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Traduzido do original em Inglês
Interpretation of the Scriptures
By A. W. Pink
Este e-book consiste apenas no Cap. 4 da obra supracitada.
Via: PBMinistries.org
(Providence Baptist Ministries)
Tradução por Camila Rebeca Almeida
Revisão por William Teixeira
Capa por William Teixeira
1ª Edição: Fevereiro de 2017
Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida
Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.
Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, com a devida
permissão do ministério Providence Baptist Ministries, sob a licença Creative Commons Attribution-
NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License.
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A Interpretação das Escrituras
Por A. W. Pink
Capítulo 4
________________________________________
O pregador deve ser, acima de tudo, um homem do Livro, bem versado no conteúdo
da Palavra de Deus, alguém que é capaz de extrair de seu tesouro “coisas novas e velhas”
(Mateus 13:52). A Bíblia deve ser o seu único livro-texto e de suas águas vivas ele deve
beber profunda e diariamente. Pessoalmente, não uso nada mais do que a King James
Versão Autorizada Inglesa e a Concordância de Young, com uma referência ocasional à
Interlinear de Grego e a King James Versão Americana Revisada. Consulto os Comentários
apenas após fazer um inicial e exaustivo estudo de uma passagem. Recomendo fortemente
aos jovens pregadores que sejam muito vigilantes para não permitirem que os comentários
se tornem substitutos, em vez de um auxílio, ao seu próprio minucioso e pleno exame e
ponderação das Sagradas Escrituras. Assim como há um meio termo entre imaginar ou que
a Bíblia é tão clara e simples que qualquer um pode entendê-la ou tão difícil e profunda que
seria um desperdício de tempo para a pessoa mediana lê-la, assim também há entre ser
essencialmente dependente das obras dos outros e simplesmente ecoar as suas ideias, e
depreciar totalmente a luz e a ajuda que podem ser obtidas a partir dos antigos servos de
Deus.
É aos pés de Deus que o pregador deve posicionar-se, aprendendo com Ele o
significado de Sua Palavra, na esperança de que Ele desvele os Seus mistérios, buscando
nEle a sua mensagem. Em nenhum lugar, senão nas Escrituras ele pode discernir o que é
agradável ou desagradável ao Senhor. Somente ali são revelados os segredos da
sabedoria divina, sobre a qual o filósofo e o cientista não conhecem nada. Como o grande
Puritano holandês justamente salientou: “Tudo o que não é retirado das mesmas, o que
não é construído sobre elas, o que não está mui exatamente de acordo com elas, embora
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possa recomendar-se pela aparência da mais sublime sabedoria, ou apoiar-se na antiga
tradição e no consenso dos homens eruditos, ou tenha o peso de argumentos plausíveis, é
inútil, fútil e, em suma, uma mentira. ‘À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo
essa palavra, é porque não há luz neles’. Que o teólogo se deleite nos oráculos sagrados;
que ele se exercite neles de dia e de noite, e medite neles, e extraia toda a sua sabedoria
deles. Que ele mantenha todos os seus pensamentos em torno deles, que, no que diz
respeito à religião, ele não aceite nada não possa ser encontrado ali” (Herman Witsius).
1. Tratando agora daqueles princípios que devem orientar o estudante em seus
esforços para interpretar a Palavra de Deus, colocamos em primeiro lugar, a necessidade
de reconhecer a interrelação e interdependência entre o Antigo e o Novo Testamentos.
