabalhadores de telefonia, um ramo de atividades imateriais recentemente privatizado no Brasil e submetido ao rigor da competio internacional. Se a inten-sificao do trabalho material atinge primordial-mente o fsico do trabalhador, como nos casos dos inmeros acidentes de trabalho, a intensifi-cao nas atividades imateriais tambm conduz a problemas de sade, mas com um perfil dife-renciado, centrado mais em aspectos cognitivos, emotivos, relacionais e sociais da pessoa do tra-balhador e do grupo a que pertence.Palavras-chave trabalho; intensidade; imateriali-dade; sade; perfil de problemas de sade.

    IntensIdade e ImaterIalIdade do trabalho e sade

    InTEnSITy and ImmaTErIalITy In labor and hEalTh

    Sadi Dal Rosso1

    abstract This article is about the interrelation between labor conditions and health. The grow-ing intensity of labor causes serious damages to the health of the worker. The concept of im-material labor provides proper ground for the hypothesis that the intensification of immaterial activities has created a new category of health problems for workers. An empirical analysis was conducted on data from 825 surveyed workers in the Federal District area, in Brazil. The analy-sis showed the existence of two different health problems: the first illustrated by construction workers, the best example of a material worker, and, the second, by phone-company workers, performing a recently privatized immaterial activity that was exposed to the severity of in-ternational competition. The intensification of material labor primarily affects the body of the worker i.e. the uncountable cases of work ac-cidents and immaterial labor causes problems with unique characteristics involving cognitive, emotional, relational and social aspects of the worker and the groups that he/she belongs to. Keywords labor; intensity; immateriality; health; characteristics of health problems.

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    Trabalho, Educao e Sade, v. 4 n. 1, p. 65-91, 2006

    introduo

    O trabalho contemporneo est sendo transformado em velocidade es-tonteante pela ao de foras como a exigncia de mais resultados. A compreenso desse fenmeno ultrapassa o fato da incorporao ao traba-lho de mquinas e meios tcnicos como as tecnologias de comunicao e informao tpicas de nossa poca, inserindo-se na forma da organizao coletiva do trabalho assalariado. Desde longo tempo, as demandas por re-sultados foram nomeadas como processo de intensificao do trabalho. Ca-beria empregar a imagem de ondas ou vagas para ilustrar este fenmeno, pois ele se repete de tempos em tempos, ainda que atualizado por interm-dio de distintos mecanismos. No poucos autores afirmam que o trabalho assalariado de hoje vem sendo intensificado, desde o final dos anos de 1980, por uma imposio em escala mundial. Essa datao, que se aplica inicial-mente aos pases mais ricos do planeta, permite singularizar os contornos da onda contempornea de intensificao do trabalho dentre outras que j afetaram o sistema de assalariamento em eras anteriores, uma onda cujas caractersticas so descritas mais frente e cujas implicaes sobre a esfera da sade este artigo elege como objeto de anlise. Particularmente Fairris (2001) e Askenazy (2000) vm trabalhando sobre a relao entre a crescente intensificao do processo de trabalho contemporneo e os problemas de sade que atingiram os trabalhadores dos Estados Unidos da Amrica a par-tir do final da dcada 1980. Os dados agregados sobre acidentes e doenas do trabalho disponveis no Brasil no apresentam a mesma relao estatsti-ca. O nmero de acidentes do trabalho diminui com o passar dos anos (Dal Rosso, Barbosa e Fernandes Filho, 1999). Nossa suspeita, no entanto, que essas cifras globais podem muito bem ocultar a presena dessa relao que s se manifesta quando pesquisas mais detalhadas so empregadas.

    Uma segunda condio do trabalho contemporneo interfere sobre a sade dos trabalhadores, ainda que os estudos tenham dado pouca ateno a ela. Refiro-me lenta, porm constante transio do trabalho material para o imaterial. Essa transio, que uma tendncia intrnseca substituio da mo-de-obra humana por mquinas e equipamentos, faz-se presente em pases de antiga industrializao e pode ser captada pelo envolvimento da maior parte da fora de trabalho em atividades de servios. Servios e ima-terialidade no so a mesma coisa. Mas especialmente em atividades de servios discriminadas por ramos que podem ser captados os efeitos do tra-balho imaterial.

    Neste artigo, pretendo analisar os conceitos de intensidade e de ima-terialidade aplicando-os s condies de trabalho e relacionando-os com a questo da sade dos trabalhadores. inquestionvel que alteraes to profundas nas condies de trabalho quanto elevao do grau de esforo

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    exigido e a transio para trabalhos imateriais produzem efeitos sobre a sa-de do trabalhador. Mas, que implicaes? Fairris (2001) e Askenazy (1999) apresentam argumentos estatsticos de que ocorreu um substancial aumento de problemas de sade entre os trabalhadores estadunidenses com a intensi-ficao do trabalho. Ns procuramos avanar para alm desses economistas e especular se, conjugada ou separadamente, intensidade e imaterialidade no esto produzindo um perfil distinto e, em algum grau, novo de proble-mas de sade para quem labora em condies de imaterialidade e/ou inten-sificao. Tal conjunto de problemas de sade estaria relacionado com as dimenses intelectuais, emocionais, relacionais e sociais do indivduo e dos grupos, que so as dimenses mais exigidas em trabalhos imateriais e/ou in-tensificados. Procurando fundamentar com argumentos factuais tal hiptese terica, submetemos a questo ao crivo de material emprico colhido por meio de levantamento de campo realizado no Distrito Federal, Brasil.

    intensidade do trabalho

    Assumindo como vlida a afirmao presente em autores como Castel (2004), Gollac e Volkoff (1996) e Valeyre (2003) de que a vaga mais recente de abrangncia internacional de intensificao do trabalho teria comeado ao final de 1980, estendendo-se aos dias de hoje e devendo continuar por um prazo indeterminado, essa identificao temporal conduz a analisar que modificaes esto em curso nas condies de trabalho. A questo no se resume a um problema de ordem histrica, mas tambm a um problema de natureza conceitual. A qual fenmeno do trabalho d-se o nome de intensi-dade? O que se entende por intensidade do trabalho? Que categorias os au-tores empregam para analis-la? Que perspectivas tericas so desenvolvi-das para explic-la? Quais os efeitos que a intensificao do trabalho produz sobre a sade dos trabalhadores? Pode-se pensar em alguma peculiaridade dos efeitos do agir intensificado sobre o fsico, a mente, a psique e a relao social daqueles que labutam?

    Para enfrentar este encadeamento de perguntas, parece razovel entrar-mos na floresta conduzidos pela trilha da simplicidade, comeando por cla-rificar o que se entende por intensificao do trabalho, distinguindo-a de outros fenmenos correlatos, mas de natureza completamente diferente.

    Qualquer trabalho autnomo ou heternomo, assalariado ou coope-rativo, escravo ou servil, campons, operrio ou intelectual realizado segundo determinado grau de intensidade. A intensidade , pois, uma con-dio intrnseca a todo o trabalho concreto. Ela est presente em todo tipo de trabalho executado. Mas a que caracterstica do trabalho nos referimos quando empregamos a palavra intensidade?

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    O trabalho a transformao da natureza, o agir dos seres humanos com o apoio de meios e instrumentos, guiados por um projeto mental (ver Marx, 1975). Quando um projeto conceitual se atualiza na prtica, os sujeitos que o realizam gastam um volume varivel de suas energias fsicas ou psquicas. A idia de que todo ato de trabalho envolve gastos de energia e, portanto, exige esforo do trabalhador, est na raiz da noo de intensidade. O tra-balhador pode gastar mais ou pode gastar menos suas energias, conforme o agir seja mais ou menos exigente, mas sempre gasta alguma coisa. Intensi-dade tem a ver com o modo, com a maneira como realizado o ato de traba-lhar. Este o primeiro elemento a destacar sobre intensidade do trabalho: ela se refere ao grau de dispndio de energias pessoais realizado pelos traba-lhadores na atividade concreta.

