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Os conflitos interpessoais na escola e a aprendizagem da convivência Telma Vinha Faculdade de Educação Unicamp

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Os conflitos interpessoais na

escola e a aprendizagem da

convivência

Telma Vinha

Faculdade de Educação – Unicamp

Que futuro adulto gostaríamos de

formar?

A formação de pessoas autônomas e que

resolvam seus conflitos por meio do

diálogo, está sempre presente nos

objetivos dos professores, nos projetos

pedagógicos das escolas...

• Percepção de um aumento dos conflitos

interpessoais nas escolas – por educadores,

alunos e pais (Leme, 2006; Biondi, 2008)

• tema recorrente na mídia, em reuniões de

estudo e de formação de professores

Perguntamos aos educadores: quais as maiores

dificuldades presentes no cotidiano escolar?

10,17%

48,31%

12,71%12,71%

16,10%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%Ausência de Dificuldades

Indisciplina, agressividade e violência

Relação entre família e escola

Falta de interesse

Dificuldades associadas à metodologia

e/ou preocupação do professor em se

fazer entender

Figura 1: Dificuldades apontadas pelos professores no cotidiano na escola. Tognetta et all, 2010

• O conflito é visto como algo antinatural

• construtivismo: conflito é necessário ao

desenvolvimento

• restrição aos atos e não aos sentimentos

• autorregulação, descentração,

coordenação de perspectivas,

aprendizagem valores e regras

• ênfase no processo

• conflito “pertence” ao envolvido

• Há um aumento da violência escolar?

Charlot (2002) - destaca três tipos diferentes de

violência:

• a violência na escola, aquela que se produz na

instituição como resultado da violência que existe fora

de seus muros

• a violência da escola

• uma violência institucional, simbólica, que os próprios

jovens suportam por meio da maneira como a instituição

e seus agentes o tratam:

• modo de composição das classes, de atribuição de notas,

de orientação, palavras desdenhosas dos adultos, atos

injustos, regras abusivas...

• a violência à escola, aquela dirigida diretamente à

instituição e aos que a apresentam

• pesquisas indicam que não há aumento da

incidência de violência “duras” (aquelas que são

reguladas pelo código penal) entre os alunos

• ações que atacam a lei com uso da força ou

ameaça usá-la: lesões, extorsão, tráfico de droga

na escola, agressões físicas, furto

• porém, há o crescimento de pequenas infrações,

agressões, insultos, desrespeito, desobediência às

normas, ou seja, principalmente “incivilidades”

(La Fábrica do Brasil, 2001; Nakayma,1996; Leme, 2006; Debarbieux, 2006;

Lucatto, 2012; Ramos, 2013).

Violência escolar

• Dados do Ministério da Educação (MEC) tabulados

pela Fundação Lemann e pela Meritt Informação

Educacional

• Participantes:

• professores de Língua Portuguesa e Matemática

que dão aulas para alunos de 5º e 9º ano do ensino

fundamental que responderam a questionário

aplicado durante a Prova Brasil

• 2011 - foram 224.743 mil docentes

• 2007 – por volta de 295.000 docentes

• Foram agredidos fisicamente por estudantes dentro de

colégios

• 2011 - 4.195 (1,9%)

• 2007 - 6.677 (2,3%)

• Relataram casos de agressão física contra aluno

cometida por professor na escola em que atuavam

• 2011 - 3.327 (1,5%)

• 2007 - 4.197 (1,62%)

• Relataram que viram alunos frequentaram a escola

portando arma de fogo

• 2011 - 1.929 (0,85%)

• 2007 - 3.247 (1,14%)

• Relataram que houve casos de alunos que entraram

na escola com facas e canivetes

• 2011 - 9.079 (4,04%)

• 2007 - 14.855 (5,17%)

http://www.qedu.org.br/

• Existe sim violência escolar, mas em menor

numero do que o alardeado

• Debarbieux - a violência desorganizadora

surge do “inesperado”