Fazemos isso porque o erro nesse ponto, inevitavelmente resulta em um mal-entendido
grave e em uma não pequena perversão nas últimas Escrituras. Não propomos introduzir
uma refutação da heresia moderna do “dispensacionalismo”, mas tratar dessa seção de
nosso assunto de forma construtiva. Após uma comparação longa e cuidadosa dos escritos
da escola Dispensacionalista com as Institutas de Calvino, e após observarmos o tipo de
fruto produzido por ambas, é nossa convicção que esse eminente reformador foi muito mais
profundamente ensinado pelo Santo Espírito do que aqueles que reivindicaram receber
uma grande “nova luz sobre a Palavra de Deus” há um século. Queremos, portanto, pedir
que cada pregador que possui as Institutas de Calvino empreguem a sua melhor atenção
aos seus dois capítulos sobre: “A Similaridade o Antigo e o Novo Testamento” e “A
Diferença Entre os Dois Testamentos”.1
A semelhança entre os dois Testamentos é muito maior e mais importante do que a
sua diferença. O mesmo Deus Triuno é revelado em cada um dos Testamentos, o mesmo
caminho da salvação é estabelecido, o mesmo padrão de santidade é anunciado, os
mesmos destinos eternos do justo e do ímpio são evidenciados. O Novo Testamento tem
todas as suas raízes no Antigo, de modo que muito em um torna-se ininteligível à parte do
outro. Não somente um conhecimento da história dos patriarcas e das instituições do
judaísmo são indispensáveis para a compreensão de muitos detalhes nos Evangelhos e
nas Epístolas, mas seus termos e ideias são idênticos. Que é inteiramente insustentável
para nós supormos que a mensagem proclamada pelo Senhor Jesus era algo novo ou
radicalmente diferente das primeiras comunicações de Deus fica evidente a partir de Sua
advertência enfática: “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar,
mas cumprir” (Mateus 5:17) — isto é, para vindicá-los e fundamentá-los, para livrá-los das
1 Capítulos X e XI, Livro II – N.T.
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perversões e deturpações humanas, e para fazer o bem que eles exigem e declaram.
Assim, longe de haver qualquer antagonismo entre o ensinamento de Cristo e o ensino dos
mensageiros de Deus que O precederam, quando anunciou a “regra de ouro” Ele afirmou,
“porque esta é a lei e os profetas” (Mateus 7:12).
Certamente não havia conflito entre o testemunho dos apóstolos e o testemunho de
seu Mestre, pois Ele expressamente ordenou-lhes a ensinarem os Seus convertidos “a
guardar todas as coisas que eu tenho mandado [não o que mandarei!]” (Mateus 28:20).
Nem o sistema doutrinário de Paulo difere de algum modo daquele anunciado no Antigo
Testamento. No início da primeira epístola que leva seu nome, ele é específico em nos
informar que o Evangelho, para o que Deus lhe tinha separado, não era outro senão o único
“o qual antes prometeu pelos seus profetas nas santas escrituras” (Romanos 1:1-2), e
quando ele afirmou que a justiça de Deus foi revelada agora, sem lei, ele teve o cuidado de
acrescentar: “tendo o testemunho da lei e dos profetas” (3:21). Quando ele vindicou a sua
doutrina sobre a justificação pela fé sem as obras da lei, ele fez isso apelando para o caso
de Abraão e o testemunho de Davi (Romanos 4). Quando ele advertiu os Coríntios contra
se acomodarem com uma falsa sensação de segurança por causa dos dons espirituais que
haviam sido concedidos a eles, ele lembrou-lhes os israelitas que tinham sido altamente
favorecidos por Deus, ainda assim isso não os guardou de Seu desagrado quando peca-
ram, ainda que “beberam todos de uma mesma bebida espiritual” (1 Coríntios 10:1-5). E
quando ilustrando importante verdade prática, ele cita a história dos dois filhos de Abraão
(Gálatas 4:22-31).
Em muitos aspectos, o Novo Testamento é uma continuação e um complemento para
o Antigo. A diferença entre a Antiga e Nova Alianças mencionadas em Hebreus é relativa e
não absoluta. O contraste não é realmente entre dois opostos, mas sim entre uma gradação
do mais baixo para o plano mais elevado; um preparando o outro. Embora alguns tenham
errado muito em judaizar o Cristianismo, outros têm entretido uma concepção muito carnal
do judaísmo, deixando de perceber os elementos espirituais nele, e que sob ele Deus tão
verdadeiramente administrou as bênçãos do Pacto Eterno para aqueles que Ele tinha
escolhido em Cristo assim como Ele o faz agora, sim, que Ele fez isso de Abel em diante.
Justamente, então, Calvino repreendeu a loucura dos nossos Dispensacionalistas moder-
nos — quando reprovando aqueles de seus precursores que apareceram em seus dias —
ao dizer: “Agora, o que seria mais absurdo do que Abraão ser o pai de todos os fiéis, e
ainda assim não possuir sequer o lugar mais baixo entre eles? Antes ele não pode ser
excluído do número, nem mesmo da posição mais nobre, sem a destruição da Igreja”.
