os atletas paraolímpicos na imprensa análise comparativa ... · feliz a cada dia. pelo amor,...

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Os Atletas Paraolímpicos na Imprensa Análise Comparativa da Cobertura Noticiosa da mídia no Brasil e em Portugal de 1996-2008 Dissertação apresentada com vista à obtenção do grau de Mestre em Ciências da Comunicação Área de Especialização em Estudos de Media e Jornalismo. Orientador: Professor Doutor Rui Alexandre Novais Tatiane Hilgemberg Figueiredo Porto, Setembro de 2010

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Os Atletas Paraolímpicos na Imprensa – Análise Comparativa

da Cobertura Noticiosa da mídia no Brasil e em Portugal de

1996-2008

Dissertação apresentada com vista à

obtenção do grau de Mestre em

Ciências da Comunicação – Área de

Especialização em Estudos de Media e

Jornalismo.

Orientador: Professor Doutor Rui Alexandre Novais

Tatiane Hilgemberg Figueiredo

Porto, Setembro de 2010

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II

Ficha de catalogação

Provas de Mestrado

Figueiredo, T. (2010). Os Atletas Paraolímpicos na Imprensa – Análise

Comparativa da Cobertura Noticiosa dos mídia no Brasil e em Portugal de 1996-

2008. Porto: T. Figueiredo. Dissertação apresentada às provas de Mestrado em

Ciências da Comunicação FLUP. Edição de autor.

PALAVRAS-CHAVE: ATLETAS PARAOLÍMPICOS, MÍDIA, BRASIL,

PORTUGAL

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III

Agradecimentos

Ao terminar essa jornada da minha vida percebi que o mais difícil seria escrever os

agradecimentos. Como traduzir em palavras o apoio incondicional de tantos que

cruzaram meu caminho.

Começo então a agradecer aos meus pais. Os melhores pais do mundo. Ao meu pai por

me ensinar tanto sobre a vida, por me dar forças e por ter sempre palavras de

encorajamento quando precisei. À minha mãe, pela grande mulher que é, com um

coração que não cabe no peito, por me apoiar, por me ouvir e por me manter firme nos

meus propósitos mesmo à distância.

Aos meus irmãos por me inspirarem a querer crescer cada vez mais, e por me ajudarem

a superar a saudade.

Ao Alessandro, meu marido, pela oportunidade de ver o mundo e por me fazer mais

feliz a cada dia. Pelo amor, carinho, compreensão e apoio, e pelas privações a que este

percurso acadêmico nos levaram.

Ao “mestre” desta caminhada, Prof. Rui Novais, que muito mais do que orientador é um

modelo de profissional e amigo. Soube me encaminhar com maestria, acreditou em meu

potencial, e ajudou-me a concretizar meu sonho com paciência, sempre impulsionando-

me para frente.

Aos familiares que torceram por mim. Aos amigos do Brasil que sempre me apoiaram.

Aos amigos de Portugal, em especial à Prof. Ana Luísa Pereira, por ter me indicado o

início do caminho.

À Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal de Juiz de Fora por me

abrir as portas ao conhecimento. E aos professores Álvaro Americano e Diogo Tourino

pelo apoio ao longo do caminho.

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V

Índice

Agradecimentos ....................................................................................................................... III

Índice de Quadros .................................................................................................................. VII

Índice de Gráficos .................................................................................................................... IX

RESUMO ................................................................................................................................ XI

ABSTRACT .......................................................................................................................... XIII

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 3

2. DEFICIÊNCIA E SOCIEDADE ......................................................................................... 13

2.1 Modelo Médico ............................................................................................................. 16

2.2 Modelo Social ............................................................................................................... 18

2.3 A necessidade de um novo modelo ................................................................................ 20

3. MÍDIA E DEFICIÊNCIA.................................................................................................... 20

4. METODOLOGIA ............................................................................................................... 27

4.1 Corpus do estudo ........................................................................................................... 28

4.2 A Imprensa Brasileira e Portuguesa ............................................................................... 29

4.2.1 A imprensa brasileira ............................................................................................. 29

4.2.2 A imprensa lusa ...................................................................................................... 31

4.3 Hipóteses e objetivos .................................................................................................... 32

4.4 Codificação ................................................................................................................... 33

4.5 Sistema Categorial......................................................................................................... 35

4.5.1 Temas ..................................................................................................................... 38

4.5.2 Terminologia .......................................................................................................... 39

4.5.2.1 Tipos de Deficiência ............................................................................................ 39

4.5.3 Estereótipos ............................................................................................................ 40

5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................. 45

5.1 Temas ........................................................................................................................... 50

5.2 Terminologia ................................................................................................................. 71

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VI

5.2.1 Tipos de Deficiência ............................................................................................... 80

5.3 Estereótipos ................................................................................................................... 84

5. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 95

6. BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................. 103

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VII

Índice de Quadros

Quadro 1 - Dois modelos de deficiência .................................................................................. 15

Quadro 2 - Número de atletas e medalhas ................................................................................ 33

Quadro 3 – Sistema Categorial empregado na Análise de Conteúdo ........................................ 35

Quadro 4 – Número total de notícias por ano ........................................................................... 45

Quadro 5 – Número de notícias presentes em cada meio noticioso analisado no Brasil e em

Portugal por edição dos Jogos Paraolímpicos. ......................................................................... 46

Quadro 6 – Notícias de cada edição no Brasil e em Portugal (em %). ...................................... 47

Quadro 7 – Número de notícias produzidas pelo próprio jornal e adquiridas de agências de

notícia em cada edição no Brasil e em Portugal. ...................................................................... 48

Quadro 8 – Comparativo entre o número de Atletas, medalhas e notícias de Brasil e Portugal nas

quatro edições. ........................................................................................................................ 48

Quadro 9 – Temas presentes nas quatro edições analisadas no Brasil e em Portugal.

Porcentagem relativa ao número total de temas em cada edição. .............................................. 51

Quadro 10 – Percentagem das unidades de registro categorizadas da subcategoria prática

desportiva em Portugal nas quatro edições analisadas. Porcentagens relativas à subcategoria

prática desportiva. ................................................................................................................... 52

Quadro 11 – Percentagem das unidades de registro categorizadas da subcategoria prática

desportiva no Brasil nas quatro edições analisadas. Porcentagens relativas à subcategoria prática

desportiva. .............................................................................................................................. 52

Quadro 12 - Percentagem das unidades de registro categorizadas da subcategoria atleta

paraolímpico em Portugal nas quatro edições analisadas. Porcentagens relativas à subcategoria

atleta paraolímpico. ................................................................................................................. 60

Quadro 13 - Percentagem das unidades de registro categorizadas da subcategoria atleta

paraolímpico no Brasil nas quatro edições analisadas. Porcentagens relativas à subcategoria

atleta paraolímpico. ................................................................................................................. 60

Quadro 14 - Percentagem das unidades de registro categorizadas da subcategoria questões

político-econômicas em Portugal nas quatro edições analisadas. Porcentagens relativas à

subcategoria questões político-econômicas. ............................................................................. 64

Quadro 15 - Percentagem das unidades de registro categorizadas da subcategoria questões

político-econômicas no Brasil nas quatro edições analisadas. Porcentagens relativas à

subcategoria questões político-econômicas. ............................................................................. 64

Quadro 16 - Percentagem das unidades de registro categorizadas da subcategoria Jogos

Paraolímpicos em Portugal nas quatro edições analisadas. Porcentagens relativas à subcategoria

Jogos Paraolímpicos................................................................................................................ 67

Quadro 17 - Percentagem das unidades de registro categorizadas da subcategoria Jogos

Paraolímpicos no Brasil nas quatro edições analisadas. Porcentagens relativas à subcategoria

Jogos Paraolímpicos................................................................................................................ 67

Quadro 18 – Porcentagem de tipos de terminologias, relativas ao total de terminologias no ano,

de Brasil e Portugal nas edições analisadas. ............................................................................. 71

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VIII

Quadro 19 – Porcentagem das unidades de registro da terminologia genérica, relativas ao total

de terminologias genéricas do ano, de Portugal nas edições analisadas. ................................... 73

Quadro 20 – Porcentagem das unidades de registro da terminologia genérica, relativas ao total

de terminologias genéricas do ano, do Brasil nas edições analisadas. ....................................... 73

Quadro 21 – Porcentagem das unidades de registro da terminologia relacionada à vitória, derrota

ou currículo do atleta, relativas ao total de terminologias deste gênero do ano, em Portugal nas

edições analisadas. .................................................................................................................. 75

Quadro 22 – Porcentagem das unidades de registro da terminologia relacionada à vitória, derrota

ou currículo do atleta, relativas ao total de terminologias deste gênero do ano, no Brasil nas

edições analisadas. .................................................................................................................. 75

Quadro 23 – Porcentagem das unidades de registro da terminologia relacionada adequadamente

à deficiência, relativas ao total de terminologias deste gênero do ano, em Portugal nas edições

analisadas. .............................................................................................................................. 77

Quadro 24 – Porcentagem das unidades de registro da terminologia relacionada adequadamente

à deficiência, relativas ao total de terminologias deste gênero do ano, no Brasil nas edições

analisadas. .............................................................................................................................. 77

Quadro 25 – Porcentagem das unidades de registro da terminologia relacionada

inadequadamente à deficiência, relativas ao total de terminologias deste gênero do ano, em

Portugal nas edições analisadas. .............................................................................................. 79

Quadro 26 – Porcentagem das unidades de registro da terminologia relacionada

inadequadamente à deficiência, relativas ao total de terminologias deste género do ano, no

Brasil nas edições analisadas. .................................................................................................. 80

Quadro 27 – Porcentagem dos tipos de deficiências registrados, em Portugal nas edições

analisadas, referentes ao total de deficiências identificadas no ano ........................................... 81

Quadro 28 – Porcentagem dos tipos de deficiências registrados, no Brasil nas edições

analisadas, referentes ao total de deficiências identificadas no ano. .......................................... 81

Quadro 29 – Número de deficiências identificadas em cada edição analisada, em Portugal e no

Brasil. ..................................................................................................................................... 83

Quadro 30 - Porcentagem dos estereótipos registrados em ambos os países, nas edições

analisadas, referentes ao total de estereótipos identificados no ano .......................................... 85

Quadro 31 – Porcentagem das unidades de registro do estereótipo Coitadinho, em Portugal nas

edições analisadas, referentes ao total do estereótipo em causa identificadas no ano. ............... 87

Quadro 32 – Porcentagem das unidades de registro do estereótipo Coitadinho, no Brasil nas

edições analisadas, referentes ao total do estereótipo em causa identificadas no ano. ............... 87

Quadro 33 – Porcentagem das unidades de registro do estereótipo Super-herói, em Portugal nas

edições analisadas, referentes ao total do estereótipo em causa identificadas no ano. ............... 89

Quadro 34 – Porcentagem das unidades de registro do estereótipo Super-herói, no Brasil nas

edições analisadas, referentes ao total do estereótipo em causa identificadas no ano. ............... 89

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IX

Índice de Gráficos

Gráfico 1 – Comparativo do número de notícias por edição no Brasil e em Portugal.................47

Gráfico 2 – Número de notícias e número de deficiências identificadas no Brasil......................84

Gráfico 3 – Número de notícias e número de deficiências identificadas em Portugal.................84

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XI

RESUMO

Desde os seus primórdios a sociedade sempre marginalizou e inabilitou as pessoas com

deficiência. Foi apenas nos últimos 200 anos que as políticas a favor das pessoas com

deficiência apareceram. Uma das dimensões da sociedade que terá contribuído para a

melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência, foi o fenômeno social do

desporto, que facilitou seu processo de integração à sociedade. Os êxitos alcançados

nesse processo, fizeram com que o esporte adaptado deixasse de ser somente terapêutico,

para se tornar de alto rendimento. Dessa forma surgem os Jogos Paraolímpicos, que

ocupam lugar de prestígio, e a par com outros grande eventos esportivos também têm

cobertura midiática. Porém, ao se analisar a atuação da mídia no sistema de

representações e discursos referentes à pessoa com deficiência, estas se encontram

permeadas por subjetividades e, por vezes, reforçando preconceitos e estereótipos. É

nesse contexto que o futuro estudo tem como finalidade analisar e ampliar as discussões

sobre as relações entre a mídia e as Paraolimpíadas. O objetivo geral deste estudo é,

então, comparar a cobertura da mídia impressa dos Jogos Paraolímpicos de 1996, 2000,

2004 e 2008, no Brasil e em Portugal, analisando a quantidade de tal cobertura, os

temas presentes, a terminologia utilizada, os tipos de deficiência com mais tempo de

antena, e os estereótipos nos quais os atletas foram enquadrados. Neste sentido

concluímos que há uma tendência para o crescimento da quantidade de informação

sobre os Jogos Paraolímpicos ao longo do tempo, contudo este aumento é ainda muito

lento e tímido. Verificamos ainda que a imprensa brasileira foi responsável pela maior

parte da cobertura. Relativamente aos temas presentes, notamos que os temas

apresentados enquadravam a vitória dos paraolímpicos de forma a banalizar o feito dos

atletas, ao focar fundamentalmente nos resultados. No que toca à questão da

terminologia verificamos que apenas Portugal apresentou terminologia mais adequada

com o passar do tempo, o mesmo não ocorreu no Brasil. Com relação ao tipo de

deficiência mais retratada, de uma forma geral, verificamos que em quase todas as

edições, em ambos os países a deficiência com a maior taxa de ocorrências é a

Deficiência Visual, seguida pela Paralisia Cerebral. Sendo, que os estereótipos de super-

herói e coitadinho foram encontrados.

Palavras-chave: Atletas Paraolímpicos; Mídia; Portugal, Brasil.

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XIII

ABSTRACT

Since the beginning the society has always marginalized and disqualify people with

disabilities. It was only in the last 200 years that the policies for peoples with

disabilities arose. One of the dimensions of the society that contributed to improve the

quality of life for these people, was the phenomenon of sport, which facilitated the

process of integration into society. The successes of this process enable the adapted

sport cease to be only therapeutic to become high performance. Thus come the

Paralympic Games that occupied a place of prestige, and alongside with the others

major events also have media coverage. However, when analyzing the role of the media

in the system of representation and discourses about people with disabilities, they are

permeated by subjectivity and, sometimes, reinforcing prejudices and stereotypes. In

this context, the future research aims to analyze and extend the debate about the

relations between media and Paralympic Games. The general purpose of this study is

compare the press coverage of the Paralympic Games of 1996, 2000, 2004 and 2008, in

Brazil and Portugal, by the analyze of the amount of coverage, the present issues, the

terminology used, the types of disability with more airtime, and stereotypes in which the

athletes were framed. In this sense we conclude that the growth of the amount of

information about the Paralympic Games over time is a trend, but this increase is slow

and timid. We verify that the Brazilian press was responsible for the most of the

coverage. Regarding the present themes, we noted that the issues presented framed the

victory of the paralympic athletes in ways that trivialize the achievement of them,

mainly by focusing on results. Regarding the terminology we found that only Portugal

had most suitable terminology over time, this did not occur in Brazil. Concerning with

the type of disability, in general, we found that in almost all editions, in both countries

the disability with the highest rate of occurrences is the Visual Impairment, followed by

Cerebral Palsy. And the stereotypes of super-crip and pitiful handicapped were found.

Key- words: Paralympic Athletes; Media; Portugal; Brazil.

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INTRODUÇÃO

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3

1. INTRODUÇÃO

A comunicação constitui um elemento fundamental, para não se dizer vital, para os

seres humanos sendo os meios de comunicação de massa “(…) um factor de

importância determinante e com um lugar central no funcionamento da sociedade”

(Correia, 2000, p. 13).

Apesar de encontrarmos respostas diametralmente opostas à questão “De que forma os

meios de comunicação influenciam no comportamento das audiências?”, podemos

afirmar que a mídia, direta ou indiretamente, interferem nas formas de conhecer, pensar

e agir (ibidem) do público, influenciam “(…) nos modos de conhecer e interpretar a

realidade, nas concepções e aspirações, nos hábitos e comportamentos, nas orientações e

princípios que inspiram as formas de relacionamento e de intervenção na vida social”

(Ibid., p. 16).

Da mesma forma também desempenham um papel importante no processo de

socialização, considerando o conceito de socialização descrito por Wright (1968, p. 105)

como o “(…) processo pelo qual o indivíduo adquire a cultura do seu grupo e interioriza

suas normas sociais, fazendo com que seu comportamento leve em conta as expectativas

dos outros”. Assim, podemos afirmar que a mídia ensina valores, ideologias e crenças

das quais emergem representações sociais acerca de determinados grupos (Pereira,

2008).

Os meios de comunicação, especificamente a informação e o jornalismo, mantém uma

íntima relação com a sociedade, sendo dela produto mas tendo também o poder de

interferir na mesma.

Enquanto, simultaneamente, reflexo e agente de mudança da realidade, os media são hoje, (…), uma multifacetada e poderosa máquina de

condicionamento global de opiniões, dos comportamentos e dos

valores, assumindo uma verdadeira função estruturante na organização e modelização do todo social (Correia, 2000, p. 27).

Portanto ao produzir uma mensagem, a mídia também produz sentido. Pelo exposto

percebemos a importância dos meios de comunicação em relação às pessoas com

deficiência, pois a pouca informação e contato de que dispomos sobre a questão da

deficiência advém da mídia (Pereira, 2008), dando a ela portanto o poder sobre o tipo de

informação veiculada, e os estereótipos associados.

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Diariamente somos bombardeados por informações, que tentam, de uma forma ou de

outra, criar, mudar ou cristalizar atitudes ou opiniões nos indivíduos (Alexandre, 2001).

É o que McLuhan (1969) chamou de mundo retribalizado, onde as pessoas passam a ser

constantemente massacradas por inúmeras e variadas informações, vindas de todas as

partes do mundo. Sabendo que a mídia atinge simultaneamente uma vasta audiência de

milhares de pessoas, e em alguns casos podemos dizer milhões, em um curto espaço de

tempo, facilmente compreende-se a importância que assumem, ocupando um lugar

central no funcionamento social.

Numa sociedade influenciada pelos meios de comunicação, estes podem ter um grande

impacto em nosso conhecimento e atitude acerca das pessoas com deficiência. Por

lidarem com a produção, reprodução e disseminação de informação que fundamentam a

compreensão de grupos sociais – visão social e auto-imagem –, a mídia se tornou um

instrumento chave na divulgação e criação de representações sociais.

As representações sociais se modificam ou se atualizam dentro de

relações de comunicação diferentes. Dessa forma, a mídia, integrada

por um grupo de especialistas formadores e sobretudo difusores de representações sociais, é responsável pela estruturação de sistemas de

comunicação que visam comunicar, difundir ou propagar

determinadas representações (Alexandre, 2001).

De fato, foram apenas nos últimos 200 anos que as políticas a favor das pessoas com

deficiência apareceram. Desde os seus primórdios que a sociedade tendeu a

marginalizar e inabilitar as pessoas com deficiência apondo-lhes o estigma da diferença.

Na Antiguidade o “problema” da deficiência não existia, pois as crianças que nasciam

com algum tipo de deficiência eram abandonadas e em sua grande maioria acabavam

morrendo. Na Idade Média, com o advento do Cristianismo, o homem passa a ser visto

como manifestação de Deus, sendo, portanto, o extermínio das pessoas com deficiência

uma prática inaceitável. A visão da deficiência se transforma sendo agora atribuída ora a

desígnios divinos, ora à possessão demoníaca, por uma razão ou por outra a principal

atitude da sociedade em relação a tais indivíduos era de intolerância e punição (Aranha,

2007). A partir do século XV, a pessoa com deficiência passa a ser vista como um ser

improdutivo, ou seja, um “peso” para a sociedade.

Nos séculos XVII e XVIII, a discussão sobre a deficiência ganha certo fôlego, as

atitudes vão desde a institucionalização até o ensino especial. No século XIX e XX

alguns governos começam a reconhecer sua responsabilidade no cuidado do bem-estar

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destes cidadãos. A partir daí o debate sobre o tema passa a ser mais amplo e novos

direitos vão sendo conquistados.

Contudo mesmo na atualidade, e apesar de vivermos numa sociedade dita inclusiva, o

preconceito para com a pessoa com deficiência é ainda prevalecente. Todo o indivíduo

que foge aos padrões de normalidade é considerado estigmatizado, sendo que tal como

afirma Pontes (2001), o estigma não está nem no sujeito, nem na deficiência, mas nos

“valores culturais estabelecidos pela sociedade que permitem categorizar as pessoas que

fogem aos padrões de normalização, aferindo a estas determinados rótulos sociais”.

Marques (2001a) refere que os estereótipos são aplicados às pessoas com deficiência,

pois são socialmente tidas como incapazes e improdutivas, e biologicamente

consideradas “anormais” (modelo médico).

Segundo a Organização Mundial de Saúde, 25% da população do planeta está

diretamente envolvida com a questão da deficiência1. Apesar disso, a mídia parece

desconhecer esta parcela da população. De acordo com estudos realizados nos anos 90,

a qualidade e a quantidade da cobertura midiática, das pessoas com deficiência

encontrava-se abaixo dos padrões, e, geralmente, tais indivíduos eram representados de

forma estereotipada e irreal.

Uma das facetas que mais tem contribuído para a melhoria da qualidade de vida das

pessoas com deficiência e facilitado o processo de integração na sociedade e na mídia, é

fenômeno do esporte. Os êxitos alcançados nesse domínio, fizeram com que o esporte

adaptado deixasse de ser meramente de cariz terapêutico, para se converter numa

atividade de alto rendimento. Os Jogos Paraolímpicos assumiram-se como corolário e

expoente máximo do desporto adaptado com um número crescente tanto de países como

de atletas participantes em cada edição.

Tais competições olímpicas adaptadas às pessoas com deficiência, até pela sua

dimensão, têm consequentemente, vindo a merecer um incremento em termos da

atenção mediática. Sendo inegável nesse respeito o contributo da mídia para a

divulgação e promoção dos eventos esportivos, transformando as grandes competições

em verdadeiros espetáculos.

1 Dados de 2005

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Na verdade os meios de comunicação desempenham um papel crucial na construção da

realidade (Traquina, 2002) e constituem-se desde há algum tempo a esta parte como

veículos privilegiados da formação da opinião pública no que concerne a assuntos

relacionados com a sociedade em geral e com alguns grupos sociais, como o caso da

população com deficiência. Não obstante o seu potencial, o histórico da atuação dos

media em termos das representações e discursos adotados referentes à pessoa com

deficiência, porém, não raro apenas replica os preconceitos e estereótipos sociais.

Referindo estudos anteriores sobre os efeitos da media na sociedade, Schantz e Gilbert

(2001) concluíram que os meios de comunicação de massa influenciam, principalmente,

reforçando normas e atitudes.

O tratamento mediático dado ao paraolimpismo, confere ao deporto adaptado uma

consideração social, que pode trazer prejuízos ou benefícios ao desenvolvimento do

mesmo bem como à integração das populações com deficiência. (Auslander e Gold,

1999; Calvo, 2001). De acordo com Marques (2001a) as vezes o uso de certo termos,

muito difundidos e aparentemente inocentes, reforça preconceitos. Daí que a análise de

terminologias empregadas pelos meios de comunicação seja relevante, na medida em

que “se a informação não é cuidada, acaba por reforçar estigmas e posturas

preconceituosas transmitidas culturalmente, que podem significar, no mínimo, um

empecilho à evolução e ao desenvolvimento social” (Amaral 1994, p. 7). Paralelamente,

a abordagem e a terminologia utilizadas pelos media segundo o mesmo autor reflete-se

“na interpretação da sociedade sobre os principais temas de interesse colectivo”

(ibidem).

Além disso, ao se analisar a atuação da mídia no sistema de representações e discursos

referentes ao atleta com deficiência, percebe-se que esta geralmente retrata essas

pessoas de forma irreal e estereotipadamente. Schell e Duncan (1999), por exemplo,

examinaram a cobertura televisiva Norte-Americana dos Jogos Paraolímpicos de 1996,

enquanto Schantz and Gilbert (2001) analisaram a cobertura da imprensa escrita

Francesa e Alemã, enfatizando a terminologia utilizada, os estereótipos presentes e os

temas mais frequentes. Mais recentemente, Thomas e Smith (2003) exploraram a

cobertura da imprensa escrita Britânica das Paraolimpíadas de 2000 em Sydney,

focando particularmente na terminologia utilizada para descrever os atletas com

deficiência, e a linguagem e imagens usadas para retratar as performances. É de se notar,

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7

que os resultados desses estudos apontam, em graus diferentes, para questões

semelhantes. Todos os estudos mencionados revelaram que a mídia (tanto audiovisual,

quanto escrita) tende a descrever as performances dos atletas com deficiência de forma

relativamente consistente com o modelo médico. Sendo assim, estes atletas tendem a ser

retratados como “vítimas” ou pessoas “corajosas” que “superaram” o próprio

“sofrimento” da deficiência para participar em um evento esportivo, um super-herói.

Este estereótipo deixa a impressão de que a pessoa com deficiência para se ajustar terá

de fazer algo extraordinário ou realizar um esforço heróico para compensar a sua

limitação (Schell e Duncan, 1999). O modelo do super-herói viria reforçar as baixas

expectativas da sociedade acerca das pessoas com deficiência (Hardin e Hardin, 2004),

e enfatizar o esforço individual dessas pessoas para se adaptarem; como se ter uma

deficiência fosse culpa das mesmas (Schantz e Gilbert, 2001). O que depreende-se deste

discurso é que as pessoas sem deficiência, quando bem sucedidas nos seus

empreendimentos, alcançariam o sucesso pelo talento ou pela inteligência; enquanto

aquelas que têm alguma deficiência o teriam feito pela necessidade de compensar o

„mal‟ que os aflige.

Nesse sentido, o tratamento midiático dado ao paraolimpismo confere a este desporto

uma consideração social diferente, com prejuízos ao desenvolvimento do mesmo, e

também à integração das populações com deficiência. (Calvo, 2001).

Este estudo, portanto, tem por finalidade perceber como são representados os atletas

com deficiência nos media portugueses e brasileiros, nos períodos de 1996, 2000, 2004

e 2008, comparando as representações em cada país. O processo de formação de

atitudes é complexo e influenciado por diversos fatores, entre eles estão, principalmente,

os antecedentes culturais e demográficos, e o contato, direto ou indireto – através dos

meios de comunicação – com pessoas com deficiência (Auslander e Gold, 1999a).

