orionu anno xix rio de janeiro, 30 de dezembro de 1916...

8
ANNO XIX RIO DE JANEIRO, 30 DE DEZEMBRO DE 1916 NUM. 1732 ORioNu Semanário Humorístico Illustrado ENUMERO AVULSOE cd 200 réis cd K_ Redacçao, escriptorio e officinas- Rua do Hospício N. 218 - Telephone Norte 3515 181_._-_——mãMsss^..- B ¦¦:.¦¦- Bsg ²Deixa-me, querida, apertar-te bem o collete aqui atrás... ²E's o contrario dos outros que me preferem apertada na frente. ELIZIR BE NOGUEIRA m *BS O Do pharmaceutico e chimico JOÃO DA SILVA SILVEIRA PELOTAS - RIO GRANDE DO SUL Grande depurativo do sangue. Unlco que cura a "Syphllls" Vamda-aa om to d «to ¦¦ Ptxarmaoia- Drogar'*»- ,._„-. ....... ...i.l . .'¦' ívlbl-i <__.. « , .,«.- ,;__Ífr_í-_Í_£M_!.

Upload: others

Post on 16-Mar-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ORioNu ANNO XIX RIO DE JANEIRO, 30 DE DEZEMBRO DE 1916 …memoria.bn.br/pdf/706736/per706736_1916_01732.pdf · A loja do tio Anacleto teve a sua época como centro de magna cavaqneira,

ANNO XIX RIO DE JANEIRO, 30 DE DEZEMBRO DE 1916 NUM. 1732

ORioNu Semanário Humorístico Illustrado

ENUMERO AVULSOE

cd 200 réis cdK_

Redacçao, escriptorio e officinas- Rua do Hospício N. 218 - Telephone Norte 3515

181 _._-_ ——mãMsss^..- ¦¦:.¦¦- sg

Deixa-me, querida, apertar-te bem o collete aqui atrás...

E's o contrario dos outros que me preferem apertada na

frente.

ELIZIR BE NOGUEIRA

m

*BS

O

Do pharmaceutico e chimico JOÃO DA SILVA SILVEIRAPELOTAS - RIO GRANDE DO SUL

Grande depurativo do sangue. Unlco que cura a "Syphllls"Vamda-aa om to d «to ¦¦ Ptxarmaoia- • Drogar'*»-

,._„-. ....... ...i.l . .'¦' ívlbl-i <__.. « , .,«.- ,;__Ífr_í-_Í_£M_!.

Page 2: ORioNu ANNO XIX RIO DE JANEIRO, 30 DE DEZEMBRO DE 1916 …memoria.bn.br/pdf/706736/per706736_1916_01732.pdf · A loja do tio Anacleto teve a sua época como centro de magna cavaqneira,

= 2 =188 (-J O RIU NU (-) (S:,'10 de Dezembro de 1916

c E"&"PK"DOf.PI"irtE\ ¦ ~~i do Czz

4» KM» i%*U

DJ

Anuo 7*000

FUNDADO EM 1898ASSIGNATURAS

12*000 | Semestre.Exterior: Anno 20*000Numero avulso, 200 réis

Nos Estados e no interior, 300 réistS£3

Toda a correspondência, seja deque espado fôr, deve ser dirigida aogerente desta folha.

Boas Festas?Aos nossos amigos e leitores, aiinunci-

antes, agentes e assignantes, desta Capital,do Inferior e do Estrangeiro, o Rio Nu apre-senta os seus melhores cumprimentos deBoas Festas, com os desejos ardentes paraque o Anno Novo lhes seja propicio em prós-peridades.

E que nós, apezar da crise, possamosassistir a essas prosperidades !

Amen!

® ®Aflmmai dl© Tdoira

Conto porluguez

mocidade coimbrã de ha vintee cinco annos deve lembrar-seainda do tio Anacleto, aquelleetiriosissimo sapateiro da rua

do Paço do Conde, cuja veia poética fazia asdelicias da bohemia alegre, era o terror doslanzudos calouros, a quem castigava com sa-tyras engraçadissimas, e do Zé Macaco, ocriado do hotel que havia na mesma rua, dequem era o terrível Cabrion.

O Zé Macaco —os senhores lembram-se— era feiissiino, tão feio que mereceu á prin-ceza Rattasi — a bas bleu do Portugal á vold'oiseau —o dizer, emparelhado-o — salvoseja I — com o grande Camillo, que era osdois homens mais feios de Portugal.

Camillo vingou-se em vida, escrevendoum opusculo sobre a vida e milagres da es-criptora bisborria, cuja prosa chilra injuriaraduplamente, chaniando-llie eapproximando-odo Zé Macaco; este talvez se vingasse depoisda morte, apparecendo-lhe em espirito, maisfeio ainda, nos pesadelos das noites tormen-tosas.

. A loja do tio Anacleto teve a sua épocacomo centro de magna cavaqneira, emborapara isso contribuísse, talvez, a presença dalinda Joanninha, a mais gentil tricana dessestempos, uma inspiradora daquelle Ólympo,e de cujos dias era autor o famoso sapateiro.

A Joanninha era um encanto ; tinha olhosde um azul profundo, sonhadores, de longaspestanas e uns lábios frescos, carnudos, sen-suaes, vermelhos como cerejas maduras, quese entreabriam num sorriso de meiguice in-finda.

Ninguém nas fogueiras se saracoteavacom mais donaire. nem voz mais doce e ma-viosa entoava as canções dolentes dessa Lo-imbra cheia de encanto c de tradições amo-rosns.

Foi numa deliciosa noite de Julho, havinte e cinco longos annos, pelas festas daRainha Santa, encontrei-a com o pae juntode uma fogueira, sobcujos festões de ver-dura só dansavam tricanas e estudantes; osJtitricas tinham sido banidos do bailarico, enenhum delles recalcllrara, com receio deque as mocas occultas sob as capas lhes tra-vassem conhecimento com a torre das laias,como então se dizia cm calào acadêmico.

Acerquei-me, e como lhe visse uo olharo desejo de fazer parle do rancho, pergun-tei-lhe:

Então não dansa, Joanninha ?Se o pae deixar... me respondeu

ella sorrindo.Baila, rapariga — respondeu prazen-

feiro o lio Anacleto, que linha por num par-ticular estima — se o doutor está disposto aisso, mas não te fies muito nelle, porque istode estudantes são o vivo diabo !

