os desafios da escola pÚblica paranaense na … · 2016-08-02 · eram abandonados, perseguidos e...
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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
REFLEXÃO SOBRE O PRECONCEITO VOLTADO À INCLUSÃO E DIVERSIDADEESCOLAR
Ilma da Silva
Profª orientadora- Drª Elsa Midori Shimazaki
Resumo: O presente artigo é resultado de estudos realizados durante o Programa deDesenvolvimento Educacional do Estado do Paraná – PDE, tendo como objetivo refletir com osalunos atendidos na Sala de Recursos Multifuncional o preconceito e as diversas formas dediscriminação que estes alunos sofrem, no interior da escola onde atuamos, como docente e nocurso de formação continuada GTR – Grupo de trabalho em rede com os professores da redeestadual de ensino. Esses alunos são vitimizados na sala regular pelos colegas da turma, professorese funcionários, pois não atendem aos padrões de inteligência impostos pela sociedade e isso, muitasvezes, afastam da escola ou não têm o rendimento, escolar esperado. Por meio das ações propostas,em nosso material didático pretendemos verificar se as ações planejadas para esse fim são capazesde minimizar o preconceito e a discriminação por eles sofridos. E, assim, resgatar suaautoconfiança, melhorar sua autoimagem, levando-os a entenderem o propósito dessa sala, enquantoespaço de direito à promoção do ensino e aprendizagem.
Palavras Chave: Educação, Educação Especial; Educação Inclusiva; Sala de Recursos;Preconceito; Práticas Pedagógicas.
Introdução:
O presente artigo constitui uma das atividades do Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE) – da Secretaria Estadual de Educação do Estado do Paraná (SEED/PR) trata-se
de uma produção metodológica e faz reflexão sobre preconceito voltado à inclusão e diversidade
escolar, nossa temática de estudo.
Sob a orientação da Professora Drª Elsa Midori Shimazaki – UEM que orientou as leituras
de vários autores como: França (1998); Itani (1998); Lopes (2003); Miranda (2003); Alves (2006);
Ferreira (2009); Figueiredo (2010); Benvenutti (2011); Tessaro (2013); Leonel (2014), os cursos de
formação geral e específica oferecidos pela Universidade Estadual de Maringá – UEM, durante o
ano de 2014, as capacitações ofertadas pela SEED, por meio dos CTRES e dos núcleos Regionais,
contribuíram para reforçar nosso questionamento: Quais os preconceitos que sofrem os alunos que
estudam na Sala de Recursos Multifuncional e como fazer para minimizar?
A nossa problematização em questão surgiu das observações e reflexões realizadas no
interior da escola onde trabalhamos o Colégio Estadual Flauzina Dias Viégas – E.F.M., que
localiza-se no Jardim Morumbi, no município de Paranavaí, estado do Paraná e as famílias que
vivem nesse contexto, muitas vezes, experiênciam, uma sociedade desigual, injusta e violenta. As
condições de vida material dos alunos são precárias e isso reflete no acesso ao conhecimento e, até
mesmo, nos valores sociais.
Há alunos que demonstram atitudes agressivas e alguns envolvimentos com drogas e
pequenos furtos, o que geram preocupação e inquietação aos pais e, consequentemente, na escola.
Buscamos oferecer um atendimento diferenciado para todos que nela estão inseridos se apropriem
do conteúdo escolar.
Assim, o nosso Projeto de Implementação Pedagógica na escola e nossa unidade didática
subsidiaram o resultado deste artigo que foi aplicado no Colégio Estadual Flauzina Dias Viégas –
E.F.M., localiza-se no Jardim Morumbi, no município de Paranavaí, estado do Paraná onde,
observamos que as famílias que vivem nesse contexto, muitas vezes, experiênciam, uma sociedade
desigual, injusta e violenta. As condições de vida material dos alunos são precárias e isso reflete no
acesso ao conhecimento e, até mesmo, nos valores sociais.
Nosso projeto de intervenção teve como público-alvo os alunos da Sala de Recursos
Multifuncional, dos 6º aos 9º anos do Ensino Fundamental II, da qual sou docente, num total de
treze 13 alunos e, sob forma de curso de formação continuada – GTR (Grupo de Trabalho em Rede)
para os professores da rede estadual de ensino. Com o objetivo de estudarmos o preconceito em
aluno da Sala de Recursos Multifuncional no Ensino Regular e buscar formas de minimizá-los.
1 História Da Educação Especial
A Educação Especial data de tempos remotos e sua história não é diferente, porém os
primeiros escritos acerca do tema são sucintos, nas sociedades antigas, os deficientes não tinham
valor, pois não serviam à nobreza com sua força de trabalho e não promoviam sua própria
subsistência. Sendo assim, Leonel (2014) destaca que diante dos valores éticos e morais da época,
as práticas de extermínio ou abandono dos deficientes eram aceitáveis.
Existem registros históricos acerca do preconceito e intolerância com os deficientes. Um
deles é o de que algumas tribos aceitavam as crianças ou os adultos com deficiência,
[...] mas acreditavam que os maus espíritos habitavam essas pessoas e a maioria das tribos
era nômade e acabava abandonando os idosos, os doentes e os deficientes, porque essas
pessoas geralmente não conseguiam acompanhar o ritmo das caminhadas do grupo. A
morte se dava por inanição ou eram devorados por animais ferozes (SHIMAZAKI; MORI,
2012, p. 31).
As autoras supracitadas, afirmam que os deficientes no passado eram comparados a
“demônios”, com a alma habitada por maus espíritos e, também considerados inúteis por
apresentarem dificuldades ao caminhar e desse modo atrapalhar o dia- a- dia da tribo, sendo assim,
abandonadas até sua morte.
Na antiguidade, Pessotti (1984, apud LEONEL, 2014), ressalta que Platão (427-399 a.C.) e a
seguir Aristóteles (384-322 a.C.) admitiam a prática do abandono à morte dos deficientes, em nome
do equilíbrio e da organização política.
A pessoa com deficiência nem sempre foi valorizada e respeitada em função das suas
diferenças, segundo Tessaro (2013), durante muito tempo representou segmento totalmente
ignorado, sendo, portanto, vítima de abandono, rejeição, maus-tratos e até mesmo mutilações.