Neste sentido, antes de prosseguirmos é interessante considerar a classificação

apresentada por Ronen e Shenkar (apud Hickson e Pugh, 1995). Estes autores referem-

se a uma “torta cultural” dividindo em “fatias” os países que possuem história e

características comuns. Assim sendo, eles falam, entre outros grupos, nos Latinos. No

grupo Latino estão França, Itália, Brasil, Portugal, Argentina, México e Peru. Desta

forma, deve-se considerar que Brasil e Portugal possuem traços comuns, como por

exemplo o idioma e os valores da religião católica. Assim, eles fazem parte de um grupo

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comum, apesar de guardarem diferenças quanto a pertencer ao chamado “velho mundo”

(Portugal) ou ao “novo mundo” (Brasil). Para além disso, estas duas nações possuem

um passado comum de mais de 300 anos, fazendo com que partilhem uma proximidade

cultural muito forte. No passado a posição de colônia-metrópole fez com que o Brasil

absorvesse partes da cultura portuguesa, algumas destas partes sobreviveram intactas,

enquanto outras foram misturadas à cultura negra ou indígena. Hoje, Portugal consome

cultura brasileira, através, principalmente, das novelas, filmes e músicas. Estes foram

alguns dos motivos que nos levaram a escolher ambos os países para a análise que se

segue.

Uma vez que, como dito anteriormente, os meios de comunicação influenciam no

processo de socialização e na transmissão de elementos culturais de uma geração à

outra, será possível perceber estes mesmos elementos culturais na cobertura midiática

em questão, e dessa forma não só obter mais informações sobre a representação deste

evento em Portugal e no Brasil, mas mediante essa análise comparativa de dois países

histórico-culturalmente próximos, detectar eventuais diferenças na forma como o

jornalista constrói a realidade Paraolímpica.

Para este fim é necessário destacar alguns segmentos de análise, pelo que analisaremos:

a quantidade de informação presente nos media de ambos os países no período

seleccionado; os temas presentes; a terminologia empregada; os diferentes tipos de

deficiência presentes; e os estereótipos. Diversos estudos recentes apontam para

melhorias progressivas na cobertura midiática, e revelam que o atleta com deficiência

tem vindo a ser cada vez mais visto pela vertente de atleta, e não por sua deficiência.

Além disso, a terminologia utilizada tem vindo a ser progressivamente mais adequada.

Estes fatores apontam para uma representação social mais positiva destes paratletas,

pelo que nossas expectativas e hipóteses iniciais tendem para uma conclusão algo

positiva, sendo que esperamos que a quantidade de informação irá aumentar no decorrer

do tempo, que essa quantidade de informação será maior na mídia brasileira do que na

portuguesa – por razões que serão explicitadas no capítulo de metodologia –, que os

assuntos mais tratados terão a ver com a prática desportiva com ênfase nos resultados,

que a terminologia empregada tenderá a ser cada vez mais adequada ao longo das

edições dos Jogos Paraolímpicos tanto no Brasil quanto em Portugal, que a deficiência

física será mais retratada em detrimento aos outros tipos de deficiência, e em ambos os

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países, e, finalmente, que os atletas com deficiência serão representados

estereotipadamente, em ambos os países, sendo que os estereótipos de super-herói e

coitadinho serão os mais encontrados.

Para atingir estes objetivos, esta dissertação foi estruturada da seguinte forma:

primeiramente a revisão de literatura, em que consta as relações entre deficiência e

sociedade, e entre mídia e deficiência. No Capítulo 2, intitulado Deficiência e Sociedade

apresentamos os diferentes conceitos de deficiência e como a relação entre a sociedade

e as pessoas com deficiência evolui ao longo do tempo, desde a Antiguidade até os dias

de hoje, comprovando que são os valores culturais que permitem categorizar as pessoas

que fogem as padrões de normalização, aferindo a estas determinados rótulos sociais.

Este capítulo é ainda dividido em três subcapítulos. Nos dois primeiros subcapítulos

descrevemos os dois principais modelos – médico e social – através dos quais

organizações, instituições e investigadores tentam conceitualizar a pessoa com

deficiência e a deficiência em si. No terceiro e último subcapítulo desta parte

concluímos que há a necessidade de um novo modelo que retire o melhor de cada um

dos modelos equilibrando os argumentos. No segundo capítulo, intitulado Mídia e

Deficiência ressaltamos que os avanços com a preocupação sobre o tema em questão

passam necessariamente pela informação e pelos meios de comunicação. Focamos

essencialmente a relação entre mídia e deficiência, apresentando os estereótipos através

dos quais as pessoas com deficiência são representadas pelos meios de comunicação e a

forma com que estas representações influenciam na percepção da sociedade sobre a

questão Em seguida, na segunda parte de nosso trabalho apresentamos e justificamos a

metodologia escolhida. Este capítulo metodológico está subdividido em cinco

subcapítulos; no primeiro apresentamos o corpus de nosso estudo. No segundo

subcapítulo apresentamos a história da imprensa portuguesa e brasileira, a fim de

melhor entendermos suas raízes, suas diferenças e semelhanças, assim como a

influência lusa na imprensa brasileira. No terceiro identificamos nossos objetivos e

exibimos as hipóteses iniciais. No quarto subcapítulo registramos a codificação utilizada

neste estudo. E por último anunciamos o sistema categorial escolhido, explicando e

justificando as categorias utilizadas.

Posteriormente apresentamos e discutimos os resultados encontrados, relacionando estes

resultados aos de outros estudos apresentados na revisão de literatura, bem como

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comparando os dados encontrados no Brasil e em Portugal. Da mesma forma, conforme

proposto analisamos temporalmente a cobertura midiática, o que nos proporcionou

fundamentos para que as conclusões e a discussão fosse feita de forma longitudinal.

Neste sentido concluímos que há uma tendência para o crescimento da quantidade de

informação sobre os Jogos Paraolímpicos ao longo do tempo, contudo este aumento é

ainda muito lento e tímido. Verificamos ainda que a imprensa brasileira foi responsável

pela maior parte da cobertura. Relativamente aos temas presentes, notamos que os temas

apresentados enquadravam a vitória dos paraolímpicos de forma a banalizar o feito dos

atletas, ao focar fundamentalmente nos resultados. No que toca à questão da

terminologia verificamos que apenas Portugal apresentou terminologia mais adequada

com o passar do tempo, o mesmo não ocorreu no Brasil. Com relação ao tipo de

deficiência mais retratada, de uma forma geral, verificamos que em quase todas as

edições, em ambos os países a deficiência com a maior taxa de ocorrências é a

Deficiência Visual, seguida pela Paralisia Cerebral. Sendo, que os estereótipos de super-

herói e coitadinho foram encontrados.

Com esta estruturação o presente trabalho pretende ser um contributo para a discussão

em curso no âmbito dos estereótipos e preconceitos, bem como da terminologia

utilizada na cobertura mediática de pessoas com deficiência no âmbito específico do

desporto adaptado. E o desporto de alta competição é certamente um exemplo

paradigmático de que ainda não é dado à pessoa com deficiência o devido valor pelos

media.

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REVISÃO DE LITERATURA

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2. DEFICIÊNCIA E SOCIEDADE

O conceito de deficiência é abrangente. De um lado, os estudiosos da área têm

conceituado a deficiência como algum atributo inerente à pessoa, como algo que a

caracteriza (Bury, 2000). De outro, a delimitação da conceituação tem sido baseada em

áreas supostamente específicas de comprometimento (Omote, 1996). Assim, de acordo

com a Organização das Nações Unidas (ONU, 1981) a pessoa com deficiência é toda

aquela cujas capacidades impossibilita-a de prover por si, no todo ou em partes, as

necessidades de uma vida pessoal ou social normal, em consequência de uma

deficiência congénita ou não, das suas capacidades físicas ou mentais. Já a Organização

Mundial de Saúde (OMS) versa que a “Deficiência, representa qualquer perda ou

alteração de uma estrutura ou de uma função psicológica, fisiológica ou anatómica”

(OMS, 1989, p. 56).

Santos (2008) relaciona a deficiência aos fenômenos sociais, sendo que este conceito

percorreu um longo caminho nas diferentes sociedades e passou por significados

diferenciados. Ainda segundo este autor, há duas formas diferentes de compreender a

deficiência: como uma manifestação da diversidade humana que demanda adequação

social para ampliar os ambientes às diversidades corporais, tornando-os inclusivos; e

como uma restrição corporal que necessita de avanços na área da Medicina, para

oferecer tratamento adequado para a melhoria do bem-estar das pessoas. (ibidem). A

diferença entre corpos sempre despertou interesse da humanidade, sendo que tais

diferenças podem ser inseridas no contexto normal e anormal. Tais contextos sugerem

que existe uma dificuldade em se identificar com corpos que possuem diferenças

marcantes, e que passam a ser vistos, portanto, como patologias. “Ou seja, quando uma

pessoa com características diferentes daquelas que se esperava encontrar em

determinado ambiente é apresentada ou é vista fazendo parte dele, essa pessoa é

considerada estranha” (ibidem).

Na Antiguidade, o “problema” da deficiência não existia, pois as crianças que assim

nasciam eram abandonadas e em sua grande parte acabavam morrendo. Na Idade Média,

com o advento do Cristianismo, o extermínio das pessoas com deficiência passou a ser

considerado uma prática inaceitável; contudo a partir do século XV a pessoa com

deficiência passa a ser vista como um ser improdutivo, ou seja, um “peso” para a

sociedade.

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Nos séculos XVII e XVIII, as atitudes vão desde a institucionalização em hospícios até

o ensino especial. Nestes séculos as mudanças sociais associadas à industrialização e a

crescente ênfase no individualismo, levaram à fragmentação dos sistemas de apoio da

comunidade tradicional e aumentou a dependência de instituições de profissionais da

reabilitação, fase em que o modelo de asilo prevaleceu. Assim, com a entrada do

modelo médico o corpo da pessoa com deficiência passou a ser representado de forma

clínica, e a deficiência passou a ser considerada como uma forma de imperfeição

biológica, cujos problemas enfrentados são resultados de suas limitações físicas e /ou

mentais e são independentes dos fatores socioculturais, físicos, e ambiente político

(Brittain, 2004). No século XIX a necessidade de estruturação de um sistema de ensino

para todos, faz com que a responsabilidade pública comece a se desenvolver. A partir

daí o debate sobre a questão tornou-se amplo, ativistas e algumas organizações

tornaram-se atores na defesa de ações afirmativas, mudanças nas legislações nacionais e

internacionais, e no combate à soberania do modelo médico. Surge o modelo social da

deficiência afirmando que a desigualdade pela deficiência não estava apenas na questão

clínica, mas também nas barreiras físicas, econômicas, políticas e sociais da vida em

sociedade (Santos, 2008). O modelo social defende que se as atitudes das pessoas

mudarem e se houver um política pública eficaz que legisle uma remodelação das

barreiras arquitetônicas, então muitos dos problemas associados às pessoas com

deficiência irão desaparecer (Brittain, 2004).

Durante um longo período do pensamento ocidental, o corpo marcado por diferenças foi

estigmatizado, ou seja, desde os seus primórdios que a sociedade tendeu a marginalizar

e inabilitar as pessoas com deficiência apondo-lhes o estigma da diferença. Mesmo na

atualidade, e apesar de vivermos numa sociedade dita inclusiva, ou seja, uma sociedade

para todos, independentemente de sexo, idade, religião, origem étnica, raça, orientação

sexual ou deficiência, uma sociedade não apenas aberta e acessível a todos os grupos,

mas que estimula a participação; o preconceito para com a pessoa com deficiência é

ainda prevalecente. Contudo do ponto de vista da moral moderna, podemos dizer que

houve avanços na maneira como a sociedade encarou a questão da deficiência (Amaral,

1994).

Sendo assim, tal como afirma Pontes, Naujorks e Sherer (2001), notamos que são os

valores culturais que permitem categorizar as pessoas que fogem as padrões de

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normalização, aferindo a estas determinados rótulos sociais. De acordo com Maciel

(2000) o estigma da deficiência é grave, uma vez que transforma essas pessoas em seres

incapazes, improdutivos, indefesos, sempre deixados em segundo lugar na ordem das

coisas. Ou seja, as pessoas com deficiência enfrentam duplamente os efeitos da

vulnerabilidade social. Primeiro, como já dissemos, por não serem reconhecidas

socialmente como sujeitos produtivos, e consequente dificuldade de inserção no

mercado. E segundo, mesmo pela impossibilidade de garantirem sua autonomia

econômica, social e simbólica, resultando em exclusão e isolamento ao não fazerem

parte da sociedade produtiva (Santos, 2008). O sujeito com deficiência, torna-se

reduzido à essa deficiência, o que o impede de exercer seu papel social de indivíduo. O

grande obstáculo para as pessoas com deficiência não é a limitação física ou mental,

mas as atitudes da sociedade acerca da deficiência e a subsequente discriminação

(Schell e Duncan, 1999).

O desenvolvimento das atitudes perante as pessoas com deficiência atravessou diversos

períodos remetendo-nos a diferentes perspectivas em relação a este grupo. Conforme

entramos no terceiro milênio, as preocupações acerca das dimensões social e política da

deficiência intensificaram-se consideravelmente. E a exclusão das pessoas com

deficiência da vida econômica e social tornou-se objeto de protestos e mobilizações

(Barnes, Mercer e Shakespeare, 1999). E este novo foco sobre as questões da

deficiência também fez com que houvesse um crescimento do chamado Disability

Studies, e o amadurecimento da literatura sobre vários aspectos da deficiência, sendo

este um fenômeno global. E com este crescimento vimos o florescer de teorias e

modelos nos quais a deficiência começava a ser enquadrada. Atualmente dois modelos

predominam – o modelo médico e o modelo social (Quadro 1) –, através dos quais

organizações, instituições e investigadores tentam conceitualizar a pessoa com

deficiência e a deficiência em si. Estas abordagens sugerem, contudo, que não há uma

sociologia da deficiência unificada, mas sim sociologias da deficiência. Estas duas

vertentes já esboçaram tentativas de diálogo, no entanto, elas não envolvem-se, apenas

coexistem (Thomas, 2004).

Quadro 1 - Dois modelos de deficiência

Modelo Médico Modelo Social

Teoria da tragédia pessoal Teoria da opressão social

Problema pessoal Problema social

Tratamento individual Ação social

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Medicalização Auto-ajuda

Domínio profissional Responsabilidade individual e coletiva

Perícia Experiência

Identidade individual Identidade coletiva

Preconceito Discriminação

Tratamento Direitos

Controle Escolha

Políticas Política

Ajuste individual Mudança social

Fonte: Barnes, Mercer e Shakespeare, 1999, p. 30.

2.1 Modelo Médico

Com dito anteriormente na Idade Moderna as mudanças associadas à industrialização

levaram a uma crescente ênfase no individualismo. Os séculos XVII e XVIII assistem à

intensificação da comercialização e ao crescimento da industrialização e urbanização, o

consequente impacto destas mudanças na vida em comunidade e em família

influenciaram as redes e as relações sociais existentes (Barnes et al, 1999). As pessoas

que apresentavam problemas de comportamento e baixos níveis de produtividade

econômica era consideradas fardos para a sociedade, e por isso passaram a ser

institucionalizadas (Wall, 2007). A ascensão da medicina nesta época e seu sucesso em

medicalizar as doenças e deficiências legitimou a mudança radical na forma com que as

pessoas com deficiência passaram a ser tratadas.

Nas sociedades ocidentais a confluência entre medicina e ciência teve um profundo

efeito sobre a forma com que a sociedade entende e aceita as diferenças. Isto se dá

devido à autoridade científica fundamentada na tecnologia da medicina que oferece um

senso de legitimidade, confiança e previsibilidade. Aqueles que possuem o domínio

sobre o conhecimento de uma determinada área têm o poder ou a autoridade para

estabelecer discursos e padrões, que se tornam difíceis de contradizer sem a ajuda de um

grupo alternativo de especialistas (Brittain, 2004).

No modelo médico, também conhecido como individual ou tradicional, a deficiência é

vista como um problema que precisa ser tratado. Através deste modelo busca-se que as

pessoas com deficiência sejam, ou voltem a ser, funcionais para que assim possam ser

integradas à sociedade (Kama, 2004). Este modelo trabalha a partir de uma perspectiva

biológica e vê as limitações individuais como a principal causa das múltiplas

dificuldades experenciadas pelas pessoas com deficiência (Barnes et al, 1999). Também

adota as definições e percepções nas quais a deficiência é tida como uma incapacidade

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de um indivíduo e que resulta na perda ou limitação de uma função (Thomas e Smith,

2009).

As pessoas com deficiência não são vistas como indivíduos independentes, e os

impedimentos são sempre construídos pela deficiência e não pela sociedade, como por

exemplo a inacessibilidade, a discriminação, o preconceito, etc. Este padrão de

representação deste modelo é conhecido como tragédia pessoal. Esta narrativa dissocia a

pessoa com deficiência do contexto social e cultural, e os indivíduos passam a ser

tratados como vítimas dependentes da assistência e atenção de outros.

A partir da perspectiva médica fica fácil assumir que a natureza tem um curso de ação

aceitável e que a condição de “falha” humana é o resultado de estados patológicos. Este

aspecto do modelo médico tem sido fundamental para a legitimação da narrativa sobre a

deficiência como uma tragédia pessoal (Goffman, 1980). As pessoas com deficiência

são vistas como desvio da norma e a deficiência é o que determina quem são e o que

poderão se tornar, sendo portanto um traço marcante reforçado pelas estruturas sociais

(Grenier, 2007).

Para além disso, as pressões contemporâneas para atingir padrões específicos de boa

forma e competência criam grande parte dos critérios sobre o que significa ser normal

ou sem deficiência (Barner et al, 1999). Em nossa sociedade ocidental a cultura do

consumo vende produtos e serviços relacionados à estética, inseridos na “tirania da

perfeição” como soluções para qualquer imperfeição ou desvio da norma. Vemos ainda

a medicalização do mito do corpo perfeito que faz com que a sociedade trate as pessoas

com deficiência como “outros”. O corpo é objetificado, e torna-se um acessório de

estilos de vida que deve ser moldado, modelado e esculpido através de dietas, exercícios

e cirurgias plásticas. A medicina desempenha um importante papel no encorajamento

deste discurso. Promoção de dietas e tipos de atividades físicas são geralmente

realizadas com o objetivo de melhorar a aparência. Cirurgias plásticas, próteses e outras

soluções tecnológicas são apresentadas. A implicação disso é que a deficiência é vista

como uma falha ou desvio (Hughes, 2000).

O enfoque deste modelo, portanto, recai sobre a patologia, sendo baseado no

diagnóstico e em soluções médicas. O modelo médico vê-se como sendo a voz que

legítima da verdade em todas as matérias associadas à funcionalidade do corpo (ibidem).

Deste modo, este modelo tem sido criticado por não levar em conta a experiência

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pessoal das pessoas com deficiência ou as questões sociais envolvidas no processo de

opressão. De acordo com Barnes et al (1999) as definições e enquadramentos da

deficiência têm gerado consideráveis debates críticos pelos seguintes motivos. Primeiro

esta abordagem baseia-se principalmente em definições médicas e utiliza definições bio-

fisiológicas de normalidade, mesmo quando a identificação dos limites é questionada.

Segundo, dita que a forma de superar a deficiência e as desvantagens sociais é através

de intervenções médicas apropriadas. Em contraste o ambiente social é representado de

forma neutra, como se não tivesse qualquer influência. Terceiro, o modelo médico

coloca as pessoas com deficiência em uma posição de dependência, presumindo que

estes indivíduos são inertes e que a desvantagem é percebida como uma questão

individual e não coletiva. E, em quarto através deste modelo espera-se que as pessoas

com deficiência empreendam todos os esforços para dar o melhor de si, através de

adaptação individual e estratégias para lidar com as situações, pois este modelo presume

que a deficiência assume a identidade do indivíduo e reprime esperanças e ambições

consideradas irreais.

2.2 Modelo Social

Segundo Barnes et al (1999) a palavra Deficiência, assim como a terminologia

associada a ela, não possui caráter universal uma vez que cada cultura expressa-se de

uma determinada forma. Assim percebemos que a questão da deficiência não pode ser

restrita à jurisdição médica, tornando-se claro que o corpo se encontra no centro da vida

social e que sua constituição é tanto biológica quanto cultural (Hughes, 2000). Dessa

forma, o sentido de opressão e a alteridade da pessoas com deficiência está intimamente

relacionada com a construção da percepção negativa da deficiência na cultura pós-

moderna, sendo o olhar do médico o principal elemento de invalidação dos corpos que

não confirmam o seu ideal de normalidade (ibid., 1999).

Face à crescente insatisfação com a explicação medicalizada dominante que prevaleceu

durante o século XX, este pensamento e prática ortodoxos começaram a ser

questionados por diversas organizações autônomas a partir do final dos anos 60 quando

ativistas, especificamente pessoas com deficiência, se organizaram e ergueram

bandeiras contra o modelo vigente (Thomas e Smith, 2009; Hughes, 2000). O modelo

social surge, então, com o objetivo de oferecer resistência a esta perspectiva

medicalizada da deficiência, e é um produto da crítica ao capitalismo (Hughes, 1999).

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Este modelo rejeita a visão de que a deficiência é causada pela presença de um “defeito”,

e transfere o foco do corpo para o ambiente e as barreiras que excluem as pessoas com

deficiência da sociedade (Thomas e Smith, 2003).

No modelo social a pessoa com deficiência é construída por mecanismos de repressão

cultural e institucional que policiam o corpo e o fabrico de um mundo inacessível. Esta

abordagem foca um conjunto de causas estabelecidas externamente, ou seja, os

obstáculo impostos às pessoas com deficiência que limitam suas oportunidades de

participar na sociedade (Barnes et al, 1999). Para além disso, o modelo social considera

uma vasta gama de fatores e condições sociais, tais como as circunstâncias familiares,

suporte financeiro, educação, mercado de trabalho, habitação, transporte e o ambiente

físico, entre outros.

Os autores vinculados a este modelo consideram que as pessoas com deficiência são um

grupo socialmente oprimido, sendo que a sociedade é a responsável por podar qualquer

possibilidade de participação social. Assim sua luta era dirigida à mudança social, bem

como à tentativa de dar autonomia às pessoas com deficiência. De acordo com Brittain

(2004) se as atitudes das pessoas mudassem e se existissem políticas públicas eficazes

que legislassem a remoção de barreiras sociais e físicas, então muitos dos problemas

associados à deficiência desapareceriam.

Tal como no modelo médico, o modelo social também foi alvo de críticas. Alguns

teóricos (entre eles Shakespeare e Watson, 20001) afirmam que o modelo social

necessita de uma reformulação e criticam o fato de alguns de seus defensores mais

fundamentalistas negarem a relação entre deficiência e limitação física, ou ainda, a

exclusão do corpo do conceito de deficiência. Este modelo então falha ao excluir várias

dimensões da vida das pessoas com deficiência e como Thomas (2004) afirma deve-se

reconhecer que o modelo social ainda não responde ao que se entende por deficiência.

Outros, como Shakespeare e Watson (2001) acreditam ainda que este modelo tornou-se

um problema, e isso significa que não pode ser reformado. Ele deixou de ser útil, e em

invés de criar críticas fragmentadas ou fornecer argumentos alternativos para preencher

lacunas ou compensar a inadequação do modelo social, é hora de deixá-lo de lado e

começar de novo.

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2.3 A necessidade de um novo modelo

Enquanto o modelo médico enquadra a deficiência como tragédia pessoal, gerando

compaixão e pena, o modelo social narra a questão da deficiência em termos de lutas

pela inclusão e igualdade. Enquanto o modelo médico exige que a pessoa adapte-se à

sociedade, o modelo social exige mudanças na estrutura social. Contudo o panorama

contemporâneo não está mais convencido pela dualidade de pensamentos. Como dito

anteriormente, o corpo é o coração da vida social e é constituído tanto biológica quanto

culturalmente (Hughes, 2000). Portanto a tendência futura está na capacidade de se

retirar o melhor de cada um dos modelos equilibrando os argumentos. Deve-se

reconhecer a experiência individual das pessoas em todas as áreas da vida social

(incluindo o esporte), e ao analisar estes tópico irá perceber-se a complexa

interdependência que existe entre deficiência e corpo.

Assim sendo de um lado tem-se o modelo médico considerado simplista ao considerar

apenas as questões do corpo e esquecer-se das barreiras que impedem as pessoas com

deficiência de participar ativamente da sociedade. Por outro lado, tem-se o modelo

social que deixa de lado aspectos importantes da vida das pessoas com deficiência.

Acreditamos que com o passar do tempo novas teorias vão surgir, inclusive já existem

alguns modelos que diferem dos dois analisados neste trabalho como é o caso do

modelo social patológico, e irão penetrar nas discussões, fazendo com que cada teoria

evolua juntamente com o pensamento e práticas da sociedade.

3. MÍDIA E DEFICIÊNCIA

É possível notar que os avanços com a preocupação destes temas passam

necessariamente pela informação e pelos meios de comunicação e vão determinando

novas formas de pensar e agir em relação à diversidade humana, com poder na

formação de conceito e de manutenção de pré conceitos. A forma como a pessoa com

deficiência é vista pela sociedade é, em grande parte, construída com base na influência

dos meios de comunicação social. Estudos anteriores sobre os efeitos dos media na

sociedade mostraram que uma das maiores influências do mass media é reforçar normas

e atitudes existentes (Lazarsfeld e Merton, 1948). A media, então, atua como espelho da

sociedade, cujas mensagens são produto e reflexo do sistema social vigente.

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No jornalismo o produto final da investigação e apuração jornalísticas é a notícia. Um

texto cujo conteúdo foi construído baseado, principalmente, em valores e critérios

jornalísticos. Contudo tais critérios, assim como o conceito de notícia e jornalismo, são

variados.

Ao se analisar a atuação dos media no sistema de representações e discursos referentes à

pessoa com deficiência, estes se encontram permeados por subjetividades e, por vezes,

reforçando preconceitos e estereótipos (Figueiredo e Novais, 2009). Desde logo,

existem alguns mitos sobre as pessoas com deficiência, que os estigmatizam como

pessoas sempre tristes, marcadas pela tragédia e, por conseguinte, responsáveis diretas

pela tristeza em todos que com elas convivem ou as conhecem (Marques, 2001b).

Calvo (2001) introduz uma outra dicotomia relevante para a presente discussão ao

afirmar que além de exíguas, e de retratar as pessoas com deficiência, frequentemente,

como seres incapacitados que não consegue solucionar seus problemas, as

representações mediáticas das pessoas com deficiência, transmitem, da mesma forma, a

imagem do “super-herói”, com algumas capacidades mais desenvolvidas em detrimento

de outras, acabando por reforçar estereótipos, estigmas e posturas preconceituosas.