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Quando Cristo ou um dos Seus apóstolos falaram, em quase todos os pontos vitais
eles fundamentaram o seu argumento apelando às Escrituras do Antigo Testamento, a
partir do qual são encontrados textos-prova em quase todas as páginas do Novo. Inúmeros
exemplos podem ser apresentados para mostrar que ambas as ideias e a linguagem do
Antigo deram a sua impressão no Novo Testamento; mais de seis centenas de expressões
de um são repetidas no outro. Cada cláusula do “Magnificat” (Lucas 1:46-55) e até mesmo
da Oração da Família (Mateus 6:9-13) é extraída do Antigo Testamento. Por conseguinte,
cabe ao estudante dar igual atenção as duas principais as divisões da Bíblia, não somente
para familiarizar-se completamente com a última, mas esforçando-se para beber
profundamente do espírito da primeira, a fim de capacitar-se para compreender o Novo
Testamento. A menos que ele faça isso, será impossível para ele apreender o corretamente
o verdadeiro significado tanto dos Evangelhos quantos das Epístolas. Não basta somente
ter um conhecimento dos tipos para compreender os antítipos, pois o que significaria que
“Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós”, a um ignorante de Êxodo 12 (1 Coríntios
5:7); e quanto de Hebreus 9 e 10 é inteligível à parte de Levítico 16? Porém, muitas palavras
importantes do Novo Testamento podem ser corretamente definidas apenas referindo-se à
sua utilização no Antigo Testamento, como “primogênito, resgate, propiciação”, etc.
Que deve haver uma harmonia fundamental entre o Judaísmo e o Cristianismo fica
evidente pelo fato de que o mesmo Deus é o autor de ambos, e é imutável em Suas
perfeições e nos princípios de Seu governo. O primeiro foi de fato dirigido mais ao homem
exterior, foi transacionado sob formas e relações visíveis, e dizia respeito principalmente a
um santuário e herança terrena; no entanto, todos eles foram uma “sombra das coisas
celestiais” (Hebreus 8:5, 10:1). “No Novo Testamento, temos uma maior, porém muito
intimamente relacionada exposição da verdade e do dever do que no Antigo, que envolve
tanto as similaridades quando as diferenças dos dois pactos. As similaridades são mais
profundas e relacionam-se aos elementos mais essenciais das duas economias; as
diferenças são de natureza mais circunstancial e formal” (Patrick Fairbairn). Pessoalmente,
gostaria de dizer que as principais variações aparecem quando observamos que em um,
nós temos a promessa e a previsão, no outro, a realização e o cumprimento; no primeiro
temos os tipos e sombras (a “lâmina”), depois a realidade e substância ou o “grão cheio na
espiga”. A dispensação Cristã supera a Mosaica por sua mais completa e mais clara
manifestação das perfeições de Deus (1 João 2:8), em um derramamento mais abundante
do Espírito (João 7:39; Atos 2:3), em seu mais amplo alcance (Mateus 28:19-20), e em
maior medida de liberdade (Romanos 8:15; Gálatas 4:2-7).
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2. O segundo princípio que o expositor deve estudar muito cuidadosamente é o da
citação bíblica. É de não pequena ajuda afirmar que as leis da correta interpretação podem
ser obtidas a partir da observação diligência da maneira como e o propósito para o qual o
Antigo Testamento é citado no Novo. Deve haver pouca margem para dúvidas de que o
registro que o Espírito Santo forneceu a respeito da maneira que o nosso Senhor e os Seus
apóstolos entenderam e aplicaram do Antigo Testamento foi grandemente designada para
lançar luz acerca de como, geralmente, o Antigo Testamento deve ser usado por nós, bem
como fornecer instruções sobre os pontos específicos por meio daquelas passagens na Lei
ou nos profetas que eram mais imediatamente citadas. Ao examinar atentamente as
palavras mencionadas e o sentido dado a elas no Novo Testamento, não somente seremos
libertos de um literalismo servil, mas também seremos melhor habilitados para perceber a
plenitude da Palavra de Deus e a aplicação variada que pode ser legitimamente feita dela.
Um campo amplo, mas geralmente negligenciado, está aberto para a exploração, mas em
vez de nos esforçarmos aqui para fazer um exame profundo do mesmo, vamos simples-
mente fornecer algumas ilustrações.