    A compreenso da noo de intensidade requer a focalizao do racio-cnio sobre a pessoa do trabalhador ou seus coletivos, e no sobre os outros componentes do processo com capacidade de alterar resultados, tais como as condies tecnolgicas. Sempre que se fala em intensidade do trabalho, volta-se a ateno para a anlise de quem trabalha, para o trabalhador. Dele exigido algo a mais, um empenho maior, seja fsica, seja intelectual, seja psiquicamente? No se trata de examinar o desempenho das mquinas ou outras coisas quaisquer. A ateno est centrada sobre quem trabalha para examinar qual o dispndio qualitativo ou quantitativo de energias.

    Uma atividade concreta demanda em medida varivel o concurso de to-das as capacidades do trabalhador, ainda que o agir faa uso mais focalizado de uma delas este do esforo fsico, aquele do cognitivo e um terceiro do afetivo. o trabalhador em sua totalidade de pessoa humana que desenvol-ve a atividade, no apenas o trabalhador enquanto fora fsica, capacidade intelectual ou emocional. A intensidade do trabalho , pois, mais que esfor-o fsico, pois envolve todas as capacidades do trabalhador, sejam as capaci-dades de seu corpo, a acuidade de sua mente, a afetividade despendida, os saberes adquiridos atravs do tempo ou transmitidos pelo processo de so-cializao. Alm do envolvimento pessoal, o trabalhador faz uso de relaes estabelecidas com outros sujeitos trabalhadores sem as quais o trabalho se tornaria invivel. As relaes de cooperao com o coletivo dos trabalhado-res, a transmisso de conhecimentos entre si, que permite um aprendizado mtuo, as relaes familiares, grupais e societais, que acompanham o traba-lhador em seu dia-a-dia e que se refletem nos locais de trabalho, quer como problemas, quer como potencialidades construtivas, so levadas em conta na anlise da intensificao do trabalho.

    Na histria do capitalismo, a manipulao dos graus de intensidade do trabalho esteve sempre relacionada com o objetivo de resultados. A altera-o da intensidade para mais aumenta os resultados do trabalho e a alterao para menos os diminui. Em sntese, quanto maior a intensidade, mais resul-

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    tados so produzidos pelo trabalho no mesmo perodo de tempo considera-do. No processo de desenvolvimento econmico, a elevao da intensidade do trabalho constitui uma fora motora do crescimento. A intensificao do trabalho como produtora de crescimento econmico contm um problema social e moral implcito da maior relevncia: no se trata pura e simplesmen-te de formas distintas de explorao da mo-de-obra humana?

    Fala-se de intensificao quando os resultados do trabalho so quantita-tiva ou qualitativamente superiores e quando a obteno desses resultados requer um consumo maior de energias do trabalhador. H intensificao quando ocorre maior gasto de energias do trabalhador no exerccio das atividades quotidianas. Quando se trata de trabalho fsico, os resultados aparecem em medidas tais como o nmero de veculos montados por dia por pessoa etc. Quando o trabalho no fsico, mas de tipo intelectual ou emocional, os resultados podem ser encontrados na melhoria da qualidade e na quantidade de servios.

    Um exerccio de abstrao e de formalizao pode facilitar a compre-enso do fenmeno a que se d o nome de intensidade do trabalho. To-me-se uma situao de trabalho qualquer, seja num hospital, numa escola ou num banco, seja numa indstria ou na construo civil, seja, enfim, numa fazenda ou numa granja de produo de aves. Suponha-se que as condies tcnicas e as condies externas sejam constantes. Assuma-se ainda como constante o nmero de trabalhadores e que eles tenham qua-lificaes e nveis educacionais semelhantes. Admita-se, por fim, que o grupo de trabalhadores sob observao opere durante um espao de tem-po definido e constante, como um dia, uma semana, um ms, um ano. Sob tais condies, a obteno de mais ou de melhores resultados pode ocorrer desde que o grupo de trabalhadores se aplique mais a fundo no trabalho. Dito de outra maneira, mais ou melhores resultados sero conseguidos medida que o grupo trabalhe mais intensamente no mesmo espao de tem-po considerado. Trabalhar mais densamente, ou simplesmente trabalhar mais, sem quaisquer adjetivos ou advrbios, supe um esforo maior, um empenho mais firme, um engajamento superior, um gasto maior de ener-gias pessoais para dar conta da carga adicional de trabalho. Resultaro desse envolvimento superior do grupo um desgaste tambm maior, uma fadiga mais acentuada e correspondentes efeitos pessoais nos campos fi-siolgico, mental, emocional e relacional.

    Em suma, para a obteno de mais ou melhores resultados, em qualquer situao de trabalho que seja, dentro das restries estabelecidas, o grau de intensidade do trabalho dever ser superior em alguma medida. Intensidade refere-se quelas condies de trabalho que determinam o grau de envolvi-mento do trabalhador, seu empenho, o esforo empregado para dar conta das tarefas adicionais.

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    Esse exerccio de formalizao permite captar o fato a que se d o nome de intensidade do trabalho e distingui-lo de outras noes semelhantes, co-mo a de produtividade. Chama-se intensificao do trabalho aos processos que resultam em maior dispndio das capacidades fsicas, cognitivas e emo-tivas do trabalhador com o objetivo de elevar quantitativamente ou melho-rar qualitativamente os resultados. Em sntese, mais trabalho. O seu inverso chama-se reduo da intensidade do trabalho ou menos trabalho. O termo produtividade, por sua vez, deve restringir-se a descrever os efeitos das mu-danas tecnolgicas sobre a elevao de resultados. Desta forma, possvel separar os conceitos de intensidade, que se refere ao esforo humano dis-pendido, e de produtividade, que se aplica s mudanas tcnicas agregadas ao trabalho na produo de mais resultados (OECD, 2002).

    Intensificao e reduo da intensidade do trabalho so processos que se definem em funo de relaes comparativas no tempo. Comparando a intensidade nos momentos t1 (antes) e t2 (depois), pode-se reconhecer se houve intensificao ou reduo da intensidade do agir.

    Alain Fernex (2000), com base nos estudos de Marx (1975), introduz o problema da intensidade com o seguinte argumento:

    (...) um crescimento da produo no curso de um perodo dado, para um nmero

    de homens-hora determinado, pode resultar de trs fatores: 1) ou resulta do au-

    mento da produtividade do trabalho, se a quantidade de trabalho dispensado no

    mudou; 2) ou proveniente estritamente de uma intensificao do trabalho, se,

    todas as coisas iguais de outro lado, o nico elemento suscetvel de explicar este

    crescimento um aumento da quantidade de trabalho contido no mesmo nmero

    de homens-hora; 3) ou existe a combinao dos dois efeitos, e esta situao parece

    ser a mais plausvel, mas tambm a que apresenta mais dificuldades (Fernex,

    2000, p. 10-11).

    Este autor tambm opera com a noo de carga total de trabalho, empresta-da de outro autor, Marc Bartoli (1980), visando a esclarecer a singularidade do conceito de intensidade do trabalho. A noo de carga total de trabalho com-preende todos os elementos componentes do trabalho humano, seja no sentido fisiolgico, mental, relacional ou psquico. Tal viso ampla de intensidade obje-tiva superar a concepo simplria fundada apenas no esforo fsico.

    Para concluir a seo, gostaria de levantar uma questo mais proble-mtica. Como determinada a intensidade do trabalho? O grau da intensi-dade pode ser determinado pelo prprio trabalhador, tal como acontece no trabalho autnomo, no trabalho familiar e no trabalho cooperativo, ou por outros sujeitos, como no trabalho heternomo. Tais distines so necess-rias porque as relaes especficas a cada tipo de trabalho passam por deter-minaes tambm particulares quanto ao vnculo ou subordinao que se

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    estabelece entre o agente trabalhador e o agente controlador do trabalho. No modo capitalista de produo, assim como no modo escravista e no servil, o controle da intensidade do trabalho sai das mos do trabalhador e passa a ser definido, total ou parcialmente, pelo empregador (Marx, 1975). O grau da intensidade do agir resulta de uma disputa, de um conflito social que ope o interesse dos trabalhadores ao dos empregadores. No o indiv-duo trabalhador quem define autonomamente suas condies de trabalho e estabelece o grau de empenho pessoal com a atividade. O ato de compra e venda da fora de trabalho confere ao comprador poder sobre como ser utilizada a mercadoria fora de trabalho. As empresas e os administradores pautam determinaes inarredveis sobre como deve ser realizada deter-minada tarefa e, conseqentemente, sobre o grau de intensidade do tra-balho requerido. Os empregadores sentem-se com todo o poder nas mos para administrar o modo como feito o trabalho e, ipso factu, o grau de intensidade do trabalho, uma vez que no contrato no existe clusula que vincule de antemo essa determinao.

