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Os Credos são Adequados para Batistas que Creem na Bíblia?

Thomas Nettles

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

Traduzido do original em Inglês

Are Creeds Appropriate for Bible Believing Baptists?

By Thomas Nettles

Via: Founders.org

Tradução por Camila Almeida

Revisão e Capa por William Teixeira

1ª Edição: Setembro de 2016

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida

Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, de Tom Ascol (diretor

executivo da Founders Ministries), sob a licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-

NoDerivatives 4.0 International Public License.

Você está autorizado e incentivado a reproduzir e/ou distribuir este material em qualquer formato,

desde que informe o autor, as fontes originais e o tradutor, e que também não altere o seu conteúdo

nem o utilize para quaisquer fins comerciais.

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Os Credos são Adequados para Batistas que Creem na Bíblia? Por Thomas Nettles

O esforço para extrair benefício positivo de confissões parece tão estranho para alguns hoje

que dificilmente pode ser distinguido da palavra assustadora “credalismo”. Embora existam

distinções históricas e práticos válidas entre o uso de declarações de fé como um credo e

a sua utilização como uma confissão, estas distinções dificilmente se aplicam à fobia

comum dos nossos dias tanto de “credos” quanto de confissões.

Objeções de Alguns Batistas aos Credos

O casamento dos Batistas com a teologia confessional tem sido levado muitas vezes ao

tribunal de divórcio. Agora Batistas ferozes e rigorosos estão alegando ter sido ofendidos

tão completamente que uma separação total é necessária para a sobrevivência. Outros

afirmam que o casamento nunca aconteceu. O historiador Batista Thomas Armitage

expressou claramente uma forma de pensar sobre credos.

Este livro chamado a Bíblia é dado por inspiração de Deus e é a única regra de fé e

prática cristã. A consequência disso é que não temos credos, nem catecismos e nem

decretos que nos unem por sua autoridade. Cremos que um credo não vale nada, a

menos que seja fundamentado pela autoridade bíblica, e se o credo é fundado sobre

a Palavra de Deus, não vejo por que não devamos descansar sobre essa Palavra que

sustenta o credo; nós preferimos voltar diretamente para a própria fundação e

descansar lá somente. Se ela é capaz de nos sustentar, não precisamos de mais

nada, e se não for, então não podemos descansar sobre um credo que nos

fundamente quando esta crença não tem fundamento para si mesma.1

O prefácio de Baptist Faith and Message [Fé e Mensagem Batista], de 1963, afirma que

seus escritores agem segundo o princípio de uma “aversão Batista por todos os credos,

exceto a Bíblia”. E, é claro, há a questão exclamatória de John Leland: “Por que essa

Virgem Maria entre as almas dos homens e as escrituras?”, seguida de uma declaração

que contém uma outra suspeita quanto às confissões: “Confissões de fé, muitas vezes, não

1 Thomas Armitage, “Baptist Faith and Practice” [Fé e Prática Batista], em C. A. Jenkyns, Ed. Baptist Doctrines

[Doutrinas Batistas] (Chancy R. Barns: St. Louis, 1882), p. 34.

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demandam nenhuma outra busca pela verdade”.2 A união dos Batistas Independentes e

Regulares em Virginia foi prejudicada brevemente porque os Independentes “temiam que

uma confissão pudesse usurpar um poder tirânico sobre a consciência”.3 Além disso, a

prática Anglicana da concessão de confirmação baseada na memorização do catecismo do

Livro de Oração tendeu a fazer do “credalismo” um sinônimo eficaz para o cristianismo

nominal.4

Em resumo, quatro objeções ao uso sério de confissões ou credos têm surgido

historicamente e continuam a surgir hoje. Em primeiro lugar, no espírito de Thomas

Armitage, muitos sinceramente exortam em oposição às confissões devido ao princípio do

Sola Scriptura. Em segundo lugar, alguns argumentam que o uso de confissões dará uma

falsa confiança de que a verdade da Escritura se esgota na confissão e, assim, inibe o

verdadeiro crescimento no conhecimento das Escrituras. Uma pessoa sentirá que o

conhecimento da confissão é suficiente e, consequentemente, irá afastar-se da dinâmica

da viva Palavra de Deus. Em terceiro lugar, uma confissão pode ser usada como forma de

reprimir a busca genuína pela verdade, oferecer respostas artificiais a perguntas e ameaçar

aqueles que estão em uma fase de inquérito, tiranizando, assim, a tenra consciência de

crentes. Em quarto lugar, a aceitação mental das doutrinas da confissão serviu muitas

vezes como um substituto para a verdadeira conversão e levou à uma ortodoxia morta.

