os desacertos da política neoliberal na m televisiva: um ...os desacertos da política neoliberal...

10
Os desacertos da pol í tica neoliberal na m í dia televisiva: um olhar para o Jornal Nacional Carla Montuori Brasileira, doutoranda do curso de Ciências Políticas da PUC-SP, mestre em Comunicação e Cultura das Mídias pela Universidade Paulista e especialista em Jornalismo pela Cásper Líbero. É professora universitária na UNIP/SP, UNIFAI e Faculdade Flamingo. [email protected] Patricia R. Amoroso Brasileira, Jornalista, professora universitária na UNIP/SP e pós-graduanda no Stricto-Sensu em Comunicação e Cultura da Mídias na mesma instituição. [email protected] Resumen El presente artículo discute la relación entre la realidad y la ficción en el periodismo televisivo brasileño, tomando como objeto de estudio el telediario nacional de la Red Globo de televisión. El objetivo del texto consiste en relatar los impactos de la política neoliberal en Brasil, a partir de las perspectivas del sociólogo Francisco de Oliveira. Reconociendo como contraparte, cuál es el abordaje mediático adoptado, por el noticiero, para dar cuenta de esas mismas discusiones. Para el efecto, se tomarán en cuenta los resultados de las investigaciones ya realizadas sobre el noticiero nacional durante la gestión política de Fernando Enrique Cardoso, eligiendo los noticiarios específicos del primer (1994-1998) y segundo mandato (1998-2002). Palabras claves: Telediario, periodismo nacional, Neoliberalismo Resumo O presente artigo discute a relação entre a realidade e a ficção no telejornalismo brasilero, tendo como objeto de estudo o Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão. O objetivo do texto é relatar os impactos da política neoliberal no Brasil, a patir da perspectiva do sociólogo Francisco de Oliveira, verificando, em contrapartida, qual a abordagem midiática adotada pelo noticiario para dar contas das mesmas discussões. Para tanto, se recorreu- se a resultados de pesquisas já realizadas sobre o Jornal nacional, durante a gestão Fernando Hernrique Cardoso, selecionando veiculações específicas do primeiro (1994-1998) e do segundo mandato (1998-2002). Palavras Chave: Telejornalismo, Jornal Nacional, Neoliberalismo. Abstract This article discusses the relation between reality and fiction in Brazilians news broadcasting televisión, having the Red Globo Jornal Nacional as the object of study. The text´s objetive is to talk about the impact of neoliberal politics in Brazil, starting off with the sociologist Francisco de Oliveira´s perspective. Verifying, on the other hand, which boarding is adopted by the news around the same discussions. With this purpose, the article recurred to researches about the National Journal during Fernando Enrique Cardoso´s government, selecting specific news from his first (1994-1998) and second govermment (1998-2002). Key-words: News broadcasting television, National Journal , Neoliberalism 25 AÑO 12, N º 15, 2 º SEMESTRE 2007

Upload: others

Post on 17-Aug-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Os desacertos da política neoliberal na m televisiva: um ...Os desacertos da política neoliberal na mídia televisiva: um olhar para o Jornal Nacional Carla Montuori Brasileira,

Os desacertos da política neoliberal na mídiatelevisiva: um olhar para o Jornal Nacional

Carla Montuori

Brasileira, doutoranda do curso de Ciências Políticas da PUC-SP, mestre em Comunicação e Cultura das Mídias pela Universidade Paulista eespecialista em Jornalismo pela Cásper Líbero. É professora universitária na UNIP/SP, UNIFAI e Faculdade Flamingo.

[email protected]

Patricia R. Amoroso

Brasileira, Jornalista, professora universitária na UNIP/SP e pós-graduanda no Stricto-Sensu em Comunicação e Cultura da Mídias na mesmainstituição.

[email protected]

ResumenEl presente artículo discute la relación entre la realidad y la ficción en el periodismo televisivo brasileño,tomando como objeto de estudio el telediario nacional de la Red Globo de televisión. El objetivo del textoconsiste en relatar los impactos de la política neoliberal en Brasil, a partir de las perspectivas del sociólogoFrancisco de Oliveira. Reconociendo como contraparte, cuál es el abordaje mediático adoptado, por el noticiero,para dar cuenta de esas mismas discusiones. Para el efecto, se tomarán en cuenta los resultados de lasinvestigaciones ya realizadas sobre el noticiero nacional durante la gestión política de Fernando EnriqueCardoso, eligiendo los noticiarios específicos del primer (1994-1998) y segundo mandato (1998-2002).

Palabras claves: Telediario, periodismo nacional, Neoliberalismo

ResumoO presente artigo discute a relação entre a realidade e a ficção no telejornalismo brasilero, tendo como objeto deestudo o Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão. O objetivo do texto é relatar os impactos da políticaneoliberal no Brasil, a patir da perspectiva do sociólogo Francisco de Oliveira, verificando, em contrapartida, quala abordagem midiática adotada pelo noticiario para dar contas das mesmas discussões. Para tanto, se recorreu-se a resultados de pesquisas já realizadas sobre o Jornal nacional, durante a gestão Fernando HernriqueCardoso, selecionando veiculações específicas do primeiro (1994-1998) e do segundo mandato (1998-2002).

Palavras Chave: Telejornalismo, Jornal Nacional, Neoliberalismo.

AbstractThis article discusses the relation between reality and fiction in Brazilians news broadcasting televisión, having theRed Globo Jornal Nacional as the object of study. The text´s objetive is to talk about the impact of neoliberalpolitics in Brazil, starting off with the sociologist Francisco de Oliveira´s perspective. Verifying, on the other hand,which boarding is adopted by the news around the same discussions. With this purpose, the article recurred toresearches about the National Journal during Fernando Enrique Cardoso´s government, selecting specific newsfrom his first (1994-1998) and second govermment (1998-2002).