Ainda de acordo com a referida autora foi apenas a partir do século XX que começou a ter
uma melhor aceitação dos deficientes, momento em que se iniciou a sua desinstitucionalização e
educação escolar. Pois vale lembrar que até este período eram segregados e praticamente privados
de convívio social, ressalta o autor supracitado.
Assim, podemos inferir que a trajetória na luta pelos direitos dos deficientes, ao longo da
história, não foi fácil e, constataremos também, que as conquistas iniciais foram de certa forma,
ínfimas perante a perpetuação do preconceito, da ignorância e a discriminação ao longo da história
e, por estarem presente nos dias atuais.
Inicialmente é evidenciada uma primeira fase, marcada pela negligência, na era pré-cristã,
em que havia uma ausência total de atendimento. Assim, segundo Miranda (2003) os deficientes
eram abandonados, perseguidos e eliminados devido às suas condições atípicas, e a sociedade
legitimava essas ações como sendo normais.
Na era cristã, segundo Miranda (2003) apud Pessotti (1984) o tratamento variava segundo as
concepções de caridade ou castigo predominantes na comunidade em que o deficiente estava
inserido.
Desde a Antiguidade, com a eliminação física ou o abandono, passando pela prática
caritativa da Idade Média, o que era uma forma de exclusão, ou na Idade Moderna, em que o
Humanismo, ao exaltar o valor do homem, segundo Miranda (2003) tinha uma visão patológica da
pessoa que apresentava deficiência, o que trazia como consequência sua separação e menosprezo da
sociedade, podemos constatar que a maneira pela qual as diversas formações sociais lidaram com a
pessoa que apresentava deficiência reflete a estrutura econômica, social e política do momento.
Algumas contradições envolvendo os deficientes foram recorrentes na Idade Média. Mazotta
(2011, apud LEONEL, 2014),
“[...] aponta que ora os deficientes eram vistos como divindades, ora como
demônios, também acrescenta que naquele momento da história, os
deficientes por suas condutas, eram considerados como uma ameaça à
sociedade, por isso eram colocados à margem da condição humana e
segregados da sociedade”. (MAZOTTA 2011, apud LEONEL, 2014, p.125)
Na Idade Média surge uma nova classe social: o clero. Anteriormente a sociedade se
constituía pelos serviçais; povo, escravos, deficientes; e pela nobreza. Leonel (2014) enfatiza que
com a força que a Igreja alcançava, esta classe passou a exercer o poder político e econômico,
comandando a sociedade e influenciando-a no tratamento do deficiente.
Com o clero possibilitou-se um avanço no tratamento ofertado ao deficiente, especialmente
pelo fato de que esses não tinham tido nenhum tipo de tratamento.
Esta autora destaca ainda, que a partir do surgimento na Idade Média da expressão “les
enfants du bom Dieu” foi o marco para a tolerância e aceitação deste público, com o aparecimento
dos primeiros escritos que trazem alguma forma de tratamento aos deficientes.
No século XVI o deficiente era considerado doente e precisava de tratamento que era
realizado por meio da alquimia, magia e da astrologia. Já no início do século XVII ocorre um
avanço na área da medicina fortalecendo a tese da organicidade. (PRINT apud PESSOTI, 1984).
A partir do século XVIII surgem às teorias do desenvolvimento por meio de estímulos e,
mesmo com os avanços da medicina, a institucionalização do deficiente permanecesse por mais de
quinhentos anos, a saber, os séculos XVIII e XIX ficaram marcados pelo surgimento da
institucionalização como uma forma de atendimento e proteção aos deficientes. Suas ações eram de
caráter assistencialista e não eliminavam as práticas de segregação, e assim a preocupação era
voltada ao cuidar, e não ao educar (LEONEL 2014).
Com o desenvolvimento científico, a psicologia se expandia e seus conhecimentos
tornavam-se públicos, o que contribuiu para os avanços nos tratamentos para deficientes hoje
existentes.
Porém, durante a maior parte da História da Humanidade, Miranda (2003) ressalta que o
deficiente foi vítima de segregação, pois a ênfase era na sua incapacidade, na anormalidade.
Mudanças importantes iniciam nos anos de 1940 e 1950, primeiramente começam a
questionar: a origem constitutiva das deficiências e se estas são ou não incuráveis, segundo a
influência das posições ambientalistas e behavioristas, não eram mais só os testes de QI que deveria
ser levados em conta, mas também, as influências sociais e culturais para determinar os níveis de
deficiência. (COLL, MARCHESI & PALACIOS 2010, p.17)
Somente no século XX, década de 1960 que começaram a surgir movimentos na Europa
contra o paradigma da Institucionalização e, é a partir desta década que se impulsiona um forte
movimento social que favorecem mudanças de paradigmas como: uma nova concepção dos
transtornos do desenvolvimento e da deficiência, uma perspectiva distinta dos processos de
aprendizagem e das diferenças individuais, a revisão da avaliação psicométrica, a presença de um
maior número de professores competentes, a extensão da educação obrigatória, a avaliação das
escolas da educação especial, as experiências positivas de integração, a existência de uma corrente
normatizadora no enfoque dos serviços sociais e os movimentos sociais a favor da igualdade.
(COLL, MARCHESI & PALACIOS, 2010, p.17-19)
Na década de 1970 teremos a continuidade do movimento da Integração que surgiu na
década de 1960, porém permanece ainda, o conceito de normalização, expressando que ao
deficiente devem ser dadas condições as mais semelhantes às oferecidas na sociedade em que ele
vive
Em meados da década de 90, no Brasil, começaram as discussões em torno do novo modelo
de atendimento escolar denominado Inclusão Escolar. (MIRANDA, 2003)
Para Mendes (2001), na literatura sobre a Educação Especial no mundo percebem-se quatro
fases de notáveis transformações: a era da negligência, a da institucionalização, a da educação
segregada e a atual fase da educação integrada ou o paradigma da educação inclusiva, que
apresentaremos no corpo dessa pesquisa.
