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W- Anno I _4 V ASSIGNATUBAS (Recife) Semestre 5$000 Anno. 10$000 (Interior e Províncias) Semestre 6$000 Anno 12Í000 As assignaturas come- çam em qualquer tempo e terminam no ultimo de Fe- vereiro e Agosto. Paga- mento adiantado.—Publi- ca-se nas terças e sextas- feiras. Recife,—Terça-feira 18 de Novembro de 1872 ¦III ¦¦!¦¦¦ f*'''ffik'"«__ _,-___. ²ma~ .^ ü.° 22 ORGAO DO PARTIDO LIBERAL Vejo por toda a parte um symptoma, que mo assusta pela liberdade das nações e da Igreja: a centralisação. Um dia os povos despertarão clamando:--Ondc as nos- sas liberdades. v. VEhix—Disc. no Congt, de Matinês, 1864. CORRESPONDÊNCIA A Bedacção acceita e agradece a collaboração. A correspondência e as reclamações serão dirigidas ao gerente inciumo ©fo, àe u. oCieôto-, á rua Duque de Caxias n- 501* andar, ou árua Larga do Rosário n. 24, 2* andar. m" v A PROVÍNCIA Recife, 19 de Novembro dc 1872 À necessidade da referenda minis- terial para todos os actos da realeza, quer como poder moderador, quer co- mo poder executivo, é uma consequen- cia que se deduz clara e logicamente do principio soberania da nação, consagrado expressamente no artigo 12 da constituição do Brazil. E tão ligada está a conseqüência ao princi- pio, que os partidários do poder ah-- soluto, da realeza sem o correctivo da referenda ministerial, para poderem negar esta, são forçados a negar o principio da soberania do povo nestes termos: " O principio da soberania da na- ção é uma theoria atheista, protestan- te, irracional " E' atheista porque nega de Deus a soberania absoluta^ que é attributo essencial da divindade. " E' protestante por ser uma appli- cação a ordem politica da doutrina pro- testante da soberania cTa razão em ma- teria de fé. " E' finalmente irracional porque se a soberania reside essencialmente no povo, .segue-se que o povo ou a na- ção se formou arbitrariamente, sem obedecer alei alguma natural. " A sociedade civil sendo de direi- to natural, sendo conforme a vontade do seu autor, é claro que o que a con- stitue, que a sua essência pertence a Deus; Deus a fez, a constitue como ella é; logo é o seu verdadeiro sobera- no.. " A sociedade brasileira não pôde ser uma excepção do principio estabe- lecido. O legislador constituinte pro- clamou aquelle principio, declarando que o primeiro representante da nação, que symbolisa a monarchia é impera- dor par graça de Deus, art. 69, e não por graça dasoberaniadopovo. Taes são os principios dos quaes pretende-se deduzir argumentos con- tra a these da responsabilidade do po- der moderador / O illustre contradic- tor nem sequer reparou que pela mes- ma lettra do citado artigo '69, o legis- lador constituinte, era de tão pouca religiosa, que não confiou na graça de Deus, senão com a fiança da graça da soberania da nação, como se das palavras—por graça de Deus, e unanime acclamaijão dos povos Impera- ¦ dor Constitucional— ' Além disto para combater-nos foi mister soecorrer-se a uma falsa suppo- sição, a saber: que nós confundíamos a origem próxima com a origem remo- ta da soberania, o fundamento huma- no, com o fundamento divino do po- der, ou em outros termos o poder abs- tracto, com o poder em sua realisação. ' Succede com a soberania social, o que succede com a moral. O homem não é autor da lei moral. Os homens não cream o dever. Pois bem o mes- A mo succede na ordem social ou politi- ca. A soberania, como direito social e politico, sendo na sociedade o que Deus é no universo, isto é, o principio de ordem e de justiça, tem a sua fon- te.einDeus, autor de todos os direitos, de todos os deveres naturaes, quer se- jam individuaes, quer sociaes ou po- liticos. Mas se a soberania, considerada em abstracto, vem de Deus, que a delega a sociedade, todavia esse poder abs- tracto e divino se realisa por meios humanos e não por meios sobrenatu- raes. E certamente sendo os homens iguaes por natureza, sendo todos racionaes e livres, nenhum delles pode pretender o império sobre seus semelhantes, a titulo de ser o, eleito de Deus, o ungi- do do Senhor. Isto seria um império sobrenatural, e por tal titulo ne- nhum hemem pode governar legitima- mente asociedade civil. A sociedade civil, a nação, é um corpo, que tem alma, porque é com- posto de entes dotados de razão e li- berdade; e portanto é um corpo moral, o qual, como tal, deve, organisar-se moralmente, isto é, pelo exercício da razão e da vontade de seus membros; de outra sorte seria um rebanhodè ani- mães, e não uma sociedade humana. E'pois indeclinável que, assim como os homjzns que constituem a sociedade, para esta levam suas forças, sua acti- vidade, e seus bensi levem-lhe também sua intelligencia e sua liberdade. Ora, isto não pode ter lugar senão pela ap- plicação da razão e da liberdade hu- mana na formação da união civil, na sua organisação e constituição. do seu governo. Essa intervenção hnpres- cindiv?! é a soberania da nação,.sem a qual todi o governo deixa de ser le- gitimo. Portanto bem longe de ser a sobe- rania da nação uma theoria atheista, protestante, é irracional, é ao contra- rio uma theoria apoiada no poder ab- soluto de Deus, único poder absoluto que a razão conhece e proclama, para não reconhecer qualquer outro'poder absoluto em nenhum dos delegados da nação, por quanto acima dos reis, dos imperadores, e das mesmas nações, estão os immutaveis e universaes principios de justiça. Em face dessas considerações po- demos concluir, que o poder modera- dor, sem referenda ministerial, sem correctivo, seria um poder absoluto, poder condemnado pela constituição do Brazil, poder condemnado até pe- los próprios partidários da monarchia pura, como se dessas verdadeiras e eloqüentes palavras do illustre Donoso. " A monarchia absoluta tem isso de ináo—supprime e torna impotentes as resistências, e as hierarchias. As leis de Deus foram assim violadas : um ¦poder sem limites é 21111 poder essencial- mente ante-christão, o qual ultraja ao mesmo tempo a -magestade dc Díus e a dignidade do homem. Um poder sem f .¦Ti limites faz cahir reis e subditos na ido- latria, o subdito adora o rei, e o rei adora-se a si-mesmo. " Na verdade todo poder humano, ab- soluto é contrario a magestade de Deus, e a dignidade do homem. Seria poiv tanto uma indignidade, um servilismo sem qualificação, não obstante o gran- de, e divino principio da soberania do povo proclamado na constituição, o reconhecimento de um poder absoluto em qualquer do? delegados da nação. Semelhante reconhecimento seria a negação do mandato, pois que a todo o mandato' está essencialmente inheren- te a responsabilidade do mandatário, e a annullação co mandato se elle abusa e trahe o mandante. Além de que uma semelhante dou- trina,: offerecerá perigos para a li- berdade do paiz, e para a própria rea- leza, como diz o douto padre Ventura nestes termos: " Deste modo esse pretenso direito divino perigoso e funesto para o paiz, ó é em igual gráo para o poder mesmo. E a razão é porque não ha felicidade social possivel sem ordem; não ha or- dem sem estabilidade de instituições; não na instituição esta/oel sem responsa- büidftdedm'Poder; não haresponsabili- dade para o Poder, no paiz onde se re- cusa a nação todo o direita de inspeccio- nal-o, e até de retomal-o se a necessida- de o exige. A sociedade não possue em- fim seus direitos, senão se lhe reconhece o grande principio—que o poder sobera- no é conferidopor ella. "— " Este principio é portanto a maior garantia para a nação e para o mesmo Poder, e os publicistas que combatem tal principio, com a melhor vontade do mundo, são os verdadeiros inimigos do poder, que elles exaltam descommu- nalmente, e da sociedade, que sacrifi cam á todas as phantasias, a todos os caprichos da força. " Não seria catholico o douto Thea- tino ? serão atheistas, protestantes, irracionaes estas verdades ? Governo e aa Reformas Á historia parlamentar da Inglaterra testemunho de que dos governos fortes é licito esperar as grandes reformas. Estas brotam do paiz; mas carecem de alento e força para fruetificarem no seio das representações, e mais tarde de apoio e se- gurança que garantam todos os seus ef- feitos. E' por isso que á frente das modernas re,- voluções, quer politicas, quer econômicas, que ha um século alli se oporão, encon- trainos os primeiros homens de Estado eu- jos nomes, «ada um por si, representam uma idéa, um principio, um partido que tem as- sento solido na epiuião do momento. Esta marcha sensata e regalar que tem a administração publica na Inglaterra, teve por muito tempo imitadores no Brazil. Quem recordar-S3'dos tempos ainda não re- motos da politiza activa e moralisada do nosso paiz, encontrará os nomes dos nossos mais eminentes estadistas ligados ás gran- des reformas políticas. Hoje diversamente se passam as cousas. A própria cadeira de um chefe de gabine- te pôde ser oecupada, e o tem sido effcctiva- ¦â ' grimas *k% Ainda assim, desde que um governo forte, apoiado na grande maioria da opinião, im- pôz-lhe essa reforma, esta foi votada. K' isto o que não quer, nem pôde fazer o des- prestigiado gabinete de 7 de Março. A eleição directa é inconstitucional. Ape- sar de falso este conceito, pôde hoje apoiar- se em semelhante pretexto o rei, que sane- cionou a eleição por circulos ? Nada podemos esperar, por este lado, do aetual governo. Quanto ao mais, quasi nada transpira. A reforma guarda nacional, qualquer que ella seja, reflectiráa infeliz concepção do Sr. José de Alencar, que creava uma milicia or- ganisada, porventura mais vexatória do quo a actuai. Não ha reforma possivel para essa degra- dada instituição. O governo encarregou-se de rebaixar postos, o aviltar o soldado, que, na guarda civica, uão serve á pátria, mas às * ' . 1 .* -fe/k^ -.;,.'; .,-.,1 - r-s- '¦¦o A mente, por arvorados estadistas, que, escu- dados de um talento mais ou menos com- mum, governam á mercê das impressões do dia, sem principios e sem planos. Ministros que o cerquem, e o amparem com o seu pres- tigio, não se contam:' em seu lugar, o paiz sombras que' se movem ao aceno de uma vontade. Nem mesmo os mediocres entram n'esse segundo plano da governação; e pre- ciso enchel-o das nullidades, quaes convida- dos de podra, ou autômatos vivos, que obede- cem, e cujo mérito augmenta a medida que mais doces e mais fáceis são as molas do ma- nejo.* Esta mutação recente é lógica: é a con- seqüência da representação do paiz. Desarmado este de todos os meios de fa- zer-se representar legitimamente, o governo que preside a eleição deixa-se arrastar pólos mais tristes e degradantes principios na for- mação das câmaras: impõe ao paiz aquelles que o incensam, os mais dependentes, os que menos possam resistir á sua vontade, e portanto os mais susceptíveis de corrupção. «Assim procederam os governos de 16 de Julho, e 7 de Março. Do seio dessa desna- turada e baixa representação nacional sahi- ram os homens que governaram e governam hoje o paiz. E' destes que temos de esperar as futuras reformas!v E quaes serão estas ? o paiz ignora, por- que uma não foi ainda discutida na im- prensa, nem forma programma ou principio do actuai governo. A julgarmos pelos pallidos precedentes dos ministros nullos, quando.não nos acha- mos diante da mais deplorável contradicção, o que devemos esperar não são reformas, são retoques, palliativos. A reforma eleitoral, que ó hoje a única e proclamada salvação da nossa sociedade po- litica, essa o governo a considera dispensa- vel desde que advoga a excellencia do actuai systema, e diverge apenas em simples quês- tão de formas. Quaesquer que estas sejam, o vicio radical da lei permanece, e não ha garantias bas-. tantes quando a independência do votante continua a ser sacrificada. Os actuaes ministros da coroa, apoiando o gabinete de 16 de Julho, tornaram-se solida- rios com a reforma eleitoral do Sr. Paulino de Souza, que consagrava a eleição directa censitaria. No poder esses mesmos indivi- duos renegam hoje suas crenças de hontem para seguirem o alvitre opposto que lhes ins- pira a coroa, a quem não ousam resistir. Esta aberração é o fructo da incapacida- de do governo, que por ausência de força própria não tem a necessária coragem para ae pôr á frente de uma reforma apoiada pela quasi unanimidade da nação. Uma das reformas que mais concorreram para o brilho e civilisação da Inglaterra, a emancipação dos catholicos, encontrava ua vontade de George IV a mais decidida op- posição. Eosse real ou fingida a ttima do rei-come- diante, o certo é que levava a sua resisten- cia ao ponto de derramar abundantes la- V ,.', '¦;• ¦;•„ ;.! *" A :< i 1 «afie1* : 1 :

