organização política do estado - os caminhos da democracia

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  • by Ilton Gomes de Ornelas Filho

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Ficha catalogrfica elaborada pela Bibliotecria Sheila M. Carvalho CRB 10/1672

    Todos os direitos autorais reservados a Ilton Gomes de Ornelas Filho. Proibida toda ou qualquer reproduo sem autorizao, por escrito, do autor. (art. 184/ Cdigo Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.)

    27 fls.

    Trabalho de Concluso de Curso (Graduao) Anhanguera Educacional, curso Bacharel em Direito, 2013.

    1. Democracia 2. Veto popular 3. Organizao do estado 4. Participao popular 5. Plebiscito I. Ttulo

    CDD 34

    O74o Ornelas Filho, Ilton Gomes de Organizao Poltica do Estado: Os Caminhos da Democracia./ Ilton Gomes de Ornelas Filho - Pelotas: [S.n.], 2013.

    Orientadora: Maria Amlia Dias da Costa

  • ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A.Faculdade Anhanguera Pelotas/RS

    Curso de Direito

    ILTON GOMES DE ORNELAS FILHO

    ORGANIZAO POLTICA DO ESTADO OS CAMINHOS DADEMOCRACIA

    Pelotas2013

  • ILTON GOMES DE ORNELAS FILHO

    ORGANIZAO POLTICA DO ESTADO OS CAMINHOS DADEMOCRACIA

    Artigo cientfico apresentado, comoexigncia parcial de concluso de curso paraa obteno do grau de Bacharel em Direito,na Faculdade Anhanguera Educacional dePelotas, sob a orientao da Profa. MariaAmlia Dias da Costa.

    Pelotas2013

  • Dedico este trabalho aos meus pais: Ilton Ornelas, o homem

    que me ensinou, na prtica, o significado da palavra democracia, e,

    Naile Ornelas, que nunca mediu esforos para disponibilizar a

    estrutura de minha educao; minha esposa, Carla Amarelle, que

    sempre est ao meu lado, me ajudando, me incentivando, qualquer

    que seja o projeto, por mais luntico e inusitado que seja.

  • 1ORGANIZAO POLTICA DO ESTADO OS CAMINHOS DADEMOCRACIA

    Ilton Gomes de Ornelas Filho1

    1 Bacharelando do Curso de Direito da Faculdade ANHANGUERA de Pelotas.

    RESUMOO presente artigo procura traar uma trajetria histrica do desenvolvimento da organizao

    poltica ao longo dos sculos para, ao cabo, refletir sobre os caminhos tomados pela democraciaatravs dos tempos, questionando a forma de participao dos indivduos nas decises tocantes gesto e organizao do Estado, propondo uma anlise de possibilidades de ampliao das prticasdemocrticas, de forma direta, e do exerccio dos direitos polticos.

    Palavras-Chave: Democracia, Estado, Iniciativa Popular, Organizao do Estado,Participao Popular, Plebiscito, Referendo, Veto Popular.

    SUMRIO1.Introduo. 2.Perodo Clssico e Idade Mdia. 3.Renascena e Idade Moderna. 4.Reflexo

    Sobre a Democracia e Perspectivas Futuras. 5.Concluso. 6.Bibliografia

    1. INTRODUO

    Sempre foi comum a crtica proveniente de uma parcela significativa de nossa

    sociedade em relao atuao dos representantes de nosso Congresso Nacional e

    de nossos governantes. O que se escuta que as pessoas no esto satisfeitas

    com os polticos, que s votam porque obrigatrio, que os parlamentares legislam

    em causa prpria, que so ladres, etc.

    Entretanto, penso que toda essa insatisfao, quando surge tona em forma

    de crtica no construtiva, incua. Sempre considerei que reclamar sem apresentar

    uma soluo ao conflito apenas tempo perdido.

    Com o intuito de buscar formas de entender o processo poltico e obter

    resultados efetivos na resoluo de problemas sociais passei a militar a favor de

    partidos de esquerda, filiando-me e fazendo campanhas acirradas na tentativa de

    eleger candidatos que se acreditava serem comprometidos com a evoluo, com a

    organizao do Estado e com a democracia.

    Aps um perodo de desiluso poltica, passei a refletir sobre possveis

    solues para questes de nossa estrutura estatal.

    Nos primeiros semestres da faculdade de Direito deparei-me com a histria

    da antiguidade, com a democracia ateniense, com as teorias de Plato, com o

  • 2estudo da Cincia Poltica e, assimilando aquelas ideias, passei a analisar modos de

    suas aplicaes na prtica contempornea, principalmente no tocante

    reformulao da forma de atuao do cidado brasileiro frente s decises da coisa

    pblica, de forma a ampliar a soberania popular e os direitos fundamentais j

    consagrados em nossa legislao.

    O presente artigo procura mesclar o mtodo histrico com o dedutivo,

    recordando fatos notrios em tempos passados e traando a evoluo do tema

    abordado, observando-se cuidadosamente as nuances de nossa estrutura poltica

    atravs dos tempos, e, com intuio cientfica, sugerindo proposies passveis de

    aplicao.

    No primeiro captulo se faz uma incurso pelos principais momentos histricos

    considerados definitivos para o desenvolvimento do pensamento poltico, ocorridos

    desde a Antiguidade at o fim da Idade Mdia.

    No segundo captulo seguimos enveredando-nos pela histria, passeando

    pela Renascena e pela Idade Moderna, destacando fatos considerados marcos da

    organizao poltica e da evoluo do pensamento humano, que interessam na

    confeco deste artigo.

    No ltimo captulo prope-se uma reflexo sobre a democracia, sobre o

    exerccio dos direitos polticos e, numa perspectiva futura, cogita-se a ampliao da

    aplicao da democracia direta.

    2. PERODO CLSSICO E IDADE MDIA

    O ponto de partida de nosso breve percurso ao passado a Grcia Antiga,

    bero da cultura ocidental.

    Como lembra Paulo BONAVIDES (2000, p. 346), toda a cidade que se

    orgulhava do sistema democrtico2 na Grcia Antiga, a partir de 450 a.C., mantinha

    uma gora, uma praa onde os cidados se reuniam para o exerccio direto do

    poder poltico, exercendo o papel do parlamento nos tempos modernos.

    [...] l, os cidados reunidos em Assembleias popularesdeliberavam sobre assuntos do governo, declaravam a guerra,estabeleciam a paz, escolhiam magistrados, funcionrios pblicos e atjulgavam determinados crimes [...]. (ROCHA, 2005, P. 01).

    2 Aqui referindo-se boa democracia, ou seja, a Politeia

  • 3Todavia, cumpre salientar que, no estado grego, a participao nas decises,

    conforme ensina DALLARI, Dalmo de Abreu (2010, P.64), no era privilgio de todos

    os indivduos gregos; os cidados eram uma pequena parcela da populao de

    Atenas que gozava de prerrogativas polticas. A classe poltica era composta por

    esse restrito grupo, elite ateniense, que tinha intensa participao nos debates a

    respeito da governana.

    Fato curioso da democracia ateniense o critrio, estabelecido por Slon, um

    dos sete sbios da Grcia antiga, da escolha por sorteio para nomear senadores,

    juzes e todos os cargos militares. Segundo MONTESQUIEU, (2000, p. 22), para

    aperfeioar o sistema de escolha mediante sorteio estabeleceu-se que s poderiam

    ser eleitos aqueles que se apresentassem e permitissem ser examinados por Juzes.

    Outra medida foi a de que qualquer um poderia acusar o indivduo de ser indigno.

    Assim, conforme MONTESQUIEU, a designao aos cargos apresentava algo

    de escolha e de sorteio.

    Acompanhe a exposio abaixo sobre o tema:Quando as revolues suprimiram a realeza por toda parte, os

    homens pareciam procurar, para suprir ao nascimento, um modo de eleioque os deuses no pudessem desaprovar. Os atenienses, como muitosdos povos gregos, no viram melhor meio que a escolha por sorteio. Masimporta que no se faa ideia falsa a respeito desse processo, que setransformou em motivo de acusao para a democracia ateniense, e paraisso necessrio que penetremos no pensamento dos antigos. Para eles osorteio no era acaso: era a revelao da vontade divina. (COULANGES,1961, p. 283).

    No sculo IV A.C., apogeu da civilizao grega, surgiria a obra prima de

    Plato, o filsofo das ideias, por muitos considerado o maior pensador da

    antiguidade. A Repblica um dilogo que, em sua poca, propunha a constituio

    de uma comunidade ideal governada por filsofos, o chamado governo dos sbios

    (sofocracia), a primeira das utopias. Mas, afinal, para Plato, o que constitui um

    filsofo? Bertrand RUSSELL (1969, v. I p.140) trata de propor algumas respostas,

    afirmando que, na Repblica, o conceito de filsofo, em um primeiro momento, est

    ligado etimologia da palavra, um amante da sabedoria, mas vai alm, define o

    sbio como um homem que ama a viso da verdade, aquele que conhece a beleza

    absoluta.