Como já citado em outro trabalho nosso (Figueiredo e Novais, 2009), um exemplo

paradigmático da nova roupagem assumida pelos estereótipos relativos às pessoas com

deficiência pode ser encontrado no, à primeira vista inofensivo, desenho animado

“Dumbo” de Walt Disney, conforme enunciada por Amaral (1994). O personagem

principal do desenho é o elefante Dumbo que nasce com uma deformidade física – suas

orelhas são grandes demais. Dumbo, é, então, alvo de humilhações e vítima de

agressões físicas e morais. Contudo, ao participar de uma atração no circo o pequeno

elefante alça um longo voo, deixando todos maravilhados. Logo depois do fenômeno,

Dumbo se transforma em herói, astro de cinema e investimento de grande porte. “Moral

da história: só sendo herói, o diferente/deficiente tem o direito de ser feliz” (ibid., p.64).

Fenômeno similar ocorre com os atletas portadores de deficiência. Quando apenas a

deficiência está em evidência o indivíduo é visto como coitadinho, mas ao se

transformar em atleta de alto nível, recordista mundial, medalhista paraolímpico, o

indivíduo com deficiência é o herói, que superou suas próprias dificuldades.

De acordo com estudos realizados nos anos 90, a qualidade e a quantidade da cobertura

mediática, das pessoas com deficiência encontrava-se abaixo dos padrões, e, geralmente,

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tais indivíduos eram representados de forma estereotipada e irreal. Nelson (1994) listou

os sete principais estereótipos relacionados à pessoa com deficiência: digno de pena e

patético; super-herói; sinistro, maléfico e criminoso; melhor morto; desajustado; carga;

incapaz de viver uma vida bem sucedida. Em uma perspectiva semiológica Woodill

(1994) distinguiu tipos diferentes de metáforas sobre as pessoa com deficiência: a

humanitária (deficiência como infortúnio); a médica (deficiência como doença); o de

fora (pessoa com deficiência como o outro); a religiosa (deficiência como plano divino);

a retribuição (deficiência como punição); o controle social (deficiência como ameaça); e

a metáfora do zoológico (pessoa com deficiência como entretenimento). Por sua vez

Clogston (1994) divide a cobertura jornalística em dois tipos: o modelo tradicional, que

vê o indivíduo com deficiência como disfuncional, e também onde se insere o

estereótipo do super-herói; e o modelo progressivo, vê os indivíduos como diferentes,

aceita-os e respeita-os. Em estudos recentes sobre o esporte adaptado, entretanto, os

estereótipos mais encontrados foram o coitadinho e o super-herói.

Schell e Duncan (1999), por exemplo, examinaram a cobertura televisiva Norte-

Americana dos Jogos Paraolímpicos de 1996, enquanto Schantz e Gilbert (2001)

analisaram a cobertura da imprensa escrita Francesa e Alemã. Mais recentemente,

Thomas e Smith (2003) exploraram a cobertura da imprensa escrita Britânica das

Paraolimpíadas de 2000 em Sydney, focando particularmente na terminologia utilizada

para descrever os atletas com deficiência, e a linguagem e imagens usadas para retratar

as performances. É de se notar, que os resultados desses estudos apontam, em graus

diferentes, para questões semelhantes. Todos os estudos mencionados revelaram que os

media (tanto audiovisual, quanto escrita) tendem a descrever as performances dos

atletas com deficiência de forma relativamente consistente com o modelo médico.

Sendo assim, estes atletas tendem a ser retratados como “vítimas” ou pessoas

“corajosas” que “superaram” o próprio “sofrimento” da deficiência para participar em

um evento desportivo, um super-herói. Este estereótipo deixa a impressão de que a

pessoa com deficiência para se ajustar terá de fazer algo extraordinário ou realizar um

esforço heróico para compensar a sua limitação (Schell e Duncan, 1999). O modelo do

super-herói viria reforçar as baixas expectativas da sociedade acerca das pessoas com

deficiência (Hardin e Hardin, 2004), e enfatizar o esforço individual dessas pessoas para

se adaptarem; como se ter uma deficiência fosse culpa das mesmas (Schantz e Gilbert,

2001). O que depreende-se deste discurso é que as pessoas sem deficiência, quando bem

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sucedidas nos seus empreendimentos, alcançariam o sucesso pelo talento ou pela

inteligência; enquanto aquelas que têm alguma deficiência o teriam feito pela

necessidade de compensar o „mal‟ que os aflige (Marques, 2001a).

Essas imagens podem também levar a uma suposição de que todas as pessoas com

deficiência deveriam empreender esforços heróicos a fim de superar suas limitações

físicas ou mentais e se encaixarem – ser como qualquer um. Ao contrário do que

acontece nos desportos para pessoas sem deficiências, onde por exemplo o fracasso é

apresentado como uma perda trágica, nas Paraolimpíadas, e no esporte adaptado em

geral, os comentário parecem ser planos. Quando certo atleta ou equipe perde, os media

sugerem que o perdedor deve ser grato pela experiência Paraolímpica, este é um caso

claro de os paratletas serem retratados como “outros”, como atletas menos-do-que-

capazes.

O estereótipo do super-herói personifica a imagem popular da deficiência como algo

que deve ser superado, ao invés de aprender a ajustar-se. Tal modelo pode ser

considerado pela imaginação popular como sendo uma imagem positiva por conta de

suas “proezas super-humanas”, contudo, na verdade, não faz nada além de minar a

construção cultural da deficiência, sem dizer nada sobre os obstáculos objetivos. É de se

notar, contudo, que existem dois tipos de super-heróis: aqueles que conseguem realizar

tarefas mundanas, e rotineiras sem auxílio, o que mostra que não é esperado que as

pessoas com deficiência consigam fazê-las; e o super-herói que tem performances acima

da média (atletas de alto nível) (Kama, 2004).

O estereótipo do coitadinho é baseado em um processo de objetificação, onde a pessoa

com deficiência torna-se a personificação de sua própria deficiência. Sua existência

depende de sentimento de pena que despertam. Os media transmitem dois tipos de

mensagens, que são contraditórias. De um lado, histórias de sucesso, que exemplificam

a capacidade dessas pessoas em gozar amplamente da vida; de outro essa mensagem

cria expectativas de que nem todas podem concretizá-la.

Nesse sentido, o tratamento mediático dado ao paraolimpismo confere a este desporto

uma consideração social diferente, com prejuízos ao desenvolvimento do mesmo, e

também à integração das populações com deficiência (Calvo, 2001). Os media fazem

com que as pessoas tenham compaixão por esses paratletas, uma vez que, segundo a

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imprensa, eles são “símbolos de superação”. De acordo com Moura (1993, p.46) tanto o

olhar de piedade quanto o de admiração parte de um único princípio, o preconceito.

[...] tanto aquele que foi marginalizado pela visão pública de deficiência como aqueles que conseguiram [...] [se] mostrar em

condições de competitividade são de certa forma vistos publicamente

como elementos não humanos: um pela sua história e seu modo

precário de vida, como elemento sub-humano, o outro pelo inverso da mesma moeda – da deficiência – como um super-humano.

Em uma sociedade altamente mediática, em que os atletas bem sucedidos assumem o

papel de heróis o culto ao corpo e à imagem física “perfeita” ainda têm espaço. “(…)

[Os atletas] representam a imagem de um determinado grupo humano ou sociedade.

Suas habilidades, aprendizagens, desempenho não são apenas tipicamente deles,

incluem toda uma gama de representatividade que exerce poderoso fascínio sobre as

massas” (Mosquera, 1984, p. 51). Portanto, o processo de identificação do tipo heróico,

além da performance, leva em conta também a dimensão corporal, pelo que o herói do

esporte adaptado não é uma „figura desportivamente simpática‟ para muitos dos que se

julgam „normais‟.

De acordo com Shell e Duncan (1999) os atletas, de alto nível, com deficiência

preferem o respeito à simpatia, querem admiração por suas habilidades, não condolência

por sua deficiência, desejam reconhecimentos por seus feitos ao invés de servir de

símbolo de superação.

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METODOLOGIA

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4. METODOLOGIA

Para alcançar os objetivos propostos neste estudo escolhemos o método de análise de

conteúdo. Esta escolha se justifica pelo fato de que a análise de conteúdo é

predominantemente útil em estudos no âmbito dos meios de comunicação social, e por

isso apropriado para auxiliar nas exigências do mesmo. De fato, este procedimento

escolhido consiste em substituir o “impressionismo” por procedimentos padronizados,

convertendo materiais “brutos” em dados passíveis de tratamento científico (Freitas,

Cunha e Moscarola, 1996).

Com efeito, a análise de conteúdo não é uma técnica que se limita a uma simples

descrição (Vala, 1986), mas tem como objetivo a interpretação das mensagens (Bardin,

1977). Este método é considerado confiável e/ou objetivo porque permite que diferentes

pesquisadores, aplicando as mesmas categorias à mesma amostra, possam chegar aos

mesmo resultados (Fonseca Júnior, 2006).

De acordo com Bardin (1977) a análise de conteúdo possui duas funções, uma função

heurística na qual existe uma tentativa exploratória, sem hipóteses, e uma função de

administração de prova em que hipóteses, questões ou afirmações temporárias são

colocadas a fim de serem verificadas. Neste estudo iremos utilizar a última, uma vez

que a revisão de literatura nos permitiu estabelecer algumas hipóteses a priori, como

veremos mais adiante.

A análise de conteúdo organiza-se em três pólos cronológicos: (1) Pré-análise, que

consiste no planejamento do trabalho, sistematizando ideias iniciais com o

desenvolvimento de operações sucessivas; (2) Exploração do material, refere-se à

análise propriamente dita, envolvendo a codificação em função de regras previamente

formuladas; (3) Tratamento dos resultados obtidos e interpretação, os resultados brutos

são, então, tratados de modo a adquirir valor e significado (Fonseca Júnior, 2006).

A fase de pré-análise, por sua vez, possui três missões: a constituição do corpus do

estudo; a formulação de hipóteses e objetivos; e a elaboração de indicadores que

fundamentarão a interpretação final. De acordo com Bardin (1977) estes três fatores não

se sucedem, obrigatoriamente, de acordo com uma ordem cronológica. No entanto

iremos seguir a ordem atrás mencionada, estabelecendo, primeiramente, os documentos

a serem analisados.

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4.1 Corpus do estudo

A primeira operação realizada foi a escolha e seleção dos documentos a serem

analisados, dessa forma, optamos pelos media impressos pelo fato de ser de mais fácil

manuseio e arquivamento, e à época, com um considerável grau de popularidade junto

das audiências. No documento escrito a informação é mais pormenorizada e cuidada.

Neste sentido, selecionamos dois periódicos diários e uma revista semanal de cada país,

a saber: no Brasil, O Globo, O Estado de S. Paulo, e a Veja; em Portugal, Jornal de

Notícias, Público, e a Visão. A escolha foi baseada na conjugação de múltiplos critérios:

a circulação, o grau de reputação junto das audiências, e pelo fato de os jornais serem

produzidos nos principais pólos urbanos de cada país, Rio de Janeiro e São Paulo no

Brasil, e Porto e Lisboa em Portugal, respectivamente, e pelas revistas Veja e Visão

possuírem conteúdo e política editorial semelhantes.

A título de exemplo citamos os valores de tiragem, dos jornais e revistas analisados, do

período de 2008. De acordo com a Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e

Circulação (2008), no quarto trimestre de 2008, os valores de tiragem foram de 113.964

para o Jornal de Notícias, de 88.465 para o Público, e de 92.850 para a revista Visão.

Para os jornais brasileiros a Associação Nacional de Jornais (2008) calcula, para o ano

de 2008, uma circulação de 281.407 do O Globo, 245.966 para o Estado de S. Paulo, a

revista Veja possui uma circulação de 1.092.588 exemplares (de acordo com a Editora

Abril, 2008).

A escolha recaiu em jornais e revistas de informação geral a fim de não segmentar a

recepção, uma vez que as publicações de informação geral tendem a atingir um público

mais vasto com diferentes interesses. É importante salientar que para a constituição do

corpus deste estudo seguimos a regra da pertinência enunciada por Bardin (1977), ou

seja os documentos são adequados ao objetivo da pesquisa em todos os aspectos.

Quanto ao período de análise, elegemos os Jogos Paraolímpicos como momento de

análise por sua grandiosidade; é o segundo maior evento desportivo do mundo em

número de participantes e provas, e importância social. Dessa forma, nos é mais

conveniente encontrar informações sobre os atletas com deficiência neste período, pelo

que, então restringimos a análise entre o dia anterior à cerimônia de abertura dos Jogos

até ao dia subsequente à cerimônia de encerramento (inclusive). Organizamos então os

seguintes períodos:

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1996/Atlanta – de 15 a 26 de Agosto

2000/Sydney – de 17 a 30 de Outubro

2004/Atenas – de 16 a 29 de Setembro

2008/Pequim – de 5 a 18 de Setembro

Nossa escolha por este recorte temporal deveu-se ao fato de somente ser possível

encontrar dados sobre o número de representantes dos media envolvidos na cobertura

dos Jogos Paraolímpicos a partir de 1996/Atlanta.

Dentro dos documentos e dos períodos escolhidos, selecionamos apenas as notícias,

reportagens, fotolegendas e entrevistas excluindo portanto artigos opinativos, cartas ao

editor, crônicas e editoriais, da mesma forma no interior de cada documento selecionado

excluímos de nossa análise legendas, “olhos”, e infográficos pelo que consideramos

ante-títulos, títulos, subtítulos, intertítulos e boxes totalizando 407 artigos informativos.

A exclusão dos elementos acima citados deveu-se ao fato de que geralmente os “olhos”

são uma repetição de uma frase já presente no corpo do texto, e a exclusão de

infográficos e legendas deveu-se ao fato de que estão fora do corpo do texto pelo que

sua leitura pode ser considerada opcional.

4.2 A Imprensa Brasileira e Portuguesa

Uma vez que em nosso estudo procedemos a uma análise comparativa entre a imprensa

brasileira e portuguesa torna-se necessária a apresentação de um breve histórico de

ambas, a fim de melhor entendermos suas raízes, suas diferenças e semelhanças, assim

como a influência lusa na imprensa brasileira.

4.2.1 A imprensa brasileira

A imprensa brasileira tem duas datas como marcos fundadores: o lançamento do

Correio Braziliense, em 1º de junho, e a criação da Gazeta do Rio de Janeiro, em 10 de

setembro, ambos de 1808. O primeiro surge em Londres, e apesar de tratar de grandes

problemas brasileiros o órgão foi perdendo importância ao longo do tempo, pois do

exterior não tinha condições de acompanhar o interesse do povo. O segundo surge no

Rio de Janeiro com a da Corte de D. João para o Brasil, que mais do que informar

visava defender o absolutismo luso. A qual dos dois cabe o título de precursor é tema de

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controvérsia em função das características de ambos, principalmente em torno das datas,

dos locais em que circularam suas primeiras edições e de quem os editava.

Já entre meados do século XVIII e começo do XIX instalou no país o estilo panfletário.

Contudo no transcurso do Segundo Reinado (1840-1889), o Brasil “(…) supera a fase

dos efêmeros pasquins panfletários, dando origem a jornais mais estáveis e estruturados.

O número de títulos até diminui num primeiro momento, mas as edições e as tiragens

aumentam; começa a segmentação; a contundência do embate político diminui, embora

o alinhamento com correntes políticas prossiga” (Associação Nacional de Jornais,

2008).

Com a Era Republicana a imprensa atravessou um novo ciclo de transformações, como

a inovação tecnológica que permitiu o ensaio da comunicação de massa. A relação entre

imprensa e governo oscilou entre a censura e a liberdade absoluta.

E é em um contexto de transformação editorial experimentado pelo jornalismo

brasileiro na segunda metade de 1800, que surge, no Rio de Janeiro, o jornal O Atleta;

identificado como marco do aparecimento da imprensa esportiva no Brasil. (Sousa,

2005). Contudo já em 1910 havia, em São Paulo, apesar de muitas dúvidas acerca da

importância deste tipo de jornalismo, páginas de divulgação esportiva no jornal

Fanfulla, eram apenas relatos, mas já davam os primeiros passos de inserção do esporte

na vida diária do brasileiro.

Aos poucos a imprensa brasileira consolidava-se, a passagem ao século XX assinala a

transição da pequena à grande imprensa, tornando o jornal uma indústria que vendia seu

produto, a informação. Contudo apesar desta consciência mercadológicas, o jornal

desportivo era um caso à parte. Durante todo o século XX dirigir uma redação esportiva

significa “lutar contra o preconceito de que só os de menor poder aquisitivo poderiam

tornar-se leitores desse tipo de diário” (Coelho, 2004, p. 09).

Com a vitória da seleção brasileira de futebol na Copa de 1958, este esporte – que

ocupava cerca de 80% do noticiário esportivo – se consolida como esporte das massas.

Os grandes jornais começaram a incluir cadernos de noticiário esportivo regularmente

em suas edições a partir da década de 1960, quando então o Brasil entrou

definitivamente na lista dos países com imprensa esportiva de larga escala.

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4.2.2 A imprensa lusa

O primeiro impulso para a criação de jornais em Portugal, veio da necessidade de

informações sobre, nomeadamente, conflitos militares e desastres naturais. Nesse

sentido surgem as folhas noticiosas impressas ou relações. Contudo o primeiro jornal

português propriamente dito foi uma Gazeta de Restauração, que possuía conteúdo mais

informativo, que, como todos os impresso da época possuía um nome longo, Gazeta Em

Que Se Relatam as Novas Todas Que Houve Nesta Corte e Que Vieram de Várias

Partes no Mês de Novembro de 1641. (Tengarrinha, 1989).

De 1768, ano da criação da Real Mesa Censória, até 1807, ano da invasão francesa,

desapareceram todas as publicações periódicas do território português. Entre 1808 e

1820 Portugal sofreu dura censura, sendo que a maior parte das publicações respondia a

interesses de setores com poder da sociedade lusa. Em 1820 com a Revolução do Porto

é instaurada a liberdade de expressão, e em pouco tempo multiplicam-se o número de

jornais. Contudo em 1828 com a proclamação de D. Miguel como rei absoluto, o país

regressa à obscura situação censória anterior. De acordo com Tengarrinha (1989) havia

39 jornais em 1821 (número recorde para Portugal), desses apenas seis sobreviveram até

1824 e este número caiu para cinco em 1825. Esta violência do governo para com a

impressa estendeu-se até 1851, neste ano com a derrogação da “Lei da Rolha” a

atividade jornalística passou a ser facilitada. (Rodríguez, 1996). Os sucessivos períodos

revolucionários e a instauração da Ditadura fez com que a liberdade de impressa

oscilasse até a Revolução do Cravos em 1974, fase em que a liberdade foi finalmente

assegurada ao jornalismo.

Em uma luta paralela para conseguir se afirmar, o jornalismo esportivo só começa a ter

alguma importância no final do século XIX. Contudo apenas no período de 1910 a 1926

é que se assiste ao nascimento, em Portugal, do jornalismo esportivo. Em 1924 surge o

primeiro jornal especializado em esportes, o Diário de Sport. Pode afirmar-se que, a

consolidação da imprensa desportiva em Portugal bem como a prática de desporto,

aconteceu em meados dos anos 40, terminando um ciclo dominado pela instabilidade

das publicações. Hoje os diários esportivos são responsáveis por uma grande parte das

vendas de jornais em Portugal. (Martins, 2008).

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4.3 Hipóteses e objetivos

O objetivo geral deste estudo, de acordo com nosso quadro teórico, é perceber como são

representados os atletas com deficiência nos media portugueses e brasileiros, nos

períodos de 1996, 2000, 2004 e 2008, comparando as representações em cada país. Para

este fim é necessário destacar alguns segmentos de análise, pelo que analisaremos:

- a quantidade de informação presente nos media de ambos os países no período

selecionado;

- os temas presentes e o grau de importância;

- a terminologia empregada;

- os diferentes tipos de deficiência presentes;

- e os estereótipos.

As análises da terminologia, dos tipos de deficiência e dos estereótipos se completam,

uma vez que servem para se verificar a forma com que o atleta é representado e quais

deficiência são mais retratadas. Ao investigarmos a terminologia analisamos a

linguagem utilizada para se referir ao atleta, portanto todas as palavras, termos e

expressões que os meios de comunicação utilizam ao se referirem aos atletas foram

levadas em consideração. Diversos estudos demonstraram que a cobertura esportiva

destes atletas parece privilegiar alguns tipos de deficiência, nomeadamente as motoras e

físicas. Isto se daria pela fato destes tipos de deficiência não se desviar do conceito

normal de corpo capaz. Deste modo ao avaliarmos os tipos de deficiência apresentados

pela mídia tencionamos averiguar se há algum tipo de deficiência que seja mais

noticiável do que outro, independente da terminologia utilizada. Apesar de já termos até

aqui ferramentas para analisarmos a representação do atleta com deficiência, ainda é

necessário verificar os estereótipos acerca do mesmo. Dessa forma o objetivo desta

última análise passa por tentar descobrir elementos que nos sugiram que o atleta com

deficiência está sendo alvo de um enquadramento estereotipado. Com estes três

elementos teremos uma análise mais completa e satisfatória das representações sociais

do atleta paraolímpico, nos meios de comunicação.

Com isso, e na prossecução da questão de base, podemos formular algumas hipóteses

que podem, ou não, ser confirmadas ao longo desta pesquisa,

1) A quantidade de informação irá aumentar no decorrer do tempo.

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2) Essa quantidade de informação será maior nos media brasileiros do que nos

media portugueses.

3) Os assuntos mais tratados terão a ver com a prática desportiva com ênfase

nos resultados, deixando de lado experiência e história dos atletas, e

bastidores, em ambos os países.

4) A terminologia empregada tenderá a ser cada vez mais adequada ao longo

das edições dos Jogos Paraolímpicos tanto no Brasil quanto em Portugal.

5) A deficiência física será mais retratada em detrimento aos outros tipos de

deficiência, e em ambos os países.

6) Os atletas com deficiência serão representados estereotipadamente, em

ambos os países, sendo que os estereótipos de super-herói e coitadinho serão

os mais encontrados.

A hipótese 2 se justifica por dois motivos principais. Primeiro pelo fato de o Brasil ter

obtido um maior número de medalhas e de ter um maior número de atletas participantes

em todas as edições comparativamente à Portugal (Ver Quadro 2). Em segundo lugar

pela existência, já há 14 anos, no Brasil de um sólido Comitê Paraolímpico Brasileiro

(CPB), que promove workshops de media, facilita o contacto de atletas e treinadores

com jornalistas, promovendo o desporto paraolímpico. Enquanto Portugal ainda está

numa fase mais embrionária.

Quadro 2 - Número de atletas e medalhas

Brasil Portugal

Atletas Medalhas Atletas Medalhas

1996/Atlanta 58 21 35 14

2000/Sydney 64 22 53 16

2004/Atenas 48 33 48 12

2008/Pequim 188 47 35 07

4.4 Codificação

Após a seleção do corpus de estudo, passamos então à fase de organização e

codificação. A codificação corresponde a um processo de transformação dos dados

brutos de forma sistemática, segundo regras de enumeração, agregação e classificação,

visando esclarecer o analista sobre o material selecionado (Bardin, 1977). Sua principal

função é funcionar de elo entre os documentos escolhidos e a teoria do pesquisador

(Fonseca Júnior, 2006).

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A codificação compreende três fases: a classificação e agregação, em que aponta-se as

categorias; o recorte, em que escolhe-se as unidades de análise; e a enumeração, na qual

seleciona-se as regras de contagem.

“A classificação, a categorização, é uma tarefa que realizamos quotidianamente com

vista a reduzir a complexidade do meio ambiente, estabilizá-lo, identificá-lo, ordená-lo

ou atribuir-lhe sentido” (Vala, 1986, p. 110). As categorias são os elementos-chave do

código analista, isso significa que ao reduzir a massa de dados em categorias,

objetivamos torná-los inteligíveis, e para este fim devemos investigar o que cada um

dos elementos têm em comum, permitindo seu agrupamento.

A construção de um sistema de categorias pode ser feita a priori ou a posteriori, ou

ainda através da combinação destes dois processos (Vala, 1986). A categorização a

priori acontece quando a interação entre o quadro teórico inicial do pesquisador, os

problemas que pretende estudar, e suas hipóteses permitem a formulação de um sistema

de categorias, sendo fundamental a detecção da presença ou não destas categorias no

material selecionado (ibidem). A categorização a posteriori recorre a uma outra

estratégia em que sem qualquer pressuposto teórico oriente a sua elaboração, sendo que

as técnicas utilizadas são auto-geradoras de resultado (ibidem). Neste nosso estudo

iremos utilizar a combinação dos dois processos, uma vez que há categorias formuladas

a priori através da revisão de literatura e de nossas hipóteses iniciais, e outras que

surgem a posteriori a medida em que tomamos conhecimentos de nosso material.

Além disso, a categorização envolve duas etapas, o inventário e a classificação. A

primeira consiste em isolar os elementos, e a segunda na qual repartimos os elementos,

reunindo-os em grupos similares, de forma a organizar a mensagem. De acordo com

Bardin (1977), um conjunto de boas categorias deve possuir as seguintes qualidades, a

exclusão mútua, ou seja, cada elemento não pode existir em mais de uma categoria;

homogeneidade, segundo a qual, um único princípio de classificação deve governar a

classificação; a pertinência, quando a categoria está adaptada ao material recolhido; a

objetividade e fidelidade; a produtividade, ao fornecer resultados fiéis. A apresentação e

descrição das categorias será efetuada mais à frente no ponto 4.5.

Após a escolha das categorias, fez-se necessário a seleção das unidades de análise. Tais

unidades podem ser de registro ou de contexto. A unidade de registro “é a unidade de

significação a codificar e corresponde ao segmento de conteúdo a considerar como

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unidade de base, visando a categorização e a contagem frequencial” (ibid., p. 98).

Habitualmente distinguem-se dois tipos de unidades (Vala, 1986; Bardin, 1977), as

formais, em que podemos inserir a palavra, frase, personagem, interação, etc., e as

semânticas, na qual a unidade mais comum é o tema. A unidade de contexto, por sua

vez, “(…) serve de unidade de compreensão para codificar a unidade de registo e

corresponde ao segmento da mensagem, cujas dimensões (superiores às da unidade de

registo) são óptimas para que se possa compreender a significação exacta da unidade de

registo” (Bardin, 1977, p. 100-101). No caso deste estudo serão utilizados ambos os

tipos de unidades, pois se por um lado definimos palavras, expressões e temas

pertinentes, por outro, também foram levados em conta o seu contexto, ou seja, as

notícias como um todo. As unidades de análise serão expostas mais adiante.