Mestre Anacleto tinha a mania dc cha-mar doutor a todo o fulano que usasse capae batina, quer cursasse o primeiro anuo doLyceu ou o ultimo da Universidade. E quan-do lhe punham reparo no dizer, respondia :

Desta massa é que elles se fazem —e acerescentava, criteriosamente — não é,mas pôde vir a ser...

Enlacei a gentil tricana e lançamo-nosalegremente no rancho, eu, ufano por ella sera mais formosa, ella contente por se entre-gar ao seu prazer favorito. O que nós canta-mos e bailamos, meu Deus I

Percorrendo as varias/o^ue/ras, fomo-nosaffastando insensivelmente do mestre Anacle-to, o qual, como além de filho das musastambém o era de Baccho, devia estar a essahora, algo entradote, misturando as rimascom as libações,nalguin templo do deus pro-fano.

Acercamo-nos da beira do rio. A tardecahia silenciosa ; o sol a esconder-se na linhado horisonte, dourava a cupula das ramariasdo Choupal, onde em noites luarentas os rou-xinoes desfiam rosários de inaviosos queixu-mes, em trillos suavíssimos as desventurasdos namorados que, desde Ignez, a «miserae mesquinha» misturam as suas lagrimas comas crystalinas águas do Mondego!

As franças dos salgueiros mergulhavamnessas águas, cujo murmúrio dolente se ca-sava em poesia com o encanto da hora cre-puscular.

Ha momentos na vida em que, perante asublime niagestade da Natureza, a alma senos enche de unia religiosidade immensa I

Seiitamo-nos sobre um macio comoro derelva, a beira rio, olliando-nos de mãos dadas,sem que os lábios se atrevessem a quebrar asolemnidade daquelle encanto.

No olhar semi-velado de Joanninha paira-va uma tênue sombra de tristesa, como sereceasse que aquelle delicioso momento sedesfizesse em breve, como fumo, a um so-pro da desgraça.

Os lábios entreabriram-se-lhe docementesoltando um suspiro, um quasi gemido de ro-Ia amorosa, enquanto uma lagrima furtiva lhedesusava pela face.

Tomei-a nos meus braços como a umacreança muito amada e em phrases ciciadasdisse-lhe tudo o que minh'alma sentia por ellanaquelle inolvidavel momento.

Foi um poema de amor com um interme-zo de beijos.

Anoitecera e, num barco que nimba rio abaixo, alguém cantava :

«O amor dc um estudanteNão dura mais que uma hora,Toca a cabra, vae pYas aulas,Vém as ferias, vae se embora I»

E Joanninha, a tricana gentil apertando-me loucamente de encontro ao selo,dando-memais uma vez os purpurinos lábios, onde eucolher., a rubra flor do desejo, disse-me numsoluço:

Sim, o amor dc um estudante nao duramais que uma hora I

LUC1LIO FILENO.

Segundo a opinião dc muitos, a mão éuma dádiva que a mulher retribue com a so-gra.

C O MMEN T? ARSOS

Toda a imprensa tem celebrado o movi-mento feminista nesta cidade, ultimamente.

Ora é a A. M. B., ora duas senhoras queforam eleitas para uma associação, ora outrarepresentante do sexo frágil que vae reque-rer o seu diploma de eleitora ; um nuncaacabar de agitação feminina.

Estã-se a ver que as saias estão se mo-vimentaiido !

E quando as saias se movimentam e parasubir I

As mulheres reclamam seus direitos efazem muito bem.

Ha muito servicinho por ahi que nãofica bem aos homens, só feito por mulhb-res...

E depois... desde que o mundo é mun-do, sempre foi mania das mulheres, mette-rem-se nas coisas dos homens...

Conta um vespertino carioca, cheio deadmiração, que no sabbado passado hou-ve, em varias pretorias, cento e tantos casa-mentos no espaço de duas horas.

Calculemos, agora, qual seria o espantodo referido vespertino si tivesse conheci-mento dos casamentos atrás da porta e coma irmã da canhota I

A semana foi cheia de vôos de aeropla-nos sobre a nosso urbs.

O que não deixa de offerecer certo pe-rigo : para os de cima e para os de baixo.

Eu, uma noite, quando fazia um vôo comuma gentil aviadora, quasi fiquei sem o na-riz. . ,

A cama desconjuntou-se e eu fui deventas ao chão.

E... ponto final, por este anno.Não fugindo a chapa, desejo aos leitores

do Rio Nu boas sabidas e entradas de an-nos I

(Entenda-se: sabidas do de 1916 e en-iradas no de 1917.)

CAPIRAO EUTICO.

Numa casa de musicas :— O senhor tem a polka «Agüenta firme

na combuca» ? — perguntou uma senhora.' — Só tenho «Medo da Sogra» do mesmoautor, excellentissima.

A Familia Beltrão GRANDE ROMANCE ESCANDALOSO

Pelo Correio .$500

Page 3: ORioNu ANNO XIX RIO DE JANEIRO, 30 DE DEZEMBRO DE 1916 …memoria.bn.br/pdf/706736/per706736_1916_01732.pdf · A loja do tio Anacleto teve a sua época como centro de magna cavaqneira,

.30 de Dezembro de I0IG $§>$__

Pelos TheâírosCO

¦pelos caminhos da troça:

A Julia Martins, resmunga todas asvo-zes que o Turres,fala na Pelrolina do «Morroda Pavella .

Diz a Julia : se é allusâo a ella esse ne-gocio do Petrell, acha melhor o Torres cm-dar da Olympia do que namorar na plateadurante o espectaculo.

t* O laureado escriptor major raro, deuaporá para usar monoculo.

Será pedido de alguma dulcinéa? Nãoacreditamos, Elle é Faro...

«r Vimos no Carlos Gomes a mignoncLaura de Barros, muito pensativa.

Serão saudades da Bahia ou de alguémde lá , , .

tsr Vimos o major Lambada em trajos deAdão pregando uns quadros nas paredes danova casa da Pepa.

Você, seu Lambada, é tão quente quenem uma pyjama supporta ?

*ar A pedido da Sara Medeiros, alguémconvidou o Raul Soares para exercer o logarde gerente da Villa Ideal.

Então, menina Sara... acha o Raul comcara de criar pintos?...<ar Esta quadra foi encontrada na Mi-nhota, num cartão postal, vindo de S. Paulo.

Braga das iscas, Barão.Arruinado e sem pelegaAgora aperta o cordão.. <Por causa da tal galega I...

V|CTQR

t& Versos dedicados ao Chiquilino.