    No stimo livro de A Repblica, PLATO (2001, p.315), nos brinda com a

    famosa alegoria da caverna, texto de capital importncia para entender quem o

    sbio; os destitudos de filosofia so comparados a prisioneiros em uma habitao

  • 4subterrnea que ali se encontram desde a infncia, algemados pelas pernas e

    pescoo, de tal forma que s podem olhar para uma parede. Uma fogueira ao longe,

    queimando por detrs deles, projeta sombras de objetos e pessoas na tal parede.

    Os encarcerados, inevitavelmente, consideram que as projees de luz e sombras

    que enxergam so a realidade. Mas, algum consegue libertar-se dos grilhes e

    foge da caverna podendo ver a luz do sol e as coisas como realmente so,

    conquistando a ascenso da alma ao mundo inteligvel. Por fim, Plato cogita a

    dificuldade que teria o desagrilhoado quando retornasse caverna para instruir seus

    ex-companheiros de priso quanto verdade. O sbio seria considerado um tolo!

    A Repblica traz vrias passagens interessantes, com analogias curiosas,

    comparando situaes hipotticas com questes sobre os sistemas polticos da

    poca. Como exemplo, cita-se um dilogo onde PLATO (2001, p.272) prope uma

    metfora que se passa a bordo de um navio. O comandante, superior em tamanho e

    fora fsica, mas um pouco surdo e mope, possui, em termos de navegao,

    conhecimentos to curtos como a sua vista. Os marinheiros disputam o leme entre si

    e cada um julga que tem direito a ele, apesar de no conhecer a arte e nem poder

    dizer com que mestre nem quando a aprendeu. Alm disso, no a consideram uma

    arte passvel de ser aprendida e, se algum ousa dizer o contrrio, esto prontos a

    faz-lo em pedaos. Atormentam o comandante com os seus pedidos e se valem de

    todos os meios para que ele lhes confie o leme; e se, porventura, no conseguem

    convenc-lo e outros o conseguem, matam e lanam uns aos outros ao mar.

    Manipulavam o comandante, entorpecendo-o com mandrgora3, embriagando-o, ou

    de qualquer outra forma, senhores do navio apropriam-se ento de tudo a que nele

    existe e, bebendo e festejando, navegando como podem navegar tais indivduos.

    Alm disso, consideram bons marinheiros, mestres na arte nutica, aqueles que os

    ajudam a assumir o comando, usando de persuaso ou de violncia em relao ao

    comandante, e reputam intil quem quer que no os ajude. Por outro lado, nem

    sequer suspeitam de que devem estudar o tempo, as estaes do ano, o cu, os

    astros, os ventos, se quiserem, de fato, tornar-se capazes de dirigir um navio. No

    pensam que seja possvel aprender a arte da pilotagem pelo estudo ou pela prtica.

    Plato sugere que no navio onde acontece tal situao o verdadeiro piloto ser

    3 Planta desse gnero, particularmente a espcie Mandragora officinalis, na Antiguidade muito empregada porsuas supostas propriedades entorpecentes, afrodisacas e em feitiaria.

  • 5tratado pelos marinheiros de indivduo intil, interessado apenas em observar as

    estrelas.

    J a doutrina de Aristteles, segundo RUSSELL (1969, v. I p.219), pregava

    que governo bom o que prev o bem de toda a comunidade; mau, quando se

    ocupa apenas de si prprio; governos bons e maus se definem pelas qualidades

    ticas, e no pela forma da constituio, e o melhor governo para uma cidade

    dependeria de suas caractersticas. As formas de governo seriam divididas em seis:

    trs boas e trs ms. As boas seriam a monarquia, a aristocracia e o governo

    constitucional (Politeia); as ms: a tirania, a oligarquia e a democracia. Aristteles

    dava a entender que a Politeia, misto entre oligarquia e democracia, seria o melhor

    dos regimes alcanveis.

    Conforme ensina John GILISSEN (2003, P. 77), a estrutura de Governo para

    Aristteles se dava sob trs formas de acordo com as atividades exercidas: o poder

    deliberativo, que compete a uma assembleia, se assemelhando ao nosso legislativo;

    o poder de magistraturas governamentais, a que ns chamaramos de executivo

    (com a funo de recrutar e organizar as funes pblicas); e o poder judicial. Esta

    anlise visionria que mais tarde influenciou as ideias de Montesquieu e Locke na

    criao das doutrinas de separao de poderes.

    Outra civilizao antiga que exerceu grandes influncias no Direito e na

    estrutura poltica de nossa sociedade foi Roma. De acordo com Jos CRETELLA

    JUNIOR (1973, p.40), no primeiro perodo romano, a Realeza, a organizao poltica

    era composta por poderes pblicos que se subdividiam em trs elementos, o rei, o

    senado e povo.

    O rei, um soberano vitalcio, era um chefe militar, religioso e judicirio. Seu

    poder era absoluto, embora limitado pelos do senado e do povo.

    O senado era um grupo formado por patrcios4 nomeados pelo rei que os

    consultava nos casos mais graves. O senado ratificava a lei votada pelo povo

    proposta pelo rei.

    O povo, composto por patrcios, reunia-se em assembleias (comcios), num

    recanto do frum5 denominado comitium6, ocasio onde votavam nas leis propostas

    pelo rei.

    4 Cada famlia era subordinada autoridade de um chefe, o Pater Famlias, os paters e seus descendentesformavam a classe dos Patrcios que compunham exclusivamente o Povo.

  • 6Como conta CRETELLA JUNIOR (1973, p.47-50), no segundo perodo

    romano (A Repblica), notavam-se algumas diferenas na organizao poltica: O rei

    foi substitudo por dois magistrados patrcios, os cnsules, eleitos por um ano, e

    mantinham os mesmos poderes do rei, mas, perderam o poder religioso, que foi

    atribudo ao Rex Sacrorum; O senado ganhou mais importncia, nomeados pelos

    cnsules e depois pelos censores, mantiveram a funo consultiva.

    Os plebeus, aps uma greve de grandes propores, depois de duzentos

    anos de luta por seus direitos na repblica, passaram a integrar o povo junto aos

    patrcios. Foi criado o tribuno da plebe; a partir da patrcios e plebeus se reuniam

    em comcios curiatos e centuriatos. Alm disso, h uma nova espcie de comcio, os

    comcios tributos.

    Surgia tambm o plebiscito, um conselho formado exclusivamente pela plebe,

    onde deliberavam em assembleias especficas, os concilia plebis, frente proposta

    de um magistrado plebeu.

    Eis algumas consideraes sobre as funes polticas na repblica romana:A confuso da autoridade poltica e do sacerdcio na mesma pessoa

    no cessou com a realeza. A revoluo, que estabeleceu o regimerepublicano, no dividiu funes cuja unio parecia muito natural, econstitua ento lei fundamental da sociedade humana. O magistrado quesubstituiu o rei foi, como ele, sacerdote e chefe poltico simultaneamente[...]. Quando examinamos com um pouco de ateno o carter domagistrado entre os antigos, vemos como se assemelha pouco aos chefesde Estado das sociedades modernas. Sacerdcio, justia e comandoconfundem-se em uma s pessoa. O magistrado representa a cidade, que tanto uma associao religiosa quanto poltica. Tem nas suas mos osauspcios, os ritos, as preces, a proteo dos deuses. O cnsul algo maisque um homem; o intermedirio entre o homem e a divindade.(COULANGES, 1961, p. 280-282).

    Conforme Antnio Campos RIBEIRO (2007, P.02), para os romanos, o juiz

    no era um magistrado de carreira, no era especializado, muitas vezes eram as

    mesmas pessoas que exerciam tambm atividades polticas. No havia em Roma

    separao de poderes polticos e judicirios. Os magistrados eram particulares

    encarregados da misso de julgar um caso determinado. Este julgador era escolhido

    em listas onde, por razes histricas, figuravam apenas senadores. Os rbitros no

    5 O Frum Romano era um ncleo arquitetnico que servia de centro da vida poltica, comercial e judicial daRoma antiga.6 Na realeza, conforme CRETELLA JUNIOR (1973, p.42-43), os comcios eram integrados pelos patrcios naidade de servio militar, chamavam de comcios curiatos. A lei, proposta pelo rex, era votada pelo populus, quevota por crias. As leis, assim votadas, recebem o nome de leges curiatae. Aps reforma poltica, aqueles

  • 7poderiam ser escolhidos seno entre patrcios. Assim, nesta fase, os prprios

    litigantes escolhiam o julgador na lista dos senadores e, se eles acordavam, outros

    procedimentos poderiam ser utilizados, por exemplo, recorrer-se ao sorteio. O

    julgador escolhido pelas partes era investido pelo magistrado.