Objeções Consideradas em Geral

A administração de nossa herança espiritual exige que essas quatro áreas de preocupação

sejam abordadas com sinceridade e seriedade, pois elas não têm surgido em um vácuo.

2 Citado em The Unfettered Word [O Mundo Liberto], ed. Robison James (Waco: Word Books, 1987), p. 139.

Esta obra é citada no prefácio de um artigo intitulado “Creedalism, Confessionalism, and the Baptist Faith and

Message” [Credalismo, Confessionalismo e a Fé e Mensagem Batista]. Eu escrevi para este livro. O editor

procura apresentar um exemplo das “inclinações não confessionais de Batistas do Sul”. Algumas dessas

preocupações são abordadas neste artigo. Com a permissão do editor, Robison B. James, espero publicar

uma versão ligeiramente editada desse artigo na próxima edição de The Founders Journal.

3 Robert A. Baker, A Baptist Sourcebook [Um Manual Batista] (Nashville: Broadman Press, 1966), p. 22.

4 O Livro de Oração Comum afirma:

Tão logo filhos cheguem à uma idade em que se tornem capazes, e possam recitar em sua língua

nativa o Credo, a Oração do Senhor e os Dez Mandamentos; e também possam responder às outras

questões desse breve Catecismo; eles serão levados ao Bispo. E cada um terá um padrinho ou uma

madrinha, como um testemunho da sua confirmação.

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Qualquer uso de confissões que, de fato, usurpam o lugar da Escritura deve ser rejeitado,

ou pelo menos corrigido, e isso imediatamente. Além disso, nenhum lugar deve ser dado a

uma confissão para que ela sirva como uma síntese exaustiva da verdade bíblica. Sempre

devemos confessar: “Deus ainda tem mais luz para revelar através de Sua santíssima

Palavra”. Nem o ideal confessional deve ser autorizado para tiranizar a consciência de

qualquer pessoa. Um uso sensível e equilibrado para a instrução e disciplina não precisa

frustrar o inquérito sério ou reprimir a consciência de ninguém. Finalmente, quaisquer

efeitos deletérios que o confessionalismo teria sobre a compreensão da verdadeira

natureza da fé salvífica ou da necessidade absoluta do novo nascimento devem ser muito

lamentados e escrupulosamente evitados. Alguns dos que estão convencidos do poder e

clareza do Evangelho apontam para manifestações históricas, como prova dessas

tendências no uso de confissões. Elas devem demonstrar que o que eles temem é mais o

fruto do não-confessionalismo do que do confessionalismo.

Em segundo lugar, alegamos que os Batistas sempre reconheceram e evitaram esses

perigos. Desde que estes são abusos, eles não devem ser considerados inerentemente

essenciais à verdadeira força das confissões. A maioria deles surgem a partir do uso de

confissões numa situação de establishmentarian.5 A união entre a Igreja e Estado traz muito

mais males à igreja do que apenas o abuso de confissões. O abuso das Escrituras, o abuso

da lei, o abuso do estado, o abuso da igreja e o abuso do sistema penal todos resultam de

establishmentarian. No entanto, o abuso não exige a eliminação de qualquer dessas

instituições, mas exige sua purificação do constrangimento pecaminoso da união

igreja/estado. Esta realidade histórica explica a anedota de John Leland: “Às vezes, é dito

que os hereges são sempre avessos às confissões de fé. Eu gostaria de poder dizer o

mesmo a respeito dos tiranos”.6

A terceira observação geral sobre estas objeções aponta para a tendência que temos de

investir poder em qualquer auxílio de estudo ou figura de autoridade. O desenvolvimento

da doutrina da infalibilidade papal mostra o quão longe este abuso chegar. Em uma escala

mais reduzida, porém de acordo com o mesmo princípio, pode-se observar professores de

Escola Dominical colocando uma maior confiança na palavra dos professores que são

responsáveis pelas lições do trimestre do que na clareza da Palavra de Deus. Porém,

5 *Termo que denota o princípio de uma igreja ser reconhecido oficialmente como uma instituição nacional

(Nota de tradução).