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W-

Anno I_4

V

ASSIGNATUBAS(Recife)

Semestre 5$000Anno. 10$000

(Interior e Províncias)Semestre 6$000Anno 12Í000

As assignaturas come-çam em qualquer tempo eterminam no ultimo de Fe-vereiro e Agosto. Paga-mento adiantado.—Publi-ca-se nas terças e sextas-feiras.

Recife,—Terça-feira 18 de Novembro de 1872

¦III ¦¦!¦¦¦ f*'''ffik'" «__ _,-___. ma~ .^

ü.° 22

ORGAO DO PARTIDO LIBERALVejo por toda a parte um symptoma, que mo assusta

pela liberdade das nações e da Igreja: a centralisação.Um dia os povos despertarão clamando:--Ondc as nos-sas liberdades.

v. VEhix—Disc. no Congt, deMatinês, 1864.

CORRESPONDÊNCIA

A Bedacção acceita eagradece a collaboração.

A correspondência e asreclamações serão dirigidasao gerente

inciumo ©fo, àe u. oCieôto-,

á rua Duque de Caxias n-501* andar, ou árua Largado Rosário n. 24, 2* andar.

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A PROVÍNCIA

Recife, 19 de Novembro dc 1872

À necessidade da referenda minis-terial para todos os actos da realeza,quer como poder moderador, quer co-mo poder executivo, é uma consequen-cia que se deduz clara e logicamentedo principio dá soberania da nação,consagrado expressamente no artigo12 da constituição do Brazil. E tão

• ligada está a conseqüência ao princi-pio, que os partidários do poder ah--soluto, da realeza sem o correctivo dareferenda ministerial, para poderemnegar esta, são forçados a negar oprincipio da soberania do povo nestestermos:" O principio da soberania da na-ção é uma theoria atheista, protestan-te, irracional" E' atheista porque nega de Deusa soberania absoluta^ que é attributoessencial da divindade." E' protestante por ser uma appli-cação a ordem politica da doutrina pro-testante da soberania cTa razão em ma-teria de fé." E' finalmente irracional porquese a soberania reside essencialmenteno povo, .segue-se que o povo ou a na-ção se formou arbitrariamente, semobedecer alei alguma natural.

" A sociedade civil sendo de direi-to natural, sendo conforme a vontadedo seu autor, é claro que o que a con-stitue, que a sua essência pertence aDeus; Deus a fez, a constitue comoella é; logo é o seu verdadeiro sobera-no.." A sociedade brasileira não pôdeser uma excepção do principio estabe-lecido. O legislador constituinte pro-clamou aquelle principio, declarandoque o primeiro representante da nação,que symbolisa a monarchia é impera-dor par graça de Deus, art. 69, e nãopor graça dasoberaniadopovo.

Taes são os principios dos quaespretende-se deduzir argumentos con-tra a these da responsabilidade do po-der moderador / O illustre contradic-tor nem sequer reparou que pela mes-ma lettra do citado artigo '69, o legis-lador constituinte, era de tão poucafé religiosa, que não confiou na graçade Deus, senão com a fiança da graçada soberania da nação, como se vêdas palavras—por graça de Deus, eunanime acclamaijão dos povos Impera-

¦ dor Constitucional—' Além disto para combater-nos foimister soecorrer-se a uma falsa suppo-sição, a saber: que nós confundíamosa origem próxima com a origem remo-ta da soberania, o fundamento huma-no, com o fundamento divino do po-der, ou em outros termos o poder abs-tracto, com o poder em sua realisação.

' Succede com a soberania social, o

que succede com a moral. O homemnão é autor da lei moral. Os homensnão cream o dever. Pois bem o mes-

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mo succede na ordem social ou politi-ca. A soberania, como direito sociale politico, sendo na sociedade o queDeus é no universo, isto é, o principiode ordem e de justiça, tem a sua fon-te.einDeus, autor de todos os direitos,de todos os deveres naturaes, quer se-jam individuaes, quer sociaes ou po-liticos.

Mas se a soberania, considerada emabstracto, vem de Deus, que a delegaa sociedade, todavia esse poder abs-tracto e divino só se realisa por meioshumanos e não por meios sobrenatu-raes.

E certamente sendo os homens iguaespor natureza, sendo todos racionaes elivres, nenhum delles pode pretendero império sobre seus semelhantes,a titulo de ser o, eleito de Deus, o ungi-do do Senhor. Isto seria um impériosobrenatural, e por tal titulo só ne-nhum hemem pode governar legitima-mente asociedade civil.

A sociedade civil, a nação, é umcorpo, que tem alma, porque é com-posto de entes dotados de razão e li-berdade; e portanto é um corpo moral,o qual, como tal, deve, organisar-semoralmente, isto é, pelo exercício darazão e da vontade de seus membros;de outra sorte seria um rebanhodè ani-mães, e não uma sociedade humana.

E'pois indeclinável que, assim comoos homjzns que constituem a sociedade,para esta levam suas forças, sua acti-vidade, e seus bensi levem-lhe tambémsua intelligencia e sua liberdade. Ora,isto não pode ter lugar senão pela ap-plicação da razão e da liberdade hu-mana na formação da união civil, nasua organisação e constituição. do seugoverno. Essa intervenção hnpres-cindiv?! é a soberania da nação,.sem aqual todi o governo deixa de ser le-gitimo.

Portanto bem longe de ser a sobe-rania da nação uma theoria atheista,protestante, é irracional, é ao contra-rio uma theoria apoiada no poder ab-soluto de Deus, único poder absolutoque a razão conhece e proclama, paranão reconhecer qualquer outro'poderabsoluto em nenhum dos delegados danação, por quanto acima dos reis, dosimperadores, e das mesmas nações,estão os immutaveis e universaesprincipios de justiça.

Em face dessas considerações po-demos concluir, que o poder modera-dor, sem referenda ministerial, semcorrectivo, seria um poder absoluto,poder condemnado pela constituiçãodo Brazil, poder condemnado até pe-los próprios partidários da monarchiapura, como se vê dessas verdadeiras eeloqüentes palavras do illustre Donoso." A monarchia absoluta tem issode ináo—supprime e torna impotentesas resistências, e as hierarchias. Asleis de Deus foram assim violadas : um¦poder sem limites é 21111 poder essencial-mente ante-christão, o qual ultraja aomesmo tempo a -magestade dc Díus e adignidade do homem. Um poder sem

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limites faz cahir reis e subditos na ido-latria, o subdito adora o rei, e o reiadora-se a si-mesmo. "

Na verdade todo poder humano, ab-soluto é contrario a magestade de Deus,e a dignidade do homem. Seria poivtanto uma indignidade, um servilismosem qualificação, não obstante o gran-de, e divino principio da soberania dopovo proclamado na constituição, oreconhecimento de um poder absolutoem qualquer do? delegados da nação.Semelhante reconhecimento seria anegação do mandato, pois que a todo omandato' está essencialmente inheren-te a responsabilidade do mandatário, ea annullação co mandato se elle abusae trahe o mandante.