    Nestas regras, percebem-se, facilmente semelhanas entre justia pblica e

    da antiga justia arbitral. O juiz romano era um rbitro legal.

    Seguindo o estudo da obra de CRETELLA JUNIOR (1973, p.56), no terceiro

    perodo romano, o Alto Imprio, os magistrados foram substitudos pelo imperador.

    Ao imperador competia exercer total controle poltico sobressaindo-se ao Senado. O

    imperador tinha a funo de nomear magistrados, controlar o exrcito e at interferir

    em questes religiosas (centralizao do poder).A pessoa do prncipe primeiro magistrado sagrada, inviolvel.Rene o prncipe poderes quase ilimitados. Em virtude do imperium

    proconsular, que recebe do exrcito e do senado, o chefe supremo dasforas armadas, pode fazer nomeaes para cargos civis e militares, tem odireito de declarar a guerra e de celebrar a paz. Mediante o seu podertribuncio7, recebido do povo, ao ser coroado (lex regia do imprio), a suaautoridade mxima [...]. Com o senado o prncipe reparte o poderjudicirio. (CRETELLA JUNIOR, 1973, P. 56).

    Conforme a obra de CRETELLA JUNIOR (1973,P. 66), o final do Imprio

    Romano se da na fase intitulada pelo autor como Baixo Imprio, que ocorreu entre

    284 d.C. a 565 d.C. perdurando at a morte do imperador Justiniano.

    Se no perodo anterior, o imperador partilhava seu poder com o senado

    (diarquia), no Baixo Imprio, o soberano concentrava os poderes em suas mos

    (monarquia), exercia a regncia sozinho invocando a vontade divina como fonte de

    inspirao para sua autoridade absoluta.

    Para Hilrio FRANCO JUNIOR (2001, p.67), a crise do sculo III j mostrava a

    fraqueza das instituies polticas romanas. As lutas pelo trono e as intervenes

    armadas eram freqentes. Vivia-se uma verdadeira anarquia militar. Dos vinte e seis

    imperadores que reinaram entre os anos 235 e 268 apenas um no teve morte

    violenta e todos ficavam no poder em mdia por um ano. Notava-se um processo de

    desagregao poltica onde o estado romano perdia a atuao efetiva.

    Em torno do sculo V se estabelecia a passagem da idade antiga para o

    perodo medieval. Conforme Cludio de CICCO; Alvaro de Azevedo GONZAGA

    plebeus contribuintes, que adquiriram o direito ao comrcio, passam tambm a participar na feitura das leis nasnovas assembleias criadas, os comcios centuriatos.7 O imperador dispunha de todos os poderes de um tribunal, sua pessoa e seu ofcio eram considerados sacrossantos e lhe davam autoridadesobre o governo civil romano, inclusive o poder de presidir e controlar o senado.

  • 8(2009, p. 199-200), tribos brbaras destruam fsica e intelectualmente o legado de

    Roma. Esses povos primitivos nmades (chamados de Brbaros), saxes, frsios,

    anglos germnicos, entre outros, migraram para a Inglaterra durante sculos,

    trazendo suas famlias e formando suas comunidades.Messieurs, c'est par les Barbares germains que ce sentiment a t

    introduit dans la civilisation europenne; il tait inconnu au monde romain,inconnu l'Eglise chrtienne, inconnu presque toutes les civilisationsanciennes. Quand vous trouvez, dans les civilisations anciennes, la libert,c'est la libert politique, la libert du citoyen. Ce n'est pas de sa libertpersonnelle que l'homme est proccup, c'est de sa libert comme citoyen;il appartient une association, il est dvou une association, il est prt ase sacrifier une association. [...] Le trait fondamental de cette relation taitl'attachement de l'homme l'homme, la fidlit de l'individu l'individu,sans ncessit ext-rieure, sans obligation fonde sur les principesgnraux de la socit. Vous ne verrez dans les rpubliques anciennesaucun homme attach spcialement et librement un autre homme; ilstaient tous attachs la cit. Parmi les Barbares, c'est entre les individusque le lien social s'est form, d'abord par la relation du chef au compagnon,quand ils vivaient en tat de bande parcourant l'Europe; plus tard, par larelation du suzerain au vassal. Ce second principe, qui a jou aussi ungrand rle dans l'histoire de la civilisation moderne, ce dvouement del'homme l'homme, c'est des Barbares qu'il nous vient, c'est de leursmoeurs qu'il est entr dans les ntres. (GUIZOT, 1838. P. 62)8

    Um dos costumes desses povos primitivos que invadiam a Europa era a

    aplicao dos costumes locais para resolver possveis conflitos de interesses, a

    chamada assembleia dos homens livres, que veio a ser o esboo do Common Low,

    famlia do Direito onde uma deciso a ser tomada num caso depende das decises

    adotadas para casos anteriores e afeta o direito a ser aplicado a casos futuros;

    diferente da famlia do Direito Romano, que enfatiza os atos legislativos.

    Em seguida passaram a se definir ento os personagens polticos que se

    manteriam em cena at o fim desse perodo: os Brbaros, o Imprio, a Igreja, as

    monarquias, o feudalismo e um pouco mais tarde as comunas (grandes

    8 Senhores, as caractersticas dos brbaros germnicos, esse sentimento que foi introduzido na civilizao europia, era desconhecido para o

    mundo romano, desconhecido para a Igreja Crist, desconhecido para quase todas as civilizaes antigas. Quando nos remetemos scivilizaes antigas, liberdade significa liberdade poltica, liberdade do cidado. No a sua liberdade pessoal, como homem, que est emjogo, asua liberdade como cidado, o fato de ele pertencer a uma comunidade, de poder se dedicar a essa comunidade, de estar prontopara sacrificar-se por essa comunidade. [...] A caracterstica fundamental deste relacionamento foi a dedicao do homem para homem, alealdade do indivduo para o indivduo, sem necessidades externas, sem a obrigao com base nos princpios gerais da sociedade. Voc vaiver que nas antigas repblicas, que nenhum homem estava ligado especialmente a outro homem; eles estavam todos ligados cidade. Para ospovos brbaros, entre os indivduos que o vnculo social formado primeiramente, pela subordinao entre lder e companheiro, quandoeles viviam em um estado de nomadismo viajando pela Europa, Mais tarde, pela relao do soberano ao vassalo. Outro princpio, quetambm tem desempenhado um relevante papel na histria da civilizao moderna, o da devoo do homem para o homem, e foi atravs docontato com os povos brbaros que esse sentimento permeou a Europa.

  • 9unidades de produo rural, abrangendo a agricultura e pequenas indstrias que se

    emancipavam, por vontade do rei, em forma de cidade com relativa autonomia).

    O sistema poltico medieval apresentava um pensamento monista do

    universo, onde o natural e o sobrenatural se confundiam e a ideia de instituio

    poltica no fazia sentido porque a realeza era uma manifestao do divino e as

    esferas polticas e religiosas estavam reunidas em um s conceito.

    Segundo FRANCO JUNIOR (2001, p.89), a Igreja, no perodo medieval inicial,

    procurou se organizar e consolidar sua hierarquia eclesistica, justamente para

    assegurar a supremacia do cristianismo. E, num segundo tempo, imediatamente a

    seguir, aproximou-se do poder poltico para expandir sua rea de atuao e poder

    de influncia. Num terceiro estgio, o corpo eclesistico se separou dos leigos e

    passou a dirigi-lo espiritual e mesmo politicamente. Erigiu-se, assim, uma verdadeira

    teocracia que atingiu seu pice no incio do sculo XIII.

    Uma das figuras mais importantes para o desenvolvimento do cristianismo no

    ocidente era Santo Agostinho. Suas opinies sobre a esfera poltica eram bastante

    curiosas. Citamos um pargrafo muito interessante a respeito da escolha dos

    governantes:[...] Reconhecers tambm, espero, que na lei temporal dos homens

    nada existe de justo e legtimo que no tenha sido tirado da lei eterna.Assim, no mencionado exemplo do povo que, s vezes, tem justamente odireito de eleger seus magistrados e, s vezes, no menos justamente, nogoza mais desse direito, a justia dessas diversidades temporais procededa lei eterna, conforme a qual sempre justo que um povo sensato elejaseus governantes e que um povo irresponsvel no opossa[...].(AGOSTINHO, 1995, P.45).