    Os vendedores da fora de trabalho s no ficam completamente mer-c dos empregadores por duas razes. A primeira sua capacidade de luta e sua fora de resistncia. A segunda, a existncia prvia de padres de intensidade do trabalho construdos atravs do tempo e que os trabalha-dores assumem como referncia. Nem um nem outro argumento confere inteiramente ao trabalhador o poder de controlar o grau da intensidade do seu lidar (Durand e Girard, 2002). A intensidade do trabalho permane-ce, pois, como objeto de infindvel disputa entre capitalistas, que exigem mais empenho e mais resultados, e trabalhadores, que resistem e buscam manter seus ritmos e cargas definidas pessoal ou grupalmente.

    Materialidade e imaterialidade

    Na poca em que Marx props a metfora da porosidade para iluminar o conceito de intensidade do trabalho, as Revolues Industriais Inglesa e Estadunidense estavam em pleno andamento, o que fazia convergir toda a anlise para a produo e o trabalho materiais. Para as sociedades pr-in-dustriais, tal perspectiva aplicava-se ainda mais devido sua dependncia do trabalho sobre a natureza como maneira de garantir a sobrevivncia. Na-queles momentos, tanto quanto hoje, o trabalho material repercutia sobre o trabalhador como um todo, seus msculos, seu crebro, seus nervos, seu corao, sua emoo, suas relaes sociais. No trabalho material ou fsico, o trabalhador faz uso de outras faculdades alm de sua energia fsica. Ele aplica sua inteligncia, sua capacidade de concepo, de criao, de anlise, de lgica. Emprega os componentes de afetividade ao relacionar-se com as

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    pessoas, os colegas de trabalho, os dirigentes das empresas e os clientes. Uti-liza as experincias adquiridas anteriormente no trabalho, seja em termos relacionais e grupais, seja em termos de habilidades individuais herdadas gerao aps gerao ou aprendidas nos processos educativos. Toda a de-finio de trabalho passa por certa componente de reflexo intelectual ou envolvimento efetivo do trabalhador que no seja apenas exerccio de fora fsica, ainda que esse trabalho seja o do escravo que lida na lavoura de caf, ou do assalariado que carrega sacos de cimento, ou do funcionrio pblico que separa correspondncias sem cessar. Em qualquer destes exemplos po-de ser identificada a participao da inteligncia, da cultura adquirida, da socializao herdada, das relaes construdas pelo trabalhador. O trabalho ocupa a pessoa como um todo. Todos os aspectos de sua personalidade so envolvidos no ato de trabalhar.

    Da Revoluo Industrial e das sociedades pr-industriais, descritas por Karl Marx, Ricardo e Adam Smith, para hoje os tempos mudaram. Em de-corrncia do aprofundamento da diviso social do trabalho e do emprego de equipamentos pensantes, de comunicao e de armazenamento de informa-es particularmente poderosos aplicados ao trabalho e produo, enfim, com os avanos tecnolgicos alcanados atravs dos tempos, na atualidade o espao ocupado pelo trabalho imaterial no conjunto das atividades humanas expandiu-se muito. As atividades operativas, hoje, passam a incorporar cada vez mais tecnologias de informtica, de comunicao e de automao, que, por sua vez, ocupam muito mais a dimenso de conhecimento e de intelign-cia prtica do trabalhador do que em pocas anteriores. Mesmo tradicionais atividades industriais e primrias so transformadas pela revoluo tec-nolgica, incorporando tambm uma grande fatia de trabalho imaterial. O sistema toyotista talvez seja aquele que mais recorra inteligncia do trabalhador no trabalho industrial, no pela promoo de sua autonomia ou liberdade (Boltanski e Chiapello, 1999), mas pelo uso da capacidade de controle de defeitos, pela eliminao das perdas, pelo controle de diversas mquinas por um mesmo trabalhador e pelo uso da criatividade deste em benefcio da empresa, mediante a ativao das dimenses da socializao e do relacionamento cooperativo com os outros atravs do trabalho em equi-pes e dos crculos de controle de qualidade.

    Assim como a Revoluo Industrial repercutiu sobre a classe trabalha-dora, dando origem classe operria industrial, a Revoluo Informacional gera a classe do trabalhador flexvel das atividades imateriais.

    Os estudos de intensidade, tanto do passado quanto do presente, to-mam por objeto prioritariamente o trabalho material, sendo o setor indus-trial o mais estudado e as indstrias de automveis o ramo isoladamente mais pesquisado (Gounet, 2001; Gorgeu, Mathieu e Pialoux, 2002; Valeyre, 2003; Durand e Girard, 2002). Uma primeira razo justifica a preferncia

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    destes estudos pelas indstrias automobilsticas e pelo setor industrial. O ramo automotivo concentra enormes volumes de capitais num seleto gru-po de oligoplios, que operam mundialmente e participam de uma desvai-rada corrida por fatias do mercado, competio que conduz a uma procura frentica por maiores ganhos de produtividade. Dois dos mais importantes sistemas de produo industrial, o fordismo e o toyotismo, foram gera-dos dentro do ramo automotivo, e suas prticas intensificadoras da se espalharam para todos os outros ramos econmicos nos quatro cantos do mundo. Em segundo lugar, o ramo automotivo converteu-se em paradigma pela expresso do segmento operrio dentro da classe trabalhadora e pelas lutas memorveis que os metalrgicos conduziram e que deixaram marcas indelveis na histria do trabalho.

    Mas erro grosseiro pensar que intensificao do trabalho ocorre apenas no setor industrial e no ramo automotivo. Muito pelo contrrio. Em todas as atividades que concentram grandes volumes de capital e que desenvolvem uma competio sem limites e sem fronteiras, tais como as atividades finan-ceiras e bancrias, telecomunicaes, grandes cadeias de abastecimento ur-bano, sistemas de transportes, ramos de sade, educao, cultura, esporte e lazer e outros servios imateriais, o trabalhador cada vez mais cobrado por resultados e por maior envolvimento no trabalho. Tais atividades no mate-riais esto em estado avanadssimo de reestruturao econmica (Webster, 2001; Kelliher e Gore, 2002; Askenazy, 1999 e 2000), e nelas o emprego de trabalho intensificado prtica corriqueira.

    A passagem das atividades industriais para as de servios conduz a im-plicaes tericas profundas (Marx, 1975; Lazzarato, 1992; Gorz, 2003; Ne-gri 1992; Mszros, 2002). Marx, que desenvolveu o conceito de mais-valia para explicar o valor do trabalho, concentrou sua ateno na noo de tem-po mdio socialmente necessrio, que se aplica mais materialidade do que imaterialidade do trabalho. O crescente desenvolvimento da diviso social do trabalho em direo ao campo da imaterialidade estabelece a necessida-de de desenvolver a noo de mais-valia relativa para responder s ques-tes do trabalho intelectual e do envolvimento afetivo na gerao do valor. Alm disso, torna-se imprescindvel, dado o crescente espao ocupado pe-los servios no emprego da mo-de-obra mundial, rediscutir a questo da produtividade ou improdutividade do trabalho no setor dos servios. Se alguns servios, tais como comrcio de mercadorias, eram considerados improdutivos era de Marx, de forma anloga outros servios eram con-siderados produtivos e no podem ser lanados vala comum do trabalho improdutivo pelo simples argumento de que o trabalho no setor de servi-os genericamente improdutivo. Pesquisa, comunicaes, telefonia, cultu-ra, servios educacionais, de sade, lazer e esporte, apenas para mencionar alguns que, na classificao tripartite do emprego, recaem no setor de ser-

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    vios, jamais podem ser considerados improdutivos, sob pena de desvirtuar toda teoria do valor trabalho na atualidade. A diviso tripartite proposta por Colin Clark em 1940 e largamente adotada no mundo todo no constitui critrio de produtividade ou improdutividade para a teoria do valor traba-lho. Rediscutir a questo da improdutividade do trabalho imaterial, sepa-rando dele aqueles servios que contribuem de maneira exponencial para a valorizao do trabalho, um imperativo para o aggiornamento da teoria.