Incivilidades

são as microviolências ou as pequenas agressões do

cotidiano que se repetem constantemente, tais

como:

andar pela sala, incomodar os outros, cochichar, falta

de pontualidade, conversa a margem do que se está

tratando em classe, entretenimento com objetos

impróprios para atividade e momento,

comportamentos irritantes, desordem, enfrentamento,

indelicadeza, barulho, impolidez, apelidos,

zombarias, grosserias, empurrões, levantar, empurrar,

jogar objetos, gargalhar, gritar, demonstrar

indiferença, brincadeira, interrupções...

São atentados cotidianos e recorrentes ao direito

de cada um se ver respeitado ou pequenas

infrações à ordem estabelecida, tais como a falta

de polidez, as transgressões dos códigos de boas

maneiras ou da ordem, diferenciando-as de

condutas criminosas ou delinquentes

a incivilidade não contradiz, nem lei, nem o

regimento interno do estabelecimento, mas as

regras de boa convivência - rompem com

expectativas do que pode estar sendo esperado

como boa conduta social

“... Essa b... de texto aqui?”

“Tira esta porcaria de mochila daqui”.

(7º ano)

A classe com muito ruído, alunos em pé, gritando, não se

escuta uma conversa em tom mais baixo. A professora

vai andando e segurando os braços dos alunos que

estão em pé, abaixando-os fazendo com que se sentem.

Ela se volta para frente da turma e começa a explicar o

conteúdo e dizer que era para fazer a atividade que

estava colocada na lousa, mas o barulho não permite

que seja ouvida, pouquíssimos alunos prestam atenção.

Profª: - Gente, vamos sentar, vamos sentar...

Ninguém a ouve. A classe continua no maior barulho.

Duas alunas se aproximam da professora para

perguntar se a proposta era para ser realizada em

dupla ou individualmente. Ela responde para todos da

classe:

Profª: - Gente, tá escrito na lousa, vocês sabem ler!

Alguns alunos jogam pedacinhos de papel nos outros

colegas. Apesar de ver a brincadeira, a professora

não realiza nenhuma intervenção. Quando os

alunos querem pedir licença para os colegas para

ver o que está escrito na lousa. Gritam:

- LICENÇA!

Ninguém escuta o pedido destes alunos sobre sair da

frente da lousa, ou se os ouvem, ignoram. A maioria

não faz atividade, continua conversando e

brincando com o colega ao lado.

Transgressão

• é o comportamento contrário ao regulamento

interno da escola (mas não ilegal do ponto de vista

da lei):

• abstenção, uso de celular, ficar fora da sala,

cabular aula...

Bullying

• Possui 5 características principais:

• ocorre entre pares – desigualdade de poder

• há intenção do(s) autor(es) em ferir

• são atos repetidos contra um/mais constantes

alvos

• há uma espécie de concordância no alvo sobre o

que pensam dele (por isso há crianças obesas que

são alvos e outras não)

• há um público que prestigia as agressões (os

ataques de bullying são escondidos dos adultos,

mas nunca dos pares)

Pesq.: Você disse que não gosta de algumas coisas na sua sala, o que você

não gosta?

Aluno: Alguns alunos ficam me xingando, outros ficam me batendo, dando

“esses”... como se fala, que a pessoa cai?

Pesq.: Rasteira?

Aluno: Rasteira, isso, exato! Aí a gente cai, ficam xingando, batendo na

gente, entra na sala enchem o saco e a gente não consegue fazer a lição.

Pesq.: E eles xingam de quê?

Aluno: Ah... de gay filho da puta.

Pesq.: E o que você faz quando eles te xingam?

Aluno: Eu falo que vou falar pra coordenadora, eles me ameaçam... então a

gente fica com medo porque a mãe não tem tempo de vir aqui, né?

Pesq.: Como você se sente na hora que te xingam?