Passaremos, então, à próxima fase, a definição das regras de enumeração, isto é, o modo

de quantificação das unidades de registro. Deve-se ressaltar que, as regras de

enumeração devem ser cuidadosamente ponderadas, uma vez que diferentes tipos de

regras podem conduzir a diferentes resultados (Vala, 1986). Portanto, dentre as diversas

regras de enumeração existentes (Ver Bardin, 1977), definimos como adequadas ao

nosso estudo, as seguintes: presença ou ausência, estas podem ser significativas,

funcionando como indicadores; frequência, a importância de uma unidade de registro

aumenta quanto maior for a sua frequência (ibidem); e intensidade, no sentido de análise

de valores e das atitudes, ou seja, intensidade de um verbo, tempo do verbo, advérbios

de modo, adjetivos e atributos qualificativos (ibidem).

4.5 Sistema Categorial

Como mencionado anteriormente, o nosso sistema categorial foi definido a priori de

acordo com o quadro teórico estabelecido, e a posteriori, após o contacto com o

material seleccionado. Pelo que passamos a apresentar o sistema resultante.

Quadro 3 – Sistema Categorial empregado na Análise de Conteúdo

Categoria Sub-categoria Unidades de Registro

Prática Desportiva

Preparação

Expectativas/Objetivos

Performance/Resultados

Comemoração da Vitória

Bastidores

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36

Tema

Terminologia

Doping

Atleta Paraolímpico

História/Perfil

Perfil do Adversário

Homenagem/Premiação

Futuro

Questões político-

econômicas

Apoio/Patrocínio

Investimentos

Jogos Paraolímpicos Cerimônia de Abertura

Cerimônia de Encerramento

Estratégias de Marketing

Problemas

História/Perfil

Bastidores

Esportes

Mídia

Genérica Atleta/Competidor/Representante

Idade

Desporto/Modalidade

Nacionalidade

Alcunha

Relacionada à vitória ou

derrota ou ao currículo

do atleta

Campeão

Recordista

Medalhista

Perdedor

Vencedor

Favorito

Herói

Relacionada

adequadamente à

deficiência

(Atleta) Paraolímpico

(Atleta) com deficiência

Amputado

Cego

Amblíope

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37

Atleta sem deficiência

Paratleta/Paradesportista

Cadeirante

Surdo

Mudo

Relacionada

inadequadamente à

deficiência

(Atleta ) Deficiente

(Atleta ) Não Deficiente

(Atleta) Portador de Deficiência

(Atleta) Não Portador de

Deficiência

Paralítico

Paralisado cerebral

Invisual

(Tetra) Paraplégico

Mutilado

Lesionado Medular

Termo estigmatizante

Normal/Perfeito

Andante

Tipos de Deficiência

Deficiência Intelectual

Deficiência visual

Deficiência Física/Motora

Atleta em Cadeira de Rodas

Paralisia Cerebral

Amputação

Les Autres

Estereótipos

Coitadinho Vítima

Sofrimento/Doença

Incapaz

Fardo

Mal/Problema

Anormalidade

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38

Triste

Super-herói Super-atleta

Corajoso

Superação

Exemplo

4.5.1 Temas

A categoria de assuntos presentes visa apontar quais os temas que mais se destacam no

que diz respeito ao atleta paraolímpico. Aqui, vale explicitar que para além de verificar

a presença ou não dos temas em questão, também analisamos o grau de importância que

cada tema presente possui na notícia. Ou seja, entre as variáveis utilizadas

classificamos com a etiqueta primário o primeiro tema apresentado, e com a etiqueta

secundário todos os outros temas presentes no artigo. (Bennett, Lawrence e Livingston;

2006). Dessa forma, teremos uma visão mais amplas das temática presentes e de suas

importâncias hierárquicas nas notícias.

Segundo Thomas e Smith (2003) a cobertura mediática de desporto adaptado muitas

vezes foca principalmente na performance e sucesso dos atletas com deficiência,

enfatizando o significado de recordes, medalhas e tempos, com muito pouco, ou

nenhum, comentário sobre a experiência dos atletas, repercussão da medalha e

bastidores. Certamente, tal afirmativa parece sugerir que, de fato, a cobertura mediática

dos atletas com deficiência, tende a trivializar suas performances e conquistas, e

perpetuar ainda mais o modelo médico, que concebe a deficiência como um produto

meramente biológico, e, portanto os problemas que as pessoas com deficiência

enfrentam são resultado de suas limitações físicas e/ou mentais, nada tendo a ver com

elementos socioculturais, ou com o ambiente físico e político (Brittain, 2004). Tal é o

que tentamos verificar.

Para isto dividimos, a priori, a categoria “Temas” em três sub-categorias: Prática

desportiva, que analisa desde a preparação à comemoração da vitória e os bastidores da

competição; Atleta Paraolímpico, reporta os dados presentes ou ausentes no corpus de

estudo sobre o personagem central de nossa pesquisa, nos auxiliando perceber a

evolução (ou não) de seu tratamento e de seus estereótipos; e Questões político-

econômicas, pretendemos compreender as dificuldades ou facilidades relativamente ao

suporte financeiro e governamental. Com o decorrer da análise percebeu-se que seria

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39

necessário incluir uma sub-categoria adicional relacionada aos Jogos Paraolímpicos, na

qual inclui-se as „Cerimônias de Abertura e Encerramento‟, „bastidores‟, „perfil‟ e

regras dos esportes disputados, „história e perfil‟ dos Jogos, presença dos meios de

comunicação e problemas, dando-nos um panorama geral do evento.

4.5.2 Terminologia

As questões terminológicas ocupam um lugar de destaque e importância em nosso

estudo. Uma vez que, como afirma Amaral (1994, p.7),

A abordagem e a terminologia utilizada pelos meios de comunicação

de massa [...] refletem na interpretação da sociedade sobre os principais temas de interesse coletivo. Se a informação não é cuidada,

acaba reforçando estigmas e posturas preconceituosas transmitidas

culturalmente, que podem significar, no mínimo, um empecilho à evolução e ao desenvolvimento social.

O tratamento mediático dado ao paraolimpismo, confere ao deporto adaptado uma

consideração social, que pode trazer prejuízos ou benefícios ao desenvolvimento do

mesmo bem como à integração das populações com deficiência (Calvo, 2001). De

acordo com Marques (2001) as vezes o uso de certo termos, muito difundidos e

aparentemente inocentes, reforça preconceitos. Tal justifica a análise de terminologias

empregadas pelos meios de comunicação, uma vez que a media tem um importante

papel na formação e reflexão das atitudes públicas (Auslander e Gold, 1999). Dessa

forma utilizaremos, como referência o quadro da American Red Cross (2006) People

First Language, que também é utilizada pelo Comité Paraolimpico Internacional, e os

artigos do consultor de inclusão social Romeu Sassaki (2002a, 2002b) de forma a

verificar a situação da terminologia nos países em questão em nossa análise.

Algumas unidades de registro desta categoria também apareceram a posteriori: Alcunha;

Favorito e Herói; Amblíope, Surdo e Mudo; Invisual, Mutilado, Lesionado Medular,

Termos estimatizantes, Normal/Perfeito e Andante. Neste ínterim, valor ressaltar que as

unidades de registro Termos estigmatizantes e Normal/Perfeito, incluem termos como

pessoa incapacitada, vítima de paralisia cerebral, pessoa que sofre com o problema; e

atletas ditos “normais”, atletas “perfeitos”, respectivamente.

4.5.2.1 Tipos de Deficiência

Esta categoria surge no sentido de avaliarmos se existe, ou não, um tipo de deficiência

que é mais retratado do que os outros. Salientamos que os tipos de deficiência que

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40

constituem nosso sistema categorial como unidades de registro, são aqueles apontados

pelo Comitê Paraolímpico Internacional (2007).

Diversos estudos dos media impressos mostraram que as pessoas em cadeiras de rodas

são o grupo mais representado. Isto talvez aconteça porque a percepção do público

sobre da deficiência está historicamente vinculada a indivíduos em cadeiras de roda

(Schantz e Gilbert, 2001). Outros estudos mostraram que os jornais reportam muito

mais as pessoas com deficiências físicas, que são geralmente tratadas de forma mais

positiva pelos media do que as pessoas com deficiências psiquiátricas ou de

desenvolvimento (Auslander e Gold, 1999).

4.5.3 Estereótipos

Os estereótipos também são uma questão que deve ser elucidada. Ao se analisar a

atuação da media no sistema de representações e discursos referentes à pessoa com

deficiência, estes se encontram permeados por subjetividades e, por vezes, reforçando

preconceitos e estereótipos. Marques (2001), comenta que os estereótipos são aplicados

a estes indivíduos, pois eles são socialmente vistos como incapazes e improdutivos, e,

biologicamente, considerados “anormais”.

Diversos estudos anteriores concluíram que a cobertura mediática, principalmente de

eventos desportivos adaptados, reforça o estereótipo do coitadinho ao retratar as pessoas

com deficiência como incapazes de fazer algo por elas mesmas, e dependentes de

auxílio. Segundo Kama (2004) o paradigma do coitadinho complementa o processo de

objetificação da pessoa com deficiência, em que estes indivíduos se tornam a

personificação de suas deficiências. E como são “imperfeitos” não são capazes de

sobreviver independentes dos outros. Sendo assim, a existência das pessoas com

deficiência fica dependente de sentimentos de penas que causam àqueles que os

circulam.

O estereótipo de super-herói é tão popular quanto o de vítima, ou incapacitado, e reforça

as baixas expectativas que a sociedade tem em relação às pessoas com deficiência. A

mídia utiliza tal estereótipo, principalmente, ao atleta com deficiência (Hardin e Hardin,

2004). O estereótipo do super-herói personifica a imagem popular da deficiência como

algo que deve ser superado, ao invés de aprender a ajustar-se.

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41

O objetivo desta categoria é averiguar se o atleta paraolímpico está a ser representado de

forma estereotipada, assim como Thomas e Smith (2003), e Kama (2004) encontraram

em seus trabalhos.

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APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

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45

5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

De um universo de 220 jornais e 24 revistas, nossa amostra é composta por 407 notícias

que foram analisadas de acordo com os parâmetros e critérios estabelecidos no capítulo

anterior. Iremos portanto neste capítulo proceder à apresentação e discussão dos

resultados obtidos desta análise levando em conta as quatro categorias definidas – temas,

terminologia, tipos de deficiência e estereótipos – os países em questão – Brasil e

Portugal –, e o período de análise – 1996, 2000, 2004 e 2008.

Quadro 4 – Número total de notícias por ano

1996

Notícias

(porcentagem)

2000

Notícias

(porcentagem)

2004

Notícias

(porcentagem)

2008

Notícias

(porcentagem)

Total

Total 63 (15,48) 89 (21,87) 172 (42,26) 83 (20,39) 407 (100)

Ao observarmos o Quadro 4 que apresenta o número de notícias totais por ano,

verificamos um aumento gradativo de 1996 a 2000 (15,48% para 21,87%), um grande

aumento de 2000 para 2004 (21,87% para 42,26%), e uma queda acentuada de 2004 a

2008 (42,26% para 20,39%). Tal fato vai de encontro à tendência evidenciada e

enunciada em estudos anteriores (Smith e Thomas, 2005; Schantz e Gilbert, 2001:

Calvo, 2001) nos quais se verificou um aumento do número de notícias ao longo do

tempo. Contudo corrobora os resultados encontrados por Pereira (2008) em um estudo

dos media portugueses, no qual verifica-se um decréscimo acentuado do número de

notícias entre o ano de 2004 e 2008.

Com 50 anos de história (desde 1960 em Roma), os Jogos Paraolímpicos são

considerados o segundo maior evento esportivo em número de dias, modalidades

envolvidas, países e atletas participantes, perdendo apenas para os Jogos Olímpicos.

Este lugar de prestígio é comprovado pelo seu crescimento exponencial, em sua

primeira edição oficial em 1960 em Roma foram 6 dias de competição que reuniram

400 atletas de 23 países competindo em 12 modalidades, já em sua última edição em

Pequim foram 12 dias de evento, 3.951 atletas de 146 países disputando medalhas em

20 modalidades.

Segundo Smith e Thomas (2005) uma conseqüência do crescimento das competições

esportivas para atletas com deficiência, como é o caso das Paraolimpíadas, seria o

aumento na quantidade de cobertura midiática direcionada a estes atletas. Nossos

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resultados revelaram sim, um aumento quantitativo na cobertura midiática de 1996 a

2004, contudo os números não continuaram a crescer em 2008. Tal queda no número de

notícias indica um eventual menor interesse pela assunto. Esta redução pode ter

ocorrido pelo menor número de atletas ou medalhas em 2008, pela alteração dos

valores-notícia para este evento, ou mudança na política editorial de cada jornal, pelo

que tentaremos verificar cada variável em ambos os países mais a frente.

Pelo fato de ter influência na construção da realidade (Traquina, 2002), a mídia também

têm o seu papel na formação da opinião pública acerca da deficiência. Porém, ao se

analisar a atuação da mídia no sistema de representações e discursos referentes à pessoa

com deficiência, estas se encontram permeadas por subjetividades e, por vezes,

reforçando preconceitos e estereótipos. De acordo com Schantz e Gilbert (2001),

estudos anteriores sobre os efeitos da mídia na sociedade, concluíram que os meios de

comunicação de massa influenciam, principalmente, reforçando normas e atitudes.

Quadro 5 – Número de notícias presentes em cada meio noticioso analisado no Brasil e em Portugal

por edição dos Jogos Paraolímpicos.

1996 Total 2000 Total 2004 Total 2008 Total

Globo 19

44

21

30

23

63

22

50 Estado de

S. Paulo

25 9 39 28

Veja 0 0 1 0

Jornal de

Notícias

6

19

46

59

82

109

15

33

Público 11 12 23 15

Visão 2 1 4 3

Ao analisarmos o Quadro 5, verificamos que os media Portugueses seguem a tendência

geral – com aumento de notícias de 1996 a 2004, e uma queda brusca em 2008. A falta

de linearidade, contudo, é ainda mais evidente nos meios de comunicação Brasileiros,

havendo uma queda de 1996 a 2000, aumento de notícias de 2000 a 2004 e nova queda

de 2004 a 2008.

Cingindo-nos aos resultados de cada país, podemos observar que cerca de 46% de todas

as notícias provêm da imprensa portuguesa, enquanto que 54% foi produzida pela

imprensa brasileira. Contudo ao examinarmos os números em cada uma das edições

encontramos algumas diferenças entre os dois países. (Ver Quadro 6 e Gráfico 1).

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Quadro 6 – Notícias de cada edição no Brasil e em Portugal (em %).

1996 2000 2004 2008

Brasil 69,84% 33,71% 36,63% 60,24%

Portugal 30,16% 66,29% 63,37% 39,76%

Gráfico 1 – Comparativo do número de notícias por edição no Brasil e em Portugal.

0

50

100

150

200

1996 2000 2004 2008

Brasil

Portugal

Total

Em 1996 o Brasil apresentou o maior número de notícias (69,84%), em 2000 e 2004

Portugal tomou a dianteira com a maior quantidade de cobertura midiática (66,29% e

63,37%, respectivamente), e em 2008 o Brasil voltou a crescer ultrapassando o país luso

(60,24%). Tal variação, como dito anteriormente, pode ter-se dado por diversos

motivos, alguns serão aqui analisados, como a alteração no número de atletas

participantes em cada edição e o número de medalhas, porém outros como políticas

editoriais e valores-notícia serão analisados na próxima fase deste estudo.

Já em 1922 Walter Lippman referia que nossa relação com a realidade não se dá de

maneira direta, mas sim mediada por imagens que formamos na nossa mente. Desta

forma, numa sociedade urbana complexa como a atual temos a necessidade da mediação

dos meios de comunicação, e o jornalismo, no seu percurso histórico, apresenta-se como

reflexo, testemunha e agente da realidade. Portanto esta redução na quantidade de

cobertura midiática pode ser indicativo de uma eventual diminuição no interesse pelo

assunto.

Os jornais fazem muito mais do que transmitir notícias, eles determinam o que é notícia

e apresentam-na de acordo com valores particulares. As notícias são uma espécie de

(re)construção da realidade de acordo com as normas e valores da sociedade. A mídia,

portanto escolhe dentre a grande quantidade de eventos e questões, quais e como ela

deseja transmitir (Kennedy e Hills, 2009). Segundo Kennedy e Hills (2009.) as lacunas

e o silêncio indicam que o que foi deixado de lado pode ter também um poderoso efeito,

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tanto quanto o que está presente. Ficam então as questões: Que o motivo poderá ter

levado a tal redução? Qual a razão, ou razões, da variação na quantidade de notícias em

cada edição e em cada país?

Para responder a estas perguntas seguimos um caminho a fim de obter uma solução

lógica. Portanto nosso primeiro passo foi observar o número de notícias produzidas pelo

próprio jornal e o número de notícias de agências noticiosas (Quadro 7).

Quadro 7 – Número de notícias produzidas pelo próprio jornal e adquiridas de agências de notícia

em cada edição no Brasil e em Portugal.

1996 2000 2004 2008

Jornal Agência Jornal Agência Jornal Agência Jornal Agência

Globo 19 0 21 0 23 0 22 0

Estado de S. Paulo

25 0 9 0 39 0 28 0

Veja 0 0 0 0 1 0 0 0

Total 44 0 30 0 63 0 50 0

Jornal de

Notícias

6 0 33 13 82 0 10 5

Público 9 2 4 8 17 6 11 4

Visão 2 0 1 0 4 0 3 0

Total 17 2 38 21 103 6 24 9

A facilidade na aquisição de informações das agências de notícia poderia ser o fator de

aumento de notícias em determinados anos e de diminuição em outros. Contudo os

jornais brasileiros não apresentaram sequer uma notícia de agências e os portugueses

produziram uma quantidade muito maior de informação assinadas pelo jornal ou pelo

jornalista, do que assinada por agência. Concluímos então que, de acordo com os dados

que possuímos neste momento, o fator agência de notícias pode ser descartado como

explicação para a variação numérica. Contudo sabemos que muitas vezes as notícias

assinadas pelos jornais e jornalistas são baseadas em informações de agências de notícia,

portanto apenas através de entrevistas com editores e jornalistas, e uma análise mais

detalhada deste elemento chegaremos a uma conclusão mais sólida e irrefutável.

Nosso segundo passo foi analisar o número de medalhas e atletas presentes nas edições

em causa com o objetivo de correlacionar esta variável ao número de notícias.

Quadro 8 – Comparativo entre o número de Atletas, medalhas e notícias de Brasil e Portugal nas

quatro edições.

Brasil Portugal

Atletas Medalhas Notícias Atletas Medalhas Notícias

1996/Atlanta 58 21 44 35 14 19

2000/Sydney 64 22 30 53 16 59

2004/Atenas 48 33 63 48 12 109

2008/Pequim 188 47 50 35 07 33

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No entanto ao traçarmos este paralelo percebemos que não há relação entre elas.

Imersos em atitudes sociais e normas profissionais, os jornalistas cobrem, selecionam e

difundem informações sobre os temas identificados como interessantes ou importantes.

Seria então de se esperar que com o aumento (ou diminuição) do número de

participantes e/ou o aumento (ou diminuição) do número de medalhas a quantidade de

notícias iria aumentar (ou diminuir). Isso porque, as informações veiculadas são

formadas pelos valores-notícia que definem os critérios e operações que fornecem a

aptidão de merecer um tratamento jornalístico, isto é, de possuir valor como notícia

(Traquina, 2002). Os valores-notícia que poderiam relacionar número de atletas e

número de medalhas ao número de notícias seria a notabilidade e a relevância,

respectivamente. A notabilidade nos diz que a quantidade de pessoas envolvida em um

evento deve ser considerada um critério de noticiabilidade, sendo assim, nos Jogos

Paraolímpicos quanto maior o número de atletas participantes maior a notabilidade. A

relevância, neste caso específico, reside nos resultados obtidos, ou seja, ao obterem

melhores resultados os atletas paraolímpicos atrairiam mais atenção da mídia. No

entanto, como é possível observar no Quadro 8, no Brasil o número de atletas e

medalhas é sempre crescente e o mesmo não ocorre com as notícias; em Portugal o

número de atletas, medalhas e notícias cresce de 1996 a 2000, e em 2008 há queda no

número participantes, medalhas e notícias, contudo o ano de 2004 há a quebra do padrão,

uma vez que há queda no número de atletas e de medalhas, mas há um aumento

vertiginoso no número de notícias, fazendo com que esta não seja a explicação mais

plausível.

Além destes valores-notícias, outros também poderiam ser analisados para se explicar a

variação do número de notícias em cada país por edição, como por exemplo a

mutabilidade entre épocas (Stephens, 2006). Além disso o dia noticioso também é um

dos critérios contextuais com interferência na noticiabilidade de um evento (Traquina,

2002), ou seja, acontecimentos simultâneos que concorrem por espaço nos meios de

comunicação. Há de se notar também que somente a partir de 2004 é que o “Projecto

Super-Atleta” toma fôlego, com campanhas publicitárias, apelo direto ao público,

associação de patrocinadores, podendo ser este o responsável pelo grande aumento de

notícias neste ano em Portugal. Devemos também referir que também em 2004, com a

finalidade de que o movimento paraolímpico tivesse ampla divulgação e maior valorização,

o CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro), numa estratégia ousada e inédita no país,

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contratou a produtora de vídeo Íntegra Produções para captar, editar e transmitir

gratuitamente imagens dos jogos de Atenas, para as emissoras brasileiras interessadas.

Além disso, oito emissoras abertas e fechadas foram convidadas pelo Comitê para cobrirem

a competição; outros dez veículos também foram convidados, entre eles o jornal O Globo;

pelo que esperava-se que nesta edição o número de notícias aumenta-se muito, o que não

ocorreu.

Poderíamos aqui analisar vários outros fatores responsáveis pela variação da quantidade

de informação sobre os Jogos Paraolímpicos ao longo de suas edições, como por

exemplo as pressões de tempo e espaço a que estão sujeitos os jornalistas, as diferentes

políticas editoriais, a presença ou não de correspondentes in loco, e outros valores-

notícia e sua mutabilidade ao longo do tempo. Contudo para se ter uma resposta

satisfatória seria necessário percorrer outros caminhos, tal como entrevistas aos

jornalistas e editores de cada jornal em cada época; análises que esta fase do trabalho

não engloba.

5.1 Temas

Passemos então à análise pormenorizada do conteúdo da notícia, de modo a

compreendermos de forma mais profunda o processo que envolve a midiatização dos

atletas com deficiência e dos Jogos Paraolímpicos. Assim no Quadro 9 apresentamos os

temas presentes nas edições analisadas dos Jogos Paraolímpicos (1996; 2000; 2004;

2008) e em ambos os países alvos da pesquisa (Brasil e Portugal). De uma forma geral,

no que diz respeito a este parâmetro de observação, verificamos que a tendência das

quatro edições em ambos os países é sobrevalorizar, cada vez mais, a subcategoria

prática desportiva, tal como outros estudos também verificaram (Figueiredo e Novais,

2009; Pereira, 2008; Schantz e Gilbert, 2001; Schell e Duncan, 1999).

Tendo em conta que estamos a analisar um evento desportivo era de se esperar que os

jornais e revistas em questão abordassem mais exaustivamente as questões relacionadas

com a prática do desporto em si. De acordo com Schantz e Gilbert (2001) os meios de

comunicação de massa tendem a enfatizar ações, recordes, performances, resultados,

estatísticas e bastidores quando representam o esporte. A cobertura midiática dos atletas

com deficiência muitas vezes centra-se predominantemente sobre a performance e os

sucessos destes atletas, enfatizando a importância dos recordes, medalhas e tempos

(Smith e Thomas, 2005).

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Quadro 9 – Temas presentes nas quatro edições analisadas no Brasil e em Portugal. Porcentagem

relativa ao número total de temas em cada edição.

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

As unidades de registro de cada subcategoria também mostram-se de suma importância

para o entendimento do processo midiático. Dentro da categoria prática desportiva

foram analisadas as unidades preparação, expectativa/objetivos, resultado/performance,

bastidores, e doping.

1996 2000 2004 2008

Brasil Portugal Brasil Portugal Brasil Portugal Brasil Portugal

Prática Desportiva

50% (35)

45% (15)

66% (29)

67% (62)

62% (62)

59% (92)

69% (51)

71% (42)

Atleta

Paraolímpico

4%

(3)

3%

(1)

9%

(4)

8%

(7)

23%

(23)

9%

(14)

11%

(8)

7%

(4)

Questões

político-

econômicas

13%

(9)

3%

(1)

7%

(3)

3%

(3)

6%

(6)

9%

(14)

3%

(2)

7%

(4)

Jogos

Paraolímpicos

33%

(23)

48%

(16)

20%

(9)

22%

(20)

9%

(9)

23%

(36)

18%

(13)

15%

(9)

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Quadro 10 – Percentagem das unidades de registro categorizadas da subcategoria prática desportiva em Portugal nas quatro edições analisadas. Porcentagens

relativas à subcategoria prática desportiva.

1996 2000 2004 2008

Primária Secundárias Primária Secundárias Primária Secundárias Primária Secundárias

Preparação 0% 0% 0% 3%(2) 0% 1%(1) 0% 2%(1)

Expectativas/

Objetivos 0% 7%(1) 6%(4) 16%(10) 12%(11) 15%(14) 10%(4) 12%(5)

Resultado/

Performance 87%(13) 7%(1) 60%(37) 0% 46%(42) 3%(3) 57%(24) 7%(3)

Comemoração da

Vitória 0% 0% 0% 3%(2) 0% 2%(2) 0% 0%

Bastidores 0% 0% 2%(1) 3%(2) 7%(6) 4%(4) 5%(2) 5%(2)

Doping 0% 0% 3%(2) 3%(2) 8%(7) 2%(2) 0% 2%(1)

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

Quadro 11 – Percentagem das unidades de registro categorizadas da subcategoria prática desportiva no Brasil nas quatro edições analisadas. Porcentagens relativas

à subcategoria prática desportiva.