Key-words: News broadcasting television, National Journal , Neoliberalism

25A Ñ O 1 2 , N º 1 5 , 2 º S E M E S T R E 2 0 0 7

Page 2: Os desacertos da política neoliberal na m televisiva: um ...Os desacertos da política neoliberal na mídia televisiva: um olhar para o Jornal Nacional Carla Montuori Brasileira,

1. Introdução

“Em um mundo onde o que não é transmitido pela TVnão existe, um governo sem imagem tem toda razãopara se inquietar” (DEBRAY, 1994: 95). Este,certamente, foi um dos primeiros efeitos da mídiatelevisiva a revolucionar o campo político.

Desde seu surgimento oficial, em 1939, nos EstadosUnidos, a televisão suplantou o rádio e a mídiaimpressa, devido à sua capacidade de atrelar códigossonoros e imagéticos, transferindo a esse meio decomunicação um poder fascinante. Essa sintoniaentre a fala, o som, mas principalmente a imagem,promove uma ação hipnótica sobre o telespectador,que conforme atesta Guilherme Jorge Rezende(2000: 31), já é suficiente para mantê-lo preso horasdiante do televisor.

É também essa relação entre imagem e som queconfere maior credibilidade ao veículo, e transforma aTV em uma máquina de verdades. Para Pedro Macial(1995: 26) a relação de sedução com a televisão seestabelece com a imagem, por meio da qual otelespectador, a partir do olhar, passa a acreditarnaquilo que vê na tela. É, segundo o autor, umarelação quase mágica, que o olhar estabelece entre ofato que é mostrado na tela da televisão e otelespectador que recebe a informação (MACIAL,1995: 16).

Dessa forma, as imagens de TV constituem, juntocom o telespectador, um ícone da veracidade paragrande parte dos fatos transmitidos mundialmente.Daí decorre parcialmente o poder da mídia televisiva.A legitimidade intrínseca da televisão pode serverificada em frases de uso corriqueiro proferidaspelos espectadores, principalmente brasileiros, asaber: “passou na TV” ou “deu na TV”. Essacredibilidade conferida às imagens midiáticas relegouà televisão o poder de atuar como construtora darealidade e do imaginário social. Nesse momento,tudo precisou, para de fato existir, passar pelo vídeo.

Em contrapartida, já se tornaram freqüentes ascríticas dirigidas aos meios de comunicação demassa, mais precisamente a televisão, no que tangeà omissão de temas que exploram a realidadeeconômica e política do país. Em rarascircunstâncias, conforme esclarece José Arbex Jr.(2001: 83), o mecanismo hipnótico e simulador datelevisão se rompe, permitindo que se identifiqueclaramente a sua estrutura, seu alcance e suaprofundidade. Nesse momento, informa o autor, pode-se perceber o papel da mídia televisiva, atuando na

criação, falseamento e destruição demundos e realidades (ARBEX Jr.,2003: 84), estabelecendo-se, assim,o contraponto entre ficção erealidade. Ao fazer com que o públicoenxergue o mundo a partir de suaslentes e vieses, ou, como bemenfatizou Pierre Bourdieu (1997: 29),o poder da mídia em fazer ver umfato pela sua ótica, transformaqualquer acontecimento em umsimulacro da realidade.

A palavra “simulacro” aparece comrecorrência nas obras de JeanBaudrillard. Entretanto, Muniz Sodréoferece uma definição concisa desimulacro, apreendendo, também, aprópria relação da televisão:

“Como a imagem de Narciso noespelho, o simulacro é inicialmenteum duplo ou uma duplicação do real.A imagem no espelho pode ser oreflexo de um certo grau deidentidade do real, pode encobrir oudeformar essa realidade, mastambém pode abolir qualquer idéia deidentidade, na medida que não serefira mais a nenhuma realidadeexterna, mas a si mesmo, ao seupróprio jogo simulador” (2000: 33).

Como esclarece Arbex Jr. (2001: 45),essa dinâmica televisiva é a principalresponsável por reiterar umapercepção de mundo que nemsempre estará de acordo com arealidade institucionalizada pelaHistória. Foi com base nessaproblemática, e visando testar taldivergência, que este artigo foidesenvolvido. Para tal, pretende-secom esta pesquisa, trazer luz aalgumas análises realizadas sobre oJornal Nacional da Rede Globo detelevisão, durante o governoFernando Henrique Cardoso,buscando identificar como foiveiculada a política neoliberal, suasimplicações e conseqüências,confrontando com as teses, dadosestatísticos e pesquisas científicasdesenvolvidos sobre esse tema, porespecialistas e sociólogos

26

O S D E S A C E R T O S D A P O L Í T I C A . . .

Page 3: Os desacertos da política neoliberal na m televisiva: um ...Os desacertos da política neoliberal na mídia televisiva: um olhar para o Jornal Nacional Carla Montuori Brasileira,

renomados do campo da política.Com isso, acredita-se que serápossível pontuar o papel da chamadagrande imprensa, mais especifica -mente da Rede Globo, na construçãoda hegemonia neoliberal no Brasil ese o discurso propagado por essamídia foi divergente em relação aocenário nacional.

A escolha do objeto de estudo, nocaso o Jornal Nacional, deve-se aofato de que a percepção que aopinião pública possui de um governoe de suas ações passa pela mídia.Seu poder de escolher ou enfatizaracontecimentos, personalidades eprioridades, segundo sua lógicaprodutiva e empresarial éo principal influenciadorno processo de análise,esquecimento ouvalorização de fatos eacontecimentos. Nessesentido, vozes, projetos eacontecimentos sãoselecionados ou não,valorizados ou não.