Além de que uma semelhante dou-trina,: só offerecerá perigos para a li-berdade do paiz, e para a própria rea-leza, como diz o douto padre Venturanestes termos:" Deste modo esse pretenso direitodivino perigoso e funesto para o paiz,ó é em igual gráo para o poder mesmo.E a razão é porque não ha felicidadesocial possivel sem ordem; não ha or-dem sem estabilidade de instituições;não na instituição esta/oel sem responsa-büidftdedm'Poder; não haresponsabili-dade para o Poder, no paiz onde se re-cusa a nação todo o direita de inspeccio-nal-o, e até de retomal-o se a necessida-de o exige. A sociedade não possue em-fim seus direitos, senão se lhe reconheceo grande principio—que o poder sobera-no é conferidopor ella. "—

" Este principio é portanto a maiorgarantia para a nação e para o mesmoPoder, e os publicistas que combatemtal principio, com a melhor vontadedo mundo, são os verdadeiros inimigosdo poder, que elles exaltam descommu-nalmente, e da sociedade, que sacrificam á todas as phantasias, a todos oscaprichos da força. "

Não seria catholico o douto Thea-tino ? serão atheistas, protestantes,irracionaes estas verdades ?

• Governo e aa ReformasÁ historia parlamentar da Inglaterra dá

testemunho de que só dos governos fortes élicito esperar as grandes reformas.

Estas brotam do paiz; mas carecem dealento e força para fruetificarem no seio dasrepresentações, e mais tarde de apoio e se-gurança que garantam todos os seus ef-feitos.

E' por isso que á frente das modernas re,-voluções, quer politicas, quer econômicas,que ha um século alli se oporão, só encon-trainos os primeiros homens de Estado eu-jos nomes, «ada um por si, representam umaidéa, um principio, um partido que tem as-sento solido na epiuião do momento.

Esta marcha sensata e regalar que tem aadministração publica na Inglaterra, tevepor muito tempo imitadores no Brazil.Quem recordar-S3'dos tempos ainda não re-motos da politiza activa e moralisada donosso paiz, encontrará os nomes dos nossosmais eminentes estadistas ligados ás gran-des reformas políticas.

Hoje diversamente se passam as cousas.A própria cadeira de um chefe de gabine-

te pôde ser oecupada, e o tem sido effcctiva-

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Ainda assim, desde que um governo forte,apoiado na grande maioria da opinião, im-pôz-lhe essa reforma, esta foi votada. K'isto o que não quer, nem pôde fazer o des-prestigiado gabinete de 7 de Março.

A eleição directa é inconstitucional. Ape-sar de falso este conceito, pôde hoje apoiar-se em semelhante pretexto o rei, que sane-cionou a eleição por circulos ?

Nada podemos esperar, por este lado, doaetual governo.

Quanto ao mais, quasi nada transpira. Areforma dá guarda nacional, qualquer queella seja, reflectiráa infeliz concepção do Sr.José de Alencar, que creava uma milicia or-ganisada, porventura mais vexatória do quoa actuai.

Não ha reforma possivel para essa degra-dada instituição. O governo encarregou-se derebaixar postos, o aviltar o soldado, que, naguarda civica, já uão serve á pátria, mas às

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mente, por arvorados estadistas, que, escu-dados de um talento mais ou menos com-mum, governam á mercê das impressões dodia, sem principios e sem planos. Ministrosque o cerquem, e o amparem com o seu pres-tigio, não se contam:' em seu lugar, o paizvô sombras que' se movem ao aceno de umavontade. Nem mesmo os mediocres entramn'esse segundo plano da governação; e pre-ciso enchel-o das nullidades, quaes convida-dos de podra, ou autômatos vivos, que obede-cem, e cujo mérito augmenta a medida quemais doces e mais fáceis são as molas do ma-nejo. *

Esta mutação recente é lógica: é a con-seqüência da representação do paiz.

Desarmado este de todos os meios de fa-zer-se representar legitimamente, o governoque preside a eleição deixa-se arrastar pólosmais tristes e degradantes principios na for-mação das câmaras: impõe ao paiz aquellesque o incensam, os mais dependentes, osque menos possam resistir á sua vontade, eportanto os mais susceptíveis de corrupção.

«Assim procederam os governos de 16 deJulho, e 7 de Março. Do seio dessa desna-turada e baixa representação nacional sahi-ram os homens que governaram e governamhoje o paiz.

E' destes que temos de esperar as futurasreformas! v

E quaes serão estas ? o paiz ignora, por-que uma só não foi ainda discutida na im-prensa, nem forma programma ou principiodo actuai governo.

A julgarmos pelos pallidos precedentesdos ministros nullos, quando.não nos acha-mos diante da mais deplorável contradicção,o que devemos esperar não são reformas,são retoques, palliativos.

A reforma eleitoral, que ó hoje a única eproclamada salvação da nossa sociedade po-litica, essa o governo a considera dispensa-vel desde que advoga a excellencia do actuaisystema, e diverge apenas em simples quês-tão de formas.

Quaesquer que estas sejam, o vicio radicalda lei permanece, e não ha garantias bas-.tantes quando a independência do votantecontinua a ser sacrificada.

Os actuaes ministros da coroa, apoiando ogabinete de 16 de Julho, tornaram-se solida-rios com a reforma eleitoral do Sr. Paulinode Souza, que consagrava a eleição directacensitaria. No poder esses mesmos indivi-duos renegam hoje suas crenças de hontempara seguirem o alvitre opposto que lhes ins-pira a coroa, a quem não ousam resistir.

Esta aberração é o fructo da incapacida-de do governo, que por ausência de forçaprópria não tem a necessária coragem paraae pôr á frente de uma reforma apoiada pelaquasi unanimidade da nação.

Uma das reformas que mais concorrerampara o brilho e civilisação da Inglaterra, aemancipação dos catholicos, encontrava uavontade de George IV a mais decidida op-posição.

Eosse real ou fingida a ttima do rei-come-diante, o certo é que levava a sua resisten-cia ao ponto de derramar abundantes la-

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paixões e crimes dos potentados. A «aboliçãototal, sem substituição por cousa alguma desemelhante, é o unico e possível remédioaos males de actualidade.

Não ha muito que esperar da reforma dorecrutamento.

O Sr. Visconde do Eio Branco inculca-sesectário da militarisação do paiz. Deo dissoprova em mais de uma commissão militarem que tem servido. Deixou de activar o vo-to dessa reforma no senado, por, não conhe-cer ainda qual a opinião do seu amo nesteassumpto. E' o próprio, que em plena paz,e quando o estado do paiz não exige comple-tar os quadros do exercito, manda recrutarno seio das classes laboriosas.

A instrucção publica, è tambem assump-to proclamado pelos thuriferarios da si-tuacão.

Essa annunciada reforma, reduz-se á fun-dação de uma universidade na corte; e cpietem por fim principal crear novos empregoscom que se alimente o filhotismo governa-mental. Um princípio sequer, desses quemodernamente se aclamam em todos osgrandes centros de civilisação, não consignaesse magnânimo projecto: é o ensino offi-ciai, sujeito como hoje á todas as pèas, queserve cie base á sublime idéa do Sr. minis-tro do império.

O gabinete de 7 de Março, que pelas suasmil trombas se annuncia reformador, não ésenão o reflexo dessa vontade oceulta que seconstitue distribuidor supremo das miga-lhas esparsas com que nos engodam nestesúltimos tempos.

Não tem iniciativa própria, nem força eapoio sufficientes no paiz para alargar o aca-nhado circulo das idéas do seu inspirador ;nem coragem para impor-lhe, apesar de suasfingidas lagrimas, a vontade da nação.

A sua retirada do poder, será a salvaçãodo paiz.

Sem o que, as reformas serão um inytho,ou trarão o fatal cunho de quem, em todasas situações, as tem sophismado.

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Um erro crasso *..;.".«-

Sob 0 titulo—Nossas instituições comtitu-cionaes, tem publicado a Nação, órgão minis-terial, na corte do império, diversos artigosno intuito de fazer evidente a excellencia denossas instituições e patentear o progressoque sob ellas temos obtido, fazendo ao mes-mo tempo um paralello entre essas institui-çóes, as da antiga republica romana e asda grande republica norte-americana.

Traçando estas linhas não temos por íimacompanhar o articulista em todas as suasapreciações e considerações sobre o assump-to; mas tão somente apontar um erro crassoem que, no afan do desempenho de sua tare-fa, deixou-se cahir.

Este erro entretanto faz muito suspeitarda isenção de animo e critério com que oarticulista oecupa-se do objecto.

[Deixemos que encareça elle o progressoem que tem caminhado o império. Nestaparte lhe íipporemos «apenas que mal avisadoanda quem pretende comparar a marcha as-cendente de um paiz constituído no séculopresente com a que em igual periodo tive-ram outros, nos tempos em que não tinha omundo attingido ao gráo de civilisaçãe deque actualmente gosamos.

Nós não atravessamos esses tempos por-que passaram outros povos privados dasmais úteis e grandiosas conquistas da civi-

FOLHETIM

BALANÇA E BALANCEIROS i

O cpte vem a ser uma balança e o que são osbalanceiros ?

Cousa difficil de dizer, sem se queimar pri-meiro as pestanas e consultar os alfarrábios!..Balança, e balanceiros?..•A pergunta vale um quadrado da hypothenu-

sa; pois se em uma balança ha muitos—f.f. er. r.—, nos balanceiros ha muito dente... decoelho.

Uma balança não ó somente aquella conheci-da geringonça artiíiciosa de avaliar o peso oufor<;a natural dos corpos; podo ser muito mais doque isso, se no artificio do invento estiver oceul-to o artificio dos balanceiros.

> Ora vejamos como isso foi, para vermos dc-pois como isso é:

Thernis, filha de Júpiter e Astréa, sentou-seum dia sobre uma pedra, e de balança na mãoentrou a prescrever penas ao vicio, e u recom-pensar a virtude. Por esse meio conhecia per-feitamente quem tinha direito ás recompensas,e quem não tinha direito á ellas. A balança oraa justiça.

Entrou a edade de ouro, e Thernis deixou-seficar sentada no seu officio de balanceira; mas

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-./»i .:-'.''í *!•

lisação, achamos o caminho feito, não so-mente nas condições do progresso materialcomo tambem nas do moral.

