os desafios da escola pÚblica paranaense na … · 2016. 6. 10. · uma transposiÇÃo de ... maio...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A ESCRAVIDÃO TEVE FIM? UMA TRANSPOSIÇÃO DE CONCEITOS
- DA ESCRAVIDÃO NEGRA NO BRASIL À EXPLORAÇÃO DO
TRABALHO NA ATUALIDADE
Autor: Gilberto de Almeida Dobbins 1
Orientadora: Christiane Marquez Szesz2
RESUMO
O Ensino de História deve ser apresentado aos nossos educandos de tal forma, que não seja distantede sua realidade, pois assim, será mais significativo e o processo de ensino e aprendizagem seráefetivado. Seguindo essa linha de raciocínio, este trabalho aponta a possibilidade de se estabelecerum paralelo entre a forma de Escravidão no Brasil Colonial com a Exploração do Trabalho naAtualidade. É fato que nem todos os professores de história trabalham com a História e Cultura Afro-brasileira e Africana, mesmo tendo se tornado lei, e é somente levantando essa discussão quepoderemos acabar com essa escravidão velada, assim como, com o racismo. Se o trabalho doeducador for crítico e consciente surge a possibilidade de fazer com que os educandos, aqui emespecial do Ensino Médio, possam ser agentes transformadores de sua realidade, pois a maioria jáestá inserida no mercado de trabalho, e muitas vezes, são vítimas do processo de exploração domundo capitalista.
Palavras-chave: Escravidão. Exploração do trabalho. Violência.
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho traz um discussão acerca da implementação da intervenção
pedagógica na escola, intitulada “A Escravidão teve fim? Uma transposição de
conceitos – da Escravidão Negra no Brasil à Exploração do Trabalho na Atualidade”,
no Colégio Estadual Jardim Alegre, no período de 2013 e 2014, por ocasião do
Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da Secretaria de Estado da
Educação do Paraná.
A intervenção pedagógica foi realizada com os alunos do 2º ano do Ensino
Fundamental, com o objetivo de aprofundar o conhecimento crítico dos educandos
1 Professor QPM de História da Rede Estadual de Educação do Estado do Paraná. Núcleo Regionalde Telêmaco Borba. Integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional, turma 2013.
2 Doutora em História. Chefe e docente do Departamento de História da Universidade Estadual dePonta Grossa.
de tal forma que conduzisse a reflexão dos fatos cotidianos comparando os
conceitos de escravidão hoje com a História da Escravidão Negra no Brasil. Para
que os mesmos possam perceber que a História não é feita de fatos isolados e sim
de continuidades; compreender as características da sociedade atual comparando-a
com outros tempos e espaços; proporcionar uma reflexão no tocante a mudanças de
conceitos – escravidão/exploração do trabalho – com o passar do tempo; bem como,
mostrar que os agentes históricos são todos agentes sociais.
O tema apresentado foi o Trabalho e a Escravidão Negra, a qual fez parte da
História do Brasil de forma legítima e institucionalizada no Período Colonial, e esta é
ensinada nos livros didáticos de História como tendo seu início com a vinda dos
negros africanos trazidos pelos portugueses para o Brasil e seu “fim” no dia 13 de
maio de 1888 com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel. Como se fosse
abolido definitivamente esse tipo desumano e indigno de exploração do trabalho no
Brasil.
Após muitos anos da promulgação da Lei Áurea no Brasil pela Princesa
Isabel, podemos perceber que hoje muitos trabalhadores são expostos a situação de
escravidão, onde o é negado a sua condição de cidadão detentor de direitos. A
escravidão hoje pode ser caracterizada como um sistema que se utiliza de violência,
e de coerção física e moral, para subjugar os trabalhadores. É uma relação de
trabalho que o proprietário dos meios de produção “emprega” pessoas objetivando
pagar o mínimo para obter mais lucros a partir de sua força de trabalho. Segundo
VASCONCELOS & BOLZON (2008).