6 James, p. 139.

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nenhum desses abusos significa que devemos evitar a submissão bíblica a um ministro que

é apto a ensinar ou que devemos rejeitar a ajuda de comentários para a compreensão das

Escrituras.

Objeções Examinadas em Particular

Contra o Sola Scriptura?

Agora, precisamos perguntar: “O uso consciente de uma Confissão de Fé usurpa o lugar

legítimo da Escritura na fé e prática de alguém?”. Se a confissão for como os artigos do

Concílio de Trento, teríamos de dizer: “Sim”. O Concílio de Trento coloca a tradição não

escrita ao lado da Escritura como uma autoridade e afirma que somente a igreja (o Papa)

tem o direito de interpretar as Escrituras. Mas as Confissões Protestantes têm quase

sempre apresentado e defendido a autoridade única da Escritura e têm resistido às

tentativas de estabelecer doutrinas em qualquer sentido, exceto por autoridade bíblica.

Citações bíblicas e provas escriturísticas incentivam o leitor a examinar as afirmações da

confissão à luz dos textos bíblicos.

Além disso, o contexto histórico dessas confissões nos lembra que seus subscritores, acima

de todos os homens, não tinham nenhum desejo de produzir algo que pudesse esconder a

Palavra de Deus dos olhos das pessoas. Por exemplo, uma leitura da Confissão das Igrejas

Reformadas da França mostra esta submissa consideração aos limites estabelecidos pela

Escritura regulando a composição da Confissão. Depois de afirmar a doutrina da Trindade

como “decidida por concílios antigos”, a Confissão continua, “nós recebemos e

concordamos com tudo que neles foi resolvido, como sendo extraído a partir das Sagradas

Escrituras, no que unicamente a nossa fé deve ser fundamentada, pois não existe nenhuma

outra testemunha adequada e competente para decidir o que é a majestade de Deus, senão

o próprio Deus”. As duas naturezas de Cristo demandam a nossa aprovação porque “temos

o Antigo e o Novo Testamentos como única regra de nossa fé, por isso, recebemos tudo o

que está de acordo com eles”. As orações aos mortos são rejeitadas porque rebaixam a

morte de Cristo e “resolvemos ser suficiente afirmá-lo, pela pura doutrina da Sagrada

Escritura, a qual não faz qualquer menção disso”. O culto a Deus deve ser feito de forma

simples, pois não estamos autorizados a “seguir o que pode ter sido concebido no cérebro

de outros homens, mas nos limitamos simplesmente à pureza das Escrituras”. Seguir as

tradições humanas produz tal perversidade da doutrina e prática “que estamos muito

determinados a não ultrapassarmos os limites da Escritura”. A época da Reforma produziu

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muitas confissões; isso também indica um compromisso profundo, puro e apaixonado pela

autoridade única das Escrituras.

A objeção às confissões, com base em sua tendência a substituir a Escritura me parece ser

uma quimera. Isso combina perigos fictícios com as piores características de uma

comunhão cristã que confessadamente não opera com base no Sola Scriptura. Na

realidade, a história demonstra que aqueles que valorizam suas confissões também dão a

mais intensa atenção à Escritura e têm o maior respeito pela pureza e consistência de suas

doutrinas. A perda de confiança na infalibilidade e consistência da Bíblia produz

naturalmente uma atitude cética em relação às confissões de fé.