Aluno: Ah eu me sinto muito “ruim” porque as pessoas não tem educação

pela gente. Eles querem “se achar” só porque são mais velhos que a

gente... mais maiores né?

(aluno do 7º ano)

Lucatto, 2012

Indisciplina

• são ações e situações variadas, mas que compartilham

alguma forma de desordem nas relações pedagógicas,

capazes de interferir nas condições de aprendizagem

• está relacionada a ruptura do contrato social da

aprendizagem (Garcia, 2006)

• tanto pelo aluno quanto pelo professor

• a indisciplina atravessa a relação professor-aluno

• não engloba somente uma questão de comportamento - o

“bom comportamento” nem sempre é sinal de disciplina,

pois pode indicar apenas uma adaptação aos esquemas da

escola, simples conformidade ou mesmo, apatia diante

das circunstâncias

Em geral encontra-se na escola (e em muitas

pesquisas):

• a indisciplina é tudo aquilo que incomoda o

professor

• só é considerado “disciplina” quando o professor

está desimpedido para “ensinar o conteúdo”

• Estudos demonstram que os educadores se sentem

intimidados e desmotivados diante das constantes

situações de indisciplina, incivilidades e conflitos,

além de despreparados para lidar (Tardeli, 2003; Vinha, 2004;

Tognetta & Vinha, 2007)

• A concepção sobre os conflitos do professor e,

conseqüentemente, o tipo de intervenção realizada,

interfere nas interações entre os alunos e no

desenvolvimento socioafetivo dos mesmos

transmitindo mensagens que dizem respeito à

moralidade

Pesquisas sobre os conflitos interpessoais na

escola (Vinha, 2003; Tognetta e Vinha, 2007)

Independente do tipo de conflito ele é visto como

algo antinatural

“paz é ausência de conflitos”

Esforços em três direções: conter, evitar e

“ignorar”

Daiane começou a brigar na sala de aula

com o Jorge porque ele a chamou

novamente de “cabelo de cerol”.

- Um estava dando tapa no outro, a

professora foi separar, recebeu um tapa

sem querer da Daiane. Então ela foi

suspensa. Afinal, bateu na professora!

Lucatto, 2012

conflitos entre pares:

“brincadeiras da idade”

quando os conflitos (mesmo desrespeitosos)

são vistos como “incivilidades” poucas vezes

são feitas intervenções

(7º ano)

A professora de Matemática começa a aula dizendo que está sem

paciência. Os alunos estavam conversando alto e continuam.

Enquanto coloca uma atividade na lousa, dois alunos começam a

brincar de dar tapas um no outro. Eles dão risadas. De repente um

deles começa a dar canetada na cabeça do outro que diz para

parar. O colega não pára e por fim desfere um tapa no olho do

outro. O colega que recebeu o tapa diz: “me deixa quieto” e

abaixa a cabeça. O agressor se afasta e muda de lugar. Os colegas

que presenciaram dizem:

- Oh, professora, ele deu um tapa no olho dele, é sério!

A professora responde:

- Eles não estavam se provocando lá embaixo? Agora que se virem!

E continua a aula normalmente. O aluno que recebeu o tapa ficou

com o olho vermelho e em silêncio, cabisbaixo, durante toda a

aula.

...um aluno passava e puxava o lápis do colega, dando, em

seguida, um tapa em sua cabeça – (7 º ano). Depoimento:

Às vezes o pessoal começa a fazer a lição aí passa um aluno

correndo, esbarra nos cadernos e aí risca tudo. Dependendo do

que você estava fazendo tem que começar tudo de novo, como

aconteceu comigo, teve uma vez que eu estava fazendo lição na

sala de aula, aí um aluno saiu correndo, e aí foi com tudo com a

mão na minha mesa e eu estava bem no fim já. Aí falei pro

professor:

- Oh ele riscou.

Meu colega respondeu:

- Foi sem querer...

Professor não disse nada.