No cenário políticobrasileiro, tal interferênciamidiática foi identificadaprincipalmente no telejor -na lismo, essencial menteo praticado pela RedeGlobo de Televisão, viaJornal Nacional, quedeterminou, por diversasvezes, os rumos políticos do país.Transmitindo uma pretensa neu -tralidade, o Jornal Nacional ajudou adesbancar e elevar, no campopolítico, quem lhe convinha, segundoos interesses da própria emissora.

Vale ressaltar que o Jornal Nacional,desde seu surgimento, sempremanteve uma liderança efetiva e umpoder de penetração ímpar com amassa, determinado, atualmente, por66% de market-share1 em relaçãoaos demais noticiários televisivos.

Há, entretanto, uma problemáticanesse processo: em um país no qual

a televisão ocupa um lugar privilegiado,2 e o telejornalé a principal fonte de informação da população, o fatode uma empresa noticiosa se sobrepor às demais eter domínio de audiência, pode gerar tendenciosidadee manipulação, não só de fatos e notícias, mastambém de ideologia. Assim, o objetivo deste artigo éverificar se a agenda política do Jornal Nacional,durante episódios pontuais do Governo FernandoHenrique Cardoso é reveladora dessa constatação.

Para realização deste trabalho, recorreu-se àspesquisas de agendamento e enquadramento doJornal Nacional, já realizadas por pesquisadores docampo da mídia, a saber: Venício L. de Lima, MauroPorto, Leandro Colling, Lilian Arruda, duranteperíodos específicos da gestão FHC. Vale ressaltarque cada pesquisa abrange um determinado períododo governo FHC, conforme mencionaremos. Ainda,

para analisar os desacertos da políticaneoliberal no país, trabalharemos com asteses propostas pelo sociólogo Franciscode Oliveira.

2. A política neoliberal no Brasil

A história política do Brasil é, como bemconceituou Francisco de Oliveira, ahistória de uma “permanente exceção”.Exceção que se presentifica,principalmente, na relação da classedominada com o Estado, na sua batalhaconstante pelo exercício dos direitosmínimos de cidadãos que são, emparalelo, boicotados pelas classesdominantes, que castram toda e qualquerpossibilidade de “fala” que esteja

vinculada à constituição de uma democracia brasileirano sentido strictu do termo.

A realidade descrita pelo sociólogo Francisco deOliveira, em suas análises3 sobre o cenário político eeconômico, não vislumbra perspectivas promissorasao país. A política neoliberal, iniciada com FernandoCollor de Mello, ganhou força com o governoFernando Henrique Cardoso e segue emcontinuidade com o presidente Luiz Inácio Lula daSilva, aumenta sensivelmente as contradições sociaise coloca o Brasil em uma crise política semprecedentes. Isso porque o neoliberalismo, no seuconceito matriz, defende a idéia de que o mercado, enão o Estado, deve ser o único alocador de salários ecapital. Para isso, faz parte da política neoliberal, areestruturação do Estado, no intuito de torná-lomínimo.

27A Ñ O 1 2 , N º 1 5 , 2 º S E M E S T R E 2 0 0 7

C A R L A M O N T U O R I Y P A T R I C I A R . A M O R O S O

No cenário políticobrasileiro, tal

interferência midiáticafoi identificada

principalmente notelejor na lismo,

essencial mente opraticado pela Rede

Globo de Televisão, viaJornal Nacional, que

determinou, pordiversas vezes, os

rumos políticos do país.

Page 4: Os desacertos da política neoliberal na m televisiva: um ...Os desacertos da política neoliberal na mídia televisiva: um olhar para o Jornal Nacional Carla Montuori Brasileira,

O movimento de enfraquecimento do Estado, combase nesse modelo, efetiva-se por inúmerasvariáveis, como a quebra de barreiras comerciaisentre os países, a alocação de capitais internacionais,a liberação das regras do comércio e, principalmente,a baixa capacidade intervencionista do Estado, emprol do controle quase absoluto dos projetos dedesenvolvimento dos países pelas corporaçõesmultinacionais, tanto dos centrais, como dosperiféricos (LUCAS, 2000: 6).

Como bem observa Oliveira, é nesse momento que asupremacia econômica torna-se evidente, e a políticapassa a ser inteiramente dominada pela economia(2006: 42).

“O Estado mínimo da falsa utopia neoliberal não émínimo na economia, como pregam os tolos: ele sefaz mínimo é na política. Num movimento de pinçassimultâneo, o Estado se faz máximo na economia emínimo na política, e os dois lados projetam umaeconomia sem política, portanto, sem disputa.” (2006:42).

Esse movimento traz como conseqüência, segundorelata René Passet (2002: 38), no livro A ilusãoneoliberal, o desemprego, a insalubridade e adegradação total dos valores sociais. Paraexemplificar tais efeitos no Brasil, Francisco deOliveira (2006: 36), aponta que a taxa dedesempregados entre 1989 e 1999, saltou de 1,8milhões para 7,6 milhões, e o índice de desempregofoi de 3% para 9,6% da PEA (PopulaçãoEconomicamente Ativa).

Para além disso, a política neoliberal implantada noBrasil levou o país, como bem conceitou Francisco deOliveira (2003: 132), a uma situação de involução. Oautor usou o termo “ornitorrinco” para tentarclassificar aquilo que se tornou o país: algoirreconhecível, já que há no conceito, uma metáforacom uma figura inclassificável do mundo animal.

O “ornitorrinco”, segundo classifica Francisco deOliveira, é resultado de um intenso crescimento aliadoà péssima distribuição de renda. Assim, para explicara formação do ornitorrinco, o autor não despreza asheranças pesadas do país, como a escravidão e acolonização. Além disso, ressalta a questão do“capitalismo tardio”, formulada pelos autoresclássicos (no sentido de uma sociedade capitalistaque se completou já com a primeira RevoluçãoIndustrial consolidada, através da ação do Estado –que, no caso brasileiro, levou a uma sociedadedesigual).