    Dante Alighieri, filsofo e pensador medieval, se mostrava como um crtico

    ferrenho em relao ao poder papal soberano. Dante defendia que o Papa no tem

    direito ao uso das duas espadas, isto , a do poder terreno e a do espiritual; nem o

    pontfice est acima do imperador em assuntos terrenos. Os defensores do poder

    papal interpretavam literalmente as passagens bblicas, se utilizando da simbologia

    do sol e da lua para afirmar que a ltima no tem luz prpria, e que necessita do sol

    para ter brilho, justificando que o poder do Papa deveria ser soberano como o sol.[...] Digo, por tanto, que aunque la Luna no tenga luz abundante, sino

    en cuanto la recibe del Sol, no por eso se concluye que la Luna misma seaefecto del Sol. Por eso hay que advertir que una cosa es el ser de la Lunamisma, otra su virtud y otra su accin. En cuanto a su ser, de ningn modola Luna depende del Sol, ni tampoco en cuanto a su virtud ni en cuanto a laaccin pura y simple; porque su movimiento procede de su propio motor, ysu influencia de sus propios rayos; tiene, en efecto, alguna luz por s misma

  • 10

    como se manifiesta en su eclipse; pero, para obrar mejor, recibe algo delSol, pues recibe abundancia de luz, y con ella obra con mayor eficacia.Digo, por tanto, que el reino temporal no recibe su ser del espiritual, nitampoco su virtud, que es su autoridad, ni tampoco simplemente suoperacin; pero s recibe de l algo para obrar con ms eficacia, por la luzde la gracia, que en el cielo y en la tierra le infunde la bendicin del SumoPontfice. 9 (ALIGUIERI, 1992, P.53).

    J o terico da soberania, BODIN, Jean (1993, p.313) defendia que era

    necessrio que o prncipe fosse soberano, que tivesse poder para resolver e decidir

    os assuntos do conselho; afirmava que um corpo deveria ter apenas uma cabea, e,

    que era impossvel haver xito na repblica; referindo-se s palavras do imperador

    Tibrio: a repblica um monstro horrvel e com muitas cabeas.

    As ideias de Bodin acabaram dando todo o esboo para o Estado Absolutista

    onde se considerava o poder do monarca como absoluto e de origem divina.

    O Estado centralizado na Frana pode ser resumido no pargrafo seguinte:A fuso entre rei, Frana e nao francesa avanava, levando tericos dosculo XV a considerar que o rei era o reino, o que permitiu a Lus XI(1423-1483) afirmar eu sou a Frana, 200 anos antes de Lus XIV, noauge do Absolutismo, proclamar seu clebre (mas talvez apcrifo) oEstado sou eu. No surpreende, portanto, que o ttulo de majestade que desde as primeiras dcadas do sculo XI indicava as representaesde Cristo entronizado, e que por volta de 1120 passara lngua francesacom esse mesmo sentido tenha comeado em torno de 1360 a seraplicado ao rei. (FRANCO JR, 2001, p.80).

    Conforme ensina FRANCO JR (2001, p.78), a redescoberta e a revalorizao

    do pensamento aristotlico, remetendo ideia de que o poder da assembleia

    popular estava baseado no direito natural, levou ao conceito de representao

    poltica, que uma das grandes contribuies que os governos medievais trouxeram

    tona. Tanto por parte dos monarcas que buscavam apoio para suas decises

    quanto por parte daqueles que pretendiam impedir eventuais abusos da realeza, as

    assembleias representativas do sculo XIV significavam um grande avano,

    especialmente na tarefa legislativa conforme princpio de que o que afeta a todos

    deve ser aprovado por todos. Tal mxima aplicada no Direito feudal buscou no

    Direito Romano uma fonte para retomada poltica.

    9 Digo, portanto, que embora a lua no tenha luz abundante, exceto quando a recebe do sol, no por isso se conclui que a prpria Lua seja umefeito do Sol. Por isso deve ser notado que uma coisa a essncia da Lua, outra sua virtude e outra sua ao. Quanto ao seu ser, de modoalgum depende do sol, a lua, nem em termos de virtude nem em termos de ao pura e simples; porque seu movimento vem de seu prpriomotor, e sua influncia de seus prprios raios; tem de fato, alguma luz prpria como se percebe em seu eclipse, mas, para fazer o melhor,recebe alguma coisa do Sol recebendo abundncia de luz, e com ela trabalhar com mais eficcia. Digo, portanto, que a existncia do reinotemporal no depende do reino espiritual, nem to pouco sua virtude, que a sua autoridade, nem simplesmente o seu funcionamento; mas serecebe dele algo para trabalhar de forma mais eficaz, pela luz da graa, que no cu e na terra recebe a bno do Papa.

  • 11

    Vejamos parte do texto sobre ASSEMBLEIA REPRESENTATIVA extrado dosite Wikepdia:

    [...]a ideia de uma assembleia "representativa" como uma instituiopoltica de uma sociedade literata apareceu a primeira vez na Europa naIdade Mdia, mais especificamente nos sculos XIII a XV. Talvez tenhasido trazida a vida por governantes determinados a impedir o abuso depoder de seus bares e apelando as castas mais baixas da sociedade:donos de terras pequenas, pessoas da cidade e o clero. Qualquer que sejaa explicao para a emergncia, considerada por muitos a maisimportante inovao poltica na Idade Mdia Europia.

    A pulverizao do poder poltico nos moldes da era medieval vinha tona

    atravs de episdios como o do Rei da Inglaterra, Joo Sem Terra (1199-1216).

    FRANCO JR (2001, p.82) relata que a questo se agravava; o Rei Joo,

    necessitando de recursos para manter suas possesses na Frana, confiscou

    castelos e terras, tentou impor taxao sobre propriedades eclesisticas, elevou os

    impostos da populao, e, alm disso, j estava impopular devido s derrotas

    militares. Cada vez mais pressionado, o rei precisou assinar em 1215 a Magna

    Carta, que reforava os princpios feudais, reduzindo o aspecto teocrtico do poder

    que exercia. O rei no poderia mais criar impostos ou alterar as leis sem antes

    consultar o Grande Conselho, rgo que seria integrado por representantes do clero

    e da nobreza. Alm disso, nenhum sdito poderia ser condenado priso sem antes

    passar por um processo judicial. Estava lanada, ento, a semente do Parlamento,

    que no servia aos interesses do rei, e sim, fiscalizava-o e controlava-o.

    Para Hobbes, assim como para Bodin, o poder soberano tambm absoluto.

    o que encontramos em Norberto BOBBIO (1998, P.107-108) que segue

    descrevendo a teoria de Hobbes que afirmava que, se o sdito no observar as leis

    positivas, poder ser obrigado a isso pela fora do poder soberano; mas se o

    soberano no observar as leis naturais, ningum poder constrang-lo sua

    obedincia; ningum poder puni-lo (pelo menos neste mundo).Hobbes usa a figura bblica de um monstro, o Leviat, que

    representa um animal monstruoso e cruel, mas que de certa forma defendeos peixes menores de serem engolidos pelos mais fortes. essa figura querepresenta o Estado, um gigante cuja carne a mesma de todos os que aele delegaram o cuidado de os defender. (ARANHA; MARTINS, 1991,p.241)

    Hobbes viveu no apogeu de um absolutismo em vias de ser ultrapassado

    enfrentando inmeros movimentos de oposio baseados em ideias liberais que

    lavariam ao antropocentrismo.

  • 12

    3. RENASCENA E IDADE MODERNA

    O perodo entre os sculos XIII e XIV foi marcado por evidentes

    transformaes da sociedade na poltica, religio, economia e cultura ocasionando

    uma ruptura com a organizao medieval que dava lugar ao Iluminismo e ao

    Renascimento. O nome iluminista nasceu pelo fato da Idade Mdia ter sido

    considerada o tempo das trevas da ignorncia, sendo que j nessa nova poca, das

    luzes da sabedoria e das descobertas, foi um perodo de grandes avanos

    tecnolgicos, com grandes pensadores. J o termo Renascimento remete

    redescoberta e revalorizao das referncias culturais da antiguidade clssica.

    No declnio da monarquia absolutista, conforme relata BONAVIDES (2000,

    p.170), o poder poltico excessivo pesava sobre todas as camadas sociais

    interpostas entre o monarca e a massa de sditos. Do despotismo, arbitrariedade,

    rigidez e abuso passamos ao moderno poder poltico: O ESTADO DE DIREITO.