Usando dc expressão já empregada, pode-mos dizer que dezenove séculos trabalharampara nós!

Não somos pessimistas, não desconhece-mos que algum progresso temos conseguido,mas em nosso entender a grande questãonão é se temos progredido, mas sim se náopodíamos ter progredido muito e muitomais.

E nesta questão não é duvidosa para nósa affirmativa. Vamos ao ponto principal.

Em seu numero de 31 do mez passado ê emum dos artigos sob o titulo referido, tratamdo a Nação órgão das confidencias ministe-riaes, da liberdade de imprensa exprime-senos seguintes termos :

« No Brazil, paiz de regimen monarchico aliberdade da imprensa é Uni principio constitu-« tucional expressamente consagrado no pacto« social; nos Estados-Unidos, povo de governo« democrático, ella apenas é garantida pelas leis« ordinárias; a constituição da grande repu-t blica não %iz sobre a imprensa sequer uma« palavra.

t Deste modo os brazileiros possuem melhorgarantida diante da lei aimmunidade do pensa-mento, que os democratas da America do Norte.

Aqui só um poder constituinte nos pôde ar-rançar essa preciosa regalia ; alli xima legisla-tura ordinária pode supprimil-a.

Nestas palavras encerra-se o erro crasso aque alludimos. | ,

Por ellas reveja o articulista grande c ad-mirável, ignoraricia da constituição dos Es-tados-Unidos.

Eífectivamente foi feita essa constituição,sem que nella se expressasse a liberdade de im-prensa, assim como não o foram a liberdadede religião; e os direitos de reunião e de pe-tição.

Eng£ina-se o articulista quando suppõeque por este modo quizer ani os autores des-sa constituição deixar tão preciosas liberda-des sob o arbitrio das legislaturas ordinárias,sendo que ainda mesmo que o quizessem ja-mais seria visto o facto de attentarem essaslegislaturas contra tão sagrados principios,pois isto fóra um impossível ante b espiritoque domina aquella grande democracia.

Vamos mostrar-lhe como se enganou.Feita a constituiçãa e quando se tratava

de obter de cada um dos Estados a approva-ção delia, grande e porfiada luta _pi.travada.

A constituição não satisfazia inteiramen-te pessoa alguma, porque ninguém poderiadizer : eu a fiz, dizLaboulage, Be|bemque ca-da um podesse dizer : eu fiz adoptar talcláusula, e cedi em tal outra.

Foi portanto um sacrifício que todos fize-ram, uma patriótica transação da variadasidéas e interesses.

Correu portíinto muito calorosa a discus-são que se levantou nas convenções que no-meou cada estado para discutirem essa con-8tituição que deviam ou não approvar. En-tre.outras aceusacões, diziam:—Nunca en-tendemos que devíamos negar ao governoaquillo que lhe fosse necessário para suamarcha; mas a liberdade religiosa, o jury, aliberdade de imprensa, o direito de trazer ar-mas e o de nos reunirmos nunca os quize-mos ceder a ninguém.

Não havia: quem quizesse outra cousa ;entenderam os autores da constituição queesta suppunha estes direitos, de que já go-savam os americanos desde o ljij.ll inglez dedeclaração de direitos, feito em 1689—que

logo que á edade de ouro suecedeu a edade deferro, Thernis levantou-se cía pedra, e foi-se.

Daqui se vé que, antes da edade cie ouro, a ba-lança era a justiça, porque só ella regulava aspenas e recompensas; e cpie durante ella passa-ram estas á ser reguladas pelos interesses da ba-lanceira, porque depois delia... nem balançanem balanceira!

O Diário, que <i páo para toda a obrasegun-do o testemunho do Jornal ão Recife, diziaíflia4 annos saracoteando os quartos como o jFelisfez saracotear os do funileiro:

" Surge a aurora da regeneração... as nossaspreces subiram ao seio de Deus em rolos de in-censo... nós agora somos outros. "

Pela primeira vez foi o Diário propheta nasua terra: na verdade todos elles foram outros.

O advogado sem causas passou á juiz de di-reito, o juiz de direito á desembargador, o des-embargador assumio ás honras de membro dotribunal de justiça; este foi nomeado deputado,aquelle senador, aquelle outro ministro; uns pas.saram á lentes, outros á bispos e muitos já tiveram tres e mais edicções presidenciaes 1

Toda esta revolução mudou a face da terra.Em algumas casas appareceram minas de pra-

ta, em outras fontes de leite ; a escadinha trans-formou-se em capatazia e a thesouraria den ca-jús!

As casas bancarias inglezas fizeram um certomovimento de fundos, que os «amigos do Diário,

portanto um reconhecimento dos direitos dereunião e de petição, e da liberdade de im-prensa era cousa desnecessária, porque taesdireitos eram essenciaes e invioláveis, alémde qué sendo o principio dominante naAmerica que a delegação de poderes é res-tricta ao objecto para que foi feita, aquilloque não fosse autorisndo pela constituição ocongresso não poderia fazor—, o silenciodelia devia ser interpretada como falta dedelegação ao poder para atacar esses di-reitos.

Nestas circumstancias os homens maisnotáveis, faziam todo o esforço para que, nointeresse da ordem, fosse a constituição aplprovada quanto antes, fazendo-se-lhe depoisentendas no sentido dessas reclamações.

' Foi afinal approvada a constituição sob acondição de declarar-se em um preâmbuloque os poderes concedidos eram poder dopovo, e lado que não era expressamente conce-dido era expressamente reservado; os poderesdelegados não podendo ir aléin da delegação.

Não obstante foram adoptadas em 1791dez emendas á constituição.

Essas emendas, diz Laboulaye, foram an-tes additamentos, do que alterações.

Destas emendas, ficou constituindo o pri-meiro artigo dc additamento á constituição,a seguinte :

« O congresso não poderá estabelecer uma« religião de estado, nem impedir o livre exerci-« ciode nina religião, nem restringir aliberdade« da palavra ou da imprensa, nem o direito« que o povo tem de reunir-se pacificamente e de« dirigir petição ao gpeerno para pedir-lhe re-« paro de seus aggravos. »

0 que fica exposto é sufficiente para ficarpatente o grave erro em que labora o articu-lista da Nação.

E imperdoável nos parece erro tal Bendotão fácil evital-o.

Lesse o articulista qualquer dessas obrasmais conhecidas sobre os Estados-Unidos :Story, Tocqueville ou Laboulaye, c não diriao que disse.

A Nação falia de outiva.Não é por tal modo que de búa fé e para

esclarecer o publico escreve-se sobre tão im-por tantes assumptos.

Vê a Nação que ainda que a constituiçãodos Estados-Unidos nada declarasse sobreliberdade de imprensa, nunca poderia serinterpretada no sentido que lhe attribuio.Os que diziam que a declaração náo se fazianecessária eram os próprios autores dessaconstituição.- . i

Entretanto a emenda depois approvadafez desapparecer toda a duvida.

Commetteu portanto á Nação um errocrasso.

Ultima agoniaPara medir-se a forca e a pujança de uma

situação, antes de tudo deve-se attender aoseu pessoíil activo.

Pelas situações fortes, que procuram at-tingir um fim, grande e patriótico, que nãoprocuram viver de concessões dúbias, mas deconcursos enérgicos e convencidos— os ca-racteres fracos, homens sem longos e profi-cuos serviços á causa publica — raro sãoproveitados para as posições eminentes.

As situações falsas, cujo solo em queassentam, estremece c vacilla, o apoio fran-co e forte fallece ; sobem á tona os homensnecessários, maleaveis, pelles de lontra quevariam de côr segundo a direcção dos raiossolares.

perdendo o equilíbrio, foram ahi tão agradável-mente arremeçados, que se os inglezes não pe-dissem licença para terem guardas e rondas desua confiança, ficariam sem o.s fundos.

A edade de ouro reappareceu finalmente, ecom olla balanças e balanceirps.

Thernis tomou assento em cadeira de espal-dar, com balança em punho, na casa das audien-cias. Como está outra!

A cara acompridou-se, e tomou a cór da corti-ça; os seios avolumaram; as mãos cresceram eo corpo ananicou!

Não parece a filha de Júpiter, segundo Chom-pri':, mas a filha do J. Dorncllas, segundo o Pin-tão.

As leis são outras: as balanças, de facultati-vas, passaram á obrigatórias.

Boeage disse uma vez:

Com tão vui. ijamliia andas tanto,Tanto tVaqtii para alli!Procurador, não irícwjanas:Tu procuras para ti.

Boeage prophetisava, ninguém já o duvida.Ora, quem fez as balanças obrigatórias ?Níio foi quem tinha poder, mas quem não ti-

nha, affirma o Jornal dn líecife, o prova-o con-vincontemente.

Mas, quem foi ?

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Soldados que passavam desconhecidos naslinhas, sem nunca terem montado guardaem postos avançados da politica, tomam opennacho, empunham o bastão. A caudados partidos, na phrase d'um publicista, tor-na-se a guarda avançada, os homens prova-dos.

Os governos que não so baseam na forçaque para elles resulta dos concursos intelli-gentes e consistentes que . o apoiem, o quequerem, o que representam ?

Não podem representar uma idéa. Obpartidos que representam princípios contamcom os esforços decididos de todos que aelles se ligam.' Não se partem os laços decohesão, não se separam as indiyidualida-des, porque a ellas se prende, não interessesephemeros, mas o amor á causa publica, ade votação sincera á bandeira por que se sa-crificam. .

Os partidos, porém, que substanciam emsi o interesse, que substituem a idéa pelonepotismo, cercam-se dessas massas phos-phorescentes, sem vigor ei solidez^

Quem apoia boje o ministério do Sr. Vis-conde do Eio Branco ? De que adhesõesdispõe ? Com que concursos intelligentes econsistentes conta o Sr. presidente do con-selho para debellar esta situação apodreci-da, píira satisfazer as aspirações do paiz, emcujo seio se agitam questões serias c gra-ves que exigem solução prompta e imme-diata? *

De que pessoal dispõe ?E' um espectaculo tristíssimo o que apre.

senta e.sto p«iiz, talhado, por certo, para me-lhores destinos !