Em Mateus 8:16, somos informados de que em certa ocasião Cristo “curou todos os
que estavam enfermos”, e, em seguida, sob a orientação do Espírito Santo, o evangelista
adicionou: “para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías [a saber, em 53:4],
dizendo: “Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as nossas enfermidades”.
Este uso daquela predição messiânica é muito esclarecedor, sugerindo que ela tinha um
significado mais amplo do que fazer expiação pelos pecados de Seu povo; ou seja, durante
os dias de Seu ministério público, Cristo compadeceu-se da condição dos doentes, e tomou
sobre Seu espírito os sofrimentos e as dores daqueles a quem Ele ministrou, de modo que
os Seus milagres de cura exigiram muito de Sua compaixão e resistência. Ele foi pessoal-
mente atingido pelas aflições deles. Cristo começou a Sua obra mediadora de remover o
mal que o pecado tinha trazido ao mundo por curar aquelas doenças corporais, as quais
eram os frutos do pecado, e assim fazendo, prefigurou a maior obra que Ele realizaria na
cruz. A conexão entre o um e o outro foi mais claramente indicada quando Ele respecti-
vamente disse ao paralítico: “Os teus pecados estão perdoados” e “levanta-te, toma o teu
leito e vai para tua casa” (Mateus 9:2,6).
Considere a seguir, como Cristo usou o Antigo Testamento para refutar os matéria-
listas dos seus dias. Os saduceus sustentavam a noção de que a alma e o corpo estão tão
estreitamente unidos que se um morrer o outro morrerá também (Atos 23:8). Eles viam o
corpo morrer, e daí concluíram que a alma também morria. Muito notável, na verdade, é ver
a sabedoria encarnada arrazoando com eles em seu próprio terreno. Isso Ele fez citando
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Êxodo 3, em que o SENHOR disse a Moisés: “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque
e o Deus de Jacó”. Mas em que essas palavras correspondem à questão? O que havia
nelas que expôs o erro dos saduceus? Nada explicitamente, mas muito implicitamente. A
partir delas, Cristo chegou à conclusão de que “Deus não é o Deus dos mortos, mas dos
vivos” (Mateus 22:32). Não é que Ele foi o Deus deles, mas que Ele permanecia sendo
assim: “Eu sou o Deus deles”, portanto eles permanecem vivos. Havendo sido provado que
os seus espíritos e almas ainda viviam, seus corpos seriam ressuscitados no momento
oportuno, pois, por ser o “Deus” deles, isso garantia que Ele seria para eles e por eles tudo
o que essa relação implica, e não deixaria parte de sua natureza ser detida pela corrupção.
É nisso que Cristo estabeleceu o importante princípio da interpretação de que podemos
tirar alguma inferência clara e necessária a partir de uma passagem, desde que não ela
não se oponha a qualquer declaração definitiva das Sagradas Escrituras.
Em Romanos 4:11-18, temos um exemplo notável de raciocínio apostólico de duas
curtas passagens de Gênesis, onde Deus fez a promessa a Abraão que ele seria o pai de
muitas nações (17:5) e que, em sua descendência seriam benditas todas as nações da
Terra (22:18). Uma vez que essas garantias foram dadas ao patriarca simplesmente como
um crente, antes da nomeação divina da circuncisão, Paulo fez a conclusão lógica de que
elas pertenciam a judeus e gentios igualmente, desde que cressem como Abraão e, assim,
teriam imputada a eles a justiça de Cristo, de modo que o bem dessas promessas pertencia
a todos os que “andam nas pisadas da sua fé”. É aí que somos claramente ensinados que
a “semente” da bênção mencionada nessas antigas profecias era essencialmente de
natureza espiritual (cf. Gálatas 3:7-9, 14:29), incluindo todos os membros da família da fé,
onde quer que sejam encontrados. Como Stifler pertinentemente observou: “Abraão é
chamado o pai não em um sentido físico, nem em sentido espiritual: ele é pai por ser o
chefe do clã da fé, e assim o modelo da mesma”. Em Romanos 9:6-13, o apóstolo foi
igualmente expresso em excluir dos benefícios dessas promessas os descendentes
meramente naturais de Abraão.