    H que distinguir as atividades de servios com base na materialidade, das atividades de servios com base na imaterialidade. Naqueles servios baseados na materialidade, o emprego da mo-de-obra pauta-se to integral-mente no trabalho fsico e corporal quanto o trabalho industrial. Assim, as atividades vinculadas prestao de servios pessoais tais como bares, res-taurantes, e os servios que os viabilizam, entre eles as cozinhas e a produ-o de alimentos e bebidas, equiparam-se ao trabalho industrial no sentido de sua materialidade. O mesmo se aplica a inmeros outros servios que so simples extenses do trabalho industrial, entre os quais a reparao de mo-tores, mquinas, equipamentos, aparelhos e outros itens semelhantes.

    Por outro lado, os servios com base na imaterialidade marcam diferen-as significativas em relao ao trabalho industrial, pelo fato de demanda-rem mais intensamente as capacidades intelectuais, afetivas, os aprendiza-dos culturais herdados e transmitidos, o cuidado individual e coletivo. A intensidade do trabalho em tais servios no adequadamente e avaliada se for considerada exclusivamente em termos corporais, fsicos, materiais. Que intensidade do trabalho para um pesquisador se no for avaliado o aspecto imaterial de seu trabalho, o apelo inteligncia? Que intensidade do tra-balho para um professor se no for levada em considerao a capacidade de se relacionar com seus estudantes? Que intensidade do trabalho para um enfermeiro ou para um mdico se no forem observados aspectos afetivos e psicolgicos da relao com o paciente que necessita apoio e cuidados? Que intensidade do trabalho para um comunicador, um jornalista, um repr-ter, um entrevistador se no forem contabilizadas a presso pela produo da matria jornalstica e a sua veiculao para um pblico de massa? Que intensidade do trabalho para um secretrio ou uma secretria se no for estimado o aspecto afetivo da relao com o chefe e o cliente? Como analisar a intensidade do trabalho de uma telefonista ou de um operador de comuni-cao se no for devidamente aquilatada a relao comunicativa?

    Os setores que fazem apelo mais inteligncia, afetividade, capa-cidade de representao cultural, capacidade de relacionar-se so os ser-vios de educao e cultura, os servios de sade, os servios sociais, os servios de comunicao e telefonia, os servios bancrios e de finanas, de importao e exportao e outros que surgiram com a revoluo informti-ca. Tais servios esto crescendo sistematicamente como empregadores de

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    mo-de-obra nas ltimas dcadas. Pesquisa futura precisa aprofundar co-mo aparece a questo da intensidade do trabalho nessas formas de traba-lho imaterial. Como alguns desses setores se situam entre aqueles em que mais se concentram os capitais e, conseqentemente, em que as formas de competio por resultados, por produtividade, por eficincia, adquirem contornos mais ferozes tais como os casos de finanas, telefonia, comu-nicaes, pesquisas, importao e exportao , no seria nada improvvel pensar na hiptese de que o trabalho nesses setores pode estar sofrendo uma presso mpar por resultados.

    Os problemas que se levantam para a teoria do valor no so pequenos, muito menos simples. Como pensar a dimenso do valor perante a imateria-lidade, perante a cooperao da inteligncia, a cooperao do sentimento, a cooperao do relacionamento interpessoal, os aspectos herdados pela so-cializao ou aprendidos culturalmente? Como medir o valor nesses casos? Ainda que inexistam respostas satisfatrias para tais questes (Lazzarato, 1992; Negri, 1992), deve ser mantido o sentido de incorporar estas dimen-ses imateriais do trabalho, que no se submetem ao crivo de medidas talha-das para mensurar quantidades no corao da teoria do valor trabalho.

    As dimenses pessoais e coletivas da inteligncia e do afeto no podem estar fora de qualquer teoria do valor que aspire a reconhecimento. A evo-luo em direo imaterialidade parece uma tendncia definitiva, e as teo-rizaes precisam dar conta dessa dimenso do trabalho.

    A emergncia de sociedades em que a maioria dos empregos se loca-liza no setor de servios levanta a possibilidade de surgimento de outros paradigmas de intensificao do trabalho, no necessariamente procedentes do paradigma industrial, uma vez que este paradigma apela eminentemen-te para o trabalho em seu sentido material e fsico. Isto ficou explcito em todas as situaes de intensificao analisadas, que sempre se aplicavam a determinadas indstrias nas quais se tentava intensificar o trabalho median-te aprendizagem e adaptao dos ritmos corporais ao ritmo imposto pelas mquinas, estudos dos movimentos corporais e tempos necessrios para ca-da movimento, atribuio do controle de mais mquinas a um mesmo traba-lhador, controle do desempenho por meio de sinais luminosos e de cartazes e assim por diante. Nos paradigmas industriais prevalece sistematicamen-te, atravs da histria, o trabalho em sua dimenso fsica, que consome as energias do corpo do trabalhador, que produz cansao fsico, acidentes de trabalho e doenas do trabalho. A transio do paradigma da materialidade para o da imaterialidade acompanhada por conseqncias de amplas im-plicaes. O trabalho apoiado por computadores fixos e portteis, por siste-mas de comunicao por meio de telefones celulares e mil aparelhos que se sucedem freneticamente uns aos outros no mercado tende a romper com o padro dos tempos de trabalho separados nitidamente dos tempos de no-

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    Trabalho, Educao e Sade, v. 4 n. 1, p. 65-91, 2006

    trabalho. As fronteiras passam a ficar mais difusas e os tempos de trabalho invadem os de no-trabalho, afetando a vida individual e coletiva.

    A transio do material para o imaterial abre outra fonte de problemas para o trabalho por conta dos desgastes intelectuais e relacionais que a ati-vidade imaterial impe ao o trabalhador. medida que, numa sociedade, cresce o contingente de pessoas que trabalham em atividades imateriais, aumentam tambm os problemas pessoais e de sade decorrentes da forma imaterial do trabalho e de sua intensificao. Esses elementos fundamentam a hiptese de que o trabalho imaterial dever gerar acidentes e doenas do trabalho de naturezas totalmente distintas do trabalho material.

    o trabalho de campo

    As informaes referentes relao entre intensidade e imaterialidade e a sade dos trabalhadores foram colhidas em meio a um levantamento mais amplo realizado por amostra representativa dos trabalhadores assalariados do Distrito Federal, entre 2000 e 2002. O instrumento de coleta foi um ques-tionrio com perguntas padronizadas, mas questes relativas sade foram feitas de maneira aberta, de forma a identificar conseqncias novas, distin-tas, insuspeitas.

    A tcnica do levantamento amostral por questionrio permitiu recolher declaraes dos trabalhadores, sendo, portanto, os sujeitos diretamente en-volvidos com a intensidade do trabalho que responderam perguntas e pro-cederam a avaliaes. Para que se tornasse possvel avaliar um processo de intensificao do trabalho, como se supunha estar ocorrendo e como estudos internacionais sugeriam, foram entrevistados trabalhadores que contavam com pelo menos dois anos de servio e que, assim, podiam avaliar, por expe-rincia prpria, o que estaria acontecendo com o seu trabalho no dia-a-dia.

    O nmero de entrevistas realizadas foi aquele considerado adequado pa-ra contemplar o sentido de representatividade amostral. Para uma amostra com nmeros muito grandes os trabalhadores assalariados dos setores pri-vado e pblico do Distrito Federal, em abril de 2000, representavam 601.600 pessoas, sobre um total da fora de trabalho de 760.700 pessoas ocupadas2 , adotando um erro amostral de 3,5% e um intervalo de confiana de 95%, chegamos a 825 casos3, distribudos por ramos de atividade conforme mos-trado na Tabela 1.