Um exemplo radical dessa tendência pode ser visto na convicção de Edward Farley, que

devemos “nos recusar a fazer de qualquer coisa humana e histórica um absoluto atemporal,

estando acima do fluxo dos contextos e situações”. E qual exemplo ele nos oferece daquilo

que é “humano e histórico?” “Alguém se recusa a dar esta caraterística de atemporal e

incondicional a uma denominação, às próprias confissões, à própria herança e até mesmo

para a própria Escritura”. Posteriormente, Farley nos informa que “Deus pode estar

operando salvificamente através das comunidades de outras crenças religiosas, que o

budismo, o hinduísmo, o judaísmo e religiões nativas americanas são crenças verdadeiras

e que porque elas o são, nós podemos aprender com elas, mesmo tanto quanto elas

poderiam aprender conosco”.7

Se Farley é a voz profética para o anticonfessionalismo, devemos ver claramente que a sua

força motriz é a perda de qualquer crença no conhecimento humano de absolutos. Não

somente a confissão deve cair, a Sagrada Escritura deve cair, e eventualmente, qualquer

exigência da singularidade da redenção por Cristo crucificado deve ser chamada de

arrogante e intolerante. Parece-me que a mentalidade do não-confessionalismo é muito

mais perigosa e destrutiva do que a do confessionalismo jamais foi.

7 Edward Farley, “The Modernist Element in Protestantism” [O Elemento Modernista no Protestantismo], em

Theology Today [Teologia Hoje] XLVII. no. 2, pp. 141, 143. Farley é professor de Teologia da Vanderbilt

University Divinity School. Duas das principais questões do artigo de Farley são a “revisibilidade de

confissões” e a “abordagem histórica” da Escritura. Ele gostaria de ver muitos mais temas modernistas

inseridos nas confissões presbiterianas e parece modestamente concordar com a Confissão de 1967 por

causa de seu reconhecimento de que as Escrituras permanecem “não obstante as palavras de homens” e

são condicionadas pela linguagem, formas de pensamento e estilos literários das diferentes culturas e

circunstâncias históricas. É óbvio que ele reconhece que o forte confessionalismo tende a retardar o progresso

dos conceitos relativistas em relação à Escritura.

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Conhecimento Exaustivo Assumido?

“Confissões de fé, muitas vezes, não demandam nenhuma outra busca pela verdade”. Eu

sempre desejei poder perguntar a John Leland pessoalmente o que ele quis dizer com isso.

Ele poderia dizer, como já indicado acima, que alguns tratam uma confissão de fé como

uma amostra exaustiva da verdade bíblica. Ou talvez ele intencione dizer que a verdade

nesta forma “pré-digerida” incentiva uma confiança preguiçosa ou artificial que as pessoas

temem transgredir, em ambos os casos isso desencoraja as tentativas sérias de estudo

bíblico e exclui a compreensão de argumentos bíblicos de outros. Quando os Batistas foram

perseguidos na Virgínia e em Massachusetts, eles eram frequentemente perseguidos com

base em violações dos Trinta e Nove Artigos da Igreja Anglicana ou da Declaração de

Savoy adotada pelos Congregacionais e não receberam um julgamento justo caso em que

poderiam fazer uma defesa de seus princípios bíblicos. Este tipo de confessionalismo

acrítico e antibíblico poderia facilmente estar por trás das críticas de Leland.

Apesar de ser sensível a este abuso, devemos, contudo, afirmar que as vantagens superam

em muito esse possível uso lamentável das confissões. Em sua busca pela verdade,

Thomas Scott ao examinar os Trinta e Nove Artigos foi desafiado a uma busca incessante

da Escritura que o levou das heresias clássicas do Socinianismo e Arianismo para a

doutrina ortodoxa sobre Cristo. Eventualmente, os ensinamentos da Reforma sobre a

justificação pela fé e as doutrinas da graça se tornaram uma parte integrante da sua

teologia.8 Nenhuma defesa eloquente do princípio do Sola Scriptura e do poder expansivo

8 Veja Thomas Scott, The Force of Truth [A Força da Verdade]. A edição que tenho usado também contém

os seus sermões “Growth in Grace” [Crescimento em Graça] “Repentance” [Arrependimento] e “Election and