    BOBBIO (1992, p.61) chama ateno para esse momento histrico onde o

    reconhecimento dos direitos do homem se projeta da esfera das relaes

    econmicas interpessoais para as relaes de poder entre prncipe e sditos

    nascendo o direito pblico subjetivo caracterizando o ESTADO DE DIREITO. O foco

    sai do prncipe e passa aos cidados. No Estado desptico os indivduos s tm

    deveres e no direitos. No Estado absoluto, os indivduos possuem, frente ao

    soberano, direitos privados. No ESTADO DE DIREITO o indivduo tem tambm

    direitos pblicos frente ao Estado. ESTADO DE DIREITO - Estado dos cidados.Para BOBBIO (2000, p.36) o ESTADO DE DIREITO o estado no qual o

    direito de resistncia no mais um direito natural no protegido, mas um direito

    positivo protegido. Afirma BOBBIO (2000, p.36) que a finalidade principal da

    separao dos poderes seria a garantia em transformar o direito de resistncia de

    direito natural em um direito positivo visando o isolamento do poder executivo, de

    forma que no ocorra abuso de poder, inclusive, oportunizando ao cidado a

    possibilidade de recorrer ao poder judicirio para a eliminao daquele abuso.

    Assim, o direito de resistncia passa a compor o ordenamento jurdico.

    BOBBIO atribui Inglaterra o papel de vanguardista na questo prtica de

    separao dos poderes. Veja na ntegra o pargrafo onde h tal concluso:A separao entre gubernaculum e jurisdictio era uma atuao

    histrica da separao dos poderes e permitia aquela proteo dos direitosindividuais para a qual tendiam todas as doutrinas do Estado limitado.

  • 13

    Onde existia um direito comum, ou seja, um direito positivo, aplicado pelascortes, superior no que diz respeito pelo menos s matrias de direitoprivado, ao direito do rei, o direito que o cidado tinha de resistir ao abusodo poder executivo no era puro direito natural, mas um direito positivo, ouseja, um direito garantido e protegido no prprio interior do ordenamentojurdico. Assim, posvel explicar como a Inglaterra foi o primeiro pas noqual se realizou a separao dos poderes e com isso tenha colocado asbases do Estado constitucional moderno. (BOBBIO, 2000, p.48).

    A questo da separao de poderes no uma ideia nova. Pensadores da

    antiguidade analisavam essas questes, conforme j estudado no captulo anterior

    quando citamos Aristteles.

    O prprio Plato tambm deixava clara a concepo de uma teoria que

    consistia em subdividir as funes do Estado de forma que no se concentrasse nas

    mos de apenas uma pessoa. Para ele, o estado justo era aquele onde cada

    indivduo cumpria sua funo especfica. Na obra A Repblica, em diversas

    passagens, encontramos pistas dessa diviso de tarefas, como nesse trecho:[...] se a classe dos negociantes, auxiliares e guardies se ocupar

    das suas prprias tarefas, executando cada um deles o que lhe compete nacidade, [...] isso no tornaria a cidade justa? [...] a cidade pareceu-nos justaquando existiam dentro dela trs espcies de naturezas, que executavamcada uma a tarefa que lhe era prpria; e, por sua vez, temperante, corajosae sbia devido a outras disposies e qualidades dessas mesmasespcies. (PLATO, 2001, P.188).

    As ideias de Maquiavel tambm contriburam para a revoluo do

    pensamento poltico. um dos principais pensadores a serem estudado aps a

    idade mdia e tambm teorizou sobre a diviso dos poderes.

    Segundo BOBBIO (1998, p.92), Maquiavel afirmava que os legisladores

    conhecidos pela sua sabedoria escolheram sempre um sistema de governo onde

    todas as camadas da sociedade participavam, por julg-lo mais slido e estvel.

    Maquiavel pregava que o prncipe, os aristocratas e o povo devem governar o

    Estado em conjunto, assim, podem controlar-se mutuamente com facilidade fazendo

    surgir uma repblica perfeita capaz de resistir ao tempo. Esse controle s seria

    possvel com a separao dos poderes de forma que ficassem garantidas as

    liberdades individuais.

    Os contra-absolutistas do Iluminismo, Locke na Inglaterra, Montesquieu na

    Frana, so os pensadores que definiram com maior clareza a separao dos

    poderes, embora tal princpio no fosse novo.

  • 14

    ntido na doutrina o consenso em atribuir a Montesquieu a consagrao da

    tripartio de poderes com as devidas reparties de atribuies no modelo mais

    aceito atualmente por todos.

    Todavia, Locke tambm contribuiu de forma decisiva na construo da ideia.

    Para Locke, fundamental que os poderes legislativo e executivo sejam separados,

    vejamos:[...] como pode ser muito grande para a fragilidade humana a

    tentao de ascender ao poder, no convm que as mesmas pessoas quedetm o poder de legislar tenham tambm em suas mos o poder deexecutar as leis, pois elas poderiam se isentar da obedincia s leis quefizeram, e adequar a lei a sua vontade, tanto no momento de faz-la quantono ato de sua execuo, e ela teria interesses distintos daqueles do restoda comunidade, contrrios finalidade da sociedade e do governo. Porisso, nas comunidades civis bem organizadas, onde se atribui ao bemcomum a importncia que ele merece, confia-se o poder legislativo a vriaspessoas, que se renem como se deve e esto habilitadas para legislar,seja exclusivamente, seja em conjunto com outras, mas em seguida seseparam, uma vez realizada a sua tarefa, ficando elas mesmas sujeitas sleis que fizeram; isto estabelece um vnculo novo e prximo entre elas, oque garante que elas faam as leis visando o bem pblico. (LOCKE, 2001,p.170).

    Parece-nos que Locke fez sua separao de poderes de forma dual, e no

    trplice, pois embora prevendo um terceiro poder, o chamado poder federativo, este

    foi tratado sem muita importncia pelo autor que o conceitua em LOCKE (1994,

    p.171) como aquele responsvel pela guerra e pela paz, por formar ligas e alianas,

    alm de transacionar com todas as pessoas e comunidades alheias sociedade

    especfica, esse poder se assemelhava muito ao poder executivo, o que no permite

    uma distino.

    Montesquieu elaborou a famosa TEORIA DE PESOS E CONTRAPESOS

    entendendo que se deve limitar o abuso de poder utilizando o poder como freio do

    prprio poder.

    O autor teorizou, de forma bastante detalhada, quais as consequncias da

    concentrao dos poderes nas mos de uma s pessoa sistematizando a TEORIA

    DA SEPARAO DE PODERES. Segue algumas consideraes, que sintetizam

    seu pensamento, extradas de sua obra mxima, O Esprito das Leis:A liberdade poltica, em um cidado, esta tranquilidade de esprito

    que provm da opinio que cada um tem sobre a sua segurana; e paraque se tenha esta liberdade preciso que o governo seja tal que umcidado no possa temer outro cidado.

    Quando, na mesma pessoa ou no mesmo corpo de magistratura, opoder legislativo est reunido ao poder executivo, no existe liberdade;porque se pode temer que o mesmo monarca ou o mesmo senado crie leistirnicas para execut-las tiranicamente.

  • 15

    Tampouco existe liberdade se o poder de julgar no for separado dopoder legislativo e do executivo. Se estivesse unido ao poder legislativo, opoder sobre a vida e a liberdade dos cidados seria arbitrrio, pois o juizseria legislador. Se estivesse unido ao poder executivo, o juiz poderia ter afora de um opressor.

    Tudo estaria perdido se o mesmo homem, ou o mesmo corpo dosprincipais, ou dos nobres, ou do povo exercesse os trs poderes: o de fazeras leis, o de executar as resolues pblicas e o de julgar os crimes ou asquerelas entre os particulares. (MONTESQUIEU, 2000, p.168).

    Fato tambm importante para nosso artigo a contribuio dos

    contratualistas para construo do conceito de soberania. Darcy AZAMBUJA (2008,

    P.80) constata que Rousseau, assim como Hobbes e Locke, partia de uma

    sociedade primitiva e justificava a criao da figura do Estado que manteria um

    contrato com os indivduos para resolver as lides e defender o homem contra a

    injustia dos mais fortes mantendo-se a ordem e a harmonia. Rousseau

    considerado o terico responsvel pela transferncia da titularidade da soberania do

    monarca para o povo.

    AZAMBUJA (2008, P.81-82), expondo o pensamento de Rousseau, mostra

    que, para este a vontade geral a manifestao da soberania e o cidado que

    resistisse a vontade geral seria como se resistisse a si mesmo. O Estado ser tanto

    mais perfeito quanto mais sua vontade coincida com a vontade geral. Da que

    Rousseau defendia a democracia direta onde os representantes eleitos pelo povo

    no so seus representantes, mas, apenas, comissrios para executar a vontade

    geral, e, as leis para se tornarem obrigatrias devem ser aprovadas pelo povo.Veja a transcrio deste preceito nas palavras do prprio autor:

    A vontade constante de todos os membros do Estado a vontadegeral, por ela que eles so cidados livres. Quando se prope uma lei naassembleia do povo, o que se pergunta no precisamente se aprovam aproposio ou se a rejeitam, mas se ela conforme ou no vontade geralque a deles; ao dar seu sufrgio, cada um diz sua opinio sobre esseponto, e do clculo dos votos tira-se a declarao da vontade geral. Assim,quando a opinio contrria a minha prevalece, isso prova apenas que euestava enganado, que o que eu julgava ser a vontade geral no o era.(ROUSSEAU, 2010, P.119).