Enfatiza, entretanto, que o motedessa problemática está nadesconstrução do Estado pelapolítica neoliberal, pregando aautonomização do mercado. Citanúmeros que representam o quesignifica o sistema financeiro nessenovo cenário:

“Um sistema financeiro aindaatrofiado, mas que, justamente pelafinanceirização e elevação da dívidainterna, acapara uma alta parte doPIB, cerca de 9% em 1998, quandoeconomias que são o centrofinanceiro do capitalismo globalizadoalcançam apenas 4% (EstadosUnidos), 6% (Reino Unido), 4%(Alemanha), 4,2% França. Emcontrapartida, os créditos bancáriostotais sobre o PIB foram de apenas28% em 2001 e já haviam caído para23% no primeiro trimestre de 2003:países desenvolvidos têmproporções que vão dos 186%, noJapão, 146% para os Estados Unidose até 80% para a Itália” (2003: 133).

Atendo-se criticamente aos números,o sociólogo alerta também para a altaproporção da dívida externa sobre oPIB, enfatizando a importância dodinheiro externo na movimentação daeconomia nacional: em 2001 o totalda dívida externa sobre o PIBalcançou alarmantes 41% e o meroserviço dela, juros sobre o PIB, de9,1% (2003: 134).

Há, nessa perspectiva, uma relaçãode endividamento que está inseridano próprio processo definanceirização da economia.Segundo o autor:

“Essa dependência financeiraexterna cria, também, uma dívidafinanceira igualmente espantosa,como a única política capaz deenxugar a liquidez interna produzidaexatamente pelo ingresso de capitaisespeculativos. Mas é também umadiantamento sobre a produçãofutura, de modo que somando asdívidas internas e externas, chega-se

28

O S D E S A C E R T O S D A P O L Í T I C A . . .

Page 5: Os desacertos da política neoliberal na m televisiva: um ...Os desacertos da política neoliberal na mídia televisiva: um olhar para o Jornal Nacional Carla Montuori Brasileira,

à conclusão de que para produzir umPIB anual é preciso endividar-se namesma proporção” (2003: 135).

Na visão de Passet (2002: 76),gerenciar tais equaçõesmonetaristas, contribuiu para que oEstado deixasse de lado aproblemática social e econômica,especialmente as preocupações comos empregos, com a oferta dedinheiro no mercado e com osdireitos sociais. Em relação à mão-de-obra assalariada do país, porexemplo, esta assiste à perda, desde1990, da formalidade trabalhista, quevem sendo substituída por umelevado aumento de empregosinformais, sendo estes,bem mais suscetíveis àextração da mais-valia,naquilo que caracterizoupara Marx a mais perfeitaexploração (Oliveira,2003: 142). Segundo nosinforma o sociólogo, nosanos 1990, a criação depostos de trabalhoresumiu-se a empregosprecários, semformalização e combaixíssima remuneração.De cada cinco ocupaçõescriadas, quatro estavamnaquilo que secaracteriza como setorinformal (2006: 37).

É diante desse cenáriopouco promissor que se percebe aaniquilação da classe trabalhadorado país, em conjunto com o fracassodo Estado, e a sua totalimpossibilidade, sob essascircunstâncias, de implantação dequalquer política universal. O seufuncionamento se dará apenas,segundo esclarece Oliveira, a partirda operacionalização de “políticas deexceção”, como o programa BolsaFamília, implantado no governo Lula.

“As políticas assistencialistas, quesão na verdade políticas defuncionalização da pobreza, são acontraparte desse movimento de

verdadeira liquidação da classe em curso nodesenvolvimento brasileiro. E não à toa elascontinuam se multiplicando sob todos os títulosexatamente no governo Lula, a começar pelo FomeZero” (2006: 37).

A imensa desorganização do sistema, que estápresente, sobretudo, na aniquilação da classeoperária, no enfraquecimento dos sindicatos e dospartidos e, principalmente, na total falta de controle domercado, produz, segundo o autor, um curto-circuitoque é fatal para a política e para o exercício dogoverno (2006: 38)

Já na contramão do cenário pouco engrandecedor dapolítica econômica do país, relatado por Francisco deOliveira, encontra-se a elite dominante da mídiatelevisiva brasileira, que assumiu, com ênfase

absoluta, a missão de ocultar etransformar fatos, transmitindo uma visãodistorcida da história, para um público quepensa absorver “a realidade” por meiodesse único meio.

2.1. A política neoliberal e as disjunçõesnoticiosas do Jornal Nacional

Em artigo publicado sob o título:Privatização do público, destituição da falae anulação da política: o totalitarismoneoliberal, o sociólogo Francisco deOliveira relata a anulação da fala que estásubmetida a sociedade civil brasileira,desde 1930, pela ação de silenciamentoque a classe dominante impõe aosdominados, à sua maneira, em cada

momento político do país.

“A formação da sociedade brasileira, se areconstituirmos pela interpretação de seusintelectuais “demiúrgicos”, a partir de Gilberto Freyre,Caio Prado Jr., Sérgio Buarque de Hollanda,Machado de Assis, Celso Furtado e FlorestanFernandes, é um processo complexo de violência,proibição da fala, mais modernamente privatização dopúblico, interpretado por alguns com a categoria depatrimonialismo, revolução pelo alto, eincompatibilidade radical entre dominação burguesa edemocracia: em resumo, de anulação da política, dodissenso, do desentendimento, na interpretação deRancière” (OLIVEIRA, 1999: 59).