Aí, eu tive que fazer outro que valia nota.

Lucatto, 2012

• Há tipos diferentes de conflitos interpessoais, com

naturezas distintas que requerem intervenções

também diferenciadas: violência, bullying,

transgressões, incivilidades, indisciplina*, etc.

• independente do tipo de conflito em geral são todos

tratados como (Lucatto, 2012; Licciardi, 2010; Ramos, 2010, Tognetta,

2010):

• “indisciplina” – no sentido de atrapalhar o equilíbrio

da classe e o trabalho com conteúdos (contidos)

“Aqui nesta sala não se fala palavrão! Sua mãe não te

deu educação?”

• incivilidades (ignorados)

(5º ano)

Bom dia mamãe

Por favor conversar com o VIC sobre seu comportamento em

sala pois está brincando na hora de fazer atividades (por

exemplo dando cadernada na cabeça do outro).

Peço sua ajuda e colaboração

Ass. do responsável:________________________

Professora

Bilhete aos pais (Dedeschi, 2012)

• ao visar somente a restauração da harmonia da aula

perdida, o controle da classe ou da sua

“autoridade”, o professor não realiza intervenções

construtivas que auxiliem os alunos a

compreenderem a necessidade do respeito, da

coordenação de perspectiva e sentimentos e do

diálogo na relação entre os iguais.

• com essa atitude, indiretamente, transmite a

mensagem de que o respeito a uma autoridade é

mais importante do que o respeito entre iguais.

Formas de controle diferente nas escolas publicas e

privadas

Ramos, 2010; Dedeschi, 2011; Ferreira e Vinha, 2011

•públicas: indiferença

• incivilidade predomina

•privada: paparicação, excesso de controle

Apesar de intrinsecamente relacionados no cotidiano, a

distinção possibilita intervenções diferenciadas - exemplos:

• briga com agressão física – violência – regulação dos

impulsos (autocontrole) – diálogo - círculos

restaurativos, alunos mediadores

• atrasos constantes – transgressão – conversa individual

– vários alunos: conversa em assembleia

• zoação – respeito - incivilidade – conversa com

envolvidos – grupo: assembleia, tendo o foco na boa

convivência no grupo e contrato social da aprendizagem

• não realização da pesquisa/leitura para trabalho de

grupo - indisciplina - discutir com base no contrato da

aprendizagem (não imposição)

• agressões repetidas contra um aluno – bullying - o olhar

para todos os envolvidos no problema:

• o autor

• ter seus comportamentos sancionados e ser chamado a

reparar

• também precisa de ajuda: não sabe se sensibilizar com a

dor do outro e tem uma hierarquia de valores invertida

• o alvo

• é preciso autorrespeito - precisa de ações que o fortaleçam

• o espectador

• é preciso que se indigne

• ser chamado a participar do problema quando é público

• ter espaços de reflexão para se colocar no lugar do outro.

Jornal Agora São Paulo 10/04/2013

“Crescem casos de violência em escolas estaduais

de SP”

O número de casos de indisciplina, brigas,

vandalismo, furtos, roubos e outros delitos

registrados em escolas estaduais da capital mais

do que dobrou em dois anos. Foram 2.154

ocorrências escolares registradas em 2010,

contra 5.378 casos no ano passado, segundo

dados da Secretaria de Estado da Educação...

http://www.agora.uol.com.br/saopaulo/ult10103u1260167.shtml

Pesquisa realizada pela Apeoesp e o Instituto

Data Popular (2013)

• 1.400 docentes de Escolas Estaduais de São Paulo

• Os professores consideram como violência escolar:

• agressão verbal/xingamento 62%

• agressão física 43%

• falta de educação/respeito/valores 33%

• problemas familiares/postura dos pais 20%

• bullying 12%

• mau comport./conflitos entre alunos 11%

• 57% dos professores consideram as escolas em

que atuam um espaço violento

• 95% dos docentes acreditam que os alunos são os

principais autores da violência escolar

(desconsideram a violência da escola)