Na prática, pode-se determinar uma situação como sendo de trabalhoforçado (nos casos em que há ausência de consentimento para realizar otrabalho), nos casos de nascimento em regime de escravidão ou servidãoou ainda ascendência escrava ou servil; rapto ou seqüestro físico; vendade uma pessoa a outra; confinamento físico no local de trabalho; coaçãopsicológica (leia-se ordem de trabalhar acompanhada de ameaça de penaem caso de não cumprimento); endividamento induzido; engano sobre ascondições de trabalho; retenção ou não pagamento de salários; retençãode documentos. Quando o elemento definidor da situação do trabalhoforçado é a ameaça de pena, seus indícios característicos são a ameaçade violência física contra o trabalhador ou sua família; a ameaça deviolência sexual; a ameaça de represálias sobrenaturais; a ameaça deconfinamento físico ou de imposição de penas financeiras; a ameaça dedenúncia às autoridades e de deportação; a ameaça de demissão, deexclusão de futuros empregos ou da comunidade e da vida social; aameaça da supressão de direitos ou privilégios; a ameaça de privação dealimentos, abrigo ou outras necessidades; a ameaça de imposição decondições de trabalho ainda piores; e finalmente a ameaça à perda dacondição social. (VASCONCELOS & BOLZON, 2008, p. 8-9)
Nessa linha de raciocínio procurou-se expandir a percepção do ensino de
História, bem como, instigar os alunos a perceberem que os acontecimentos atuais
são resultados de interesses que fizeram parte do passado, sendo assim, a História
é concebida a partir de mudanças e continuidades. Cabendo ao educando
desenvolver, se assim não o fez, o seu olhar crítico sobre a sua realidade vivida.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 A QUESTÃO DO ENSINO DE HISTÓRIA
No processo de ensino e aprendizagem da disciplina de História, busca-se a
formação completa do educando, nos aspectos cognitivos, sociais, políticos, afetivos
e culturais, num sentido que ele possa se reconhecer como sujeito integrante da
História. Capaz de perceber que a História é produto da criação humana, bem como,
é constituída de permanências e transformações no decorrer do tempo e do espaço.
Possibilitando a esse educando, perceber características da sociedade atual e traçar
paralelos com outras realidades em diferentes tempos e espaços.
O que se vislumbra, então, é que o processo educativo formal contempleperspectiva de dar sentido aos conteúdos, à aprendizagem, aoconhecimento. Espera-se desse modo que crianças, adolescentes e jovens,na relação com a sua natureza histórica e cultural consigam portar-se,manter-se e situar-se dentro da sua comunidade, nos diversos níveis deensino e, principalmente, na disputa por um projeto de sociedade mais justa,fraterna e plural. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO/SECAD, 2006, p.141)
O sujeito é resultado do tempo histórico que ele vive, sendo assim, influencia
e sofre influência do mundo que o cerca através das relações sociais. Recebe
informações da mídia, de livros, de amigos, da internet, entre outros. E, ao professor
cabe fazer a organização desses saberes fragmentado por meio de debates,
confronto de versões e análises, sempre problematizando o conteúdo estudado. O
que para SCHMIDT & CAINELLI (2004),
Problematizar o conhecimento histórico significa em primeiro lugar partir dopressuposto de que ensinar História é construir um diálogo entre presente e
o passado, e não reproduzir conhecimentos neutros e acabados sobre fatosque ocorreram em outras sociedades e outras épocas. (SCHMIDT &CAINELLI, 2004, p.52)
De acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais os conteúdos,
Devem ser tratados, na escola, de modo contextualizado [...] propõe-se quetais conhecimentos contribuam para a crítica às contradições sociais,políticas e econômicas presentes nas estruturas da sociedadecontemporânea. (DCE, 2008, p. 14)
A necessidade de se fazer um ensino de História que ultrapasse a mera
transmissão de conhecimentos prontos e acabado,
O professor de História pode ensinar o aluno a adquirir as ferramentas detrabalho necessárias; o saber-fazer, o saber-fazer-bem, lançar os germes dohistórico. Ele é o responsável por ensinar o aluno a captar e a valorizar adiversidade dos pontos de vista. Ao professor cabe ensinar o aluno alevantar problemas e a reintegrá-los num conjunto mais vasto de outrosproblemas, procurando transformar, em cada aula de História, temas emproblemáticas. Ensinar História passa a ser, então, dar condições para queo aluno possa participar do processo do fazer, do construir a História.(SCHMIDT, 2009, p. 57)
O ensino de História não deve ser pensado a partir de fatos isolados, deve-se
buscar situações no processo de ensino e aprendizagem que garantam que o
educando compartilhe de uma visão mais ampla, que possa a partir da educação,
ser mais crítico e autocrítico, e com isso, perceba que ele também faz parte da
História como agente transformador da sociedade.