Enfatiza, entretanto, que a política neoliberal iniciadapor Fernando Collor de Mello, e consolidada por

29A Ñ O 1 2 , N º 1 5 , 2 º S E M E S T R E 2 0 0 7

C A R L A M O N T U O R I Y P A T R I C I A R . A M O R O S O

Page 6: Os desacertos da política neoliberal na m televisiva: um ...Os desacertos da política neoliberal na mídia televisiva: um olhar para o Jornal Nacional Carla Montuori Brasileira,

Fernando Henrique Cardoso, permitiu odesenvolvimento desse processo de forma plena eacabada (OLIVEIRA, 1999: 66).

Para tal, vale ressaltar que a política neoliberalconsolidada por FHC encontrou na mídia a sua maispoderosa aliada. Ao definir sua agenda, ou enquadrarum tema, sob um aspecto específico, a imprensaimpôs sua soberania de idéias e fatos, elegendo eexcluindo seus falantes. Assim ocorreu durante todagestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Apesar dos desencontros e desacertos da políticaneoliberal, pouco se discutiu sobre a real situação dopaís. Conforme esclarece Francisco de Oliveira(1999: 81): ninguém utilizou mais a mídia comometamídia que o governo FHC: através dela, eledesqualificou a oposição e a excluiu do discursopúblico.

Na prática, tomando por base o Jornal Nacional, osexemplos que mencionaremos indicam que o ladoficcional da política econômica de FHC e asupervalorização do real permaneceram em pautadurante todo o seu mandato (1994-1998; 1999-2002),com ênfase em 1994 e 1998, anos eleitorais.

Conforme atesta Antônio Albino Canelas Rubim, emsua análise sobre as eleições de 1994, no JN, não erapreciso promover nenhuma manipulação declaradaem prol de FHC, como a do último debate entre Lulae Collor, em 1989. Segundo enfatiza o autor, “umacobertura quase isenta da campanha combinava-secom uma escandalosa publicidade do real no espaçojornalístico, com a vantagem de não contrariar alegislação eleitoral em vigor” (1999: 59).

No noticiário, o apoio ao candidato FernandoHenrique Cardoso, era sustentado basicamente porreportagens que promoviam o engrandecimento doreal, atribuindo todos os méritos do plano monetaristaao candidato. O cenário promovido pelo telejornal erade grande estabilidade. O discurso do Plano,conforme atesta Rubim (1999: 60), estava emconformidade com o cenário existente, não excluía ostemas sociais, porém era condicionado a uma visãootimista da realidade, enaltecendo o fim da inflação ea estabilidade monetária.

O tempo dedicado reportagens sobre o realsustentava a maior parte do noticiário. Lilian Rose deArruda (1995: 96), em análise do JN, durante operíodo compreendido entre 25 de julho e 5 deoutubro de 1994, destaca que dos 90 telejornaisveiculados, 80 deles fizeram reportagens que citavam

o Plano Real de forma otimisma eengrandecedora, segundo informa:

“O Real era o centro de todoprocesso eleitoral, FernandoHenrique era seu planejador e sevitorioso, poderia aperfeiçoá-lo,Rubens Ricupero e o governo eramseu executor. Na execução doprograma era necessário a energia eo “Jornal Nacional” não deixava deatribuí-la ao governo [...]” (1995:111).

Durante os primeiros anos da gestãoFHC, o telejornalismo na Globo,sobretudo o praticado pelo JornalNacional, adotou uma editoria políticamais branda, que excluía temaseconômicos, vinculados ao governo.Mauro Porto, ao analisar 24 ediçõesdo Jornal Nacional, entre junho de1995 e agosto de 1996, pontuou asmodificações do noticiário, quepassou a privilegiar a criminalidade, aviolência e o fait divers, emdetrimento da política. Segundoesclarece Porto, o noticiário apelavapara um cobertura mais populista emenos política, na qual a participaçãodo cidadão comum ocupava oespaço das fontes oficiais dogoverno, como membros doCongresso e do Judiciário. O autorfaz nota, ainda, da quase ausênciade membros de organizações não-governamentais, seguida de maiorparticipação de grupos sociais eprofissionais privilegiados (PORTO,1999: 20).

Em contrapartida, os efeitos devas -tadores da política neoliberal, quandotransmitidos pelo telejornal, eramtotalmente descontextualizados dogoverno federal. Assim, as conse -qüências da crise econômica, comoos problemas de saúde, emprego,educação e segurança, nãoentravam na pauta do noticiário comoproblemas ligados à gestão FHC.

Além disso, conforme informaLeandro Colling (2002: 61), o JNbeneficiou a gestão FHC ao silenciaraspectos negativos dos índices

30

O S D E S A C E R T O S D A P O L Í T I C A . . .

Page 7: Os desacertos da política neoliberal na m televisiva: um ...Os desacertos da política neoliberal na mídia televisiva: um olhar para o Jornal Nacional Carla Montuori Brasileira,

históricos do desemprego no país eao enfatizar outros aspectospositivos, como a queda constante dainflação.

Para exemplificar, em meados de1997, o tema desemprego já era aprincipal preocupação do eleitorbrasileiro, segundo apontavam aspesquisas do Ibope, de junho de1997, que trazia 62% dosentrevistados considerando esseproblema como o principal drama dopaís.

No que se refere à cobertura doJornal Nacional sobre o tema,Venício A. Lima, em análise dotelejornal, no período dejunho a julho de 1997,verificou que haviasomente divulgação dosíndices quando indicavamcrescimento da oferta deempregos, entretanto,sem compará-los com osíndices anteriores ouinformar a taxa doperíodo. Para Venício A.Lima (2004: 284), issosignificava que: quando odesemprego crescia, o JNnão divulgava (nãopautava, omitia), masquando o desempregodiminuía o JN divulgava(promovia, salientava).