Nessa perspectiva, educação inclusiva, as Salas de Recursos começam a ser abertas, nas
escolas de ensino regular, como forma de cumprir a legislação vigente no Brasil, tópico a seguir a
ser pontuado. E a multifuncional, foi após a SR.
1.1 Sala De Recursos/Sala De Recursos Multifuncionais
Neste capítulo, será utilizado ora nomenclatura, sala de recursos, ora, sala de recursos
multifuncionais por questões bibliográficas e, documentos legais. Porém, é mister relatarmos os
documentos que norteiam a implantação de ambas.
No estado do Paraná, o serviço especializado foi implantado conforme a Resolução
CNE/CEB n. 01/02 e a Deliberação CEE 02/03. (PARANÁ 2006, p.53)
Porém, por questões legislativas e financeiras, (grifo nosso), a INSTRUÇÃO N° 016/2011
– SEED/SUED vem estabelecer os critérios e a definição das salas de recursos multifuncionais, a
saber:
Sala de Recursos Multifuncional – Tipo I, na Educação Básica é um atendimento
educacional especializado, de natureza pedagógica que complementa a escolarização de
alunos que apresentam deficiência Intelectual, deficiência física neuromotora, transtornos
globais do desenvolvimento e transtornos funcionais específicos, matriculados na Rede
Pública de Ensino. (PARANÁ, INSTRUÇÃO N° 016/2011).
No tocante a definição que tipificam ambas, Sala de Recursos e/ou Sala de Recursos
Multifuncional não há contradições ao atendimento, sua natureza pedagógica e os educandos
atendidos, o que constaremos a seguir.
A Educação Especial, como modalidade da educação escolar responsável pelo atendimento
educacional especializado, segundo Alves (2006) organiza-se de modo a considerar a aproximação
dos pressupostos teóricos à prática da educação inclusiva, a fim de, cumprir dispositivos legais,
políticos e filosóficos.
Os alunos com necessidades educacionais especiais têm assegurado na Constituição Federal
de 1988, o direito à educação (escolarização) realizada em classes comum e ao atendimento
educacional especializado complementar ou suplementar à escolarização, que deve ser realizado
preferencialmente em salas de recurso na escola onde estejam matriculados, em outra escola, ou em
centros de atendimento educacional especializado. Esse direito também está assegurado na LDBEN
– Lei nº. 9.394/96, no parecer do CNE/CEB nº. 17/01, na Resolução CNE/CEB nº. 2, de 11 de
setembro de 2001, na Lei nº. 10.436/02 e no Decreto nº. 5.626, de 22 de dezembro de 2005.
(ALVES, 2006, p. 13)
Vale destacar que dentre esses direitos assegurados aos alunos com necessidades educativas
especiais, de acordo com Asfora (2012) está o direito à educação, à aprendizagem, em um sistema
educacional inclusivo, às crianças com necessidades especiais e promova o seu desenvolvimento,
dando-lhes oportunidades de aprendizagem por meio de recursos e serviços que ajudem a eliminar
barreiras à aprendizagem, como por exemplo, a comunicacional e a pedagógica.
A Sala de Recursos é um dos direitos assegurados ao aluno com necessidades educativas
especiais, pois ela se enquadra nos serviços com recursos especializados de modo que este supra
suas necessidades educacionais, e que o professor da sala de aula regular não tem como sanar
adequadamente, devido especialmente ao número excessivo de alunos por sala, na escola pública.
(PARANÀ, 2005, Proc.610/05, Resolução CNE/CEB n. 01/02 e a Deliberação CEE 02/03)
As salas de recursos multifuncionais são espaços na escola onde se realiza o atendimento
educacional especializado para alunos com necessidades educacionais especiais, por meio do
desenvolvimento de estratégias de aprendizagem, centradas em um novo fazer pedagógico que
favoreça a construção de conhecimentos pelos alunos, subsidiando-os para que desenvolvam o
currículo e participem da vida escolar. (ALVES, 2006)
A sala de recurso é um importante instrumento para que o aluno com necessidades especiais
consiga melhorar seu desempenho escolar, na sala de aula regular e consequentemente obter um
processo de ensino e aprendizagem muito mais significativo condizente com sua realidade.
(ALVES, 2006)
Apesar da existência de uma política inclusiva, no território nacional, Benvenutti (2011)
destaca os equívocos em relação aos programas especiais oferecidos na escola regular: classe
especial, apoio permanente, apoio pedagógico e sala de recursos, embora todos os recursos
priorizem o educando, o enfoque de cada um é específico.
O autor destaca também, que existe preconceito por parte da comunidade escolar (colegas,
professores, equipe pedagógica e pais) em relação ao educando encaminhado para o Programa Sala
de Recursos Multifuncional, bem como, do próprio aluno que se sente inibido a participar dos
benefícios que lhe é assegurado por Lei. (BENVENUTTI, 2011)
Assim, a partir desse comentário constatamos que o educando de necessidades educacionais
especiais apesar de ter o direito a atendimento especializado assegurado por Lei nem sempre usufrui
de tal benefício, seja por vergonha ou por achar que não é necessário tal apoio pedagógico para o
seu pleno desenvolvimento.
O desenvolvimento do aluno na sala de recursos multifuncionais depende, primeiramente de
um atendimento especializado, focado em suas: potencialidades, habilidades e defasagens quer
acadêmicas ou sociais, de adaptações curriculares, de acompanhamento escolar contínuo e pleno
feito pelo professor especialista, equipe pedagógica e pela família. Porém, é a parceria entre a
escola e a família que garante o acesso e permanência destes educandos tanto no ensino regular
quanto em contraturno, nas salas de recursos multifuncionais, pois se este não frequentar
regularmente tais aulas no contraturno escolar, o docente especializado não conseguirá desenvolver
um trabalho de qualidade com o referido aluno. (ALVES, 2006)
Benvenutti (2011) destaca que em se tratando de Sala de Recursos Multifuncionais o
atendimento educacional não pode ser confundido como reforço escolar onde os alunos
selecionados precisam desenvolver os conceitos e conteúdos defasados no processo de
aprendizagem, observando as áreas do desenvolvimento cognitivo, motor, socioafetivo e emocional,
e podendo ainda beneficiar-se do atendimento o tempo necessário para superar suas dificuldades e
obtendo êxito na classe comum.