Fazemos já. abstracção do ministério.O Sr. Visconde do Rio Branco, por inte-

resse próprio, poderia desejar cercar-se declaros-escuros para melhor fazer destacar oseu vulto homerico.

E' um recurso artístico de que ae servemos entendidos em artes...

Lancem-se vistas sobre o funecionalismopolitico. O que vemos ?

Homens encanecidos no serviço publico ?Adhesões francas e convencidas ? Onde cs-tão os grandes capitães do partido conser-vador ?

• Em geral, as ultimas nomeações feitaspara presidentes de provincia põem em evi-deneia a fraqueza e contingência da situa-ção que estrebucha...

Omnia seniliter pro domina tione /Que é dos serviços dos uovos eleitos ? Sol-

dados experimentados e Jj.eróiçps ou chair &_canon

O paiz tem o direito de apresentar um di-lemma ao Sr. Visconde do Kio Branco :

Ou o partido conservador, dividido e reta-lhado não oíferece de suas fileiras desfalca-das, quem por serviços passados offereça ga-rantias a serviços futuros; ou são despreza-dos—actos e méritos, tendo o Sr. Viscondedo Rio Branco necessidade cVelementos ma-leveis, cera que possa tomar fôrma aos de-dos de S. Exc.

Em ambos os casos perguntamos ao Sr.Visconde do Rio Branco o que representa nopoder:

A impotência do seu partido, ou o nepo-tismo franco e sem disfarces'?

S. Exc. deve optar c certificar-se de queseu infeliz ministério «não tem mais erros acommetter.»

Cousas da «Naçílo»Anda a folha do Sr. Rio Branco a .fazer

descobertas engraçadas.

Responde a propheeia de Boeage :

Procurador não m'enganas :Tu procura» parati.

Um balancoiro é urn.T/antiphraze, e como estaú parenta proxitua da ironia, um balaneeiro éuma ironia viva. Ora este, pola necessidade deconservar o seu caracter, faz que a balança, syrn-bolo da justiça, so torjae irônica, logo ajustiçados balanceiros ó uma pungente ironia.

Se a justiça dessa súcia é fementida como ella,o ipio não sorá atlas balanças obrigatórias combalanceiros privilegiados ?

O mico ó de atolar os dentes. Osjcandidatosao privilegio podem ter más gambias, porémdentes!..

lleparao como andam daqui para alli mos-trando a dentuça. Lede no Diário as dimen-soes dos caninos, e não façaos caso das gambias.

Quo caninos!Mas nenhuns como os daquelle procurador,

que ageitou o naco obrigatório para os seus la-corantes caninos. Se o cadete não lho ostra-nhar o corpo, não ficará um só agricultor comtripas; tudo será pouco para tão carniceirosdentes.

Deus livre a agricultura dos dentes de sizni-lhanto onça como livrou a Jonathas do ventreda baleia.

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Jus.us.

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Page 3: ORGAO DO PARTIDO LIBERALmemoria.bn.br/pdf/128066/per128066_1872_00022.pdf · ta da soberania, o fundamento huma-no, com o fundamento divino do po-der, ou em outros termos o poder

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A Provincia .

Para demonstrar, que não devemos seruma republica, Plutarco, Suetonio, Sallus-tio, Tito-Livio, Cicero, toda a antigüidadepaga que tão esineradamente se ensina nocollegio do Sr. D. Pedro II, tudo isso tomsido posto em apertada contribuição: a fai-lecida Boma tem sido volvida e revolvida.

O Sr. Bio Branco reputa-nos ti todos unsbeocios l

Pois ha quem pretenda hoje a resurreiçãodas republicas da antigüidade ? Ha quemignore, mesmo não tendo estudado no colle-gio do Sr. D. Pedro II, que entre a civilisa-ção antiga e a moderna ha umabysmo, e queninguém pôde pretender a resurreição deépocas, em que a liberdade era consideradaa contrapello?

Não é serio, não é heráldico, o dizer-se queos defeitos da Boma antiga devem condem-nar a republica nas modernas épocas.

Que para o Brazil não é chegada a horada republica, convimos, e o temos sustenta-do; mas não (que nos falta a coragem do Sr.Bio Branco), porque a antiga republica ro-mana tinha estes e áquelles senões: isto éargumento, de quem não sabe argumentar.

« A civilisação moderna (diz Cousin noseu Argumento phüosophico ás leis de Pia-tão) a civilisação moderna só quer deixar aoEstado, o que não pôde tirar-lhe sem com-prometter a ordem social; a civilisação an-tiga entregara ao Estado a humanidade in-teira. Uma tende talvez a separar demasia-do a politica da moral; a outra não as dis-tinguia bastantemente, »

E a folha do Sr. Bio Branco a equiparar-nos, a nós christãos, com os pagãos deBoma! ¦¦'%,.

Também a grande republica americana étesourada na folha do governo; mas, aquiprovocam gargalhadas homericas os engas-gos dos escriptores de César!

—Também nós desatámos laços d'eseravi-dão, e não correu o saugue!

Na verdade é muito escarnecer! Pois essanossa libertação de nascituros, de invisíveis,pôde ser comparada ao esforço ingente dearrancar com todas as raizes a arvore domal na grande republica americana ? Poucotarda, que a triste gente do rei sò nos diga,que o Sr. D. Pedro II é maior do que Lin-coln! •

—As nossas eleições são livres, e o san-gue corre apenas aqui ou alli... ligeiras san-grias!

Como o Sr. Bio Branco não abriria o seufino sorriso diplomático, quando escreveu ou -leu essa tirada! Eleição livre n'este reina-do do Sr. D. Pedro II! Escrevem para o es-trangeiro, não ha duvida: o Sr. José cTAlen-car disse, que o Sr. D. Pedro II vivia para oestrangeiro, e nada se lhe dava do juizo dopaiz; justo é, que os homens do rei só tomemo geito do mesmo cachimbo.

—A nossa imprensa é livre, como a maislivre do mundo!

Sim, o que se vé, é que o governo nãomanda quebrar typographias, não supprimeviolentamente os jornaes, etc; mas; hamuita cousa, que não se vê.

Não se vê a ameaça contra muito funecio-nario publico, porque escreve, porque nãoretira da imprensa um seu irmão ou paremte, porque prestao seu auxilio á publicaçãod'uma folha.

Não se vé o trabalho da corrupção, paraque uma folha seja supprimida, comprada,transferida, etc etc.

Não se Vê a multidão dlmpostos sobre amatéria prima da imprensa, a exageraçãoda taxa postal, e um cento de obstáculos queatrasam a impressão s a circulação, em umpaiz que d'isto precisa, como precisa de pão.

Vé-se apenas a suppressão, pela policia,de duas folhas d'um pamplúeto, como revê-lou o Nacional: ornais, historias! um páopor um olho, como diz o povo.

Andar assim, Sr. D. Pedro II, com os seusfiéis: que bom proveito lhe faça.

Montesquieu, nas suas Cartas persas, exarao dito de um principe, qué, já perto de cahirnas mãos de seus inimigos, via os cortezãosem «lagrimas á roda tVelle: « Sinto, pelasvossas lagrimas, que ainda sou vosso rei. »

Dizei também, imperador do Brazil, a essacaterva de áulicos, que vos cerca: «Essasvossas zumbaias provam apenas, que aindasou imperador do Brazil! »

Se fosseis capaz de comprehende-lo, di-zé-lo, e arripiar carreira, nada estaria perdi-do. Mas... •

GHEOÜCA

Soberania» do* principio*—Nos .partidos, propriamente ditos, os princi-pios e as idéas são tudo.

De sorte que os indivíduos, que n'ellcs li-gurammais ou meuos salie_te_tente, não

teem direito ás attenções e aos respeitos deseus correligionários senão emquanto estãoidentificados com os dogmas da respectivapolitica de maneira a poderem ser conside-rados como que uma encarnação d'estes.

Desde que, portanto, os membros de umpartido qualquer, por mais elevado que sejaoposto que ahi oecupem, abstrahem dospontos cardeaes da crença commum, e ossacrificam a momentâneos interesses pro-prios, sobra razão a seus companheiros deviagem, não só para cassar-lhes an creden-ciaes, senão também para não guardar-lhesconsideração alguma, sempre que se tratarde assumpto que entenda com o presente,ou com o futuro, do mesmo partido, pormais, entretanto, que se esforcem elles porasseverar que continuam a pertencer-lhe;visto como é pelos actos, e não pelas pala-vras, que os homens devem ser aquilatados.

Isto posto, é sem o mininio fundamentoque, por se ter, em época próxima ou remo-ta, alistado nas fileiras do partido liberal,cujo órgão n'esta provincia nos glorificamosde ser, nutro porventura alguém a estultapretenção de coagir-nos a jamais permittirque lhe censurem desvios demonstrativosda disposição que sobra-lhe para abando-nal-as, na occasião exactamente em que suacriminosa e injustificável intenção altamen-te revela-se por mais de um facto significa-tivo.

Os liberaes bem procederão conservandopara com todos quantos, tendo communga-do comsigo, houverem a desventura de iremmilitar sôb outra bandeira, a estima pessoalque soem votar-se cavalheiros que ee pre-zam, e sabem respeitar as boas praticas emvigor nas sociedades civilisadas.

Mentirão, porém, ásua missão, deixarãoaté de comprehender o papel que' lhes estáreservado na quadra difficil que atravessa-mos, se exagerarem tal estima ao ponto desacrificarem-lhe a sorte da grande causa,cujos paladinos são.

E sacrifical-a-hão por sem duvida, se, pormal entendida condescendenoia, consenti-rem que, ainda com os créditos de alliadosseus, estejam alguns cidadãos a prestar re-levantissimos serviços aos adversários, e aauferir d'estes todo o proveito possivel, nomomento precisamente em que tragam atéás fezes o calix da amargura os martyres dequem se dizem amigos ; porquanto, comoaliás tem suecedido em mais de uma con-junetura, das palavras d'aquelles, de seubem-estar, de sua condueta, os dominadoresdo dia tirarão argumento para procuraremconvencer que apartam-se da verdade os quelhes censuram as demasias.