    Hans Kelsen foi um dos produtores literrios que mais vieram a contribuir para

    o perodo moderno lanando as bases para a cincia do Direito. O cientista jurdico

    nos deixou pistas de sua incerteza acerca da responsabilizao do povo quanto

    possibilidade de escolha de seus governantes. Observem esse trecho do autor:O fato de o sufrgio ser uma funo pblica por meio da qual se

    criam rgos essenciais do Estado no incompatvel com a suaorganizao como direito no sentido tcnico do termo; no entanto, pode

  • 16

    surgir a questo de saber se apropriado deixar o exerccio dessa funovital ao livre arbtrio do cidado, que a questo de saber se o sufrgio um direito. (KELSEN, 1992, p.286).

    Por rgo do Estado, entende KELSEN (1992, p.191), qualquer um que

    cumpra uma funo determinada pela ordem jurdica. Ou seja, para o autor, um

    rgo um indivduo que cumpre uma funo especfica, ocupando uma posio

    jurdica que lhe d o carter de rgo, sendo em regra designado de funcionrio

    pblico.

    Para KELSEN (1992, p.260-261), a base da tripartio do poder baseia-se na

    dicotomia: legislao e execuo. Legislar, segundo ele, criar normas gerais e,

    Executar, aplicar estas normas gerais. Contudo, adverte o autor, toda criao de

    Direito ao mesmo tempo sua aplicao, assim como toda aplicao dele tambm

    sua criao.

    Segundo KELSEN (1992, p.250), a execuo ou aplicao das leis uma

    funo comum ao poder executivo e ao poder judicirio, da porque este poder no

    distinguvel do poder executivo. Por esse ngulo, v-se que a funo de ambos a

    mesma. A diferena, continua Kelsen, que num caso a execuo das normas

    gerais confiada aos tribunais, e no outro, aos chamados rgos "executivos" ou

    administrativos. De modo que, conclui ele, a segunda funo (execuo), no sentido

    mais restrito, est subdivida em funo jurdica e funo executiva.

    KELSEN (1992, p.263), combateu juridicamente a separao tricotmica de

    poderes, com o rigor cientfico que lhe era peculiar: como vimos, entendia que no

    h trs, mas duas funes bsicas do Estado: a criao e a aplicao do Direito.

    Afirmou que impossvel atribuir a criao de Direito a um rgo e a sua aplicao a

    outro, de modo to exclusivo que nenhum rgo venha a cumprir simultaneamente

    ambas as funes.

    KELSEN (1992, p.275), refora que o princpio de diviso de poderes, no

    essencialmente democrtico, uma vez que na ideia de democracia todo o poder

    deve estar concentrado no povo, e onde no possvel a democracia direta todo o

    poder deve ser exercido por um rgo colegiado cujos membros sero eleitos pelo

    povo e juridicamente responsveis perante ele, posto que o rgo legislativo que

    tem o maior interesse em ver suas normas rigorosamente executadas. Portanto,

    arremata, a democracia exige que ao rgo legislativo seja dado controle sobre os

    rgos administrativos e judicirios.

  • 17

    Mas, no obstante esse rigoroso combate, KELSEN (1992, p.274), reconhece

    o significado mais notvel deste princpio, levando em considerao a historicidade

    dele, que se encontra precisamente no fato de que ele opera antes contra uma

    concentrao que a favor de uma separao de poderes, referindo-se

    sistematizao dos trs poderes em funo das ideias contrrias aos governos

    absolutistas quando os indivduos estavam feridos pelas dolorosas experincias de

    um homem s ser o prprio Estado.

    O cidado antigo escolhia o destino da polis e o seu prprio destino. A

    participao nas escolhas polticas por debates e votos em assembleia pblica

    influenciava diretamente no destino da cidade. O trecho de 1819 ressalta bem esse

    aspecto da participao poltica antiga:Conclui-se do que acabo de expor que no podemos mais desfrutar

    da liberdade dos antigos, a qual se compunha da participao ativa econstante do poder coletivo. A participao que, na antigidade, cada umtinha na soberania nacional no era, como em nossos dias, uma suposioabstrata. A vontade de cada um tinha uma influncia real; o exerccio dessavontade era um prazer forte e repetido. Em conseqncia, os antigosestavam dispostos a fazer muitos sacrifcios pela conservao de seusdireitos polticos e de sua parte na administrao do Estado. Cada um,sentindo com orgulho o que valia seu voto, experimentava uma enormecompensao na conscincia de sua importncia social. (CONSTANT,1985, p. 15).

    Passamos a analisar os reflexos da Revoluo Francesa, segundo BOBBIO

    (1992, p.86), que traz o pensamento de Immanuel Kant afirmando que, neste fato

    histrico, ocorreu pela primeira vez o exerccio do direito do povo de decidir seu

    prprio destino, exercendo seu direito de liberdade. O direito que tem um povo de

    no ser impedido por outras foras de dar a si mesmo uma Constituio Civil que ele

    cr boa. Kant fora fortemente influenciado pelos ideais da Revoluo, o que se

    evidencia pelo seu conceito de liberdade: A liberdade jurdica a faculdade de s

    obedecer a leis externas s quais pude dar o meu assentimento; claramente

    inspirado em Rousseau: liberdade a obedincia lei que ns mesmos

    prescrevemos.

    A base da doutrina da Declarao francesa est nos seus trs artigos

    inaugurais:

    O primeiro refere-se condio natural dos indivduos que precede aformao da sociedade civil; o segundo, finalidade da sociedade poltica,que vem depois (seno cronologicamente, pelo menos axiologicamente) doestado de natureza; o terceiro, ao princpio de legitimidade do poder quecabe nao. (BOBBIO, 1992, p.86).

  • 18

    No podemos deixar de citar a originalidade filosfica de Hegel, que

    inaugurou uma nova forma de pensar a relao entre sociedade e Estado. Pode-se

    considerar que, com Hegel, inicia o perodo contemporneo da histria do

    pensamento filosfico.

    Conforme Wellington TROTTA (2009, p.27), em uma passagem da Filosofia

    do Direito, Hegel aponta claramente que a opinio de muitos no significa

    necessariamente a deteno do universal, mas, apenas o sentido de particularidade,

    de uma opinio sobre assuntos que pedem inteiro conhecimento e profundidade.

    No so os indivduos isolados com opinies isoladas que dinamizam a sociedade

    civil, mas objetivamente a representao por meio dos mecanismos das ordens, das

    corporaes, das classes, da delegao poltica .

    Vejamos um interessante trecho onde BOBBIO nos traz baila o pensamento

    do importante pensador da esfera poltica Karl Marx:

    Embora tanto Marx quanto Engels tenham sido sempre muito avarosem indicaes a respeito da organizao do Estado futuro, encontramosuma ou outra sugesto nas pginas que Marx escreveu sobre aexperincia de governo da Comuna de Paris, entre maro e maio de 1871.Costuma-se dizer que Marx extraiu dessa experincia a ideia de que oEstado proletrio (isto , o Estado como "domnio organizado doproletariado") representaria uma democracia direta, com a participao doscidados nos vrios rgos detentores de poder, sem representanteseleitos, em contraste com a democracia representativa, prpria do Estadoburgus. (BOBBIO, 1998, P.170).

    4. REFLEXO SOBRE A DEMOCRACIA E PERSPECTIVAS FUTURAS

    A Carta Maior apresenta nossa Repblica, logo no caput de seu primeiro

    artigo, como um Estado Democrtico de Direito. Estado de Direito porque, sob a luzdo iluminismo, passamos a nos organizar conforme regras de Direito, aplicveis a

    todos de forma igualitria, em um sistema garantido por uma proteo jurdica

    mantenedora, onde o princpio da legalidade atua como meio delimitador do poder.

    Estado Democrtico, porque os princpios fundamentais representariam a vontadepopular, sendo expressa atravs do exerccio da soberania.

    Analisemos as formas de democracia. Adotemos os conceitos de AZAMBUJA

    (2008, P.249-250). Ele defende que, na democracia direta, os cidados renem-sefrequentemente em assembleias para resolver os assuntos importantes do governo.