Alves (2006) salienta que o professor da sala de recursos Multifuncionais, que deve ter curso
especializado que o habilite para atuar na área da educação especial, deverá participar das reuniões
pedagógicas, do planejamento, dos conselhos de classe, da elaboração do projeto pedagógico,
desenvolvendo ação conjunta com os professores das classes comuns e demais profissionais da
escola para a promoção da inclusão escolar.
Pelo exposto, por Benvenutti (2011) e Alves (2006), inferimos que é de suma importância o
trabalho desenvolvido pelo professor do ensino regular e das SR e, quando esse trabalho é bem
articulado, entre professor do ensino regular, o aluno que recebe atendimento especializado, família
e professor especialista, da Sala de Recursos Multifuncionais, não só cumprem com a obrigação de
planejar ações pedagógicas que promovam o ensino e a aprendizagem, as adaptações curriculares
necessárias, o acesso e permanência, o direito à educação, mas principalmente, que promovam a
inclusão escolar, não só como direito legal, mas direito de fato, o que veremos a seguir.
1.2 Inclusão
A inclusão escolar é uma proposta de intervenção educacional amparada pela legislação e de
acordo com Inouye et al (2006) fomentada pelas políticas públicas educacionais nos níveis da
administração federal, estadual e municipal.
O autor complementa que a Constituição Federal prevê que o atendimento educacional
especializado deve ocorrer, preferencialmente, na rede regular de ensino em classes comuns com
apoio de serviços especializados organizados na própria escola ou em centros de apoio regional.
(INOUYE al. 2006)
A sala de recursos se enquadra nesse tipo de atendimento educacional especializado que
deve ser ofertado na rede regular de ensino, e que é tão importante para a oferta de um processo de
ensino e aprendizagem satisfatório para esse aluno com necessidades educacionais especiais,
incluso na educação básica. (Figueiredo, 2010)
Figueiredo (2010) destaca que a inclusão requer também mudanças significativas na gestão
da escola, tornando-a mais democrática e participativa, compreendendo o espaço da escola como
um verdadeiro campo de ações pedagógicas e sociais, no qual as pessoas compartilham projetos
comuns. O autor complementa que ela se caracteriza por seu caráter colaborativo, desenvolvendo
valores e organizando o espaço da escola de modo que todos se sintam dele integrantes.
Vale lembrar que as necessidades especiais não se referem às limitações apresentadas pelas
pessoas, mas às exigências de ampla acessibilidade que oportunize condições necessárias à
independência e autonomia dos sujeitos e ainda evidencia-se a responsabilidade social de prever e
prover meios de satisfazer essas necessidades, em vez de destacar o sujeito que a apresenta.
(PARANÁ, 2006)
O panorama educacional brasileiro agita-se frente a múltiplas questões relacionadas à ética,
à pluralidade, è interculturalidade e à inclusão.
Inouy et al (2006) destaca que os valores que contribuem para delimitar o que é educação
inclusiva, se contrapõem às características e expectativas de uma sociedade onde quanto mais a
exclusão cresce, mais se fala em inclusão, os discursos estão intensamente inclusivos e as práticas
discretamente inclusivas.
Vale lembrar que a Educação Especial é vista por muitos como um meio conveniente de
exclusão para os indivíduos que de certa forma incomodam na escola regular e são direcionados
unicamente para o atendimento em centros especializados, como as APAEs e deixando de
frequentar a classe regular.
A inclusão se traduz pela capacidade da escola em dar respostas eficazes à diferença de
aprendizagem dos alunos. Para Figueiredo (2010) ela demanda que a escola se transforme em
espaço de trocas o qual favoreça o ato de ensinar e de aprender.
Desse modo, transformar a escola significa criar as condições para que todos participem do
processo de construção do conhecimento independente de suas características particulares.
(FIGUEIREDO, 2010)
Porém, nem sempre é isso que se observa no ambiente escolar, onde os alunos
frequentadores da sala de recurso são comumente discriminados entre os colegas de sala e até
mesmo entre professores e funcionários da sala, sendo muitas vezes apelidados de “burros”.
Muitas vezes, as dificuldades apresentadas pelas crianças produzem nos professores a
sensação de eles não estarem preparados para trabalhar com a presença dessas crianças na sala de
aula, ou a sensação de os problemas familiares serem tão intensos que não dá para ensinar certas
crianças. Neste território no qual as dificuldades nos paralisam, essas dificuldades têm servido para
isso mesmo: paralisar. E fica parecendo que somente seria possível movimento, crescimento,
desenvolvimento, mudança, criação, se houvesse as ilusórias condições ideais acreditando que
aquilo que acontece não deveria acontecer. Esse pensamento é ideológico, o que ocorre não é
acidental, o fracasso é engendrado no cotidiano. (MACHADO, 2009, p. 133)
Os docentes que lecionam para os alunos com necessidades especiais culpam-se pelo
possível fracasso escolar deles, o que acarreta um medo de falhar, e isso é prejudicial tanto para o
professor como para o aluno, o qual necessita de uma atenção especial desse profissional e a adoção
de metodologias alternativas de modo a suprir suas reais necessidades educacionais.
Para assegurar os direitos à inclusão de fato ao aluno com necessidades educativas especiais,
Brasil (2010) afirma que cabe aos sistemas de ensino, organizar a educação especial na perspectiva
da educação inclusiva, disponibilizar as funções de instrutor, tradutor/intérprete de libras e guia-
intérprete, bem como de monitor ou cuidador dos alunos com necessidades de apoio nas atividades
de higiene, alimentação, locomoção, entre outras, que exijam auxílio constante no cotidiano escolar.
(BRASIL, 2010)
Entretanto, destacamos que diante dos direitos acima descritos que são reservados aos
alunos com necessidades educativas especiais, verifica-se que a realidade atual está distante do que
de fato deveria ser.