1996 2000 2004 2008

Primária Secundárias Primária Secundárias Primária Secundárias Primária Secundárias

Preparação 0% 0% 3%(1) 0% 0% 0% 2%(1) 2%(1)

Expectativa/

Objetivo 14%(5) 20%(7) 3%(1) 7%(2) 6%(4) 15%(9) 0% 10%(5)

Resultado/

Performance 63%(22) 3%(1) 62%(18) 10%(3) 65%(40) 5%(3) 73%(37) 0%

Comemoração

da Vitória 0% 0% 7%(2) 0% 3%(2) 2%(1) 0% 0%

Bastidores 0% 0% 0% 0% 0% 3%(2) 4%(2) 2%(1)

Doping 0% 0% 3%(1) 3%(1) 0% 2%(1) 2%(1) 6%(3)

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

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53

Como podemos observar pelos quadros 10 e 11 para além de enfatizar a prática

desportiva, a cobertura midiática enfoca especificamente nos resultados e na

performance. Em Portugal a unidade de registro resultados/performance também é a que

apresenta maior concentração como tema primário em todos os anos, contudo tal

concentração tende a variar reduzindo-se até 2004 quando se mantém praticamente

estável. Tal redução é explicada pelo aparecimento progressivo de outras unidades

temáticas. Em 1996 Portugal registrava em seus meios de comunicação notícias que

tinham a ver apenas com os resultados obtidos e as performances realizadas, e as

expectativas e objetivos, em 2000 já é possível perceber a presença de outras unidades

apesar de em pouca quantidade. Dentre esta unidade de registro temos informação dos

resultados, positivos ou negativos, finais da competição, como por exemplo, “A

nadadora Silvana Barroso e o corredor Coelho de Almeida conquistaram ontem mais

duas medalhas para Portugal nas suas respectivas especialidades (…)”2, de resultados

parciais, “João Paulo Fernandes garantiu a presença nas quartas-de-final do torneio

depois de vencer os três jogos que disputou”3. Da mesma forma ficamos a saber quando

recordes são quebrados, e detalhes das performances dos atletas,

Na natação, o dia voltou a ser de recordes, com David Grachat a bater

o seu anterior máximo nacional dos 200 metros estilos SM9, primeiro na eliminatória e depois na final, que terminou no 7º lugar. Grachat

nadou de manhã em 2m28,75s e à tarde em 2m26,13s, retirando no

total quase 5 segundos ao seu anterior recorde nacional (2m31,47)4.

No Brasil o cenário é um pouco diferente, já evidenciando alguma diferença entre as

imprensas destes países. A unidade de registro resultados/ performance, assim como em

Portugal é a que apresenta o maior número de ocorrências como tema primário em todas

as edições. Contudo a principal diferença entre estes dois países reside na forma com

que esta unidade evolui ao longo dos anos. No Brasil a concentração nos resultados e

performances ao invés de diminuir aumenta, sendo inclusive um dos principais temas

secundários até 2004. Tal fato comprova estudos anteriores (Smith e Thomas, 2005;

Schantz e Gilbert, 2001) que afirmam que quando representam o esporte, os meios de

comunicação de massa em geral enfatizam os resultados, as performances, tempo e

recordes. Ao enfatizar nos recordes, medalhas e tempos dos atletas com deficiência os

meios de comunicação reportam a performance destes atletas de forma semelhante ao

2 Público, 24 de Agosto de 1996, p. 26.

3 Jornal de Notícias, 08 de Setembro de 2008, p.15. 4 Jornal de Notícias, 12 de Setembro de 2008, p. 40.

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54

jornalismo desportivo em geral (Thomas e Smith, 2003); assim ficamos a saber que “O

Brasil já conquistou cinco medalhas nas Paraolimpíadas de Atlanta em apenas três

dias”5, ou que “Daniel venceu a primeira prova que disputou nos Jogos em 1m11s05,

mais de dois segundos acima do recorde que pertencia ao espanhol Sebastian Rodriguez

(1m13s39) desde Atenas”6.

Em Portugal a seguir a unidade de registro que apresenta maior concentração é a de

expectativa/objetivos. Em 1996 esta unidade aparece somente como tema secundário,

mas já a partir de 2000 percebemos que para além de apresentar a segunda maior

concentração como tema primário, é também a unidade de registro que mais aparece

como tema secundário. Este fato ilustra a evolução no tratamento do atleta com

deficiência, na medida em que esta unidade de registro representa o depósito de

confiança, a expectativa por resultados positivos e a esperança de pódio; como verifica-

se em “Boccia vai dar medalhas a Portugal”7, “(…) a equipa lusa „vai entrar para

ganhar‟(…)”8, “Todos poderão chegar ao ouro, como poderão ficar nas poules”

9.

No entanto, no Brasil o segundo tema primário com maior número de ocorrências varia

de acordo com a edição. Em 1996 e 2004 as expectativas e objetivos foram

privilegiados, na verdade em 1996 apenas os resultados e performances, expectativas e

objetivos foram apresentados pela imprensa brasileira, da mesma forma que ocorreu

com a imprensa portuguesa. Aqui vemos a primeira “evolução” na cobertura dos Jogos

Paraolímpicos, a partir de 2000 uma nova gama de unidades de registro são

apresentadas, o que nos leva a crer que a partir desta data houve uma maior variação de

unidades, principalmente no Brasil, como veremos mais a frente.

Em 1996 a expectativas/objetivos é a unidade de registro com a segunda maior

concentração em temas primários e a primeira em temas secundários. Em 2000,

permanece como a segunda maior concentração em temas secundários, mas perde seu

posto nos temas primários para a unidade comemoração da vitória com uma queda

considerável em ocorrências (de 14% em 1996 para 3% em 2000). Já em 2004 torna a

ser a segunda unidade de registro com maior concentração, e em 2008 desaparece dos

temas primários. Aqui vemos a variação de importância desta unidade ao longo das

5 O Globo, 19 de Agosto de 1996 , p. 02. 6 O Globo, 08 de Setembro de 2008, p. 07. 7 Jornal de Notícias, 12 de Setembro de 2008, p. 35.

8 Público, 19 de Outubro de 2000, p. 60. 9 Público, 17 de Setembro de 2004, p. 11.

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edições, que chega a não ser citada como tema principal nos últimos Jogos

Paraolímpicos de 2008 em Pequim. Assim, em 1996 em Atlanta os meios de

comunicação brasileiros apresentavam possibilidades de futuras medalhas, “Com 15

medalhas, o Brasil pode subir outras vezes ao pódio das Paraolimpíadas (…)”10

e em

2004 depositavam esperanças nos paratletas nacionais, “Clodoaldo da Silva é esperança

de medalha para o Brasil na Paraolimpíada que começa hoje, em Atenas”11

.

Para além dessas unidades de registro, no país luso outras duas também aparecem como

temas primários a partir de 2000, bastidores e doping, sendo que esta última não possui

registros em 2008. A unidade de registro doping é a que apresenta o terceiro maior

número de ocorrências como tema primário em 2000 e 2004, vindo a desaparecer em

2008; pode também ser encontrada como tema secundário a partir de 2000 mas com

pouca freqüência. Nesta unidade de registro somos informados que “quatro

halterofilistas foram suspensos por acusarem positivo em testes antidoping (…)”12

; e

ficamos a saber de “Um caso recente de doping de um atleta canadiano (…)”13

, sempre

envolvendo atletas estrangeiros. A presença destas unidades está relacionada com o

número de casos de doping divulgados durante o evento, e como vai ao encontro do

valor-notícia da infração/escândalo (Traquina, 2002), espera-se que o uso de substâncias

ilícitas seja noticiado. A presença das questões acerca dos exames anti-doping e dos

testes positivos significa que o desporto para pessoas com deficiência atingiu o patamar

de desporto de alto rendimento aos olhos da mídia, uma vez que apresenta práticas

semelhantes às do deporto para pessoas sem deficiência. Nesse sentido, DePauw e

Gravon (2005) referem que, apesar de a prevalência do doping entre os paratletas não

estar bem documentada muito acreditam que o problema não é muito diferente de outras

partes do mundo desportivo.

A unidade de registro bastidores surge a partir de 2000, sendo a quarta, e última,

unidade com maior número de ocorrências em 2000 e 2004, e em 2008 passa a ser

terceira, e última, com a ausência das questões de doping. Como tema secundário possui

uma trajetória irregular. Nesta unidade os meios de comunicação dão informações sobre

o que está por detrás da prática desportiva, como por exemplo, sabe-se que aquele dia

10Estado de S. Paulo, 25 de Agosto de 1996, p. E1. 11

Estado de S. Paulo, 17 de Setembro de 2004, p. E1. 12 Jornal de Notícias, 21 de Outubro de 2000, p. 64. 13 Jornal de Notícias, 18 de Setembro de 2004, p. 06.

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56

será “(…) quase de descanso para os nossos atletas”14

, e que “Na jornada de atletismo, o

dia correu mal a José Alves, ao desistir a 50 metros da meta na prova dos 200m, tendo

sido transportado de maca para fora da pista”15

. Schantz e Gilbert (2001) afirmam que a

cobertura dos esportes paraolímpicos deveria centrar-se em temas similares aos

considerados como os dignos de serem noticiados nas páginas desportivas, incluindo o

foco em histórias de bastidores, prática que os meios de comunicação portugueses

tentam incluir na cobertura paraolímpica.

No Brasil as restantes unidades de registro revezam entre os principais temas. Nesse

sentido as unidades doping e bastidores possuem particularidades ao longo das edições.

Em 2000 o doping aparece como tema principal com a mesma quantidade de

ocorrências (3%) de preparação e expectativas/objetivos, sendo o terceiro tema

secundário em importância. Em 2004 desaparece como tema primário e passa a ser

último tema secundário em nível de importância empatado com a comemoração da

vitória (2%). Em 2008 volta um dos temas principais, e é a segunda unidade de registro

com maior concentração nos temas secundários (6%). Da mesma forma como ocorre na

imprensa portuguesa, os meios de comunicação no Brasil ao se referirem ao doping, dão

informações acerca de casos confirmados e atletas suspensos, “O paquistanês Naveed

Ahmed Butt, do levantamento de peso, foi excluído dos Jogos por uso de esteróides”16

,

“(…) seis atletas foram afastados das Paraolimpíadas por uso de doping”17

, e da

igualmente a Portugal todos os casos envolvem atletas estrangeiros, uma vez que

nenhum atleta português ou brasileiro foi acusado de doping durante as edições dos

Jogos Paraolímpicos analisados. É de se notar que a partir de 2008 também discute-se o

doping tecnológico, “Campeão paraolímpico, Pistorius alimenta discussão sobre doping

tecnológico”18

.

A ausência da unidade de registro doping, tanto no Brasil quanto em Portugal, em 1996

deve-se ao fato de nenhum caso ter sido registrado nesta edição. Em 2000, 11 casos

foram documentados, em Atenas-2004 dez violações foram registradas, este número

caiu para apenas três em 2008 em Pequim. A imprensa portuguesa segue estes números

mantendo o doping como tema primário apenas em 2000 e 2004 quando o número de

14 Jornal de Notícias, 20 de Setembro de 2004, p. 14. 15

Público, 21 de Setembro de 2004, p. 37. 16

Estado de S. Paulo, 10 de Setembro de 2008, p. E4. 17 O Globo, 23 de Outubro de 2000, p. 41. 18 O Globo, 07 de Setembro de 2008 , p. 52.

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violações foi mais elevado. No Brasil, ao contrário, o doping aparece como tema

principal em 2000 seguindo a tendência, e em 2008 quando o número de casos caí

significativamente. Essa escassez de registros nos leva a crer que é prestado menos

atenção a essa questão no desporto paraolímpico, principalmente no Brasil. Contudo,

podemos afirma também que pelo fato de os atletas envolvidos nos casos de doping não

serem nacionais a imprensa brasileira, aplicando o valor-notícia da proximidade

(Traquina, 2002), optou por não inserir tais informações de forma constante em suas

páginas noticiosas.

A imprensa brasileira não confere às histórias dos bastidores da prática desportiva a

mesma relevância que a imprensa portuguesa. Apenas em 2008 esta unidade de registro

pode ser encontrada dentre os temas primários com a segunda maior concentração de

ocorrências (4%), e como tema primário só passa a ser registrado a partir de 2004, ou

seja, em 1996 e 2000 esta unidade temática esteve ausente das páginas da imprensa

brasileira. Ao longo deste período somos informados que “(…) depois de ter

confirmado sua mudança da categoria S4 – de atletas com nível Maio de deficiência –

para S5 na natação dos Jogos Paraolímpicos de Pequim, o brasileiro Clodoaldo Silva

afirmou que perdeu a motivação (…)”19

.O fato de a unidade bastidores não ser muito

enfocada pela mídia, comprova a teoria de que, no caso do Brasil é ainda mais

verdadeiro, a cobertura midiática de desporto adaptado muitas vezes foca

principalmente na performance e sucesso dos atletas com deficiência, enfatizando o

significado de recordes, medalhas e tempos, com muito pouco, ou nenhum, comentário

sobre a experiência dos atletas, repercussão da medalha e bastidores (Thomas e Smith,

2003).

A unidade temática preparação é registrada a partir de 2000 sempre como tema

secundário nos meios de comunicação lusos. Assim, ficamos a saber que “(…) os atletas

têm feito „bons treinos e excelentes tempos‟ (…)”20

, e também da intensidade dos

treinos “Uma hora e meia de treino, cinco dias por semana (…)”21

. Era de se esperar que

esta unidade de registro não tivesse uma grande concentração e que não aparecesse com

tanta freqüência, uma vez que nosso período de análise abrange apenas o período em

que se decorrem as provas dos Jogos Paraolímpicos. Torna-se evidente portanto que o

19

O Globo, 06 de Setembro de 2008, p. 36. 20 Jornal de Notícias, 17 de Outubro de 2000, p. 58. 21 Jornal de Notícias, 17 de Setembro de 2004, p. 10.

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período anterior à competição deveria apresentar maior concentração desta unidade de

registro, no entanto, Pereira (2008) constata, ao analisar o número de ocorrências da

preparação na imprensa portuguesa em 2004 e 2008, que esta unidade temática

apresenta valores mais elevados no período em que se desenrolam os Jogos,

contrariando nossa teoria. O que nos leva a crer que as questões de treinamento e

preparação para os Jogos Paraolímpicos possui um valor-notícia baixo para a imprensa

portuguesa.

A preparação dos atletas, que não têm tanto significado na imprensa portuguesa, no

Brasil alcança postos significativos. Como em Portugal, também só aparece em duas

edições, 2000 e 2008, no entanto com maiores concentrações neste último país, sendo

inclusive um dos principais temas primários. Os meios de comunicação brasileiros

reportam ao início da competição que “(…) o Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB)

deu atenção especial a algo bem mais sutil: a preparação psicológica dos atletas (…)”22

,

e ao fim que a China com o objetivo de desenvolver outros esportes investiu em “(…)

infra-estrutura esportiva, bolsas, pensões para atletas e a contratação de equipes técnicas

estrangeiras para a transferência de tecnologia”23

. Assim temos esta unidade de análise

presente no início da competição explicando o que foi feito para que os atletas tivessem

um bom desempenho, e ao final da competição como uma das justificativas pelos

resultados. A partir deste maior enfoque podemos perceber que a mídia começa a

modificar sua postura diante dos atletas com deficiência, ao enfatizar a preparação,

física e psicológica, para os Jogos Paraolímpicos os meios de comunicação transmitem

a ideia de que este é evento de alto rendimento e que para ser bem sucedido é necessário

manter um plano de treinamento e preparação similar aos dos atletas olímpicos.

A última unidade a ser referida é a comemoração da vitória. Em Portugal tal unidade de

registro aparece apenas em 2000 e 2004, sempre como tema secundário e com um

número de ocorrências muito baixo (3% e 2%, respectivamente), como em “Como, no

fundo, a vitória era de Portugal, o ambiente final foi de festa (…)”24

. Tal fato vai de

encontro aos resultados de Figueiredo e Novais (2009) em que um dos principais temas

encontrados na análise da vitória de um atleta paraolímpico foi exatamente a celebração

da mesma. Aqui a mídia brasileira mostra-se um passo a frente, uma vez que, mesmo de

22

O Globo, 17 de Outubro de 2000, p. 34 23 O Globo, 18 de Setembro de 2008, p. 36. 24 Jornal de Notícias, 25 de Outubro de 2000, p. 51

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forma tímida mas significativa em face da proporção da cobertura, apresentaram uma

maior enfoque nas comemorações, ao relatarem que “Ádria dos Santos abraça seu guia,

Jorge Luiz Silva, o Chocolate, logo depois de vencerem a prova dos 100m rasos (…)”25

e que “Os brasileiros Danilo Glasser, Fabiano Machado, Adriano Gomes e Mauro Brasil

comemoram a conquista da medalha de bronze (…)”26

. No Brasil esta unidade de

análise, tal como na mídia portuguesa, aparece apenas em 2000 e 2004, contudo a

diferença está na concentração (7% e 2%) para os temas secundários, e na presença

desta unidade como tema primário em 2004 com 3,2% de concentração.

Passemos agora a analisar a subcategoria Atleta Paraolímpico. Em 1996 esta é a

subcategoria com a menor concentração de ocorrências tanto no Brasil quanto em

Portugal (4% e 3%, respectivamente), sendo que neste último ficou empatada com a

subcategoria questões político-econômicas, como ocorrerá nas edições de 2004 e 2008.

Em Sydney-2000, a mídia brasileira aumenta o foco nos atletas (9%) mas continua

como uma das últimos subtemas do ano; em Portugal a quantidade de cobertura

midiática chega a ser maior do que o dobro da edição anterior (8%), e passa a ser a

terceira dentre as quatro subcategorias analisadas. Em 2004, o Brasil mostra grande

interesse pelo atleta paraolímpico ao fazer deste alvo de 23% de suas notícias,

transformando esta subcategoria em uma das primeiras em importância, em Portugal o

número de ocorrências também aumenta (para 9%) mas o tema mantém-se entre os de

menor interesse. Na última edição dos Jogos Paraolímpicos, em 2008, há uma queda,

significativa no caso do Brasil, em ambos os países (para 11% no Brasil e 7% em

Portugal) fazendo com que a subcategoria voltasse a ser rankeada entre as de menor

importância.

Esta subcategoria inclui as unidades de registro história/perfil, perfil do adversário,

homenagem e futuro.

25 O Globo, 21 de Setembro de 2004, p. 02. 26 Estado de S. Paulo, 27 de Outubro de 2000, p. E2

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Quadro 12 - Percentagem das unidades de registro categorizadas da subcategoria atleta paraolímpico em Portugal nas quatro edições analisadas. Porcentagens

relativas à subcategoria atleta paraolímpico.

1996 2000 2004 2008

Primárias Secundárias Primárias Secundárias Primárias Secundárias Primárias Secundárias

História/Perfil 100%(1) 0% 71%(5) 14%(1) 64%(9) 21%(3) 25%(1) 25%(1)

Perfil do

Adversário 0% 0% 0% 0% 0% 7%(1) 0% 0%

Homenagem 0% 0% 14%(1) 0% 0% 0% 0% 0%

Futuro 0% 0% 0% 0% 0% 7%(1) 0% 50%(2)

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

Quadro 13 - Percentagem das unidades de registro categorizadas da subcategoria atleta paraolímpico no Brasil nas quatro edições analisadas. Porcentagens

relativas à subcategoria atleta paraolímpico.

1996 2000 2004 2008

Primárias Secundárias Primárias Secundárias Primárias Secundárias Primárias Secundárias

História/Perfil 67%(2) 33%(1) 25%(1) 75%(3) 39%(9) 52%(12) 25%(2) 63%(5)

Perfil do

Adversário 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Homenagem 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Futuro 0% 0% 0% 0% 0% 9%(2) 0% 12%(1)

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

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A unidade de registro com maior concentração tanto em temas primário como em

secundários (com exceção do tema secundário de 2008 em Portugal) no Brasil e em

Portugal é a história/perfil, sendo que em 1996 é a única unidade presente em ambos os

países, situação esta que se estende até 2000 no caso do Brasil. Em Portugal a

concentração desta unidade tende a diminuir como tema primário e a aumentar como

secundário ao longo das edições, já no Brasil não podemos observar uma tendência

linear, pois tanto para o tema principal quanto para o secundário há reduções e

aumentos.

De uma forma geral através desta unidade de registro tomamos conhecimento

essencialmente, do perfil do atleta, ou seja, suas conquistas anteriores “Ádria, que está

na quinta paraolimpíada e vinha de dois ouros em Sydney, nos 100m e 200m (além de

um ouro em Barcelona nos 100m) (…)”27

, “Medalha de bronze nos 10.000 metros nos

Paraolímpicos de Atlanta, em 1996, medalha de prata nos 5000 metros no Mundial de

1998, em Madrid, medalha de ouro nos 10.000, prata nos 5000 e bronze nos 1500

metros no Europeu de 1999, em Lisboa, e campeão do mundo em maratona em 1998,

são alguns dos títulos que guarda”28

e status atual do atleta “Aos 24 anos, Anderson é o

atual recordista mundial do arremesso de disco na categoria F36 (…)”29

, além de suas

histórias de vida, principalmente centradas na explicação do que teria originado a

deficiência do atleta, “O atleta, de 28 anos, perdeu a mão direita num acidente com uma

foice aos 19”30

; “Há dez anos, Roseane Santos conversava com duas amigas na calçada

de sua casa, em Recife. Um caminhão desgovernado, dirigido por um bêbado, atropelou

as três e Rosinha, como é conhecida pelos amigos, acabou perdendo a perna

esquerda”31

, “Um desastre de mota, há um ano, provocou a amputação de perna (ao

nível do joelho) da sul-africana Natalie du Toit (…)”32

.

Na maioria das notícias percebemos a necessidade de se especificar a causa da

deficiência, isso, por um lado, pode gerar compaixão pelos atletas, mas por outro pode

ser encarado com fato noticioso, uma vez que a deficiência é uma característica do

atleta, sendo então abordada dessa forma. Em Portugal percebemos então, que a medida

27 Estado de S. Paulo, 21 de Setembro de 2004, p. E3. 28 Jornal de Notícias, 21 de Outubro de 2000, p. 64. 29 O Globo, 18 de Agosto de 1996, p. 54. 30 O Globo, 23 de Outubro de 2000, p. 06. 31

O Globo, 24 de Outubro de 2000, p . 36. 32 Jornal de Notícias, 20 de Setembro de 2004, p. 14.

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em que os atletas passam a ficar mais conhecidos pelo público menos é a necessidade de

apresentá-lo, o mesmo não ocorre no Brasil. Este último fato pode ser explicado devido

à falta de memória do brasileiro, principalmente com relação aos Jogos Paraolímpicos.

Em um estudo realizado por Guerra e Hilgemberg (2006) constatou-se que após a

realização das Paraolimpíadas de Atenas, grande parte dos entrevistados pela pesquisa

não se lembravam sequer do nome de um paratleta.

A partir de 2000 Portugal apresenta outras unidades de registro nesta subcategoria, no

Brasil esta situação só se verifica a partir de 2004. A unidade homenagem aparece

somente em Portugal e apenas em 2000 como tema primário, desaparecendo nas edições

seguintes. A ausência no caso do Brasil, e o pequeno número de ocorrências em

Portugal era esperado, uma vez que as homenagens são prestadas aos atletas em

território nacional, e a grande maioria destes atletas só voltariam para seus países após o

término do evento. A unidade perfil do adversário também só aparece em Portugal e

somente em 2004 como tema secundário, no Brasil esta unidade esteve ausente. Isto

pode ser explicado pelo fato de que os eventos esportivos são discutidos de uma forma

muito mais etnocêntrica e nacionalista. De fato ao focar no perfil dos atletas nacionais a

mídia ao invés de trivializar suas performances exaltam-nas. Este sentimento de

nacionalismo também foi encontrado nas páginas dos jornais britânicos (Thomas e

Smith, 2003), alemães e franceses (Schantz e Gilbert, 2001).

Em 2004 e 2008 Brasil e Portugal apresentam uma nova unidade de registro na

subcategoria atleta paraolímpico sempre como tema secundário. O futuro dos atletas

passa a ser discutido o que o atleta fará logo a seguir aos Jogos, “Quando voltar ao

Brasil, Ádria descansará um mês antes de retomar os treinos”33

, os planos para as

próximas Paraolimpíadas “Tenório lutou na categoria meio pesado e poderá até mudar

de categoria para disputar a paraolimpíadas da China”34

, e da possibilidade de

continuidade da carreira esportiva “(…) uma competidora nata que não pensa, para já,

no abandono”35

. Apesar do pequeno número de ocorrências a presença desta unidade já

reflete uma maior preocupação dos meios de comunicação em noticiar o futuro do

atleta, seus planos, possibilidade de aposentadoria, entre outros.

33

O Globo, 26 de Setembro de 2004, p. 50. 34 Estado de S. Paulo, 22 de Setembro de 2004, p. E4. 35 Jornal de Notícias, 28 de Setembro de 2004, p. 07.

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63

As questões político-econômicas foram uma outra temática presente em nossa análise.

Esta subcategoria é a de menor importância no Brasil e em Portugal em todas as

edições, com exceção de 1996 no Brasil, em que foi o terceiro enfatizado. No Brasil

esta categoria tendeu a ter cada vez menos ocorrências ao longo das edições, chegando a

cair pela metade em 2000 (de 13% para 7%) e a ter uma queda ainda mais acentuada de

2004 a 2008 (de 6% para 3%). Portugal apresentou uma tendência contrária, de 1996 a

2004 a concentração desta subcategoria aumentou , ligeiramente de 1996 a 2000 (de 3%

para 3%), e chegou a atingir mais do dobro em 2004 (9%), e em 2008 apresentou um

declínio (7%). Dentre esta subcategoria foi possível assinalar duas unidades de registro,

apoio e patrocínio e investimento.

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Quadro 14 - Percentagem das unidades de registro categorizadas da subcategoria questões político-econômicas em Portugal nas quatro edições analisadas.

Porcentagens relativas à subcategoria questões político-econômicas.

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

Quadro 15 - Percentagem das unidades de registro categorizadas da subcategoria questões político-econômicas no Brasil nas quatro edições analisadas.

Porcentagens relativas à subcategoria questões político-econômicas.

1996 2000 2004 2008

Primária Secundárias Primária Secundárias Primária Secundárias Primária Secundárias

Apoio/Patrocínio 22%(2) 78%(2) 67%(2) 33%(1) 50%(3) 50%(3) 50%(1) 50%(1)

Investimento 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

1996 2000 2004 2008

Primária Secundárias Primária Secundárias Primária Secundárias Primária Secundárias

Apoio/Patrocínio 0% 0% 33%(1) 33%(1) 29%(4) 57%(8) 25%(1) 50%(2)

Investimento 0% 100%(1) 0% 33%(1) 0% 14%(2) 0% 25%(1)

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65

Aqui não podemos falar em uma tendência geral para o aumento ou decréscimo das

unidades de registro, em nenhum dos países. No Brasil a unidade de registro

investimento está ausente, e a unidade apoio/patrocínio está presente tanto como tema

primário com secundário em todas as edições. Já na mídia portuguesa a questão do

investimento foi encontrada em todas as edições, exclusivamente com tema secundário,

e em 1996 foi a única presente, enquanto que a unidade apoio/patrocínio só aparece a

partir de 2000 como tema primário e secundário, sendo que sua freqüência como tema

primário tende a diminuir ao longo dos anos.