Outro exemplo semelhante pode serretirado do dia 30 de março de 1998.Enquanto a mídia impressa davaênfase a problemas como odesemprego, o incêndio florestal emRoraima e o combate à epidemia dedengue e à reforma ministerial, oJornal Nacional dedicava 2 minutos e40 segundos a uma reportagemsobre a infidelidade de um macacobabuíno no zoológico de Brasília.Segundo ressalta Venício A. Lima(2004: 285), na mesma edição do JNforam dedicados apenas 2 minutos e29 segundos à cobertura do assuntopolítica, sendo que o Movimento SemTerra - MST mereceu 38 segundos e

a reforma ministerial apenas 10 segundos.

As manifestações populares também eram temas queincomodavam a emissora e o governo FHC e, destaforma, eram inteiramente descontextualizadas edesacreditadas pelo Jornal Nacional. Em 20 de maiode 1998, quando o índice de desemprego atingia amarca de 19%, houve uma manifestação promovidapela Central Única dos Trabalhadores - CUT, dasquais faziam parte manifestantes do Grito de TerraBrasil. Esperava-se que a grande manifestaçãoterminasse com um ato público, em frente aoCongresso Nacional. Entretanto, o que havia sidoprogramado para terminar em ato pacífico acabou setransformando em uma longa seqüência de violência,em que estiveram envolvidos manifestantes,parlamentares, sindica listas, políticos e a PolíciaMilitar do Distrito Federal.

A cobertura do Jornal Nacional, segundoesclarece Venício A. Lima (2004: 307),mencionou a manifestação contra odesemprego, mas empenhou-se emcaracterizar o movimento como baderna edesordem. Para legitimar sua posição, oJN, do dia 21/05/1998, deu voz aopresidente FHC que reiterou o caráter dedesordem do evento, em fala ao telejornal:Uma coisa é a manifestação dentro da lei,democrática. Outra coisa é a baderna.Baderna não é bom, não ajuda quem faz eatrapalha a compreensão do processopolítico. Eu acho lastimável.

Outro fator de grande relevância para opaís foi a greve de professores dasuniversidades públicas e estaduais, queteve início em setembro de 1998, e durou

98 dias. Apesar de toda crise revelada pela categoria,baixos salários para manutenção dos professores epouca verba para pesquisa, o governo demorou maisde dois meses para levar a proposta de aumento aoCongresso.

Durante esse período, a cobertura do JN foitotalmente descontextualizada, e mostrou apenas osproblemas que a paralisação causava à sociedadeem geral e aos estudantes, e em nenhum momentomencionou os problemas de base relacionados àquestão.

Coincidência ou não, a ação de desmoralização dosmovimentos sociais transmitida pelo Jornal Nacionalencontrou respaldo na política de Fernando HenriqueCardoso, em uma espécie de retroalimentação

31A Ñ O 1 2 , N º 1 5 , 2 º S E M E S T R E 2 0 0 7

C A R L A M O N T U O R I Y P A T R I C I A R . A M O R O S O

As manifestaçõespopulares também

eram temas queincomodavam a

emissora e ogoverno FHC e,

desta forma, eraminteiramente

descontextualizadase desacreditadas

pelo Jornal Nacional.

Page 8: Os desacertos da política neoliberal na m televisiva: um ...Os desacertos da política neoliberal na mídia televisiva: um olhar para o Jornal Nacional Carla Montuori Brasileira,

constante. Segundo nos esclarece Francisco deOliveira (1999: 80), uma das características da gestãoFHC foi a anulação da fala e a fabricação de umconsenso imposto, ao modo das ditaduras. Paraexemplificar, o autor cita os funcionários públicosfederais que ficaram dois anos sem receber qualquerreajuste e o assunto não foi sequer pautado pornenhum veículo de mídia.

Outra cobertura emblemática do Jornal Nacionalreferiu-se à privatização da Telebras, realizada pelaBolsa de Valores do Rio de Janeiro, em 29 de julho de1998. Venício A. de Lima (2004: 317) explica queapesar dos debates que o tema provocou noCongresso Nacional e, principalmente, na sociedadecivil brasileira, o Jornal Nacional foi omisso ou quaseomisso na transmissão do maior leilão de privatizaçãoda história do país. Além de defender claramente oprograma de privatização da empresa, o noticiáriosequer questionou as condições e o preço por que elafoi vendida. O JN da véspera ocupou 3 minutos e 20segundos para cobrir o leilão, e 10 minutos para cobriro nascimento da filha da apresentadora Xuxa.

Ao analisar o cenário de 1998, percebe-se que houveuma forte relação entre a mídia brasileira e a política,no sentido de definir uma agenda favorável aogoverno, mesmo mediante uma crise econômica epolítica muito grave. Rubim, em sua analise sobre otema, esclarece:

“Em 1998, as intervenções no campo das mídias sefez, antes de tudo, em total sintonia com as forçasdominantes do campo político. A adesão da mídia foiassim indiscutível. A tradição oficialista e governistada mídia outra vez se realizou. Mais que isto, ficoupatente uma afinidade ideológica entre setoresdominantes na política e boa parcela da mídia emtorno do Plano Rela e das proposições neoliberaispara o Brasil” (Apud COLLING, 2002: 60).

Já o Jornal Nacional, afirma Leandro Colling combase em seu estudo de agendamento eenquadramento, realizado no ano de 1998, beneficioua imagem de Fernando Henrique Cardoso, uma vezque utilizava as próprias fontes governamentais paraexplicar a crise. Segundo o autor:

“O JN beneficiou FHC porque tratou os problemasbrasileiros como eram explicados pelo governofederal, sem atribuir as causas dos problemas aopoder público. Aos invés disto, preferiu imputar estasresponsabilidades ao conjunto da sociedade, excluídade governo, ou aos setores não personalizados, comoo “mercado”, por exemplo. Com isso, é muito possível

que a ampla maioria da audiêncianão tenha relacionado os problemasbrasileiros com o governo federal”(2002: 61).