Entretanto, para que a escola de fato se torne um ambiente que promova a inclusão, ainda
tem muito a ser feito, especialmente quando se trata da minimização do preconceito sofrido pelos
alunos com necessidades educacionais especiais e para que isso ocorra, deve-se investir em cursos
de capacitação específicos para professores, funcionários e também ações de conscientização com
os demais alunos da escola sobre o processo de inclusão. (FIGUEIREDO, 2010)
A ampliação do número de alunos com necessidades educacionais a serem atendidos na
escola regular está condicionada à adoção de currículos abertos e flexíveis e ao efetivo
funcionamento dos recursos e serviços de apoio pedagógico especializado, necessários para o
acesso ao currículo e à aprendizagem e participação dos alunos com necessidades educacionais
especiais. (PARANÁ, 2006)
Figueiredo (2010) ressalta que a escola que inclui valoriza o papel social do aluno, pois
repousa sobre o princípio da contribuição.
A classe segundo ele se constitui em um reagrupamento no qual cada aluno deve colaborar
com o processo de construção do conhecimento dentro de suas possibilidades. (FIGUEIREDO,
2010)
Outro ponto que devemos salientar é a exclusão causada pelo processo histórico educacional
àqueles considerados fora dos padrões. Pois, a escola historicamente se caracterizou pela visão da
educação que delimita a escolarização como privilégio de um grupo, uma exclusão que foi
legitimada nas políticas e práticas educacionais reprodutoras da ordem social. A partir do processo
de democratização da escola, evidencia-se o paradoxo inclusão/exclusão quando os sistemas de
ensino universalizam o acesso, mas continuam excluindo indivíduos e grupos considerados fora dos
padrões homogeneizadores da escola. Assim, sob formas distintas, a exclusão tem apresentado
características comuns nos processos de segregação e integração, que pressupõem a seleção,
naturalizando o fracasso escolar. (BRASIL, 2010, p. 10)
Desse modo, a participação ativa do aluno com deficiência de acordo com Figueiredo (2010)
é possível quando o professor o percebe como sujeito de aprendizagem e organiza propostas
didáticas que favoreçam essa participação.
É importante deixar claro que os professores que enfrentam o desafio da inclusão percebem
que este processo modifica a vida escolar e a relação com os demais membros da sua escola,
influenciando inclusive sua formação pessoal e profissional, afirma Figueiredo (2010).
De acordo com Tessaro (2013) a inclusão de alunos diferentes/deficientes na classe comum
do ensino regular é viável, desde que se tenha presente à complexidade de tal processo, o qual
requer muito investimento e comprometimento, principalmente salienta o autor, dos órgãos
governamentais (recursos orçamentários). E ainda para o referido autor, igualmente se faz
necessário muito estudo, pesquisa para ampliar o conhecimento, desenvolver e testar formas que
viabilizem a verdadeira inclusão.
Para a efetivação de uma educação na perspectiva inclusiva, constatamos que alguns fatores
precisam ser debatidos, repensados e reavaliados como: o despreparo, tanto da escola, na
perspectiva inclusiva, a falta de políticas públicas que de fato promovam a inclusão, os argumentos
dos professores para não promover a inclusão escolar, uma mudança do fazer pedagógico dos
professores, a não aceitação dos alunos, o não saber conviver com as diferenças e reconhecer-se no
outro para que não se perpetue, a exclusão/segregação no princípio da inclusão e. os
preconceitos/estigmas na escola e no meio social em que essas pessoas convivem. Capítulo que
abordaremos a seguir.
1.3 Preconceitos / Estigmas
Falar de preconceito numa sociedade onde as pessoas vivem em condições desiguais não é
uma tarefa muito fácil de ser cumprida. É visível que a diferença entre classes sociais é muito
presente em nossas sociedades capitalistas.
Itani (1998) afirma que o preconceito faz parte do nosso comportamento cotidiano. Ainda
para o referido autor frequentemente nos defrontamos com atitudes preconceituosas, seja em atos ou
gestos, discursos e/ou palavras. Assim, a sala de aula não escapa disso, e trabalhar com essa
questão, ou mesmo com a intolerância, não está dentre as tarefas mais fáceis do professor. (ITANI,
1998)
Mas não são questões novas. Há muito as sociedades vêm lutando para manter as escolas um
pouco resguardadas dos conflitos decorrentes da intolerância entre diferentes grupos. Para poder
trabalhar com essas questões, é preciso compreendê-las, saber onde se manifestam e em que bases
são expressas, notadamente se levarmos em conta que elas não podem ser analisadas fora de seus
contextos. (ITANI, 1998, p. 119)
Na atualidade, o tema preconceito tem sido alvo de atenções diversas, que vão desde
colóquios espontâneos, que emergem em nosso dia-a-dia, até estudos científicos subsidiados por
diferentes perspectivas teóricas ressaltam Vieira e Maciel (2009), que se trata de uma temática
candente, a qual diz respeito aos problemas humanos que urgem enfrentamento, possui grande
amplitude e complexidade, permitindo diversos recortes, análises e explicações.
Não se pode afirmar que temos uma vivência com a tolerância e o preconceito em nossa
prática escolar, ressalta Itani (1998). É inegável que falar em preconceito, tornou-se ao longo do
tempo um tema tabu e a escola sempre foi considerada uma instituição de seleção e diferenciação
social negando a existência disso, enfatiza o referido autor.
Entretanto, com toda essa diversidade existente na escola da atualidade, falar sobre
preconceito está se tornando cada dia mais comum, pois o ambiente escolar é extremamente rico
quando o assunto é diversidade, oportunizando amplos e significativos debates, especialmente sobre
o preconceito existente com os alunos considerados diferentes. (ITANI, 1998)
Na realidade, o preconceito é um tipo particular de juízo provisório cuja orientação nos
direciona à relativização, à parcialidade ou, como afirma Heller (1972) apud Vieira; Maciel (2009)
“[...] ao fracasso e desse modo, os falsos juízos, ao se cristalizarem, transformam-se em
preconceitos”. (HELLER, 1972 apud VIEIRA; MACIEL, 2009, p.45)
Preconceitos são, portanto, os juízos provisórios refutados pela ciência e por uma
experiência cuidadosamente analisada, mas que se conservam inabalados contra todos os
argumentos da razão.