Galharda actriz, SatanellaConhecida além dos mares,Fará co'o Raul SoaresUm maxixe de panella.

Elle dança e dança bem,JEUa, por certo, melhor,Elle conhece-a de córMuito melhor que ninguém.

O Braga, das iscas, BarãoDa Luiza Caldas, amanteFez-se parteiro, num instanteLevado pl'o coração.

} wvmRQ

t& Um telegramma vindo de S. Paulo,diz que o Carlos Leal tem feito tal successoque, se vê obrigado a representar para ascadeiras.

Ellas que o applaudam.tsr Fugiu para S. Paulo, a talentosa Es-

rreHflJudíth Bastos, farta de aturar as imper-tinencias do ensaiador do theatro S. José.

Agora sim : E' toda felicidades, com oalferes de policia.

(& Disse-nos a avaccalhada Caxambú,que a sua lealdade é tão grande que mandouaos seus padrinhos as condições para se ba-tirem duello com a Cândida Leal.

m Carta vinda de S. Paulo, diz que aingênua Sara Medeiros e a Tina Coelho.estãoa todo o panno. Não engeitam parada. Todoo trouxa que apparece... morre I

SEU COISA.

Au Bijou de Ia Mode Grande depositode calçados, por

atacado e a varejo. Calçado nacional e estran-geiro para homens, senhoras e crianças. Pre-ços barattssimos, rua da Carioca ns. 78 e 80Telephone 3.660 Central.

O que é um homem casado ?Um militar sem accesso.

JjH <r BB * ¦ ' *i H __

MARCA ««-TAABA "_ —i > -t ' ¦

(-) O RIO NU (-) §§= 3 =

Com a entrada do Anno Novo a popularls-slma Alfaiataria Guanabara, o .ceie-bre 34 da ma Carioca, continua O seu ininiila-vel syslcina de venda com grande vantagem parasua freguezia : permanece de pé a sua divisa —vender barato para vender muito.

E' um facto Indiscutível que naquelle con-celUiado estabelecimento o publico não é expio-rado, comprando gato por lebre. Sendo variadis-simo o seu sortiniento, não ha casa no Riode Janeiro que possa competir com a invencívelGuanabara, onde ha roupa feita e sob medidapara todos os gostos e para todos os preços.

Enviam-se instrucções e acceilam-se pedi-dos do interior, dando-se agencia.

As vantagens do leque ClirOílica GalanteEscutae, divas, deidades,Do leque as utilidades !

Abate, doce consolo,O calor que nos suffoca ICom languidez de minhoca,Nos allivia o miolo I

Abafa palavras ternasDe namoro I Que delicia !Livra das vistas maternas,Um tregeito de malícia!

Encobre prantos, risinhos,Tiistezas, dor's, alegrias ICom elle faz-se carinhosE disfarçam-se ironias I.. -

De uma formosa donzella,O leque oceulta os arrufos I..... .Eu preferia os seus bufos,P'ra melhor refrescadella !...

Um perfume elle esvaece,Por bom ou máo que elle seja...Somente, quando troveja,Os ruidos não desvanece !...

D. DE MELLO.

"UMA AVENTURA"

Da Casa Editora Cupido & C, estabe-lecida na ilha de Venus, acaba de sair áluz uma collecção de vistas illustrandoa narração da aventura do Zé Nabo comuma «iilustre cavalheira» que pelo nome

parece ter nascido mesmo para o Zé.UMA AVENTURA, que é o titulo da

obra, está admiravelmente impressa e sóa gravura que illustra a capa é um deli-cioso aperitivo... Vende-se a j^ooo oexemplar; pelo Correio 1^500.

Pedidos a ALFREDO VELLOSO -

Rua do Hospicio, 218.

QUADRA SOLTA^

Dizem que o preto é feio,O preto tem linda cor:E' com o preto que eu escrevoAs cartas ao meu amor.

Licor TibainaO melhor purifica-

-~ dor do sangue —

GRANADO & C. - Rua Io de Março, 14

..COQUETER1E»

Uma destas noites, caminhava eu vaga-rosamente — seriam vinte e duas horas,mais ou menos — pela rua da Carioca, apensar num problema de economia, para oqual não encontro solução... nem dinheiro,quando umas vozes femininas, deliciosamenteairadas (não se segue que, por serem airadasas vozes, as suas donas tarobem o fossem)me despertaram a attenção e me obrigarama voltar a cabeça.

Atrás de mim caminhavam duas moci-nhas sympathicas, ambas com aspecto decostureiras, e uma dama já meio madura,que,um tanto zangada, parecia ralhar com a maisvelha das pequenas.

Dizia-lhe:Para teu castigo, amanhã não te da-

rei dinheiro para o leite. Leval-o-ás de casa,numa garrafa.-Eu?

Ora, já viram a serigaita I Gastar odinheiro do leite em pó de arroz I Que talestá, heim ?1...

O trio passou adiante de mim e nâo ouvimais nada.

Mas isto bastou para que eu fizesse aseguinte observação:

Uma moça linda, elegante, que sepriva voluntariamente de tomar leite, tãonecessário a todas as mulheres, só porquequer comprar um pouco de pó de arroz...se faz isso, é porque não conhece a vida.

Pois será crivei que a uma moça faltealguém que lhe dê uma caixa de pó de ar-roz... por gentileza ? Não,, de certo. Emesmo não faltará quem lhe/dê até tambémo leite.

Ouçam, senhoritas. Deixem-se de inge-nuidades. Hoje em dia.isso é feio I Atirem-seaos homens I E quando precisarem de ai-guma coisa, então é que o devem fazer semceremonia.

Os homens nada recusam ás mulheres,desde que essas mulheres os saibam recom-pensar com algumas caricias de amor, que,aliás, nada custam a fazer.

De mim, por exemplo, têm ellas tudo oque quizerem. Tudo — menos dinheiro oucoisas caras, é claro. Mas pó de arroz eleite, issoé a vontade. Leite, principalmente.Leite é quanto queiram.

PETRONIO PAN.

Sabes dizer-me, ó Alberto, o que éuma menina solteira ?

Nada mais fácil I E' simplesmenteuma arvore que ainda não deu frueto.

O Vassoura - _Pido, ultimosuccesso da nossa Bibliotheca. A 300 réis.