Sc procedêssemos de modo diverso, redu-ziramos o no3so partido á misera situaçãod'esses' conjunetos hibridos, onderende-soculto e adoração a quem quer que os orga-nisa ou dirige, e onde o pensamento do che-fe, não raro inspirado por conveniências me-ramente pesaoaes, é soberanamente im-posto ao grupo que o segue, som discussãonem exame, do mesmo modo que ao i_usi.il-mano dictam-se os preceitos do alcorão.

Fique, portanto, assentado de uma vezpara sempre, que, nos arraiaes da democra-cia, os que povoam-no não se curvam senãoante o estandarte que ahi fluctua,e que este,e somente este, será capaz de nobilitar aquem quer que o erga, ou que á sua sombrase acolha.. Bom uno de influencia ont-ciai—Estão as'cousas por tal modo trans-formadas, assoberbam tanto as paixões fac-ciosas, que poucas são as comarcas do inte-rior, onde os sacerdetes da justiça se não te-nham convertido em agentes do executivo,ou, o que ainda é peior, em instrumentos demandões de aldeia, ante quem curvam aserviz com subserviência igual a do vassallopara com o suzerano, ou do criado para como amo.

Na exeepção, a qiie acima allttdimos, com-prehende-se felizmente a comarca de PáotVAlhOj cujo juiz de direito é o Sr. Dr. Vi-cento Ferreira Gomes.

S. S. limita-se ao exercício da vara, quoacertadamente lhe foi confiada, sem que donenhum modo procure intervir nas questõesque, alheias á sua judicatttra, agitam-se nolugar.

Graças a semelhante procedimento, obom magistrado, respeitando-se devidamen-te, ha conquistado a estima e consideraçãode todos áquelles que se acham sôb sua ju-risdicção.

E' prova inconcussa de estarem os habi-tantes de Páo d"Alho animados d'aquellessentimentos para com o Sr. Dr. FerreiraGomes a facilidade com que este consegiioque, ao celebrar-se alli, n'este anno, a festada Senhora das Dores, fossem" alforriados 18escravos.

De feito, para que da misera condição emque estavam passassem para a de pessoas

áquelles entes, bastou que n'uma circularponderasse o Sr. Dr. Ferreira Gomes aosseus comareões que, contribuindo para umsemelhante acontecimento, renderiam ellesmais significativhinente dojqr.e por qualqueroutro meio á mãi do Bedemptor do gênero,humano o culto a que Ella tem indisputáveldireito.

E acolheram tão bem o brado de S. S. emfavor doB infelize,-* captivos, que apenas paraa libertação de quatro d'estes houve necessi-dade de recorrer-se a uma subscripçao; por-quanto a dos demais foi gratuitamente con-cedida pelos respectivos senhores.

4_*iias*iiiauto.—Em dias da semanapassada Thomaz Alves de Magalhães ma-tou, no quartel das Cinco-pontas, a AvelinoMathias de Salles.

O assassino estava cumprindo sentençapor crime militar, que anteriormente com-mettôra.

O assassinado ia ser julgado por delictoidêntico. -'

Odiavam-se desde muito, e tinham-se ju-rado reciprocamente extermínio; mas, porse acharem em prisões diversas, não tinhampodido realisar a malévola intenção.

Necessidades do serviço foram causa paraque Mathias de Salles passasse para o xadrezem que se achava Alves de Magalhães, que,apenas o avistou, apressou-se em tirar de-baixo de um colchão uma faca de ponta, eembebeu-a no ventre do seu adversário, oqual instantaneamente expirou.

O facto foi testemunhado por diversaspraças do 2.- batalhão de infantaria de li-nha; e o desgraçado, que praticou-o, nadademorar-se-ha em responder por elleperan-te o tribunal competente.

• O miserável empeiorou por demais a suasorte: dentro em pouco estará sôb a pres-são de duas condemnações.

Oainelleira.—Sôb data de li docorrente, communicam-nos d'alli que, a 9,Antônio Fructuoso travou disputa com JoséParaguay na venda de Manoel Lourenço daSilva, inspector de quarteirão, e descarregoutremenda bofetada no contendor ;—que, ha-vendo aquelle agente policial intervindo naluta, prendeu ao offensor, a quem espancou;—que, finalmente, este retribuio afinem aocobredito inspector, e, depois de massal-o,pôz-se ao fresco.

Nada sorprendeu ao nosso informante oultimo acto da comedia; pois que entendeque não pôde Manoel Lourenço da Silva serrespeitado--per--nenhum dos habitantes dorespectivo quarteirão, desde que faz de suacasa o deposito das facas e pistolas de qnan-to,*?, tra_endo-as, vão á feira nos dias de sab-bado.

ÍRANSCEIPCÕES

A guerra da IndependênciahcHpaiihola

As nações que esquecem os dias de seussacrifícios e os nomes de seus martyres nãomerecem o inapreciavel bem de sua inde-pendência. Ter pátria é a primeira necessi-dade dos povos, porque a tert*a é o primeiroespaço onde se desenvolve a vida. Os po-vos carecem de i.m canto ontle agasalhar oberço de seus filhos, onde construir o lar desua familia, ondo depositar os ossos de seuspães. O espirito une-se fortemente á terraque recolheu as lagrimas, quo lhe presenciouos amores, que fôrma parte da sua próprianatureza, porque entre o espirito e a terrade que ó filho ha uma harmonia mysteriosa,como entre o corpo e a alma.

Não é possivel, porém, reduzir a pátria áestreita terra de nosso berço. E pouco a pott-co, os horisontes da vida dilatam-se; a com-munidade de origem e de destino une mui-tas famílias; os rios, as montanhas, as cos-tas formam lares maiores do que o lar doindividuo; o sangue vertido em defeza deuma mesma causa, as ãffinidades de raça, asrecordações históricas, a linguagem, as ar-tes, vêem a ser os gráos de vida desse espi-rito superior, que se chama nação, e quetem uma realidade tão concreta como a re-alidade do. individuo, e é uma das determi-nações, das maneiras de ser da humanidadeque enche toda a terra.

Quem não reconhecerá esta formosa na-cionalidade que se chama Hespanha ? Es-tendida entre os cimos dos Pyrineos e oOceano ; guardada por dous mares; a estrel-la dos phenicios, os campos Elyseos dos ro-manos, o Éden dos árabes; cada povo dei-xou no solo delia um monumento; cada raçaum rasgo de seu espirito; e toda a sua vidaé uma luz inextinguivel na humana historia.A Hespanha foi o eldorado da antigüidade.Quando apparece na scena da civilisação, o

ouro e a prata de suas ricas minas trocamas relaçõos mercantis do mundo.

Em «suas costas meridionaes encontraramos gregos o loendro e o myrtho dos seus ri-dentes deuses, e nas cristas de suas monta-nhas do norte encontraram os celtas as ma-deiras e as' pedras para levantar os templosas suas sanguentas divindades.

Dous séculos consumio a Boma aristocra- .tica em dominar a Hespanha, dous séculos,em que a fizemos tremer' cem vezes com Vi-riato, com Numancia, com Sertorio, comos vascos e os astures.

Quando veio o império, a Hespanha foimaior por suas idéas do que Boma pelassuas armas.

O primeiro entre os imperadores, Trajano,foi hespanhol; o primeiro entre os poetas,Lucano, hespanhol; o primeiro entre os phi-losophos, tfeheca, hespanhol; o primeiro en-tre os didacticos, Columela, hespanhol; oprimeiro entre os satyricos, Marcial, hespa-nhol; de sorte que, dominada a Hespanhapela força, foi dominadora pela intelligen-cia.

Na historia moderna, se supprimirem-lhea vida, supprimem a civilisação. Ella unio,primeiro que nenhum outro povo, o espiritosocial dos latinos com o espirito individua-lista dos germanos, em seus códigos e na suaigreja; venceu em Covadonga e em Calata-nasor os árabes vencedores do mundo, e des-vaneceu, entre o clamor das brenhas deBoncesvalles, o sonho reaccionario do novoimpério romano de Carlos Magno: conteveos almoravides e os almohades quando se le-vantavam nas azas da guerra, como as areiasdo deserto nas azas do simoun, para apagara civilisação christã; herdou o destino doimpério nos campos de Itália, quando sequebrou o sceptro cesareo nas mãos do ul-timo martyr da casa de Suavia, e no Bos-phoro susteve e fortificou em seus derradei-ros dias o vacillante império bisantino ; desuas costas luzitanas sahiram as naves quejuntaram a índia, o berço da humanidade,á Europa, e de suas costas andaluzas as na-ves que, lançando-se ao inexplorado Atlan-tico, descobriram a terra do futuro, a Ame-rica; sem Lepanto, o Mediterrâneo seria umlago dos serralhos do turco; e sem Boilen, oDous de Maio e Saragoça, a Europa inteirao pedestal de Napoleão, a herança de seusdescendentes, ou, como a antiga. Boma, agran prostituta dos novos césares.

A recordação mais popular, a epopéa maisviva de nossas glorias é, sem duvida algu-ma, a guerra da independência. A ella estáunido o nascimento da nova arte que se ins-pira na liberdade ; unido o nascimento donovo direito, que se encerra no código im-mortal de 1812; unido o nascimento do no-vo povo que, depois de tres séculos de es-cravidão, quando o mundo julgava-o inve-lhecido, como escravo, tem a primeira dasvirtudes, a virtude dos heróes, e alcança aprimeira das glorias, a gloria dos marty-,res.

Assim como é mister subir á Illiada paraencontrar um poema como o nosso Boman-cero, e á Athenas para encontrar nm thea-tro como o nosso theatro, é mister subir ásThermopilas, á Salamina, á Platéa, paraencontrar datas, lugares, que sejam, na me-moria humana, tão sagrados como Saragoça,como Gerona, como Dous de Maio, comoBoilen, e Talavera e Victoria.