Perseverance” [Eleição e Perseverança] (Halifax: William Milner, 1844). pp 7-98. O livro foi publicado pela

primeira vez em 1779. No prefácio à nona edição publicada em 1812, Scott escreveu: “[o autor] está mais do

que nunca mui plenamente confirmado em seu julgamento sobre a doutrina contida neste”. O relato de Scott

sobre a interação entre a sua leitura da literatura evangélica, sua contemplação do credo da igreja e seu

estudo bíblico pessoal formam um dos estudos mais interessantes de peregrinação teológica com o qual

estou familiarizado. Ele confessa que a doutrina da Trindade, que fala de pessoas co-iguais na unidade da

Divindade não estava em nenhuma parte de seu credo e que ele tinha “disputado com os artigos da igreja

estabelecida sobre esta doutrina” (p. 53). O testemunho universal dos credos, no entanto, além da leitura de

literatura contemporânea o constrangeram à análise cuidadosa e intensa meditação sobre as Escrituras, o

que acabou levando-o a adotar a doutrina de uma “Trindade na Unidade”. Da mesma forma, a sua luta em

relação às doutrinas da graça envolveu a mesma dinâmica. Scott lembra:

Até agora, eu tinha intencionalmente preterido e negligenciado, ou me esforçado para conceber alguma

outra compreensão sobre todas as partes da Escritura que falam diretamente disso, mas agora eu

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de estudo bíblico pode ser afirmada mais do que a de Scott.9 No entanto, isso não envolveu

qualquer difamação das confissões, mas exemplificou o benefício positivo delas.

Em vez de dificultar a compreensão da verdade por parte de alguém, as confissões e credos

são projetados para expandi-la. As confissões, enquanto surgem do entrosamento entre

palavra e a experiência, previnem o leitor de interpretações destrutivas da Escritura e lhe

ensinam as verdades vitais, as quais ele deve examinar segundo as Escrituras.

Violação da Consciência?

A terceira objeção, a alegação de que as confissões tiranizam a consciência, sofre de uma

mistura acrítica da teoria política e eclesiologia. J. P. Boyce se refere a esta tendência em

Three Changes in Theological Institutions [Três Mudanças em Instituições Teológicas]. Ele

observou que outras denominações acham que os Batistas não têm usado credos porque

o princípio da liberdade de consciência “proibiu a imposição de sanções civis sobre aqueles

que têm divergido de nós”. Na verdade, muitos Batistas aceitam esta opinião e deturpam a

prática Batista. Boyce diz: “É suficiente dizer que temos simplesmente sustentado que as

sanções civis não são os meios de punir os membros da igreja de Cristo que cometem

alguma ofensa”, e: “As ideias que temos sustentado sobre a natureza espiritual do reino de

Cristo têm desenvolvido o princípio da liberdade de consciência e nos impedem de infligir

punição corporal ou a sujeição a qualquer sanção civil”. Nós, igualmente, devemos

comecei a considerar, meditar e orar a respeito; e eu logo descobri que não poderia sustentar as minhas

antigas interpretações. Elas ensinaram a predestinação, eleição e perseverança final, apesar de toda

a minha luta e exposição. Também me ocorreu que essas doutrinas, apesar de agora se encontrarem

em declínio, foram universalmente cridas e confirmadas por nossos veneráveis reformadores; foram

admitidas no início da reforma pelos credos, catecismos ou artigos de cada uma das igrejas

protestantes; que os nossos artigos e homilias expressamente as sustentam; e, por conseguinte, que

um grande número de homens sábios e sóbrios... por meio de deliberação madura, concordaram... que

elas eram verdadeiros... úteis, [e]... necessários artigos de fé (p. 60).

9 Ibid., pp. 80-86. Em um ponto Scott diz: “Nós também somos muito propensos, ao nos beneficiarmos do

trabalho de críticos e expositores, a renunciar implicitamente à orientação deles e imaginar que temos a prova

suficiente de nossas doutrinas, se pudermos produzir a chancela de algum grande nome que as tenha

recebido e afirmado, sem examinar cuidadosamente se elas são corretas ou erradas; mas isso é prestar honra

à interpretação humana, a qual é devida apenas ao Livro de Deus, sobre o qual os comentários são feitos”.