Page 4: ORioNu ANNO XIX RIO DE JANEIRO, 30 DE DEZEMBRO DE 1916 …memoria.bn.br/pdf/706736/per706736_1916_01732.pdf · A loja do tio Anacleto teve a sua época como centro de magna cavaqneira,

\f__4. (-) O RIO NU (-) H55-] 30 de Dezembro de 1916

.<rV|P

( üm D. Juan em calças pardasAdaptação do conto do mesmo titulo,

de A. Lacerda.

INGUEM como este D. Juan parafazer uma declaração de amor,quer falando, quer escrevendo,ou fosse verso ou fosse prosa.e

até por mímica elle se desempenhava, airosae soberanamente, do seu único rac/icr.graçasa uns oito centos mil réis, rendimento de unsprédios que possuía para os lados da Lapa.Nunca quiz casar.

Já com os seus quarenta e pico, elle erao terror das costureiras e criadas de servir,a quem olferecia, além de um coração ar-dendo em chamma de amor, um bom par desopapos, se cilas, accedendo ao convite, otrahiam depois. Também o acompanhava umvigoroso cavallo marinho, a que elle chamavao seu Beneplácito regio.

Era um felizardo.Tudo lhe corria ás mil maravilhas, e po-

dia considerar-se um Barba Azul, sem asresponsabilidades do matrimônio. Os visi-nhos.todos os mezes, conheciam caras novasem casa do terrível conquistador, assim comotambém era no fim de cada trinta dias, queem casa do novo D. Juan havia concerto debombo nas costellas das mofinas Julietas.

Ora, diga-se em abono da verdade, queellas lhe não guardavam escrupulosa e com-pleta fidelidade, mercê das tentadoras far-das de alguns sargentos do 18 que costuma-vam flanar pelas visinhanças.

Uma noite o nosso D. Juan, a pretextode uma nevralgia, recolheu-se mais cedo ácasa. O costume habitual era ás duas horas,mathematicamente.

Mal introduziu no buraco da fechaduraa sua gazua ingleza de três trincos,notou-se,em cima, no segundo andar, um reboliço es-tranho que o atemorisou um tanto, pois D.Juan corria parelhas em bravura com o ceie-breD. João VI, de Portugal, de cômica me-moria.

Accendeu um phosphoro e subiu placi-datnente as escadas, procurando, em vão,nos bolsos das calças qualquer coisa comque pudesse defender-se. Já quasi ao entrarna alcova, apparece-lhe a sua 53° Julieta, decastiçal em punho, perguntando-lhe numavoz de surprehendida commoção :

Tão cedo hoje? Que aconteceu ?Doem-me os dentes, respondeu elle,

mal humorado.E depois de curtos momentos :

Que barulho foi este cá em cima ?Não foi nada ; foi o gato que se as-

sustou.E tambçm foi o gato que atirou estas

cadeiras ao chão?E depois, olhando fixamente para um

objecto que se estendia na extremidade doleito, approximou-se,' pegou nelle como quea medo, e inquiriu :

Isto o que é ?De repente, saltou de dentro de um guar-

da-vestidos um latagão vestido com umafarda de 1- sargento, ainda desabotoada, res-pondendo numa voz possante :

E' o meu cinturão ! Dê-m'o cá e nemum pio, do contrario...

Nisto, deita-lhe as mãos ao pescoço.D. Juan, sentindo titilar-lhe nas ceroulas oque quer que é de viscoso e morno, titubeounum tremulo musical:

Mas... mas... o Sr. que veiu fazer...a minha casa ?

O sargento, tendo-se, num repente, com-posto e preparado, desembainha o terçado,em at.tit.ude aggressiva, e diz :

Constou no quartel general que vocêconspirava contra a lei do sorteio militar...

Não, senhor! Isso é falso ! Eu sou

alma e coração,

de Olavo Bilac,

de derramar o

até a favor do sorteio, decomo toda a gente...Mas você fala malafíirma-o todo o mundo.

Eu, náo, senhor IBem ; você é capaz

seu sangue pela pátria ?Sim, senhor. .

O mavorcio, dirigindo-se a Julieta, inti-ma-a a que váe buscar uma vassoura.

Uma vassoura ? para que ?Váe ver.

Chega a vassoura.Vocô já sabe o exercício militar ?Nunca fui soldado.Váe sel-o agora.A estas horas ?Não ha tempo a perder; pegue na

vassoura e faça de conta que é uma Matiser.Sentido! grita o mavorcio em voz de com-mando. Preparar! Apontar! Fogo !

E como o pobre D. Juan não se mexesse,ia-o o instructor iniciando no exercício como auxilio de valentes murros que o D. Juanacceitava numa paciência evangélica.

Faça agora fogo, commandava o ma-vorcio, faça agora fogo 1

Mas como hei de fazer fogo, se avassoura não tem pólvora ?

Faça assim — puni 1 pum ! puni!Pum I pum I pum ! imitava o D. Juan,

que, num relance, aproveitando uma pequenadistracção do instructor, se safou por umaporta que confrontava com o quintal. Umavez ahi, começou a gritar por soccorro.

O sargento, vendo que a farça se podiamudar em tragédia, desceu as escadas, pon-do-se a salvo, no que foi imitado pela Ju-lieta.

No dia seguinte é que D. juan, fazendouma minuciosa busca a um bahú da foragida,encontrou irrefragaveis provas de uma con-tintia infidelidade.

Ao deparar-se-lhe a photographia de umvelho sargentão de cavallaria,exclamou cheiode dor e de raiva :

Agora é que eu vejo que a minhacasa era um quartel de reformados 1...

E pegou instinctivamente no cavallo ma-rinho com que costumava bater o compassono dorso das suas amantes.

Era já tarde.Também foi essa a única que não rece-

beu, á partida, o competente Beneplácito re-gio.

Licor TibainaO melhor purifica-— dor do sangue —

GRANADO & C. - Rua Io de Março, 14

CANTANDO....(FADO)

Se alguém calcular quizesseA dor do meu coração,Talvez eu não padecessePor causa desta paixão...Mas como tenho o desprezoDesse alguém que tanto adoro,Eis porque, curvada ao pesoDa amargura, eu canto... e choro.

ZÉANTONE.

São Coisas...

Que era iinda eu já sabia,Mas nunca, por Deus, suppunhaQue ella me deixasse um diaMetter nella a minha... unha.

Déclarage

Carla perdida; que, paramim, foi um «precioso achado.»

Madamc:—Pour minhe vide

Et pour 1'Alme, inésquécideDe mon papá ; fallécideD'extranhe morte—mourride:

Vous serez bien garantido,Pégande, á mim, pour maride.