2.2 ESCRAVIDÃO NEGRA NO BRASIL
O modelo de colonização que os portugueses implantaram no Brasil, pautado
na grande propriedade, tinha como finalidade básica a de fornecer ao comércio
europeu produtos alimentícios ou minérios de grande importância. Para tanto, fazia-
se necessário a utilização do trabalho compulsório. Inicialmente utilizou-se a mão de
obra do índio e, posteriormente, a do negro africano.
De acordo com Fausto (2010):
As razões da opção pelo escravo africano foram muitas. É melhor não falarem causas, mas em um conjunto de fatores. A escravidão do índio chocou-
se com uma série de inconvenientes, tendo em vista os fins da colonização.Os índios tinham uma cultura incompatível com o trabalho intensivo eregular e mais ainda compulsório, como pretendido pelos europeus. Nãoeram vadios ou preguiçosos. Apenas faziam o necessário para garantir suasubsistência, o que não eram difícil em uma época de peixes abundantes,frutas e amimais. Muito de sua energia e imaginação era empregada nosrituais, nas celebrações e nas guerras. As noções de trabalho contínuo oudo que hoje chamaríamos de produtividade eram totalmente estranhas aeles. (FAUSTO, 2010, p. 49)
O tráfico negreiro foi muito vantajoso economicamente, o que transformou o
escravo em mercadoria, o qual não tinha direito reconhecido pela lei, e na maioria
das vezes não era reconhecida a sua condição humana.
A escravidão foi uma instituição nacional. Penetrou toda a sociedade,condicionando seu modo de agir e de pensar. O desejo de ser dono deescravos, o esforço por obtê-los ia da classe dominante ao modesto artesãobranco das cidades. Houve senhores de engenho e proprietários de minascom centenas de escravos, pequenos lavradores com dois ou três, laresdomésticos, nas cidades, com apenas um escravo. O preconceito contra onegro ultrapassou o fim da escravidão e chegou modificado a nossos dias.Até pelo menos a introdução em massa de trabalhadores europeus nocentro-sul do Brasil, o trabalho manual foi socialmente desprezado como“coisa de negro”. (FAUSTO, 2010, p. 69)
A relação entre os senhores e escravos negros não se estabeleceu de forma
pacífica desde o início, pois os escravos negros também não aceitavam a sua
condição de explorado e agrediam seus senhores e causavam prejuízos a estes,
bem como, realizavam fugas, tanto individuais como em massa. Segundo Chagas
(2009):
Na condição de fugidos e não fugitivos, os (as) escravizados (as) seembrenhavam mata adentro, e formaram comunidades negras. Geralmenteas terras ocupadas eram férteis e localizavam-se nas regiões altas e de difícilacesso; uma estratégia que garantia a sobrevivência do grupo, poisdificultava o acesso de estranhos, ou seja, dos caçadores de escravos. Poroutro lado, a localização dos quilombos no topo das montanhas e serraspossibilitava aos aquilombados enxergar os movimentos de ataque eorganizar a defesa ou fuga para outras localidades. (CHAGAS, 2009, p. 24).
Mesmo com inúmeras formas de resistência, os escravos negros ou afro-
brasileiros tiveram que se submeter ao trabalho compulsório. Foram obrigados a se
adaptar, pois diferente dos índios, os negros foram tirados de seus países e
separados de seus familiares e amigos e, encaminhados para diferentes regiões do
Brasil.
Vindos de diversas regiões, sobretudo da Guiné, Angola, Congo eMoçambique, eram deixados em cativeiros na própria África, até a chegadado comerciante europeu para serem transportados. Uma vez embarcadosnos navios negreiros, conhecidos como tumbeiros, os novos escravos eramtratados com violência. Nus e mal alimentados, eram castigados e expostosa todos os tipos de doenças e humilhações desde o cativeiro no continenteafricano. (VÁRIOS AUTORES, 2006, p. 74)
A força de trabalho do escravo era explorada ao máximo, trabalhavam de sol-
a-sol, e eram tratados da pior forma. Recebiam uma alimentação de péssima
qualidade, roupas em farrapos, e viviam em senzalas úmidas e com pouca higiene.