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reconhecer que a espiritualidade da igreja demanda de nós a “necessidade de excluir

aqueles que abandonaram a simplicidade que há em Cristo”.10

A queixa de que os credos constituem uma violação aos direitos da consciência foi uma

das peculiaridades de Alexander Campbell. A lógica disso foi rejeitada por Robert Semple,

da Virgínia, que chamou esse ponto de vista, entre outros, de “contrário ao dos Batistas em

geral”. Um dos pontos de discordância listado pelas associações Batistas que

excomungaram os seguidores de Campbell foi a alegação destes de “que nenhum credo é

necessário para a Igreja, exceto as Escrituras como elas estão”.11 Os Batistas certamente

não estavam negando a suficiência das Escrituras e nem a necessidade de liberdade de

consciência, mas viram claramente que não há inconsistência entre essas convicções e o

uso de um “credo”.

Uma confissão usada corretamente é uma ajuda pedagógica maravilhosa para todos os

crentes. A subscrição a ela não precisa ser imediata, mas pode vir gradualmente. Alguns

podem ser muito jovens na fé para compreender suas conexões e importância. Ninguém,

no entanto, deve opor-se à confissão. Se depois de estudo maduro e completo uma pessoa

concluir que ele não subscreve a confissão, ela deve determinar se o assunto é

adiaforístico12 para si ou uma questão de consciência. Se é questão de consciência, ele

pode sair sem que qualquer um busque forçá-lo a fazer o contrário. Desta forma, a sua

consciência não é tiranizada e a unidade da igreja não é violada. Uma postura confessional

para uma igreja não implica nem em divisão e nem tirania. Em vez disso, ela honra, informa

e protege a consciência de todos e auxilia na produção da unidade.

Regeneração Confessional?

A identificação da ortodoxia confessional com o verdadeiro Cristianismo é, talvez, o perigo

mais sutil e historicamente demonstrável do Cristianismo confessional. O período do

confessionalismo Luterano no século XVII produziu lutas e contendas na teologia alemã,

mas pouca piedade observável. Philip Jacob Spener lamentou esta condição e falou de

10 J. P. Boyce, “Three Changes in Theological Institutions” [Três Mudanças em Instituições Teológicas], em

Timothy George, ed. James Petigru Boyce: Selected Writings [James Petigru Boyce: Obras Selecionadas]

(Nashville: Broadman Press, 1989) pp. 55, 56.

11 Baker, Sourcebook [Manual], p. 78.

12 Adiaforístico: refere-se às coisas que são moralmente indiferentes (Nota de tradução).

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pregadores que “tendo aprendido alguma coisa da letra das Escrituras, compreenderam e

concordaram com a doutrina verdadeira, e, inclusive, sabiam como pregar a outros”, mas

não eram pessoalmente familiarizados com a “verdadeira luz celeste e a vida de fé”.13

Spener afirmava as Confissões Luteranas e declarou a sua teologia em termos

confessionais. Ele começou os principais erros do movimento Pietista, no entanto, estes

foram desenvolvidos a partir do entusiasmo não-confessional de seus seguidores.

O Congregacionalismo da Nova Inglaterra murchou sob o uso errado da ortodoxia

confessional. Este abuso tornou-se institucionalizado no Pacto do Meio-termo de 1662

[Halfway Covenant of 1662]. Quando os Batistas independentes surgiram do movimento

Congregacional New Light [Nova Luz] no Primeiro Grande Avivamento, eles tinham um

medo legítimo do abuso das confissões. Este temor por um tempo impediu a união dos

Batistas Independentes com os Batistas Regulares. Os independentes expressaram

resistência a “serem obrigados e dificultados pelos artigos e Confissões”. Eventualmente,

a união ocorreu com base em confissões de fé comum.