Romanos 10:5-9, fornece uma ilustração impressionante deste princípio na maneira
em que o apóstolo “abriu” Deuteronômio 30:11-14. Seu propósito era retirar dos judeus a
noção de obediência à lei como necessária para a justificação (Romanos 10:2-3). Ele fez
isso através de argumentar a partir dos escritos de Moisés, e, então, estabeleceu uma
distinção entre a justiça da Lei e a justiça da fé. Os judeus haviam rejeitado a Cristo porque
Ele não veio até eles de uma forma que atendesse as suas expectativas carnais, e,
portanto, eles recusaram a graça oferecida por Ele. Eles consideravam que o Messias
estava longe, quando na verdade Ele estava “perto” deles. Não havia necessidade, então,
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que eles subissem ao Céu, pois Cristo tinha descido dali; nem descessem ao abismo, pois
Ele havia ressuscitado dos mortos. O apóstolo não estava apenas acomodando o seu
propósito à linguagem de Deuteronômio 30, mas mostrando o seu significado Evangélico.
Como disse Thomas Manton: “Todo esse capítulo é um sermão sobre arrependimento
evangélico” (veja vv. 1-2). Obviamente, a passagem em questão apontava para um
momento após a ascensão de Cristo, quando Israel seria disperso entre as nações, de
modo que as palavras de Moisés não eram estritamente aplicáveis a essa dispensação do
Evangelho. A substância dos versos 11 a 14 é que o conhecimento da vontade de Deus é
livremente acessível, de modo que ninguém é obrigado a fazer o impossível para obtê-lo.
Em Romanos 10:18, é dado mais do que uma indicação das profundezas insondáveis
da Palavra de Deus e da grande amplitude de sua aplicação. “Quem creu na nossa
pregação? [Do Evangelho, pois eles não o obedeceram, v. 16]. “Mas digo: Porventura não
ouviram? Sim, por certo, pois por toda a terra saiu a voz deles, e as suas palavras até aos
confins do mundo”, citado a partir do Salmo 19:4. O anúncio do Evangelho não era restrito
(Colossenses 1:5-6), mas era tão geral e livre quanto as declarações divinas desde os céus
(Salmos 19:1). “A revelação universal de Deus na natureza era uma predição providencial
da proclamação universal do Evangelho. Se a primeira não fosse gratuita, ainda que
baseada na natureza de Deus, assim seria a última. A manifestação de Deus na natureza
é para todas as Suas criaturas a quem é feita, em sinal de sua participação nas revelações
mais claras e mais elevadas” (Hengstenberg). Não somente a profecia do Antigo
Testamento anuncia que o Evangelho deve ser dado a todo o mundo, mas o céu
misticamente declarou a mesma coisa. Os céus não falam a apenas uma nação, mas a
toda a raça humana! Se os homens não creram não foi porque não ouviram. Outro exemplo
da significação mística de certas Escrituras é encontrado em 1 Coríntios 9:9-10.
Em Gálatas 4:24, a pena inspirada de Paulo nos informa que certos acontecimentos
domésticos na casa de Abraão “são uma alegoria”, de forma que Agar e Sara representa-
vam “os dois pactos”, e que seus filhos prefiguravam os adoradores que esses pactos eram
adequados para produzir. Assim, por meio dessa revelação divina por meio e através do
apóstolo, nós soubemos Deus havia escondido um mistério profético nesses fatos da
história; que essas ocorrências domésticas profeticamente prefiguravam transações de
importância vital para o futuro; e que elas ilustravam grandes verdades doutrinárias e
exemplificavam a diferença na conduta de homens espiritualmente escravos e homens
espiritualmente livres. Esse foi o caso, segundo o que nos mostrou o apóstolo, ao decla-
rarmos o sentido oculto desses eventos. Eles eram uma parábola em ação: Deus moldou
de tal forma as questões da família de Abraão a ponto de levar essas a tipificaram coisas
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de grande magnitude. Os dois filhos foram ordenados a prenunciar aqueles que seriam
nascidos do alto e aqueles que nasceram da carne; que mesmo os descendentes naturais
de Abraão, eram apenas ismaelitas em espírito, mas estranhos à promessa. Embora o
exemplo de Paulo aqui certamente não abra nenhum precedente para o expositor dar livre
curso à sua imaginação e distorcer acontecimentos do Antigo Testamento levando-os a
ensinarem algo que lhe agrada; o apóstolo indica que Deus ordenou de tal modo as vidas
dos patriarcas tendo em vista conceder-nos lições de grande valor espiritual.