Nestes campos, fresco o sangue, fumegan-te o incêndio, as armas despedaçadas e dis-seminadas, insepultos os ossos, vivos os si-gnaes do sscrificio, o primeiro poeta do se-culo, o gênio da negação, que arrastravapela Europa a sua mente desolada como umdeserto, o seu coração cheio do dôr comoum mar tempestuoso, encontrou o ardor queo levara a pelejar e morrer pela Grécia, apátria de seu espirito, coroando assim umavida de duvidas e de vicios como a sagradachamma da fé.

A nossa guerra da independência foi ta-manha, que nella, pela primeira vez, encon-trou-se Napoleão frente á frente com umprincipio, superior ao seu principio, e cmluta com um povo. Por isso aqui, na Hes-panha, devia apagar-se-lhe na fronte a men-tida aureola da idéa revolucionaria.

Emquanto batalhou com os antigos reisdo direito divino foi sempre vencedor. Aidéa que movia suas legiões, mui superior aidéa das legiões contrarias, era um soprolethal para os reis da velha Europa. O di-reito divino cahia ao fio daquella espadaque, ao mesmo tempo, despedia as chispasdas idéas revolucionárias. Os reis absolutosfugiam como os phantasmas de um sonho.

Quando, porém, a invencivel espada queos puzera em fuga encontrou o peito de umpovo, teve de embotar-se.

E diz-se que aquelle homem parecia o ge-nio das batalhas e da guerra. Nem César,

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Page 4: ORGAO DO PARTIDO LIBERALmemoria.bn.br/pdf/128066/per128066_1872_00022.pdf · ta da soberania, o fundamento huma-no, com o fundamento divino do po-der, ou em outros termos o poder

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^em Alexandre, levaram vantagem á Napo-leão como guerreiro.',!. *¦

Alexandre foi o gênio guerreiro dos diasda mocidade do mundo.

César foi o gênio, guerreiro dos dias damadureza do mundo.

Napoleãb foi o gênio guerreiro em toda aplenitude de sua vida: a conjuncção da mo-cidade, da déa revolucionaria, que lhe ins-pirou alguma cousa da eloqüência de Ale-xandre, com a madureza de nossa civilisa-ção, que lhe inspirou alguma cousa da gran-de tactica de César. _ ;

0. que não teve nunca foi consciência tãoclara de sua idéa como Alexandre, nem ge-nio politico tão universal e humano comoCésar. Delle pode-se dizer melhor que denenhum outro homem que foi o instrumentoda Providencia, a espada de uma idéa, oaçoite da Europa antiga.'E

quando essa Europa desappareceu,cumprido o seu destino, bateu de encontroa um rochedo, arrojado alli pelo grande ar-tifice da hisioria, como um cinzel gasto einútil.

No fim de contas, os povos não existiam,e em seu lugar encíiia o mundo o «eu» dosreis. Eu contra eu ; egoísmo contra egois-mo; personalidade contra personalidade :devia vencer a personalidade revolucionaria,devia vencer Napoleão.

Nascido, como os antigos deuses guerrei-ros, no seio de uma grande tempestade;creado ao ruído das gloriosas batalhas repu-blicanas; chegando á vida publica, quandoa voz dos oradores abafava-se entre o ruidodas armas, e o ódio da Europa absolutistaobrigava a França a armar-se até os dentes;inventor de uma tactica que tinha algumacousa do movimento e da impetuosidade re-volucionaria, e cujo segredo consistia napromptidão com que, em um ponto,_concen-trava maiores forças do que o inimigo, em-bora as suas fossem escassas; filho do povoe conhecedor das prendas e das qualidadesque aos povos deslumbram; o primeiro dossoldados, e em sua virtude o mais idôneopara arrastar após si os exércitos como es-cravos; dotado o seu pensamento da arith-metica militar, e seus olhos de rara mira ;conjuncto admirável do gênio de sua raça ;Mario ante a convenção; Carlos Magno nothrono ; Annibal nos Alpes; César na Ita-lia; Germânico na Allemanha; Alexandreno Egypto: dous mundos renderam-se aseus pés, duas idéas combateram sobre asua fronte; o suffragio universal acclamou-o,e o papa ungio-o; a tradicção deu-lhe o seuprestigio e o século a sua força; a classemédia, seus cálculos e o povo suas paixões;a monarchia sua autoridade e a democraciasua igualdade; e por isso, no crepúsculo dosnossos tempos, na penumbra dos séculos,apparece como se nelle houvera dous ho-mens ; firma a concórdia e prende o pontifi-ce; forja cadeias e difunde liberdade ; expul-sa dynastias e coroa reis; afoga a revoluçãosob os pés e espalha-as com as mãos; fazcallar os ideólogos e propaga todas as idéas;e com a virtude de sua palavra concisa co-mo a voz do mundo ; e com a severidade deseu pensamento luminoso como um relam-pago ; e até com a sua aptidão heróica, queé já por si só o império sobre as suas legiões,concentra em seu gênio o gênio de um gran-de povo; na sua mão a força de um grandeexercito; e parece qáe o enche todo, queelle vae ser o unico homem livre da Europa;que na sua alma está fixa a idéa do século,cuja luz precede-o como a estrella de suasviagens, e de suas mãos está suspensa a sor-te dó mundo, cujo espirito lhe obedece comoo cahos obedeceu a palavra de Deus.

Vão reproduzir-se' os tempos bárbaros deCyro, de Xerxes, de Oambyses ? Vae umhomem só personificar toda a humanidade ?Vae ser um homem só, depois da revolução,o arbitro da Europa ? Está nelle a historiado progresso, a monarchia e a democracia,o passado e o futuro ? O espirito humano,,esse mar immenso, cambeará o limite quelhe trace o sabre de um guerreiro ?

O certo é que nenhum dos velhos poderesda Europa, nenhum poude não só vencel-o,nem se quer contrastal-o. O imperador daÁustria foi vencido em Austerlitz; o rei daPrússia em Jena; o czar da Eussia forçadoa uma alliança em Tilsitt; a aristocraciaveneziana, afundada como os restos de umanáo desarvorada e naufragada nas costas doAdriático; a aristocracia ingleza, burlada,nos mares ; o papa, preso; o rei de Nápoles,desthronado; a Itatia, refeita; o mappa eu-ropeu convertido em um taboleiro de xadrez,sobre o qual andavam, como as peças dojogo, as coroas, movidas pela mão de Napo-leão; os sargentos convertidos em reis, e osreis em cortezãos do plebeu César; os velhos,poderes, as velhas aristocracias são contraelle impotentes.

Quem poderá oppor contraste a tamanha

poder ? Um povo. Onde está esse povo ? NoHespanha.

Tres séculos de absolutismo não poderãodebilitar-nos o caracter. Cada poeta é umTirteo, cada orador um Bruto, cada aldeiauma nova Numancia, cada desíilladeiro umaThermophila, cada soldado um Viriato ; oscampos são acampamentos ; as casas, forta-lezas ; os hespanhóes, soldados ; o ferroconverte-se em armas, as arvores em chu-ços; das brenhas baixam os guerreiros co-mo águias; as mulheres nutrem gênio guer-reiro nas almas : as mães amamentam seuspequenitos no ódio ao estrangeiro ; a terramove-se por si só com grande estremeci-mento para arrojar de seu seio o conquista-der; e a Hespanha inteira, mais feliz doque a escrava Allemanha, e do qué a aristo-cratica Polônia, não será vencida; porque naHespanha ha o unico que ficou de pé sobreas nossas ruiuas, o unico que poude preser-var-se do cancro do absolutismo, um povo,e nas veias de um povo é inesgotável o san-

a guerra da independência, ainda assim se-rias chamada sempre a redemptora das na-ções!

Emílio Castellar.

gueQue epopéa que é a guerra da indepen-

dencia !Se temos de olvidal-a, percamos mil vezes

antes a memória !Mas como seria possível, quando a ella

unimos os nomes de nossos primeiros poe-tas, e os acentos de nossos mais formososcânticos ? quando delia surgio a nossa li-berdade, e o código immortal de 1812 ? quan-do por ella sabe a Europa que a nossa na-cionalidade não pôde morrer ? Será impôs-sivel olvidarmos o Dous de Maio, os murosde Saragoça e de Gerona, os campos sagra-dos, onde brotou ds novo a pátria ; as mara-vilhas da guerra da independência.

Quantas vezes, nos longos serões de in-verno, ao calor do fogo, temos colhido nar-rativas da guerra dos lábios de nossos avós,e nos tem parecido ouvir nas lufadas do ven-to a voz dos martyres que excitavam-nos aimitar-lhes o exemplo, se alguma vez perigara independência de nossa pátria l Sobreaquelles mares de sangue, sobre aquellesmontões de ossos, sobre a ara de tão gran-des sacrifícios, está fundada a nossa nacio-nalidade.

Os povos todos da Europa, vexftdos, op-pressos, assombrados; depois de terem vis-to entrar nas suas capitães os soldados fran-cezes, virão o exemplo na Hespanha, e emnossa guerra aprenderão o modo de ferir ocolosso.

Não se o podia desarmar nem-com os an-tigos generaes, nem com a tactica antiga;era mister invocar uma nova idéa como. ti-nha-a invocado a Hespanha, a liberdade;lançar em seu caminho um inimigo formida-vel, os povos.

E, com effeito, ao grito de liberdade, aAllemanha oppoz um novo direito; a Eussiauma pátria ás legiões francezas; e todos osdéspotas, cegos pelo brilho da idéa do séculoinvocarão a liberdade. O colosso cahiu porterra. A pedra que o tinha ferido, foi arre-messada por este David dos povos, que sechama Hespanha.

Por isso os poetas allemães invocavão onome da Hespanha para animar os seusguerreiros; e a Grécia, para pelejar cornosturcos; ea nova Itália para alijar os seusdéspotas; e dos trópicos até o polo, ondequer que haja um povo que peleje pela pa-tria, invocará sempre a recordação do Dousde Maio, e evocará o numen de Saragoça ede Gerona.