Viviam sob vigilância dos capitães do mato e constantemente recebiam castigos
físicos, e eram aprisionados por correntes para evitar as tentativas de fugas. Dessa
forma percebesse uma legitimação da ideia de poder e de superioridade do senhor
de escravos sobre o negro. Segundo Munanga (1986):
O sistema escravista foi uma experiência crucial para os negros, visto queos europeus, convencidos de sua superioridade, tinham um total desprezopelo mundo negro, apesar de todas as riquezas que deles tiraram. Anecessidade de manter a dominação por suas vantagens econômicas epsicossociais levaram defensores da situação colonial a recorrerem nãosomente a força bruta, mas, a outros recursos de controle, como o dedesfigurar completamente a personalidade moral do negro e suas aptidõesintelectuais (MUNANGA, 1986, p. 9).
O escravo negro era uma das mais valiosas mercadorias, enriqueceu os
traficantes portugueses, bem como, de outras nações européias como holandeses,
franceses e ingleses. Esse comércio fortalecia o sistema colonial entre a metrópole
portuguesa e a colônia brasileira.
2.3 ESCRAVIDÃO HOJE
Mesmo que seja difundida a ideia de que a escravidão no Brasil tenha sido
extinguida, nos dias atuais não é raro presenciar situações de trabalhadores que
estão sendo submetidos à condição análoga à de escravo.
Trabalhadores, não mais vistos como posse como era no período colonial,
mas, igualmente explorados e violados na sua condição de cidadão com a perda de
seus direitos humanos.
A escravidão é tão antiga quanto a própria história da humanidade. NoBrasil, não obstante a liberdade formal, a vida dos descendentes dosescravos pouco mudou nos anos que se sucederam e, ainda [...] sãocomuns notícias de trabalhadores libertados de condições análogas às deescravos. (ANTERO, 2007, p. 05)
Essa relação de trabalho escravo na atualidade é tão lucrativa quanto o foi no
período colonial, pois não diferente o que se pretende é a obtenção de lucros cada
vez maiores sobre o trabalho do explorado.
A escravidão moderna deve ser tratada como um problema de ordem social,
política e econômica. E, para que haja a sua extinção é preciso uma conscientização
de todos os governantes e demais segmentos da sociedade brasileira. Para
ANTERO (2007),
A erradicação do trabalho escravo talvez seja um dos poucos problemassociais que, se corretamente instrumentalizado, pode ser extinto em curtoprazo. Entretanto, é necessário focalizar mais nas causas do problema doque em suas conseqüências. Para erradicar-se o trabalho escravo, sãonecessárias ações estruturais nas regiões afetadas que incluam,orquestradamente, políticas de desenvolvimento sustentável; de reinserçãosocial; de trabalho, emprego e renda; de reforma agrária; e de educação.Ademais, devido às suas especificidades, qualquer articulação se tornaineficaz sem um ágil sistema de combate à impunidade. (ANTERO, 2007, p.10-11)
Como acontece em outros países do ocidente, no Brasil há uma escravidão
“ilegal”, onde o empregado é recrutado por um empreiteiro, também conhecido como
“gato”, para exercer várias funções, como por exemplo, a de derrubada de mata,
cultivo de cana-de-açúcar, feijão, frutas, exploração de madeiras, na produção de
carvão vegetal, entre outras.
Esse retrato revela tendências do mercado de trabalho mundial quecontribuem para a fragilização da observância e respeito a direitosfundamentais de trabalhadores e trabalhadoras – o que pode se manifestarna forma de continuidade de certos padrões de exploração do trabalho ou,ainda, no surgimento de novas formas exploração. Um desafio que tem secolocado de maneira premente para governos, sociedade civil e organismosinternacionais é a perpetuação de diferentes modalidades de trabalhoforçado ainda presente em países com distintas realidades econômicas esociais. (VASCONCELOS & BOLZON, 2008, p. 67-68)
E, esses trabalhadores que podem ser homens, mulheres, adolescentes e
crianças, sem saber as condições reais de trabalho, de alimentação, de alojamento,
são levados para regiões distantes de suas casas, podendo ser até mesmo em
outros estados. Os locais de trabalho são bem característicos, ou seja, não oferece
a mínima condição de higiene, não possuem instalações sanitárias, inexistência de
atendimento médico e de primeiros socorros.