• A principal causa da violência nas escolas é:

• 74% - a falta de respeito, de valores e de

educação pelos alunos

• 49% - a educação em casa

• 47% - a desestruturação familiar

Estudos sobre a perspectiva dos professores e alunos

sobre os conflitos (Tognetta, Busch,Vidigal, Vinha, 2009; Silva, 2011)

• Estudantes e professores (6º e 9º ano)

• os professores acreditam que frequentemente os

conflitos que ocorrem entre os alunos são

solucionados

• 1/3 dos alunos dizem que muitos conflitos não

são resolvidos

• motivos da não intervenção dos professores

nos desentendimento entre pares (segundo

os alunos):

• desinteresse (“não ligam”)

• “não sabem o que fazer”

• falta de tempo

• conforme vão crescendo os adolescentes

relatam cada vez menos aos adultos os

conflitos que vivenciam entre os pares

• além da vergonha e do receio de serem

censurados ou punidos

• consideram que a forma como os adultos

lidam, em geral, piora o problema, gerando

novos desentendimentos e, não raro,

fazendo com que se sintam expostos, que

decaiam aos olhos dos colegas, provocando

ainda mais vergonha

• A maioria dos jovens consideram que são

frequentes os conflitos com a autoridade (professor, diretor, funcionário)

• a maior parte dos professores considera que

são poucos

• nos conflitos entre adultos e adolescentes:

• os alunos consideram que as soluções são

geralmente unilaterais - satisfatórias

principalmente para apenas um dos envolvidos,

a autoridade

• Tem sido constatado que diante dos conflitos

interpessoais os professores acabam por agir de

maneira intuitiva e improvisada, pautando suas

intervenções principalmente no senso comum

• cada um seu modo utiliza qualquer estratégia que

acredita ser útil para lidar com o problema como:

dar notas baixas, ameaçar, punir, conversar, gritar,

advertir, acusar, censurar, excluir ou até mesmo

ignorar...

• Na prática as intervenções da escola têm surtido

pouquíssimos efeitos

• Os mesmos conflitos ocorrem cotidianamente,

repetem-se ao longo dos meses...

• Não há um planejamento visando a qualidade das

relações interpessoais na escola

• Os educadores parecem não perceber a contradição

entre os objetivos que possuem e a qualidade do

ambiente sociomoral e das intervenções que

predominam nas escolas

• Esses procedimentos em longo prazo trazem

consequências, geralmente opostas as desejadas pela

escola...

O jovem tem apresentado dificuldades para (Rego,

2006; Weber, 2005; Leme, 2006; Vicentin, 2008; Carina, 2008, Menin, 2010)

• emitir opiniões, argumentar e ouvir perspectivas diferentes sem sentir-se ameaçado

• tomar decisões

• identificar e expressar seus sentimentos sem causar dano aos outros

• coordenar perspectivas em ações efetivas

• baixo índice de habilidade social

• resolver seus conflitos de forma cooperativa, respeitosa, justa e satisfatória para os envolvidos

• identificar situações de injustiça

• Dificuldades para utilizar a assertividade como estilo predominante em situações de conflitos

• Deluty - estilos de resolução: submisso, agressivo e assertivo

• a maior tendência é de estilo de resolução submisso

• ex: “não reaja”, “não arranje confusão”; “melhor não dizer nada”

(Leme, 2004, 2006, 2008; Vicentin, 2008; Carina, 2008)

submisso

assertivo

agressivo

submisso/agressivo

assertivo/submisso

assertivo/agressivo

0 10 20 30 40 50 60

%

Estratégias de resolução de conflitos em ambas as

escolas - jovens de 11 e 15 anos de idade - Vinha, Machado e

Massari (2012)