Havia, entretanto, nesse cenário, umacordo explícito entre a emissora e ogoverno. Segundo nos informa ArbexJr. (2003: 393), entre inúmerasrelações de promiscuidade da RedeGlobo com o governo, pode-sedestacar o escândalo surgido emtorno do aporte de R$ 284 milhões naGlobo Cabo. Ainda, revelou-se quealém desse valor, entre 1997 e 2002,as Organizações Globo teriamrecebido do Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico eSocial -BNDES aportes efinanciamentos que totalizam R$ 695milhões.

Foi nesse período, maisprecisamente na primeira gestão dogoverno Fernando HenriqueCardoso, que a emissora construiuuma central de produçõeshollywoodiana, capaz de gerarprogramação exportável e filmarqualquer paisagem sem sair deJacarepaguá. Ainda, nessa época, aRede Globo apostou na Internet einvestiu pesadamente na televisão acabo, por acreditar nas pesquisaspublicadas pela IBTA (AssociaçãoBrasileira de Televisão a Cabo), deque se tratava de um negócioaltamente lucrativo.4

O fracasso no número de assinantesda televisão a cabo no Brasil,5somado aos pesados investimentosque a Globo assumiu nas últimasdécadas, levou a emissora a contrairuma dívida, que vem enfrentandodificuldades para quitar, em nome daholding do grupo, a Globopar,6 de R$5,8 bilhões (US$ 1,9 bilhão), o queequivale a 60% da dívida de todas asempresas de mídia brasileiras.

Dessa forma, supõe-se que não foipor acaso, que a Rede Globo passoua apoiar o presidente Lula logo apósa eleição de 2002. Para Francisco de

32

O S D E S A C E R T O S D A P O L Í T I C A . . .

Page 9: Os desacertos da política neoliberal na m televisiva: um ...Os desacertos da política neoliberal na mídia televisiva: um olhar para o Jornal Nacional Carla Montuori Brasileira,

Oliveira (2006: 28), essa aliança seestruturou quando, as pesquisas deintenção mostravam aimpossibilidade de o candidato JoséSerra sair vitorioso. Sendo assim, oautor esclarece que: a Rede Globo,particularmente, detentora devolumosa dívida externa, mudou deposição, e um dia depois da eleiçãoapresentou o programa do “caminhode Garanhuns” de um predestinado.(2006: 28). Nesse momento, não seestabelecia, segundo o autor (2006:29), uma simples aliança, mas estavaem desenvolvimento a estratégia defazer o presidente eleito reconheceros interesses da classe de quemmanda na sociedade.

3. Considerações Finais

Ao enumerar a maneira comoaspectos fundamentais da políticaeconômica do governo de FernandoHenrique Cardoso eram tratados noJornal Nacional, este artigo

funcionou como um indicativo de que a situação realdo país ficou distante da agenda do noticiário. Osdesencontros e desacertos da política neoliberalpraticada pelo ex-presidente Fernando HenriqueCardoso, durante seus dois mandatos (1994-1998;1998-2002), foram transmitidos numa versãodescontextualizada e pouco explicativa à população.

Apesar dos efeitos devastadores da política neoliberalno campo social, o que se criou na mídia televisiva foium jogo fantasioso com o telespectador,regulamentado por um acordo entre os gruposmidiáticos e o governo, no qual não somente a fala,mas o pensamento mantinha-se censurado.

Como resultado, o sistema permaneceu inalterado,alimentando-se do êxito relativo dos seus própriosfundamentos e da “desorganização” política. E amídia, por sua vez, manteve-se como personagemdecisivo da vida política e cultural, impulsionando aespetacularização da democracia e fazendo com quea fala ficasse mais distante das classes dominadas ea reflexão crítica, ou mesmo a contestação, setornasse algo completamente inatingível.

COLLING, Leandro. Os estudos sobre o Jornal Nacional naseleições pós-ditadura e algumas reflexões sobre o papeldesempenhado em 2002. In: RUBIM, Antonio Albino. (Org.).

33A Ñ O 1 2 , N º 1 5 , 2 º S E M E S T R E 2 0 0 7

C A R L A M O N T U O R I Y P A T R I C I A R . A M O R O S O

Notas 1. Conforme pesquisa realizada pelo Ibope, em maio de 2004, o Jornal Nacional, apresentado por Fátima Bernardes e William Bonner, possui 66% de market-share,

seguido pelo Jornal do SBT, apresentado por Hermano Henning, com 19%; na seqüência, aparece o Jornal da Record, apresentado por Boris Casoy, com 7%; o Jornalda Band, apresentado por Carlos Nascimento com 4% e o Jornal da TV, apresentado por Augusto Xavier e Rita Lisauskas com 4%. Revista Contigo, n. 1511, 2 set.2004.

2. Segundo nos esclarece Vera Chaia, no que tange à mídia impressa, somente 19% da população brasileira é leitora dos jornais diários. Dado retirado da entrevistaconcedida pela Prof. Dra. Vera Lúcia Chaia ao site Caros Amigos. Disponível em

<http://www. carosamigos.terra.com.br/outras_edicoes/edicoes_especiais/eleicoes/maria_ribeiro.asp> Acesso: 28 mai. 2006.3. Para realização desse artigo, serão utilizados vários conceitos e trabalhos publicados pelo sociólogo Francisco de Oliveira, conforme as referências bibliográficas,

página 16.4. A dívida da Globopar se avolumou com o fascínio pela tecnologia digital e a fé em um ciclo virtuoso da economia e na imutabilidade do câmbio fixo verificada no

primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso. O grupo partiu para uma grande expansão, ao custo de um pesado endividamento no exterior – 80% da dívida é emmoeda estrangeira. A partir de 1995, o grupo investiu em TV a cabo (Net Serviços), TV por satélite (projeto Sky, em parceria com Rupert Murdoch) e em outrosprojetos da Globosat. A abertura do mercado de telecomunicações, com o surgimento de novos serviços, e o fim do monopólio estatal da telefonia provocaram umaeuforia de investimentos, que se prolongou até a privatização da Telebras, em 1998. Informação disponível em http://www.oficinainforma.com.br/pv.php?pv=1328Acesso em: 22 mar. 2006.