Nessa condição de escravizado, o empregado não pode voltar para a sua
casa tão facilmente, pois contraiu dívidas de transporte, alimentação, ferramentas,
entre outras. Dessa forma a sua liberação seria somente pelo pagamento da dívida,
o que é praticamente impossível. Outra maneira seria a fuga, o que é um risco muito
grande, pois o mesmo seria perseguido e, se capturado receberia castigos físicos e
teria seu retorno ao trabalho, ou até mesmo, seria assassinado.
Essa prática de exploração de trabalho escravo não acontece exclusivamente
no meio rural, é possível encontrar casos de trabalhadores nos centros urbanos
sendo mantidos sob coação e violência física e moral. Entre estes, podemos citar
estrangeiros e pessoas que são vítimas da exclusão social e econômica que
facilmente são incluídos nessa prática do trabalho escravo nas áreas urbanas.
3. O PERCURSO DA IMPLEMENTAÇÃO
O projeto de intervenção pedagógica foi realizado com os alunos do 2º ano
“A” do Ensino Médio do Colégio Estadual Jardim Alegre, do município de Telêmaco
Borba, Paraná, no ano de 2014 e, para atingir os objetivos propostos, as atividades
foram iniciadas na última semana de fevereiro e concluídas na última semana de
abril.
No primeiro encontro da implementação foi realizada a apresentação do
projeto e pôde contar com a presença de 29 alunos, os quais se mostraram muito
interessados em participar, pois o tema “Escravidão Negra e Trabalho Escravo na
Atualidade” foi considerado relevante para as suas vidas, a partir do momento que
eram alunos do ensino médio e alguns já estarem fazendo parte do mercado de
trabalho. Tendo em vista, que a implementação pedagógica visava o desenvolvido
da formação intelectual do educando de forma crítica, enquanto agente social e
histórico.
O segundo encontro foi de extrema importância, pois neste foi realizado uma
sondagem entre os alunos para saber o nível de conhecimento sobre o tema, para
problematizá-lo, bem como, despertar no educando o interesse e o envolvimento do
mesmo no processo de ensino e aprendizagem, objetivando com isso, um
conhecimento mais significativo. Neste momento, percebeu-se que a grande maioria
mostrou ter uma visão geral do que foi a Escravidão Negra no Brasil, bem como, que
ainda existem práticas escravistas nos dias de hoje. No entanto, ficou claro que este
conhecimento prévio dos educandos precisava ser organizado sistematicamente, e
tais questões puderam conduzir as discussões acerca do tema. Como podemos
observar em alguns exemplos de participações dos alunos:
“Ser escravo é quando uma pessoa é racista e pega uma pessoa negra pra fazer
tudo que ela ou ele manda”. (Aluno A)
“Ao meu ponto de vista, ser escravo e fazer um determinado trabalho pra alguém, é
fazer isso sempre, sem receber nada em troca”. (Aluno B)
“Ser escravo é trabalhar sem direito algum ser tratado como um bicho ou pior, sem
salário, sem uma alimentação digna, ser escravo é triste”. (Aluno C)
“Ser escravo é não ser livre”. (Aluno D)
“Desde 1888 eu acho que não tem pessoas sendo escravas e nem pessoas sendo
exploradas”. (Aluno E)
“Acho que ainda existe exploração nos dias atuais, creio que em algum lugar do
mundo, crianças principalmente, são exploradas”. (Aluno F)
“A escravidão existe, talvez muitas pessoas não saibam, não seja uma coisa tão
visível mais existem muitas mulheres e crianças fazendo trabalho escravo hoje no
Brasil”. (Aluno G)
“Muitas pessoas são retiradas de suas casas e levadas para outras cidades com
promessas de emprego, chegando lá são escravizadas, ou seja, obrigados a
trabalhar sem receber salário, mantidos presos apanhando, sob péssimas
condições”. (Aluno H)
A partir dos apontamentos dos educandos acerca do tema da implementação
pedagógica, foi iniciado no terceiro encontro, e dado continuidade no quarto
encontro o trabalho com o texto “Escravidão Negra no Brasil”; foram realizadas as
leituras dos textos complementares; as leituras de imagens da escravidão negra
apresentadas no texto; foram realizadas as atividades propostas, tais como:
pesquisa em revistas e na internet de imagens sobre a escravidão para a confecção
de cartazes. Foi assistido o recorte do filme Amistad (Drama, país Estados
Unidos, 1997, direção Steven Spielberg, duração do trecho 9 min 49 s).3 Depois que
assistiram o trecho do filme Amistad os educandos responderam as questões sobre
o vídeo.