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    Trabalho, Educao e Sade, v. 4 n. 1, p. 65-91, 2006

    tabela 1

    distribuio dos trabalhadores assalariados entrevistados, segundo ramos de atividade, no distrito Federal (2000-2002)

    ramos de atividade no. %

    Supermercados 50 6,1

    bancos 40 4,8

    Telefonia 49 5,9

    administrao pblica federal 116 14,1

    administrao pblica do dF 100 12,1

    alimentao 30 3,6

    oficinas mecnicas 50 6,1

    Transporte 20 2,4

    Construo civil 50 6,1

    Emprego domstico 78 9,5

    Ensino pblico 66 8,0

    Ensino privado 15 1,8

    Sade pblica 30 3,6

    Sade privada 21 2,5

    limpeza e vigilncia 29 3,5

    Indstria de bebidas 13 1,6

    Servios pessoais 16 1,9

    Shoppings 41 5,0

    Servios especializados 5 0,6

    Indstria grfica 6 0,7

    total 825 100,0

    Fonte: o autor

    Em funo de pressupostos da pesquisa, alguns grupos de trabalhadores no puderam ser includos na pesquisa de campo. Foram excludos da amos-tra os trabalhadores desempregados, pelo fato de no estarem trabalhando e, desta forma, no preencherem o critrio de comparao das condies do trabalho atual com o anterior, e tambm os trabalhadores no assalariados, a exemplo dos autnomos, trabalhadores por contra prpria, trabalhadores fa-miliares e outras formas de trabalho, em razo de o estudo se limitar anlise do trabalho assalariado, seja estatal ou privado. Tambm no foram includos na anlise os trabalhadores aposentados, por j estarem fora do mercado de trabalho, e os trabalhadores assalariados com menos de dois anos de experin-cia em qualquer campo de atividade, dado que, para o estudo da intensifica-o do processo de trabalho, necessrio que o trabalhador tenha um tempo mnimo de experimentao para poder comparar o antes com o agora. Tais condies possibilitaram uma amostra mais madura dos trabalhadores assa-lariados, em que 53,4% tm 11 ou mais anos de atividade. uma amostra de trabalhadores que podem refletir sobre sua experincia anterior de trabalho e, conseqentemente, afirmar se processos de intensificao ocorreram ou no durante sua trajetria de vida.

  • Sadi Dal Rosso78

    Trabalho, Educao e Sade, v. 4 n. 1, p. 65-91, 2006

    Sade e trabalho imaterial intensificado

    As relaes entre trabalho e sade sempre foram temas privilegiados da pes-quisa cientfica e esto condensados na medicina, na psicologia, na ergonomia, na sociologia e outros tantos campos do conhecimento que, de uma forma ou de outra, lidam com estes problemas. Para esclarecer o real alvo desta pesqui-sa, necessrio primeiro explicar que nossa inteno foi levantar indcios, perseguir pegadas, decifrar sinais de um padro distinto de manifestao da relao trabalho e sade que comea a se manifestar ou est efetivamente em pleno desenvolvimento, em decorrncia das conseqncias das condies de trabalho sobre a sade dos trabalhadores. Nosso objetivo consiste em ques-tionar se as condies do trabalho contemporneo no esto produzindo um determinado perfil de problemas de sade, distinto de momentos anteriores. Conduz a esta suspeita o entendimento de que a civilizao industrial produ-ziu e continua a causar determinados tipos de acidentes, doenas e problemas nos corpos e nas mentes daqueles que realizam o trabalho. Por prevalecer, na sociedade industrial, o trabalho material, as condies de sade, de adoeci-mento e outros problemas sociais carregam as marcas prprias das determina-es que as geram, isto , da materialidade do fazer.

    Duas condies contemporneas alteram esse padro industrial da rela-o sade e trabalho. A primeira o deslocamento da maior parte da fora de trabalho da insero em atividades industriais para atividades subsi-dirias indstria ou atividades inteiramente de servios, tercirias e/ou imateriais. Essa transformao setorial atinge tanto os pases capitalistas industriais de primeira gerao, como os europeus, os Estados Unidos da Amrica e o Japo, como pases capitalistas que nunca foram totalmen-te industriais, no sentido especfico de terem o maior contingente de sua fora de trabalho operando em indstrias, como pases da Amrica Latina, entre os quais o Brasil. A transio entre indstria e servio uma trans-formao profunda, ampla, lenta e de implicaes mundiais. A segunda con-dio, a onda de intensificao do labor, em quaisquer condies que ele se realize, seja em atividades agropecurias e de explorao mineral, seja em atividades industriais ou de servios. Quaisquer que sejam as condies de sua realizao, o trabalho est sendo transformado pela exigncia de mais resultados materiais ou imateriais, o que implica que o agente deve empe-nhar mais de suas energias fsicas, mentais ou sociais na obteno de mais resultados, de mais elevados objetivos, em suma, de mais trabalho. Sem que envolva propriamente alongamento de jornada, o trabalho em si comea a ficar mais denso, mais intenso, mais produtivo, aumenta a gerao de mais trabalho e de valores. Tais condies distintas e desconhecidas, porquanto a transformao dos locais de trabalho nesse sentido comea a operar-se aps os anos 80, devem produzir impactos considerveis sobre a sade da classe

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    Trabalho, Educao e Sade, v. 4 n. 1, p. 65-91, 2006

    trabalhadora. Confirmar se essa intensificao de fato acarreta impactos sade do trabalhador e identificar suas principais caractersticas so alvos perseguidos nesta anlise do trabalho de campo.

    A elevao da carga de trabalho observada nos dias de hoje, e que se expande com caractersticas diferenciadas por ramos de atividade, produz efeitos sobre os corpos dos trabalhadores. Seja por meio da exploso tecno-lgica da informtica, seja por meio da reorganizao social, o trabalho transformado, redesenhado, precarizado, intensificado. Das especificidades prprias do trabalho contemporneo parece resultar um conjunto de pro-blemas de sade de natureza diversa dos relacionados s atividades mate-riais. Em decorrncia das crescentes exigncias emocionais e mentais do trabalho, supe-se que seria possvel encontrar sinais de um volume maior de problemas dessa ordem sobre a sade dos trabalhadores, a despeito do fato de o trabalho material continuar produzindo seus efeitos sobre os cor-pos em termos de acidentes, leses fsicas e doenas permanentes, pois a sociedade industrial no est abolida em hiptese alguma. Supe-se que, lado a lado com perfil de problemas tpicos da sociedade industrial, esteja se conformando um outro padro de problemas trabalho-sade.

    oportuno, de sada, apresentar como vista a relao entre intensida-de do trabalho e sade no contexto internacional. David Fairris, no artigo Workplace transformation and the rise in cumulative trauma disorders: is there a connection? (2001), estabelece a ligao entre a transformao do local de trabalho e o aumento dos acidentes de trabalho e outras desordens fsicas traumticas. Cumulative trauma disorders (CTD) originam-se quando repetida presso exercida sobre os tendes, msculos ou nervos, causan-do inflamaes ou prejuzos. Correspondem s nossas conhecidas leses por esforos repetitivos (LER) ou aos distrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) (Cattani, 2003). Estabelecida a conexo causal, Fairris (2002) vai mais adiante e defende a proposta de que as empresas e o governo dos Estados Unidos ganhariam em termos econmicos se tomassem medidas para reduzir a enorme quantidade de acidentes, doenas e problemas provo-cados pela recente reorganizao do trabalho.

    A dimenso dos problemas decorrentes do trabalho pode ser avaliada a partir dos custos estimados. Referindo-se aos Estados Unidos da Amrica, Askenazy (1999) descreve que

    (...) nos ltimos quinze anos, muitas empresas americanas experimentaram uma

    profunda reorganizao de suas estruturas corporativas e de produo. (...) Ao

    mesmo tempo, a sade do trabalho sofreu. Exceto na rea de construo, a taxa de

    acidentes de trabalho e de doenas aumentou fortemente no perodo entre 1982-

    1994. O custo total em 1995 dos 6 milhes de acidentes do trabalho foi superior a

    100 bilhes de dlares (Askenazy, 1999, p. 3).

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    Trabalho, Educao e Sade, v. 4 n. 1, p. 65-91, 2006

    Mais adiante, seguindo o caminho aberto por Fairris (2002), Askenazy (1999) defende a posio de que

    este aumento em parte conseqncia das novas organizaes. Elas elevam o pas-

    so do trabalho e no so compatveis com regras de sade. Um nmero de estudos

    de casos americanos e europeus confirma este ponto (Askenazy, 1999, p.18).