A guerra da independência hespanholaserá a norma eterna de todas as guerras daindependência. Com nosco aprenderão apelejar e a vencer os povos.

O próprio gigante que vencemos apresen-tava nossos pães como exemplares dc he-roismo, dignos de ser imitados pelos seussoldados, quando as tropas aluadas encami-nhavão-se para Pariz.

E depois vencido, desarmado, recluso nailha, atado ao seu rochedo, quando de bra-ços cruzados, pendida no peito a cabeça,evocava os seus dias de gloria, e julgava ou-vir o echo de cem tambores e o ruido deseus canhões; e ver passando ante seusolhos'abrazados, as legiões de heróes que ha-via sepultado em todos os campos de bata-lha do mundo, e que o recriminavão por ha-ver' sacrificado uma geração sem egual, paraconsagrar, ao cabo de sua jornada de mor-tes e incêndios, a desmembração de seu im-perio e a própria escravidão em mãos de seuseternos inimigos; n'aquelles momentos so-lemnes a recordação da guerra da Hespanhalevantava-se-lhe na memória, e cingia a es-pinhosa coroa do remorso em sua perturba-

•da consciência.Héróes de Dous de Maio! de Saragoça, de

Gerona, de Boilén, de Talavera, por vossacausa temos pátria!

Ah! pátria! pátria! ainda que só tivessenos teus aiinaes, que hão fatigado a gloria,¦Mffifr-/'- ¦', -'-

¦¦¦¦^èfiM-'¦<¦¦ '¦¦l) ".

©s bons exemplos

Na America do Norte onde a influenciados costumes e educação ingleza preponde-roue foi melhorando a actividade e a iniciati-va individual, graças ao bom senso do povoe á corrente de emigração expontânea atra-bida pelo mérito das instituições e da con-scienciá e amor do trabalho fazendo a ver-dadeira independência do homem e do cida-dão, creando bom ijuccrno e administração,nlíosão outros senão : a instrucção publica me-thodica e amplamente diffundida, as vias decommunicação vastamente emprehendidas erealisadas, e as- escolas industriaes e agrico-Ias creadas com verdadeira praticabilidade eproveito no ensino.

E tudo isso é tentado e commettido pelainiciativa individual e de associação, que vaisempre adiante da iniciativa governamen-tal, e provoca è determina esta.

Mas a razão determinante desse movimen-to está nos costumes e na educação das di-versas classes da sociedade excluindo na ac-tividade ou na acção dos agentes o privile-gio de raças ou de castas, e fazendo do tra-balho individual e mechanico, que não hu-milha alli e antes exalta o cidadão, a armaformidável da liberdade e independência docidadão.

Não se habilitou aquellè povo desde o co-meço de sua nacionalidade a esperar tudo.do governo ou da acção official, mas educou-se e preparou-se pela tradição e pelo exern-pio a impor a iniciativa official pelo exerci-cio do verdadeiro principio de actividade eda soberania do povo.

A educação, a tradição e a instrucção bra-sileira são mui diversas. O exemplo ou a li-ção das cousas não entra absolutamente com-putada no movimento social do Brazil, co-mo entra e faz trabalho nos Estados-Unidos,na Inglaterra e na Allemanha, apezar mes-mo do predomínio authocratico suppostointroduzido nas instituições allemães, quealiás entendem ou pensam ser a base subs-tancial de seu desenvolvimento a bóa* ins-trucção do povo !

Nós herdamos diversos exemplos, hábitose incentivos para a liberdade e independeu-cia do homem e do cidadão, do que os herda-ram os povos da America do Norte.

D'ahi a causa, que se não destróe do mojjmento, de não poderem as escolas indus-triaes, agrícolas e de pura instrucção, e asemprezas também industriaes e de viaçãonascerem e desenvolverem-se no Brazil pelainiciativa individual ou de associação.

D'ahi também a necessidade de crearemos poderes públicos geraos ou pròvinciaes asescolas agrícolas e outras emprezas interes-saudo á industria e a substituição do traba-lho da rotina por trabalho consciente, no re-sultado do qual entre em muito o aproveita-mento do tempo e honra, íi feita a activida-de mechanica, na creação levando em Miradestacar bem que a creação de taes empre-zas é de futuro prospero e de efficaz melho-ramento e progresso das finanças ou da eco-nomia domestica e social.

Quando disso se convencerem os poderespúblicos hão de pôr necessariamente os fun-damentos práticos para a descentralisaçãoadministrativa e governamental, estimulah-do a iniciativa individual; e poder-se-ha en-tão affirmar com faetos e cifras, que se en-trou n'um periodo de proveitosa propagandaradical, e de prospera progressão econômicaou financeira, como está acontecendo nosEstados-Unidos da America.

PUBLICAÇÕES SOLICITADAS

União ilo NorteSob esta denominação acabam de ser lan-

çadas as bases d'uma associação histórico-litteraria, que, mui proveitosos serviços po-dera prestar ás províncias do norte, as quaesabsortas na contemplação do brilhantismoquadro de sua grandeza no passado, conser-vam-se inactivas, sem oppor um dique á tor-rente devastadora, que, vindo do sul, amea-ça em sua passagem derrubar os monumen-tos de seu heroísmo, os pedestaes dc seusmartyres, c apagar as inscripções dos tumu-los do seus poetas.

Quando esses monumentos, pedestaes, einscripções desapparecossem, quando, nãorestasse uma sá relíquia, uma lembrança,

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uma pedra, onde se encontrasse o sellod'unia gloria, das que tão nobremente jásoubemos conquistar, quer com a espadabatalhando em prol da liberdade, quer coma penna immortalisando o pensamento,quer com a eloqüência da palavra electri-saudo as assembléas, o que ficariamos sen-do, com que títulos poderíamos figurar nacommunhão universal, nos festins da intel-ligoncia ?

Estaríamos moralmente mortos, que umpovo só pode fitar o sol nascente, em quantoa tocha de seu patriotismo não se apaga, emquanto conserva intactas as suas tradições.

No momento, porém, em que assiste debraços cruzados aos funeraes de suas glo-rias e tradições, e, á decapitação de seusbrios, deixa de viver; porque se agita comoo verme, não alça vôos como o Condor.

Succumbe o espirito ao peso da matéria.Que as venerandas riliquias do passado

não se percam, que não nos deixemos asfi-xiar pelos gazes da corrupção histórica e lit-teraria, eis o que todos diziam, sem que ou-sassem tomar sobre os hombròs o trabalho-so, porém gloriosíssimo encargo de empre-hender uma viagem pelos mares da historiae da litteratura, parti recolher de suas pro-fundezas as preciosissimas pérolas, que, jádiademaram este nosso Pernambuco e suasirmãs do norte, e que, a mão da iniqüidadelh'as arrancou, arremessando-as ao pego doesquecimento.

Que essas pérolas serão encontradas, nãoo duvidamos, que a bordo d'essa náo, que,sob o symbolico titulo do—União do Norte,vae siilcaí- aquelles mares, acham-se esperi-mentados navegadores.

A União do Norte, vem preencher uma la-cima, ha muito sentida, e descortinar novoshorisontes á historia e a litteratura.

Até aqui, pouco, ou quasi nada se temfeito, no intuito de mostrar que, sem se que-brarem os laços de solidariedade politica,que, ligam ms províncias do norte ás do sul,devem aquellas oppor seria contestação,a tu-do quanto possa parecer absorpção de glorias.

Eis o nobilÍBsimo fim, que visa ft—-Uniãodo Norte, sob a relação historico-litte-raria : aos partidos militantes incumbe ad-vogar a causa da autonomia das provínciasna ordem politica.

A contestação séria de que falíamos, con-sistirá, em estudar o passado histórico e lit-terario do norte, desenhando ao povo osvultos das sympathicas e heróicas victimasda liberdade, para que elle as veja, cer,çadas,pela aureola luminosa do martyrio; consis-tira em tornar conhecidos os nossos poetas*oradores, jurisconsultos, e, quaesquer ou-tros filhos

' do norte, notáveis em qualquer .

dos ramos da actividade humana.Nada de aggredir o que é do sul, porque é

do sul, que isto seria indigno de brasileiros;porém, demonstrar que nós do norte, temosimmorredouras tradições, que, devem serrespeitadas por todos quanto fazem parted'este immenso todo, que, se chama Brazil;que também sentimos, pensamos, medita-mos, escrevemos, discutimos ; que a intelli-gencia aqui também se expande, crea, pro-duz, illumina; que seus fruetos não sãoagrestes, porém muitissimo saborosos ; queo paladar litterario, o gosto do bello, o cultodo sublime, ainda não os perdemos.

E nem poderíamos perdel-os, que os ma-viosissimos accordes de Barreto, MacielMonteiro, Saldanha, Caneca, Torres Ban-deira, e tantos outros, ainda percorrem oespaço, attestando o que já fomos, o que po-deremos ser.

Que a corte e as províncias do sul zelemas suas tradições, as suas glorias, as suaslettras, e as do norte façam o mesmo ; eis oque nos é pautado pelo amor, que devemosconsagrar á pátria, eis, o que nos ó impostopela fraternidade; mas, que com ares deGuilherme da Prússia queiram as primeirasexercer a conquista, naquillo |que é nossopatrimônio, que nos foi legado pelo passa-do, e que devemos entregar intacto ao futu-ro!... Não!

Si, nisso consentissimos, o que diriam qsnossos filhos ?

Olhar-nos-iani como Jpernambucanos de-generados, se, perguntando pelo logado deseus maiores, respondêssemos : « Doitaraos-nos á dormir e quando acordamos, nol-o ha-viam roubado. »

A União do Norte, surge a tempo de im-pedir que tal cousa aconteça.

Vastíssima é a extensão dos mares, que,tem á percorrer; mas, incalculável a gloriaque resultará dc tão nobre esforço.

Que não haja temporal, que impeça a der?,rota dos valentes palinuros que dirigem'a—União do Norte, e. estarão satisfeitos os ar-dentes Votos do ultimo dos tripolantes daformosa náo. D. A.

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