    Nas democracias representativas o povo no decide diretamente sobre as coisas

  • 19

    pblicas, mas, por meio de representantes eleitos por ele. Os poderes executivo e

    legislativo no so compostos pelos prprios cidados, e sim por pessoas eleitas

    para isso. A democracia semidireta seria uma aproximao da democracia direta,ou seja, um sistema misto, que guarda as linhas gerais do regime representativo,

    porque o povo no governa diretamente, mas, s vezes, na elaborao das leis, em

    momentos decisivos, pode intervir diretamente de trs formas: o referendum, o vetopopular a iniciativa popular. Com a democracia semidireta, participao popularestaria aliada a uma representatividade, mas, sendo estabelecidos momentos

    determinados em que tal participao teria um papel principal, ao passo que a

    representatividade seria coadjuvante, sendo utilizada apenas para formalizar o

    desejo popular.

    O referendum o instrumento por meio do qual o corpo eleitoral expressamente convocado a pronunciar-se sobre determinados assuntos de

    relevante interesse nao. Segundo Armandino Teixeira NUNES JUNIOR (2005,

    p.5), o referendum consultivo (ou plebiscito) ocorre quando o povo chamado apronunciar-se sobre a convenincia ou no de uma lei a ser feita pelo Parlamento, o

    referendum deliberativo, quando a consulta do povo posterior elaborao daLei.

    O veto popular, como explica AZAMBUJA (2008, P. 251) pressupe uma leij feita pelo Parlamento, porm, se um nmero determinado de cidados pede que

    ela seja submetida a referendum e o povo repudia tal lei, ocorre o veto popular.

    Distingue-se referendum propriamente dito do veto popular. No Brasil, em 1891,

    conforme aponta Willian Junqueira RAMOS (2013, p.1), houve tentativas de se

    implementar o veto popular na constituio do estado de So Paulo. Previa-se que

    deliberaes de autoridades municipais poderiam ser anuladas mediante proposta

    de um tero e aprovao de dois teros dos eleitores reunidos em assembleias. O

    instituto foi abolido quatorze anos depois de proposto. A sua implantao voltou a

    ser tema de debates em 1987; na votao em primeiro turno da Constituio alm

    do plebiscito, do referendo e da iniciativa popular, fora tambm includo o veto

    popular, que restou eliminado no segundo turno da votao. Atualmente, tramita no

    Senado Federal o Projeto de Emenda Constitucional de numero oitenta, o PEC

    80/2003; entretanto, no h nenhuma previso de sua anlise para ser submetido

    aprovao.

  • 20

    A iniciativa popular, segundo AZAMBUJA (2008, P. 252) aproxima o pasainda mais da democracia direta. Pela iniciativa popular, o Parlamento obrigado a

    elaborar ou examinar determinada lei se certo nmero de eleitores se manifesta pela

    sua necessidade, o Parlamento fica juridicamente obrigado a discuti-la e vot-la. A

    lei votada pelo Parlamento em consequncia da iniciativa popular pode ainda ser

    submetida a referendum, a fim de verificar se a maioria dos cidados aprova a

    medida proposta por parte deles. A iniciativa popular articulada aquela em que o

    povo apresenta ao Parlamento um projeto de lei completo, redigido por artigos. A

    no articulada ou (por moo) aquela em que o povo pede ao rgo legislativo que

    prepare uma lei sobre determinada matria.

    A Constituio Brasileira adotou a iniciativa popular, elencada no inciso III de

    seu art. 14, mas, conforme seu art. 61, caput, extramos que s pode ser proposta

    em forma de projeto de lei ordinria ou complementar. Ainda no art 61, 2,

    verificamos que o projeto dever, obrigatoriamente, ser subscrito por, no mnimo, um

    por cento do eleitorado nacional, distribudo pelo menos por cinco estados, com no

    menos de trs dcimos por cento dos eleitores de cada um deles. Portanto,

    conforme dados estatsticos disponveis no portal eletrnico do Tribunal Superior

    Eleitoral, o total de eleitores brasileiros foi, na ltima eleio, 140.646.446; ento, onmero mnimo de assinaturas para um projeto de iniciativa popular seria em torno

    de 1,5 milho.At hoje, somente quatro projetos de lei que tiveram iniciativa popular se

    tornaram leis brasileiras: Lei n 8.930/94 (dos Crimes Hediondos), que recebeu apoio

    da escritora Glria Perez; Lei Complementar n 135/10 (da Ficha Limpa), que probe

    a candidatura de pessoas condenadas por rgos colegiados da justia; Lei n

    9.840/99 (Contra a Corrupo Eleitoral), que permite a cassao do registro do

    candidato que incidir em captao ilcita de sufrgio; Lei Completar n 11.124/05

    (Fundo Nacional de Habitao de Interesse Social FNHIS).

    O nmero reduzido de projetos que se tornaram leis por intermdio deste

    instrumento explicado pela dependncia de forte articulao poltica, presso

    popular e pelo rigor formal que exige a efetiva prtica deste direito.

    No que concerne experincia do referendo popular no Brasil, NUNES

    JUNIOR (2005, p.4) afirma que se registrou, ao longo dos 116 anos de nossa vida

    republicana, apenas trs momentos de sua realizao: em janeiro de 1963, em abril

    de 1993 e em outubro de 2005. A primeira vez ocorreu em face da crise institucional

  • 21

    decorrente da renncia de Jnio Quadros e da posterior posse de Joo Goulart. Na

    ocasio, realizou-se um referendo popular para que o eleitor opinasse sobre a

    continuidade ou no do sistema parlamentarista como sistema de governo. A

    segunda vez decorreu da determinao contida no art. 2 do Ato das Disposies

    Constitucionais Transitrias (ADCT), alterado pela Emenda Constitucional n 2, de

    1992. Na oportunidade, o eleitor foi instado a opinar entre a Repblica e a

    Monarquia como formas de governo. Por ltimo, em outubro de 2005, o 1 do art.

    25 da Lei n 10.826, de 2003, foi objeto de referendo popular para decidir sobre a

    proibio da comercializao de arma de fogo e munio em todo o territrio

    nacional. 63,94% do povo se manifestou pela rejeio da proposta.

    Alm dos instrumentos clssicos da democracia direta, o plebiscito e o

    referendum, que poderiam ser mais bem aproveitados para avaliar a aprovao

    popular frente s novas leis mais significativas, como requisito para passar a vigorar,

    penso que deve-se considerar a regulamentao de conselhos e fruns

    deliberativos, tirando proveito das mais modernas facilidades tecnolgicas de que

    dispomos, como meio de participao direta do povo na confeco e reforma de

    nossa legislao. A prpria populao participaria dos debates, das mudanas e do

    aperfeioamento do ordenamento normativo. A vontade geral no estaria ameaada,

    e, a forma de definio das regras fundamentais, como alteraes constitucionais e

    adeses pactos internacionais, por exemplo, se daria de forma diferenciada,

    legitimando a soberania popular.No momento em que os mais avanados recursos tcnicos para a

    captao e transmisso de opinies, como terminais de computadores,forem utilizados para fins polticos ser possvel a participao direta dopovo, mesmo nos grandes Estados. Mas para isso ser necessrio superaras resistncias dos polticos profissionais, que preferem manter o povodependente de representantes. (DALLARI, 2010, p. 153).

    O aperfeioamento dos computadores, aliado ao sistema de telefonia, a

    ecloso da internet, a globalizao intensificada pelas inovaes tecnolgicas, cada

    vez mais vastas e dispersas, tm propiciado um extraordinrio desenvolvimento do

    potencial de inteligncia coletiva, da troca de saberes e de experincias. Redes

    sociais, fruns de discusso, grupos de debates organizados, conferncias

    eletrnicas, jornais e editais virtuais, j so ferramentas corriqueiras e que,

    incontestavelmente, tem obtido xito em suas utilizaes.

  • 22

    Aliado a isso, a implantao de terminais eletrnicos nos locais pblicos das

    cidades tambm j recurso amplamente difundido nas sociedades

    contemporneas.A verdadeira democracia eletrnica consiste em encorajar, tanto

    quanto possvel graas s possibilidades de comunicao interativa ecoletiva oferecidas pelo ciberespao a expresso e a elaborao dosproblemas da cidade pelos prprios cidados, a auto-organizao dascomunidades locais, a participao nas deliberaes por parte dos gruposdiretamente afetados pelas decises, a transparncia das polticas pblicase sua avaliao pelos cidados. (LVY, 1999, p. 32)

    Assembleias populares para decises sobre interesses localizados nos

    municpios, semelhante aos padres da antiga Grcia, tambm poderiam ser

    utilizados com mais frequncia. A participao popular seria muito mais do que

    tomar parte em eventuais definies pblicas, mas, promoveria, definitivamente, a

    educao poltica. O contato entre governantes e cidados comuns ampliaria a

    capacidade de fiscalizao dos atos do Legislativo e Executivo ao tempo em que

    aumentaria o comprometimento do povo com a sociedade em que vive.