Diante disso, para Itani (1998) estamos sempre em situações de fragilidade, de “pisarem
ovos” na prática escolar, sem poder romper com isso.
Ainda para o autor é fato que não se pode negar a seletividade que está presente na prática
institucional e, por vezes, de caráter elitista e assim, a vivência do preconceito pode ser notada pela
prática da diferença, que é muito presente no cotidiano brasileiro, e do qual não se exclui o
preconceito existente no ambiente escolar.
Romper com preconceitos é essencial para subir a mirantes mais privilegiados. E deles,
pode-se romper com outros preconceitos, e por aí... Mas, infelizmente, a maior parte das pessoas
ainda está presa a grilhões dos preconceitos mais elementares, mais frágeis. E, por sua fragilidade,
tão sólidos. (VIEIRA; MACIEL, 2009, p. 237).
A experiência do preconceito está também presente em outras formas de expressão, tal como
nos gestos. Segundo Itani (1998) isso pode ser verificado em situações em que as pessoas se
defrontam com determinados alunos homossexuais, onde uma delas é o gesto do riso ou do
sarcasmo e outra prática é a do olhar da diferença, ou do comentário em voz baixa, o cochicho.
Nesse processo constante de comparações, operando por inclusão, assimilação, a norma de
acordo com França (1998) se torna visível os desvios, o que distingue um do outro. O autor ressalta
que a norma não conhece exterior, as exceções estão nelas mesmas, porque refere sempre um grupo
sobre si mesmo, relaciona-o consigo próprio.
Assim, a explicitação do desigual está condicionada ao domínio do trabalho normativo, que
se exerce na semelhança, no já dado, no dito, ou seja, na visibilidade do habitual, para quem o
inédito é sempre um fator de desequilíbrio, pois é ainda um não dito, um não visto.
Se a diferença e o preconceito são efeitos do trabalho de aferição da norma, isto é, da
medida comum, eles são efeito do exercício político, e para que este esforço tenha eficácia, ele
exige a manutenção de um mundo público onde o homem possa, na presença de outros homens,
dizer e ouvir sua diversidade, onde as paixões são desprivatizadas e convertidas em uma forma
relevante à aparição pública. (FRANÇA, 1998, p. 212).
Considerando a inadequação na formação dos educadores, na escolha dos livros didáticos e
a forma como têm sido trabalhados os conteúdos escolares, pouco se tem progredido para a
erradicação da prática preconceituosa no ambiente escolar, destaca Machado (2004).
Existe por parte dos próprios educadores, uma preocupação com a incidência de ações não
interculturais dentro da escola, tomando-se necessário e importante, investigar profundamente o
processo de formação intercultural dos professores do Ensino Fundamental e como se dá sua
formação e ação no processo de educar, porque, como afirma Lopes (2003) “A interculturalidade
tem como objetivo compreender a expressão de uma cultura através dos homens, seus hábitos”.
LOPES (2003, p. 173 apud MACHADO; REIS; LOPES, 2004)
Assim, diante do exposto pelos autores supracitados percebemos a necessidade da formação
intercultural dos professores, para que se esclareçam respectivamente aos alunos, pois é através do
ensino e da postura social do professor, que as crianças terão sua formação social e intercultural
desenvolvida e formada, para assim, criarmos uma sociedade mais justa e democrática, rompendo
definitivamente com as barreiras do preconceito.
Dessa forma, o espaço educativo move-se por múltiplas conexões entre padrões culturais
diversificados que coordenam uma sucessão complexa de tramas de significados e essas tramas são
estabelecidas nas relações entre sujeitos com seus padrões culturais específicos e diferentes, são as
substâncias principais da educação intercultural. (MACHADO; REIS; LOPES, 2004)
E segundo França (1998) é o educador que mediará e cuidará para que o velho mundo seja
levado em consideração por aquele que chega com a novidade e isso exige do educador uma
disposição para apreender o que comporta o inédito e um grande respeito pelo passado no qual,
repousa sua autoridade.
Desse modo, verificamos o quão o educador tem um papel importante em manter viva a
tradição de nossa sociedade em meio a esse turbilhão de inovação existente e principalmente
valorizar as coisas importantes do passado, demonstrando assim que o novo e o antigo podem
conviver em harmonia, sem preconceito.
Felizmente, são significativos os esforços realizados nas últimas duas décadas, em várias
partes do mundo, visando construir um repertório de conhecimentos específicos ao ensino. Ora,
levar á prática uma educação intercultural, implicará que o docente possua uma clara compreensão
dos mecanismos políticos, sociais, culturais e educacionais que promovem, em maior ou menor
escala em todo o planeta, toda a sorte de preconceitos e discriminações com base nas diferenças
culturais. Esse professor deveria ser capaz de ajudar a promover reflexões que conduzissem a ações
viradas para um diálogo frutuoso com o outro, o diferente. Um ponto importante a ser desenvolvido,
é o da necessidade do professor questionar, conhecer e definir sua identidade social, como assim se
afirmar como parte integrante de um grupo social. (MACHADO; REIS; LOPES, 2004, p. 4).
A educação protege e cuida de tudo que é velho no mundo e acolhe o que há de mais novo:
as crianças e de acordo com França (1998) como vêem, nenhum ser humano está só. E para o autor
se esse legado secular, dos que testemunham o que viram, ouviram, fizeram e sentiram, não está nas
salas de aula, precisa estar, porque não há preconceito que resista a uma avaliação de tamanha
envergadura.
Porém, como entender o preconceito/bullying praticado dentro da escola com os alunos com
necessidades educativas especiais? Tópico que abordaremos a seguir.
1.4 O Preconceito/Bullying: A Exclusão Na Inclusão Escolar
Ferreira (2009) quando coordenador da ONG Ed-TODOS fez um estudo exploratório
qualitativo de pequena escala da violação dos direitos de crianças e jovens com deficiência em duas
cidades nordestinas, que teve como objetivo aprofundar e sistematizar o conhecimento existente
sobre experiências de discriminação vividas por “ essa população no âmbito de suas famílias,
escolas e comunidade.” FERREIRA (2009, p.38)
O estudo revelou que :
“ educadores(as) e pais de estudantes sem deficiência – os habitualmente denominados
normais – expressam claramente seu preconceito quanto à convivência entre seus filhos e
os colegas com deficiência e revelam ignorância acerca dos benefícios de tal convivência.