Neste subtema a maior parte das informações referem-se aos problemas enfrentados

pelos atletas paraolímpicos, como por exemplo o caso do desportista português Paulo

Coelho que “Apesar de se ter licenciado em Economia há um ano, (…) continua

desempregado”36

, ou ainda outros que perderam “(…) o emprego para participar nos

Jogos Paralímpicos de Sydney”37

; as condições a que os atletas estão sujeitos, “(…) em

Portugal, as condições para os deficientes praticarem desporto ainda estão muito aquém

do necessário”38

, “Falta de local adequado e material para treinos, carência de

competições internacionais, falta de patrocínio e dificuldade de profissionalização são

queixas freqüentes”39

, “Os atletas não recebem a ajuda de custo (entre R$325 e R$725)

há dois meses”40

. Ficamos a saber que a vitória de atletas paraolímpico e olímpicos não

tem o mesmo valor , “As medalhas de ouro paralímpicas passam a valer 10 mil euros

(dois mil contos) enquanto as suas homólogas olímpicas recebem 30 mil euros, isto é, o

triplo”41

, mas que o governo já defende uma aproximação entre os valores das bolsas

para os atletas com deficiência, “Depois de salientar o desequilíbrio entre as duas (…), o

governante não coloca de lado uma diminuição entre os dois valores (…)”42

; os apoios

que recebem que “(…) somados aos patrocínios da iniciativa privada, deu aos

brasileiros a chance de uma preparação adequada (…)”43

; e as exigências para a

melhoria de condições, “(…) a FPDD vai apresentar propostas que visam „melhorar as

36 Visão, 15 a 21 de Agosto de 1996, p. 76. 37 Jornal de Notícias, 18 de Outubro de 2000, p. 58. 38 Visão, 12 a 18 de Outubro de 2000, p. 112. 39 O Globo, 18 de Setembro de 2008, p. 36 40 O Globo, 21 de Outubro de 2000, p. 41. 41

Jornal de Notícias, 18 de Setembro de 2004, p. 07. 42 Jornal de Notícias, 19 de Setembro de 2004, p. 43 Estado de S. Paulo, 17 de Setembro de 2004, p. E3.

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66

condições de preparação‟ para Londres 2012 (…)”44

, “O importante é dar condições de

desenvolvimento aos paratletas, às modalidades que eles disputam”45

.

Verificamos, portanto, que apesar de a maioria dos assuntos tratados nesta subcategoria

recaírem sobre a falta de apoios e problemas enfrentados pelos paratletas, os patrocínios

obtidos e campanhas para angariação de fundos já são visíveis em nas imprensas de

ambos os países. Podemos, assim depreender que nesse sentido há uma evolução, ainda

que lenta, tendendo ser positiva.

Por fim, a última categoria analisada, a dos Jogos Paraolímpicos apresenta elevado grau

de relevância em ambos os países. No Brasil a categoria temática atingiu a segunda

colocação em importância nos anos de 1996, 2000 e 2008, sendo que em 2004 foi o

terceiro em ocorrências. Em Portugal tal importância é ainda mais evidente, nas edições

de 2000 a 2008 o tema foi o segundo em importância, e em 1996 chegou a ser o

primeiro, com um número de ocorrências ligeiramente maior do que a prática desportiva.

Dentre as unidades de registro desta categoria estão a abertura e encerramento do evento,

estratégias de marketing, problemas da organização, bastidores dos Jogos, detalhes

sobre os esportes inseridos na competição, e sobre a presença ou ausência dos meios de

comunicação.

44 Público, 18 de Setembro de 2008, p. 28. 45 O Globo, 18 de Agosto de 1996, p. 54.

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Quadro 16 - Percentagem das unidades de registro categorizadas da subcategoria Jogos Paraolímpicos em Portugal nas quatro edições analisadas. Porcentagens

relativas à subcategoria Jogos Paraolímpicos.

1996 2000 2004 2008

Primárias Secundárias Primárias Secundárias Primárias Secundárias Primárias Secundárias

Abertura 0% 13%(2) 10%(2) 0% 17%(6) 0% 11%(1) 11%(1)

Encerramento 6%(1) 6%(1) 0% 5%(1) 0% 6%(2) 0% 11%(1)

Marketing 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Problemas 0% 19%(3) 10%(2) 25%(5) 0% 0% 0% 11%(1)

Bastidores 13%(2) 37%(6) 25%(5) 20%(4) 44%(16) 11%(4) 0% 44%(4)

Esporte 0% 6%(1) 5%(1) 0% 11%(4) 3%(1) 11%(1) 0%

Mídia 0% 0% 0% 0% 6%(2) 3%(1) 0% 0%

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

Quadro 17 - Percentagem das unidades de registro categorizadas da subcategoria Jogos Paraolímpicos no Brasil nas quatro edições analisadas. Porcentagens

relativas à subcategoria Jogos Paraolímpicos.

1996 2000 2004 2008

Primárias Secundárias Primárias Secundárias Primárias Secundárias Primárias Secundárias

Abertura 13%(3) 4%(1) 22%(2) 0% 33%(3) 11%(1) 23%(3) 0%

Encerramento 0% 9%(2) 11%(1) 11%(1) 0% 11%(1) 0% 8%(1)

Marketing 9%(2) 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Problemas 9%(2) 13%(3) 0% 22%(2) 0% 0% 8%(1) 8%(1)

Bastidores 13%(3) 4%(1) 11%(1) 11%(1) 22%(2) 0% 0% 31%(4)

Esporte 4%(1) 17%(4) 0% 11%(1) 0% 0% 8%(1) 15%(2)

Mídia 4%(1) 0% 0% 0% 0% 22%(2) 0% 0%

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

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68

No Brasil a unidade de registro abertura é a que aparece com maior freqüência como

tema primário em todas as edições do evento, com tendência crescente de 1996 a 2004 e

uma ligeira queda em 2008. Já em Portugal tal unidade apenas apresenta-se como tema

principal em 2008, contudo a partir de 2000 a abertura já pode ser encontrada dentre os

temas primários. O encerramento do evento só aparece como tema primário em 2000,

no Brasil, e em 1996 em Portugal, sendo tema secundário em todas edições em ambos

os países, sempre com uma pequena concentração. Acreditamos que tal se deve ao fato

de que o período de análise cinge-se até o dia seguinte ao encerramento, neste sentido

entendemos que por este motivo poucas notícias sobre a festa final foram encontradas.

A abertura dos Jogos Paraolímpicos, assim como as festas de abertura de outros grandes

eventos esportivos, configuram-se como possibilidades de observação das diferentes

representações pelas quais as nações escolheram serem vistas e identificadas (Abrahão e

Soares, 2008). Assim as notícias ressaltam a presença de autoridades e celebridades

“(…) Reeve, a cantora Aretha Franklin, (…), e o presidente do Comitê Olímpico

Internacional, Juan Antonio Samaranch, serão os grandes chamarizes (…)”46

, os

discursos “O momento mais marcante deverá realmente ser o discurso de Reeve (…)”47

,

e os detalhes do espetáculo “Mais uma vez a organização chinesa voltou a emocionar o

mundo com um espetáculo de cores, dança e fogos de artifício”48

. Sendo assim a

importância deste momento não cinge-se apenas à oficialização do início dos jogos, mas

toda a aura que este carrega em termos simbólicos, na representação da nação que sedia

os mesmos e na representação do esporte para pessoas com deficiência.

Em Portugal o tema de maior importância nas edições de 1996 a 2004 foi os bastidores

do evento, sendo a categoria temática primária com maior ocorrência e um dos temas

secundários também com maior concentração. No Brasil este tema também possui forte

concentração, classificado dentre as principais categorias temáticas em 1996, 2000 e

2004 e como principal tema secundário em 2008. Os bastidores do acontecimento

sempre avivam a curiosidade do leitor, é um relato daquilo que o público não pôde

presenciar, o que está atrás da cena apresentada pelos organizadores do evento. Assim

esta unidade de registro nos apresenta as notícias sobre a presença de autoridades “O

secretário de Estado adjunto do ministro do Trabalho e da Solidariedade, Rui Cunha,

46

O Globo, 15 de Agosto de 1996, p. 36. 47 O Globo, 15 de Agosto de 1996, p. 36. 48 O Globo, 06 de Setembro de 2008, p. 36.

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69

chegou a Sydney para assistir à cerimónia de abertura e aos primeiros dias dos Jogos

Paralímpicos”49

; o apoio da torcida “Em território australiano, os atletas continuam a ter

o apoio e carinho da comunidade portuguesa”50

; situações inusitadas “Um treinador de

natação da equipe russa está a ser processado por alegadamente ter assediado

sexualmente uma mulher (…)”51

; questões de segurança “Mais de 15 mil soldados e

polícias, uma média de quatro por atleta, foram destacados pelo Governo grego para

garantir a segurança dos Jogos Paralímpicos (…)”52

, entre outros.

A unidade de registro problema também possui algum destaque nas edições de 1996,

2000 e 2008 em ambos os países. Em 2004 este tema esteve ausente, fato que aponta

para uns Jogos sem problemas de organização, e que transcorreu de forma mais

tranqüila. Contudo nas outras três edições analisadas os problemas estiveram presentes,

como por exemplo as polêmicas classificações dos atletas, “Depois de ser reavaliado

anteontem pelo Comité Paraolímpico Internacional (IPC), o atleta foi mantido mesmo

na classe (da S4 para a S5), tendo agora que competir com atletas menos

comprometidos, o que reduz suas chances nas provas”53

; e os problemas na organização

do evento, “O sistema de transporte é caótico, as acreditações dos atletas tardam em

chegar e as queixas quanto às más condições de treino são só algumas das falhas que

estão a tornar a organização dos Jogos Paraolímpicos um inferno”54

. Sendo o

negativismo um valor notícia, e neste caso aliado ao fato de estar relacionado a uma

nação de elite (Austrália, Estados Unidos e China) e a uma entidade de elite (Comitê

Paraolímpico Internacional), temos assim a explicação para o número considerável de

ocorrências sobre os problemas em tal evento desportivo.

Apesar de seu desenvolvimento, o esporte para pessoas com deficiência continua a ser

uma realidade pouco entendida pela população em geral (Varela, 1991). Dessa forma

justifica-se a presença de notícias de caráter pedagógico e cultural, com explicações

sobre provas e atividades esportivas específicas. Neste sentido, os meios de

comunicação brasileiros apresentaram tais tipos de notícias em 1996, 2000 e 2008,

enquanto que a portuguesa foi mais além apresentando os esportes paraolímpicos em

49 Jornal de Notícias, 17 de Outubro de 2000, p. 58. 50 Jornal de Notícias, 23 de Outubro de 2000, p. 69. 51 Jornal de Notícias, 25 de Outubro de 2000, p. 51. 52

Público, 19 de Setembro de 2004, p. 32. 53 O Estado de S. Paulo, 06 de Setembro de 2008, p. E8. 54 Jornal de Notícias, 19 de Agosto de 1996, p. 29.

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todas as edições. Nesta unidade de registro ficamos a saber que “O ciclismo paralímpico

engloba, essencialmente, atletas das áreas da deficiência visual (total ou parcial),

paralisia cerebral, amputados e lesões da espinha dorsal”55

, e que a bocha “(…) destina-

se a atletas com paralisia cerebral e doenças neuromusculares e é praticado em Portugal

por cerca de 300 atletas, de 31 associações e clubes”56

, e que o atletismo “Consta do

programa paralímpico desde Roma 1960”57

, além de que “O futebol para paralisados

cerebrais tem basicamente as mesmas regras que o similar regido pela FIFA”58

.

A unidade de registro marketing, que informa sobre algumas estratégias de vendas dos

produtos relacionados aos Jogos Paraolímpicos está presente apenas no Brasil na edição

de 1996, ano em que os mascotes esgotaram nas lojas, estando ausente nas outras

edições e completamente em Portugal. Tal unidade temática não apresenta nenhum dos

principais valores-notícia (Ver Traquina, 2002) utilizados como critérios de

noticiabilidade, justificando-se portanto a ausência do mesmo em nossa análise, visto

não se tratar de hard news.

Outra unidade de registro pouco presente no corpus de estudo foi a mídia, ou seja,

notícias que relatavam a presença ou ausência dos meios de comunicação para a

cobertura do evento in loco, “Estão presentes 44 rádios e televisões de 40 países”59

,

“Em Portugal, os Jogos são transmitidos por duas cadeias televisivas e duas

radiofónicas”60

; também ficamos a saber que “Pela primeira vez na história da

Paraolimpíada, as competições dos atletas portadores de deficiências poderá ser vistas

em todo o mundo”61

, e que com a cobertura midiática espera-se “(…) não apenas dar

retorno aos patrocinadores e valorizar os atletas, como também mudar a visão que a

sociedade brasileira tem dos deficientes”62

Em Portugal encontramos tal unidade

temática apenas em 2004, com uma pequena concentração tanto como tema primário

(6%) quanto como secundário (3%). No Brasil as matérias sobre a mídia aparecem em

duas edições, em 1996 como tema primário, e da mesma forma que em Portugal com

uma pequena taxa de ocorrências (4%), e em 2004 como tema secundário, mas dessa

55 Jornal de Notícias, 16 de Setembro de 2004, p. 12. 56 Jornal de Notícias, 13 de Setembro de 2008, p. 44. 57 Público, 17 de Setembro de 2004, p. 41 58 O Globo, 17 de Agosto de 1996, p. 31. 59 Jornal de Notícias, 18 de Setembro de 2004, p. 06. 60

Público, 18 de Setembro de 2004, p. 34. 61 Estado de S. Paulo, 17 de Agosto de 1996, p. E9. 62 Estado de S. Paulo, 17 de Setembro de 2004, p. E3.

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vez com uma concentração mais elevada (22%). Ao discutir-se a presença e ausência

dos meios de comunicação e a importância da cobertura dos Jogos Paraolímpicos, a

mídia mostra o início de uma conscientização, uma vez que a mesma é a grande

responsável por pautar aquilo que será discutido (agenda setting), os meios de

comunicação têm o poder sobre o conhecimento, as opiniões e o modo de ver a

realidade. A mídia deve, então, usar esse poder para transformar o desconhecido em

familiar, e dessa forma o Brasil encontra-se um pouco à frente de Portugal, uma vez que

apresenta notícias sobre o tema em duas edições e com concentração mais elevada na

última.

5.2 Terminologia

A abordagem e a terminologia utilizada pelos meios de comunicação de massa refletem

na interpretação da sociedade sobre os principais temas de interesse coletivo. Se a

informação não é cuidada, acaba reforçando estigmas e posturas preconceituosas

transmitidas culturalmente, que podem significar, no mínimo, um empecilho à evolução

e ao desenvolvimento social. Amaral (1994, p.7), afirma que

A abordagem e a terminologia utilizada pelos meios de comunicação

de massa [...] refletem na interpretação da sociedade sobre os principais temas de interesse coletivo. Se a informação não é cuidada,

acaba reforçando estigmas e posturas preconceituosas transmitidas

culturalmente, que podem significar, no mínimo, um empecilho à evolução e ao desenvolvimento social.

Por este motivo observamos a utilização de terminologia relacionada aos atletas

paraolímpicos. (Quadro 18).

Quadro 18 – Porcentagem de tipos de terminologias, relativas ao total de terminologias no ano, de

Brasil e Portugal nas edições analisadas.

*São apresentadas somente a primeira casa decimal da percentagem

O tratamento mediático dado ao paraolimpismo, confere ao deporto adaptado uma

consideração social, que pode trazer prejuízos ou benefícios ao desenvolvimento do

mesmo bem como à integração das populações com deficiência. (Calvo, 2001). De

1996 2000 2004 2008

Brasil Portugal Brasil Portugal Brasil Portugal Brasil Portugal

Genérica 48%

(198)

60%

(123)

63%

(148)

79%

(453)

69%

(374)

69%

(437)

65%

(267)

79%

(193)

Relacionada

ao Currículo

9%

(37)

9%

(19)

10%

(24)

7%

(41)

10%

(55)

11%

(71)

8%

(32)

4%

(9)

Adequada à

deficiência

9%

(38)

8%

(17)

6%

(14)

11%

(64)

7%

(39)

16%

(99)

13%

(53)

13%

(31)

Inadequada

à deficiência

34%

(140)

23%

(47)

21%

(48)

3%

(18)

14%

(74)

4%

(26)

14%

(58)

4%

(10)

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acordo com Marques (2001a) as vezes o uso de certo termos, muito difundidos e

aparentemente inocentes, reforça preconceitos. Apesar de ainda serem encontrados

termos que reforçam atitudes negativas para com as pessoas com deficiência, já pode-se

perceber, através de alguns estudos, uma tomada de consciência, por parte da imprensa

e de jornalistas.

No que concerne a abordagem e a terminologia utilizadas pelos mídia, os resultados

evidenciaram que em ambos os países, os termos Genéricos são massivamente

utilizados em detrimento dos outros gêneros, em todas as edições, corroborando outros

estudos (Novais e Figueiredo, 2009; Pereira, 2008; Schantz e Gilbert, 2001). Dessa

forma observamos que a maior presença de termos genéricos pode ser revelador da

exigência jornalística da neutralidade ou, em alternativa, pode indiciar a existência de

uma conscientização por parte de jornais e jornalistas de que a terminologia utilizada,

relativamente às pessoas com deficiência, pode refletir e influenciar as atitudes em torno

das mesmas, criando e/ou perpetuando estereótipos (Novais e Figueiredo, 2009;

Auslander e Gold, 1999a).

Contudo ao observamos os demais gêneros no Brasil percebemos que apesar de os

termos genéricos serem os mais utilizados, a segunda terminologia com maior

concentração em todas as edições é a terminologia relacionada inadequadamente à

deficiência, contudo o número de ocorrências deste tipo de termos tende a diminuir

(34%, 21%, 14%, e 14% em 1996, 2000, 2004, e 2008, respectivamente), evidenciando

que apesar de estar a cair em desuso (Kama, 2004) a terminologia inadequada ainda faz

parte das rotinas mediáticas, comprovando que o processo de assimilação por parte dos

media tende a ser lento.

Em Portugal somente em 1996 a terminologia inadequada foi a que obteve a segunda

maior concentração. Em 2000 o número de ocorrência destes termos cai de forma

abrupta, e também a partir desta data passa a ser substituída pela terminologia

relacionada adequadamente à deficiência. Neste caso Portugal encontra-se um passo à

frente do Brasil.

Além disso, no Brasil a linguagem mais adequada e as relacionadas ao currículo do

atleta revezam-se em nível de importância ao longo das edições. Contudo é de se notar

que os termos “corretos” tendem a aumentar de concentração, enquanto que o número

de termos relacionados ao currículo do atleta permanece praticamente estável. No país

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73

luso a terminologia relacionada corretamente ao atleta tem concentração estável; e a

terminologia relacionada ao currículo do atleta é a terceira em concentração de 1996 a

2004, caindo para último em 2008 com uma redução brusca em ocorrências (de 11% em

2004 para 4% em 2008).

Vários esforços têm sido feitos para fornecer aos jornalistas e pesquisadores guias e

manuais com a terminologia mais adequada a ser utilizada. Contudo as próprias

organizações, associações e instituições têm dificuldades em encontrar um consenso

relativamente a este tipo de terminologia.

Quadro 19 – Porcentagem das unidades de registro da terminologia genérica, relativas ao total de

terminologias genéricas do ano, de Portugal nas edições analisadas.

1996 2000 2004 2008

Atleta/Competidor/

Jogador

40%(49)

39%(175) 42%(184) 37%(72)

Idade 2%(2) 2%(7) 1%(5) 1%(1)

Desporto/Modalidade 11%(14) 9%(39) 14%(59) 11%(22)

Nacionalidade 47%(58) 51%(232) 43%(189) 49%(95)

Alcunha 0% 0% 0% 2%(3)

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

Quadro 20 – Porcentagem das unidades de registro da terminologia genérica, relativas ao total de

terminologias genéricas do ano, do Brasil nas edições analisadas.

1996 2000 2004 2008

Atleta/Competidor/

Jogador 56%(110) 29%(43) 19%(71) 26%(69)

Idade 0% 0% 1%(2) 1%(2)

Desporto/Modalidade 7%(15) 15%(22) 22%(82) 18%(48)

Nacionalidade 36%(72) 55%(81) 54%(201) 54%(145)

Alcunha 1%(1) 1%(2) 5%(18) 1%(3)

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

Referindo-nos mais concretamente às unidades de registro, passamos a analisar mais

especificamente a terminologia genérica, que inclui atleta/competidor/jogador, termos

relacionados à idade do atleta, ao desporto/modalidade na qual compete, a sua

nacionalidade, e a alcunha, tratamento informal, auferida ao mesmo. Em ambos os

países os termos relacionados à nacionalidade do atleta foram os que apresentaram um

maior número de ocorrência em quase todas as edições. Em Portugal apenas em 2004 os

termos atleta/competidor/jogador supera-os, e no Brasil o mesmo acontece em 1996.

O nacionalismo reporta-se ao fato de o atleta ser identificado com o seu país, renovando

o espírito de nação inserido em competições esportivas. É uma forma de representar e

veicular uma coletividade. A posição dos meios de comunicação, quando está em causa

uma representação nacional, é a tomada de partido declarada e óbvia a favor dessa

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74

representação, neste sentido “(…) a parcialidade manifestada pelos jornalistas é vista

como uma espécie de obrigação moral – de patriotismo” (Coelho, 2004). Nos discursos

da imprensa os atletas nacionais são representados como aqueles que são capazes de

colocar o país em uma posição de destaque na cena internacional. “Este é um discurso

habitual na imprensa desportiva (como na generalista, aliás), segundo o qual a

representação nacional é tida como o mais alto valor e interesse na prática desportiva

competitiva” (ibidem). Sendo o mesmo também verdadeiro no caso dos atletas

paraolímpicos, uma vez que os termos nacionalistas, como “(…) os atletas nacionais

(…)”63

, “O brasileiro (…)”64

, “(…) os atletas portugueses (…)”65

, foram os mais

utilizados dentre a terminologia generalista.

Em Portugal a unidade de registro com a segunda maior taxa de ocorrências foi a

atleta/jogador/competidor, com exceção de 2004 em que tal unidade foi a primeira.

Seguida pela modalidade praticada pelo atleta e pela idade. A unidade alcunha foi

registrada apenas em 2008, com uma pequena taxa de ocorrência (2%).

No Brasil as taxas de ocorrências modificaram-se em cada edição fazendo com que as

unidades de registro se alternassem em termos de importância. Em 1996 a unidade

atleta/competidor/jogador foi a primeira, e por conta de uma queda em sua taxa passa a

ser a segunda em 2000, caindo ainda para terceiro em 2004, perdendo o lugar para a

modalidade. Em 2008 volta a ser a segunda. A modalidade praticada pelo atleta teve o

terceiro maior número de ocorrências, dentre a terminologia genérica, em todas as

edições, com exceção de 2004 quando foi o segundo, como dissemos anteriormente. Ao

contrário de Portugal, a alcunha foi utilizada no Brasil em todas as edições, ao contrário

da idade que só aparece nas edições de 2004 e 2008.

É de se notar aqui que, para além da diferença na freqüência da unidade de registro

alcunha, os países analisados também apresentam diferença na forma com que registram

a mesma. Em Portugal encontra-se apenas referência à alcunha “Blade Runner”66

auferida ao atleta sul-africano Oscar Pistorius pela imprensa internacional. A imprensa

63 O Globo, 24 de Agosto de 1996 , p. 33. 64

O Globo, 07 de Setembro de 2008, p. 52. 65 Jornal de Notícias, 11 de Setembro de 2008, p. 40. 66 Jornal de Notícias, 17 de Setembro de 2008, p. 47.

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75

brasileira, ao contrário, criou alcunhas para os atletas brasileiros, como “Clodoaldo

Recorde da Silva do Brasil”67

, “Michael Phelps brasileiro”68

, “Tubarão paraolímpico”69

.

“A emoção é a própria alma do esporte” (Barbeiro e Rangel, 2006, p. 45), portanto para

que um texto jornalístico seja considerado atraente precisa conter o máximo de

informações relevantes de maneira clara e criativa (ibidem). A utilização de uma

linguagem predominantemente afetiva é então um fator de apelo que permite que a

mensagem atinja com mais eficácia o seu receptor (Fernández, 1974). Portanto a

atribuição de alcunhas aos atletas dão um tom apaixonado à cobertura (Jáuregui, 2008).

Dessa forma notamos que a imprensa brasileira, ao contrário da portuguesa, procura

traduzir de forma emocionante os momentos esportivos, através do uso de uma

linguagem afetiva. É, também, de se notar que tal fato não é exclusivo das

Paraolimpíadas, uma vez que a história do jornalismo esportivo brasileiro está recheado

de exemplos de alcunhas não só atribuídas a atletas, mas também a clubes de futebol,

estádios e ginásios poliesportivos.

Quadro 21 – Porcentagem das unidades de registro da terminologia relacionada à vitória, derrota

ou currículo do atleta, relativas ao total de terminologias deste gênero do ano, em Portugal nas

edições analisadas.

1996 2000 2004 2008

Campeão 47%(9) 39%(16) 63%(45) 22%(2)

Recordista 16%(3) 32%(13) 10%(7) 22%(2)

Medalhista 16%(3) 7%(3) 15%(11) 22%(2)

Perdedor 0% 0% 0% 0%

Vencedor 21%(4) 17%(7) 11%(8) 33%(3)

Favorito 0% 5%(2) 0% 0%

Herói 0% 0% 0% 0%

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

Quadro 22 – Porcentagem das unidades de registro da terminologia relacionada à vitória, derrota

ou currículo do atleta, relativas ao total de terminologias deste gênero do ano, no Brasil nas edições

analisadas.

1996 2000 2004 2008

Campeão 22%(8) 25%(6) 38%(21) 38%(12)

Recordista 57%(21) 33%(8) 15%(8) 12%(4)

Medalhista 14%(5) 4%(1) 27%(15) 38%(12)

Perdedor 0% 0% 0% 0%

Vencedor 8%(3) 29%(7) 13%(7) 3%(1)

Favorito 0% 8(2)% 5%(3) 9%(3)

Herói 0% 0% 2%(1) 0%

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

67

O Globo, 20 de Setembro de 2004, p. 08Esporte. 68 O Globo, 26 de Setembro de 2004, p. 49. 69 Estado de S. Paulo, 19 de Setembro de 2004, p. E5.

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76

Apesar de os Jogos Paraolímpicos tratarem-se de uma competição entre atletas ou entre

equipes, em que um saíra vencedor e o outro perdedor, os termos relacionados a esta

vitória ou derrota não apresentaram um grau de importância muito elevado em nenhum

dos dois países analisados. No Brasil ficou a rondar os 10% em todas as edições, assim

como em Portugal, com a exceção de 2008 em que apenas 4% dos termos estavam

relacionados a esta linguagem.