    Na Europa, o impacto da intensificao do trabalho sobre a sade apa-rece tambm nos levantamentos feitos a cada cinco anos pela Comisso Europia para a Melhoria das Condies de Trabalho e de Vida nos pases membros. Merlli e Paoli (2000) assim se expressam:

    A intensidade do trabalho aumentou na dcada passada, mais fortemente entre

    1990 e 1995 que entre 1995 e 2000. A intensidade do trabalho est fortemente

    correlacionada com problemas de sade relacionados ao trabalho e acidentes no

    trabalho. (...) As desordens musculoesqueletais (dor nas costas e nos msculos,

    particularmente no pescoo e ombros) esto em crescimento, assim como burn-

    out. O estresse permanece no mesmo nvel (28%). H fortes correlaes entre es-

    tresse e desordens musculoesqueletais e maneiras de organizar o trabalho tal co-

    mo trabalho repetitivo e velocidade do trabalho (Merlli e Paoli, 2000, p. 1-4).

    Os efeitos sobre a sade da classe trabalhadora vo alm da questo fsica e se manifestam tambm sobre a sade mental. Derriennic e Vzina (2002), aps analisarem dados oficiais franceses, assim concluem:

    Os resultados permitem apoiar o carter patognico no plano psquico de uma

    demanda de trabalho elevada e de uma latitude decisional fraca (...) Tais conclu-

    ses so particularmente importantes num contexto de administrao e reduo

    do tempo de trabalho que arrisca de estar acompanhado duma densificao (redu-

    o das pausas e dos tempos de trocas informais) e duma intensificao do traba-

    lho (fazer a mesma coisa em menos tempo) principalmente nas pequenas e mdias

    empresas (Derriennic e Vzina, 2002, p. 4).

    Para o caso brasileiro, aps sumarizar as principais contribuies de es-tudos sobre a interrelao trabalho e sade psquica, Mendes, Borges e Fer-reira (2002) indicam como pontos importantes para futuras pesquisas

    (...) ateno ao contexto atual do trabalho que na contemporaneidade recebe influ-

    ncias das formas sofisticadas da acumulao flexvel do capital, imprimindo uma ide-

    ologia que justifica como naturais e inerentes s situaes certas transformaes na

    realidade de trabalho, que so de fato, na maioria das vezes, perversas e potencializa-

    doras dos riscos sade do trabalhador (Mendes, Borges e Ferreira, 2002, p. 233).

  • Sadi Dal Rosso 81

    Trabalho, Educao e Sade, v. 4 n. 1, p. 65-91, 2006

    Com este quadro em mente, que sustenta que a sade dos laboradores est sendo afetada pela reorganizao do trabalho nos anos posteriores a 1980, analisamos a seguir dados de campo, comeando pela construo de um indicador geral de problemas de sade decorrentes do trabalho. Tal in-dicador geral obtido mediante a soma do total das pessoas que declara-ram j ter retirado atestado(s) mdico(s), com as que declararam j ter sofrido acidente(s) de trabalho e com as que declaram algum tipo de doena, todas as declaraes sempre vinculadas s condies de trabalho, excludas repe-ties para reter apenas o nmero de pessoas que revelaram pelo menos um tipo de problema. O indicador geral de problemas de sade decorrentes do trabalho equivalente a 24,6% da amostra. Ou seja, quase um a cada quatro trabalhadores entrevistados declara j ter tido algum tipo de problema de sade decorrente do trabalho4.

    A anlise das condies de sade e de doena no trabalho pode ser de-talhada mediante o recurso a trs indicadores freqentes na literatura do campo: nmero de atestados mdicos, de acidentes do trabalho e de doen-as do trabalho, que fornecem indicaes quantitativas. O levantamento de campo permite tambm uma abordagem de tipo qualitativo que nos parece de extremo valor. Consiste em proceder a uma anlise diferencial dos pro-blemas de sade verbalizados nos discursos dos trabalhadores de distintos ramos de atividade, comparando-os entre si, na busca de alguma indicao, pista ou caminho.

    A percentagem de trabalhadores que afirmou j ter tirado atestado m-dico em decorrncia da sobrecarga de trabalho corresponde a 18,9% (Tabela 2). No grupo das atividades capitalistas mais modernas, o ramo de telefonia desponta com a maior percentagem de trabalhadores que fizeram uso de ates-tados mdicos nos ltimos cinco anos (73,5%). As empresas de comunicao e telefonia foram recentemente privatizadas, e sobre elas implantou-se um regime de terror, elevando-se a intensidade do trabalho a nveis inauditos. Pelas declaraes dos trabalhadores, podemos captar o novo cenrio de re-organizao do trabalho. Nenhuma resposta declara que a causa tenha sido a introduo de sistemas mais modernos de informtica. A explicao dada pelos telefnicos passa pelo enxugamento de quadros (a demanda por ser-vios telefnicos aumentou e so os funcionrios que ficam com a parte mais pesada. Na parte onde eu trabalho, j foi demitido quase 50% do pessoal que tinha no comeo entenda-se aqui, antes da privatizao da empresa), pelo aumento dos clientes sem correspondente aumento de trabalhadores (tripli-cou o nmero de assinantes e servios da empresa, explica uma telefonista), pela introduo de vrios sistemas de controle por meio de pessoal (tem um funcionrio pago s para fiscalizar, disse um entrevistado; o funcionrio mais controlado, disse outra trabalhadora), pelos sistemas de controles au-tomticos (tem um controle para saber quantos clientes foram atendidos).

  • Sadi Dal Rosso82

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    O ramo bancrio igualmente exemplo de trabalho que conduz a muitos atestados mdicos (30,0%). Pessoas que trabalham no ramo mdico-hospita-lar tambm apresentam altos ndices de atestados mdicos (33,3%), do mes-mo modo que aqueles que trabalham em servios especializados (20,0%).

    Dessa forma, os campos de atividade imaterial so os principais respons-veis por atestados mdicos. Aparece como uma exceo o ramo da construo civil, atividade material tpica em que a percentagem de trabalhadores com atestados mdicos tambm elevada. Certos ramos das atividades capitalistas tradicionais, como os servios pessoais, tambm apresentam taxas altas.

    tabela 2

    Problemas de sade mencionados pelos trabalhadores do distrito Federal entrevistados, ocorridos nos ltimos cinco anos em decorrncia da sobrecarga de trabalho. (2000-2002)

    respostas atestados acidentes de Doenas do indicador geral de Mdicos trabalho trabalho problemas de sade(*)

    no. % no. % no. % no. %

    Sim 156 18,9 87 10,5 123 14,9 203 24,6

    no 669 81,1 736 89,3 701 85,0 622 75,4

    Semresposta 0 - 2 0,2 1 0,1 0 -

    Total 825 100% 825 100% 825 100% 825 100%

    Fonte: o autor

    (*) o indicador geral de problemas de sade decorrente do trabalho consiste no clculo resultante da soma das respostas

    afirmativas s questes relacionadas s trs situaes pesquisadas (atestados, acidentes e doenas do trabalho). Quando

    um entrevistado apresenta resposta afirmativa para mais de uma situao, contabiliza-se apenas uma ocorrncia.

    Acidentes do trabalho foram declarados por 10,5% da amostra, estando mais concentrados nas atividades materiais. A declarao de doenas do traba-lho pelos trabalhadores atingiu o percentual de 14,9% da amostra 123 pessoas entre os 825 entrevistados relatam sofrer de doenas decorrentes do trabalho.

    O trabalho no ramo da telefonia est frente dos demais, com 42,9% dos trabalhadores dizendo que sofrem de doenas provocadas pelo trabalho. mais uma indicao de que esse setor est afetando a sade dos seus traba-lhadores de forma mais dura do que os demais setores de atividade.

    Vale ressaltar a declarao de doenas do trabalho em trs outros ramos de ati-vidades capitalistas modernas: o ramo financeiro e bancrio, com 17,5%, os servi-os especializados, com 20,0%, e o ramo mdico-hospitalar privado, com 19,0%.

    Entre os trabalhadores do ensino pblico, as doenas do trabalho atin-gem 25,8% dos entrevistados, significando que o trabalho educacional apresenta condies bastante ruins para seus trabalhadores.

    Os dados estatsticos descritos sustentam a tese de que a intensificao do trabalho afeta fortemente a sade dos trabalhadores. Entretanto, no apresen-

  • Sadi Dal Rosso 83

    Trabalho, Educao e Sade, v. 4 n. 1, p. 65-91, 2006

    tam sinais e indicaes inequvocos de uma diferenciao em perfis distintos de problemas. Sustentao para esta segunda hiptese pode ser obtida a partir das verbalizaes dos assalariados a respeito dos tipos de problemas de sade que sofrem. Dessa maneira, obtivemos dois grupos de respostas diferenciadas, que servem de modelo e esto listados no Quadro 1.