Na sequência foi realizada uma discussão acerca do assunto “Escravidão
Negra no Brasil”, com o objetivo de fazer uma síntese integradora de tudo que foi
estudado no terceiro e quarto encontro, para que juntos, pudéssemos sanar
qualquer dúvida que ainda pudesse existir. O resultado dessa fase de estudo foi
significativo, pois foi possível perceber que os educandos conseguiram compreender
o assunto apresentado e participaram do processo de construção do conhecimento.
Dando continuidade à implementação da unidade didática, no quinto e sexto
encontro, foi estudado o texto “Exploração do Trabalho na Atualidade”, bem como,
realizadas as leituras dos textos complementares. Com o uso da internet
pesquisaram definições para o termo escravidão, sendo que, posteriormente
socializaram para o grande grupo. Foi proposto que elaborassem uma definição do
termo levando em consideração os apontamentos do grupo, resultando na seguinte
definição:
“Trabalho sem direito, sem condições normais de vida, sem direitos de escolhas,
maus tratos e sofrimentos, isso define a escravidão”. (Alunos 2º “A” ano - 2014)
Para a realização da atividade de seminário foi utilizado os seguintes textos
extraídos da internet:
• O que é trabalho escravo.4
• Como uma pessoa escrava se torna livre.5
• Trabalho escravo atualmente.6
• Brasil é elogiado, mas fica entre 100 piores em ranking de trabalho escravo.7
3 Disponível em http://www.historia.seed.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=17235.
4Disponível em: http://reporterbrasil.org.br/trabalho-escravo/
5Disponível em: http://reporterbrasil.org.br/trabalho-escravo/como-uma-pessoa-escrava-se-torna-livre/
6Disponível em: http://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/trabalho-escravo/trabalho-
escravo-atualmente.aspx
7Disponível em: http://www.forcasindicalbahia.com.br/2013/10/17/brasil-e-elogiado-mas-fica-entre-100-
piores-em-ranking-de-trabalho-escravo/
O objetivo do estudo dos textos foi fundamentar os educandos acerca da
temática “Escravidão na Atualidade”, para tanto foi realizado o seminário, no qual
foram apresentados os pontos relevantes dos textos para posterior discussão. Pode-
se dizer que esta atividade apresentou resultados positivos esperados, pois houve
uma participação quase que unânime da turma de forma significativa.
No sétimo encontro foi assistido o vídeo “Trabalho escravo no Brasil atual”
(duração 13 min 18 s).8 E, respondidas as questões que foram elaboradas para
direcionar o entendimento do vídeo. Nesta atividade percebeu-se que os alunos
conseguiram fazer a diferenciação entre a escravidão negra e a escravidão hoje;
porque as pessoas da classe social menos favorecidas são potencialmente
vulneráveis nos dias de hoje para se tornarem escravas, e que muitos homens,
mulheres e crianças se encontram trabalhando em condições sub-humanas iguais
as que os escravos negros eram submetidos, percebendo assim, características
análogas a dos escravos negros do Brasil Colonial.
A partir de toda fundamentação realizada por meio da pesquisa bibliográfica,
da internet, leituras de textos e imagens e, assistido aos vídeos com as temáticas
“Escravidão Negra no Brasil” e “Escravidão na Atualidade”, foi proposto para que os
educandos escrevessem um texto para expressarem o que haviam compreendido
de todo o tema estudado na unidade didática. O resultado foi satisfatório quando se
percebeu a diferenciação entre diferentes espaços e tempos, inclusive na
atualidade, portanto com características próprias de cada sociedade. E, que as
vítimas das atividades escravistas podem ser as mais variadas possíveis,
indiferentes de sexo, cor, idade, religião, etc.