No entanto, a aceitação de confissões, não significa incentivar a perda de uma teologia

sobre a conversão. Quem eram mais insistentes sobre o novo nascimento em sua pregação

do que George Whitefield e Jonathan Edwards? Ambos eram confessionais. Ninguém

jamais produziu uma obra teológica mais experimental e de apelo à conversão do que

Edwards, em: “A Divine and Supernatural Light, Immediately imparted to the Soul by the

Spirit of God, Shown to be both a Scriptural and Rational Doctrine” [Uma Luz Divina e

Sobrenatural, imediatamente comunicada à Alma pelo Espírito de Deus, Demonstrada ser

tanto uma Doutrina Bíblica quanto Racional]. Ao falar sobre a soberana e imediata obra de

Deus na regeneração, Edwards conclui: “Sim, o menor vislumbre da glória de Deus na face

de Cristo eleva e enobrece mais a alma do que todo o conhecimento daqueles que têm a

maior compreensão especulativa sobre a teologia, mas que não possuem a graça”.14

Edwards destaca a distinção entre conhecimento especulativo e a verdadeira graça de

forma brilhante em seu sermão “True Grace Distinguished from the Experience of Devils”

[A Verdadeira Graça Distinguida da Experiência dos Demônios], onde ele diz que “nenhum

grau de conhecimento especulativo da religião é qualquer sinal seguro da verdadeira

13 Philip Jacob Spener, Pia Desideria (Philadelphia: Fortress Press, 1964) trad. Theodore G. Tappert, p. 46.

14 Jonathan Edwards, “A Divine and Supernatural Light” [Uma Luz Divina e Sobrenatural], em The Works of

Jonathan Edwards [As Obras de Jonathan Edwards], 2:17. Itálicos meus.

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piedade”. E, novamente: “O diabo é ortodoxo em sua fé; ele crê no verdadeiro padrão

doutrinário; ele não é deísta, sociniano, ariano, pelagiano ou antinomiano; os artigos de sua

fé são todos sãos, e neles ele está completamente firmado”.15 Estes fatos em si, no entanto,

não tornam o Cristianismo confessional mais perigoso do que o Deísmo, Socinianismo ou

Arianismo o tornam seguro. A questão é que o novo nascimento é essencial em qualquer

caso, e nada, mesmo outras coisas dadas por Deus, pode substituí-lo.

Conclusão

Nenhuma das objeções à teologia confessional são consistentes. Ou elas são feitas contra

abusos ou surgem de um ceticismo latente, ou, muitas vezes, evidente. Os abusos devem

ser evitados e o ceticismo deve ser confrontado. As confissões têm uma contribuição

positiva e edificante na vida da Igreja e do Cristão individual.

Sola Scriptura!

Sola Gratia!

Sola Fide!

Solus Christus!

Soli Deo Gloria!