Preconceitos geram inevitavelmente a não aceitação desses(as) alunos(as) e o seu
isolamento na sala de aula e na rede de relações da escola. Ambos os atos são
discriminatórios e estabelecem as raízes da exclusão na escola” (FERREIRA, 2009, p.43-
44)
A exclusão na escola, por parte dos alunos, como podemos inferir é reflexo do preconceito
expressado claramente por pais e educadores tanto dentro quanto fora da escola.
Na escola o preconceito, a discriminação e o bullying ainda é mais grave, pois de acordo
com Ferreira:
“O nível de agressão verbal, rotulação e desrespeito à criança e ao jovem com deficiência é
significativo e sistematicamente se encontra presente na escola. O estudo revela que é
prática comum nas escolas os docentes ignorarem tais ocorrências, ou seja professores(as)
presenciam o ato discriminatório e não protegem a criança vítima da agressão.”
(FERREIRA, 2009, p.44)
É fato que comentários não muito agradáveis sobre altura, peso, o tipo de roupa e
inteligência e etc. São recorrentes na escola independente do aluno ter ou não necessidades
educativas especiais, porém quando essas brincadeiras, discriminatórias, começam a prejudicar,
vitimizar as pessoas e, principalmente os educandos com necessidades educativas especiais. O
como tratar as situações de preconceito/discriminação/bullying dentro da escola e, principalmente
na sala de aula é responsabilidade dos(as) gestores(as) escolares, educadores e comunidade escolar,
pois a criança não nasce preconceituosa, mas torna-se à partir da visão que os adultos passam a ela,
romper com esse modelo discriminatório dentro das escolas requer uma mudança efetiva da
instituição escola e sua visão tradicionalista e avaliativa classificatória das potencialidades e
habilidades dos educandos. (FERREIRA 2009)
Sintetizando: a instituição escola, ainda é muito conservadora, nos modelos/ações
pedagógicas ao ensinar, há uma valorização do conteúdo, perpetua a fragmentação do conhecimento
e instrumentos avaliativos classificatórios fazendo com que reforce a discriminação e o preconceito
com os alunos com necessidades educativas especiais. (INOUYE et al, 2009)
A forma hierárquica, o professor ensina e o aluno aprende, que os conhecimentos,
socialmente constituídos são ensinados não contribuem para promoção de uma educação na
perspectiva inclusiva.
Segundo Inouye;
As interações sociais dentro da escola podem nos revelar a cultura e a crença dos sujeitos
envolvidos, servindo de subsídio para a identificação de características da comunidade (...)
que apontaram a inclusão como um caminho privilegiado para a transformação positiva das
expectativas da comunidade escolar e da sociedade em relação às potencialidades do
desenvolvimento do deficiente, uma vez que historicamente elas têm sido baixas e
negativistas. (INOUYE et al, 2009, p.606)
Pelo exposto, acima, podemos observar que a perpetuação, na escola, pela cultura e a crença
de professores e alunos é a exclusão dos alunos com necessidades educativas especiais, perpetuando
o discurso de que eles receberiam melhor atendimento e se desenvolveriam muito mais se fossem
atendidos em centros especializados, pois a escola não está pronta para recebê-los.
Para Ferreira (2009) “O combate à discriminação de pessoas com deficiência no espaço
escolar só será possível através de ações pedagógicas participativas que privilegiem as vozes
daqueles que as experienciam: os próprios estudantes e suas famílias.” (FERREIRA, 2009, p.49)
Pelo exposto, acima concluímos que a escola é uma instituição de ensino, porém é um
espaço de construção das relações humanas e sociais, a não perpetuação da
exclusão/segregação/discriminação/preconceito/bullying não condizem com a função da escola de
ensinar e aprender, de promover a igualdade entre os homens e a transformação social tanto
desejada, que só ocorrerá de fato quando TODOS tiverem seu direito à educação, no princípio da
inclusão educacional, respeitados, assegurados e garantidos.
2 Implementação Pedagógica na Escola
A implementação do Projeto foi aplicada com os alunos da Sala de Recursos Multifuncional,
no Colégio Flauzina Dias Viegas, período da manhã, contemplando um total de treze (13) alunos, na
forma de unidade didática, dividida em oito (8) ações, com o objetivo estudar o preconceito sofrido
pelos alunos da Sala de Recursos Multifuncional no Ensino Regular e verificar se o presente foi
capaz de minimizá-los.
Na Primeira ação com o objetivo de sensibilizar para a temática do projeto; levantar
hipótese, coletar conhecimentos prévios, interagir e promover o autoconhecimento, foi feita a
leitura do pequeno texto introdutório, depois os alunos foram convidados a fazer um passeio pela
sala para visualizarem e ler as fotos dispostas. Em seguida através dos questionamentos verificamos
que nem todas as personagens eram conhecidas pelos alunos, que o fato de todos serem deficientes
chamou muita a atenção e, ao olhar as fotos os alunos sentiram dó e um certo constrangimento. Ao
retirar o papel que cobria a biografia das personagens expostas observamos na face dos alunos um
ar de espanto, muitos não acreditam que, apesar da deficiência as pessoas pudessem se tornar
alguém importante, atingindo nossos objetivos propostos de sensibilizar, coletar conhecimentos
prévios, interagir e promover o autoconhecimento.
Na segunda ação iniciamos com a leitura por parágrafos propondo o estudo sobre direitos
humanos e algumas leis para que todos pudessem: compreender, debater e interagir colocando suas
experiências de vida e análises interpretativas sobre os textos. Nessa atividade, apesar dos alunos
ficarem um pouco reticentes para ler o material, foi bem produtivo, pois a medida que liam iam
descobrindo seus direitos, o que permitiu que atingíssemos nossos objetivos pois o debate foi
intenso, ouve bastante interação, todos colocaram suas experiências de vida e compreenderam a
importância de se lutar por seus direitos.