    O Sistema de Habilitao e Pontuao (SHP), conforme ensina Jos Ramos

    de VASCONCELOS NETO (2007, 113-117), foi desenvolvido para que o cidado

    possa se manifestar sobre os problemas que o afetam diretamente. O projeto

    apresentado na internet e passa a ser discutido por todos os interessados. Os prs e

    contras da proposta so amplamente debatidos e os pontos positivos valem pontos

    no sistema. Essa pontuao vai dar ao eleitor a condio de analisar o assunto de

    forma mais racional e acertada. A partir da iniciada a votao on line.

    O SHP uma verso moderna dos antigos encontros realizados em praas pblicas

    pelos atenienses para decidir as questes polticas da Grcia Antiga, afirma o

    Professor Vasconcelos Neto. O Sistema se apoia na internet e na televiso para

    alcanar uma ampla e representativa participao popular, podendo ser aplicado em

    qualquer esfera de deciso poltica, seja para decidir assuntos de interesse de um

    condomnio, seja aos grandes temas que interessem a nao, explica o professor

    VASCONCELOS NETO (2007, p.101), que desenvolveu as bases que sustentam o

    que batizou de Democracia Pura, podendo ser denominada como aquela em que opovo se autogoverna e participa diretamente, ou por partes, nas deliberaes do

    poder decisrio.

    Outra prtica poltica, objeto de estudos tericos atualmente, que tem

    apresentando grande repercusso prtica pela participao direta do povo, por

  • 23

    intermdio de manifestaes coletivas, segundo DALLARI (2010, p. 156), o que

    vem sendo identificado como Democracia Participativa. Para o autor, essa formade democracia direta deveras benfica para a sociedade, pois d recursos aos

    governos, e aos prprios representantes eleitos, ao evidenciar o pensamento do

    povo sobre questes de interesse comum.

    Um exemplo de participao direta das massas decidindo sobre alguns dos

    investimentos pblicos, nos moldes da Democracia Participativa, surge com o

    Oramento Participativo. Conforme desenvolve FEDOZZI, Luciano (1998, p. 2),esboado em 1989, desenvolve, desde ento, uma modalidade de gesto local,

    conhecida como administrao popular, tambm se baseando na participao direta

    da populao, originada na cidade de Porto Alegre RS, onde se definia as

    prioridades dos investimentos na elaborao do oramento pblico. Segundo o

    autor, a inovao vem sendo reconhecida como experincia bem sucedida de

    eficcia na gesto pblica, tendo alcanado ampla repercusso no cenrio poltico

    nacional e internacional. O autor ressalta que o Oramento Participativo foi

    apontado, em 1995, como uma das quarenta melhores inovaes urbanas na

    Segunda Conferncia Mundial de Habitao Humana, realizada em Istambul

    (Turquia).

    Vejamos as seguintes consideraes, ainda sobre o Oramento Participativo:No OP, a grande novidade que se cria, que o ser humano

    protagonista de polticas. A pessoa humana, o cidado que mora na ltimarua e que nunca foi a uma reunio, que no filiado a nenhum partido, quenunca sonhou em decidir nada para sua rua, para seu bairro e, de repente,pode decidir muitas coisas. Isso uma novidade espetacular. A gente noimagina a importncia disso. S por isso, o OP, quando levado a srio, j revolucionrio. Ele muda e transforma, porque o cidado est presente, agente, sente-se importante e decide a sua cidade. (BRANDO, 2003, p.37-38)

    A democracia direta, em seu sentido estrito, ainda encontrada, conforme

    DALLARI (2010, p. 152) na Landsgemeinde (Assembleia Cantonal), que ainda

    ocorre em alguns dos Cantes suos menos populosos, sendo ela uma assembleia

    aberta a todos os cidados do Canto que tenham o direito de votar. Por l, em um

    domingo de cada primavera, os cidados se renem para votar em leis, tratados,

    tributos e etc, embora, se admita tambm convocaes extraordinrias, tanto por

    parte dos Conselhos Cantonais, como, por parte de certo nmero de cidados. Os

    assuntos a serem deliberados so publicados com antecedncia. Muitas vezes se

  • 24

    coloca em votao assuntos propostos, no s pelo Conselho, mas, tambm, pelos

    prprios cidados.

    Enfim, a exemplo do que ocorre nos Cantes da Sua, levando em conta,

    tambm, os modelos de Democracia Participativa j postos em prtica em nosso

    pas, e a disponibilidade de um conjunto avanado de recursos tcnicos, entende-se

    que possvel tornar oportuna uma participao mais efetiva do cidado, que

    figuraria com mais frequncia e de forma direta, ampliando a garantia de soberania

    do povo, num sistema de governo mais moderno, aprimorado, isonmico,

    multicntrico, aberto e acessvel a todos. Assim, muito mais do que apenas um

    sufrgio para escolha de sujeitos, de quatro em quatro anos, verificaramos tambm

    uma participao popular mais efetiva nas decises das coisas pblicas, o que

    ampliaria, inclusive, a educao poltica do cidado brasileiro, em consonncia com

    as consideraes de BOBBIO, citando Stuart Mill, em um paragrafo que aborda a

    questo do valor educativo da participao poltica:[...] das Consideraes sobre o governo representativo de John

    Stuart Mill, na passagem em que ele divide os cidados em ativos e passi-vos e esclarece que, em geral, os governantes preferem os segundos (pois mais fcil dominar sditos dceis ou indiferentes), mas a democracianecessita dos primeiros. Se devessem prevalecer os cidados passivos,ele conclui, os governantes acabariam prazerosamente por transformarseus sditos num bando de ovelhas dedicadas to somente a pastar ocapim, uma ao lado da outra (e a no reclamar, acrescento eu, nemmesmo quando o capim escasso). Isto o levava a propor a extenso dosufrgio s classes populares, com base no argumento de que um dosremdios contra a tirania das maiorias encontra-se exatamente napromoo da participao eleitoral no s das classes acomodadas (queconstituem sempre uma minoria e tendem naturalmente a assegurar osprprios interesses exclusivos), mas tambm das classes populares. StuartMill dizia: a participao eleitoral tem um grande valor educativo; atravsda discusso poltica que o operrio, cujo trabalho repetitivo econcentrado no horizonte limitado da fbrica, consegue compreender aconexo existente entre eventos distantes e o seu interesse pessoal eestabelecer relaes com cidados diversos daqueles com os quaismantm relaes cotidianas, tornando-se assim membro consciente deuma comunidade. (BOBBIO, 1986, p.31-32)

    5. CONCLUSO

    No presente artigo procurou-se examinar, nas entrelinhas do passado, a

    construo progressiva do conceito de democracia. Investigaram-se alguns dos

    principais argumentos dos mais notveis pensadores de cada poca, apresentaram-

    se alguns dos fatos mais relevantes no desenvolvimento da organizao poltica

    atravs dos tempos e, com o intuito de projetar para o futuro o aperfeioamento dos

  • 25

    princpios democrticos, buscou-se recuperar ideias esquecidas e avaliar novas

    propostas para a harmonizao entre os indivduos, imaginando-se solues ideais

    para dinamizar relacionamentos sociais vindouros e definir alguns critrios quanto

    participao direta dos cidados nas decises sobre a coletividade.

    No projeto inicial da realizao deste artigo foi previsto um retrospecto

    histrico bastante resumido, julgando-se que tal levantamento ocuparia, no mximo,

    um captulo. Entretanto, na construo gradativa dos pargrafos percebeu-se, frente

    vasta riqueza de produo cientfica sobre o assunto, que seria impossvel trazer

    tona tudo que se entende como essencial para uma abordagem a respeito dos

    processos histricos relacionados com a evoluo da democracia, mesmo que se

    ocupasse todo o presente trabalho para tratar do legado literrio do passado no

    tocante ao tema. Portanto, optou-se por relacionar a sondagem histrica em dois

    captulos para, ao cabo, desenvolver-se a reflexo dedutiva.

    Finalizando, registro o estmulo resultante da confeco do artigo, que veio a

    fomentar no autor o interesse no aprofundamento da pesquisa.

    Tendo em vista o espao restrito para desenvolver com mais propriedade o

    raciocnio sobre a discusso, fica potencializado o impulso para prosseguir com as

    investigaes, principalmente quanto s formas de tornar possveis, na prtica, as

    ideias que passearam errantes por sobre as rbitas da utopia.

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