Enbóre desempregado,Jc vive de ... transaccion ...Et mim ténhe un cámárade,Qui niuique, á ume fácade,Réspond, á min, con le nom.

Min, je ténhe ume fórtune,Coulôssal ... hypotliétiquel...

Uri térréne, en Ia Lagtine ;Con bárácon artistique ...

Térréne mui bien plantade,D'alfafe et cápin méiade !...

Dinheiro — Le Vil Metal,Je ténhe, bien guardadiuhe !...

En le Théscre Federal,Lentémente ... et de mansinhe,Circule ... pour conte minha ...

Enfin: — Non pérque Ia vase ;Puis que : — Maride pluz bon :Só mêzine, en Ia Santa Case,ou Ca/.e ... de Còurrécçon!....— A'guarde vôsse résposte :Francisque de Vire Boste.

Pela Copia infiel:ESCARAVELHO.

Mlecção ColoridaEstá á venda a Coílecção Colo-

rida, o maior suecesso da Bibliotheca doRio Nu, trabalho perfeito e caprichado, impresso a cores diversas em superior pape!couché. Intitula-se esse volume

DOIS CONTRA UMAe compõe-se de nove lindíssimas photogra-phias tiradas do natural, representando umamulher que dois apaches obrigam a executar,com elles, differentes scenas de amor.

DOIS CONTRA UMAque é uma delicia para os olhos e para o es-pirito, pela nitidez e verdade das scenas queepresentar, custará apenas 1*500 cada exem-plar; pelo Correio, 2*000.

As encommendas, que só serão attendi-das si vierem acompanhadas das respectivasimportâncias, devem ser dirigidas a

ALFREDO VELLOSO — Rua do Hospício 218

Hum retrato de mulher

Surpresa, fascinada,A gente, ás vezes, querDizer tudo o que sentePerante uma mulher,Mas como electrisada,Oppresso o peito, arfar,Quieta fica, a olhal-aE sem poder falar 1

HUMBERTO.

Page 5: ORioNu ANNO XIX RIO DE JANEIRO, 30 DE DEZEMBRO DE 1916 …memoria.bn.br/pdf/706736/per706736_1916_01732.pdf · A loja do tio Anacleto teve a sua época como centro de magna cavaqneira,

" .Vv'llll- •'

ANNO IIi-

Rio de Janeiro, 20 de Dezembro de 1916 — 4 de janeiro de 1017 NUM. 07

O Bichinh KJP

SEMANÁRIO DA BICHARIA Kiipplciiicnlo «l'<» B5B4» i%U

i.xi»b:imív\ii:

Toda a correspondência deve ser dirigi-da para a Rua do Hospicio n. 218, ao Juqui-nha, palpiteiro mór.

tmiAos innumeros leitores d'0 Bichinho,

a todos aquelles que nos dispensam seuvalioso auxilio, apresentamos cumpri-mentos de Boas Festas, fazendo votos

para que continuem a acertar, como atéagora, nos nossos palpites c tenham umAtino Novo cheio de mil venturas.

Palpites di© ü,6ãs@

Foi o vento que, desta vez, fez en-trar pela porta da nossa redacção um pa-pei de embrulhos, onde vimos este ar-ranjinho :

Elephante298-100 446-747 525-327

As dezenas prováveis:59-41-38-25-32-94

Querem ter sorte invejável ao jogo?Comprem e colleccionem as tabellas d'0Bichinho.

Chapinha da .sorte

Fomos jantar hontem a um reslaitrantchie da rua Uruguayana. Em meio da co-mida falamos em jogo de bichos. O gar-çon que nos servia apontou-nos entãoeste tercetto feliz :

GATO Üf TIGRE456-555 316-214 788—985

Para acompanhar durante a semana:Grupos de 12 a 21

O bicho da semana

JLSsá'"¦¦' ™\^^^s^mfj'W

165-866-467-368

Estão para sahirSegundo cálculos duma abaüsada

pythonisa, vão dar por estes dias os se-guintes bichos:

Avestruz401-203 664-063 175—573

=== 291-190 786-433 012-910

Palpites pedidos

Escrevemos para o palácio do Cat-tete, pedindo um bom palpite, e eis o

que dali nos mandaram em papel tim-brado com as armas da Republica:

é£L&&> cnPTíin ^jtw^^^g üUtíLJlU IMÉt.758-260 440-337 624-122

IPO»!? WSSk QiÇJWlOi

.Eis o que avistamos no céo hontem,de cima do telhado da nova redacção :

Cachorro IR Cavallo518-720 252-149 943-642

Chapa semanalPelos quatro lados:

Garantimos que é infallivel estacombinação:

CAMELLOlá?»

VEADO231-729 770-469 295—096

Milhar da sorte3.344

Pelara o oe-x-oo:

484 mCJO 182

Se existe alguém, moço ou velho,Que queira ganhar dinheiro,Vã já jogar no Carneiro

E no Coelho.

£' QMMfE'Q)l

208 ifln 307

De pernas para o ar

Foi posto hontem de barriga paracima o seguinte beroe .

30

CORRESPONDÊNCIA

Attila — E' bom cercar o Gato e a Bor-boleta.

Alfredinho — O seu sonho significa queestá para dar o Pavão.

D. Ottilia —Jogue no Camello, no Burroe na centena 849.

Dr. Barroso — Jacaré e Porco e bomjogo, se esses bichos forem cercados conve-nientemente. „,,..„,.

JUQUiNHA.

L:&

Page 6: ORioNu ANNO XIX RIO DE JANEIRO, 30 DE DEZEMBRO DE 1916 …memoria.bn.br/pdf/706736/per706736_1916_01732.pdf · A loja do tio Anacleto teve a sua época como centro de magna cavaqneira,

%

Estatística dos bichos premiados no mez de Agostode 1915Dias ANTIGO Num. da sorte MODERNO Centena RIO Centena SALTEADO 2° Prem. 3° Prem. 4° Prem. 5D Prem.