    Quadro 1

    Problemas de sade mencionados pelos trabalhadores de empresas de telefonia e comunicao e de empresas de construo civil do distrito Federal (2000-2002)

    Trabalhadores de telefonia e comunicao leses por esforos repetitivos (lEr)

    Estresse

    audio

    depresso

    hipertenso

    Gastrite

    Viso

    Trabalhadores da construo civil Quedas

    leses nas pernas

    leses nos ps

    leses nos dedos

    leses nas mos

    leses nos braos

    leses na cabea

    leses nos dentes

    Fonte: o autor

    Os problemas elencados pelos trabalhadores da construo civil represen-tam o modelo da relao trabalho-sade da sociedade industrial; os problemas mencionados pelos trabalhadores do ramo de telefonia e comunicao, o perfil de trabalho-sade das atividades imateriais e de servios. Padro da relao trabalho material e sade do trabalhador: no ramo da construo civil, tomado como exemplo, os trabalhadores apontaram os seguintes problemas mais freqentes de sade: quedas, leses nos ps, per-nas, joelhos, dedos, mos, braos, dentes e cabea. um quadro indicativo da preponderncia do trabalho manual, em que o trabalhador est conti-nuamente exposto ao perigo de acidentes de trabalho e a outras leses com caractersticas fsicas, corporais; Padro da relao trabalho imaterial e sade do trabalhador: este padro inclui os seguintes problemas apontados pelos trabalhadores do ramo de tele-fonia: LER e DORT, estresse, depresso, hipertenso e gastrite. As indicaes

  • Sadi Dal Rosso84

    Trabalho, Educao e Sade, v. 4 n. 1, p. 65-91, 2006

    dos problemas de sade, portanto, so de outra ordem. Referem-se, especial-mente, sade psquica e a problemas decorrentes de um tipo de trabalho que eminentemente intelectual e relacional.

    Ribeiro (1999) estuda o trabalho no ramo da atividade bancria, bastan-te semelhante ao trabalho em telefonia e comunicao pelo recurso capaci-dade mental e relacional. Neste estudo, detm-se nas

    (...) leses das partes moles e superiores do aparelho locomotor atribudas ao

    trabalho (LER). Trata-se de um modo de adoecimento coletivo de tendncia cres-

    cente, cuja causalidade do trabalho, apesar de menos direta e menos aparente e

    dramtica, tem sido reconhecida em todo o mundo, a partir do final da dcada de

    1950. Afirma serem as LER uma doena emblemtica do novo ciclo de desenvolvi-

    mento e crise do capitalismo, iniciado nos pases centrais nos anos subseqentes

    Segunda Grande Guerra e acelerado nos anos 70, cuja caracterstica mais visvel e

    comentada a tecnologia da automao eletroeletrnica (Ribeiro, 1999, p. 17).

    Ao abordar acelerao dos anos 1970 em diante, o autor parece estar se referindo ao mesmo fenmeno por ns analisado sob a gide da intensifica-o do trabalho. Ainda assim, em funo da anlise de apenas um setor de atividade, o autor no consegue indigitar padres ou perfis diferenciados.

    Os demais estudos internacionais citados (Fairris, 2001 e 2002; Aske-nazy, 1999; Derriennic e Vezina, 2002; Merlli e Paoli, 2000) so explcitos em mencionar a elevao da quantidade de problemas de sade com a reor-ganizao dos locais de trabalho. Nossa contribuio procura ultrapassar a perspectiva do agravamento de problemas de sade, estabelecendo tambm a idia de perfis distintos de impactos de sade. Se o trabalho intensificado eleva exponencialmente os problemas de sade, sugerimos, adicionalmente, que as atividades tpicas do setor tercirio, em que prevalece a imateriali-dade da ao, estariam conduzindo ao aparecimento de problemas de sade distintos daqueles vivenciados pela sociedade industrial e pelos operrios industriais.

    O trabalho imaterial produz impactos distintos sobre a pessoa do traba-lhador, devido no apenas ao tipo de trabalho realizado, mas tambm, espe-cialmente, s determinaes que impe ao trabalhador. O trabalho imaterial intensificado apresenta um quadro especfico de problemas relativos sa-de, que descrito a partir das manifestaes dos entrevistados pertencentes ao ramo da telefonia.

    Vinte e dois dos 33 entrevistados que operam no ramo de telefonia apon-taram algum problema de sade decorrente do seu trabalho. Dois em cada trs trabalhadores (66,6%) indicaram que sentiam impactos sobre a sade como conseqncia do tipo de trabalho realizado. Esses nmeros constituem um argumento inicial poderoso, no sentido de que o trabalho imaterial po-

  • Sadi Dal Rosso 85

    Trabalho, Educao e Sade, v. 4 n. 1, p. 65-91, 2006

    de ser to pernicioso sade do trabalhador quanto o trabalho material. Em segundo lugar, importa examinar com detalhes os tipos de problemas que acompanham o trabalho imaterial. Vendramin (2002, p. 6) relata como o estresse se expande: estresse ligado presso crescente sobre o trabalho, aos fluxos de atividade, estresse de avaliao nas atividades submetidas s tecnologias de informao e comunicao.

    Se tratados conjuntamente, os diversos tipos de leses por esforos repeti-tivos, mais estresse, depresso, hipertenso e gastrite, permitem-nos obter um perfil dos problemas de sade decorrentes da intensificao do trabalho ima-terial. De alguma maneira, esse conjunto de condies negativas da sade do trabalhador decorre de qualidades prprias do trabalho imaterial denso: tarefas que se repetem ininterruptamente por perodos prolongados, presso sobre os trabalhadores sob a forma de cobranas de resultados por chefes e administradores, presso atravs das formas de controle sobre a quantidade e a qualidade do trabalho realizado, presso por parte das exigncias da clientela, que impem um esforo mental e um controle emocional sobre-humanos, efeitos sobre o lado psquico e relacional do trabalhador que dei-xam marcas sobre o corpo nas formas de tendinites, gastrites, hipertenses e que extrapolam o ambiente de trabalho, com reflexo sobre a vida familiar e social dos indivduos.

    Nesta incurso feita a uma regio do mundo do trabalho imaterial a te-lefonia , somos levados a concluir que, neste ramo, a intensidade do trabalho elevada a seus nveis mximos; que nele se desenvolvem formas particulares de controle sobre a quantidade e a qualidade do trabalho somente passveis de serem acionadas eficazmente com a presena das tecnologias de informa-o e de comunicao; que, por vezes, tais formas de controle extrapolam a relao vertical e passam a operar horizontalmente como um autocontrole entre os prprios companheiros de trabalho, na forma de controle sobre e de construo do sujeito; e que essas qualidades do trabalho imaterial geram determinados tipos de problemas para a sade do trabalhador que tm a ver com o trabalho repetitivo em alta velocidade, com uma demanda imensa sobre o equilbrio psquico e a capacidade mental dos trabalhadores, com as exign-cias e as cobranas por resultados e as exigncias de qualidade total.

    Escreve Askenazy (1999):

    A taxa de adoecimento explodiu desde 1983, aumentando 400%. Este aumento

    integralmente explicado pelo crescimento dramtico dos casos de trauma repetidos:

    cresceram doze vezes entre 1983 e 1994, isto , durante os anos-chave da reorgani-

    zao. O fenmeno que mais chama a ateno o crescimento de casos de traumas

    no setor tercirio: companhias de telefone, redes de abastecimento ou hospitais so

    agora setores com alto nvel de traumas repetidos (Askenazy, 1999, p. 16).