Mais do resolver o problema, deve-se ir além

refletindo profundamente nas causas,

principalmente na qualidade das relações entre as

pessoas na escola, das regras, da forma como se

lidam com os conflitos e do trabalho com o

conhecimento: clima escolar

CONSIDERAÇÕES

Clima escolar (Thiébaud, 2005)

• refere-se às qualidades de vida e de comunicação

percebidas pelos membros uma escola

• corresponde a sua atmosfera, a valores, atitudes e

sentimentos partilhados pelos atores da escola,

assim como a relações sociais e com o

conhecimento

• Essa percepção que os membros da organização têm

de como eles são tratados e os papéis na relação

com os outros é um elemento essencial do bom

funcionamento da escola, influenciando na

qualidade da vida ou da experiência escolar dos

alunos em duas dimensões:

• na aprendizagem/escolarização:

• a motivação, a indisciplina e o rendimento escolar

• na socialização/convivência:

• problemas como os conflitos, a violência física e

verbal entre alunos e entre alunos e professores, o

vandalismo, o roubo, o consumo e venda de

drogas e outros comportamentos de risco

• quando o clima escolar é negativo pode

representar um fator de risco da qualidade de vida

escolar, contribuindo para o sentimento de mal-

estar e favorecer o aparecimento da violência

Janosz, 1998; Thiébaud, 2005; Blaya, 2004; Debarbieux, 2006; Casassus, 2008

O ambiente autoritário, inconsistente ou

omisso, favorece sentimentos de injustiça e

de desrespeito, reações agressivas e

desavenças

Algumas questões são necessárias:

• São comuns situações de desrespeito e

maus tratos entre os alunos?

• Como é a qualidade das relações entre os

professores e alunos?

• Está havendo situações de exposição e críticas

aos estudantes?

• Como a escola tem lidado com os conflitos e

maus tratos?

• Quando os alunos ou adultos se sentem

humilhados, expostos ou injustiçados, quais

espaços possuem na escola para o diálogo, para

colocarem o fato, tendo a certeza de que serão

efetivamente ouvidos e que ações serão tomadas

para restaurar a dignidade, a justiça e o respeito?

É necessário coerência entre os profissionais da

escola com relação a concepção e intervenção nos

conflitos

A qualidade do clima escolar é fundamental para que

estes procedimentos tenham êxito. Para tanto é

necessário:

estabelecer relações de confiança, cooperação e

respeito mútuo (senso de comunidade)

propiciar possibilidades de participação ativa no

conhecimento (experiência de aprendizagem

colaborativa)

oferecer de espaços de participação efetivos

(construção coletiva da organização da convivência na

escola – sentir-se “pertencente”)

É preciso haver também:

clareza e consistências nas regras

• poucas e necessárias

• princípios que as sustentem

• participação dos alunos

clareza, coerência e justiça na aplicação das

sanções (equidade)

• evitar sanções expiatórias

• quando necessário preferir as sanções por

reciprocidade

OS ESPAÇOS DE PARTICIPAÇÃO

Os oferecimentos de espaços de participação

efetivos visam mediar os conflitos, melhorar o

convívio escolar, favorecer o desenvolvimento da

autonomia e da cooperação, além de prevenir a

violência

os círculos restaurativos (conflitos privados)

as assembleias (conflitos públicos)

Intervenção por meio dos iguais – alunos

protagonistas (supervisionadas): alunos ajudantes,

alunos mediadores...

• Para “melhorar” o problema da violência e

conflitos da escola os educadores sugerem

maior controle, punições e rigor (Malta Campos,

2008; Udemo, 2009)

• 83% defenderam medidas mais duras em

relação ao comportamento dos alunos

• 67,4% disseram que deveria chegar a

haver expulsão de alunos

47% propuseram a contratação de mais

funcionários como inspetores e psicólogos

52% defendem o policiamento intensivo e

permanente

55% sugerem a implantação de projetos de

conscientização e valorização da escola

envolvendo pais, alunos e comunidade em

geral.