Dentre as unidades de registro, os termos campeão, vencedor, recordista e medalhista

foram os que apareceram com maior freqüência em todas as edições, tanto no Brasil

como em Portugal. O termo favorito só passa a ser registro em 2000 e com um pequena

taxa de ocorrência. Tal deve-se ao fato de que o período de análise deste estudo

compreende o evento em si, e não os momentos que o antecedem, acreditamos que no

período pré-competição este verbete apareceria com maior freqüência. Outra unidade de

registro pouco encontrada foi herói, que apareceu apenas no Brasil, na edição de 2004 e

com uma pequena taxa de ocorrência (1,8%).Como veremos mais a frente um dos

estereótipos mais freqüentemente associados aos atletas com deficiência é o de super-

herói ou super-atleta, o papel que estes desempenham como representantes de uma

nação, transpondo obstáculos favorece a construção deste arquétipo (Rubio, 2001).

Contudo apesar de serem apresentados como detentores de qualidade morais superiores

e como tendo capacidades de superar as dificuldades impostas, raramente estes mesmos

atletas são classificados de forma aberta como heróis. Isto porque o herói esportivo é

quase sempre visto como um modelo a ser seguido (Morin, 1977), e muitos deles são

apresentados ao público como alguém que tem um dom, um mérito e competências

pessoais, como se não existisse relações de poder, como se houvesse uma disposição

genética, um atributo especial para aquele indivíduo se tornar um herói (Pilotto, 2007).

Enquanto que o atleta com deficiência é considerado super-herói por ter superado suas

próprias dificuldades e compensado sua própria deficiência, sendo esta última o impulso

para que o atleta torne-se vencedor.

A unidade de registro perdedor esteve ausente em Portugal e no Brasil. Este fato

confirma a ideia de Schell e Duncan (1999) de que os meios de comunicação banalizam

as derrotas dos atletas paraolímpicos e, que ao contrário do que acontece nos esportes

para pessoas sem deficiência em que o fracasso é apresentado com uma perda trágica,

nas Paraolimpíadas quando um certo atleta ou equipe perde, os meios de comunicação

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sugerem que o perdedor deve ser grato pela experiência esportiva, como se não

houvesse possibilidade de perda, pois ao competir o atleta já estaria ganhando.

Quadro 23 – Porcentagem das unidades de registro da terminologia relacionada adequadamente à

deficiência, relativas ao total de terminologias deste gênero do ano, em Portugal nas edições

analisadas.

1996 2000 2004 2008

Atleta Para(o)límpico 6%(1) 2%(1) 23%(23) 23%(7)

Atleta com Deficiência 6%(1) 16%(10) 19%(19) 32%(10)

Amputado 65%(11) 6%(4) 10%(10) 6%(2)

Cego 23%(4) 47%(30) 19%(19) 19%(6)

Amblíope 0% 30%(19) 24%(24) 19%(6)

Atleta sem Deficiência 0% 0% 4%(4) 0%

Paratleta 0% 0% 0% 0%

Cadeirante 0% 0% 0% 0%

Surdo 0% 0% 0% 0%

Mudo 0% 0% 0% 0%

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

Quadro 24 – Porcentagem das unidades de registro da terminologia relacionada adequadamente à

deficiência, relativas ao total de terminologias deste gênero do ano, no Brasil nas edições analisadas.

1996 2000 2004 2008

Atleta Para(o)límpico 18%(7) 29%(4) 21%(8) 4%(2)

Atleta com Deficiência 37%(14) 43%(6) 13%(5) 26%(14)

Amputado 34%(13) 0% 18%(7) 21%(11)

Cego 3%(1) 7%(1) 38%(15) 30%(16)

Amblíope 0% 0% 0% 0%

Atleta sem Deficiência 0% 0% 0% 6%(3)

Paratleta 8%(3) 7%(1) 0% 2%(1)

Cadeirante 0% 14%(2) 3%(1) 11%(6)

Surdo 0% 0% 5%(2) 0%

Mudo 0% 0% 2%(1) 0%

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

A linguagem nos meios de comunicação é importante na medida em que nos oferece

uma forma de entender as mudanças de comportamento da sociedade em relação à

pessoa com deficiência. De forma semelhante, como a linguagem tem o poder de definir

grupos sociais, a terminologia utilizada pela mídia tem implicações tanto na auto-

percepção das pessoas com deficiência, quanto no percepção do público em geral sobre

o tema (Haller, Dorries e Rahn, 2006). “A construção de uma verdadeira sociedade

inclusiva passa também pelo cuidado com a linguagem. Na linguagem se expressa,

voluntariamente ou involuntariamente, o respeito ou a discriminação em relação às

pessoas com deficiências” (Sassaki, 2003).

Neste sentido percebemos que a presença de uma terminologia adequadamente

relacionada à deficiência torna-se vital no auxílio à mudança de estereótipos e estigmas.

Portugal, como foi dito anteriormente, mostra-se um passo à frente do Brasil, ao utilizar

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com mais freqüência termos adequados, sendo a segunda terminologia mais utilizada a

partir de 2000. Percebemos também que as unidades de registro “atleta com deficiência”

e “atleta para(o)límpico” são cada vez mais utilizadas com o passar do tempo (de 6%

em 1996 para 32% em 2008; e 6% em 1996 para 23% em 2008), o que vai ao encontro

do “People First Language”, ou seja focar antes a pessoa (ou atleta no caso) do que a

deficiência, como verificaram outros estudos (Clogston, 1994; Pereira, 2008).

A ausência das unidades de registro paratleta e cadeirante deve-se ao fato de que estes

termos são utilizados apenas na linguagem do Brasil. Neste último país verificou-se que

apesar de os termos “atleta com deficiência” e “atleta paraolímpico” serem as unidades

mais presentes neste tipo de terminologia, em quase todas as edições (exceção de 2008),

não pode-se verificar um aumento significativo no uso dos mesmos. No Brasil, apesar

de a terminologia adequadamente relacionada à deficiência não inserir-se entre as mais

utilizadas, nota-se um aumento do uso da mesma ao longo do tempo, apesar de lento.

Além disso, o termo “paratleta” passa a ser cada vez menos usado pela imprensa

brasileira (8%; 7%; 0%; 2%; em 1996, 2000, 2004, 2008, respectivamente) tal deve-se

ao fato de o termo não ser consensual. Alguns argumentam que paratleta remete a atleta

paralelo, ou incompleto, enquanto outros assumem que o prefixo refere-se ao mesmo

prefixo dos Jogos ao qual remete.

Ao mesmo tempo em que a linguagem adequada auxilia na mudança de estigmas, as

referências negativas podem servir para perpetuar mitos e estereótipos negativos. De

acordo com Auslander e Gold (1999b) se por um lado as terminologias servem para

uniformizar o vocabulário e facilitar a comunicação, por outro serve para separar e

rotular um determinado grupo da sociedade, dessa forma o uso de termos inadequados

podem resultar na transmissão de uma ideia estereotipada e prejudicial ao grupo

rotulado.

Em relação a este estudo, verificamos que nas diferentes edições dos jogos encontramos

terminologia adequada e inadequada. Em Portugal a terminologia mais adequada foi

mais utilizada em detrimento da incorreta, no Brasil, apesar da diminuição no uso de

termos menos adequados, este tipo de terminologia ainda está fortemente presente nas

edições analisadas.

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Portanto, apesar de a linguagem inadequada ser cada vez menos freqüente, palavras

como “invisual”70

e “paralisado cerebral”71

, ainda estão muito presentes neste estudo.

Em Portugal a gama de unidades de registro desta terminologia tende a diminuir, sendo

que em 2008 apenas os termos deficiente e portador de deficiência ainda são utilizados.

No Brasil, a quantidade de unidades de registro encontradas não tem tendência em

diminuir, no entanto a utilização destas sim, ou seja, as unidades aparecem em todas as

edições mas com menor freqüência.

Em ambos os países verificamos a forte presença do termo deficiente em todas as

edições. De acordo com Vivarta (2003) e Sassaki (2003) tal termo é considerado

pejorativo uma vez que considera que a pessoas é deficiente no seu todo, o que não

contribui para a mudança das representação social das pessoas e atletas com deficiência

(Pereira, 2008). Contudo, Haller et. al (2006) afirma que a palavra “deficiente” encaixa

perfeitamente nas normas do jornalismo, por ser de menor extensão do que por exemplo

“pessoas com deficiência”, levando em conta as restrições espaciais do jornalismo

impresso podemos perceber que o uso do termo deficiente torna-se mais adequado ao

jornal.

Entretanto o uso também freqüente da unidade de registro “portador de deficiência”

leva-nos a questionar esta justificação. As pessoas não portam deficiência como porta-se

um guarda-chuva, ou seja, não é algo que possa desfazer-se.

É interessante também notar a presença de termos estigmatizante, principalmente no

Brasil. Esta linguagem auxilia na perpetuação de estereótipos e subjugam os atletas,

apresentando-os apenas em termos de suas deficiência ao invés de como pessoas

multidimensionais. Esta unidade de registro inclui expressões como “pessoa

incapacitada”72

, “pessoa que sofre com o problema”73

, “vítima”74

.

Quadro 25 – Porcentagem das unidades de registro da terminologia relacionada inadequadamente

à deficiência, relativas ao total de terminologias deste gênero do ano, em Portugal nas edições

analisadas.

1996 2000 2004 2008

Deficiente 47%(22) 56%(10) 38%(10) 70%(7)

Portador de Deficiência 0% 11%(2) 19%(5) 30%(3)

Paralítico 4%(2) 0% 0% 0%

70 Jornal de Notícias, 27 de Agosto de 1996, p. 20. 71 O Globo, 17 de Agosto de 1996, p. 31. 72

Público, 27 de Agosto de 1996 , p. 30. 73 O Globo, 18 de Agosto de 1996, p. 54. 74 O Globo, 29 de Setembro de 2004, p. 42.

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Paralisado cerebral 0% 0% 0% 0%

Invisual 28%(13) 28%(5) 23%(6) 0%

Paraplégico 11%(5) 5%(1) 12%(3) 0%

Mutilado 2%(1) 0% 0% 0%

Lesionado medular 2%(1) 0% 0% 0%

Termo Estigmatizante 4%(2) 0% 4%(1) 0%

Normal/Perfeito 0% 0% 4%(1) 0%

Não Portador de

Deficiência 0% 0% 0% 0%

Andante 0% 0% 0% 0%

Não Deficiente 0% 0% 0% 0%

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

Quadro 26 – Porcentagem das unidades de registro da terminologia relacionada inadequadamente

à deficiência, relativas ao total de terminologias deste gênero do ano, no Brasil nas edições

analisadas.

1996 2000 2004 2008

Deficiente 52%(73) 67%(32) 68%(50) 72%(42)

Portador de Deficiência 21%(29) 15%(7) 5%(4) 5%(3)

Paralítico 4%(5) 0% 0% 0%

Paralisado cerebral 16%(22) 15%(7) 19%(14) 10%(6)

Invisual 0% 0% 0% 0%

Paraplégico 1%(2) 0% 5%(4) 3%(2)

Mutilado 0% 0% 0% 0%

Lesionado medular 1%(2) 0% 0% 0%

Termo Estigmatizante 3%(4) 2%(1) 1%(1) 0%

Normal/Perfeito 0% 2%(1) 1%(1) 5%(3)

Não Portador de

Deficiência 1%(1) 0% 0% 0%

Andante 0% 0% 0% 2%(1)

Não Deficiente 1%(1) 0% 0% 2%(1)

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

Apesar de a linguagem inadequada ainda estar presente no jornalismo, já se verifica a

presença de termos mais adequados, diminuição de termos incorretos, e tendência para o

uso de terminologia genérica. Parece então que os meios de comunicação, de uma forma

geral, estão cada vez mais sensibilizados pela causa e conscientes da importância que o

uso das palavras adquiri neste contexto. O principal problema que se verifica, como

afirma Vivarta (2003) é que os profissionais da área não dominam a terminologia, e há

ainda falta de consenso, fato que reflete também no trabalho dos jornalistas. Torna-se

então necessário a união de organizações, instituições e associações a fim de se criar um

manual ou guia coerente, e transmitir essa informação a jornalistas.

5.2.1 Tipos de Deficiência

Diferentes tipos de deficiência podem provocar diferentes tipos de reações. Diversos

estudos mostraram, por exemplo, que a sociedade apresenta atitudes mais positivas em

relação às pessoas com deficiência física do que com relação àquelas com deficiência

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intelectual. (Auslander e Gold, 1999a). A cobertura midiática da deficiência parece

variar dentre os diferentes tipos de deficiência. Estudos sobre a programas televisivos e

filmes mostram que a deficiência intelectual é retratada mais freqüentemente do que os

outros tipos; por outro lado, a mídia impressa tende a reportar mais a deficiência física

(ibidem).

Outros estudos sobre a cobertura de esportes paraolímpicos mostraram que os meios de

comunicação tendem a privilegiar alguns tipos específicos de deficiência (Schantz e

Gilbert, 2001; Auslander e Gold, 1999a). Estes autores afirmam que isso ocorre porque

a percepção do público sobre o atleta com deficiência está historicamente ligada à

deficiência física ou motora, e a pessoas em cadeira de rodas (Schantz e Gilbert, 2001).

Em nosso estudo este fato não foi comprovado, pelo contrário, nossos dados apontam

em outra direção.

Quadro 27 – Porcentagem dos tipos de deficiências registrados, em Portugal nas edições analisadas,

referentes ao total de deficiências identificadas no ano

1996 2000 2004 2008

Deficiência Intelectual 0% 16%(17) 5%(5) 0%

Deficiência Visual 44%(16) 45%(48) 36%(35) 45%(5)

Deficiência

Motora/Física 11%(4) 2%(2) 19%(18) 9%(1)

Cadeira de Rodas 17%(6) 1%(1) 2%(2) 9%(1)

Paralisia Cerebral 6%(2) 25%(26) 25%(24) 27%(3)

Amputação 22%(8) 4%(4) 12%(12) 9%(1)

Les Autres 0% 8%(8) 0% 0%

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

Quadro 28 – Porcentagem dos tipos de deficiências registrados, no Brasil nas edições analisadas,

referentes ao total de deficiências identificadas no ano.

1996 2000 2004 2008

Deficiência Intelectual 0% 22%(8) 0% 2%(1)

Deficiência Visual 29%(26) 32%(12) 49%(39) 44%(19)

Deficiência

Motora/Física 33%(29) 16%(6) 10%(8) 14%(6)

Cadeira de Rodas 4%(4) 8%(3) 6%(5) 7%(3)

Paralisia Cerebral 22%(20) 19%(7) 27%(21) 9%(4)

Amputação 10%(9) 3%(1) 6%(5) 16%(7)

Les Autres 1%(1) 0% 1%(1) 7%(3)

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

De uma forma geral, verificamos que em quase todas as edições, em ambos os países a

deficiência com a maior taxa de ocorrências é a Deficiência Visual, com exceção de

1996 no Brasil em que o maior número de registro se verificou para a Deficiência

Motora/Física. Estes dados contrariam estudos anteriores (Schantz e Gilbert, 2001;

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Schell e Duncan, 1999; Auslander e Gold, 1999a; Calvo, 2001) segundo os quais a

deficiência física e as pessoas em cadeira de rodas eram as mais retratadas, contudo

também corroboram estudos mais recentes realizados no âmbito da imprensa portuguesa

(Monteiro, Pereira, Silva e Pereira, 2008; Pereira, 2008) . Para além disso em Portugal,

nas edições de 2000, 2004 e 2008, e no Brasil na edição de 1996, 2000 e 2004, a

Paralisia Cerebral figura entre as deficiências mais retratadas, resultados que também

vão de encontro aos estudos anteriores que relatam que os atletas com Paralisia Cerebral

são raramente retratados pela mídia. Contudo estes mesmos estudos também afirmam

que a Deficiência Intelectual é uma das menos presentes nos meios de comunicação,

fato que comprovamos; em Portugal tal deficiência esteve ausente em 1996 e 2008 e foi

uma das menos citadas em 2000 e 2004, no Brasil esteve ausente em 1996 e 2004, foi a

menos citada em 2008, a edição de 2000 é a única que não mantém a tendência, sendo a

Deficiência Intelectual a segunda mais presente. A ausência, e a baixa presença, pode

ser explicada pelo fato de em nenhum dos países os atletas com deficiência intelectual

tiveram resultados positivos, e em 2000 o Brasil apresenta uma taxa mais elevada de

ocorrência por relatar os resultados negativos destes atletas, “A seleção de basquete para

deficientes mentais perdeu para a Espanha (…)”75

, e ao confundir paralisia cerebral com

deficiência intelectual, acabou por divulgar o resultado do futebol de sete de forma

equivocada, “No futebol, categoria para deficientes mentais, a seleção brasileira

masculina fez sua melhor partida (…)”76

.

Levando em consideração os dados obtidos por este estudo no que toca aos temas mais

freqüentes, em que os resultados e performances são os mais constantes, este fato parece

estar mais relacionado com os resultados obtidos pelos atletas nos Jogos Paraolímpicos

do que propriamente com a deficiência em causa.

Em todos os anos a imprensa, portuguesa e brasileira, faz referência a quase todos os

tipos de deficiência incluídas nos Jogos Paraolímpicos, sendo em Portugal a Deficiência

Visual e a Paralisia Cerebral a mais citada em todas as edições e, contrariando todas as

expectativas, os atletas em Cadeira de Rodas figuram entre as menos citadas na maior

parte das edições. No Brasil o mesmo ocorre, a Deficiência Visual é a que apresenta

maior taxa de ocorrência, com exceção de 1996 em que é a segunda, e os atletas em

Cadeira de Rodas também encontram-se entre os menos citados. Além da Deficiência

75 O Globo, 21 de Outubro de 2000, p. 41. 76 Estados de S. Paulo, 28 de Outubro de 2000, p. E8

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Visual, a Paralisia Cerebral, e a Amputação também estão entre as mais encontradas, em

2000, 2004, 2008, respectivamente. Tais fatos também podem ser explicados pelos

números de medalhas. No país luso os atletas com deficiência visual e paralisia cerebral

foram responsáveis por mais de 80% das medalhas nacionais. No Brasil ocorre o menos

sendo que a deficiência visual e a deficiência motora/física são aquelas que mais

recebem medalhas e menções nas edições analisadas.

Dessa forma parece estar desconstruída a ideia que associa a deficiência à pessoa em

cadeira de rodas, reforçando a importância dos resultados como critério de

noticiabilidade. Verifica-se aqui uma evolução, na medida em que qualquer atleta pode

ser noticiado, ficando este dependente apenas de seu resultado e performance. Neste

sentido, noticia-se que “(…) no futebol de cinco (deficiência visual), a seleção brasileira

derrotou a Coréia por 3 a 0 (…)”77

, “Português invisual ganha medalha de prata nos

Paraolímpicos”78

. Contudo este valor-notícia não restringe-se aos resultados nacionais,

atletas de importância internacional também são citados, assim como os outros

competidores que completaram os pódios em que um nacional esteve presente; “(…) o

recorde mundial do lançamento de disco para paralisados cerebrais [foi] batido pelo

australiano Damien Burroughs (…)”79

, “Oscar Pistorius [amputado de ambas as pernas]

concretizou o seu objectivo de conquistar três medalhas de ouro no atletismo (…)”80

Torna-se também interessante notar a freqüência com que os tipos de deficiência foram

identificados (Quadro 29).

Quadro 29 – Número de deficiências identificadas em cada edição analisada, em Portugal e no

Brasil.

77 O Globo, 08 de Setembro de 2008, p. 07. 78

Jornal de Notícias, 21 de Outubro de 2000, capa desporto. 79 O Globo, 26 de Agosto de 1996, p. 04. 80 Público, 17 de Setembro de 2008, p. 28.

1996 2000 2004 2008

Brasil Portugal Brasil Portugal Brasil Portugal Brasil Portugal

Deficiências

identificadas

89

36

37

106

79

96

43

11

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84

Gráfico 2 – Número de notícias e número de deficiências identificadas no Brasil.

0

20

40

60

80

100

1996 2000 2004 2008

Brasil- nº de notícias

Brasil - nº de deficiências

Gráfico 3 – Número de notícias e número de deficiências identificadas em Portugal.

0

20

40

60

80

100

120

1996 2000 2004 2008

Portugal - nº de notícias

Portugal - nº de

deficiências

De acordo com os dados apresentados percebemos que o número de vezes em que as

deficiências está relacionado ao número de notícias por cada ano, este resultado vai de

encontro à ideia de que a deficiência do atleta deixa de ser referenciada com o passar do

tempo (Pereira, 2008).

5.3 Estereótipos

Muito freqüentemente os meios de comunicação “constroem” e enquadram as pessoas

com deficiência em suas histórias e imagens, retratando-as como diferentes ou como

pessoas que não se enquadram na sociedade. Sendo assim alguns autores (Haller, 2000)

vêm as representações midiáticas não como disseminações de informações, mas sim

como um enquadramento e um reforço de uma visão específica sobre as pessoas como

deficiência. Dessa forma as atitudes acerca destes indivíduos a partir das representações

midiáticas podem se desenvolver em um misto de piedade e inspiração pelo

enfrentamento (ibidem).

Segundo Kama (2004) o paradigma do coitadinho complementa o processo de

objetificação da pessoa com deficiência, em que estes indivíduos se tornam a

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85

personificação de suas deficiências. E como são “imperfeitos” não são capazes de

sobreviver independentes dos outros.

Por outro lado, os atletas com deficiência também são retratados como super-heróis e

pessoas com habilidades extraordinárias para lidar e superar seus obstáculos. Essa

imagem de super-heroísmo são problemáticas, uma vez que leva-nos à suposição de que

todas as pessoas com deficiência devem esforçar-se heroicamente para superar suas

limitações e ajustar-se (Schell e Duncan, 1999).

Os dados de nosso estudo revelam que ambos os estereótipos foram registrados (Quadro

30). De acordo com Moura (1993, p.46) tanto o olhar de piedade quanto o de

admiração parte de um único princípio, o preconceito.

[...] tanto aquele que foi marginalizado pela visão pública de deficiência como aqueles que conseguiram [...] [se] mostrar em

condições de competitividade são de certa forma vistos publicamente

como elementos não humanos: um pela sua história e seu modo precário de vida, como elemento sub-humano, o outro pelo inverso da

mesma moeda – da deficiência – como um super-humano.

As raízes do preconceito contra as pessoas com deficiência são profundas. Durante

séculos, contos de fadas retrataram de forma estigmatizada, e mais recentemente as

histórias em quadrinhos relacionam criminalidade e deficiência. Alguns autores

afirmam que os estereótipos divulgados pela mídia são reflexos dos medos e ansiedades

do público, ou seja, nós evitamos falar sobre a possibilidade da deficiência, em nós ou

em alguém próximo, e o que tememos geralmente estigmatizamos (Longmore, 1985).

Quadro 30 - Porcentagem dos estereótipos registrados em ambos os países, nas edições analisadas,

referentes ao total de estereótipos identificados no ano

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

No Brasil não há uma tendência entre os tipos de estereótipos, sendo que em 1996 e

2008 o super-herói é o mais encontrado, em 2004 o coitadinho impera e em 2000 ambos

encontram-se com a mesma taxa de ocorrência. No entanto apenas em 1996 a uma

diferença significativa entre as taxas de ocorrência (67% para super-herói e 34% para

coitadinho), a partir de 2000 as taxas permanecem equitativas, mostrando um equilíbrio

1996 2000 2004 2008

Brasil Portugal Brasil Portugal Brasil Portugal Brasil Portugal

Coitadinho 33%

(8)

71%

(5)

50%

(5)

0% 53%

(10)

31%

(5)

44%

(4)

22%

(2)

Super-herói 67% (16)

29% (2)

50% (5)

100% (3)

47% (9)

69% (11)

56% (5)

78% (7)

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86

entre os dois estereótipos, com tendência para o super-herói, visto que o estereótipo de

coitadinho apresenta uma maior taxa de ocorrência apenas em 2004.

Em Portugal a situação é diferente. Apenas em 1996 o estereótipo coitadinho é mais

abundante, a partir de 2000 o super-herói é o que impera. Aqui as taxas de ocorrência

apresentam diferenças significativas em todas as edições, sendo que a partir de 2000 o

estereótipo de super-herói apresenta taxas superiores a 60%. Também é de se notar que

na edição de Sydney-2000 o estereótipo de coitadinho esteve ausente. O projeto “Super

Atleta” anteriormente citado, pode ter contribuído para a manutenção do estereótipo de

super-herói a partir de 2004, pois influenciou a mídia na forma como se referem a estes

atletas. A tendência para o estereótipo de super-herói vai ao encontro de outros estudos

(Schell e Duncan, 1999; Smith e Thomas, 2005).

O estereótipo do coitadinho perpetua a imagem das pessoas com deficiência como

objetos de pena. Neste estigma as pessoas são geralmente retratadas como vítimas de

um trágico destino, como incapazes, dependentes, o que as diminui, degrada e

desumaniza, mostrando-as como passivas e como necessidades de cuidado e pena

(Nelson, 1994).

O estereótipo de super-herói lida com a luta comovente de alguém que enfrenta o

trauma da deficiência, e com grande coragem, perseverança e determinação triunfa ou

sucumbe heroicamente (Nelson, 1994). De acordo com Hardin e Hardin (2004) este tipo

de estigma é mais comumente voltado para os atletas com deficiência, e desencadeia

duas ideias: primeiro, a deficiência não é socialmente construída, mas é equivalente a

uma limitação que pode e deve ser superada pela dedicação dos indivíduos; e, segundo,

por padrão, todas as pessoas com deficiência que não atingem esse tipo de performance

são consideradas preguiçosas e sem auto-disciplina. Ou seja, este estereótipo faz com

que as outras pessoas com deficiência que não realizam feitos extraordinários sejam

julgadas negativamente (Kama, 2004).

Este modelo pode ser considerado pelo imaginário popular como positivo por conta de

suas proezas super-humanas, mas, na verdade reforça preconceitos e não muda a

construção cultural da deficiência (ibidem).

Passemos agora a analisar as unidades de registro encontradas em cada um dos

estereótipos.

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Quadro 31 – Porcentagem das unidades de registro do estereótipo Coitadinho, em Portugal nas

edições analisadas, referentes ao total do estereótipo em causa identificadas no ano.

1996 2000 2004 2008

Vítima 40%(2) 0% 40%(2) 50%(1)

Sofrimento/Doença 40%(2) 0% 60%(3) 0%

Incapaz 20%(1) 0% 0% 0%

Fardo 0% 0% 0% 50%(1)

Mal/Problema 0% 0% 0% 0%

Anormalidade 0% 0% 0% 0%

Triste 0% 0% 0% 0%

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

Quadro 32 – Porcentagem das unidades de registro do estereótipo Coitadinho, no Brasil nas edições

analisadas, referentes ao total do estereótipo em causa identificadas no ano.