Acima, nós propositalmente selecionamos uma variedade de exemplos, e a partir
deles, o estudante aplicado (mas não o leitor apressado) descobrirá algumas valiosas indi-
cações e auxílios divinos sobre como as Escrituras devem ser entendidas, e os princípios
pelos quais elas devem ser interpretadas. Que os exemplos sejam relidos e cuidadosa-
mente ponderados.
3. É necessário ser diligentemente e constante ao cuidar para que estritamente confor-
memos todas as nossas interpretações à analogia da fé, ou como Romanos 12:6 expressa:
“profetizamos de acordo com a proporção da fé”. Charles Hodge — que por solidez doutri-
nária, erudição espiritual e capacidade crítica, é insuperável — afirma que o significado
original e próprio da palavra “profeta” é intérprete, aquele que declara a vontade de Deus,
que explica a Sua mente aos outros. Ele também diz que a palavra citada, “proporção”,
pode significar tanto proporção quanto medida, regra e padrão. Desde que a “fé” nesse
verso deve ser considerada objetivamente (pois, havia “profetas” como Balaão e Caifás que
estavam desprovidos de qualquer fé interior ou salvífica), então essa importante expressão
significa que o intérprete da mente de Deus deve ser mais específico e escrupuloso em
cuidar para que ele sempre o faça segundo o padrão revelado que Deus nos deu. Assim,
“fé” aqui é usada no mesmo sentido de passagens como “fé” em Gálatas 1:23; 1 Timóteo
4:1, etc.; ou seja — “uma só fé” de Efésios 4:5; “a fé que uma vez foi entregue aos santos”
(Judas 3) — a Palavra de Deus escrita.
A exposição feita de qualquer verso nas Sagradas Escrituras deve ser inteiramente
de acordo com a analogia da fé, ou, em outras palavras, aquele sistema da verdade que
Deus deu a conhecer ao Seu povo. Isso, é claro, exige um conhecimento abrangente do
conteúdo da Bíblia, esta é uma prova segura de que nenhum neófito é qualificado para
pregar ou tentar ensinar aos outros. Tal conhecimento abrangente só pode ser obtido por
uma leitura sistemática e constante da própria Palavra, e somente então qualquer homem
é capacitado para avaliar os escritos de outras pessoas! Visto que toda a Escritura é
inspirada por Deus, não há contradições na mesma; portanto, obviamente, segue-se que
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qualquer explicação dada de uma passagem que se choca com o claro ensino de outros
versos é manifestamente errada. Para que qualquer interpretação seja válida, ela deve
estar em perfeita harmonia com o esquema total da Verdade divina. Uma parte da Verdade
é mutuamente relacionada e dependente das outras, e, portanto, há pleno acordo entre
elas. Como Bengel disse a respeito dos livros da Escritura: “Eles formam juntos um belo,
harmonioso e gloriosamente conectado sistema da Verdade”.
Sola Scriptura! Sola Gratia! Sola Fide!
Solus Christus! Soli Deo Gloria!