Assim, para conter os conflitos:

• aumento de regras, punição e controle

• contratação de mais funcionários

• solicitam o retorno da disciplina de moral/ética

nas escolas

• ética vacina e não remédio – autorregulação

• a escola se isenta de revisão interna – lamenta a

“estrutura” familiar, sociedade, a personalidade

do alunos

Mapa da Violência 2013: Homicídios e Juventude no

Brasil - (dados de 2008 a 2011)

• 206.000 vítimas de homicídio em 4 anos

• o número de vítimas no Brasil superou os mortos

nos 12 maiores conflitos armados no mundo

entre 2004 e 2007

• ao todo 170.000 mil pessoas morreram nos

confrontos de Iraque, Sudão, Afeganistão,

Colômbia, República Democrática do Congo,

Sri Lanka, Índia, Somália, Nepal, Caxemira,

Paquistão e Israel

http://mapadaviolencia.org.br/mapa2013_jovens.php

• Diferentemente destas regiões, o Brasil não enfrenta

"disputas territoriais, movimentos emancipatórios,

guerras civis, enfrentamentos religiosos, raciais ou

étnicos, conflitos de fronteira ou atos terroristas" que

justifiquem o alto número de mortos.

• A dimensão continental do país também não pode

ser apontada como razão para o total de vítimas, já

que "o Brasil, com sua taxa de 27,4 homicídios

por 100 mil habitantes, supera largamente os

índices dos 12 países mais populosos do mundo".

• Uma em cada três mortes juvenis é produto de

disparo de arma de fogo - maior causa de

mortalidade entre os jovens

"A cultura da violência é muito acentuada no

Brasil. A capacidade de negociação dos conflitos é

baixa, a violência é frequentemente usada para a

solução dos problemas. A maioria dos homicídios

no país não está relacionada à droga, e sim a essa

cultura. São crimes banais. E o Estado não

cumpre seu papel de preservar os setores da

sociedade mais vulneráveis: jovens, mulheres,

moradores de periferia."

Waiselfisz (coordenador do estudo)

Causas da violência segundo o Mapa da Violência -

2013

Borges (2011)

• 31 jovens de dois núcleos

• Relatos sobre vítimas de assassinatos que estes

adolescentes conheceram ou ouviram falar

• Obteve 168 respostas diferentes

• 105 vítimas (62,5%) eram conhecidas dos

jovens

• 46 vítimas (27,38%) eram seus parentes

• 14 vítimas (8,33%) eram amigas

• apenas 3 vítimas (1,79%) eram desconhecidas

• É preciso refletir sobre a manutenção deste modelo

de educação que, além de gerar desgastes nas

relações entre professores e alunos, em nada

contribui para que os jovens desenvolvam a

autorregulação moral

• Até quando serão ignoradas estas questões nos

cursos de formação, deixando o professor

despreparado e inseguro para lidar com essas

situações tão presentes em qualquer escola?

Considerações Finais:

• Quando os alunos não podem tomar decisões, nem

mesmo discutir problemas e situações que estão

envolvidos, torna-se mais difícil desenvolver um

sentimento de pertencimento pelo grupo, pelo bem

estar comum, ter um comportamento responsável

• O conflito sempre vai existir... contudo, nas escolas

mais cooperativas, abertas ao diálogo, onde se

estabelece uma relação de respeito mútuo, tais

problemas são lidados de outra forma, reduzindo a

agressividade e favorecendo o desenvolvimento do

autorrespeito e do respeito pelo outro

“O problema não é fazer desaparecer da escola a

agressividade e o conflito, mas regulá-los pela

palavra e não pela violência - ficando bem

entendido que a violência será bem mais

provável, na medida em que a palavra se tornar

impossível.

O que está em jogo é também a capacidade de a

escola e seus agentes suportarem e gerarem

situações conflituosas, sem esmagar os alunos

sob o peso da violência institucional e

simbólica”.

Charlot, 2002