5. O fracasso das previsões de mercado para a nova economia demonstrou falhas evidentes nos serviços de TV por assinatura no país. Nos EUA, a TV por assinatura estádisponível em 97% dos domicílios, dos quais cerca de 82% assinam esse tipo de serviço. No Brasil, esse índice ficou muito abaixo do previsto, em 8,7%. A nova arteda Globo. Revista Reportagem da Oficina de Informação, ano V. n. 60, set. 2004.

6. A Globopar é a holding que controla as finanças e grande parte dos outros empreendimentos da organização.

BibliográficasARBEX Jr., José. Showrnalismo. A notícia como espetáculo. 3. ed. São Paulo: Casa Amarela, 2001.

ARBEX Jr., José. Uma outra comunicação é possível (e necessária). In: MORAES, Denis de. (Org.). Por uma outra comunicação:mídia, mundialização cultural e poder. São Paulo: Record, 2003.

ARRUDA, Lilian Rose de. O vôo das notícias: O Jornal Nacional e as eleições de 94. 1995. Dissertação (Mestrado em CiênciasSociais). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

BOURDIEU, Pierre. Sobre a Televisão. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

Page 10: Os desacertos da política neoliberal na m televisiva: um ...Os desacertos da política neoliberal na mídia televisiva: um olhar para o Jornal Nacional Carla Montuori Brasileira,

Eleições presidenciais em 2002 no Brasil: ensaio sobre mídia, cultura e política. São Paulo: Hackers, 2004.

DEBRAY, Regis. O Estado Sedutor: as revoluções midiológicas do poder. Petropolis, RJ: Vozes, 1994.

JORNAL Nacional. A notícia faz história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

LIMA, Venício A. de. Mídia: teoria e política. 2. ed. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004.

LINS DA SILVA, Carlos Eduardo. Muito além do Jardim Botânico: um estudo sobre a audiência do Jornal Nacional da Globo entretrabalhadores. São Paulo: Summus, 1985.

MACIAL, Pedro. Jornalismo de Televisão: normas práticas. Porto Alegre: Sagra D.C Luzzatto, 1995.

OLIVEIRA. Francisco de. O momento Lênin. Revista Novos Estudos, n.º 75, jul. 2006.

OLIVEIRA, Francisco de. Crítica à razão dualista o ornitorrinco. São Paulo: Boitempo, 2003.

OLIVEIRA, Francisco de. O trabalho abstrato e as novas formas de conflito(entrevista). In: LOUREIRO, Isabel et al (Org.). O espíritode Porto Alegre. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

OLIVEIRA, Francisco de. Privatização do público, destituição da fala e anulação da política: o totalitarismo neoliberal. In: OLIVEIRA,Francisco de. (Org.). Os sentidos da democracia: políticas do dissenso e hegemonia global. Rio de Janeiro: Vozes; Brasilia: Nedic,1999.

LUCAS, João Ignacio Pires. Neomonopolismo e o vários liberalismos: e os estudos dos casos do Chile eBrasil. Sincronía, México, n. Inverno, 2000.

PASSET, René. A ilusão neoliberal. São Paulo: Record, 2002.

PORTO, Mauro. Novas estratégias políticas na Globo? O Jornal Nacional antes e depois da saída de Cid Moreira. 1999. Trabalhoapresentado no XXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho.

REZENDE, Guilherme Jorge de. Telejornalismo no Brasil. um perfil editorial. São Paulo: Summus, 2000.

RUBIM, Antonio Albino Canelas. Mídia e Política no Brasil. João Pessoa: UFBp, 1999.

SODRÉ, Muniz. Televisão e Psicanálise. 2 ed. São Paulo: Ática, 2000.

VIEIRA, Geraldinho. São super-homens os jornalistas? São Paulo: Summus, 1991.

Jornais e RevistasFÁTIMA Bernardes. Garota Nacional. Revista Contigo, n. 1511, 2 set. 2004.

JORNAL Nacional que você nunca viu, O. Revista Veja. São Paulo: Abril, ano 37, n. 35, 1º set. 2004. Ed. 1869.

NOVA Arte da Globo, A. Revista Reportagem da Oficina de Informação, ano V, n. 60, set. 2004.

TEMER, Ana Carolina Rocha Pessoa. A consumação do Fato – Representação da primeira semana do “Governo Lula” notelejornalismo da Rede Globo de Televisão. Revista Comunicação e Sociedade. Metodista, ano 25, n. 41.

VENUS Endividada. Carta Capital. São Paulo: Confiança, ano IX, n. 214, 6 nov. 2002.

SitesARTE e Manha da TV Globo. Disponível em:<http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=298ASP027>. Acessoem: 03 jan. 2007.

CHAIA, Vera Lúcia. Quem elegeu os âncoras? Caros Amigos. Disponível em:<http://carosamigos.terra.com.br/outras_edicoes/edicoes_especiais/eleicoes/maria_ribeiro> Acesso em: 28 maio 2006.

REPORTAGEM da Oficina de Informação. A Rede Globo de Televisão – o endividamento. Disponível em:<http://www.oficinainforma.com.br/pv.php?pv=1328>. Acesso em: 22 mar. 2006.

34

O S D E S A C E R T O S D A P O L Í T I C A . . .