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10 Sermões — R. M. M’Cheyne
Adoração — A. W. Pink
Agonia de Cristo — J. Edwards
Batismo, O — John Gill
Batismo de Crentes por Imersão, Um Distintivo
Neotestamentário e Batista — William R. Downing
Bênçãos do Pacto — C. H. Spurgeon
Biografia de A. W. Pink, Uma — Erroll Hulse
Carta de George Whitefield a John Wesley Sobre a
Doutrina da Eleição
Cessacionismo, Provando que os Dons Carismáticos
Cessaram — Peter Masters
Como Saber se Sou um Eleito? ou A Percepção da
Eleição — A. W. Pink
Como Ser uma Mulher de Deus? — Paul Washer
Como Toda a Doutrina da Predestinação é corrompida
pelos Arminianos — J. Owen
Confissão de Fé Batista de 1689
Conversão — John Gill
Cristo É Tudo Em Todos — Jeremiah Burroughs
Cristo, Totalmente Desejável — John Flavel
Defesa do Calvinismo, Uma — C. H. Spurgeon
Deus Salva Quem Ele Quer! — J. Edwards
Discipulado no T empo dos Puritanos, O — W. Bevins
Doutrina da Eleição, A — A. W. Pink
Eleição & Vocação — R. M. M’Cheyne
Eleição Particular — C. H. Spurgeon
Especial Origem da Instituição da Igreja Evangélica, A —
J. Owen
Evangelismo Moderno — A. W. Pink
Excelência de Cristo, A — J. Edwards
Gloriosa Predestinação, A — C. H. Spurgeon
Guia Para a Oração Fervorosa, Um — A. W. Pink
Igrejas do Novo Testamento — A. W. Pink
In Memoriam, a Canção dos Suspiros — Susannah
Spurgeon
Incomparável Excelência e Santidade de Deus, A —
Jeremiah Burroughs
Infinita Sabedoria de Deus Demonstrada na Salvação
dos Pecadores, A — A. W. Pink
Jesus! – C. H. Spurgeon
Justificação, Propiciação e Declaração — C. H. Spurgeon
Livre Graça, A — C. H. Spurgeon
Marcas de Uma Verdadeira Conversão — G. Whitefield
Mito do Livre-Arbítrio, O — Walter J. Chantry
Natureza da Igreja Evangélica, A — John Gill
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Natureza e a Necessidade da Nova Criatura, Sobre a —
John Flavel
Necessário Vos é Nascer de Novo — Thomas Boston
Necessidade de Decidir-se Pela Verdade, A — C. H.
Spurgeon
Objeções à Soberania de Deus Respondidas — A. W.
Pink
Oração — Thomas Watson
Pacto da Graça, O — Mike Renihan
Paixão de Cristo, A — Thomas Adams
Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado — J. Edwards
Pecaminosidade do Homem em Seu Estado Natural —
Thomas Boston
Plenitude do Mediador, A — John Gill
Porção do Ímpios, A — J. Edwards
Pregação Chocante — Paul Washer
Prerrogativa Real, A — C. H. Spurgeon
Queda, a Depravação Total do Homem em seu Estado
Natural..., A, Edição Comemorativa de Nº 200
Quem Deve Ser Batizado? — C. H. Spurgeon
Quem São Os Eleitos? — C. H. Spurgeon
Reformação Pessoal & na Oração Secreta — R. M.
M'Cheyne
Regeneração ou Decisionismo? — Paul Washer
Salvação Pertence Ao Senhor, A — C. H. Spurgeon
Sangue, O — C. H. Spurgeon
Semper Idem — Thomas Adams
Sermões de Páscoa — Adams, Pink, Spurgeon, Gill,
Owen e Charnock
Sermões Graciosos (15 Sermões sobre a Graça de
Deus) — C. H. Spurgeon
Soberania da Deus na Salvação dos Homens, A — J.
Edwards
Sobre a Nossa Conversão a Deus e Como Essa Doutrina
é Totalmente Corrompida Pelos Arminianos — J. Owen
Somente as Igrejas Congregacionais se Adequam aos
Propósitos de Cristo na Instituição de Sua Igreja — J.
Owen
Supremacia e o Poder de Deus, A — A. W. Pink
Teologia Pactual e Dispensacionalismo — William R.
Downing
Tratado Sobre a Oração, Um — John Bunyan
Tratado Sobre o Amor de Deus, Um — Bernardo de
Claraval
Um Cordão de Pérolas Soltas, Uma Jornada Teológica
no Batismo de Crentes — Fred Malone
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13
2 Coríntios 4
1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;
2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem
falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,
na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 3 Mas, se ainda o nosso evangelho está
encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4 Nos quais o deus deste século cegou os
entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória
de Cristo, que é a imagem de Deus. 5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo
Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus,
que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,
para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porém,
este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.
9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;
10 Trazendo sempre
por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus
se manifeste também nos nossos corpos; 11
E assim nós, que vivemos, estamos sempre
entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na
nossa carne mortal. 12
De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13
E temos
portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,
por isso também falamos. 14
Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará
também por Jesus, e nos apresentará convosco. 15
Porque tudo isto é por amor de vós, para
que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de
Deus. 16
Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o
interior, contudo, se renova de dia em dia. 17
Porque a nossa leve e momentânea tribulação
produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 18
Não atentando nós nas coisas
que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se
não veem são eternas.