Como fechamento das atividades com os educandos, todos os materiais
produzidos foram expostos no saguão do colégio para a apreciação da comunidade
escolar, com o objetivo de divulgar e compartilhar o conhecimento adquirido durante
o processo de ensino aprendizagem.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Existe a necessidade de se buscar um ensino de história que forme cidadãos
críticos, pois dessa forma, nossos educandos poderão agir contra essa prática
8 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_IXzAUf_JwI.
exploratória, seja para não se tornarem vítima, ou para que tenham clareza que
devem realizar denúncias às autoridades competentes, com o objetivo de erradicar o
trabalho escravo. Portanto, ter condições de buscar uma mudança significativa da
sua realidade. Pois sabemos que é mais difícil enganar um cidadão que conhece a
sua história, bem como, seus direitos.
O tema escravidão não é novo na historiografia, e este trabalho procurou
apresentar o assunto abrindo possibilidades de refleti-lo numa forma mais
abrangente. Fazendo relação do passado com o presente, de forma contextualizada,
para que o educando observe ao seu redor e possa fazer parte da discussão da
História.
Os textos propostos na unidade foram de fácil compreensão, no entanto, a
discussão não se esgotou nele, foram apresentados comentários enriquecedores,
tanto por parte dos educandos, como também, pelos direcionamentos dados pelo
professor PDE. Os alunos não encontraram dificuldades para responder as
atividades propostas, pois estas foram elaboradas para que os mesmos tivessem
autonomia para responder de forma pessoal, visando o seu posicionamento crítico.
O uso de recortes de filmes são bastante aceitos na prática diária da sala de
aula, os que foram sugeridos para a implementação da unidade didática chamou
muito a atenção dos educandos, tanto o recorte do filme Amistad, bem como, o
vídeo “Trabalho escravo no Brasil atual”, por serem curtos não tornaram cansativos
os encontros e todos prestaram atenção do início ao fim. Foi muito proveitoso pelo
direcionamento dado às questões que se seguiram aos vídeos.
Ficou evidente que houve uma ampliação dos conceitos dos alunos sobre o
tema escravidão, pois na produção do texto surgiram afirmações acerca do tema,
como por exemplo, que9 “a escravidão é uma forma de exploração desumana, que
existiu nos diversos momentos da História. Que no Brasil Colonial usaram a mão de
obra do negro, e que nos dias de hoje utilizam a mão de obra de forma
indiscriminada, pois homens, mulheres e crianças são explorados, sem levar em
consideração características como a cor da pele, a religião, a idade, entre outras. E,
que não devemos aceitar essa prática como sendo algo natural do Sistema
Capitalista, e sim, nos revoltarmos e não aceitarmos pacificamente os nossos
semelhantes viverem essa condição de escravidão, bem como, não se tornar vítima
9 Depoimento doas alunos acerca do tema.
desse processo. Denunciando qualquer tipo de trabalho exploratório às autoridades
competentes”.
Afirmações estas, que confirmam a pertinência do trabalho, no momento que
atingiu o objetivo que era fazer os educandos mudarem as suas atitudes em relação
à sociedade que estão inseridos. Foi muito evidenciado o papel das pessoas
“comuns” como agentes históricos transformadores e, que eles fazem parte desse
grande grupo.
5. REFERÊNCIAS
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do Trabalho Escravo. Disponível em:
<http://www.planejamento.gov.br/secretarias/upload/Arquivos/seges/EPPGG/produc
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CHAGAS, Waldeci Ferreira. Por dentro da História – Formação docente e cultura
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FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São
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SCHMIDT, Maria Auxiliadora. A formação do professor de história e o cotidiano da
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São Paulo: Contexto, 2009.
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VASCONCELOS, Márcia; BOLZON, Andréa. Trabalho forçado, tráfico de pessoas
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<HTTP://www.scielo.br/pdf/cpa/n31/n31a04.pdf>. Acesso em 04/05/2013.