1Veado 34395 Carneiro 826 Pavão 273 Peru 747 576 137 459Coelho 44039 Elephante 145 Carneiro 626 Gato 596 050 656 864Águia 50505 Tigre 285 Pavão 774 Cachorro 702 791 941 543Pavão 57075 Águia 808 Touro 683 Vacca 862 242 599 839Camello 47731 Cobra 033 Pavão 373 Cabra 832 372 708 820Elephante 44548 Urso 089 Peru 179 Urso 210 961 180 095

8Vacca 45498 Jacaré 557 Águia 505 Urso 352 602 182 535

10 Cavalio 1444 Jacaré 357 Borboleta 316 Pavão 607 572 215 06911 Pavão 62075 Porco 472 Urso 692 Vacca 960 228 720 84212 Avestruz 503 Elephante 047 Vacca 098 Burro 898 546 846 93013 Cavalio 26144 Cavalio 244 Touro 281 Pavão 452 138 707 64814 Veado 15195 Borboleta 216 Veado 093 Peru 761 927 160 5561516 Elephante 7848 Avestruz 802 Camello 130 Urso 986 330 473 61617 Cachorro 33617 Cachorro 320 Carneiro 625 Macaco 949 501 814 35618 Borboleta 51914 Elephante 446 Coelho 638 Gato 696 522 101 32119 Touro 2882 Cavalio 842 Camello 131 Carneiro 539 112 743 39820 Vacca 34800 Vacca 900 Gato 956 Vacca 516 509 935 72621 Porco 28369 Águia 906 Macaco 565 Pavão 461 253 711 8512223 Camello 46831 Avestruz 402 Macaco 268 Cabra 274 566 886 07624 Cavalio 9641 Elephante 848 Pavão 176 Leão 178 313 500 01925 Cachorro 56517 Peru 777 Leão 264 Macaco 795 906 312 42626 Gallo 21549 Macaco 866 Cachorro 819 Veado 342 719 564 11227 Cachorro 46519 Gallo 651 Elephante 547 Pavão 461 636 840 22828 Cobra 39334 Gato 256 Touro 183 Cobra 475 577 367 2702930 Tigre 7785 Macaco 368 Jacaré 058 Coelho 540 308 989 20731 Gato 9353 Burro 609 Pavão 274 Burro 224 367 522 083

Efo pw®mim>© mmm,®w® pil&irtm@i m imhmllm ü® tmmm dé Wmmmxmhw© de i®M$

¦£gàsszz£stn.... - :•_ .....,. ySÜtTsi^r---SRÈãsü-Ls-

Page 7: ORioNu ANNO XIX RIO DE JANEIRO, 30 DE DEZEMBRO DE 1916 …memoria.bn.br/pdf/706736/per706736_1916_01732.pdf · A loja do tio Anacleto teve a sua época como centro de magna cavaqneira,

30 de Dezembro de 1916 sggg (-) O RIO NU (-) 8|== 5 =

Z5b-.atr6 Ò'Q'3llo tftu

O meu namorado

Monólogo para senhora, original dc El-Mano.

Nâo deve tardar o Alfredo,O meu gentil namorado,Mas confesso, com segredo,'Star possuída de medo,Pois elleé... muito adiantado.

Hontem á noile — attençâo —'Stando os dois sós na saleta,Sem a menor consid'raçãoPespegou-me, o maganão,Dois beijos aqui... á preta.

E depois... ai, que vergonhaEu sinto para o contar,

Duvida alguém nisto ponha —Elle queria, com ronha,Ainda... continuar,

Mas se fosse unicamenteBeijinhos só e mais nada,Ainda podia a genteTornar-se mais complacente,Sem, emfim... se ser culpada.

Mas não...O meu AlfredinhoJulgando-me conquistada,Podia, mui de mansinho,Fazer o que o primo PinhoMe fez um dia na escada.

Isso é que não. BrincadeirasDessas não quero outra vez....Mesmo mudam-se as maneirasDa gente. Vêm as olheirasE apparece a pallidez.

Ora, para essa franquezaNão me vir a sueceder,Preciso sem estranheza,Mostrar a minha espertezaQuando elle logo vier.

Umaidéa... bella idéaQue deve dar resultadoE que de manha está cheia:O Alfredo ás oito e meiaDeve chegar, apressado.

Eu, com riso tentador,. . 'Studado o recado já,

Deixo-o arder em amorE digo-lhe com fervor ; _Vae-me pedir ao papá.

Nesta dura situaçãoQue decerto não 'sperava,Vae, com grande confusão,Pedir logo a minha mão,Ou então... mando-o á fava.

"CULTODE VENUS"

O romance de maior suecesso publi-cado em rodapé no Rio Nu, depois reuni-do em volume e do qual se esgotaramvarias edições, está de novo impresso.Desta vez, porém, «Culto de Venus» foieditado a capricho, trazendo deliciosas

gravuras a illustrarem o texto e uma capamaravilhosamente impressa a três cores;¦foi, além disso, cuidadosamente revisto

pelo próprio autor.Está á venda a i$ooo o exemplar

pelo Correio, iíjSjoo.Pedidos a ALFREDO VELLOSO —

Rua do ffespicio, 218.

Os animaes que mais representantes têmna raça humana são : o macaco, a raposa, apreguiça, o tubarão,o burro, o cachorro,o ra-to c o gallo.

Num jantar, á meza, conhecem-se prefe-rencias.

Sc um sujeito não cessa dc olhar para asbananas, foi macaco ; se devora a gallmha,raposa ; se come devagar, preguiça ; se en-gole sem mastigar, tubarão ; se prefere herva,burro; se gosta de carne com osso.cachorre;se devora toucinho, rato ; e se, em vez decomer, mira o bello sexo ... foi gallo.

Tônico JaponezPara perfumar o cabello e destruir as

parasitas, evitando com seu uso diário to-

das as enfermidades da cabeça, não ha

como o Tônico Japonez—Ruas: Andra-das, 43 a 47 e Hospício, 164 e 166.

Coração

Meu coração é uma feliz morada,Onde a ventura collocott seu throno,Da festa entregue ao lubrico abandono,Vive, bem como a aurora enamorada.*"

Si alguma vez, levada pelo somno,Nelle buscares intima pousada,Abre a porta fulgente, e, acautelada,Segue os preceitos que ora te menciono :

Passa os humbraes do immenso casarão;Entra em um quarto, ó timida creança,Onde ouvirás meus cantos de poesia I

E mais além, desfiando uma caução,Toma por guia o facho da esperança,Que com teus olhos accendeste um dia...

STAMATO SOBRINHO.

O Oliveira foi noutros tempos estabe-Iecido com um negocio de armarinho.

Um dia entrou no estabelecimento umalfaiate que lhe perguntou:

O Sr. tem algodão bastante forte?Tenho.Desejo ver uma amostra.Agora não posso estar com isso ; vá

lá dentro, ao fundo da loja, e diga a minhamulher que lhe mostre tudo o que o senhorquizer.

Exdruxulismos.