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    Trabalho, Educao e Sade, v. 4 n. 1, p. 65-91, 2006

    O trabalho docente envolve, por sua vez, elementos tpicos do desgas-te fsico, como tambm os decorrentes da presso por mais resultados. Um bom nmero das conseqncias das condies do trabalho sobre os profes-sores no apresenta um quadro diferente dos tradicionais problemas sen-tidos pelos trabalhadores do ramo. Entre estes, podemos citar os problemas de alergia a giz, os problemas de garganta, rouquido e ndulos nas cordas vocais. Outro conjunto de sintomas declarados, no entanto, revela o efeito do trabalho intelectual prolongado, tpico do perfil das doenas decorrentes do trabalho submetido a forte presso por resultados, com atribuies de respon-sabilidades, com altos graus de flexibilidade e versatilidade. Entre eles esto o estresse, as gastrites crnicas e as leses por esforos repetitivos.

    Este quadro de dois grupos de problemas distintos decorrentes do traba-lho corresponde ao fato de que, na rede privada do Distrito Federal, ainda no se verifica uma forma de gesto de pessoal inequivocamente nova: tendncias arcaizantes de vigilncia e represso andam de mos dadas com elementos de administrao contempornea (mais resultados, flexibilidade). Aps pesqui-sar docentes de uma escola privada na Bahia, Freitas (2005) conclui:

    A peculiaridade de nossos dias a intensificao do trabalho. Com isso, o palco das

    salas de aulas tem professores mais tensos, hipertensos, com movimentao limitada

    nos membros doloridos, roucos; eventualmente aposentados em atividade e desres-

    peitados por aluno e pelo patronato, mas resistentes e mobilizados, mesmo que no

    de forma coletiva, em torno da idealizao da educao que dialogada entre eles

    (...) As doenas dos professores, que se tornam mais comuns nos ltimos anos, so

    sintomas da intensificao do trabalho, da maior explorao, das excessivas ativida-

    des extra-classe, da monetarizao do ensino (Freitas, 2005, p. 204-205).

    J o ramo da construo civil representa os problemas tpicos da socieda-de industrial. Se a construo civil no Distrito Federal caracteriza-se por traos de tradicionalidade, a despeito de ser um ramo econmico grande, poderoso e empregador de grande contingente de mo-de-obra, o perfil dos problemas de sade que apareceram no levantamento sobre intensidade do trabalho cor-responde aos problemas clssicos e tradicionais do setor, os acidentes de tra-balho, e aos problemas representativos da sociedade industrial. Os problemas de maior gravidade decorrentes de acidentes na construo civil, tais como as leses fsicas que requerem longos ou mdios tratamentos, e aqueles acidentes que conduzem ao afastamento permanente do trabalhador de sua ocupao e aqueles que levam morte no so captados em nosso levantamento, que se aplicava a trabalhadores em ao. Outras fontes de informao, em particu-lar dados do Ministrio da Previdncia e Assistncia Social, permitem acessar tais informaes e formar um quadro espantoso de sua incidncia em nosso pas (Dal Rosso, Barbosa e Fernandes Filho, 1999).

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    A anlise da relao trabalho-sade conforme encontrada no trabalho de campo realizado, sugere que os problemas de sade aumentam de forma gigantesca com a intensificao do trabalho. Sugere, alm disso, que, ao lado dos problemas tpicos da sociedade industrial, pode estar aparecendo todo um perfil distinto de problemas de sade, decorrentes da insero da popu-lao em formas de trabalho imaterial e da crescente exigncia por maiores resultados. Um dentre cada quatro trabalhadores informa que sofreu con-seqncias em sua sade em decorrncia da intensificao do trabalho. As conseqncias vo desde o recurso a atestados mdicos pelos mais diver-sos motivos, passam por acidentes no trabalho e vo at doenas manifestas com durao mais ampla.

    o padro de problemas de sade decorrente do trabalho imaterial intensificado

    Uma das justificativas para realizar a pesquisa sobre intensidade do trabalho no Distrito Federal provm do fato de que as atividades econmicas predo-minantes so servios e no atividades industriais ou primrias, que so os tradicionais loci de observao do trabalho intensificado. Servios, a exem-plo de educao, sade, pesquisa, comunicao, telefonia, finanas, impor-tao e exportao, cultura, comrcio, permitem explorar a prevalncia de demandas de tipo intelectual, emocional ou relacional sobre os trabalhado-res, devido natureza imaterial dos trabalhos realizados. A imaterialidade do trabalho conduz observao de impactos distintos sobre os corpos e as mentes dos trabalhadores. Como todo tipo de trabalho, os servios apre-sentam formas prprias de intensificao. Um dos grandes achados desta pesquisa est no fato de estabelecer grupos de doenas, acidentes e sintomas de adoecimento, tpicos do trabalho intensificado em atividades de servio, que fazem parte do setor capitalista moderno e de servios governamentais. possvel contrapor uma tipologia de ataques sade e de adoecimento dos trabalhadores em servios intensificados a uma tipologia semelhante em trabalho industrial. As corporaes que operam no campo da telefonia e co-municao costumam ser citadas nas pesquisas como sweatshops da era da revoluo informtica. Tomando o trabalho nesse ramo como prottipo do trabalho intensificado moderno, por ser executado em empresas de grande porte de mbito nacional e internacional e que operam com altssimas con-centraes de capital empresas e monoplios que exigem tudo dos seus trabalhadores em termos de resultados cada vez maiores do trabalho , po-demos avanar na tese de que esse trabalho intensificado produz um deter-minado tipo de efeitos sobre a sade dos trabalhadores.

    Nossa pesquisa revela que tal padro de minar a sade dos trabalha-dores envolve as seguintes caractersticas que oferecem indicaes sobre a

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    natureza dos problemas a serem enfrentados no futuro com o trabalho ima-terial intensificado: estresse, LER e DORT, gastrite, hipertenso, depresso, muitos atestados mdicos, doenas permanentes decorrentes de tais agres-ses sade. Quando comparado tal padro com as conseqncias sade encontradas em outras atividades capitalistas tradicionais ou nas atividades governamentais, nos deparamos com uma mudana de padro, pois nas ati-vidades tradicionais so mais freqentes problemas decorrentes do aspecto fsico do trabalho. Dessa comparao resulta que a intensificao do traba-lho, segundo os parmetros vigentes naqueles setores hegemnicos da eco-nomia internacional, engendra um determinado padro de doena que, medida que essas formas de intensificao do trabalho se generalizam por todos os ramos da economia, tambm conduz a um processo de universali-zao das condies de doena prprias do trabalho moderno.

    Notas

    1 Professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Braslia (Unb) e pesqui-sador do CNPq. Doutor em Sociologia na Universidade do Texas em Austin.

    2 A fonte destas informaes provm da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) no Distrito Federal, abril de 2000, Tabela 6. A PED efetuada em conjunto pelo Dieese e pela Secretaria de Trabalho do Distrito Federal.

    3 A frmula empregada para calcular a amostra da pesquisa de campo a seguinte:

    Z (P) (1-P)N = ---------------------- E

    em que N = o tamanho da amostra desejada Z = o escore Z adequado ao nvel de confiana selecionado P = a proporo da populao com a caracterstica determinada E = o erro amostral elevado ao quadrado.A frmula depende basicamente de dois parmetros: o intervalo de confiana (Z) e o

    erro amostral (E). Desenvolvendo-a com os valores estabelecidos, encontramos o tamanho da amostra procurada (N).

    1.96 (.5) (.5) .9604N = ------------------ = ------------ = 784 .035 .001225

    O tamanho da amostra de 784 casos no muito grande, dados os valores adotados para intervalo de confiana e erro amostral. Em ambos os casos, adotamos valores bastante

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    amplos, uma vez que o levantamento amostral sobre intensidade do trabalho no precedi-do de estudos anteriores que, no Brasil, tenham definido regularidades ou pontos de par-tida mnimos. Ao contrrio, o levantamento amostral que propomos traz a marca de abrir caminhos no campo especfico de estudos de intensidade do trabalho. Da os valores para intervalo de confiana e erro amostral.

    Na execuo do trabalho de campo, tivemos a precauo de preencher cerca de 10% a mais de questionrios para antecipar possveis problemas de erros de preenchimento ou de outra ordem, mantendo as devidas propores entre os ramos de atividade. Com isso, che-gamos a um total de 825 questionrios preenchidos, cuja distribuio pode ser visualizada na Tabela 1. Este total de 825 questionrios constitui a base de dados para toda a anlise a seguir.

    4 Ver comparaes com pesquisa sobre a Unio Europia, em Merlli e Paoli (2000).

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    Recebido em 01/09/2005Aprovado em 08/11/2005