15 Edwards, p. 43.

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10 Sermões — R. M. M’Cheyne

Adoração — A. W. Pink

Agonia de Cristo — J. Edwards

Batismo, O — John Gill

Batismo de Crentes por Imersão, Um Distintivo

Neotestamentário e Batista — William R. Downing

Bênçãos do Pacto — C. H. Spurgeon

Biografia de A. W. Pink, Uma — Erroll Hulse

Carta de George Whitefield a John Wesley Sobre a

Doutrina da Eleição

Cessacionismo, Provando que os Dons Carismáticos

Cessaram — Peter Masters

Como Saber se Sou um Eleito? ou A Percepção da

Eleição — A. W. Pink

Como Ser uma Mulher de Deus? — Paul Washer

Como Toda a Doutrina da Predestinação é corrompida

pelos Arminianos — J. Owen

Confissão de Fé Batista de 1689

Conversão — John Gill

Cristo É Tudo Em Todos — Jeremiah Burroughs

Cristo, Totalmente Desejável — John Flavel

Defesa do Calvinismo, Uma — C. H. Spurgeon

Deus Salva Quem Ele Quer! — J. Edwards

Discipulado no T empo dos Puritanos, O — W. Bevins

Doutrina da Eleição, A — A. W. Pink

Eleição & Vocação — R. M. M’Cheyne

Eleição Particular — C. H. Spurgeon

Especial Origem da Instituição da Igreja Evangélica, A —

J. Owen

Evangelismo Moderno — A. W. Pink

Excelência de Cristo, A — J. Edwards

Gloriosa Predestinação, A — C. H. Spurgeon

Guia Para a Oração Fervorosa, Um — A. W. Pink

Igrejas do Novo Testamento — A. W. Pink

In Memoriam, a Canção dos Suspiros — Susannah

Spurgeon

Incomparável Excelência e Santidade de Deus, A —

Jeremiah Burroughs

Infinita Sabedoria de Deus Demonstrada na Salvação

dos Pecadores, A — A. W. Pink

Jesus! – C. H. Spurgeon

Justificação, Propiciação e Declaração — C. H. Spurgeon

Livre Graça, A — C. H. Spurgeon

Marcas de Uma Verdadeira Conversão — G. Whitefield

Mito do Livre-Arbítrio, O — Walter J. Chantry

Natureza da Igreja Evangélica, A — John Gill

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Natureza e a Necessidade da Nova Criatura, Sobre a —

John Flavel

Necessário Vos é Nascer de Novo — Thomas Boston

Necessidade de Decidir-se Pela Verdade, A — C. H.

Spurgeon

Objeções à Soberania de Deus Respondidas — A. W.

Pink

Oração — Thomas Watson

Pacto da Graça, O — Mike Renihan

Paixão de Cristo, A — Thomas Adams

Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado — J. Edwards

Pecaminosidade do Homem em Seu Estado Natural —

Thomas Boston

Plenitude do Mediador, A — John Gill

Porção do Ímpios, A — J. Edwards

Pregação Chocante — Paul Washer

Prerrogativa Real, A — C. H. Spurgeon

Queda, a Depravação Total do Homem em seu Estado

Natural..., A, Edição Comemorativa de Nº 200

Quem Deve Ser Batizado? — C. H. Spurgeon

Quem São Os Eleitos? — C. H. Spurgeon

Reformação Pessoal & na Oração Secreta — R. M.

M'Cheyne

Regeneração ou Decisionismo? — Paul Washer

Salvação Pertence Ao Senhor, A — C. H. Spurgeon

Sangue, O — C. H. Spurgeon

Semper Idem — Thomas Adams

Sermões de Páscoa — Adams, Pink, Spurgeon, Gill,

Owen e Charnock

Sermões Graciosos (15 Sermões sobre a Graça de

Deus) — C. H. Spurgeon

Soberania da Deus na Salvação dos Homens, A — J.

Edwards

Sobre a Nossa Conversão a Deus e Como Essa Doutrina

é Totalmente Corrompida Pelos Arminianos — J. Owen

Somente as Igrejas Congregacionais se Adequam aos

Propósitos de Cristo na Instituição de Sua Igreja — J.

Owen

Supremacia e o Poder de Deus, A — A. W. Pink

Teologia Pactual e Dispensacionalismo — William R.

Downing

Tratado Sobre a Oração, Um — John Bunyan

Tratado Sobre o Amor de Deus, Um — Bernardo de

Claraval

Um Cordão de Pérolas Soltas, Uma Jornada Teológica

no Batismo de Crentes — Fred Malone

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2 Coríntios 4

1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;

2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem

falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,

na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 3 Mas, se ainda o nosso evangelho está

encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4 Nos quais o deus deste século cegou os

entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória

de Cristo, que é a imagem de Deus. 5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo

Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus,

que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,

para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porém,

este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.

9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;

10 Trazendo sempre

por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus

se manifeste também nos nossos corpos; 11

E assim nós, que vivemos, estamos sempre

entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na

nossa carne mortal. 12

De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13

E temos

portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,

por isso também falamos. 14

Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará

também por Jesus, e nos apresentará convosco. 15

Porque tudo isto é por amor de vós, para

que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de

Deus. 16

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o

interior, contudo, se renova de dia em dia. 17

Porque a nossa leve e momentânea tribulação

produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 18

Não atentando nós nas coisas

que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se

não veem são eternas.