Para as campanhas pacificas,Já sinto faltar-me o animo !...Só vejo coisas terrificas;Terrivelmente magníficas...Causando Goso e Desanimo!...

Mais abonado e paupérrimo,Que um millionario... sem cédulas:Meu viver farto e miserrimo,Cada vez mais calmo, acerrimo,Me extingue a força... das medulas...

Hypothequei, já meu prédio,Do ponto das «Águas Férreas I...»

Buscando impedir o assedio...De mil credores : — RemédioExtremo, ás penúrias térreas!...

As jóias — preciosas dádivas,De alguns parentes mais dignosLá foram, todas; impávidas,Cahir nas mãos, duras, ávidas,Dos usurarios malignos!...

Mobílias ; quer de vinhatico,Quer de carvalho (obra artística),Pelas quaes fui tão fanático:

Um leiloeiro mui pratico,Vendeu — mas... em Praça Mystica...

Soffrendo, bravo e pacifico,Um despejo em meu cubículo:

Fui residir num magníficoCasebre ; alegre e terrifico,No cume de um Grão-Monticulo...

Mas... um recurso evangélico,Me resta ainda, satânico :Morar sob o Espaço Célico ;Demonstrando o furor bellico...Do meu senil membro orgânico.

E então — Na fúria -.latonica,Do amor... Nas doces lamúrias,Exclamar : — Por Santa Monica !Não ha moléstia mais chronica,Nem mais fatal, que... As Penúrias!..

ESCARAVELHO.

Interessante volume.„„.„ .......... ' contendo nove bel-'lissimas photographias de scenas de verda-deiro amor livre tiradas do natural, capri-chosamente coloridas e magnificamente im-pressas em superior papel couché. Um vo-lume de apurado gosto por 1S500 apenas;pelo Correio, 21000.

Il-lft* í^v-UI }^nei fYVkíi?*& w\ ''ffifflíH

COMO ESTAVA COMO ESTOU

PEITORAL DE ANGICO PELOTENSE

Não ha em todo o mundo medica-mento mais eficaz contra tosses, resfriados,influenza, coqueluches, bronçhites, etc, do

que o Peitoral de Angico Pelotense, verda-deiro especifico contra a tuberculose nos

primeiros grãos. E' o melhor peitoral domundo. O Peitoral de Angico Pelotensenão exige resguardo. Vende-se em todas as

pharmacias e drogarias.Depósitos: Pelotas, Ed. C. Sequeira;

Rio, Drog. Pacheco; S. Paulo, Baruel &

C; Santos, Drog. Colombo.

*,'Syy.i-7..-!y..i,7yíi^"Míãi í̂ííy . 7'y.7.'7!-¦-¦¦;- - - -Ti'— t—l«_-il**-.- ¦-¦.

u.^xi--^*- --jys.-j"—'isSksW

Page 8: ORioNu ANNO XIX RIO DE JANEIRO, 30 DE DEZEMBRO DE 1916 …memoria.bn.br/pdf/706736/per706736_1916_01732.pdf · A loja do tio Anacleto teve a sua época como centro de magna cavaqneira,

(-) O RIO NU (-) 30 de Dezembro de 1916

«C****QgHfc

<K> ffiCH$0

'EM duvida, meus amigos (disseRufino Toca-afogo, o brilhantedeputado) o acaso é sempre onosso grande mestre. Assim, ha

cinco annos, estava eu assaz desgostoso, porcausa do trabalho perdido e das lutas Infru-tiferas, quando um bello dia, sentindo-me ádependura, fui bater á porta do velhote decara vermelhusca que o destino, ou qual-quer outra coisa, me dera por tio.

Esperei uns bons cinco minutos — se-gundo o costume do criado, que tinha sem-pre alguns vestígios de pouca-vergonha a fa-zer desapparecer antes de vir á porta reconhe-cerquem batia. Por fim,a portaentreabriu-sesuavemente, depois patenteou-se de par empar, e o criado, pondo o dedo nos lábios,murmurou-me mysteriosamente ao ouvido :

Nada de barulho... O seu tio está afazer versos...

A visão do velhote de cara vermelhuscaoecupado em fazer versos, surprehendeu-mede tal fôrma, que desatei a rir, como uma gal-linha admirada de ter posto o seu primeiroovo.

Entrei e, effectivamente, encontrei o ve-lho de cara vermelhusca deitado de barrigasobre o tapete do quarto c fazendo versos.

Louvado seja Deus 1 disse elle ao en-carar commigo. E's tu o meu salvador. Seme completas este soneto, meu sobrinho, aminha fortuna é tua.

A sua fortuna seria de mais; mastrinta mil réis, nesta oceasiao, far-me-iammuito bem.

Trinta, cincoenta, cem mil réis, tudoo que quizeres, rico sobrinho do meu cora-ção. Perdoa-me se até hoje tenho sido umpouco severo para comtigo. Mas ha quinzedias que mudei completamente : tenho vinteanços. Estou apaixonado. Ah I como é bo-nita a creatura que me enfeitiçou I Uma mu-lher da alta roda, sabes tu? e protegida porum alto funecionario, o conselheiro Thimo-irieo... Olha: é a D. Ermelinda Poças —segredou-me ao ouvido.' — Oh I oh! disse eu. A mulher maisíqrmosa que se conhece!

O hometnzinho de cara vermelhusca,sempre de barriga no chão, deu subitamenteum pulo, levantou-se num abrir e fechar deolhos, e correu para fora do quarto, do-brado em dois e dizendo : «Eu volto já.»Interroguei o criado com o olhar, e obtiveo seguinte esclarecimento :

E' a terceira vez hoje que elle voltajá ; e não ha de ser a ultima...

Ah I exclamou o velhote quando en-trou novamente no quarto ; isto agora váemelhor.., Imagina que esta manhã me sen-tia muito mal de espirito; tomei portantouma purga salina maravilhosa, cuja receitame fora dada em tempos, quando eu era em-baixador, pela rainha de Icaria, como recom-pensa por eu lhe haver curado um cãozitoque estava atacado de melancolia, Esta pur-ga, gentil sobrinho, não só cura as doençasdo espirito, como dá ao homem uma energiae um vigor maravilhosos. Eis o motivo,principalmente, porque eu a tomei esta ma-nhã. O protector da D. Ermelinda váe partirpara o interior, e a minha querida promet-teu-me os mais doces momentos junto delia,logo que o ciumento se ache longe... Maseu volto já.