Nossa terceira ação iniciamos com a atividade Jogo da Memória das Sinopses, onde os
alunos deviam reconhecer a história e o preconceito sofrido pelas personagens, ouve bastante
interação e troca de informações nessa atividade. Os alunos participaram ativamente e gostaram
muito. Nossos objetivos foram alcançados, pois podemos verificar os conhecimentos prévios dos
alunos e permitir a troca de conhecimentos, eles conseguiram relacionar imagens com textos lidos,
personagens, situações de preconceitos descritos na literatura e refletirem sobre as situações de
preconceito e a relação de ganho e perca, mostrando-se chocados com a situação das personagens e,
como a literatura retrata muito bem o preconceito vivenciado na vida real, permitindo que se
reconhecessem nas personagens.
Na quarta ação, os alunos leram a capa do livro e a sinopse junto com a professora,
receberam a folha com os questionamentos para relatarem o que sentiram, suas impressões pessoais
e identificação com a temática abordada, depois assistiram ao filme “Simples como Amor”, após o
filme ao retomarmos os questionamentos podemos verificar que nossos objetivos foram alcançados,
pois os alunos se Sensibilizaram, interagiram, compreenderam e debateram sobre a temática,
chegando a conclusão que apesar das deficiências e preconceitos todo sonho é possível e, que
estudar e se profissionalizar ajuda muito a conseguir alcançar objetivos e sonhos. Ressaltamos que a
personagem principal do filme chamou muito a atenção das meninas, em seus relatos elas ficaram
felizes porque viram que a deficiência não é motivo para não viver um grande amor, porém é
preciso ter muita força de vontade para vencer todos os problemas.
Na nossa quinta ação as atividades propostas: assistir aos curtas metragens e participar da
palestra com a Conselheira Tutelar conseguimos atingir nossos objetivos de desenvolver a
capacidade de reflexão crítica e contextualizada subsidiando através da temática subsidiando-os e
contribuindo para que pudessem responder as questões, interagissem e debatessem de forma crítica
e reflexiva. Nessa atividade, também, podemos notar que ouve uma crescente na autoestima dos
alunos, que eles não deveriam aceitar passivamente o preconceito/Bullying dentro ou fora da escola,
que a escola é um espaço de todos e um direito que devemos lutar por ele.
A nossa sexta ação, um dos pontos mais altos das ações propostas, foi iniciado com
orientações sobre as regras da escola que foi visitada e o motivo da visita, depois foi lido o roteiro
que cada um deveria responder em duplas, durante a visita cada aluno apresentou sua impressão
pessoal e, responder se tinham algum preconceito antes da visitar, qual, e, se mudou algo depois da
visita. Durante a plenária de apresentação dos trabalhos podemos verificar que os alunos
desconheciam que no bairro existia uma escola APAE e, ficaram admirados com o local, com a
organização, como os alunos são atendidos e, como a “escola é bonita e boa”, fala dos alunos,
conseguimos assim atingir nossos objetivos que era debater e socializar conhecimentos adquiridos
as impressões antes e depois da visita.
Iniciamos nossa sétima ação, com o filme “Diário de sete dias” para que os alunos
desenvolvessem a capacidade reflexiva, compreendessem, interpretassem, relacionassem,
levantassem hipótese, interagissem e debatessem sobre o Bullying a causas, consequências e
pudessem pontuar soluções na resolução dessa problemática. A atividade foi bem produtiva, pois
pudemos evidenciar que os alunos se reconheceram na personagem do filme e compreenderam que
todos devem respeitar e aprender a conviver com as diferenças uns dos outros e como disseram os
alunos:
“Nunca, nunca aceitar ou praticar o Bullying” A3 e, que “ Quando somos vítimas de
preconceito/ Bullying, não é deixando de ir na escola que ele irá ser resolvido, mas quando
procuramos ajuda dentro da escola e na sociedade, com as pedagogas e o conselho tutelar,
por exemplo.” A4
Em nossa oitava e última ação, tínhamos como objetivos: avaliar o projeto
quanto ao material utilizado, a organização, atividades propostas, sua necessidade e contribuição
para aprendizagem e transformação humana, nos confraternizarmos de forma que todos reforcem os
elos sociais e humanos necessários para boa convivência. Nessa ação evidenciamos que os alunos
gostaram muito do material e da temática e que essa foi muito importante para eles:
“Pensar e falar sobre os preconceitos e Bullyings que sofremos ajuda a compreender que
não somos errados, que não podemos desistir de estudar por causa dos outros” A1, “As
aulas, os debates, a visita, os filmes, a palestra e poder falar ajudou muito professora,
sempre pensamos que não merecemos estar aqui.” A2.
Através dos depoimentos e dos olhares de alegria durante a confraternização evidenciamos
que nosso projeto atingiu os objetivos propostos que era estudar o preconceito em aluno da Sala de
Recursos Multifuncional no Ensino Regular e buscar formas de minimizá-los.
Considerações Finais
Nosso projeto teve como objetivo refletir com os alunos atendidos na Sala de Recursos
Multifuncional sobre o preconceito e as diversas formas de discriminação que estes alunos sofrem,
no interior da escola onde atuamos como docente, não como uma prática discriminatório-
preconceituosa pontual, mas cotidiana, já que esses alunos são vitimizados na sala regular pelos
colegas da turma, professores e funcionários, pois não atendem aos padrões de inteligência
impostos pela sociedade e isso, muitas vezes, afastam da escola ou não têm o rendimento, escolar
esperado.
Por meio das ações propostas, conseguimos minimizar o preconceito e a discriminação por
eles sofridos. E, assim, resgatar autoconfiança, melhorar auto-imagem, levando-os a entenderem o
propósito de nossa sala, enquanto espaço de direito à promoção do ensino e aprendizagem, no geral
os alunos gostaram muito do nosso Projeto de Intervenção. Podemos destacar como pontos mais
altos as atividades: onde eles puderem conhecer algumas personalidades com necessidades
educativas especiais, os vides e filmes e a visita na APAE da cidade; por outro lado as atividades de
leitura e questionamentos foram menos apreciadas, necessitando de uma maior mediação para o
entendimento, os debates e reflexões.
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