1996 2000 2004 2008

Vítima 38%(3) 0% 40%(4) 75%(3)

Sofrimento/Doença 0% 60%(3) 40%(4) 25%(1)

Incapaz 12%(1) 20%(1) 0% 0%

Fardo 0% 0% 10%(1) 0%

Mal/Problema 50%(4) 0% 0% 0%

Anormalidade 0% 20%(1) 0% 0%

Triste 0% 0% 10%(1) 0%

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

Ao lermos estes quadros (31 e 32) constatamos que a unidade de registro vítima é a

mais presente tanto em Portugal – 40%, 40% e 50%, em 1996, 2004 e 2008,

respectivamente – quanto no Brasil – 38%, 40% e 75%, em 1996, 2004 e 2008,

respectivamente. Em Portugal a gama de unidade de registros deste estereótipo é

limitada, cingindo-se apenas a vítima, sofrimento/doença e incapaz em 1996; ausência

do estereótipo em 2000; sofrimento/doença e novamente vítima em 2004; fardo e

repetição de vítima em 2008.

No Brasil a gama de unidades é mais ampla. Em 1996 encontramos mal/problema,

vítima e incapaz; em 2000 sofrimento/doença, anormalidade e novamente incapaz; em

2004 o leque é ainda maior com vítima, sofrimento/doença, fardo e triste; e em 2008

apenas vítima e sofrimento/doença.

A vitimização das pessoas com deficiência reforça o paradigma do coitadinho pois

complementa o processo de objetificação da pessoa com deficiência, em que estes

indivíduos se tornam a personificação de suas deficiências (ibidem). Sendo o propósito

desta unidade de registro o de evocar compaixão e caridade, por se centrarem na

tragédia pessoal destes atletas, “Um acidente ainda durante a gravidez da mãe foi o

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88

primeiro obstáculo (…)”81

; “Vivia fechado no seu mundo, enclausurado dentro das

quatro paredes de um apartamento em Lisboa, antes de fazer desporto”82

; “Um acidente

(…) atirou-o para uma cadeira de rodas”83

. Outra unidade que anda de mãos dadas a

esta é o sofrimento/doença, que refere-se exatamente ao sofrimento e dor causados pela

deficiência, ao declarar que o atleta “(…) sofre de paralisia cerebral desde a nascença”84

,

ou que os atletas paraolímpico merecem uma atenção especial pois “(…) todos tiveram

algum tipo de trauma, e nem todos o superaram completamente”85

. Além de ser vista

como causadora de sofrimento às pessoas, nesta unidade vemos que a deficiência ainda

é considerada como doença. Esta visão está de acordo com o modelo médico que

defende que a deficiência é causada por uma doença, limitação e que incorpora

sofrimento e algumas desvantagens sociais.

Outra unidade de registro encontrada é Fardo. Descrever as pessoas como fardo reflete a

visão de que o dever impele a família, amigos, ou a sociedade a atender as necessidades

destes indivíduos. Ao mesmo tempo, temos a ideia de que um fardo é difícil de suportar

e é também evitado. Dessa forma essa visão desumaniza os atletas com deficiência

(Nelson, 1994). “(…) os irmãos mais velhos faziam revezamento, ora colocando-o sobre

„cangote‟ (pescoço), nos ombros, nos braços, para poder levar o irmão ao médico,

escola, lazer”86

. A unidade de registro triste aparece apenas em 2004 no Brasil, que

reforça todas as outras ao estigmatizar as pessoas com deficiência como pessoas sempre

tristes, marcadas pela tragédia e, por conseguinte, responsáveis diretas pela tristeza em

todos que com elas convivem ou as conhecem. (Marques, 2001b).

Percebemos a tendência para a manutenção de unidades de registro que podem ser

consideradas menos politicamente incorretas, e o desaparecimento das unidades mais

agressivas como por exemplo mal/problema que surge apenas em 1996 no Brasil,

incapaz que pode ser verificado em 1996 em Portugal e em 1996 e 2000 no Brasil, e

anormalidade que foi registrado apenas em 2000 no Brasil. As unidades de registro

incapaz e anormalidade também se relacionam. Carvalho (1994, p.6 apud Marques,

2001a, p.53) comenta que os estereótipos são aplicados aos deficientes, pois eles são

81 O Globo, 18 de Agosto de 1996, p. 54. 82 Visão, 15 a 21 de Agosto de 1996, p. 74. 83 Jornal de Notícias, 27 de Setembro de 2004, p. 18. 84

Visão, 15 a 21 de Agosto de 1996, p. 76. 85 O Globo, 17 de Outubro de 2000, p. 34. 86 Estado de S. Paulo, 23 de Setembro de 2004, p. E5.

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89

socialmente vistos como incapazes e improdutivos, e, biologicamente, considerados

“anormais”. Marques (2001b) reforça esta ideia ao afirmar que a forma como a mídia

vem tratando a questão da deficiência reforça a ideia de anormalidade e de afastamento

do padrão estabelecido como bom e desejável. Como exemplo temos, “(…) dentro do

imaginário popular, eles são coitados e não cidadãos produtivos”87

. Nessa mesma linha

tem-se a unidade mal/problema, que é registrada apenas em 1996 no Brasil, “Consciente

do mal (…)”88

, “Constatado o mal irreversível, os pais o matricularam nas aulas de

natação para tentar minimizar o problema”89

. Esta unidade também vai ao encontro do

modelo médico ao referir-se à deficiência como um mal ou um problema, colocando as

pessoas com deficiência à margem do processo social, e concentra-se nos esforços de

devolver às pessoas com deficiência o funcionamento „apropriado‟ para que possam

então ser inseridas na sociedade (Kama, 2004). Ao caracterizar a deficiência como um

problema individual dissocia-se as experiências das pessoas com deficiência de

qualquer contexto social.

Quadro 33 – Porcentagem das unidades de registro do estereótipo Super-herói, em Portugal nas

edições analisadas, referentes ao total do estereótipo em causa identificadas no ano.

1996 2000 2004 2008

Super-Atleta 0% 0% 18%(2) 0%

Corajoso 0% 0% 9%(1) 0%

Superação 50%(1) 67%(2) 67%(7) 86%(6)

Exemplo 50%(1) 33%(1) 9%(1) 14%(1)

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

Quadro 34 – Porcentagem das unidades de registro do estereótipo Super-herói, no Brasil nas

edições analisadas, referentes ao total do estereótipo em causa identificadas no ano.

1996 2000 2004 2008

Super-Atleta 0% 0% 11%(1) 0%

Corajoso 12%(2) 20%(1) 33%(3) 40%(2)

Superação 75%(12) 40%(2) 33%(3) 60%(3)

Exemplo 12%(2) 40%(2) 22%(2) 0%

*As porcentagens são apresentadas de forma arredondada

O estereótipo de super-herói está ainda mais presente na cobertura midiática analisada.

Como foi dito anteriormente, este modelo é comumente aplicado aos atletas com

deficiência (Hardin e Hardin, 2004; Schantz e Gilbert, 2001) e exacerba os já existentes

desafios que a pessoa com deficiência enfrenta (Hardin e Hardin, 2004). Em Portugal as

unidades mais utilizadas neste estereótipo são o de superação e exemplo, que são

87

O Globo, 29 de Outubro de 2000, p. 52. 88 O Globo, 18 de Agosto de 1996, p. 54 89 O Globo, 18 de Agosto de 1996, p. 54

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registrados em todas as edições; em 2004 para além destes dois aparecem também o

super-atleta e o corajoso. No Brasil a situação é bem semelhante, pois além de

superação e exemplo, o corajoso também é registrado em todas as edições; e também

em 2004 o super-atleta aparece.

A superação é a principal representação do super-herói, pois o atleta com deficiência

supera vários obstáculos, principalmente sua própria deficiência, e triunfa. O estereótipo

do super-herói corresponde precisamente à noção de realizações heróicas (Schell e

Duncan, 1999) através da superação de obstáculos quase intransponíveis. Aqui os

atletas paraolímpicos são “(…) triunfos do espírito humano na luta contra (…) as

limitações do corpo”90

, e o esporte para estes atletas passa a ser “(…) uma nova vida

[para] supera(r) o trauma”91

, e é também “(…) uma oportunidade única para a maioria

deles provar ao mundo que também podem vencer”92

. Percebemos que há a criação de

um drama sobre coisas que são consideradas rotineiras pelas pessoas sem deficiência, e

a deficiência em si, é vista como algo trágico e terrível que deve ser ultrapassado, e não

apenas como diferença, “(…) a deficiência não impõe limites ao jovem, que toca bateria,

esta na faculdade de educação física (quer estudar mecatrónica), namora, reza, tem blog

(…) e página no orkut”93

.

Esta unidade de registro, ao mesmo tempo em que destaca a ideia de superação de

barreiras e obstáculos está constantemente atrelada ao discurso que exalta o sofrimento

do atleta e sua tragédia pessoal.

Dessa forma os super-heróis servem como modelos, exemplos de pessoas com

deficiência que superaram as dificuldades e tornaram vitoriosas. Uma metáfora comum

é a do lutador que mobiliza recursos internos a fim de combater a deficiência, contra

todas as expectativas, o lutador sobrevive em um mundo hostil, e torna-se um símbolo

venerado (Kama, 2004). O que nos leva à segunda unidade de registro mais utilizada, o

exemplo. Os paratletas são considerados exemplos de superação e sacrifício. Aqui

novamente conta-se a história trágica, a superação e o atleta torna-se então o

representante do grupo minoritário, servindo “(…) de exemplo para que milhões de

90 O Globo, 25 de Agosto de 1996, p. 59. 91

O Globo, 24 de Outubro de 2000, p. 36. 92 Visão, 12 a 18 de Outubro de 2000, p. 112. 93 Estado de S. Paulo, 14 de Setembro de 2008, p. E8.

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91

pessoas que perderam o norte tentem voltar a viver”94

. Os próprios atletas interiorizam

este discurso, “(…) as medalhas devem servir para que os deficientes do Brasil

recuperem a auto-estima”95

. A noção de herói aqui envolve mais do que a proeza

esportiva, o que é enfatizado é a transcendência da deficiência para representar a fonte

de força e esperança para os outros.

No seguimento desta unidade de análise surge outra, a coragem já evidenciada em

outros estudos (Schantz e Gilbert, 2001; Schell e Duncan, 1999; Thomas e Smith, 2003).

Nesta unidade fica a ideia de que o atleta com deficiência transcende-se pois é provido

de “(…) coragem, determinação e espírito de luta (…)”96

, e por ser “(…) um

batalhador”97

.

Em 2004 notamos a presença da unidade de registro Super-Atleta em ambos os países.

Em Portugal, a explicação para este fato talvez seja a divulgação do Projeto Super-

Atleta que teve início exatamente neste ano. Os objetivos deste projeto são mobilizar a

sociedade para a causa do Movimento Paraolímpico, promover novas modalidades e

captar novos praticantes, angariar os apoios que permitam proporcionar aos atletas os

meios e as condições que necessitam para a sua preparação desportiva e garantir o

futuro das Missões Paraolímpicas (FPDD, 2008). No Brasil, a unidade de registro

também aparece apenas em 2004, porém aqui não há relação com projetos, há sim a

noção de atingir um feito super-humano, a superação vai além da deficiência, “(…) mas

há mais uma inclusão que deixa boquiabertos os que tentam conhecer melhor este

brasileiro de ouro: para treinar, levanta às 4h30m, embarca em dois ônibus e ainda se

locomove (em cadeiras de rodas) por mais dez minutos até chegar ao CT do Sesi de

Natal”98

.

Apesar de os atletas sem deficiência também serem representados de forma heróica pela

mídia, tal representação é mais prejudicial aos atletas com deficiência pois perpetua a

noção de que todos os indivíduos com deficiência devem lutar heroicamente para

superar suas deficiências, independentemente de custos pessoais (Schell e Duncan,

1999).

94 O Globo, 25 de Agosto de 1996, p. 59. 95 Estado de S. Paulo, 29 de Setembro de 2004, p. E4. 96

O Globo, 15 de Agosto de 1996, p 36. 97 Estado de S. Paulo, 23 de Setembro de 2004, p. E5. 98 O Globo, 29 de Setembro de 2004 – nº 25986, p. 42.

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92

Ao longo das últimas décadas a cobertura dos Jogos Paraolímpicos aumentou

ligeiramente e já é possível notar algumas mudanças no tratamento dos atletas com

deficiência pela imprensa, principalmente em Portugal. Contudo os dados de nosso

estudo nos levam a crer que o tipo de cobertura não melhorou. Os meios de

comunicação continuam a focar primeiramente na deficiência ao invés de o atleta. Estes

estereótipos e emoções reforçam as percepções dos atletas com deficiência como sendo

coitadinhos, corajosos e super-heróis.

Nesse sentido, muitas vezes olhamos para estes atletas como tendo uma vida vazia onde

não há espaço para o amor, casamento, filhos, emprego, etc. (Nelson, 1994; Ross, 2001);

por outro lado, também as olhamos como super-humanos que ultrapassam as

adversidades através de atos heróicos e, por isso, passam a ser modelo de referência

(Clogston, 1994; Ross, 2001). Percebemos portanto que o estigma da deficiência é

grave, e transforma as pessoas em seres incapazes, indefesos, sem direitos, sempre

deixados em segundo plano na ordem das coisas (Maciel, 2000).

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CONCLUSÃO

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95

5. CONCLUSÃO

Ao veicular quaisquer acontecimentos e informações, a mídia institui um contrato de

leitura, um vínculo com seu leitor, telespectador, ou ouvinte. Assim, ela passa a

organizar sua agenda de acordo com o interesse do público baseado na aceitação,

atualidade, empatia, interesse público, índices de audiência, entre outros. Os meios de

comunicação transformam, dessa forma, os acontecimentos em espetáculos movidos

pela cultura de massas, e também, por uma busca incessante por maiores índices de

audiência.

Quando retratam um acontecimento, a mídia não é somente reprodutora de informações,

mas produtora de sentidos, já que se caracteriza como lugar de construção simbólica dos

acontecimentos. Nesta perspectiva, acrescenta-se que não há objetividade jornalística,

como pregam muitos autores, pois a produção de uma notícia é uma atividade simbólica,

realizada por um indivíduo social, que mobiliza estratégias próprias para estabelecer seu

modo de dizer e produzir sentidos. Apesar de não se saber de forma definitiva qual a

influência que meios de comunicação têm sobre a sociedade, sabemos da particular

importância dos mesmos na representação das pessoas com deficiência, pois além de

refletir as percepções do público, têm um papel fundamental na formulação destas

percepções.

Vemos, então, a importância do jornalista no papel de desmistificador da deficiência, já

que ele tem “nas mãos” um forte instrumento no combate ao preconceito, podendo levar

os cidadãos a adquirirem uma nova postura diante dos indivíduos com deficiência.

Contudo a relação entre deficiência e meios de comunicação, na maioria das vezes , não

é positiva. Para além de exíguas as representações dos atletas com deficiência são feitas

de forma estereotipada e preconceituosa, o que afeta tanto a visão do público sobre a

deficiência quanto o próprio auto-conceito das pessoas com deficiência.

Diante de uma sociedade marcada por inúmeras e constantes mudanças ao longo do

tempo, e partindo do pressuposto de que os meios de comunicação se apresentam como

um produto e reflexo da sociedade mutante, cujas mensagens evidenciam formas de agir

e pensar, este estudo teve portanto como objetivo comparar a cobertura da mídia

impressa dos Jogos Paraolímpicos de 1996, 2000, 2004 e 2008, analisando a quantidade

de tal cobertura, os temas presentes, a terminologia utilizada, os tipos de deficiência

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96

com mais tempo de antena, e os estereótipos nos quais os atletas foram enquadrados.

Neste sentido retornamos às hipóteses iniciais que dirigiram este trabalho.

As duas primeiras hipóteses, a quantidade de informação irá aumentar no decorrer do

tempo; e essa quantidade de informação será maior na mídia brasileira do que na

mídia portuguesa, estão relacionadas, contudo somente a primeira foi totalmente

confirmada. Ao observarmos o número total de notícias (somatório das notícias de

Brasil e Portugal) em 1996, 2000, 2004 e 2008 – 63, 89, 172, 83 –, percebemos que

apesar de haver um decréscimo entre as edições de 2004 e 2008, a tendência é um

aumento da cobertura. O mesmo se verifica com o número total de notícias em cada

edição no Brasil e em Portugal separadamente. É importante aqui ressaltar, contudo, que

apesar de haver a tendência para o crescimento da quantidade de informação sobre os

Jogos Paraolímpicos ao longo do tempo, este aumento é ainda muito lento e tímido.

Essa alteração ao mesmo tempo em que sugere uma maior valorização do atleta

paraolímpico e do evento em si, pelo aumento na quantidade de cobertura, ainda está

muito distante do ideal.

Imaginávamos também que pelo fato de o Brasil possuir um Comitê Paraolímpico

Brasileiro já organizado e sólido há vários anos, e investindo em estratégias de

comunicação, enquanto que em Portugal os primeiros passos ainda estão sendo dados

nessa direção, o Brasil apresentaria aumento, quantitativo e qualitativo, da cobertura das

Paraolimpíadas, contudo tal não foi totalmente verificado. No total de notícias foi

verificado que a imprensa brasileira foi responsável pela maior parte da cobertura, ainda

que com uma diferença de apenas oito pontos percentuais para Portugal, contudo os

países alternaram-se com a maior quantidade de informação em cada edição.

Percebemos, portanto, que apesar de o Comitê Paraolímpico Brasileiro facilitar o acesso

dos jornalistas à informação e aos atletas, este não é o único fator que influencia a

noticiabilidade ou não do evento. Outros fatores como o dia noticioso, política editorial

e quantidade de informação adquirida são fundamentais para entender a variação no

número de notícias em cada edição, análise que pretendemos efetuar no futuro.

Relativamente aos temas presentes, notamos que os temas apresentados enquadravam a

vitória dos paraolímpicos de forma a banalizar o feito dos atletas, ao focar

fundamentalmente nos resultados, confirmando nossa terceira hipótese, os assuntos

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mais tratados terão a ver com a prática desportiva com ênfase nos resultados, deixando

de lado experiência e história dos atletas, e bastidores, em ambos os países.

Diversos estudos revelaram que a cobertura midiática do esporte adaptado muitas vezes

restringe-se principalmente na performance e sucesso dos atletas com deficiência,

enfatizando o significado de recordes, medalhas e tempos, com muito pouco, ou

nenhum, comentário sobre a experiência dos atletas, repercussão da medalha e

bastidores. Nosso estudo corrobora esta ideia uma vez que a prática esportiva foi o

tema mais presente, com foco principal nos resultados e performance, enquanto que os

temas relacionados diretamente ao atleta paraolímpico enquadraram-se entre os menos

encontrados. Para além de se situarem entre os temas menos registrados a maior parte

das notícias relativas ao atleta paraolímpico focam na causa da sua deficiência. Tal fato

por um lado, pode gerar compaixão pelos atletas, mas por outro pode ser encarado com

fato noticioso, uma vez que a deficiência é uma característica do atleta, sendo então

abordada dessa forma.

Nossa quarta hipótese diz respeito à terminologia utilizada, acreditávamos que a mesma

tenderia a ser cada vez mais adequada ao longo das edições dos Jogos Paraolímpicos

tanto no Brasil quanto em Portugal. Neste sentido foi parcialmente confirmada, uma vez

que apenas Portugal apresentou terminologia mais adequada com o passar do tempo, o

mesmo não ocorreu no Brasil. Estudos anteriores mostram que o recurso a terminologia

cada vez mais adequada por parte dos media deve-se à maior conscientização dos

jornais e jornalistas, sobre a importância que as palavras assumem na auto-percepção

das pessoas com deficiência, bem como no que o público em geral acredita acerca das

mesmas. Contudo a falta de manual em que conste a terminologia mais adequada

dificulta o trabalho dos jornalistas.

Ao longo do tempo aconteceram mudanças, em Portugal a terminologia incorreta cai em

desuso, e no Brasil apesar de ainda estar presente nos meios de comunicação a

concentração diminui com o passar das edições. Assim os profissionais da comunicação

parecem estar cada vez mais sensibilizados para estas questões, integrando pouco a

pouco novos termos, menos pejorativos. Entretanto, como o uso da linguagem é algo

poderoso que pode influenciar a construção das representações sociais da deficiência,

apesar de se verificar uma evolução positiva, ainda que tímida como no caso do Brasil,

não consideramos ser suficiente. Dessa forma os jornalistas precisam se conscientizar da

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importância que as palavras adquirem no contexto social, e, da mesma forma, as

associações e organizações que lidam com as questões da deficiência devem se unir e

criar um consenso acerca de qual terminologia é realmente a mais adequada.

Com relação ao tipo de deficiência mais retratada, de acordo com nossa revisão de

literatura, acreditávamos em nossa hipótese inicial que a deficiência física seria mais

retratada em detrimentos aos outros tipos de deficiência, e em ambos os países, contudo

tal hipótese foi refutada. De uma forma geral, verificamos que em quase todas as

edições, em ambos os países a deficiência com a maior taxa de ocorrências é a

Deficiência Visual, seguida pela Paralisia Cerebral. Como também em todos os anos a

imprensa, portuguesa e brasileira, faz referência a quase todos os tipos de deficiência

incluídas nos Jogos Paraolímpicos acreditamos na relação entre os resultados obtidos

pelos atletas e os tipos de deficiência citados. Percebemos assim a maior importância

dada aos resultados e desempenhos dos atletas, da mesma forma que ocorre nos esportes

para atletas sem deficiência.

Por fim, nossa última hipótese declarava que os atletas com deficiência seriam

representados estereotipadamente, em ambos os países, sendo os estereótipos de super-

herói e coitadinho os mais frequentes. Podemos dizer que esta hipótese foi confirmada,

visto que ambos os estereótipos foram encontrados, com tendência do uso mais

frequente do estigma do super-herói, tanto no Brasil quanto em Portugal. Outros estudos

já evidenciaram que a presença de ambos os estereótipos é frequente nos meios de

comunicação.

Desde os seus primórdios que a sociedade tendeu a marginalizar e inabilitar as pessoas

com deficiência apondo-lhes o estigma da diferença. Mesmo na atualidade, e apesar de

vivermos numa sociedade dita inclusiva, o preconceito para com a pessoa com

deficiência é ainda prevalecente, todo o indivíduo que foge aos padrões de normalidade

é considerado estigmatizado. E, no caso específico dos atletas paraolímpicos, os

estigmas aplicados são o coitadinho quando apenas a deficiência está em evidência, e

super-herói quando trata-se do atleta de alto nível, recordista mundial, medalhista

paraolímpico, que superou suas próprias dificuldades e transcendeu a capacidade

humana.

Muitas investigações sugerem que os atletas com deficiência são representados de

forma negativa pelos meios de comunicação em geral – impresso, rádio, televisão –,

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através do uso de terminologia inadequada, e de estereótipos que enfatizam a

deficiência e não o atleta. Contudo em nossa pesquisa, ao analisarmos quatro edições do

evento (1996, 2000, 2004 e 2008) em dois países (Portugal e Brasil) percebemos que o

atleta paraolímpico é representado de forma cada vez mais positiva. Devemos dizer no

entanto que esta evolução ocorre de forma muito lenta e controversa.

Todas as categorias analisadas neste estudo podem nos dar uma ideia geral da forma

com que a cobertura midiática evolui ao longo do tempo. Apesar de os resultados da

generalidade dos estudos presentes em nosso quadro teórico demonstrarem que o atleta

paraolímpico é referenciado através de terminologia inadequada, que este mesmo atleta

é descrito de forma estereotipada, que os assuntos que mais se destacam na cobertura

dos Jogos Paraolímpicos têm a ver com os resultados obtidos e a performance, e que os

tipos de deficiência retratada não variam muito, nosso resultados contradizem essa forte

negatividade com relação à mídia. Percebemos que a representação estereotipada dos

atletas detém um valor reduzido, a terminologia utilizada tende a ser cada vez mais

adequada e fortemente genérica, Apesar de muitos autores criticarem o fato de a

cobertura midiática enfocar os resultados e performances dos atletas, devemos notar que

estes são os principais valores-notícias quando se trata da cobertura de eventos

esportivos, e da mesmo forma ocorre com os Jogos Olímpicos por exemplo.

Diversos estudos prévios, indicam que há influência da cultura em relação às atitudes

acerca das pessoas com deficiência, no entanto não há um consenso sobre o porquê de

tais diferenças. Com nosso estudo percebemos que a cobertura midiática dos Jogos

Paraolímpicos Brasil e Portugal apresentam mais semelhanças do que diferenças. A

quantidade de notícias foi equiparada; a prestação desportiva foi o tema mais

frequente, com foco nos resultados e na performance; o uso de terminologia genérica

prevaleceu, com a diferença de que em Portugal a terminologia inadequada caiu em

desuso, enquanto que no Brasil ela ainda foi bastante utilizada; a Deficiência Visual e a

Paralisia Cerebral figuraram entre as deficiências mais presentes; e ambos os

estereótipos analisados foram encontrados, com tendência para o super-herói.

Em suma, nossos resultados mostraram que em certos aspectos a cobertura midiática

das Paraolímpiadas é diferente nos países analisados, contudo as semelhanças chamam

mais a atenção. Este fato pode ser explicado pela proximidade cultural entre os países,

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antes colônia e metrópole, e hoje considerados países irmãos, e que por isso partilham

não só a mesma língua, mas também algumas práticas culturais.

Nosso estudo comprovou que a forma com que os atletas com deficiência são retratados

pela mídia impressa vem mudando, e para melhor. Muitos são os fatores que interferem

no trabalho do jornalista e na cobertura midiática, alguns de ordem econômica, política

ou deontológicas, por este motivo é preciso analisar não só a notícia em si, mas também

seu processo de produção e sua recepção.

Esta investigação não se esgota neste trabalho, é apenas o primeiro passo de uma longa

caminhada. Ainda há muito o que se fazer no sentido de mudar a forma com que os

Jogos Paraolímpicos, e em consequência os atletas com deficiência, são representados

pelos meios de comunicação, e para quebrar os paradigmas instituídos acerca da

deficiência. Neste sentido, pensamos que interessante seria percorrer todo o processo

comunicativo, desde a construção da notícia até a sua recepção. Compreender como é

produzida a notícia, e investigar como estas notícias são recebidas, interpretadas e

apreendidas. Verificar quais critérios de noticiabilidade os jornalistas utilizam (se

utilizam) na decisão do que será noticiado, a percepção dos jornalistas face ao

desenvolvimento da opinião pública e analisar as pressões sofridas por esta classe

profissional na cobertura de determinado evento. Da mesma forma compreender o modo

como os atletas paraolímpicos recebem as notícias a seu respeito. Só assim teremos

informações sobre o modo como aquele que é alvo da notícia avalia essa mesma notícia.

Talvez, dessa forma, tenhamos elementos que possam contribuir para a reflexão da

construção do produto jornalístico sobre a pessoa e o atleta com deficiência.

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BIBLIOGRAFIA

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