E, novamente dobrado em dois, o ve-lhote correu apressado para fora do quarto.Puz-me, portanto, a ganhar os meustrinta ou quarenta mil réis, buscando algu-mas rimas para a D. Ermelinda.

Meu tio entrou novamente, sorrindo eesfregando as mãos, e murmurou-me ao ou-vido: «Isto já váe fazendo effeito.»

De repente, tocaram á campainha. Ocriado foi abrir... Era o ehauffeur de D. Er-

melinda, queenlrou, apresentou com risonhareverencia unia carta a meu tio, e se retirouimuiediatanieiite.

A cara vermelhusca de meu tio exprimiaO mais delicioso Jubllo.'0 homemzinho sal-tava, cantava, dansava ; estava como louco !Abriu a carta e tornou-se pallido como umdefunto; depois de cinco ou seis voltas,correndo A roda do quarto, e desappareceuoutra vez, dizendo: «L0 este bilhete: euvollo já.»

Peguei no papel e li o seguinte : «Anjoadorado: Thimolheo parte ás tres horas.Espero-te para o jantar: esvasiaremos estanoite até á ultima gotta a taça do nectar quenos offerece o amor.»

Ahi exclamou meu tio ao entrar no-vãmente no quarto. O amor quer offerecer-me a sua taça de nectar, e eu esvasiei a taçade sal purgativo. Quem me açode ? quemme açode?

Lastimo-o de iodo o meu coração,disse-lhe eu, mordendo os lábios com força.E' realmente uma coisa triste I Em vez dothrono do amor, é um throno menos gloriosoque o retém em casa I

Não importa; irei esta tarde IIsso seria uma tolice, meu tio I por-

que a D. Ermelinda havia forçosamente detroçar comsigo : o tio não poderia socegarao pé delia, e seria obrigado a levantar-sevinte vezes.

Mas que fazer, que fazer então ? Oh !desespero! oh! raiva I clamava o pobre ho-mem de face vermelhusca.

Meu bom tio, disse eu compassiva-mente, quer que eu vá, esta tarde, visitar emseu logar a D. Ermelinda? Contar-lhe-eiqualquer historia gigantesca, uma historia desalieadores. Ella ficará amando-o ainda mais,tendo tido medo de o haver perdido, e o tioamanhã encontrará ainda mais amável eapaixonada a sua Dulcinéa.

O velhote exclamou : «Ah I estou salvo !sim !» e deu-me cincoenta mil réis ; depoisdeitou a correr outra vez, dobrado cm dois,e suspirando: «Eu volto já.»

A' tarde dirigi-me a casa de D. Erme-linda. Disse-lhe que meu tio havia tomadoum purgante, e narrei-lhe por miúdo a scenaa que assistira.Rimos durante não sei quan-to tempo, bebendo champagne á italiana,isto é : de boca para boca ; eaqui está comofoi que a D. Ermelinda Poças se tornou mi-nha amante, porque é que eu não herdeicoisa alguma de meu bom tio, a quem a D.Ermelinda arruinou animando-o com falsaspromessas, porque é que sou deputado eamigo intimo do conselheiro Thimotheo, e ohomem mais feliz do mundo — por acaso!

SENHOR X.

Trovas Singelas

Voltou triste, descontente,Abandonado á paixão.Procurou-a novamente,Achou-a no coração.

Vou meu pranto derramando,Sem nada me consolar,Pois eu passo a vida amandoQuem nunca me pôde amar 1

Syphilitico

S. C.

Magnífica collecção devinte contos, escriptos

em linguagem ultra-livre e illustrados comuma gravura cada um. Vejam na ultima pa-gina informações mais detalhadas, acercauão só destes contos como também de todosos romances que compõem a Bibliothecad'0 Rio Nu.

Em um hospital.Aquelle que ali vês, dormindo agora,Talvez sonhando umas visões do Dante,Teve também esle calor que enfloraO nosso peito ardido e palpitante,Elle lambem, Amigo, teve. otltr'ora,Da gloria a aspiração febricitanle.Viu diante de si risonha aurorallliimiiiando-lhe um porvir brilhante.

Teve de irmã sorrisos e caricias.Sentiu também de amor chamnias, delicias,Feitas de encantos e êxtases, furioso.

E agora dorme ali, no catre immundo,Afastado dos gosos deste mundo.Aquella infausta victima de um goso...

STAMATO SOBRINHO.

Collecção amorosaComposta ile cinco romanectes editado* (iclo Rio Nu,a saber: n. 1, Amores de um Frade, pica-resca historia de frei Ignacio, um mitarrao que soubegosar o que dc mcllior existe neste mundo — o amor;n. 2, Noite de Noivado, cm que sfio narradasas peripécias dc uni noivado em qnc a noiva c tãoescovada como o noivo; ii. 3 Ma clamo Minet,deliciosa narrativa dn vida amorosa de ¦una mulherniciaih, em que ella, nünal não leva a melhor parte...n. 4, Gasta Suzanna, extravagante historiade uma donzella, que s.Q deixou de o ser depois dehaver -trovado o amor por vários modos que nâocompromettiam a sua virgindade ; e n. 5, Sanei-wicli t, narração minuciosa de uma rcceni-casadsque expõe a uma amiga as peripécias dasseenasintimasque a sujeitou o marido. Qualquer desses volumes, que sc vendem juntos ouseparados, á razão de SOO reis cada um, consutueumn leitura amena, muito rccomn.ciulad.t aos enfia-queridos de todas as idades, não só pela linguagem alta-mente exchame em que elles sfio escriptos, como tam-bem pelas lindas e suggcstívas gravuras que os ornamc que sío mesmo de lazer resuscitar um defunto, ¦Os pedidos do Correio, aos quaes devem acompanharmais 300 réis para o porte de cada livro, devem serdirigidos a

Alfredo Velloso M ¦» hospício i. mRio cie Janeiro

A collecção completa será enviada"VTPq a quero a pedir enviando a pS/^<£=V1 quantia de 3$SQO (em dinlitiro). p?^

Na opinião de uns, o beijo é a santi-ficação do corpo, e na de outros é a expres-são synthetica do amor.

"Diante de um retrato de mulher

CONTOS RÁPIDOS

Dizem os volúveis — e as volúveis, prin-cipalmente — que platonismo é amor empequena velocidade.

Não ha outra que torne a pelle maismacia. Dá ao cabello a côr que se desejaE' tônico, faz crescer o cabello e extirpaa caspa. — Ruas: Andradas, 43 a 47Hospicio, 164 e 166.

O ciúme é uma mistura de saudade e de